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Nós e os outros

A cada espécie de seres vivos corresponde um conjunto de características


próprias que se distinguem.

Hoje, graças ao desenvolvimento da ciência, Biologia Molecular e da Genética,


temos novas respostas a perguntas antigas.

Em psicologia tem-se vindo a desenvolver uma área específica – Genética do


Comportamento – que investiga as influências hereditárias na forma de ser e de
se comportar dos indivíduos.

Agentes responsáveis pela transmissão


hereditária

Muitos aspectos dos seres humanos são transmitidos por hereditariedade. Muitas
das nossas características, quer em termos da nossa constituição física, quer em
termos do nosso comportamento, são herdados, já nascem connosco.

No começo…

O óvulo e o espermatozóide: cada um de nós resultou da sua junção que gerou


uma célula: o ovo. São precisamente células reprodutoras responsáveis pela
hereditariedade.

O ovo, é assim, a primeira célula que constitui o indivíduo. Esta célula vai
dividir-se em duas, que por sua vez se subdividirão até gerar o organismo –
mitose.

Este processo de divisão celular está na base da produção das células novas que
também têm por função substituir as que morrem. É, portanto um processo que
está subjacente ao crescimento e desenvolvimento do indivíduo ao longo da sua
vida.

Cromossomas e herança genética

Os seres humanos, são constituídos por células que apresentam uma


organização completa – núcleo. É no interior deste que se encontra a informação
genética responsável pelas características de cada espécie e de cada indivíduo.

No período de divisão celular, é possível observar longos filamentos enrolados –


cromossomas. Estes são constituídos quimicamente por ADN e por proteínas. Os
cromossomas constituem o suporte dos genes. São as estruturas mais
importantes das células, uma vez que são responsáveis pela transmissão de
informação hereditária.

As células de um organismo da mesma espécie têm o mesmo número de


cromossomas (menos os sexuais). O número e a forma dos cromossomas são
característicos de cada espécie, sendo designado por cariótipo.

Cromossomas sexuais

Geralmente os cromossomas numa célula organizam-se em pares semelhantes,


dois a dois, excepto o par de cromossomas sexuais.

A espécie humana tem 23 pares de cromossomas: 22 são comuns aos dois


sexos. O par 23 – par cromossoma sexual – é distinto.

Mulher Homem
XX XY

Sendo assim, o pai é que define o sexo da criança.

ADN – componentes e estruturas

Dois cientistas apresentaram um modelo tridimensional para a estrutura do


ADN. Segundo estes cientistas, cada molécula de ADN assemelha-se a duas
cadeias enroladas em hélice – dupla hélice.

Os degraus da escada são constituídos por 4 bases azotadas: adenina (A),


timina (T), guanina (G) e citosina (C).

Estas bases estão ligadas duas a duas; A-T G-C.

A cada conjunto formado por uma desoxirribose, uma molécula de ácido


fosfórico e uma base azotada dá-se o nome de nucleótido. Este constitui a
unidade básica do ADN.

É o número e a sequência dos nucleótidos que definem as características de


cada ser vivo. Um dos maiores desafios da ciência consiste na análise da
estrutura do ADN, com o objectivo de se construir um mapa com a posição dos
cromossomas que constituem os genes humanos – genoma humano.
Genes

Segmentos de ADN com um determinado número de nucleótidos e com uma


ordem própria constituem uma unidade de linguagem química – gene. O gene é
um segmento de um cromossoma a que corresponde um código distinto, uma
informação para produzir uma determinada protéina ou controlar uma
característica.

Um cromossoma contém vários genes que são responsáveis por todas as


características físicas do indivíduo. Os genes não actuam isolados, cooperam
entre si, influenciando-se.

Nos últimos anos têm-se desenvolvido investigações para identificar o genoma,


isto é, o conjunto de genes que constituem o ser humano.

De facto o que distingue os seres humanos de outros seres vivos é a grande


complexidade das associações entre os genes.

