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Jacques Lacan XxX O SEMINARIO 22 ry RSL YT ~ = - facebook.com/ lacanempdf <«< = 1974-1975 JACQUES LACAN esl. O SEMINARIO 1974/1975 facebook.com/lacanempdf Seminario de 10 de dezembro 1974 Af est, vocés viram 0 desenho, isso se 1é assim: Rsi. Pode ser lido assim. Mas também, pois também est4 em letras grandes, RSI. O que, talvez, tenha sugerido Aqueles que esto jé informados: 0 Real, o Simbdlico e o Imaginério. Gostaria, este ano, de thes falar do Real, € comegar, fazendo observar que essas trés palavras, Real, Simbélicoe Imagindrio, tem um sentido, Sdo irés sentidos diferentes mas voces podem também observar que eu disse trés sentidos, assim, pois parece ir bem facilmente; mas, se sdo diferente: basta isto para que sejam irés? se forem tdo diferentes quanto afirmo? Donde a nogdo de medida comum, que € dificil de captar, ou mesmo de nela definir a unidade como fungio de medida. Hé muitas: uma, duas, trés. Ainda que seja preciso, para que se possa dizer haver tantas, seja preciso fundar essa unidade sobre o signo, seja ela um signo ou que esteja escrito i-g-u-a-l, ou ainda que vocés fizessem dois tracinhos para significar igual, a equivaléncia dessas unidades, Mas se, por acaso, fossem eles outros, ou seja, 0 um a0 outro, estarfamos bem atrapalhados e, todavia, 0 testemunho disto seriao propriosentidoda palavra outro. Ainda que seja preciso distinguir neste sentido de outro, o outro feito de uma distingao definida por uma relagéo exterior/interior, por exemplo, como fez Freud, querendo ou nfo, na sua segunda t6pica, que se sustenta em uma geometri do saco, onde se vé algo, em algum ponto das Novas Conferéncias, algo que € supasto conter, 0 qué? é engragado dizer: as pulsoes. E € isso que ele chama Isso. Naturalmente, isso forga-o a juntar af um certo ntimero de utensflios, uma espécie de linula, que de repente transforma isso em uma espécie de vitelo sobre o qual diferenciar-se-ia um embritio Nao é, evidentemente, isso que cle quer dizer, mas a insinuagdo é lamentdvel. Sto as desvantagens das figuragbes imajada E nfo estou dizendo tudo que ele foi for a acrescentar, sem contar ainda no sei quais restos, que ele intitula Supercu. Esta geometria do saco esti, e é exatamente com 0 que tenios a ver, esté no nivel da topologia, Com essa pequena diferenga que, como talvez thes tenha vindo a cabeca, isto se rabisca em uma superficie, sobre a qual somos obrigados a trazer 0 saco, Uma superficie que faz uma rodela, havendo nesta um interior e um exterior Daf sermos levados a escrever a inclusio, a saber, que alguma coisa, 1, por exemplo, esté incluido em um E, um Conjunto. A inclusiio, vocés sabem talvez como se esereve C donde deduziu-se, um pouco apressadamente, que se pode passar da incluso que estd ai, para 0 signo “menor que” (< ), a saber, que 1 é menor que B, O que ¢ uma imbecilidade manifesta, Eis, entio, o primeiro outro, outro definido do exterior ao interior, S6 que hd um outro outro =-15 aquele que escrevi com O- ¢ que se define por nao ter a minima relagho, por menor que se a imagine. Quando comegamos nos veicular com palavras, vemo-nos logo em armadilhas, pois este “menor que se imagine”, pois bem, traz a baila o imagindrio, F quando se traz 4 baila o imaginario, tem-se todas as chances de se atolar Foi assim mesmo q| partiu para o infinitesimal, Fol um problema do elo tirticlo do imagindrio Que sejam trés, 0 Real, 0 Simbélico ¢ 0 Imagindrio, 0 que quer dizer isto? Ha duas vertentes, uma que nos condu.a homogeneizé-los, © que é abrupto pois, que relago hi entre eles? justamente por onde, esteano, eu gostaria de trilhar para voces um caminho, Poder-se-ia dizer que o Real ¢ 0 que é estritamente impensdvel. Seria, a0 menos, um ponto de partida, Faria um buraco no negocio. E ‘Os permitiria nos interrogarmos quanto a isto, ndo esquegam que eu parti de trés termos, enquanto veiculadores de um sentido, Que hist6ria é esta de ido? Sobretudo se voces introduzirem af o que eu me esforgo em Ihes fazer sentir. E que, no que diz respeito & pratica analitica, pois € daf que voces operam, mas, por outro lado, é para reduzir este sentido que vocés operam. © que de mais dificil ev introduzi, sublinhemos, é que na medida em que Inconsciente se sustenta nesta alguma coisa que 6: ¢ por mim definida, estruturada como 0 Simbélico, 6 do equivoco fundamental para com esta alguma ‘voli, que se trata, sob 0 termo do Simbélico com ile sempre vocés operam. Falo aqui aqueles que sho dignos do nome de analista. O equivoco nao éo sentido. O sentido é aquilo porque alguma coisa responde, ¢ diferente do Aimbdlico, e esta alguma coisa, nao hé meios de a sendo a partir do Imagindrio. Maso que pindrio? Serd, inclusive, que ele ex-siste, ja \\\e Sopramos sobre ele apenas a pronunciar este (mo de Imaginario? Ha algo que faz com que 0 ser falante se mostre destinado a debilidade Mental, E isto resulta vio somente da nogio de Imagindrio, naquilo em que o ponto de partida deste ¢ a referéncia ao corpo ¢ a0 fato de que sua Tepferentagio, digo, udo aquilo que por ele se fepfesenta, nada mais ser que o reflexo de seu rgunismo, Ea menor das suposigdes que 0 corpo implica 56 que hd ai algo que nos faz logo tropecar, € Wie nesta nogao de corpo, preciso implicar, imedintamente, isto que € a sua propria definicao, que é algo que se presume ter fungd: #specificadas em orgaos. Um automével, ou mesmo um computador, segundo as tltimas Holiclas, ¢ também um corpo, pois nao € dbvio, digumos, que um corpo seja vivo. De forma que, ( que melhor atesta que ele esteja vivo é precisumente este mens, a propdsito do qual, ou Melhor, que eu introduzi pela via da debilidade Mental, No ¢ dado a todos os corpos, enquanto funeionando, sugerir a dimensao da debilidade. V'sta dimensiio introduz-se com essa al guma col como é alingua, & nao qualquer uma, a latina iso pura colocar no seu lugar aqueles que (pul justamente a latina esta imbecilidade- & justamente a tinica que, ao invés de foder com a lim termo opaco como o vous, ou outra jelifora de saber-se 14 o qué, de um saber do qual, Auyuitamente, no sabemos se ex-siste, pois € 0 Auber suposto pelo Real, o saber de Deus. E {hie @XeHiate, di-nos um bom trabalho soletré-to. le ex ninte, mus apenas no sentido que inscrevo a es ala, partir do (ermo ex-sisténcia, a0 escrevé-lo liferente que como de habito. Ele enquista talvez, ‘Wn Hie Ke Aube Onde, Tudo o que se pode dizer é que © que Consiste nio da disso nenhum Westerman Coven lima certa surpresa, ver que a lingua oh Suapweitn de ser a mais idiota seja justamente a jie For}n ente terme “intellegere”, ler entre linhas, i mulier, de forme diferente de como o Simbético we eee FP eate efeiio de escritura do Simbdlico” WE BHNEHH OB efeitO do sentido, ou seja, de imbecilidade - este para o qual testemunham até hoje todos os sistemas ditos da natureza. Sem a Jinguagem, nem a menor suspeita nos ocorreria desta imbecilidade, que € também aquilo através do que 0 suporte que € 0 corpo nos dé testemunho, como falei ainda hd pouco, embora vocés nao tenham dado a minima, testemunho de ser vivo. Na verdade, esta massa, atestada com a debilidade mental, é algo do qual eu nio espero, de forma alguma, sair. Nao vejo porque o que eu Ihes trago seria menos debildide que o restante. Seria bem af que tomaria todo o seu sentido essa casca de banana que me puseram no caminho, me prendendo por telefone, para que eu fosse fazer uma conferéncia em Nice; conferéncias, eu dou milhares, e me lancaram o titulo: © Fenémeno Lacaniano! Issoai! © que estou thes dizendo, € que justamente eu ndo espero que isto seja um fendmeno, a saber, que o gue eu digo seja menos idiota que todo o resto. A Ginica coisa que faz com que eu persevere, € vocts sabem que eu nao persevero sem olhar duas vezes, eu [hes disse, da tiltima vez, quando eu hesitava em retomar isto este ano, € que hd algo que creio ter captado. Nem mesmo com as mos, com os pés. E a entrada em jogo deste trago que desenha, 0 que bem aparentemente nao é facilmente suportado, sobretudo por analistas, é a experiéncia analitica. De modo que, se hé um fendmeno, s6 pode ser o fendmeno “lacanista”, ou melhor, laca-pas-d’analyste. Algo entretanto se passou, vou Ihes contando isto assim, me deixando levar; é claro, eu nada podia explicar a eles disto tudo, j4 que para eles, eu sou um fendmeno. Os organizadores, de fato, 0 que queriam, era a multidao. Hé sempre multidao para ver um fendmeno. Eu nao ia entéo dizer: “Sabem, eu ndiosou um fendmeno!”, isso teria sido uma “Verneinung”. Entdo, divaguei por uma boa hora e quinze. Nao posso dizer que esteja contente de tudo que falei, pois o que se pode dizer em uma hora € quinze? Com voeés, é claro, imagino que tenho um certo nimero de horas, ¢ como é um pouco mais que trés, é sem limite. E um erro, pois na realidade, ndo chegam a cinquenta, contando todas as que terei até 0 final do ano. Mas € 0 que ajuda a tomar o caminho. Enfim, a0 cabo de uma hora e quinze de divagacio, fiz perguntas, quer dizer, pedi que me as fizessem. Era uma demanda. Bem, acreditem se quizer, contrariamente a vocés, fizeram-nas durante quarenta e cinco minutos! E digo mais, as perguntas tinham algo de surpreendente, eram perguntas pertinentes, Pertinentes, é claro, assim, num territério leigo. Era afinal a prova de que, num, certo contexto, este em que nao insisto, poderiam surgir perguntas, e perguntas ndo bobas, perguntas, em todo caso, que me impunham responder. De modo que me vi nesta situaco de. sem ter precisado recusar 0 fendmeno lacaniano, t8-lo demonstrado. Isto, é ciaro, nao é nada ébvio que eles tenham se dado conta, de que era isso 0 fenémeno lacaniano. ‘A saber, que eu sou efeito para um pdblico, que s6 ouviu assim, por repercussio, de longe, oque eu articulo neste lugar aqui, onde dou meu ensino, meu ensino para abrir a0 analista, 0 proprio discurso que o sustenta, se é que seja mesmo discurso, e sempre discurso, essa coisa que nés tentamos manipular na andlise. carente de um discurso. Digo entdo que ¢ isso 0 fendmeno. Em suma, ele é onda. Se me permitem empregar um termo que me poderia ter tentado escrever as letras em uma outra ordem, no lugar de R.S.1, R.LS, isso teria dado iso, esse famoso riso d’égua que, justamente, emal guma parte nos meus Escritos, eu equivoco. Procurei a pagina ainda hé pouco, alguém af, um companheiro da primeira fila, tinha esses Escritos: encontrei, estd na pagina 166, onde eu brinco com esse riso d’dgua, implicando inclusive “meu caro amigo, Leris dominando”, e no sei o que mais. E preciso evidentemente que eu me console dizendo que esse fendmeno nao é tnico. Ele é s6 particular. Quero dizer que se distingue do universal. O chato é que, até hoje, ele seja nico, no nivel do analista. E entdo indispensdvel que o analista seja a0 menos dois. O analista para ter efeitos e 0 analista que esses efeitos teorizam. E justamente por isso foi importante que uma pessoa me acompanhasse ¢ que, talvez, eu nao lhe pedira, neste ponto preciso do fendmeno, do fendmeno dito lacaniano, pode perceber, exatamente ali, a0 nivel do que eu tinha a dizer, daquilo que acabo agora de enunciar, a saber, que esse fendmeno, eu apenas, ali, demonstrei com 0 fato de que, ali, daquela multidao eu recebi perguntas e que somente nisto reside o fendmeno Se esta pessoa é analista, coisa de que eu nio duvido, pode perceber que este fendmeno, eu demonstrei, pelo pouco que disse, e que foi, repito, horroroso, Fecho aqui 0 paréntese e quero agora voltar a0 que tenho a desenvolver hoje, a saber, que s6 encontrei uma Gnica forma de dar a estes irs termos, Real, Simbélicoe Imagindrio, uma medida comum, que ¢ enlagando-os neste nd bobé...borromeano, Em outros termos, que € preciso interessar-se por isto que desenhel_no quadro, embora com alguma dificuldade, como vocés puderam perceber pelo fato de varias vezes eu ter me enganado de cor. Pois € exatamente af que reencontramos o tempo todo a questo: o que distingue cada uma dessas coisas, que por um tempo cu chamei de rodelas de barbante, o que distingue cada uma delas das outras? Nada além do sentido. E € no que temos esperanga, uma esperanga, meu Deus, com que vocés podem contar, pois a esperanga, afinal, ¢ toda minha neste negécio. F, se nilo tivesse a resposta, como voces sabem, cu niio faria a pergunta Temos a esperinga, deixo-Ihes a esperanga a curto prazo, pois nio hi outra, de que daremos, este ano, um passo juntos, uM paso que consiste simplesmente em que, se ganharmos algo em algum lugar, serd forgosamente, com certeza, as expensas de outra coisa, em outras palavras, se 0 discurso analitico funciona, é certamente porque perdemos alguma coissi em outra pare. Alias, 0 que poderfamos realmente perder, se, na verdade, oqueacabo de dizer, a saber, que todos os sistemas da natureza que surgiram até aqui sto marcados pela debilidade mental, para que entio ater-se tanto a eles? Restam-nos pelo menos esses aparelhos-pivo, euja manipulagio pode nos permitir darmo-nos conta de nossa propria, refiro-me a nds analistas, operagio. Gostaria de reté-los um instante sobre 0 nd borromeano. Liste nd consiste estritamente no fato de que tres ¢ 0 seu minimo, Se voees fizerem uma cadeia, levando em conta sentido comum que a palavra tem para yoees,..iss0...Se voces desenlagarem dois anéis da eadeia, os outros anéis permanecem ligados. A definigho do né borromeano parte de trés. I, a suber, que se de trés vocés rompem um dos anéis, eles ficam livres todos os trés, ou se{a, 08 dois Outros se soltam. O notdvel nisto que é um fato de consistencia é que, a partir dai, voces podem colocar um numero indefinido de anéis e serd sempre verdadeiro que, voces romperem um desses angis, todos os outros, sejam quantos forem, estio livres. Penso que {@ fiz suficientemente voces sentirem, em um tempo jd distante, que para tomar oexemplo de um nel fabricado assim, ¢ absolutamente concebivel que um outro venha a passar dentro do fecho que consiste, que se realiza na dobragem desse pequeno cireulo, e que vocés compreendem imediatamente, que simplesmente ao romper o circulo que impede o terceiro de se soltar, 6 fecho dobrado vai destizar deste, e que, ao juntar um ntimero indefinido desses circulos dobrados, voci's véem por que mecanismo verdadeiramente sensivel, imediatamente imagindvel, todos os ess anéis se soltam, qualquer que seja 0 numero deles (quadro 2-1). Essa propriedade € quem, sozinha, homogeneiza tudo o que hé de ndmero a partir de ir@s, 0 que quer dizer que, na sequéncia dos numeros, numeros inteiros, um e dois sao destacados, e alguma coisa comega no trés, que inclui todos os ndmeros, to longe quanto sejam cles enumeriveis, € € exatamente isso que eu entendi ter acentuado em meu seminério, sobretudo do ano pasado. Isso ndo é tudo, para borromeanizar um certo numero de toros consistentes, hé bem mais do que uma tnica maneira, eu ja lhes indiquei antes. Bem provavelmente, uma quantidade que nao hé nenhuma razdo para nfo se qualificar de infinita, de infinita no sentido do numerdvel, j4 que vocés no precisam de mais que um instante para supor ‘4 forma seguinte de fazer um anel, ¢ apercebem-se que podem multiplic-lo indefinidamente Fntenderam? A saber que, ao fazer desses fechos luntas voltas quanto vocés quiserem para juntar dois toros, vocés vo constatar que nio hé nenhum limite plausfvel para este arranjo, e que, consequentemente, s6 jé nesta dimensdo, hd meio de se enlagar um ao outro, de quantas formas for possivel sesonhar na ocasio, que vocés até podem encontrar outras, e é sempre de trés que ele trard a marca, € por isso, vocés podem de repente se 1 a questo: a que registro pertence 0 nd borromeano? Ser ao do Simbélico, ao do Imigindrio ou ao do Real? (quadro 2-2) Adianto desde hoje o que no prosseguimento Adianto o seguinte: 0 n6 borromeano, enguanto se sustenta pelo nimero 110s, ¢ do registro do Imagindrio. Eo € naquilo que © Imagindriose enraiza a partir das trés dimensdes do espago, adianto isso ainda que nao vé em lugar henhum se conjurar com uma estética (tunscedental, ¢ pelo contrétio, porque o né horromeano pertence ao Imaginério, ou seja, suporta a trfade do Imagindrio, do Simbélico e do enquanto esta triade existe, naquilo que conjuga com a adigao do Imagindrio, que ‘© empago, enquanto sensivel, encontra-se reduzido (s ewe minimo de trés dimensoes, ou seja, de sua Jigagio no Simbdlico e ao Real. Outras dimensdes sao imagindveis, ¢ foram \inaginudas. F por ligar com 0 Simbélico e com o itio reduz-se aquilo que ndo € demonstrarei Heal, que o Imag iN NAxiMO IMposto pelo saco do corpo, o que nao # WH) Miximo, mas que, pelo contrario, define-s fF YN Minimo, Isto que faz com que s6 haja né Haramenne, se houver ao menos trés. 6 Antes de deixé-los, vou dar-Ihes aqui uma pequena indicagio, alguns pontos, algumas pontuagdes daquilo que vamos ter a demonstrar este ano. Para isso, aqui, do circulo azul figurei o Real, do circulo branco, 0 Simbdlico, e do circulo vermelho, aquele que ocorresse sustentar do trés ¢ set figurado aqui os dominando: gostaria de Ihes fazer observar que nao esta absolutamente implicado na nogdo do nd, como tal, do né borromeano, que se trate de rodelas de barbante ou de toros, que é também bastante concebivel que, conforme a intuigio de Desargues, na geometria ordinéria, esses circulos se abram, ov, para simplificar, tornem-se cordas supostas, nada nos impede de pensar isso como um postulado, juntarem-se, por que ndo, no infinito. Nao ha também meio de definir o que se chama um ponto, a saber, este algo estranho que a geometria euclidiana nao define, mas que, no entanto, serve-se dele como suporte, j4 que, na casio, ela pontua 0 individuo ai. E que, a saber, 0 ponto na geometria euclidiana, no tem nenhuma dimensio, tem zero dimensdo, contrariamente linha, superficie ou até mesmo ao volume, que, respectivamente, tem uma, duas ou trés dimensdes. Sera que nao hé, na definigio que a geometria euclidiana da do ponto, como da intersegio de duas retas, alguma coisa, da qual eu me permitirei dizer, algo que peca, quer dizer, o que impede duas retas de deslizarem uma sobre a outra? S6 0 que se apresenta assim, pode permitir definir como tal um ponto, a saber, trés retas que ndo so aqui simples arestas, mas efetivamente trés retas consistentes, que, no ponto aqui central, realizam o que faz. a esséncia do n6 borromeano, quer dizer, que determinam um ponto como tal, a saber, alguma coisa pela qual, entdo, é preciso que inventemos outra coisa diferente da simples indicagio de uma dimensao que seja zero, quero dizer, que ndo dimensione. (quadro 3) Sugiro que fagam esta tentativa, pois ndo ha ai simplesmente trago banal, mas que se sustenta igualmente por trés superficies, digo, que com trés superficies voces obtém 0 efeito dito de um ponto, de uma forma tao valida quanto aquela figurada aqui, digamos, com trés cordas - que, por outro lado, vocés podem tornar sensivel que essas retas aqui, essas cordas, vocés as obteriam, por jogo livre, quer dizer, sobre trés superficies que nio cruzam - uma a outra, se vocés partissem, nao da corda tal como ela é constituida no né borromeano, mas daquela corda de duas a duas, da qual eu evoquei 0 fantasma ainda hé pouco, de passagem, que ao desenlacar os fechos ligados dois a dois, o quese obtém sio trés retas livres umasobre a outra, ou seja, nao se cruzando, no se definindo o ponto comotal. O que quero anunciar, antes de deixé-los, ¢ entio isto (quadro 1-3) -est4 claro?