Um cromossoma de cada par é transmitido pela mãe e outro pelo pai, dai que
todos os seres humanos dispõem de duas variações de cada gene. Os
cromossomas, com forma e estruturas idênticas, dizem-se cromossomas
homólogos. Em cada par de cromossomas homólogos existem genes com
informação para o mesmo carácter, isto é, situados no mesmo locus – são
designados por genes alelos: o alelo é herdado da mãe e outro do pai.

Quando os alelos têm informação igual os indivíduos são homozigóticos, quando


a informação é contrastante chamam-se heterozigóticos.

Diz-se que um gene é dominante quando produz efeito mesmo presente num só
alelo. E diz-se recessivo quando apenas faz efeito quando presente nos dois
alelos.

A constituição genética de um individuo para um determinado carácter e


constitui o genótipo do individuo, o modo como o genótipo se vai manifestar no
indivíduo corresponde ao fenótipo: o fenótipo resulta da expressão do genótipo
em interacção com o ambiente.

Genes de desenvolvimento

Ora, os genes não constituem estruturas homogéneas, isto é, não são todos
iguais e não têm todos a mesma relevância. Têm diferentes importâncias.

Os genes de desenvolvimento, que codificam a forma do organismo definindo,


por exemplo, a pertença a uma dada espécie. São estes genes que desenham o
padrão do organismo. São por isso, designados também por “genes arquitectos”
dado que a sua expressão permite construir o indivíduo.
Apesar de a natureza não mudar, podem originar novos órgãos como
consequência de mutações.

Estes genes desempenham um papel decisivo nas etapas de construção do


cérebro. Pensa-se que estão envolvidos no prolongamento da construção do
cérebro, isto explica um órgão desenvolver-se até à morte.

Meiose e variabilidade genética

A quantidade de material genético em casa espécie mantém-se constante de


geração em geração graças à ocorrência de um processo de divisão celular –
meiose.

46 → 23 Cromossomas – por meiose.

Se não ocorre-se este fenómeno a próxima geração seria composta por 92


cromossomas, o eu se traduziria numa alteração das características da espécie.

Durante a meiose ocorrem duas divisões do núcleo. Divisão I (redução dos


cromossomas) e divisão II.

A separação, ao acaso, dos cromossomas homólogos, contribui para a


variabilidade genética. Os gâmetas possuem um cromossoma de cada par de
homólogos presentes na célula-mãe que lhes deu origem. Há sempre uma
separação aleatória dos cromossomas homólogos – um da mãe e outro do pai
- (o que faz a célula-filha ser de constituição genética diferente da célula-mãe).
Se são cromossomas homólogos são portadores do mesmo tipo de genes, mas
que depois se vão trocar entre si. Quer dizer, os cromossomas semelhantes,
homólogos, são os que se agrupam no mesmo par, podem ter (por exemplo da
mãe) um gene recessivo e outro (do pai) ter um gene dominante, mas há
também assim uma distribuição dos cromossomas que é ocasional.

A cada par de cromossomas, um de origem materna e outro de origem paterna,


chama-se cromossomas homólogos, que têm a mesma forma, estrutura, e têm
informação genética para os mesmos caracteres.

A fecundação tem como consequência uma duplicação cromossómica. No


entanto, para que a quantidade de DNA de cada espécie se mantenha constante
de geração em geração, é preciso que ocorra um processo de divisão nuclear, a
meiose. Neste processo, o número de cromossomas é reduzido para metade.
Origina células que vão ter apenas um cromossoma (n) de cada par de
cromossomas homólogos da célula original. Esta separação ocorre ao acaso a
partir dos cromossomas homólogos.

A distribuição dos cromossomas não é certa.


Se os cromossomas homólogos fossem idênticos, esta distribuição não faria
sentido, mas uma vez que são distintos, haverá gâmetas com combinações de
genes muito diferentes das que ocorrem em qualquer dos progenitores.

A meiose é de grande importância, pois contribui para a variabilidade genética.

A clonagem corresponde ao inverso da variabilidade genética : o clone é um


duplo genético.

Conhecer o genoma humano

O grande objectivo do Projecto do Genoma Humano é decifrar o ADN. O seu


objectivo é fazer o mapa do posicionamento nos pares de cromossomas dos
genes que constituem os seres humanos, sequenciando as bases.

A Fevereiro de 2001 foi feito o rascunho, que foi ultrapassado por versões mais
complexas. A Abril de 2003, a primeira etapa foi completa, alguns milhões foram
sequenciados. Não foi possível descobrir os genes da inteligência, das vocações
mas reconheceram os que definem a cor dos olhos, etc.

Percebeu-se que a questão é muito complexa: é o jogo de influências que


activam e desactivam os genes, possibilitando que o mesmo gene dê origem a
proteínas diferentes conforme a célula ou o ambiente. Conhecer a sequência de
ADN não permite, definir o que é que uma pessoa vai ser. O meio, a influência
do meio, faz muita diferença.

A identificação dos genes responsáveis por doenças tem uma enorme


importância médico, pois possibilita a identificação do erro genético do tipo de
doença já declarada, e permite prevenir outras.

Hereditariedade específica e individual

Temos de saber distinguir hereditariedade específica e individual. A específica


corresponde à informação genética responsável pelas características comuns a
todos os indivíduos da mesma espécie, a migração das aves, o acasalamento.
Entre os seres humanos há um conjunto de características comuns, que nos
definem como humanos. A individual corresponde à informação genética
responsável pelas características de um indivíduo, é o que o torna único.
Genótipo e fenótipo

O genótipo é o conjunto de características tal como são definidas pelos genes, e


que podem ou não exprimir-se conforme as características do meio em que se
desenvolve.

O fenótipo designa a aparência do indivíduo, que resultam da interacção entre o


genótipo e o meio ambiente. Corresponde à actualização do genótipo.

A pessoa é, assim, o resultado de uma história em que se interligam factores


hereditários e factores ambientais. A complexidade do que somos deriva do
potencial deriva do potencial herdado e dos efeitos do meio.

As potencialidades genéticas iniciam-se a partir da concepção, na sua génese


intra-uterina. Efectivamente, desde o embrião que se fazem sentir os efeitos do
meio: no desenvolvimento embrionário surgem potencialidades que não faziam
parte da célula fertilizada e que se desenvolvem a partir de influências do
ambiente pré-natal.

Esta interacção, pode permitir o desenvolvimento harmónico do potencial


genético, mas pode também influenciar negativamente o processo de expressão
e desenvolvimento desse potencial.

Se começarmos por referir o meio intra-uterino, sabemos que a má nutrição da


mãe, a ingestão de substâncias tóxicas, medicamentos ou mesmo algumas
doenças podem afectar negativamente o desenvolvimento do feto.

Conhece-se o efeito de produtos químicos que podem alterar a estrutura do ADN


originando mutações. O exemplo mais estudado e conhecido é o efeito da
talidomida, que fés com que muitas crianças nascessem sem pernas ou sem
braços.

A influência do meio após o nascimento, que se manifesta nas mais diversas


expressões, vai decidir grande parte do que somos.

O estudo dos gémeos

Os investigadores que desenvolvem estudos sobre a transmissão hereditária


recorrem à análise dos gémeos para investigarem a influência do meio no
comportamento e desenvolvimento humanos.

Os gémeos falsos resultam da fecundação de dois óvulos por dois


espermatozóides. a sua semelhança genética não é maior do que a apresentada
por irmãos comuns.
Os gémeos verdadeiros resultam do desdobramento do ovo. Dado que este
resulta de um óvulo fecundado por um espermatozóide, os dois ovos têm os
mesmos cromossomas. São como clones. A configuração química é a mesma e
têm o mesmo grupo sanguíneo.

Muitas investigações procuram avaliar o peso que os genes e o meio têm no


desenvolvimento.

Embora o código genético seja exactamente igual, há factores que influenciam a


forma como os genes se expressam. Estes factores podem exacerbar ou
amortecer a expressão de um certo gene e por isso conduzir a pequenas
diferenças nos caracteres.