- 0 fato de podermos ver que, com duas retas infinita ligando uma Gnica rodela de barbante, mantém a propriedade do né borromeano, sob esta condigdo Gnica de ndo poderem, as duas retas, em lugar nenhum, entre este n6 e 0 infinito, se cruzarem sendo de uma s6 forma, para tomar a linha reta R, que € preciso puxar para a frente, enquanto a linha S, da figura da direita, s6 podemos puxar para trds, pois ndo se deve deixar que sejam levadas a se enlagarem duas a duas, 0 que, de qualquer forma, exclui a figura central que, j4 tendo feito com que um do anéis, uma das rodelas, por exemplo, a rodela branca sobre a vermelha, defina, pelo simples fato, qualquer que seja oseu destino ulterior, a posicdo estrita da reta infinita azul, que deve passar sob a que esté por baixo e sobre a que esta por cima, para expressar-me de uma forma simples. O n6 borromeano, nestas condicées, funciona. Gostaria de indicar que, se situarmos este circulo, 0 azul, do Real, este outro do Simbélico, € aquele do Imagindrio, permito-me indicar que aqui se situa, por um planeamento, ou melhor, por uma reducdo do Imaginério, pois fica claro que 0 Imaginirio tende sempre a se reduzir por um planeamento, sendo nisto que se funda toda figuragio, e nao € por termas planeado essas trés rodelas de barbante que estariam elas menos ligadas borromeanamente no Real, quer dizer, mesmo com cada uma delas, desenlagada, solta das duas outras. © que acontece, que toma necessirio esse planeamento para figurar uma topologia, qualquer que seja? E certamente uma questo que se liga Aquela da debilidade que eu qualifiquei de mental, na medida em que csteja enraizada no proprio corpo. Pequeno a, escrevi, seja no Imagindrio mas também no Simbdlico, inscrevo a fungio dita do sentido. As duas outras funcOes, que tm a ver como 0 que se deve definir, a partir do ponto central que permite acrescentar af trés outros pontos, algo que, em se definindo, traz-nos gozo. Poderfamos definir um desses dois gozos, mas qual? Gozar a vida, se 0 Real é a vida, somos levados a af referi-lo, mas é claro que, se 0 Real é a vida, embora ela participe do Imagindrio do sentido, 0 gozar a vida, para dizer tudo, é algo que podemos situar nisto que ndo é menos ponto que © ponto central, 0 ponto dito do objeto a, j4 que ele conjuga, na ocasido, trés superficies que igualmente se cruzam. Por outro lado, 0 que é feito desse outro modo de goz0 que se figura por um recorte, por uma Aaproximagéio, em que o Real vem aqui cruzd-lo na periferia das duas outras rodelas de barbante? O que ¢ feito deste goz0? Stio pontos que teremos que claborar jé que sho também os que nos interrogam. (quadro 4) Um ponto que sugiro, para voltar a Freud, € este triddico, como ele anunciou: Inibigio, Sintoma, Angdstia; digo que a inibigio, como o proprio Freud articula, ¢ sempre negocio de corpo ou de funco. B para ja indici-lo neste esquem eu diria que a inibicao é 0 que, em algum: para de se imiscuir, se posso assim dizer, ¢ figura que é figura de buraco, de bur Simbélico. Teremos que discutir essa inibigo para saber se 0 que se enconira no animal, que tem no sistema nervoso centros inibidores, él guma coisa da mesma ordem que esta parada de funcionamento, enquanto imagindria, enquanto especificada no ser falante, se for concebivel que alguma coisa seja da mesma ordem, a saber, 0 acionamento no eixo nervoso, no sistema nervoso central, de uma atividade positiva, enquanto inibidora, Como € concebivel que 0 ser, que s supée ndo ter a linguagem, encontre-se implicado no termo de inibi¢do, alguma coisa da mesma ordem do que observamos af, no nivel da exterioridade do sentido, e 0 que observamos af como relevante do que, em suma, encontra-se exterior ao corpo, a saber, esta superficie, para topologizé-la, como afirmei-lhes ser a tnica forma, em duas dimens6es, mostra como a inibigdo pode ter a fazer com o que ela desfaz da parada que resulta da sua intrusio no campo do Simbélico. Ea partir disso, e no s6 a partir disso, que é absolutamente surpreendente ver que a angustia, enquanto algo que parte do Real, que é esta angdistia que vai dar seu sentido’ natureza do pozo que se produz aqui, pelo recorte trazido a superficie, recorte euleriano do Real e do Simbélico. Enfim, para definir o terceiro termo, € no sintoma que identificamos 0 que produz no campo do Real. Se o Real manifesta-se na andlise, ¢ no somente na anilisi nogio de sintoma foi imtroduzida bem antes de Freud, por Marx, de forma a torné-losigno de alguma coisa que nio vai bem no Real, se, em outros termos, somos capazes de operar sobre o sintoma, é enquanto o sintoma € efeito do Simbélico no Real; € enquanto esse Simbélico, tal como desenhei aqui, deve 7 completar-se aqui -¢ porque éele exterior? Eoque —_ enquanto esse n6 da conta de um certo mimero de \erei que manipular para vocésno prosseguimento, _inscrigdes pelas quais as superficies respondem, enquanto o Inconsciente é, para dizer tudo,oque que veremos que o Inconsciente pode ser responde pelo sintoma, é enquanto este nd, bem —_responsdvel pela reducdo do sintoma: real, mesmo que apenas refletido no Imaginario, é Quadro 2-1 Quadro 2-2 SC a Quadro 3 Quadro 1-3 ps BT NITY 4) ied i] 7] ~ él] i) aly / ! (Heit Bo eS ae deddined Quadro 4 Rnqnora 11 stm, Seminario de 17 de dezembro 1974 Af estamos. Como nio gosto muito de escrever no quadro, escrevo-lhes 0 minimo. Esse minimo € obastante para que vocés ai reconhecam, esquerda, 0 né borromeano. Parece-me, enfim, se vooés se lembram do que digo, afinal vocts tomam notas, pelo menos alguns, parece-me que jé justifiquei o porque do né borromeano poder ser escrito, pois ele € uma escritura. Uma escritura que suporta um Real. S6 isso jé designa que ndo somente o Real pode suportar-se em uma escritura, mas também, que ndo hé outra idéia sensfvel do Real. Esse Real que € 0 n6, né que é uma construgio, esse Real se basta para deixar aberto esse traco de escrita, esse trago que esté escrito, que suporta a idéia do Real. Pelo fato de que o nd 86 € constituido naquilo em que cada um dos seus elementos s6 € ligado por um terceiro, podendo-se, daf, deixar aberto um destes trés. Jd que é um fato que pus em evidéncia, da tltima vez, poder, cada um desses elementos, ter duas formas: a forma de rela infinita e a forma que designo, pois me parece ‘a melhor para seu imagindrio, que desi gno como rodela de barbante, € que se mostra, no estudo, ser aquela de um toro. Tendo dado essa pequena mostra do né com © que disse da ultima vez, apenas para reavivar a meméria de vocés, esta manhi, preferi, aoinvés de ler 0 que tinha elaborado, parece-me haver ‘observagées preliminares, que poderiam bem Ihes servir para responder, para justificar como perguntas, aquelas que suponho se terem feito. Essas observagées preliminares nao serio numerosas, farei trés. Pode vir a mente de alguns, enfim, daqueles que abrem livros, e no precisam sequer abri-los, pois esté estampado nas capas. Poderdo se perguntar sobre esse né que faco, 2 titulo de nele unir o R.S.1. da forma mais acertada, a saber, quando o S é a rodela vermelha, nao, 0 S € a rodela branca, o Imagindrio é a rode! vermelha, esse n6 se sustenta por ser suficientemente definido, por ndo apresentar ambiguidade, quando é atravessado, quando as duas rodelas sio atravessadas pelo Real de tal forma que, como enunciei da tltima ver, este Re atravessa-a por estar por baixo daguela das duas rodelas que est4 por baixo, ¢ por estar por cima daquela que esti por cima, Isso basta para o cruzamento, seja ele feito pela esquerda ou pela direita, digo isso de passagem, que tanto esta esquerda quanto esta direita, ¢impossivel a este nd sozinho thes dar earacterizagio, Noo fosse isso, terfamos 0 milagre esperado, que nos permitiria passar a mensagem da diferenga da esquerda e da direita aeventuais sujeitos eapazesdo recebimento da referida mensagem O né borromeano ndio pode, de jeito algum, servir de base para umd mensagem assim, como esta que permitisse a diferenciagdo entre esquerda € direita, Tanto faz, entfo, colocar direita ou esquerda; 0 que resulta do {ato deste nd é, a saber algo que designaremos como externo, 0 sentido, naquilo que éa partir dele que se definem os termes Real, Simbdlico e Imaginirio. $6 0 fato de eu prosmpuir nestes termos, & algo que deve fazer com que coloquem a questio, parece-me, se tiverem lido pelo menos alguns titulos de livros: 6 nd é 0 modelo? Um modelo, no sentido que se entende, por exemplo, os modelos matemdticos, aqueles que frequentemente nos servem para exirupolar quanto no Real, ou seja, como neste caso, a fundar, 9 partir de uma escritura, 0 que pode ser imaginado pelo proprio fato desta escritura ¢ que permite, tho logo, que se dé conta das interrogagdes que serio trazidas pe xperiéncia para este Real propriamente, que, de toda forma, nhoé af mais que suposigho, suposicao que consiste neste sentido da palavra Real Pretendo, para este nd, repudiara quali ficagao de modelo, Isso, em nome do fato do que se deve supor quanto ao modelo, O modelo, como acabo de dizer, ¢ isto pelo fato da sua escritura, situa-se no Imaginirio, Nio ha Imagindrio que nao suponha uma substincia, Bis af um fato estranho, mas ¢ sempre no Imagindrio, a partir do espirito que da substincia a este modelo, que as questoes que dai se formulam so secundariamente colocadas para o Real E é nisto que pretendo que oaparente modelo que €on6 borromeano, constitua excecao, mesmo ° que esteja também situado no Imaginério, excegio ‘esta suposigdo de que 0 que ele propde é que as irés que ali estéo funcionem como pura consisténcia, sabendo-se ser apenas pela ligagio entre si que eles consistem. Os trés realmente ligam-se entre si, 0 que, mesmo assim, implica na metéfora e coloca a questio do errar, no sentido em que eu o entendia no ano passado, o errar da metifora. Pois se enuncio, o que s6 se poderia fazer 4 partir do Simbélico, da palavra, que a consisténcia dessas trés rodelas s6 se suporta pelo Real, € exatamente porque eu me utilizo do desvio de sentido que permitido entre R.S.I., como individualizando essas trés rodelas, especificando-as como tal. O desvio de sentido std ai, supostamente tomado a um certo maximo. Qual € 0 maximo admitido no desvio de sentido? Fis af uma questo que, no estado atual das coisas, 6 posso colocar aos linguistas. Como um linguista © tenho um aqui hoje que me honra com sua presenga na primeira fila- como um linguista saberia definir os limites da metéfora? O que pode definir um maximo do desvio da metéfora, no sentido em que eu 0 enunciei em meus Escritos, por referéncia & “Instincia da Letra”, qual € 0 maximo permitido da substituigéo de um significante por um outro? Pego desculpas, talvez eu tenha ido um pouco répido af. Mas é certo que io podemos demorar demais, ¢, por isso, ¢ preciso que eu passe a minha segunda observagio. Para operar com este né de uma forma conveniente, € preciso que voces se baseiem em um pouco de besteira. O melhor é ainda usi-lo estamente, o que quer dizer ser tolo nisto. Nao se deve entrar neste assunto pela divida obsessiva nem hesitar muito, Uma coisa me surpreendeu na Je/tura de uma obra da qual, por acaso, minha filha uviu falar para o seu trabalho sobre Buffon. Ela whtou alguém que prontamente deu-the indiengdes sobre a publicagao deste texto. O texto ( de Maupertuis que, na Academia de Berlim, sob titulo de “A Venus Fisica”, faz uma relagio do (Mie, em Suma, estd na vanguarda da sua época, do {jue € conhecido sobre o fendmeno da reprodugio ‘Jos corpos vivos, B para introduzi-lo a partir do terme da "Venus Fisica”, ele preferiu relacionar Japon reprodugio sexuada, 1) muito surpreendente, pelo menos a meus olhiow, ver que, nesta teitura de Maupertuis que, na jeaniho, para alguém que se situa na Historia, e iwmente W primeira coisa que se impbe é a data cor deste enuneindo, 1756, é a prova do tempo que JevAHiin enane bentan fulantes que sdo os homens, Jena 108 Hani definidos, para se dar conta do apeeifien di reprodugiio vexuada Ww Fica realmente claro a meus olhos, que é por ndo sersimplesmente tolo, por ndose ater somente ao que seu tempo Ihe fornecia de material, que j4 era muito, a saber, a observacio no microscépio, por Loewennhoeck ¢ Swammerdam, do que faziam o que se chamava na época os animéculos, isto é, os espermatoz6ides, e os Gvulos por outro lado, a saber, o que ¢ comumente suportado por dois corpos que, por isso, definem-se como sendo de Sexos opostos, salvo excegio, é claro, a saber, que 0 mesmo corpo, como vocés nao ignoram o que acontece com os caramujos, possa suportar 0s dois. Foi seguramente por ndo se ater a esse macigo da distingao do animéculo e do évulo, no entanto desde sempre presente na simples diversidade de teorias, que Maupertuis, por nao ser tolo, por nao ter se limitado a esse fato macigo e, para dizer claramente, por nio ter sido bastante burro, nao sente 0 ponto propriamente de descoberta que constitui a apreensio real da distingdo dos sexos, no se limitando ao que the era dado. Se ele fosse mais tolo, erraria menos. Certamente ndo porque seu errar tenha sido tolo, pois ele chegou a algo que 6, de certa forma, a prefiguraco, se podemos assim dizer, doquese revelara, num exame ulterior com microscépios mais potentes, como constituindo a existéncia dos gens. Entre o ovismo € 0 animaculismo, a saber, no que acentua um desses elementos ou 0 outro, ele até mesmo imaginaré que fatores de atragio e de repulsio podem levar as coisas a esta composi¢gaio da qual, alids, a experiéncia encaminhada por Harvey sobre © exame de um prentincio do que ele chama o ponto vivo no fundo do ttero de corgas que Charles II pds a disposigdo do tal Harvey; ele chega certamente a ter uma idéia disso, pelo menos a sugerir 0 que pode se passar, e que se pode dizer que se passa efetivamente, no nivel do que seria uma morula por exemplo, ou mesmo num estédio mais adiantado, que ¢ aquele da gastrula mas, justamente, ao adivinhar, ele nao avanga mais. O que Ihe escapa é que cada célula disso que um Harvey descobre -e deslumbra-se ele com isto- como sendo a substincia do embriao ¢ 0 puzzle, a miscelanea que aparentemente poder-se-ia imaginar, e que Maupertuis néodeixa de imaginar, € que neste puzzle, nesses elementos celulares, haveriam machos e fémeas. O que certamente nao éverdade. E preciso que isto seja levado bem mais longe e, para dizer a verdade, de tal forma que 0 fato do ponto ser vivo no poder absolutamente ser reconhecido, ou seja, que estejamos no nivel desses gens, distingufveis no cariosoma, no mais intimo da célula, e € por ser preciso vir a isto que a idéia da miscelénea para a qual caminha Maupertuis, € uma idéia simplesmente prematura Néo um errar, é, se posso dizer, por ndo ser tolo que ele imagina to mal. Ele no é tolo na medida em que ele no se limita, ou, pelo menos, nao estritamente, a0 que Ihe fornecido; ¢ que, em suma, faz hipéteses. “A hipétese non fingere”. O repiidio das hipéteses pareee-me sero que convém e oque eu designoa parti disso comosendo burro © bastante para no se colocar questdes concernindo 0 uso de meu 6, por exemplo. Certamente, no € com a ajuda deste né que se pode ir mais longe que de onde ele parte, a saber, a experiéncia analitica. Eda experiéncia analitica que ele dé conta, e é nisso que esté 0 seu valor. Terceira observacéo, igualmente preliminar. | Em que consiste esta al guma coisa do né, tal como ele se apresenta, que na primeira observacdo pude \ me fazera pergunta de saber se é ele um modeto. Epor que, aparentemente, domina af oImaginario? Que af domine 0 Imagindrio, € algo que se baseia | no fatodele Ihe dar a consisténcia, O que introduzo através dessa observagio € que 0 gozo, a vista | dessa consisténcia imagindria, nio pode senio | ex-sistir, ou seja, parodiar isto: € que, 4 vista do Real, éde outra coisa além do sentido o que se trata no gozo. O significante, entéo, € 0 que sobra, € sendo ele, por causa disto, desprovido de sentido, vem propor-se como interveniente neste gozo. Nao, é claro, que o “Bu penso”, baste para assegurar a ex-sisténcia -ndo € a-toa que Descartes encalhou af- mas até certo ponto, realmente verdade, que é s6 ao apagar todo sentido, que a ex-sisténcia se define; do mesmo modo, alids, ele proprio flutuou entre 0 “Sum, ergo” € 0“Exsisto”. Certamente, a nogdo do ex-sistit ndo estava assegurada ainda. Para que al guma coisa ex-sista, € preciso que haja em alguma parte um buraco. 5 em forno desse buraco simulado pelo “Eu penso” de Descartes, jd que cle esvazia este “Eu penso”, \ que se sugere a ex-sisténcia E € certo que temos aqui esses buracos, no coragio de cada uma dessas rodelas. Pois sem esse buraco, nao seria nem pensivel que alguma coisa se atasse, Trata-se de situar, no 0 que pensou Descartes, mas 0 que Freud tocou e, para isso, proponho que 0 que ex-siste no Real do buraco, seja simbolizado na escritura por um campo intermediario como planeador, pois é tudo o que a escritura nos permite, e € muito surpreendente como efeito, que a escritura como tal imponha este planeamento. E se aqui sugiro que alguma coisa supde que © Simbélico, por exemplo, mostra no espago de duas dimensées, definido pelo fato de que algo ex-sista 86 por ser suposto na escritura, pela abertura da rodela nesta reta indefinida, esté af 0 que tanto em relagao a um dos elementos do n6 quanto a todos os outros, permite situar 0 que diz respeito a ex-sisténcia Por que, entio, a direita, marquei que o que é da ex-sisténcia ¢ algo que se metaforiza pelo gozo félico? Isto é uma proposigio que supde que eu diga mais sobre este goz0, Para situd-lo de uma forma que nio provoque ambiguidade, é com um, trago azul que desenho o que diz respeito ao Real Ecom um trago vermelho, o Simbélico, Proponho, seja na intengio de completi-lo ulteriormente, uar aqui, como tal, 0 gozo filico, naquilo em que ele esté em relagso com o que no Real ex-siste, a saber, 0 que se coloca no campo produzido daquilo que a rodela do Real, chamo assim a rodela conotada com o Real, se abre para se por como esta reta infinita, isolada, se podemos assim dizer, em sua consistencia, I no Real, como fazendo buraco, que 0 goz0 ex-siste Este € 0 fato que a experiencia analitica nos trouxe. Nao hd, em Freud, nfo vou, simplesmente por nao té-los recolhido, ha, em Freud, prosternagio diante do gozo filico ¢ 0 que a experiéncia analitica deseobre, a fungho nodal deste goz0 enquanto filico, ¢ é em torno dela que se funda 0 que diz respeito testa especie de Real com que a andilise tem a ver, O que ¢ importante ver é que s¢ hi alyo em que 0 nd se suporta, & justamente no fato de que haji, para com este gozo falico como Real, este algo que s6 0 situa no cruzamento que resulta di nodalidade, se paso assim dizer, do nd bd, 8 nodalidade propria a0 nd borromeano, ¢ nisso que alguma coisa se desenha aqui como rodela de burbante, enquanto consisténcia que constitul 0 Simbdlico, B na medida em que um terceiro ponto, que se define como se define o sentido, ¢ exterior ao mais central dos pontos desta nodalidade, & neste sentido que e produz 0 que se chama gozo falico, O gozo falico interessa sempre 0 nd que se faz com a rodela do Simbdlico, pari so nomed-lo como deve 1 feito. Que esse yor Como {al esteja ligado a produgio da ex-sisténeisi, ¢ o que thes proponho este ano, por A prova, pois voces véem oque resulta disso, € que 0 nd, tal como enuncio, esse nd se redobra com uma outra triplicidade, aquela que no sentido, enquanto € do sentido que parte a distingho dos sentidos que fazem desses termos trés termos, ¢ dai que devemos, que podemos partir, para que ond consista como tal, existem tres Clementos, ¢ & como tres que esses elementos se Suportam: nds os reduzimosaserem trésesomente ai esté 0 que faz o seu sentido. Por outro lado, a u titulo de ex-sisténcia, eles sfio, cada um, distintos, © € também a propésito do goz0 como Real que cles se diferenciam, e neste nivel, o que nos traz a experiéncia analitica € que é na medida em que o 2020 €oqueex-siste, que ele faz 0 Real;0 justifica, justamente pelo fato de ex-sistir. Seguramente, hd sobre isto uma passagem que importa, pois a que ex-siste a ex-sisténcia? Certamente nao no fato de consistir. A ex-sisténcia como tal, define-se, suporta-se disso que em cada um dos termos R.S.I., buraco; hé em cada um, alguma coisa pela qual € do circulo, de uma circularidade fundamental que se define, ¢ esta alguma coisa é 0 que se deve nomear. E surpreendente que no tempo de Freud, oque se nomeia € $6 imagindrio. Quero dizer que, por exemplo, a fungi dita do eu € este algo de que Freud, conforme esta necessidade, esta inclinagio, faz com que seja ao Imagindrio que se encaminhe a substincia como tal. Freud designa como eu, 0 qué? Nada mais que isso que na representagao faz. buraco, Ele ndo chega dizé-lo, mas o representa nesta t6pica fantasmatica que é a segunda, enquanto a primeira marcava toda sua distincia maravithada diante do que ele descobria do Inconsciente. E no saco do corpo que se encontra figurado 0 eu, 0 que, alids, 0 induz. a especificar esse eu, alguma coisa que justamente faria buraco al, por deixar entrar o mundo por af, por necessitar queesse saco fosse, deal guma forma, fechado pela percepgio; é enquanto tal que Freud nao designa Mas trai nao ser o eu mais do que buraco. Quais sio os buracos que constituem, por um \ado, 0 Real, e por outro, o Simbdlico? E 0 que, seguramente, sera preciso examinar de muito perto, Pois alguma coisa abre-se a nds que, de ‘lguma forma, parece evidente: esse buraco do Real, a se designar como vida. Foi, igualmente, ma vertigem a que o préprio Freud nao resistiv, ‘opondo instintos de vida aos instintos de morte. Observo que, a se interrogar por nosso n6 quanto estrutura necesséria a Freud, € do lado da morte (ue se encontraa fungao do Simbdlico. E enquanto ilguma coisa é “Urverdringt” no Simbélico que in algo a que nao damos jamais sentido, mesmo (ue sejamos, € quase uma repetigio banal enuneld-lo, capazes logicamente de dizer que Jodo os homens sfio mortais”; e enquanto “todos ‘os homens so mortais” nao tiver. pelo faro mesmo tlesse “todos”, nenhum sentido que & preciso ao menor que a peste se propague em Tebas, para que fae todos se tone imagindvel e€ nfo s6 puro Aimbolieo, & preciso que cada um se sinta convernide em particular pela ameaga da peste, {We Ae FeVElA AE MesMO tempo que se supde aqui a saber, que se Edipo forgou alguma coisa, foi absolutamente sem sabé-lo, foi, se posso assim dizer, que ele s6 matou o pai por nio ter, se me permitem, se dado 0 tempo de Jaiusar. Se ele tivesse se dado 0 tempo necessario, mas seria necessirio, certamente, um tempo que teria sido quase o tempo de uma anilise, j4 que era justamente por isso que estava ele proprio nas estradas, a saber, porque acreditava, justamente por um sonho, que mataria aquele que, sob o nome de Pélibo, era simplesmente seu verdadeiro pai. O que Freud nos traz, concernindo ao que diz respeito a0 Outro, € justamente isso, que s6 ha Outro quando se 0 diz. Mas € absolutamente impossivel dizer inteiramente esse Todo-outro, ha uma “Urverdrangt”, um Inconsciente irredutivel e este, de ser dito, é, por assim dizer, 0 que nao s6 se define como impossivel mas introduz como tal a categoria do Imposstvel Que a religiao é verdadeira, foi o que eu disse ‘emoutra ocasido. Ela écertamente mais verdadeira que a neurose, naquilo em que ela recalca o fato de no ser verdade que Deus seja, coisa em que, se posso dizer, Voltaire acreditava firmemente. Ela diz que ele ex-siste, que ele a ex-sisténcia por exceléncia, ou seja, em suma, ele é 0 recalcamento em pessoa, ele é, inclusive, a pessoa suposta a0 recalcamento. E € nisso que ela ¢ verdadeira. Deus nada mais é que o que faz com que, a partir da linguagem, ndo se possa estabelecer relago entre sexuados. Onde esté Deus nisso? Nunca eu disse que estivesse na linguagem. Esta, bom, é justamente sobre o que deveremos nos interrogar este ano. De onde isso pode vir? Eu nao disse vir tapar um buraco, este constituido pela ndo-relacio constitutiva do sexual, pois esta $6 € fixada em si A linguagem nao é, entio, simplesmente um tampio, ela é isto onde se inscreve esta néo-relagdo. E tudo que podemos dizer. Jé Deus, comporta 0 conjunto dos efeitos de linguagem, incluindo af os efeitos psicanaliticos, 0 que nao é dizer pouco! Para fixar © que chamamos idéias, e que no so absolutamente idéias, fixar ali onde merecem ser fixadas, ou seja, na légica, Freud nao cré em Devs. Pois ele opera em sua propria linha, como bem mosira a poeira que nos langa aos olhos para nos legenferar. A legenferaciio pode também ser aquela de que eu falava ainda hd pouco. Nao somente ela perpetua a religido mas a consagra também como neurose ideal. Alids, foi exatamente ‘oque ele disse, ligando-a a neurose obsessiva, que é a neurose ideal. que, propriamente falando, merece ser chamada assim. E ele ndo pode fazer de Gutro modo. pois é impossivel, ou seja, ele é c tolo, da boa maneira, aquela que no erra, Nao é —_estavam absolutamente impedidos de até mesmo como eu, que s6 posso testemunhar o errar, err —_apercebé-los. E por iss voces podem encontrar, »\ nesses intervalos em que tento situi-los, no nasinalizagioque dei na época, noque diz respeito Sentido, no Gozo Félico, mesmo no ‘Terceiro i ““Angustia, Inibigéo, Sintoma”, que distribus em < Termo, que nao esclareci pois € quem nos dia —_trés planos chave do buraco, do buraco tal como o designo. | Inibigs © goz0 que interessa, no a9 Outro do significante Sintoma mas ao Outro do corpo, 0 Outro do outro sexo, Angistia (7 __. Ser4 que, quando digo, enuncio, anuncio que para poder, justamente, demonsirar, o que & | nao hé relacao sexual, isto ndo significa este fato _sensivel, desde aquela época, a saber, que esses que esté naexperiéncia, que todo mundo sabe, mas _trés termos, Inibigho, Sintoma, Angustia, so que € preciso saber por que Freud no deu conta, _heterogéneos enire si como os meus termos Real, por que qualificou-o como Eros, entregando-se a0 Simbélico e Imagindrio; ¢ que, explicitamente/ja mito do corpo uno, do corpo de dois dorsos, do _angistia € isso que, do interior do corpo, ex-siste corpo bem redondo, ousando referir-se a esta quando hé alguma coisa que o desperta, que 0 grosseria plat6nica: seré que ndo € 0 fato de que —_atormenta, vejam 0 Jodiozinho, quando se dd conta um outro corpo, qualquer que seja, por mais que o de ser sensivel & associaciio com um corpo, ali, estreitemos, nunca ser mais que 0 signo do mais explicitamente macho, definido como macho, extremo embarago? Acontece que, gragas aum —_associagdo a um corpo de um Gozo Falico. § fato que Freud cataloga, bem evidentemente, — Jodozinho se lanca na fobia, é evidentemente para como se impOe, como regressio, e nds, ainda por dar corpo, como demonstrei durante um ano cima, 0 chupamos! o que se pode realmente fazer, _inteiro, a0 embarago que ha neste falo, ¢ para 0 afora despedagd-lo? Ndo vemos 0 que se possi qual ele se inventa toda uma série de equivalentes fazer com um outro corpo, é claro, um outro corpo _diversamente escoiceantes, sob a forma da fobia ditohumano. Justifica-se af que, sebuscamoscom aos cavalos; Jodozinho, em sua angistia, principio } oque pode ser bordeado esse gozo dooutrocorpo, da fobia, e € neste sentido que nele se dé esta ') enquanto ele seguramente faz buraco, 0 que _angistia, pura, se posso assim dizer, que se chega {_ encontramos é a angiistia. a fazé-lo se acomodar com esse falo que, no final Foi por isso que, durante um certo tempoem das contas, como todos aqueles que tém este que, nio por acaso, escolhera a Anglstia como _estrupicio, que um dia qualifiquei como tema -eu 0 escolhera porque sabia que isso nado —_penduricalho, bom, terd que se acomodar com isso, duraria, ¢ isso porque tinha cu seguidores figis que ou seja, que ele se case com esse falo. E onde o se ocupavam em fazer surgir mocdes de ordem, homem nada pode. A mulher, que nao ex-siste, que podiam, em seguida, declarar-me inapto a pode sonhar em ter um mas o homem é afligido transmitir a teoria analitica. NZo que isto me tenha por isso, ele sé tem essa mulher, cal angustiado, ou sequer embaragado, pode acontecer Foi 0 que 0 Freud disse, ndo foi? em todos os todos os dias, afinal. Isso ndo me angustia nem tons, o que diz ele, dizendo enfim que a pulsio embaraga, mas eu queria, mesmo assim, _ filica ndo € a pulso genital? Diz que a pulsio justamente a propésito da angtstia, “A Inibigdo, genital, no homem, no € nada natural, Nao s6 nilo Sintoma, Angustia”, dizer certascoisasquedevem —€ natural mas se nao houvesse esse diabo de agora, enfim, testemunhar sobre isso que é simbolismo a empurri-lo pelo trazeiro, para que realmente compativel com a idéia de que 0 ele, afinal, ejacule, e para que isso sirva para Inconsciente € condicionado pela linguagem, € — alguma coisa, pois se néio, hi muito que ndio mais realmente compativel, ndo s6 por situar af os — haveria desses falesseres, esses seres que nfo afetos. Isso quer dizer somente que élinguagem —_falam s6 de ser, mas que sho pelo ser. O que ¢, e que é pela linguagem que somos afetados, —_ realmente, o cimulo dos ctimulos da futilidade manifestamente, e de uma forma de todo Bom, so quinze para as duas. Acho que hoje, prevalente, e ainda mais, que naquele tempo do como improvisei quase tudo do que andei meu semindrio sobre a Angdstia, se introduzi contando, estou bastante cansado, Tudo isto alguma coisa, foram justamente qualidades de apareceri de outra forma, jd que desta aqui, nao afeto, que havia muito tempo que os afetuosos, ali estou assim to satisfeito os aficionados, no s6 nfo encontravam mas + SENTIDO - CONSISTENCIA G Q - EXSISTENCIA G A - AGUJERO planco +++++ azul ----- rojo — 7 T ' + ‘ + ua P<, ' + ! aE Esquema I * Anavstia * Se $e at os * ( 7 *e t Y { Se aae® \ . INHIBICION SINTOMA ANGUSTIA Esquema II Seminario de 14 de janeiro 1975 FE isso af. O que eu digo interessa, vocés sio ) prova. Interessa a todo mundo. A mim, no como ‘4 todo mundo. E é bem por isso que isso interessa 4 todo mundo, é que isso se sente no que eu digo. Por que isto se sente? Porque 0 que eu digo é um trilhamento que conceme a minha prética, um \rilhamento que parte desta questo que, claro, eu lo me colocaria se nao tivesse, na minha pritica, 4 resposta opere? Is © que implica que a psicandlise 0 nada tem a ver com o que fago de psicandlise, vocés acabam de me ver operar no quadro, Como puderam ver, nao foi coisa facil. Refiz.n vezes, e olhem que eu tinha um papelzinho para me guiar no bolso, sem o que eu teria ainda me atolado mais. O que véem a direita, é 0 nosso bom nozinho borromeano camarada, né borromeano de quatro elementos, onde € facil ¢ imediato ver, se cortarem qualquer uma dessas rodelas de barbante, as trés ultras estio livres; néo hé a menor complicagio pura fazer um né borromeano tio comprido quanto quiserem, quer dizer, atar 0 um ao outro, tal como, jf fiz esta observacao antes, desenho aqui; o nimero de rodelas de barbante nao é, se posso assim dizer, homogéneo. Como podem ver, s6 de olhar este esquema, i um primeiro e um dltimo. Tal como esté feito, no pode haver mais que quatro, e se procedo do mesmo modo para que haja cinco, serd preciso, de certo forma, que eu dé a este, bem 2 direita, que chamaremos 0 Gltimo, um outro modo de se atar. Porque, no final das contas, € 0 dltimo que mantém od 4 cadeia que faz. com que haja aqui quatro e, Ae prossigo um pouco mais adiante, haverd cinco, ‘s condigho que eu nao dé ao Gltimoomesmo papel, jf que ele manterd cinco, ao invés de quatro, Voets sabem, devo de passagem ter feito 1 maneira de articular a esséncia do Aimer, como fez Peano, por meio de um certo parece que aqui, 0 n+1, 0 Peano poe em valor como esliulutundo © nimero inteiro, € isto sob uma eoniigho, que haja um no inicio que nao seja 0 sisemor de ninguém, quer dizer -e isto, esta rodela lust, fumero de axior de barbante imita bastante bem- o que ele designa como zero, E de maneira axiomdtica que Peano se enuncia, ele coloca um certo nimero de axiomas e € a partir dai, conformemente d exigéncia matemitica, aritmética no caso, que constréi al go que nos da definic&o de uma série que estaré para ontimero, ondémero inteiro, digamos, homolégica; isto quer dizer que tudo feito por meio de tais axiomas ser homolégico a série dos niimeros inteiros Mas 0 que estou mostrando a vocés? Outra coisa, jé que ai se especifica a funcio deste mais um como tal, é esse mais um que faz que, suprimam-no, por exemplo, e ndo haveré mais cadeia, nao haverd mais série, j4 que do fato apenas da sec¢do desse um entre outros, todos os outros, digamos, se libertam como um. E uma forma, diria que material, de fazer sentir que um nao é um némero, apesar dessa sequéncia de nimeros ser feita de uma sequéncia de uns. Utilizando-me de rodelas de barbante, digamos que ilustro algo que no deixa de ter relacdo com essa sequéncia dos némeros que, vocés sabem, temos a maior dificuldade em nao considerar como constituinte do Real. Toda abordagem do Real torna muito dificil ndo levar ‘em contao numero. O ntimero parece -por que nio acolher esta palavra que me vem aqui prematuramente?- toda abordagem do Real é tecida pelo némero. Hé no ntimero uma consisténcia que é de uma natureza que podemos dizer nada natural, j4 que para que eu os faca sentir que abordo esta categoria do Real, naquilo em que al guma coisa oata aqueles a que fui Jevado a dar também consisténcia, 0 Imaginario e o Simbdlico; como se faz que isto, se posso assim dizer, me leve a me servir do nd? E a titulo de ser a mesma, a mesma consisténcia nessas trés quaisquer coisas que originalizo como Simbélico, como Imaginério e como Real, a esse titulo de sera mesma, a mesma consisténcia, que eu produzo esse né borromeano, para me convencer na minha pratica, Nunca se fez isso. Nunca foi feito isto que consiste, consiste em 14 qué? Em fazer abstrago da consisténcia como tal Isolo a consisténcia como esse algo que cv chamaria, para vocés, para fazer imagem, pois de fazer imagem eu ndo me privo - 0 que est ai no quadro, sendo imagens? - imagens onde o mais espantoso é que vorés se situem nelas, pois nfo pensem que essas imagens sejam evidentes. Sem divida, vocés esto acostumados com 0 quadro negro. Mas o que véem? Viram minha dificuldade com essas imagens, que tém essa propriedade de planeamento, entretanto, € preciso que uma linha passe por cima (crossing over) ou passe por baixo (under-crossing). Que isso faga imagem € jé por si miraculoso, aliés nao me sinto seguro de que essas duas imagens, vocés as captem assim tio facilmente. Vocés bem véem que hd uma diferenca, entretanto, coloco-Ihes 0 problema, Serd que tal como af estd, esse né af tal como esti feito, da maneira legalzinha que eu jé hd tanto tempo assinalei para vocés, serd que € 0 mesmo ou, dito de outra forma, remexendo simplesmente a coisa, seré que vocés podem nesse aqui, no digo transformé-lo, ja que seriao mesmo. Imponham-se isto como exercicio. Serd que, em outras palavras, €osentido do que pego, com quatro isso funciona, € 0 mesmo n6, ou serd preciso um a mais? Pois desde j4 digo que, numa cadeia feita como esta, a transformagdo se obtém... masno digo para deixar a vocés proprios o desfrute, nao digo a partir de quanto, pois uma coisa é certa, é que com trés vocés ndo produzirio essa complicadela bem particular que distingue aparentemente a figura da esquerda da figura da direita. Hi algo que ilustra que a consisténcia -esse algo que de certa forma é subjacente; a qué? a tudo isso que dizemos- que essa consisténcia é outra coisa que aquilo que se qualifica na linguagem da ndo-contradico, é bem esse tipo de figura, naquilo em que ela possui essa alguma coisa que sou forcado a chamar de uma consisténcia real, visto ser isto 0 que esté suposto. E que uma corda, segura. Ndo se pensa nunca no que ha de metéfora no termo consisténcia. Eis algo que € mais forte que isso, é que, para mim essa consisténcia real, é pela via de uma intuigao, que posso mesmo dizer, j4 que a transmito a voces pela imagem, uma intuico imaginéria que a comunico a voeks. E, pelo fato de estar certo de que no esto voces mais familiarizados do que eu com esses tipos de figuras, esse certo trilhamento que hes fago, desenhando-a no quadro, estou certo de que, digamos, para a grande maioria de vocés, a questo que coloco, essa da transformago que néo € uma transformacdo, que seria uma 15 transformagiose fosse necessirio refazeroné para que a da esquerda se transformasse na da direita, ou inversamente, coloqu mesmo 6? néio hd muitos que possam assim, de chofre, me responder. Menos ainda me dizer porque Aqui estamos, entdo, tendo na mio, se po assim dizer, esta corda como fundamento suposto da consisténcia, de uma tal maneira que ndo se pode dizer tratar-se af de algo com que estejamos habituados, a saber, a linha geométrica, é afinal coisa bem diferente, niio s6 a linha geométrica nao € isso mas cada um sabe que o que ela engendra todo tipo de problemas concernindo a sua continuidade, que niio sho pouca coisa ¢ isso porque, justamente, 1 linha, nds nfo podemos nao suporti-la com algo que tenha essa consistenc que faga corda, estd inclusive af © principio deste primeiro ofuscamento que foi feito das fungdes, ditas continuas, parecia no se poser construir linha que no tivesse em algum lugar uma tangéncia, fosse essa tangenela ret ou curva, Foi dessa idéia de que a linha no era todavia sem espessura, que se produziram esses milagres com que os matematicos precisaram muito tempo lutar € que, alids, foi preciso tempo para que despertassem para isto de se poder fizer uma lin! perfeitamente continu ¢ que niio tenha tangente E dizer a importincia que tem exsa imagem Mas sera bem uma imagem’? Afinal, nfo é a toa que dizem “Segura bem a corda!” Isso quer dizer que, numa corda, quando outra ponta esta amarrada, a gente pode se segurar, Isso tem algo a ver como Real, e é bem af que, meu Deus, no me parece fora do assunto lembrar-thes que, em sua Regra “As boas maneiras para a direcho do espirito”, um tal Descartes nfio achou supérfluo, nessa Regra X, observar que "como todos os espiritos nfo sto igualmente levados a descobrir espontaneamente as coisas por sun {orga propria” essa regra ensina que nfo se deve “se ocupar imediatamente das coisas mais diffeeis e ardua mas que se deve aprofundar primeiramente as artes menos importantes © muis simples, aquelas sobretudo em que a ordem melhor reina, como as dos artesios que fazem a tela € Os tapetes, ou as mulheres que bordam ou fazem todas as combinagdes dos niimeros e todas as operagdes que se relacionam com a aritmética € outras coisas semethantes.” Nao hé a menor suspeita de que, dizendo tais coisas, Descartes pensasse haver uma relagao entre a aritmética ¢ o fato das mulheres fazerem renda, ‘ou mesmo que os tapeceiras fazem