René Zazzo centrou a sua investigação sobre o processo de individuação


psicológica. Estudou sobretudo os gémeos verdadeiros, analisando o que
designa por paradoxo dos gémeos. Apesar das semelhanças das condições
biológicas e ambientais, os gémeos vão progressivamente distinguindo-se, para
se diferenciarem em duas pessoas distintas e singulares.

«A mesma hereditariedade, o mesmo meio, e, contudo, dois seres diferentes»

Preformismo e epigénese

Existem muitas teorias para tentar explicar o papel da acção da genética. Umas
enfatizam o papel da hereditariedade enquanto outras o papel do meio.

Preformismo

Umas das teorias mais comuns, considerava que o ovo continha o indivíduo em
miniaturas. Esta defendia que o desenvolvimento embrionário consiste no
desenvolvimento de potencialidades preexistentes no ovo.

O desenvolvimento limitava-se, portanto, ao aumento do tamanho do ser em


miniatura (homúnculo). O que é certo é que se chegaram a formar dois grupos
distintos:

. Uns consideravam que o futuro ser já se encontrava em miniatura no


espermatozóide;

. No óvulo, no interior estaria um pequeno homem preformado, o qual integrava


nas suas próprias células sexuais um homúnculo, até ao infinito.

O naturalista suíço Charles Bonnet desenvolve esta concepção: o


desenvolvimento não é mais do que uma ampliação, como a que ocorre na
ampliação de uma fotografia. O preformismo não toma em consideração o efeito
do ambiente, o desenvolvimento dependeria apenas da componente hereditária
– determinismo hereditário.

Epigénese

O preformismo é negado por Caspar Wolff, que apresenta uma nova concepção:
o ovo é uma estrutura desorganizada, e a diferenciação do embrião dá-se pelo
efeito das forças exteriores. Esta teoria nega a existência de estruturas
preformadas no ovo e que se desenvolvem mais tarde. O desenvolvimento é o
resultado do crescimento, diferenciação e modificação.

No século XIX desenvolve-se a ideia de que os organismos dependiam da


estrutura genética e da intervenção do meio. É a partir de um estado simples e
homogéneo que se desenvolve progressivamente o embrião. Estas noções de
genótipo e fenótipo.

O termo epigenético corresponde às modificações transmissíveis e reversíveis


das expressões dos genes, mas que não implicam modificações nas sequências
de ADN.

Exemplo: os gémeos verdadeiros têm a mesma carga genética, ou seja, todas


as suas características são idênticas, incluindo o sistema nervoso. Mas verifica-
se que o número de células nervosas é diferente e as conexões entre os
neurónios apresenta também diferenças – há variabilidade individual.

O desenvolvimento humano resulta de um conjunto complexo de interacções


entre as potencialidades genéticas e as influências do meio.

«(…) O cérebro humano constrói-se epigeneticamente, quer dizer que há um


conjunto de ligações que se faz da aprendizagem e que impede que se defenda
um determinismo estrito. (…).»

É no próprio desenvolvimento embrionário que emergem novas potencialidades


que não estavam incluídas na célula fertilizada original, mas que se desenvolvem
a partir das influências do meio ambiente pré-natal e da interacção das células.

O conceito de epigénese designa precisamente o que na construção do


organismo e dos seus comportamentos não depende apenas dos genes nem da
aprendizagem. A epigénese prolonga os efeitos da genética sem serem
determinados por esta.

A complexidade do ser humano e o seu inacabamento biológico


Filogénese e ontogénese

Quando falamos em desenvolvimento humano podemos referir-nos ao


desenvolvimento da espécie (filogénese) ou ao desenvolvimento do indivíduo
(ontogénese).

A filogénese é o conjunto de processos de evolução dos seres vivos desde os


mais elementares aos mais complexos. É a história evolutiva de uma espécie, de
um grupo específico de organismos.

A ontogénese designa o desenvolvimento do indivíduo desde a fecundação até


ao estado adulto.