nés. E, por outro lado, certo que nunca Descartes ocupou-se minimamente com nés, que, bem pelo contrario, foi preciso estamos jé bastante adentrados no século XX para que algo que se pode chamar de lworia dos nds se esboce. Vocés, por outro lado, subem, pelo que jé Ihes disse, que essa teoria dos nOs estd em sua infancia, € extremamente indbil e que tal como ¢ fabricada, hé muitos casos em que, ‘i vista de simples figuras, como essas que acabo dle fazer no quadro, voces nio podem, de forma ‘ilguma, responder se, sim ou nao, o emaranhado «jue tragaram é ou nao um né. Bisto, quaisquer que nojam as convengdes que se tenham dado de untemfo para dar conta do né como tal. Ha algo, porém, que vale uma parada, pode parecer do fato de una intuiglo, mas o que Ihes demonstro é que Jeo vai bem mais longe. Nao é s6 que a visdo faga sempre superficie, € por razdes mais profundas e que de certa mane § tornam Jungivels, ¢ por razbes mais profundas no que é da hulurezs das coisas, como se diz. O ser que fala, jé (ue, final, nfo podemos dizer muita coisa dos, OUITOS, pelo menos até que se tenha entrado de ‘anol um pouco mais aguda no vids do seu aontido para oserque fala: cle estd sempre algures, anal situndo entre duns ¢ tres dimensden, 1 bem porque, voces me ouviram produair Jato quie 6 # mesma coina, « Memo eolna que Men NO, ent equivoeo sobre divemansta, como, enereyo, voods saber, porque JA Thes enntel ena peda, que encrevod: ing, tclnhae depois ManNhe, minnie do diver NAO ne sabe hem ae no diger Hernvean Terr larine ie IFO dine nate, Mme iTiNe Gr he Cevatiirnve, Cer dimer, me watnryne nmin (Af vantade at 10 fon Trethes Fide veriamente eatunion al A, THT Heine Mie que hone Hivaglliie que ere eTHTTAPHI Femme, FiMerHOW Algo que Went qualquer Felagiy COM O eapaye de (1Om dimenAoen Que 6 Homme COTO wejA de HOH dimennden, € © que ‘ia delnn nenturna divida, Juve, COM emNe CORPO, A gente pints © Borda; max iano no quer absohitamente dizer que o que chamamos espago 1M hej NeMpre Mais OU MeRO® plano, HA até Mteméticos pars O escrever com todas as Letras: ode eapago ¢ plano, Fodu manipulagio de qualquer coisa do Real A ilu nesse caso NUM espago que, na verdade, subemos muito mal manejar, fora das enicas qu {mpOem esse espago de tres dimensoes. Hvidentemente, ¢ muito espantoso que seja uma Wenlen, que se pode reduzir ao que ela é Aparenlemente, ou seja, a tagarelice, que amim me Olu A eurregar a mio nessa sub-gravidade, se fiseo Analin dizer, do espago como tal. Se partimos de algo que se deve dizer ser a ciéncia, nao permite-nos isto suspeitar que em se tratando 0 espago do mesmo modo que aquele que se impée pelo uso de uma técnica, que se impde a mim, pelo menos, o que se encontra € 0 paradoxo? Pois, afinal, nao se pode dizer que a matéria, vocés ‘ouviram um pouco falar disso, que a matéria no Ihe cause problema a todo instante, problema, quer dizer, € © que isso quer dizer, problema: defesa avangada, coisa a triturar para que se chegue a ver (0 que isso defende. A ciéncia talvez no se tenha ainda inteiramente dado conta de que se ela trata a matéria, é como se tivesse um Inconsciente, a dita matéria, como se ela, em algum lugar, soubesse 0 que faz. Naturalmente, é uma verdade que muito rapidamente se apagou, Percebeu-se, houve um ligeiro momento de despertar, quando disseram a Newton, mas afinal, essa historia dessa santa gravitagfio que vocé vem nos contando, como 6, alids, que se a representava antes? Aford Os Loox de Aristdteles, Enfim, ¢ impensivel, para nds porque temos exsas formutinhas de Newton, «nha entendemos nada nels, ¢ 0 que thes di valor. Poin quando essas (rmutan apareeeram, fol logo .o que ne objetow, fol, 0 nnber, man convo é que cada anne dons purtioulan pode wiber a que daiinein enti de today wn Ouran, @ AN que KE RE eVORHVI 6, er Theonselente, enfin, dé partioula, @ alana, Td [ase we appa KH por que? Forge aimpleamenie ne ve FenUHU LON MCORP Rener qualquer Galan are que, Nilay Five Orn He We WOT ICU A Hiaasen pode ehegir a TOrmulae Male Compliondin & "W/W vovite HN fave vl AI TAVEHIAAER FE HeteWeNE, Cente 6 problenin © que é eniio emma andline, no eentides proprio da minha Wenion, eata que tenho Fn GORTTNT. COM HN C@FLO HMETE de promaewn que ont que que Lugar oupaenta Weenie AO’ 6 ponte de vinta do que fg # elénela? A eidncia conta, ela ConA Materia, Maso que ela Conta Next Materia? A suber, no houvesse a Hinguagem que jé veleula Ondimero, que sentido haveriaem contr? Serh, por exemplo, que o Inconsciente tem um contador em si? Néo digo algo que se possa contr, digo um contador no sentido do personagem que voces conhecem, que escrevinha nimeros, Ha um contador no Incon: |: muito evidente que sim. Cada Inconsciente nao é contivel, ele é um contador, ¢ um contador que sabe fazer as somas, naturalmente a multiplicacéo, ele ndo chegou ainda ai, € claro, ¢ € 0 que o atrapalha. Mas quanto a contar coisas, contar os golpes, néio digo que saiba se virar, ele extremamente indbil, mas ele deve contar, no género desses nés. 16 E daf que procede o famoso sentimento de culpa de que vocés provavelmente alguma vez. jé ouviram falar. O sentimento de culpa € alguma coisa que faz as contas, faz as contas e, € claro, nao se acha nelas, ndo se acha nunca. Perde-se nas contas. Mas & justo onde se percebe haver no minimo um nd, esse nd de que, se me permitem dizer, anatureza tem horror, entendocom isso uma outra lenga-lenga de que a natureza tem horror do vazio, a natureza tem horror do nd. E sobretudo do 16 borromeano e, coisa estranha, é nisso que Ihes devolvo a coisa, que nfo é nada menos que 1 “Urverdringt”, 0 recalcado origindrio, orecalcado primordial, e 6 bem porque aconselho a se exercitarem com essas duas coisinhas, nhoque isso venha Ihes dar o que quer que seja do recaleado, j0 que esse recaleado, 60 buraco, Jamais oterie, Mas no caminho, manipulando ease nozinho, familiarizarse-fo, pelo menos com Hx MHO®, CON ona algo do quil, de qualquer forma, no podertio compreender nada, visto fear iotalmente exeluido que @At6 NG, YowdS 6 naibuny. [i inelusive por Into W Historia @ leatemunb, que o geometrin passow POF THO, Pelow eubom, pelun pirimiden, ax diversas formas de rodan dentadas, afinal, que em torno delan cogiiourse, enfim, © rigor, ¢ 0 que nho quer diver nada wlém dos sOlidos, Quando, no entanto, Hinhiene #0 nloance da mdo algo que bem valia, Met Deus, an pedras, de que faziam o carreto, ou ‘Os campos justamente que no se podiam medir em entender cordas, Nunca, essas cordas, Alnguém parece ter dedicado, antes de uma época hem moderna, a menor atengio. Num certo sentido, direi que hé algo de novo no fato de que haja interesse por palavras, por Jermos, como este por exemplo da mesologia; o que hi entre, entre 0 que € 0 qué? Trata-se de definir © que é entre! Eu te entro, € 0 meu pirismo, 86 meu. Entre, € uma categoria que upareceu bem recentemente na matematica e & justo nisto que, de tempos em tempos, consulto matematicos para que me digam a quantas andam quanto a isto Sim, hd algo que para pegar -véem, estou melhorando, quase consegui desenhar um né borromeano sem ser obrigado a dar umas apagadelas. Queria hoje, j4 que a hora passa, anunciar 0 que tenho a dizer, € que nos tomaré o ano. Aqui (quadro 6-1), na jungo do Imaginario com 0 Simbélico, e nao em qualquer jungao, nesta aqui, onde vocés podem confundir esses dois pontas -ainda que néo procedam eles do mesmo movimento relativo do Imagindrio e do Simbélico -aqui, nesses dois pontos que, alids, se confundem, 7 quando do Imaginério e do Simbélico, 0 cruzamento se produz, nesses dois pontos, hd 0 sentido. Preciso um pouco apressar as coisas, j4 que, me desculpem, atrasei-me para Ihes dar um pouco uma diz-mansfio que me atormenta, esta do n6. Aqui e adiante -véem como ¢ dificil, preciso me esmerar um pouco- temos algo que se chama o 2020 falico, Pronto, Por que 6 chamamos gozo falico? Porque hi algo que se chama ex-sisténcia. Acex-sisténcia, devo dizer, tem uma histéria, Nao € uma palavra que se empregasse tho facil nem expontaneamente, pelo menos na tradigao filosdfica, © como nfo sabemos como falavam as pensoas dos primeiros séculos, acho que temos, claro, alguns indicios, numa certa lingua latina, Jingun vulgar, Talvex. tenba sido ela fatada numa Auperficie afinal considerdvel, essa Iingua-nticleo de onde sairam ¢ de onde sairam por diferenciagio nlinguns romAnicas, essa lingua latina vulgar, ndo temox qualquer testemunho de que nela se empregasse O existo, nem o existere. Entretanto, é curios que esse termo tenha emergido, e emergido num campo que chamaremos filosofico-religioso, E totalmente na medida em que a religido aspirava -a hu-manta religiosa- em que a religido aspirava a filosofia que vimos sair essa palavra existéncia, que parece no entanto ter tido, € 0 caso de se dizer, muitas razdes de ser. © que € essa existéncia e onde podemos situd-la? Essa existéncia € muito importante em si Porque se temos a idéia de algo que vem no lugar dessa espécie de produgdo ingénua e que s6 parte de palavras, a saber, aquilo em diregao do que nos adiantamos com Arist6teles, a saber que “dictum de omni et nullo” se exprime em algum lugar, eis af o que & 0 Universal. O que se diz de tudo pode igualmente se aplicar a qualquer um. Foi dai que se fez o primeiro quebra-galho linguistico. Grave foi que o prosseguimento consistiu em demonstrar a Aristételes, que nao se aguentava mais, que a universalidade néo implicava a existéncia. Mas nao € 0 que é grave numa certa compreensio das coisas. Que a universalidade nao implica a existéncia, vé-se isso todos os dias. Que a existéncia implique a uni versalidade é que é grave. E que, nisto que € a existéncia, nds tagarelamos sobre algo que participa do geral. Enquanto que tudo 0 que se fez, meu nozinho aqui borromeano, € para thes mostrar que a existéncia, é de sua natureza, © que ex-. O que gira em volta do consistente mas que faz intervalo, e que, nesse intervalo, tem n maneiras de se atar, justamente na medida em que no temos, com os nés, a menor , familiaridade nem manual nem mental. O que éa mesma coisa, alids. Muita gente desconfiou, afinal, sero homem apenas mio, se € que chega a ser mao; hd o seu corpo inteiro, ele pensa também com os pés, eu inclusive aconsethei-os a tentar, porque no final & que se Ihes pode de melhor desejar. Aqui, oque é que resiste a provadaexisténcia, 4 {omar como 0 que se cruza no né? Ha, mesmo assim, af, um trilhamento, aquele feito por Freud. Ele certamente no tinha do Imagindrio, do Simbélico e do Real, a nogao que tenho, ¢ esta que tenho € a minima que se possa ter. Chamem isso como quiserem, porvisto que haja trés consisténcias, terdo vocés 0 nd. O que Freud fez nao deixa de ter relagdo com existéncia e, dai, a se aproximar do n6. J4 que sou legal e também porque jé Ihes enchi um bocado hoje, vou thes mostrar um negdcio que acho bem engragado e, é claro, é invengao minha. E, acho, ilustra bem e muito valoriza aquilo sobre o que Ihes pedi que se interrogassem, a saber, se esses dois do meio sao 0 mesmo n6. Freud néo tinha idéia do Simbdlico, do Imagindrio e do Real, mas tinha todavia uma desconfianga, fato é que pude extrair isso para vocés, com tempo sem davida, e com pueiéncia, que eu tenha comegado pelo Imagindrio ©, em seguida, precisado um bocado mastigar essa hist6ria de Simbélico com toda essa referéncia linguistica sobre a qual efetivamente nao encontrei tudo aquilo que me teria facilitado. E depois, esse famoso Real, que acabei por Ihes apresentar sob a forma mesmo do né. 114 em Freud uma referéncia a algo que ele considera como o Real. Nao € o que se pensa. Nao (0 “Realitatsprinzip”, por que € por demais evidente que essa “Realitatsprinzip” é uma (orla, uma historia de dizer, quer dizer, social, Suponhamos que ele tenha tido a desconfianga, que simplesmente nao tenha dito que Isso podia fazer n6. Resumindo, Freud, ao Coniririo de um prodigioso némero de pessoas, donde Plato até Tolstoi, Freud nao era lacaniano. Heconhego isto, mas deixando essa armadilha, enfim, jd manjada do Real, do Simbélico e do Inuuginirio; tentemos ver como ele efetivamente we virou. Ma Haves aqui (quadro 6-2) no se aguentam, {igo thes notar, esto postos um sobre o outro, 0 Heul esi aqui, o Imaginario ali e 0 Simbélico wold, (yWlo como no esquema de ainda ha pouco. (que fee Hreud? Vou contar, Fez.on6 com quatro 4 PWFIT dow noun 110s, esses tres que The suponho Wmadiiha Max entho, cis como procedeu: HivenIAY ayo que chamou realidade psfquica Seria conveniente que eu colocasse aqui o terceiro n6, 0 terceiro campo de ex-sisténcia, a saber, 0 gozo do Outro. J4 que essas duas figuras, pois figuras h4, sdo as mesmas, veem voces que é com uma linha que se pode percorrer os campos que estdio desenhados da ex-sisténcia de algo em volta da consisténcia, percorrer todos esses campos, a saber: aqui, estar no gozo do Outro, depois do Imaginério, depois no sentido, depois do buraco do Simbélico e 0 ultrapassando, estar algures em uma existéncia que é exterior a0 Simbélico € 20 Real, que faz retorno a este ponto que nao € outro sendo aquele que designo como objeto a. Fo que pode atar com um quarto termo, 0 S, o Imagindrio eo Real, naquiloque Simbélico, Imagindrioe Real so deixados independentes, esto a deriva, em Freud, é enquanto isto que the é preciso uma realidade psiquica que ate essas trés consisténcias._ Eu disse, nio sei se foi aqui, foi em outro lugar, esta no meu discurso de Roma, 0 tltimo que fiz, aquele que chamo o terceiro, disse que se tivesse feito os Nomes do Pai escritos corretamente, teria enunciado uma consisténcia tal, que ela nos daria razo de certas variagdes em Freud. Foram necessérios a Freud, nao trés, 0 minimo, mas quatro consisténcias para que isso se sustentasse, a supd-lo iniciado na consisténcia do Simbélico, do Imagindrio e do Real. O que ele chama de realidade psiquica tem perfeitamente um nome, € 0 que se chama Complexo de Edipo. Sem © complexo de Edipo, nada da maneira como ele se atém a corda do Simbélico, do Imagindrio e do Real se sustenta. Donde ter eu insistido, com 0 tempo, em proceder, vem de eu acreditar que, do que Freud enunciou, néo é 0 Complexo de Edipo que se deve rejeitar. Ele é implicito e isso se demonstra € cada um desses pontos pode, em si mesmo, se precisar, ele é implicito nisto que, para ter o mesmo efeito, mas desta vez, minimo, basta fazer passar nesses dois pontos 0 que passava por baixo, por cima, em outras palavras, € preciso que © Real sobreponha, se possa assim dizer, 0 Simbélico para que 0 n6 borromeano seja realizado. E oque, por ter quatro termos, 0 proprio Freud nao pode fazer, mas é muito precisamente do que se trata na anilise, é de fazer com que 0 Real, nao a realidade no sentido freudiano, com que o Real, em dois pontos, que nomearei como tais, sobreponha 0 Simbdlico. Fica claro que isto que enuncio aqui sob esta forma nada tem a ver com um sobrepor-se no sentido imagindrio de que © Real devesse, se posso assim dizer, dominar. Porque basta que vocés virem esse negocinho para que percebam que no sentido contrdrio, é claro, isso nao funciona; e ndo se vé bem porqué o né 18 borromeano seria menos real se virdssemos a coisa. Fago-os observar, j4 0 disse uma vez, de passagem, que se vocés 0 virarem, ele mantém Sempre 0 mesmo aspecto, quer dizer, que se 0 virarem, nio € com a imagem dele espelhada que se haverdo, € exatamente 0 mesmo negécio Jevégiro que tm no nd borromeano aqui atras. (quadro 7-3) Isto, para precisar que niose trata, é claro, de uma mudanga de ordem, de uma mudanca de plano, entre Real e 0 Simbélico, é simplemente que eles se atam de outra forma. Atar-se de outra forma, € 0 que faz 0 essencial do Complexo de Edipo, e € no que, muito precisamente, opera a propria andlise, é em entrar na fineza desses campos de ex-sisténcia, que este ano nds procederemos A hora jé vai bem adiantada, renuncio, se posso assim dizer, visto a dificuldade, a lentidaio disso que hoje apresentei, renuncio ir adiante, deixando para 0 nosso préximo enconiro, que se daré dentro de oito dias, a continuago do que eu queria thes dizer hoje Posso todavia marcar algo, € que se a ex-sisténcia se define por relagio A uma certa consisténcia, se a ex-sisténcia ndo é no final das contas sendio esse fora que nfo é um nio-dentro, se essa ex-sisténcia é de certa maneira esse em volta do que se evapora uma substincia, se a ex-sisténcia, tal como um Kierkegaard nos adianta, é essencialmente patética, nem por isso a nogdo de uma falha, a nogo de um buraco, mesmo em algo tio extenuado quanto a existéncia, deixa de manter seu sentido, Pois se eu Ihes disse de inicio haver no Simbdlico um recalcado, hé também no Real algo que faz buraco, hd também no Imagindrio, Freud se deu bem conta, ¢ foi por isso que burilou tudo que hd de pulses no corpo como estando centradas em torno da passagem de um orificio a outro, en eaten deo punter f 19 ae) Seminario de 21 de janeiro de 1975 Justamente por causa (esto ouvindo bem?) disso de que falo, 0 n6, eu ndo posso ter, nZio posso. me assegurar ter um plano, porque 0 né, se vocés © véem tal como desenhei ali (quadro 8-3 explicarei depois porque ele toma esta forma af, digamos, de trés paginas, que se as imaginem num espeto, amarradas aqui: aqui a primeira, que um pedago de pagina -isto para que me compreendam, parece evidente- a segunda, é S, que estd logo abaixo € vooés véem que a terceira, que é facil imaginar a partir desse espeto da esquerda, que € necessério que a terceira volte a primeira. Ha, entretanto, lugares (quadro 8-3) em que, se perfurarem as paginas, s6 acharao uma. Hé trés. Aqui, 86 achardo a pagina 2, aqui s6 had apdgina 1 © aqui, s6 a pagina 3. Mas em todos os outros Iuagares, vocés encontrarao as trés, 0 que me impede de ter um plano, j4 que ha tré 14 varios modos de enunciar o sentido, todos ne referindo ao Real, pelo qual ele responde. Para que voces também nao se confundam, marco que © Real aqui (quadro 8-1) marca-se a beira de um buraco, 0 Imaginario, aqui, e ali, o Simbélico, isso € para que vocés acompanhem Todos esses sentidas, se referem ao Real, a0 Real pelo qual cada um responde. E onde se confirma a flexibilidade do n6, que faz também o ule € necessério, O principio do né6, é que ele ndo ne desfaz, sendo quando quebrado. O que é esse desatamento impossfvel do n6? E 0 retorno a uma fornia dita trivial e que € a da rodela de barbante. He forma que é um n6, um né no segundo grau, 17). N6 que aguenta, como j4 ouviram muitas vezes peli minha vor, € um né que aguenta que haja trés, rodelas Verdadeiro né, 0 n6 em questo na teoria ‘Jon NOs, € 0 que, como veem ali na figura (quadro #1) que ueabo de acrescentar, é justamente o que iho Se tansforma por uma deformagao continua iu Nyura trivial da rodeta Je um n6 (quadro 9-2) feito com Ne falam: (/0s figurus triviais, a saber, trés rodelas, éalgo que oe desl gnn, ov methor, se desenha assim, éque a se Portar desta manera ul go que ¢, por assim dizer, 0 0 HarreMenno propriamente, vocés obterdo, acasalando 0 que cortaram, a cada vez, obterio a figura propria de um n6 no sentido proprio da palavra, Em que consiste a maneira mais cémoda de mostrar que um né é um n6? Pois esse n6 al aquele da dircita, € 0 n6 mais simples que existe Voces obtém-no fazendo arredondar-se uma corda ¢ passando-a, por exemplo, por sobre a direita do pedago que seguram, é fazendo entrar a corda pela esquerda, pelo interior da rodela, que assim vocés terdo formado, que verdo se formar isso, que numa corda se chama um nd, um né que se pode desatar, mas que ndo se desata mais a partir de quando? A partir do momento em que vocés supuserem que as duas pontas da corda se juntam numa epissura, ou que vocés suponham que essa corda nao tem fim, estende-se até os limites pensdveis ou, mais exatamente, ultrapassa inclusive esses limites, caso este em que vocé tem em frente, por assim dizer, ond mais simples, esse né que quando vock © fecha, tem a forma que véem aqui a direita, quer dizer, € 0 que se chama um né-trevo (clover-leaf). Ele € trevo nisto que ele é trés. Planeado, permite desenhar, ndo trés mas quatro campos. S40 esses campos que vocés encontrardo na forma do 16 borromeano, esta que sé € feita disto de que cada uma, figura que chamei de trivial, rodela de barbante, cada uma dessas figuras faz das outras duas, nés, quer dizer, que é por serem trés que h4 um ago, de né que se constitui para as duas outras. Se vocés, alguma vez, ouvirem falar de um mundo em quatro dimensoes, saberdo que neste mundo calculdvel, mas ndo imaginavel, néo poderia haver nés assim. Impossivel, ali, dese atar uma corda, se é que esse mundo existe, impossivel de se atar uma corda, pela razfio de que qualquer figura, qualquer que seja, se sustenta ndo por uma linha, mas por uma consisténcia de corda, que toda figura dessa espécie pode se deformarem qualquer outra Se a coisa, todavia, Ihes fosse imagindvel, ser-lhes-ia possfvel ouvir, saber por ouvir dizer, porque també a demonstragao disso nao € simples, mas é factivel. E que num espago suposto ser de quatro dimensées, sao nao consisténcias de linhas, mas superficies que podem fazer n6, é dizer que bes: subsiste na ordem indefinida das dime! supostas como sendo em ntimero superior aos trés de que se constitui, é onde preciso parar, de que s constitui certamente nosso mundo, isto é, nossa representagdo. No momento em que digo mundo, no deveria ter dito nosso Real? com apenas a condig&o de que nos apercebamos de que o mundo, aqui como representacio, depende da juncio dessas trés consisténcias que denomino como Simbélico, como Imaginério e como Real, as consisténcias, alids, sendo-Ihes supostas. Mas que se trate de trés consisténcias e que seja delas que depende toda representaciio, eis af algo bem feito para nos sugerir que hd mais na experiéncia que necesita essa, diria eu, trivisio, essa divisdo em trés, de consisténcias diversas, que € daf, sem que possamos fugir, que se pode supor que a ‘consequéncia seja nossa representacdo do espago, tal vorno ele é, ou seja, em trés dimensdes. ‘A questo que se evoca, nesse momento do meu enunciado, é esta que responde 3 nogio de consisténcia: 0 que pode ser supor jé que o termo de consisténcia supde 0 de demonsiragiio, 0 que pode-ser supor uma demonstragio no Real? Nada mais 0 sup6e, sendo a consisténcia cujo suporte, aqui, € a corda. A cosra aqui é, se posso assim dizer, o fundamento do acordo. Para dar um salto naquilo que, do que enuncio, s6 se produzira um pouco mais tarde, diria que a corda se torna assim O sintoma daquilo em que o Simbélico consiste. O que no deixa de combinar, no final das contas, com 0 que nos testemunha a linguagem, com a formula “mostrara corda”, onde se designa o gasto de uma tecelagem, jé que, afinal,"*mostrara corda” 1 €dizer quea tecelagem nose camufla mais nisso cujo uso metaf6rico € to permanente, nao se camufla mais no que se chama -com aidéia de que, dizendo isto, se diz alguma coisa- nisso que se cahama 0 tecido. O tecido de algo é 0 que, por um nadinha, faria imagem de substincia, 0 que, alids, € de emprego usual. Trata-se, nessa férmula de “mostrar a corda”, de que falei, de perceber que no hd tecido que nao seja tecido. Eu tinha preparado para voces, num papel, porque € complicado demais para desenhar no quadro, tinha feito todo um tecido, feito de nés borromeanos. Pode-se cobrir toda a superficie do quadro negro. E facil dar-se conta de que se chega a um tecido, se posso assim dizer, hexagonal. N5o acreditem, portanto, que af a secgfo de uma qualquer das rodelas de tecelagem, chamemo-las af dessa forma, liberard algo daquilo a que ela esti atada, jé que a se cortar uma s6, elas estardo, essas seis outras rodelas, libertadas por um corte, retidas 2 em outro lugar, retidas pelas seis vezes trés, dezoito outras rodelas, com as quais esté atada de forma borromeana. Se hd pouco deixei escapar prematuramente, mas ¢ preciso, ¢ inclusive a lei da linguagem, que alguma coisa escape antes de ser comentivel, se deixei escapar o termo sintoma, ¢ bem porque o Simbdlico € 0 que, da consisténcia, faz. metdfora mais simples, Nao que a figura circular seja primeiramente uma figura, digamos imagindvel, Foi mesmo af que se fundou a nogiio da boa forma, F essa nogdo da boa forma, é dtima para nox fazer, se posso assim dizer, entrar no Real, o que ¢ do Imagindrio, E diria mais: ha parentesco da boa forma com o sentido, 0 que ¢ a se notar. A ordem do sentido se configura, se se pode assim dizer, naturalmente do que essa forma do efreulo designa. A consisténcia suposta no Simbdli¢o se fiz de acordo com imagem, de certa forma primaria, a qual, emsuma, foi preciso esperar a psicandlise para que percebesse estar el ligada i ordem desse corpo a que esté suspenso o Imaginario, Pols quem duvid: G inclusive nese estreito fio que viveu tudo que se chama filosofia até o div de hoje, quem duvid haver outra ordem que no esta em que © corpo pensa se deslocar? Mas nem por isso se explica essa ordem do corp Por que o olho enxerpa esférieo’ Finquanto é ele incontestavelmente pereebido como esfera. A orelha, observem, ouve esfera igualmente, enquanto se apresenta sob uma forma diferente, que todo mundo saber ser «1 de um caracol. Serd, entdo, que ndo podemos, no menos, questionar s esses dois Orghos {lo manifestamente difeomérficos, se assim posso me exprimir, percebem igualmente esférico, sera que em se tomando as coisas a partir de meu objeto dito pequeno a, nfo sera por uma conjungio necessiria que encadeia 0 proprio pequeno a a embolar, pelo fato de que o pequeno 4 sob outra formas, levando-se em conta, porem ndo ter ele forma, mas que é pensdivel de maneira dominante, oralmente ou também, se posso assim dizel chorosamente? O fator comum do pequeno a de ser liagado aos orificios do corpo, e qual é a incidéncia do fato de que olho e orelha sejam orificios ¢ também do fato ada percepgdo ser, para ambos, esferoidal? Sem o pequeno a, falta alguma coisa a toda teoria possivel de qualquer referencia, de qualquer aparéncia de harmonia, ¢ isto, pelo fato de que o Sujeito, 0 Sujeito suposto, € a sua condigao de s6 Ser supasto, niio conhece algo, que porse saber ele proprio, enquanto sujeito, causado por um objeto no € 0 que ele conhece, o que ele imagina conhecer, isto €, que no é 0 Outro como tal do conhecimentomas que, pelocontrério, esse objeto, 0 objeto pequeno a , risca para ele esse Outro. O Outroassim, 0 Outro que escrevo com o grande O, © Outro assim é matriz de dupla entrada, em que 0 pequeno a constitui uma dessas entradas e onde ‘1 utra, o que diremos? Seré oum dosignificante? ‘Comecemos por interrogar se isto nio é af pensdvel. Diria ser inclusive gragas a isto que pude um dia fazer para vocés, se é que alguns dos que aqui esto estivessem 14, copular 0 um e meu pequeno a , que, na época, pus na relagao do um, 4a sup6-lo a partir do nimero de ouro. Isto foi-me muito stil para introduzir 0 que , aquilo a que jé era levado pela experiéncia, a saber, que se 1é bastante bem que entre esse um € esse pequeno a nfo hé estritamente nenhuma relagio racionalmente determinavel. O nimero de ouro, voel’s se recordam, € 1 sobre a=1 mais a (1/a = 1 +a); daf resulta que jamais nenhuma proporgio € captivel entre 0 1 € 0a, que a diferenga do 1 para 0a seré sempre um a a0 quadrado, e assim por diante, indefinidamente, uma poténcia de a, quer dizer que no hé jamis qualquer razo para que 0 recobrimento de um por outro se termine, que a diferenga seré to pequena quanto se a puder figurar, que hé até um limite mas que no interior desse limite, ndo haverd nunca conjungao, copulagéo qualquer do 1 parao a . E dizer que o um do sentido, pois € isto que 0 Simbdlico tem como efeito de significante, é algo que tem a ver com 0 que chamei matriz, a matriz que risca 0 Outro com sua dupla entrada. O um do nentido nao se confunde com o que faz o um do Aignificante. O um do sentido € 0 ser, o ser especificado do Inconsciente, naquilo que ele exesiste, que ele ex-siste a0 menos para 0 corpo. ois se ha algo espantoso, € que ele ex-siste no Uis-corpo. Nao hd nada no Inconsciente, se ele é feito tal como enuncio a vocés, que com 0 corpo fugu acordo. O Inconsciente € dizcordante. O Inconsciente é 0 que, por falar, determina o sujeito \j\ianto ser, mas ser a se riscar dessa metonimia, ujo desejo eu suporto, j4 que, para todo o sempre, Impons(vel a dizer como tal Se digo que o pequeno a € 0 que causa 0 dewejo, isto quer dizer que ele nao € dele 0 objeto. Nho € © complemento direto nem indireto, mas 1 que, para brincar com a palavra ‘cm fiz no meu primeiro discurso de Roma, essa (Nin ule Cus Sempre. O sujeito € causado por U4 ObiJete que 86 € notavel por uma escritura, e € iealith que vin pass ¢ dado na teoria. O irreduttvel HlM0, que nho é efeito da linguagem, pois o efeito cau apenas da linguagem €0 patema, éa paixdodo corpo. Mas, da linguagem, é inscritivel, € notdvel naquilo em que a linguagem nao tem d’efeito, essa abstracao radical que € 0 objeto, o objeto que designo, que escrevo com a figura de escritura pequeno a, do qual nada é pensivel, com 0 sendo apenas de que tudo que é sujeito, sujeito de pensamento que se imagina ser Ser, é por isso determinado. O um de sentido é aqui to pouco interessado, que 0 que ele é, enquanto efeito, do um de significante, nés sabemos e insisto nisso, este s opera, de fato, podendo ser empregado para designar qualquer significado. O Imaginério e 0 Real, digamos atados a esse um de signficante, que diremos deles? Se ndo que, para o que é da sua (deles) qualidade, aquilo que Charles Sanders Peirce chamaa “firstness” do que os reparte como qualidade diferente, onde colocar, por exemplo, como repartir entre eles, nessa casio, algo como a vida ou entéio como a morte? Quem sabe onde situd-los? j4 que tanto o signficante, 0 um de significante como tal, causa tanto num quanto no outro, vertentes. Seria engano acreditar que dos dois, do Real € do Imagindrio, seja 0 Imaginario mortal e o Real vivo. Apenas 0 ordinério do uso de um signficante pode ser ditgo arbitrério. Mas de onde vem esse arbitrério sendo de um discurso estruturado? Evocarei aqui 0 titulo de uma revista que em Vincennes, sob meus auspicios, acaba de aparecer: 1 “Omicar?”. E um exemplo do que o significante determina. Aqui, por ser agramatical, por s6 figurar uma categoria da gramatica. Mas € nisto que ele demonstra a configuragao como tal, que na so de fearo, apenas orna. A linguagem ¢ s6 ornamento. S6 ha ret6rica, como na regra X, sublinha Descartes. A dialética s6 € suposta no uso do que a extravia na direcdo de um ordindrio matematicamente ordenado, isto é,na diregio de um discurso, este que associa, no 0 fonema, mesmo ao ente, a entendé-lo no sentido amplo, mas 0 sujeito determinado pelo ser, quer dizer, pelo desejo. O que € o afeto de ex-sistir, a partir dos meus termos? Eisto, na visada desse campoem que situo aqui 0 Inconsciente (quadro 8-1), quer dizer, esse intervalo entre duas consisténcias, esta que aqui se nota numa margem que fiz margem de pagina (quadro 8-3) ¢ essa que aqui se fecha (quadro 8-1), se fechar implicando 0 buraco sem 0 qual nao ha n6. O que € 0 afeto de ex-sistir? Ele concerne a este campo onde se diz, no qualquer coisa, mas onde jéa trama, 0 gradeado daquilo que, hé pouco, 22 eu designava para voces como uma dupla entrada, como cruzamento do pequeno a com o que do signficante se define como ser, 0 que, desse Inconsciente, faz ex-sisténcia? Fo que figurei aqui (quadro 8-1) e que sublinho no instante mesmo do ‘suporte do sintoma. O que € dizer o sintoma? i a funcio do sintoma, fungdo a se entender como o faria a formulagao matemitica: f(x). O que é esse x 7 ‘0 que, do Inconsciente, pode se traduzir por uma letra, na medida que, apenas na letra, a identidade de si a si esté isolada de qualquer qualidade. Do Inconsciente todo um, naquilo que cle sustenta 0 significante em que o Inconsciente consiste, todo um é suscetivel dese escrever com uma letra, Sem duvida, seria preciso convengio. Mas 0 estranho, € que & isto que o sintoma opera selvagemente. O que nao cessa de se escrever no sintoma vem daf. Nao faz muito tempo que alguém, que ougo. na minha pratica -e nada do que digo a voeks, alids, deixa de vir dessa prética, é bem 0 que faz a sua dificuldade, a dificuldade que tenho em transmitir a vocés- alguém na visada do sintoma articulou-me esse algo que o aproximaria dos pontos de suspensio. importante € a referéncia @ escritura. A repeticdo do sintoma € isso de que acabo de dizer que, selvagemente, é escritura, isto, para o que € dosintoma tal como se apresenta na minha pratica Para que este termo tenha saido, tal como Marx o definiu no social, nada tira do bom fundamento do seu emprego no privado. Que o sintoma, no social, se defina da desrazio, nao impede que, no que é de cada um, ele se assinale por todo tipo de | racionalizagio. Toda racionalizagio € um fato de racional particular, quer dizer, ndo de excegio, mas de qualquer um. -- _ Epreciso que qualquer um possa ser exceg’io para que a fungdo da excegao se torne modelo. Mas a reciproca ndo é verdadeira deve a excegio se fazer com qualquer um para com isso consituir modelo. Isso € 0 estado ordindrio. Qualquer um chega a fungdo de excecdo que tem o pai. Sabe-se com que resultado: o da sua Verwerfung , ou de sua forclusio, na maioria dos casos, pela filiagio que 0 pai engendra com os resultados psicdticos que denunciei. Um pai s6 tem direito ao respeito, sendo ao amor, se 0-dito amor, o-dito respeito, estiver, vocés nao vao acreditar em suas orelhas, pere-vertidamente” orientado, isto €, feito de uma mulher, objeto pequeno a que causa seu desejo, mas 0 que essa mulher em pequeno acolhe, se posso me exprimir assim, nada tem a ver na questo. Do que ela se ocupa, Si0 outros objetos | 23 pequeno a que sio as criangas junto a quem o pai entio intervém, excepcionalmente, no bom caso, para manter na repressio, dentro do justo semi-Deus 3, se me permitem, a versiio que the é propria de sua pui-versio, Unica garantia de sua fungiio de pai; que é a fungio, a fungi de sintoma tal como a escrevi ali, Para isto, basta af que ele seja um modelo da fungio, Ai estd o que deve ser um pai, na medida em que s6 pode ser excecao, sJe 86 pode ser modelo da fungio realizando 0 tipo. Pouco importa que ele tenha sintomas, se acrescenta ai 0 da perversio paternal, isto é, que a causa seja uma mulher que ele adquiriy para Ihe fazer filhos e que com estes, queira ou niio, ele tem cuidado paternal. A normalidade no é a virtude paterna por exceléncia, mas s6 0 justo semi-Deus dito ha pouco, ou seja, o justo nio-dizer, naturalmente 2 condigiio que nfo esteja costurado com linha branca, esse ndo-dizer; isto é, que nfo seve‘, afinal, de imediato, do que se trata naquilo gue ele nao diz, E dificil. E dificil e isso renovard o sujeito dizer que € dificil que ele consiga esse justo semi-Deus. Isso renovard o sujeito quando eu tiver tempo de retomé-lo para vocés. Eu 0 disse de passagem num artigo sobre Schreber, af, nai pior que © pai que profere a lei sobre tudo: sobretudo nada de pai educador! Melhor aposentado de qualquer magistério. Vou terminar assim, falando de uma mulher. Pois bem, est bem af tudo que eu fazia para evitar de falar de uma mulher, j4 que digo que uma mulher, isso ndo existe. E claro, todos os jornalistas disseram que eu disse que as mulheres nao existem. Ha coisas assim, que ndo se podem... le donne .. que foram expressas, enfim... coisas assim que se... Nao sio mesmo, nem mesmo capazes de perceber que dizer mulher”, ndo € a mesma coisa que dizer “as mulheres”, enquanto a mulher, eles estiio com a boca cheia o tempo todo, enfim, nio 6? A mulher €, evidentemente, perfeitamente desenhavel. Todas as mulheres, como se diz, mas eu digo tamhém que as mulheres no sio nio-todas entio, isso dé objegiio, mas a mulher, €, digamos que sejam todas as mulheres, mas € ento um conjunto vazio, porque essa teoria dos conjuntos é, apesar de tudo, algo que permite coisa um pouco de seriedade no uso do termo “todo” Uma mulher, entdo, a questo se coloca tao 86 para 0 outro, isto é, aquele para quem hé um Conjunto definivel por essa coisa que estd inscrita no quadro, Nao é Ge, no é 0 goz0 fillico, ¢ isso: ©. ex-siste, ® € o falo. O que € 0 falo? Bem, como a gente jé puxou um bocado, sou eu, € claro, {jue puxo todo esse carreto, entéo nao direi hoje o que € 0 falo, Enfim, vocés podem pelo menos ter uma pequena amostra, Se 0 gozo falico esté af, € que o {ulo deve ser outra coisa. O falo, entio, 0 que é? Se eu coloco a questo, é porque no posso me estender muito hoje. E 0 gozo sem 0 érgiio, ov 0 Grgio sem 0 gozo? Enfim, é dessa forma que os interrogo para dar sentido, me desculpem, a essa figura. Enfim, vou dar um pulo. Para quem tem esse estrupicio do falo, o que é uma mulher? E um sintoma. E um sintoma e isso se vé, a partir dessa estrutura que estou Ihes explicando. Fica claro que se ndo hé gozo do Outro como tal, isto é, se no ha aval encontravel no gozo do corpo do Outro como lal, que s6 faga gozar do Outro como tal, isso existe. Aqui, esté 0 exemplo mais manifesto do buraco do que se suporta apenas do objeto pequeno 4 propriamente, mas por ma distribuicao, por confusdo, uma mulher, tanto quanto um homem, nlo € um objeto pequeno a. Ela tem as seus, como eu disse hé pouco, de que ela se ocupa, isso nada tem a ver com aquele do qual ela se suporta num desejo qualquer. Fazé-1a sintoma, essa “uma” mulher, é situd-la nessa articulagio no ponto em que © gozo félico como tal € igualmente negécio dela, contrariamente ao que se diz, a mulher nio (em a sofrer nem maior nem menor castragio que © homem. Ela est4, na visada daquilo de que se {rata em sua fungdo de sintoma, exatamente no mesmo ponto que seu homem. Ha simplesmente a ne dizer como, para ela, essa ex-sisténcia, essa ex-sisténcia de Real que é o meu falo de ainda ha pouco, aquele para o qual Ihes deixei com 4gua na se de saber 0 qué, para ela, corresponde 8 1s80, Nao imaginem vooés que seja o negocinho de que fala Freud, néo tem nada a ver com isso. Essses pontos de suspensdo do sintoma sio, na verdade, interrogativos na ndo-relagio. Eu queria, pelo menos, para o trihamento do que introduzo fi/, mostrar-Ihes por que viés essa definigo do nloma se define. O que hé de surpreendente no algo que, como ai, se roga com 0 Inconseiente, é que se acredita. Hé 0 poucos Jeluldrios sexuais que eu Ihes recomendo quanto a ini @ leitura de uma coisa que é um belissimo Ondine . Ondine manifesta aquilo de (jie Ne trata: uma muther na vida do homem é algo em que cle ere, ele cré que ha uma, as vezes duas, ou 108, © € mesmo af alids que é interessante, ele fhe Consegue acreditar em uma s6. Ele acha que boca aintoma, n ess romance Hi ne especie, no género dos silfos ou das qulinis, © que ¢ acreditar em silfos e ondinas? Vagortiien observar que se diz “acreditar