A leia da recapitulação

Após alguns exemplos (peixe pararia cedo o seu desenvolvimento, enquanto que
os pássaros cumpririam etapas posteriores), Haeckel formulou a lei segundo a
qual “a ontogénese recapitula a filogénese”. Na lei da recapitulação
ontofilogenética: o desenvolvimento do embrião recapitula etapas do
desenvolvimento, que correspondiam a estádios da evolução.

Para provar a sua hipótese, apresentou um conjunto de desenhos de embriões


(página 38) de várias espécies que supostamente demonstrariam a sua tese.
Contudo, tudo veio a provar-se falso por o autor manipulou as imagens para
poder comprovar a sua teoria.

O papel da ontogénese

Investigações posteriores vieram a provar que o indivíduo é produto da


interacção entre os factores genéticos e os factores ambientais. É esta
interacção que garante a adaptação ao meio ambiente, que é condição de
sobrevivência.

Assim não é a filogénese que determina a ontogénese, mas sim a ontogénese


causa da filogénese. São as transformações ontogenéticas que ocorrem no
processo evolutivo que permitem a adaptação ao meio ambiente. A filogénese é,
assim, uma sucessão de ontogéneses que evoluíram, produto de mutações e da
selecção natural. Só assim as espécies sobrevivem.

Um dos investigadores que mais contribuiu para esta compreensão foi Stephen
Gould. Na sua opinião, os estudos baseados no darwinismo omitiram o papel da
ontogénese. Opõem-se a uma visão reducionista que esqueceu a importância do
estudo do organismo individual: a ontogénese é central na compreensão do
desenvolvimento humano.

Programa genético

Podemos afirmar que todos os seres vivos estão programados (exemplo:


sementes -> dão sempre uma flor). Há, portanto, um programa de
desenvolvimento que passa por diferentes fases e que culmina com o culmina
com o florescimento de uma flor com características muito precisas que a
distinguem de todas as outras.

Estes são programas genéticos fechados, isto é, prevêem de forma


determinados processos evolutivos, comportamentos de determinadas espécies.

Programa genético aberto

Há uma grande diferença entre os seres vivos “totalmente” programados e


outros animais que são parcialmente programados. No ser humano, essa
programação é a menos significativa, por comparação com outros animais – o
programa genético é aberto.

O indivíduo não está determinado por um sistema de instintos que defina o seu
desenvolvimento e o seu comportamento.

Certas especializações como as garras de um leão que o possibilitam a caça, o


olfacto apuradíssimo dos cães, são importantes mas determinam limitações:
funcionam apenas nos nichos onde os animais estão inseridos. Para além das
funções para que estão programadas, estas capacidades de pouco servem
quando as circunstâncias mudam.

A ausência destas especializações no ser humano torna-se uma vantagem. O se


inacabamento permitem-lhe adaptar-se às mudanças, às situações imprevistas.

Prematuridade e neotenia

A complexidade do ser humano e o papel da aprendizagem na nossa existência


resultam do facto de o Homem ser um ser biologicamente inacabado. O seu
organismo leva muito mais tempo a atingir o pleno desenvolvimento. Ao
contrário dos patos que logo que nascem nadam atrás da mãe, o ser humano
nasce com uma incapacidade para reagir de forma tão eficaz ao meio.

O ser humano é um prematuro, no sentido em que não apresenta as suas


capacidades, as competências desenvolvidas. O carácter embrionário do bebé
torna-se uma vantagem, porque o longo período de imaturidade é essencial para
a sobrevivência e adaptação da espécie. A necessidade e a capacidade para
aprender estendem-se durante a adolescência e o estado adulto.

No plano físico, o ser humano apresenta um inacabamento biológica que se


designa por neotenia (atraso no desenvolvimento, o que implica uma maior
necessidade dos adultos e por um maior período de tempo; inacabamento
biológico do ser humano ao nascer, o que implica que a infância humana seja
tão longa: o processo de desenvolvimento continua após o nascimento). O
processo de desenvolvimento do cérebro, está ligado ao retardamento
ontogenético, isto é, ao prolongamento do período da infância e da adolescência.
São os genes do desenvolvimento que tornam o ser humano um ser neoténico.