em” neste ‘fas ul TH lombém quea lingua francesa acrescenta ai esse reforgo do que nio é acreditar em, mas acteditar 4. Acreditar o que quer dizer? Acreditar quer estritamente dizer isto, isso s6 pode semanticamente dizer isto: crer em seres que podem dizer alguma coisa. Peco que achem uma excegio para essa definigdo. Se forem seres que nao podem dizer nada, dizer propriamente dito, isto é, enunciar 0 que se distingue como verdade ou como mentira, isso nao pode querer dizer nada, S6 que isso, a fragilidade desse acreditar , a0 qual manifestamente reduz 0 fato da nao relagio tao tangivelmente recortavel por todos os lados, quero dizer, que se recorta.Nao hé divida, qualquer um que nos vem apresentar um sintoma acredita . O que isso quer dizer? Se ele nos pede nossa ajuda, nosso socorro, € porque acredita que 0 sintoma seja capaz de dizer alguma coisa, que basta apenas decifré-lo. E, igualmente, do que se trata com uma mulher, com essa diferenga de que, o que acontece, mas que no é evidente, € que se acredita que ela diz efetivamente algo, ¢ onde influi a rolha Acreditar , se acredita nela, Acredita-se no que ela diz. E 0 que se chama amor. E é no que é um sentimento que qualifiquei, numa ocasiéo, de cémico. E 0 cémico bem conhecido, o comico da psicose: é por isso que nos dizem frequentemente que o amor é uma loucura. A diferenga € portanto manifesta entre acreditar , no sintoma, ou acreditar “nele”. E 0 que faz a diferenga entre a neurose ea psicose. Na psicose, as vozes, tudo esta 14, eles acreditam. Nao s6, eles acreditam , mas acreditam nelas. Ora, tudo esté af, nesse limite. Acreditar neste limite € um estado, gragas a Deus, frequente, j4 que, pelo menos, faz companbia! Nao se est mais sozinho. E € nisso que 0 amor € precioso, eeh, raramente realizado, como todos sabem, s6 durante um tempo e, mesmo assim, feito disto que é essencialmente essa fratura da parede, onde s6 se consegue é um galo na testa, enfim, que se trata, se nao hé relacdo sexual, fica claro que o amor se classifica segundo um certo niimero de casos que Stendhal muito bem desfolhou; ha 0 amor estima, que, afinal, nao é nada incompativel com o amor paixdo, também no com 0 amor gosto; mas, apesar de tudo, € 0 amor maior, 0 que esté fundado nisto: que se acredita “nela”, que se acredita “nela” porque nunca se teve prova de nao ser ela absolutamente auténtica. Mas esse acreditar “nela” é, apesar de tudo, essa alguma coisa em que a gente se cega totalmente, que serve de rolha, se posso assim dizer, € 0 que j4 disse, a acreditar , que € coisa que pode ser, muito seriamente, posta em questdo. Pois acreditar que hd uma, Deus sabe aonde isso leva, isso leva justamente a acreditar que hd “a”, 24 “a” que € uma crenga inteiramente falaciosa Ninguém diz “o” silfo, ou “a” ondina, hé uma ondina, ou um silfo, hé um espirito, hé espititos, para alguns. Mas tudo isso faz apenas plural Trata-se de saber qual € 0 sentido disto. Qual sentido tem acreditar e se nfo hd alguma coisa totalmente necessdria no fato de, para acreditar , no haver melhor meio que acreditar “nela” Pronto, sSo dez para as duas. Introduzi algo hoje, introduzi algo que acredito poder hes servir, porque a hist6ria dos pontos de suspensio de ainda hé pouco, era, foi alguém que me disse isso & propésito de uma conexio com aquilo que é das mulheres e, meu Deus, isso cai to bem na pritica, ped no €? dizer que uma mulher é um sintoma, e como ninguém nunca o tinha feito até o presente, pensei dever fazé-lo, Notas: 1 - A expressiio, em francés, é usual 2 + pai-vertidamente, homofénico com perversement, perversamente 3 - mi-Dieu, de som semelhante a mi-lieu, milieu, meio, ov ainda mi-dit-eux, eles meio ditos. 4 - No temos a diferenga em portugues. Usaremos 0 verbo grifado para o crer absoluto, zinho d fé ~S SO Esmueme IT tecsilencig Rasiclennia Ewauema IV 25 Seminario de 11 de fevereiro de 1975 Disseram-me que da Giltima vez nao se ouviu nada, Explicaram-me depois ser porque prendem jravadores nos alto-falantes. Ficaria grato, entio, ‘iS pessoas que os esto prendendo assim que os retitem, de modo que afinal os alto-falantes sirvam para alguma coisa. Ao mesmo tempo pego as pessoas que estiverem em situacdo de nio ouvir nda que me facam um sinal, para que eu néo me fie nos alto-falantes e tente erguer a voz, pois ¢ evidentemente desagradavel ouvir dizer, jé que tilgumas pessoas vém me ver, ouvir dizer que eu certamente disse coisas interessantes na véspera mas que ndo puderam ouvir. Alegro-me que, hoje, afinal, porque escolhi a \orgafeira gorda para vir, as portas ndo estejam to chelas, Pode ser uma boa ocasido jé que, para entrar em confidéncias, eu thes tinha relatado 0 futo de ter ido a Nice, tendo eu aceito um qualquer \(tulo, enfim, diria que foi a titulo de um qualquer ue evaceitei, esse titulo, claro que meio chocante, do" Fendmeno Lacaniano”, e depois, eu thes tinha {elloobservar que, em suma, eu 0 tinha provocado, iis que isso me tinha instruido nisto que talvez soja presungio, que o que eu digo tem efeitos de sentido, Parece, a se medirem as coisas, que esses efelios no sio imediatos, mas com o tempo que level e também, € preciso dizé-lo, a perseveranca, j que, afinal, para mim, pelo menos, foram precios vinte anos para que o constatasse, quero diver que eu os gravasse, para que parega a mim que Isso teve efeitos, e contei-thes a minha {pres « nunca se sabe se uma surpresa é boa ou ‘ni, uma surpresa é uma surpresa, esté fora do spradiivel ou do desagradavel, j4 que, ‘fil, 0 que se chama bom ou mau é agradavel ou \Jesnpridivel, uma surpresa entioé feliz, digamos, Jano significa © que se chama um encontro, quer diver, no final das contas, algo que nos vem de nés swamnos. Lispero que isso thes aconteea de vez em quando « pude entio renovar essa surpresa que hur feliz, melhor do que boa ou ma, indo depois ide 1hven ley mareado novo encontro para a primeira fergie feity de fevereiro, primeira, isto é, segunda, eel eM que The falo, dei uma volta por Paifuaburge, Ii pude constatar sem inclusive eampo do. grande surpresa, jé que é 0 grupo de Estrasburgo que se ocupa disso, que tinha efeitos de sentido na Alemanha. Quero dizer que dos alemaes que encontrei no grupo de Estrasburgo, obtive, no final das contas, questées que me deram essa feliz surpresa de que falava ainda hd pouco. Figuei menos surpreso que em Nice, tendoem vista que € 0 grupo de Estrasburgo que se ocupa - no que ninguém se ocupe com o que eu digo en Nice mas, afinal, eu ndo esperava tanto, Devo dizer que, no intervalo, levantei-me o moral e foi talvez por isso que, por feliz que fosse, a surpresa foi menor em Estrasburgo ‘Acabo de passar oito dias em Londres. E inteiramente certo que nem os ingleses, eu nem diria os psicanalistas ingleses, conhego um s6, que seja ingles e, além do mais, ele € provavelmente escocts. Alingua, acho que alingua inglesa é um obstéculo, Nao € muito promissor, visto alingua inglesaestarse tornando universal, quero dizer que ela abre trilha, enfim, nfo posso dizer ndo haver pessoas aqui que no se esforcem de me traduzir. Aqueles que me Iéem, assim de vez em quando, podem ter uma idéia afinal do que comporta de dificuldade traduzir-me n’alingua inglesa - Deve-se pelo menos reconhecer as coisas | como elas so, no sou eu o primeiro a ter, constatado essa resisténcia d’alingua inglesa a0 Inconsiente. Fiz observagbes, permiti-me escrever coisas que foram mais ou menos bem acolhidas. comome habituei, al gono regresso de uma viagem 20 Japdo, onde acho que disse sobre o japonés algo que se opSes ao jogo, e mesmo & manipulagio do Inconsciente enquanto tal, naquilo que & época chamei, num artigozinho que fiz, que publiquei no sei mais onde esqueci completamente, que chamei Lituraterra, achei ter visto numa certa, digamos, duplicidade d’alingua japonesa, de pronunciagio, achei ter visto af algo que, duplicado pelo sistema de escrita que é também duplo, achei ver af uma dificuldade especial para jogar no plano do Inconsciente, e justamente nisso que poderia parecer uma ajuda: se aquilo que é do Inconsciente se localiza no lugar do Outro, e se fagoaf a observagio de que nfo hd Outrodo Outro, _/ 26 | (~ a saber, que 0 que no meu esqueminha figurado do n6 borromeano se caracteriza por uma especial acentuagéo do buraco naquilo que faz frente a0 Simbélico, e que pontilhei, acho, na iltima vez, colocando ali um G seguido de um O, que traduzi afinal, que tentei enunciar como designando o Gozo do Outro, genitivo, ndo subjetivo nem objetivo; € sublinhei’ ser af que se situa especialmente aquilo que, acredito, legitimamente, saudavelmente, corrije a nogdo de Freud do Eros enquanto fusio, enquanto unio. Acentuei, 8 propésito disso, assim, mais ou menos incidentalmente, antes de ter me safdo com esse nd borromeano, acentuei isso porque € muito dificil que dois corpos se fundam. Nao s6 € muito dificil mas € um obstdculo de experiéncia corrente; € se encontramos 0 seu lugar bem indicado num esquema, € coisa a nos encorajar, visto 0 valor do que chamo aqui esquema. E preciso que hoje eu abra caminho para um certo niimero, nao digo de equivaléncias, mas de correspondéncias. E claro que muitas vezes no meu trabalho de rascunhagem, jé que € com rascunhagens que eu preparo 0 que tenho aqui a Ihes dizer, muitas vezes eu encontrei essas equivaléncias, e examino-as duas vezes antes de p6-las a par. Sou bem prudente e procuro nao falar atorto ea direito, Bem. Hé aqui, por exemplo, alguém que saiba, pois no sei se Francois Wahl estd presente, que saiba que a Rainha Vitoria de Lytton Strachey, que é um autor bem conhecido, célebre, enfim, li, na época, um livrinho traduzido, se minha lembranga € boa, pela Stock, sobre Elizabeth ¢ 0 Conde d’Essex. Serd que alguém aqui é capaz. de me dizer, como ha pessoas da Seuil, se o Lytton Strachey sobre a Rainha Vit6ria foi publicado traduzido pela Seuil? (na sala: “pela Seuil, nao”) Como? Ougo mal, no? Nao saiu? Que pena, pois eu 0s teria recomendado ler: Quem pode ter me dito ...Bom, enfim, é pena, porque isso circulava na forma de um Penguin Book mas est “out of print” e ndo posso entao recomendar-Ihes a leitura mas enfim, todos que puderem por as méos num, pois existem bibliotecas e também livros usados, todos que puderem pdr as mios nesse “Queen Victoria” de Lytton Strachey estio convidadas insistentemente a lé-lo porque, na minha volta da Inglaterra, isto é, no sibado pasado enodomingo, ndo pude largar o livro. Nao pude largé-lo ¢ isso no quer dizer que vou falar dele hoje, porque seria preciso, para fazer algo com ele, enfim, para que entre no meu discurso, seria preciso que eu 0 triture, que eu 0 torga, o esprema, seria preciso tirar 27 um caldo © é, mesmo que dé prazer, é muito cansativo e também nao tenho o tempo. Isso poderia, no entanto, mostrar que hé talvez mais que uma origem para esse fendmeno estupefaciante da descoberta do Inconsciente. Se © século XIX, parece-me, niio tivesse sido 180 surpreendentemente dominado pelo que devo chamar de agdio de uma mulher, a saber, A Rainha Vitoria, bom, ninguém se teria dado conta de a que ponto foi preciso essa espécie de de' que, enfim, haver 0 que eu cham, afinal, um despertar. F uma das minhas manias 0 desper um reldmpago. Ele se situa, para mim, quando me acontece, niio é muito frequente, € para mim ndo quer dizer que seja assim para todo mundo, ele se situa para mim no momento efeti vamente em que acordo, tenho nesse momento ai tim breve claro de lucidez, que nfo dura, é claro, Eniro, como todo mundo, nesse sonho que se chama realidade, a saber, nos discursos de que fago parte e dentre os quais tento abrir © caminho para o discurso analitico. E um esforgo bem arduo. Acho que este livro me parece dever-thes tornar particularmente sensivel o {ato de que o amor nada tem a ver com # relagto sexual, & confirmar que isto no parte dai muther, visto ser o que vejo, que uma vez mais, enfim, é um ponto no qual mesmo as pessoas que me sho mais simpiticas, quero dizer, que creem me prestar homenagens, bolam af e até derrapam, Se digo que a mulher nio existe, isto é evidentemente sem volta, Mas, uma mulher, uma mulher entre outras, uma mulher jsolada no contexto ingles por essa espécie de prodiglosa selegho que nada tem a ver com 0 discurso do mestte,...issa aristocra alids no tem muitoa fazer com wma selegio lc se posso assim dizer, Ox verdadeiros mestres nio sio aqueles que podemos chamar mundanos, enfim, as pessoas de bem, de boa Companhia, as pessoas que se conhecem entre si, enfim, ou que acreditam se conhecer, A futulidade que fez com que um certo Albert de Saxe calsse nas par tendo nenhuma inclinagho » é 0 que ha de maravilhoso, enfim, 6 que Lytton Strachey sublinha nenhuma inclinagho pelas mulheres Mas quando se encontra uma vagina dentada, se posso me exprimir assim, da envergadura excepeional da Rainha Vit6ria, enfim, uma mulher que é Rainha, quer dizer, que é realmente o supra sumoda vagina dentada, ¢ inclusive uma condigao essencial, Afinal, Semiramis devia ter uma vagina dentada, ¢ obrigatério, isso se vé, alids, num desenho de Degas. Elizabeth da Inglaterra devia também, enfim, isso se vé, afinal. Para Essex, isso teve consequéncias, Por que no teve as mesmas dever para aquele que se chama, quando se designa o museu que subsiste 2 meméria deles, 0 “Victoria and Albert”, porque nio se diz Victoria -and-, diz-se Victoria (r) and Albert, por que o Albertem questi no sofreu a sina de Essex? E porque, inclusive nem € certo que ele nao a tenha sofrido, porque ele defuntou-se bem cedo, Defuntou-se bem cedo com uma morte que se chama natural, mas espero que vocés olhem isso bem de perto. Parece-me, afinal, a mais maravilhosa coisa que se possa ter como aniincio dessa verdade que encontrei sem isso, enfim, essa verdade da ndo-relagdo sexual. Parece-me uma ilustragdo absolutamente sensacional, ¢ como tudo isso, afinal, se passou bem répido, e, em suma, tinha jé ultrapassado os seus principais epis6dios antes do nascimento de Freud, parece-me razio para se zet que, se Freud nio tivesse surgido ali...enfim, por qual misterioso encontro da Histéria, imediatamente apés essa entrada em exercicio disso que as mulheres tém, nao sei se é um poder, fica-se fascinado por nogées, por categorias como essas, 0 poder, 0 saber, tudo isso sao besteira afinal, besteiras que deixam todo o lugar para as mulheres - eu nao disse para a mulher, para as mulheres que ndo se preocupam com isso, mas cujo poder ultrapassa sem medida todas as categorias. Bom, enfim, paz a alma do (r) and Albert, esté claro que 0 que digo nao vai muito no sentido do que as mulheres podem. Nem devem clas apostar a sorte, se € que se pode chamar sorte, numa espécie de integragdo nas categorias do homem, quero dizer, nem 0 poder, nem o saber, enfim, d’isso elas sabem, elas sabem pelo simples fatodeser uma mulher; € diante do que eu tiromeu chapéu, e a Gnica coisa que me espanta, no é bem como eu disse em outra ocasido, € que elas saibam melhor tratar o Inconsciente. Nao estou muito certo disto. A categoria delas para 0 Inconsciente fem, muito evidentemente, uma maior forga. Elas ficam menos atoladas. Tratam isso com uma selvageria, enfim, uma liberdade muito impressionante, por exemplo, no caso de uma Melanie Klein. E algo que deixo para a meditagao de cada um de vocés e as analistas mulheres esto Gertamente mais a vontade, com o Inconsciente. Ocupem-se ou ndo elas disso, € preciso dizer, e hom que seja is custas de algo, talvez.seja inclusive vé revertida a idéia do mérito, que elas poreum af algo de sua especificidade, a qual, por hor apenas uma entre as mulheres, € de certa forma fem medida, Se cu tivesse, o que evidentemente filo me pode vir a cabeca, enfim, se eu devesse Jocalizarem algum lugar aidéia de liberdade, seria evidentemente numa mulher que eu a encarnaria. Uma mulher, néo forgosamente qualquer uma, j4 que elas nao sio todas eo qualquer uma desliza para toda. Bem, deixemos isso de lado. Deixemos isso de lado porque é um assunto que, como no fundo © proprio Freud, eu poderia dizer que perco ai meu latim. O que ndo é uma maneira ruim de dizer as coisas. Mas enfim, se isso Ihes cair nas maos, tive a sorte que alguém, que era um daqueles que me convidaram 4, digo, em Londres, alguém me passou esse negécio “out of print”, o seu exemplar, resumindo, e acho que é uma leitura que ninguém aqui deve perder, se tiver nao sei o qué, um pouco de gana, um pouco de vibragdo para com o que eu digo. Bom! E evidentemente muito extraordinario, passo para outro assunto, ver que a arte, que tratou dos temas chamados geométricos em nome de proibigdo levantada por certas religides para com a representago humana, a arte drabe entdo, para chamé-la pelo nome, faz frisos, frisos que comportam trangas, mas nio hd né borromeano. Enquantoo né borromeanose presta a uma riqueza de figuras absolutamente exuberante de que ndo ha justamente em parte alguma trago. E uma coisa em si mesma muito surpreendente. Nao € facil dar a isso uma explicagéo, se nao talvez que, se ninguém sentiu disso a importancia, isso nos mostra bema dimensio de que era preciso algo que nao funcionasse nada bem sem a emergéncia daquilo que chamaria uma certa consisténcia. S30 precisamente as que dou, ao Simbdlico, ao Imagindrio e ao Real. Mas ¢ por homogeneiz4-los que dou a eles essa consisténcia e, homogeneizé-los, € trazé-los de volta ao valor que, comumente, é considerado como o mais baixo - a gente se pergunta em nome de que - é dar a eles uma consisténcia, para dizer tudo, do Imaginério. E bem ai que hd algo a endireitar: a consisténcia do Imaginério é estritamente equivalente a do Simbdlico, assim como a do Real. E inclusive em razio do fato deles serem atados dessa maneira, quer dizer, de uma maneira que os poe estritamente um em relagdo com 0 outro, um em relacdio com os dois outros, na mesma relagio; é inclusive af que se trata de fazer um esforgo que esteja na ordem do efeito de sentido. Que esteja na ordem do efeito de sentido, quero dizer, que a interpretagdo analitica implica totalmente numa bascula na envergadura desse efeito de sentido. E certo que a interpretaco analitica carrega, de uma maneira que vai bem mais longe que a palavra. A palavra € um objeto de elaboracdo para o analisando, mas 0 que diz o analista, pois ele diz, © que diz o analista tem efeitos, nos quais pouco é 28 dizer que a transferéncia af tem um papel, mas isso no € nada, no esclarece nada. Tratar-se-ia de dizer como a interpretagdo carrega, € que ela no implica forgosamente uma enunciacdo. E evidente que um nimero exagerado de analistas tem o habito de calar, ouso crer, quero dizer, calam o bico,ndo abrem, como se diz, falo da boca, mas ouso crer que o siléncio deles nao é sé feito de um. mau hdbito, mas de uma suficiente apreensio do alcance de um dizer silencioso. Ouso crer, mas nao tenho certeza. A partir do momento em que entramos neste campo, nio hé provas. Nao ha provas a no ser nisso de nem sempre funcionar, um siléncio oportuno. O que tento fazer aqui onde, infelizmente, falo demais, tagarelo, se destina, assim mesmo, a mudar a perspectiva daquilo que é do efeito do sentido. Diria que consiste, esse efeito de sentido, emestreité-lo, mas é claro, com a condigaio de que seja da boa maneira, a saber, estreité-lo num nd, e no qualquer um. Fico muito espantado em conseguir substituir esse efeito de sentido de forma a que ele faca n6, en6daboa maneira, por isso que chamarei por isso gue se produz, enfim, num ponto perfeitamente designdvel sobre este nd-mesmo, isso de que nao creio em absoluto participar, send nesse ponto preciso, e que se chama efeito de fascinaco. Pois, para dizer a verdade, é 0 que esté nessa corda, é nessa corda que desliza, enfim, ela carrega a maioria dos efeitos da arte, e é 0 tinico critério que se possa encontrar que 0 separa daquilo que a ciéncia conseguiu coordenar. E inclusive nisso que um homem de letras, como um Valery, por exemplo, se contenta em ficar, afinal, nisso de que trata explicar, em efeitos de fascinagéo, cuja andlise 6, afinal, a se exigi O efeito de sentido a se exigir do discurso analitico nao é Imagindrio, nio é também Simb6lico, é preciso que seja Real. E tentar delimitar ao maximo o que pode ser o Real de um efeito de sentido € com que me ocupo este ano. Porque, por outro lado, é claro que se esté habituado a que o efeito de sentido se veicule por palavras e ndo sem reflexéo, sem ondulagdo imaginria. Pode-se inclusive dizer que mesmo no meu esqueminha tal como fiz da dltima vez, tal como refarei agora. Habituem-se realmente a desenhar isso assim, quer dizer, nio fazendo 0 que se faz regularmente, enfim, a junco, uma vez que se parte com esse {mpeto. (quadro 10) O efeito de sentido, esté af, na jungio do Simbélico com o Imaginério, foi onde o situei. Ele ndo tem em aparéncia relacdo com isto, 0 circulo consistente do Real, ele tem s6 uma relagdo, em 29 principio, de exterioridade. Digo em princfpio, porque é nisso que ele esté af, planeado. Ele esté planeado pelo fato de no o podermos pensar de outra forma, S6 pensamos plano. Basta figurar de outra forma esse no borromeano, voces viio ver 0 ti-ti-ti, é claro, que isso vai dar, jé estio vendo...Ah! Fi isso que é maravilhoso, ¢ que...Tomemos isso assim. Eu poderia té-lo tomado, é claro, de qualquer jeito. Vooés véem que se trata é de fazer com que esse né seja borromeano. Quer dizer que, voces véem, os dois que estio af figurados, se separam facilmente um do outro, Hé apenas uma maneira, € uma s6, uma s6 simples, pois hd mais que uma para que esse 6 seja borromeano, é isso que th estou figurando com toda falta de jeito ¢, espero, que na ocasiso, sejam voces também tio desajeitados...pois eu quero thes mostrar...a dificuldade ¢ isto: voots veem que do fato do terceiro anel, que acrescentel, pussitr, 8 posso assim dizer, através das duas orelhas que permitem distinguir a passagem desse elemento do nd do interior do que chamarei o buraco do tereelro anel € nessa medida que ond se sustenta Devemos parar a? Isto ¢, achar que bastam trés elementos consistentes ¢ que um fuga nd com 68 dois outros? Hd isto que J colocumos juntos a este n6, isto que vai contra a imagem dita de concatenagio,¢ enquanto 0 diseurso de que se trata nao forma cadeia, quer dizer, que nho ha reciprocidade da passagem de uma das consisténcias no buraco que © outro Ihe oferece, isto 6 que uma das consisiéneias, no sentido comum do termo, nio se ati outra, quero dizer, nao forma cadeia, F nisto que se especifica a relagio do Simbdlico, do Imagindrio ¢ do Real. isto que a questo logo se coloca de saber se 0 efeito de sentido no seu Real se aguenta bem com ‘uso das palavras, digo 0 uso no sentido habitual do termo, onde apenas na sus jaculagsio, se posso assim dizer, € um termo que se usa para o que € das palavras. Muitas coisas, desde sempre, 0 sugeriram, mas desse uso a essa jaculagho, nao se fazia distingfo. Achava-se que eram as palavras que carregavam, Enquanto que, se nos damos ao trabalho de isolar a categoria do significante, vemos logo que a jaculago guarda um sentido isoldvel E dizer que € nisto que devemos nos fiar para que odizer faga nd, diferente da palavra que muito frequentemente desliza, deixa deslizar, e que nossa intervengéo & vista daquilo que é pedido a0 analisando de fornecer, a saber, como se diz, tudo aquilo que Ihe passa pela cabega, 0 que nem por isso implica em que isso no passe de blé-blé-bl4, pois, por trés, justamente, esté o Inconsciente. E é do fato de haver o Inconsciente que, j4 naquilo que ele diz, hé coisas que fazem n6, em que ha dizer, se especificamos 0 dizer como sendo aquilo que faz nd. Nao basta a esse n6, chamé-lo de Real, 0 Imaginério nesse esquema nao é uma rodela Imaginéria, se 0 né sustenta, é justamente porque 0 Imaginario deve ser tomado na sua consisténcia propria e que, sem duvida, j4 que esse esquema ¢ © que nos pressiona, pelo menos por meu intermédio, € que 0 uso do Simbélico ndo é evidentemente a ser tomado, como tudo indica, na técnica da anélise, no sentido corrente da palavra O Simbélico nao é 86 bié-blé-bld. O que tm em comum é isso. Nao é 0 Real, é isso o Real. O Real, € que haja algo que Ihes seja comum na consisténcia. Ora, essa consisténcia reside apenas no fato de poder fazer n6. Um né mental é Real? Af esté a questdo. Concordo que no hes dou moleza hoje, mas € também para thes dar logo a Tesposta: tem o Real, o né mental, tem o Real da ex-sisténcia. Tem o Real da ex-sisténcia, tal como escrevo, dessas equivaléncias de que eu dizia ainda hé pouco ser minha intengio introduzir hoje, eu falo, falei prudentemente de correspondéncias, falo agora de fungoes. E é nisso que adianto a palavra “equivaléncia” E bastante curioso, se quisermos dar algum. Suporte ao que adiantamos, que isto precisamente nos force a no colocar o Real na consisténcia. E a consisténcia, para designé-la pelo seu nome, quero dizer por sua correspondéncia, a consisténcia, diria eu, ¢ da ordem Imaginiria. O que se demonstra, longamente, em toda a histéria humana, e que nos deve inspirar uma singular prudéncia, € que muito da consisténcia, toda a consisténcia que j4 deu suas provas, é pura imaginagio. Fago voltar aqui 20 Imaginario o seu peso de sentido. A consisténcia, para o falesser, para ser falante, é 0 que se fabrica e que se inventa. Nesta ocasido, € 0 n6, naquilo que o tragamos. Mas justamente, est af a altima palavra do negécio, se posso assim dizer, é que nao é naquilo que 0 tragamos que ele ex-siste, mesmo se niio fago a figura do meu n6 borromeano no quadro, ele ex-siste. Pois, desde que é tragado, qualquer um vé que é impossive! que ele nio permanega o que ele é no Real, a saber, um n6. E € bem no que acredito adiantar algo acs analistas que me ouvem e que thes pode ser «til na prética Salbam que © que trangam, o que trangam de Imaginario, nem por isso ex-siste menos. Que essa @xenlAlOnGla 6 O que responde ao Real, Ha algo, gracas a Deus, que nos introduziu nessa nocdo da ex-sisténcia. E 0 emprego do escrito: 3x.f(x) & propésito dessa al guma coisa que, na ocasizio, chama-se uma varidvel ligada, designada pela letra x. Ex-siste um x que pode ser carregado em f(x), isto é, numa fungdo de x. Que essa fungio seja x, uma funcéo no sentido geral do termo, ov simplesmente uma equago, no caso de uma equagio, acontece de nfo ex-sistir raiz, como a gente diz, se uma equagdo se iguala a zero, nao hd raiz, ndo ex-siste raiz, € quando ela nio ex-siste, tudo bem, nés a fazemos ex-sistir, isto é, inventamos a categoria da raiz imagindria que, ainda por cima, dé resultados. ‘Aqui reside o ponto de flutuagdo por onde se vé que o termo de Imagindrio ndo quer dizer pura imaginagdo, j4 que da mesma forma, se podemos fazer com que o Imaginério ex-sista, é que se trata de um outro Real. Digo que o efeito de sentido ex-siste, e que nisso, ele é Real. Nao ¢ apologético, € consisténcia, consisténcia Imaginaria, sem duivida, mas parece que hé todo um dominio usual da fungio Imagindria que dura e que se mantém S6 posso dialogar com alguém que fabriquei para me compreender, no nivel em que falo e é bem nisso que, no sé me espanto que vocés sejam tantos, mas no consigo acreditar que fabriquei cada um de vooés para me compreender. Saibam apenas que nao se trata disso na andlise. Trata-se s6 de dar conta do que ex-siste enquanto interpretagdo. O espantoso é que trabalhando, se posso assim dizer, nessas trés fungoes, do Simbélico, do Imaginério e do Real, fabriquei, a distancia, bastante gente que s6 precisou abrir, afinal de contas nao posso mais também acreditar que al gum inglés tenha feito mais que isto, de olhar um pouco ou de abrir meus livros, quando sabem francés, pois ndo esto ainda traduzidos, e que mesmo assim tenha havido algo que Ihes tenha permitido responder isso. O que quer dizer que ex-siste uma construgio cuja consisténcia nao seja Imaginéria? H4 uma s6 condigéo e que € totalmente legivel, legivel aqui no quadro negro, é preciso para isso que ela tenha um buraco. E € isto que nos traz.a topologia dita do toro, que é aquela pela qual eu hd muito fui, ndo posso dizer que por vontade propria, ndo é das coisas que me sejam td0 familiares, apesar de todo mundo saber o que é um bracelete, 0 que simplesmente constato, € que a topologia matemética, esta que se intitulando como tal e constituindo a introdugao dessas relagdes com 0 mole (mou), com 0 vago (flou), como se exprime meu caro amigo Guilbaud, para com 0 né 20 mesmo tempo, seja algo que, na teoria 30 matemitica, me dé muitadificuldade, eigualmente Ihes daria, devo dizer, pois no vejo porque uma teoria dos nés precise passar pela funcio dita dos filtros, por exemplo, ou de exigir a consideragio dos conjuntos, uns abertos, outros fechados, quando esses termos de abertoe de fechadotomam uma consisténcia Imagindria, sem divida, mas uma consisténcia bem diferente da pritica dos nés. buraco de que falo, que parece dever ser posto no centro disto, que me parece ser 0 ponto por onde podemos descolar desse pensamento que faz citculo, esse pensamento que planeia, obrigatoriamente e que, dai, desse fato apenas, diz que 0 que esté ali dentro (trata-se de um circulo desenhado no quadro), € outra coisa que o que ha fora. Enquanto basta imagin4-lo, imagind-lo como corda consistente, para logo ver que 0 dentro de que se trata aqui e o fora, sio exatamente a mesma coisa: que hd apenas um dentro, o que imaginamos como sendo o interior do toro. Mas justamente, a introdugao da figura do toro consiste, esse dentro do toro, em nao levé-lo em conta. Est af todo 0 relevo e importancia do que nos é dado. Na diltima vez, & propésito do meu n6, fiz. a observacio e inclusive desenhei a figura distoque, se partimos da exigéncia de fazer um n6 borromeano, ndo com trés mas com quatro, devemos supor esses trés toras independentes, isto 6, desenhé-los assim (quadro 11-1): eis 0 que est por cima - 0 que é intermedidrio e 0 que esta por baixo. Eu figurei da diltima vez. come, pela figura de um quarto toro, como podem ser atados esses trés aqui figurados independentes, podem e devem ser atados, fizinclusivealusdoaisto, équeem Freud, hd elisio de minha redugo a0 Imaginério, ao Simbélico e ao Real, como atados todos os trés entre si, e 0 que Freud instaura com o seu Nome do Pai, idéntico a realidade psiquica, a0 que ele chama realidade psiquica, declaradamente a realidade religiosa, pois exatamente a mesma coisa, que é por esta funcio, de sonho, que ele instaura 0 lago do Simbélico, do Imaginario e do Real. ‘Aqueles que, espero, estiveram aqui da diltima vez, conservaram, acho, a nota, 0 trago, damaneira simples como aqui pode se tracar esse toro. Acho, se minha lembranga é boa - eu poderia desenhi-lo, € bem possfvel que eu ndo me engane, pois nio é tio facil assim. Tentemos assim, isso me diverte, porque a cada vez a gente se perde. Vejamos, partindo disto...Ah! 0 que vai dar? Parece, por sorte, ter dado certo, mantendo, reproduzindo 0 que dei a voces da tltima vez. (quadro 7-2) 31 Mas no é 0 que me interersa, O que me imteressa é essa figura que extd aqui, supondo-a nto 16, a saber, como veem, aqui (quadro 11.4), 0 que tracei da wltima vex como tercelro elreulo, como terceira corda nho ati nada, Come pedemos af fazer o desenho do que aluria onsen (10s! Vou apresentar-lhes de ume oulrn manelr além desta. E muito fell concebver, sob # form que foi materializada de mil manelrus no decorrer dos séculos, a saber, desde o ustroldbio, é her fell conceber trés circulos esféricos, metillieos, Onde estaremos mais a vontade, é claro, pols Md AON capazes de fazer geometria dos sOlidos, Ollien) aqui como vou representé-los, Suponhirn Is0 que foi muito frequentemente realizado no deeorrer dos séculos, nos instrumentos nduticos (quadio 12-1), Vou simplesmente desenhéi-lo para ood) Ai esté um circulo visto de frente, O efreulo equatorial que estou hes desenhando agora é visto planeado, € € por isso que fingi desenhislo em perspectiva. Fagamos agora um terceiro efreulo sagital. Tracemos esse pontilhadinho para dar-lhes a nogo da maneira como devem vé-lo em perspectiva. E uma maneira distinta, porque invoca, faz invocacio, sem nenhuma esperanga alids, ao sentimento de espaco de voces, que nlio tém como, alids, ninguém tem. Vocés acreditam ver em relevo mas nem mesmo imaginam em relevo. Quero aqui (quadro 12-2) figurar como, no espago, se concebe a marca do que thes dei ainda ha pouco, o que coloquei a vocés como problema concernindo o que pode unir esses trés Imagindrio mbdlico e Real desunidos. Se procederem assim, vero que terdo a tragar esta linha, essa consisténcia, que é preciso e que basta que isto seja, digamos, figurado, para que haja, af, nd, no com quatro, né partindo de uma disjungho concebida como origindria do Simbélico, do Imagindrio e do Real. Aconselho-os a que guardem isto porque em uma natureza bem fecunda para fazer refletir quanto ao que € da fungdo nd, a saber, porque, por exemplo, essa linhil que isolei como rosa deve passar duas vezes, para nés, em frente e por cima desse circulo, tni¢o planeado, e passar, se contentar de passar, Mm suma, pelo interior deste que aqui ocupa o gra dois do ponto de vista de uma idéia que poderfamas nos dar do exterior, do meio ¢ do interior e do profundo. Isto, com efeito, bast amplamente e ¢ ilustrativo da fungo do nd, Colocarei, se posso assim dizer, este ani questo de saber se, quanto Aquilo de que s@ Ifill a saber, 0 atamento do Imaginério, do Simb0llis# do Real, é preciso, essa ado suplementat Oi Milli! de um toro a mais, aquele cuja consisténcia seria de referir-se & fungao dita do Pai. B muito porque essas coisas me interessavam hé bastante tempo, mesmo que eu nfo tivesse ainda encontrado esta maneira de figuré-las, que comecei Os Nomes do Pai. Hé, de fato, varias maneiras de ilustrar, de ilustrar como Freud, como é patente em seu texto, 86 se manter a conjuncéo do Simbélico, do Imagindrio e do Real, pelos Nomes do Pai. Sera indispens4vel? Nao é porque seria isso indispensdvel e que eu digo, af, contra, que poderia isso ser controverso como 0 €, de fato, sempre. Certo € que, quando comecei a fazer 0 seminério dos “Nomes do Pai”, € que pus, como alguns 0 sabem, pelo menos aqueles que estavam 14, pus um termo, eu certamente tinha - nao é por ida que chamara isso de “Os Nomes do Pai” e nilo o Nome do Pai, eu tinha algumas idéias da supléncia que 0 campo toma, o discurso analitico que faz com que essa estréia, por Freud, dos Nomes do Pai, € porque essa supléncia é indispensdvel que ela tem vez: nosso Imagindrio, nlosso Simb6lico € nosso Real esto talvez para cada um de nés ainda num estado de suficiente Bagquema I Feouoma 11 dissociagio para que sé 0 Nome do Pai faga n6 borromeano e mantenha tudo isso junto, faga nda partir do Simb6lico, do Imaginério e do Real. Mas no imaginem que, néo estaria nada no meu tom habitual, que eu esteja profetizando do Nome do Pai, do Nome do Pai naandliise e também do Nome do Pai alhures, que possamos de qualquer maneira, abrir mio para que nosso Simbélico, nosso Imaginério e nosso Real, como é 0 fim para vocts todos, partam muito bem cada um para o seu lado. E certo que, sem que se possa dizer constituir isso um progresso, pois nfo se vé em que um né a mais no lombo, no cangote ov onde quiserem, ndose vé em que um né, reduzido ao seu mais estrito, constituiria um progresso, se esse Gnico fato de ser um mfnimo constitui certamente um progresso no Imaginario, quer dizer, um progresso na consisténcia. E muito certo que no estado atual das, coisas, vocés so todos e cada um de vooés, tio inconsistentes quanto os seus pais, mas é justamente pelo fato de tanto estarem inteiramente Suspensos neles que vocés estio no estado presente. \ Eequema IZ 32 Semindario do 18 de fevereiro de 1975 Na iiltima vez, testemunhei a vocés minhas experiéncias “errantes”, e como estava decepcionado pelo fato da terca-feira gorda nao ter rarefeito a plenitude desta sala -como estava decepcionado- deixei-me levar a lhes contar 0 que penso. Hoje, entretanto, por razées que me sio, digamos, pessoais, pela razio do meu trabalho ter sido um pouco atrapathado esta semana, gostaria de pegar a deixa do que me parecia jé se impor e que, afinal, posso imaginar, pedia um tempo; hoje, esse tempo me parece, repito, por simples razbes pessoais, esse tempo pode ter chegado -pelo menos, espero- que alguns de vocés me facam perguntas as quais ficarei feliz de ao menos poder responder, ao que me parecer, no estado atual, ter eva resposta. Ficaria realmente muito grato a esses alguns qve, certamente no sentido em que entendo, ex-sistem, a esses alguns, se me lancarem a bola, se posso assim dizer; € a pessoa que o fizer por primeiro, porque, afinal, basta que um se decida para que 0s outros se vejam trilhado 0 caminho. Aj estd, fago apelo ao primeiro ou primeira que quiser falar, Gostaria muito. Gostaria muito que me fizessem uma pergunta. De inicio, isso me daria a nota do que tem gancho. Parece-me que, da ltima vez j4, adiantando 0 que disse sobre um esforgo feito para distinguir nao 6 aquilo de que mostrarei oportunamente de onde parte. Parte de um planeamento don6. E preciso, no 1n6, distinguir isto, que é muito dificil fazer que entre a teoria na matemética, isto a0 ponto que, digamos, ndo encontrei nada que responda a esse 1n6 a que fui levado, passo a passo, esse né a que cheguei, em tanto que n6 borromeano. Como cheguei af, € certo que, se eu mesmo sei a continuagiio, s6 se poderé encontrar o fio, quer dizer, 0 que faz sua consisténcia, somente poder’ encontrar o fio a continuago dos semindrios, dos quais voces tém o primeiro e 0 tiltimo, gracas ao cuidado de alguém e também, aquele que nao ¢ 0 mediano, aquele que é 0 semindrio 11. | seguramente 0 que dari o que designo como consisténcia Como se faz que algo que, eu 0 evoquei, teria podido ser ponto de partida para um outro modo de pensar com rigor - more geometrico - 6 0 que um Espinoza, por exemplo, se gabava de tecer, de deduzir algo segundo 0 modo e 6 modelo dado pelos Antigos. Fica claroque esse “more geometrico” define um modo de intuiglo que & propriamente 0 matemitico, e que esse modo de intuigdo, afinal, ndo vem sozinho ‘A maneira como o ponto, a linha, é de certa forma fomentada de uma ficclo e, do mesmo modo, a superficie, que s6 se sustenta da fenda, fratura, de uma fratura sem divida especificada como sendo de duas dimensoes. Mas como a linha s6 é uma dimensio por ser sem consisténcia a propriamente dizer, nao é dizer muito, dizer que se acrescenta uma, e, por outro lado, a terceira, esta que, em suma, se edifica a partir de uma perpendicular a superficie, é algo bem estranho. Como, sem que al guma coisa dé suporte aisso que € preciso dizer ser abstragdo fundada num serrilhar, como, sem encontrar a corda, fazer que aguente essa construga0? Mas, por outro lado, ndo € também por acaso que as