Vantagens do inacabamento humano

Arnold Gehlen afirma que o Homem é “um ser aberto ao mundo”: o seu
inacabamento biológico, a sua prematuridade, explicaria a ausência de uma
programação biológica tão rígida como a que existe em outros animais. A
aprendizagem irá cumprir as tarefas que nos animais são definidas pela
hereditariedade, ou seja, o ser humano tem de aprender o que a hereditariedade
proporciona a outras espécies.

O facto de ser inacabado, prematuro, biologicamente desamparado, torna-o


aberto a múltiplas potencialidades. A sua natureza torna flexível o processo de
adaptação ao meio. O Homem tem a necessidade de criar a sua própria
adaptação, a cultura, que vai transmitir de geração em geração.
Elementos estruturais e
funcionais do sistema nervoso
Neurónio

No sistema nervoso podemos encontrar dois tipos principais de células:

A. Neurónios;

B. Células gliais;

a) Neuónios – células especializadas responsáveis por grande parte das


funções do sistema nervoso.

b) Células gliais – facultam os nutrientes (oxigénio, glicose), que alimentam,


isolam e protegem os neurónios. São estas células que controlam o
desenvolvimento dos neurónios. Dá-se bastante importância a estas células pois,
se descobriu que influenciam de forma decisiva a comunicação cerebral, o
funcionamento das sinapses e outras funções que afectam o funcionamento de
sistema nervoso. Têm um papel fundamental no desenvolvimento do cérebro no
período fetal, e na maturação dos neurónios. São também responsáveis pelo
asseguramento da manutenção do ambiente químico que rodeia os neurónios,

bem como a determinação de quais os neurónios que estão aptos e quais não
estão.

Constituição do neurónio

Nos neurónios podemos distinguir três componentes distintas:

A. Corpo celular

B. Dentrites

C. Axónio

a) Corpo celular – contém o núcleo que é o armazém de energia da célula.


Este fabrica proteínas sob o controlo do ADN presente no núcleo celular. É o
centro metabólico do neurónio. É deste que saem dois tipos de prolongamentos:
as dentrites e o axónio.

b) Dentrites – são extensões do corpo celular (dentrite significa arvore).


Graças às dentrites, o neurónio apresenta uma maior superfície de recepção e
emissão de mensagens. Estas ramificações múltiplas recebem e transmitem
informação de e para outras células.

c) Axónio – é o prolongamento mais extenso do neurónio e transmite as


mensagens de um neurónio para o outro. Este prolonga-se a partir do corpo
celular e termina num conjunto de ramificações semelhantes a raízes

(telodentrites). A maior parte dos contactos é feita através da sua arborização


terminal.

Há axónios que estão envolvidos por camadas de mielina (substância branca de


matéria gorda) outros são constituídos por substâncias cinzentas. O cérebro é
cinzento por fora e branco por dentro, pois a camada exterior é constituída por
neurónios cujos axónios não estão cobertos por mielina, enquanto que a camada
interior estão cobertos.

O axónio e certas dentrites, constituem uma fibra nervosa. Estas podem


agrupar-se em feixes e ao conjunto de fibras nervosas envolvidas por uma
membrana dá-se o nome de nervos.

O tamanho dos axónios é variável, tal como a velocidade de transmissão.


Aqueles que têm maior diâmetro são os que permitem velocidades mais
elevadas. Os neurónios que estão envolvidos por mielina, por um lado estão
expostos a uma maior velocidade da condução das mensagens e, por outro,
isolar as fibras umas das outras.

Tipos de neurónios

A. Neurónios aferentes ou sensoriais – são afectados pelas alterações


ambientais e activados por estímulos interiores ou exteriores. Recolhem e
conduzem as mensagens da periferia para os centros nervosos: espinal medula
e encéfalo.

B. Neurónios eferentes ou motores – transmitem as mensagens dos centros


nervosos para os órgãos responsáveis pelas respostas – músculos e glândulas.

C. Neurónios de conexão ou interneurónios – interpretam e elaboram as


respostas. A actividade destes neurónios torna possível a capacidade intelectual,
as emoções e as capacidades comportamentais. Exemplo: afastar a mão quando
nos queimamos, responder a um teste ou compor uma música.
Comunicação nervosa

Os nossos neurónios estão organizados em redes, trocam informações sob forma


de descargas eléctricas e químicas que atravessam imensos pontos de
comunicação.

O papel do sistema nervoso consiste em transmitir sinais, mensagens de um


grupo de neurónios para o outro. A informação que circula ao longo dos
neurónios designa-se por influxo nervoso.

Quando há uma informação a ser transmitida este é o processo:

. As dentrites captam o estímulo, os sinais que Entrada


podem ter origem nos neurónios vizinhos;

. Os sinais são integrados;

. Gera-se um impulso nervoso;

. O impulso nervoso é transmitido ao axónio e


conduzido às ramificações exónicas;

. As ramificações dos axónios aproximam-se das Saída


dentrites do neurónio vizinho transmitindo o sinal
através da sinapse (junção funcional em que
ocorre a transmissão de informação entre dois
neurónios ou entre um neurónio e uma outra
célula)

Funcionamento sistémico do cérebro

Antigamente pensava-se que o cérebro apenas servia para controlar o sono e


baixar a temperatura, tudo o resto vinha do coração. Pensava-se assim pois
emoções como o medo, a angústia, eram no coração que se sentia, com o
aumento do ritmo cardíaco. E estas emoções no cérebro não eram codificadas
tão facilmente.

Após várias tentativas de teorias são os frenologistas que defendem a relação


íntima entre o cérebro e as características da personalidade e do temperamento
de cada pessoa. Chegou mesmo a ser produzido um mapa onde indicava cada
espaço para cada emoção.

Antigamente pensava-se que a função do cérebro teria algo a ver com o


tamanho da caixa craniana… Mas, é claro que não existe qualquer relação entre
as irregularidades da caixa craniana com as nossas características e
capacidades. Contudo, esta ideia está na base das actuais concepções de
localização cerebral.

Os frenologistas foram os primeiros a afirmar que o estudo da mente humana se


deve basear no conhecimento biológico do cérebro.

O cérebro humano apresenta características estruturais muito próprias que o


distinguem do cérebro dos outros animais.

O cérebro apesar de se diferenciar pela sua estrutura, diferencia-se também


pela sua organização segundo determinadas funções que lhe conferem um
carácter único.

Hemisférios cerebrais

O nosso cérebro, bem como de todos os mamíferos, está dividido em dois


hemisférios: o hemisfério esquerdo e o hemisfério direito. Estes estão separados
por uma fissura longitudinal e ligados por um sistema de fibras nervosas – corpo
caloso.

O córtex cerebral é a camada cinzenta que cobre os hemisférios cerebrais e onde


residem as capacidades superiores dos seres humanos.

Estes dois hemisférios desempenham diferentes funções – lateralização


hemisférica.

Para se descobrir as diversas funções foram feitos estudos em doentes


epitépticos. Para impedir que a actividade eléctrica passasse de um hemisfério
para o outro, seccionaram o corpo caloso conseguindo que as crises se
atenuassem ou até desaparecessem. Isto fez com que a qualidade de vida dos
doentes melhorasse mas isto trouxe negatividade nas suas vidas, como por
exemplo se o doente pegasse uma caneta com a mão direita, sem a estar a ver,
era capaz de a reconhecer e descrever, mas se a segurasse com a mão
esquerda, declarava não ter nada.

Isto permitiu reconhecer quais as funções de cada hemisfério.

A. Direito – controla a formação de imagens, as relações espaciais, a percepção


das formas, das cores, das tonalidades afectivas e o pensamento concreto.

B. Esquerdo – responsável pelo pensamento lógico, linguagem verbal, discurso,


cálculo e pela memória.

É graças ao funcionamento integrado dos dois hemisférios, que por exemplo


atribuímos significado a uma expressão verbal. É o hemisfério esquerdo que
permite a produção do discurso, mas é o direito que dá a entoação.

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