coisas assim se produziram, sem divida ha af uma necessidade que €, digamos, meu Deus, porque nao encontro melhor, que é a fraqueza de ser manual -"Homo faber"- como se disse. Mas porque esse ser manual,o homo faber, mesmo que s6 para veicular isso contra o que ele investe, isso que ele manipula por que parte ele de algo que tem consisténci parte da corda? Que necessidade faz, que essa corda, de que a décima Regra de Descartes, que evoquei, Descartes evoca que tanto, afinal, a arte do tece! arte da trang, a arte da fiado poderiam servir de modelo -como se faz que coisa se extenuem a esse ponto do fio se tornar inconsistente? Talvez haja af essa alpuma coisa que esté em io com um recalcamento? Antes de se adiantar até dizer que esse recalcado ¢ o primordial, € a Urverdrdingr , & 0 que Freud designa como 0 inacessfvel do Inconsciente Deve se partir disso, do quanto facil mente se perde a figuragio desse né especial que designo 33 como sendo borromeano e que tem essa propriedade singular de bastar romper algo que, no entanto, figura af simplesmente, a saber, um toro que, justamente basta corté-lo para se ter em mao ‘essa espessura, essa consisténcia, 0 que faz corda, Lf por isso que, interrogando meu né assim desenhdvel (quadro 1-1) e, de fato, desenhado, eu marquei isto dele ndo ser menos desenhdvel e que ele permanece n6, com esta tinica condigéo, que um deste anéis, nés 0 abramos (quadro 1-2) ¢ ele se transforme em uma reta -reencontramos a questtio que coloquei no inicio, a da reta e da sua pouca consisténcia matemética, geométrica, aqui essa consisténcia restituida supde que a estendamos ao infinito para que ela continue a representar sua fungdo. E preciso entéo ver infinitamente prolongada essa corda, em cima e ‘em baixo, para que 0 n6 permaneca 6. E bem no que a reta, a reta sobre que, em suma, toma apoio essa corda no seu estado presente, a retanao é nada consistente, e € bem em cima disso, alids, que a geometria, se podemos assim dizer, deslizou, seja a partir do momento em que essa reta infinita foi, numa geometria dita esférica, restituir o infinito, fazendo dela uma nova rodela, sem perceber que desde a posigao do né borromeano, essa rodela est implicada e que no era preciso talvez, entio, dar toda essa volta. De qualquer forma, na iiltima vez, vocés me viram estender essa geometria do n6 borromeano com trés a figuracdo do que é exigido para que valha para quatro. Era para Ihes dar a experiéncia da dificuldade do que chamei né mental. Mas, bem sei que € na tentativa de planear esse né mental, isto é, se submeter a que o pretenso pensamento, alguma coisa que cole na extenso, com uma condigdo -longe de estar separado, como supde Descartes- 0 pensamento € s6 extensao, e mais, ele precisa de uma extensfo, nfo qualquer uma, uma extensio de duas dimensées, uma extensio que possa se borrar pois é bem essa a maneira que no seria despropositado, néo seria inoportuno, definir essa superficie que ainda hé pouco eu mostrava na geometria, essa que se imagina, que se sustentou essencialmente por um Imagindrio, é bem assim que se poderia igualmente se definir essa superficie, esse serrilhamento sobre um s6lido, € que isso oferece algo para borrar. Fi singular que a Gnica forma com que se conseguiu, em suma, reproduzir essa superficie deal, seja justamente esta diante da qual se recua, , 4 tranga de uma tela e que seja numa tela queo pintor tenha, emsuma, a borrar, j4 que € tudo que eneontra a fazer para domar o olhar, como expliquel na época aquilo que é da fungao do pintor a sabe “ € que aqui também € sobre algo especifico, 0 quadro-negro, que me acho forgosamente planeando o que tenho a Ihes comunicar do n6. bem af que efetivamente se sente, de maneira particular, que esse né que eu, por outro lado, figurei gracas 4 imaginagio perspectiva de vocés, a saber, como se mantém 0 n6 borromeano com trés? como € feito, de dois nés que so independentes um do outro, ¢ trata-se de saber por onde passa 0 terceiro para que isso faga n6. Coloquei-Ihes a mesma questo concernindo ‘ao que é preciso para que isso faga n6, mesmo se, no inicio, deixamos as trés rodelas de barbante do primeiro problema, independentes, ¢ figurei para vocés, planeando igualmente, de maneira a mostrar a perspectiva, figurando a vocés o que se passa com essas trés rodelas que desenhei independentes, contentando-me, para simplificar as coisas, de mostrar como € preciso tragé-las para gue a quarta, que representei um pouco diferente do que fago agora, pondo em valor a funcdo quédrupla da quarta rodela de barbante (quadro 126).. Mas quando eu quis planed-lo de uma maneira que reproduzisse modificando-a, isto é, tornando independentes os trés nés, as trés rodelas debarbante do inicio, eudescobri cometer umerro, e esse erro, posso dizer tratar-se antes de um tropego, junto a isto que, estando cansado de me lembrar das coisas que eu dera a mim mesmo para corretamente figurar o que resulta do planeamento modelado sobre o doné com trés, eu cometi, falhei, se posso assim dizer, falhei de propésito, por preguica, e também para dar a vocés, meu Deus, 0 exemplo da pouca naturalidade com que essas coisas funcionam, a saber, a representagdo do n6. Para pegar logo a coisa mental, a maneira como isso opera: se do superior ao inferior, voces notarem com um, dois, trés (quadro 13), 0 que, é claro, nada tem a ver com um superior € um inferior, j4 que bastaria reviré-los para que problema se renove, af esté como convém proceder, isso eu sabia, mas, justamente, é a se deixar, visto ter eu operado da maneira como viram, deixando fora do n6 0 circulo 1, mas, simultaneamente, também todos os outros: Convém partir daquilo que, dos trés cfrculos planeados dessa maneira, ¢ 0 3 fora do 1 e acabar pelo 3 dentro do 2. Quando se opera assim, as coisas funcionam. Também é verdade que € facil ver que podem também funcionar de outro modo, mas que hé ainda uma terceira maneira, justamente a que usei da Gltima vez e que deixa um desses nés livres, designadamente o 1, coisa que, simultaneamente, deixa livre os outros. Por que, em suma, o ato falho, aqui, funcionou, sendo para testemunhar que nenhuma anélise evita que algo resista nessa teoria do n6? E € justo o que, afinal, acho bom ter-lhes feito sentir, € té-los feito sentir, de certa forma, de maneira experimental. E muito claro que a outra maneira que se distingue desta, é a de inverter essas duas propostas, a saber, a partir do que do 2 esté fora do 1, maso que eu fago agora, e nao havia feito antes, confunde, j4 que melhor seria figurar a vocés as coisas de maneira que as duas rodelas de barbante rosa (representadas aqui pelos dois tragos fortes, pontilhado e continuo) parecem se recruzar; simplesmente anulem esses quatro pontos e vero que, em cada caso, as duas maneiras de proceder so convenientes. Em que sio convenientes? Sao convenientes nisto que as fungdes do 2 e do 3, como na outra figura, aquela em perspectiva, demonstra, as fungdes do 2 e do 3 sio estritamente equivalentes e que, as vistas do citculo que seria aqui designado 1, essesdois outros se equivalem. A saber que, para ‘o que é da maneira como rodela rosa os contorna, ‘0 modo é o mesma, se adotamos essa figuracdo. O que dizer? sendo o que a figura central poe emevidéncia, que a reta infinita que se figura af, a reta dita infinita, mas que fiz obervar antes 0 que isso supde, a saber, a propriamente dizer, 0 impossfvel, que essa reta infinita se opée pelo fato desuaruptura, a qual, como ndoconsideré-la como afinada com algo que € o essencial do né, essa reta se opbe ao que faz rodela como 0 que chamei de consisténcia, algo sobre 0 que eu no insisti na liltima vez e € bem o que faz 0 essencial daquilo que chamamos uma rodela e, designadamente, uma rodela de barbante, isto é, 0 buraco que hé no meio. Donde a interrogagio que fiz da diltima vez, de saber se no havia corespondéncia entre a consisténcia, a ex-sisténcia ¢ o buraco de cada um dos termos que adianto como Imaginrio, Simbélico e Real. Seaconsisténcia é mesmo como enunciei na tiltima vez, da ordem do Imaginario, j4 que € para esse ponto de fuga da linha matemética que a corda se dirige, temos que nos interrogar sobre 0 que faz a rodela de barbante ‘como tal, € se dissemos que é 0 buraco, fato € que no ficaremos satisfeitos: 0 que é um buraco se nada o cinge? Ora, na ‘ltima vez, marquei bem que a ex-sisténcia, a saber, esse algo que com relagio a abertura € a0 que faz buraco, que a ex-sisténcia, para planear as coisas, esse algo que devemos, planeando, figurar, que a ex-sisténcia pertence a este caMpO quid 4, Ae POM HNAlIN diver, RUPpHAIO pela propria ruplin © que @ par ml, NOM, que Me Joga, He podemon wiplin dite, W eerie do A SC.ON6 Lom UMM ONNIAIONELA, € POF POFHNOEE H Gane campo © 6 bem par ins que ey enunulnve que H ex-sisténcin entd, por felagho 4 eali correspondéncla di orden do Kewl, que & exesisténcia do nd ¢ Heal a til ponte que pid dizer, pude adiantar que 00 Ment, Ineo ex-alale que omens , 6-0 figure ON NO, JO que 0 4 vemos é que cle entd ainda Hie explivit, seaport essa ex-sisténcla do nd, 0H explorild Ah Mei dificuldade j4 que nilo hi no mev eanhierinenie a que quer que seja, sentio aprender # eanallivl la © aprender pela tranga o que, heguranienie, Ahi e, (iit assim dizer, uma manera mental de yenolver questo, enquanto parece haver, por waalin «inet, uma resiténcia do mens para mentuli#iir eee Ni Dei ainda hé pouco um exemple. Sem divida, é por um procedimento que aquele, aliés, e que supde como fundamentil ordem explorada a partir de minha experinelis propriamente dita,analitica, que eu disse me tet conduzido a essa trindade infernal, chameme1i pelonome, essa trindade infernal do Simbolico, der Imaginario e do Real. No penso aqui tocar ini corda que néo seja freudiana, “Si flectere..., sl néqueo superos” escreve em epigrafe di Traumdeutung 0 caro Freud “Acheronti movebo”. E é sem diivida af que toma ilustragio, afinal, o que chamei verdade, a verdade de um certa religio, para a qual chamei a atengio nilo ser inteiramente por acaso conseguir ela uma nogio, divina que fosse de uma trindade, ¢ isto contrariamente & tradigdo em que ela propria 9@ conecta, nem Ihes conto como me deixei levar fazendo confidéncia a um audit6rio que no eri ‘outro, se minha lembranga € boa, que aquele, cho, da Inglaterra, a menos que seja o de Estrasburgo, pouco importa, aliés -ndo cheguei a fazer ens confidéncia de que 0 desejo do homem, que ¢ no. entanto tangivel, € 0 Inferno, 0 Inferno, muito. precisamente nisto que € 0 Inferno que Ihe falta, ¢ com essa consequéncia de ser a que ele aspira, @ temos testemunho disso, 0 testemunho na neurone, que € muito exatamente isto, que o neurdtic alguém que no chega ao que para ele é a miragem onde ele encontraria satisfagio, é, a saber, uml perversiio, uma neurose € uma perversiio falhi. Simples ilustragéozinha do n6, do nd @ daquilo pelo que € ao né que chego para tentit sustentar, se posso assim dizer, o que s¢ produ @ do qual o nimero de vocés testemunha, & saber, algum interesse. E justo porque voces esto mull mais interessados, enfim, do que acreditam cali as um, nessa nodalizagio do Imaginério, do Simbdlico e do Real, que estdo af, parece-me, pois he nfio, por que teriam essa estranha satisfagdioem ouvir nessa ocasifio meus balbucios, pois tanto é no que hoje devo me decidir, é, a saber, que no posso seno fazer o trilhamento do que isso ynporta enquanto consequéncia. for, evidentemente, desse modo que a ex-sisténcia don6se suporta, a saber, a partir desse campo que, planeado, é intermediério ao que, do buraco, faz essa interrogagao, intermediério a0 ue, do buraco, faz corpo, enquanto que, o que Auporta 0 corpo € outra coisa, € a linha, a linha da consisténcia. Um corpo tal como esse com que voets se suportam, é muito precisamente esse algo que, para voces, tem o aspecto de ser o que resiste, (6 que consiste antes de se dissolver. E se o Real » ser localizado em algum lugar, a saber, nesse campo intermedi ario do planeamento, que figurei, conotado com a ex-sisténcia, resta que s6 pode ser pela climinagdo que o fariamos, e é isso que para nos faz interrogacao, que € s6 nos colocando a questlio de saber se 0 buraco é bem o que é da ordem do Simbélico que fundei a partir do Algnificante, é justo esse 0 ponto que deveremos (er, no curso desse ano, que liquidar. Podemos, nto, atualmente, sob uma forma interrogativa, por aqui o buraco com um ponto de interrogagio € no outra coisa. Esté aqui em questio 0 que € do Simbélico, enquanto que aqui o Real, 6a ex-sisténcia, e que a consisténcia é aqui correspondente ao Imagindio. fi claro que essas categorias nao séo fucilmente manejaveis, Elas tém a seu favor, no entanto, terem deixado algumas marcas na Historia, a saber, que € ao fim das contas, das contas de uma extenuagao filoséfica tradicional, Cujo topo esté em Hegel, que algo de novo jorrou com © nome de um tal Kierkgaard, que vocés jabem © quanto eu denunciei como convergente a experiencia bem mais tardiamente aparecida de um Freud, 0 quanto ew denunciei como convergente a sua promog’o como tal da ex-nlaténeia -hé algo af, parece, que nao se pode dizer © que nfo se pode encontrar no proprio Ki dd, {estemunho de que € no s6 para a promogtio para a repeticGo, como de algo mais fundamental na experiéncia dita tese, antitese, Alnlexe sobre 0 que um Hegel tramou a Hist6ria, a Yolorizagho dessa repetigao como de uma fungao {undamental cujo padrio se encontra no gozo e OuJus relages, as relagbes vividas pelo Kierkegaard em questiio, so as de um n6 sem divida nunca confesso, mas que 60 do seu pai com # Infrugho, a saber, a Introdugio no da sua experiéncia, mas da experiéncia daquele que se encontra por relagéoa ele ocupando o lugar do pai, lugar este do pai que, simultaneamente, se torna problemético, a saber que, coisa singular para uma tradig&o que manipulava oAbbaa torto ea direito, que seja nessa data e nessa data somente que se promova, ao mesmo tempo, a existéncia como tal, que sem divida no tem o mesmo acento que este que ponho a fragmenté-la com um hifen, que seja nessa época que a existéncia emerja, se posso assim dizer, emerja para mim, emerja para que eu faca daf alguma coisa que se escreve de outra forma, ¢ que esteja af o que se pode tocar, tanger em algo que se define do n6, no acredito que seja isso algo de natureza a me pOr, se posso assim dizer, em continuidade com uma interrogacdo filoséfica, mas bem mais num modo de ruptura que 6, da mesma forma, algo que se impde se a emergéncia do Inconsciente como de um saber, de um saber proprioa cada um, a cada um particular, edenaturezaamudar completamente as condig6es. em que dominou a nogio mesmo de saber, digamos, desde os tempos mais antigos, digamos mesmo, a Antiguidade. Entrou, esse cardter de saber, por vias que € preciso que interroguemos, de modo que coloque em questo sua substancia. Se o saber é algo to dependente das relagdes da continuacdo das geracdes para com 0 Simbdlico, para com o buraco de que falava ainda ha pouco, para chamé-lo pelo seu nome. Se ele € to dependente do que a continuidade das geragdes fomentou enquanto saber, como néo reinterrogar oseu estatuto? Existiré um, do saber, no Real? Fica bem claro que a suposicaio de sempre, mas uma suposigSo que no era propriamente dita, feita, confessada, segundo toda a aparéncia, havia, j4 que o Real, isso funcionava, corria bem, e é justo isso que manifesta que para nés, hd uma mudanga, porque isso, no Real, nés tocamos um saber sob uma forma completamente distinta. Designadamente, é para retomar aqui minha construgio, é designadamente isto que, se queremos que um saber tenha como suporte, no, no digo o buraco, a consisténcia do Simbélico, o que aparece no Real é, propriamente dito, isto, porque talvez se lembrem que o Real, o Simbolico e o Imaginério se situam assim. E algo que, planeado, porque pensamos, aparece no Real, asaber, no interior do campo que a consisténcia da rodela de barbante permite definir, que se apresenta, nfio como saber imanente do Real que néo tem nenhum modo de resolver sendo colocando-o jé af sob a forma do vous , sob a forma de algo que 0 Real saberia o que hé a fazer, e quando néo €0 vous , € a onipoténcia e a sabedoria de Deus. Nao preciso voltar ao fato que conhecem, vocés conhecem porque eu jd matraqueei, a saber, que 0 mundo nio é pensive! sem Deus, falo do mundo newtoniano, pois, como cada uma das massas saberia a que distincia esté de todas as outras? Nio tem safda. Voltaire acreditava no Ser,Supremo, nio me fez * confidéncias, ndo sei que idéia se fazia disso, mas no podia estar muito longe da idéia da omnisciéncia, é, a saber, que é ele que faz funcionar a maquina. A velha histéria do saber no Real, sabe-se que foi 0 que sustentou, meu Deus, enfim, todas essas velhas metdforas, afinal de contas, € preciso dizer, Arist6teles era populista. E © artesdo que Ihe serve de modelo para todas as causas. Sua causa final, se posso me exprimir assim, sua causa formal, sua causa ( cause ), isso fala (cause) , fala mesmo as bandeiras despregadas, fala mesmo material e isso € ainda mais desesperante. E certo que no nivel da causa, da causa fisica, do que foi inscrito por ele € que qualifiquei afinal como artesanal, que faz com que fosse acolhido de bragas abertos em todo lugar em quea metéfora do oleiro campeia e onde foi a mao divina que fez 0 pote. Como continua a girar, no entanto, sozinho, € justamente a questio, ¢ a questo em que os refinamentos de saber se ele continua a se ocupar, a saber, a fazé-lo girar, ou se © deixa girar sozinho apés té-lo ejetado, é realmente secundaria. Mas toda a questio do saber é a se retomar apenas a partir disto que um saber s6 é suposto a partir de uma relacdo com 0 Simb6lico, isto é, com esse algo que se encarna de um material como signficante, 0 que no é questo pequena para si sozinho. Pois, o que é um material significante? Temos s6 a dica em Aristételes, no nivel em que ele fala do devdxSiop mas € certo que a idéia mesmo de matéria sé é estritamente pensdvel safda do material significante em que ela encontra os seus primeiros exemplos. Entéo, para tentar simplesmente anotar algo que ser sobre 0 que, para mim, se desenvolve minha notagio, é certo ser de uma experiéncia da figurago do sintoma como refletindo no Real 0 fato que ha algo que no funciona e onde, no no Real, é claro, no campo do Real, esse algo que nio funciona se mantém. Se mantém em qué? Disto que eu suporto em minha linguagem do falesser, do que é somente falesser, porque, se nao falasse, nio haveria a palavra ser, ¢ que para esse falesser, 4 um campo conexo ao buraco -que figurarei aqui- pego-Ihes desculpa, néo fago questi absolutamente que minhas figuras sejam elegantes, nem simétricas; éna medida em que nfio erlura possivel, ruptura, consisténcia safda desse buraco, lugar de ex-sisténcia, Real, que 0 Inconsciente esta ali (quadro) € que o que se faz mantido af, passado por tris do buraco do Real, atrds nessa figura, pois se a revirarem, esti adiante, que ha coeréncia, que hd consisténcia entre o sintoma ¢ 0 Inconsciente, Com isto, porém, que o sintoma niio é defin{vel senfio pelo modo como cada um goza do Inconsciente, na medida que o Inconsciente determina, Buscar a origem da nogode sintoma, que ndio 6 absolutamente a se buscar em Hipderates, m em Marx, em sua ligago entre 0 capitalismo ¢ 0 tempo feudal. Leiam toda a Siteratura ai, o capitalismo é considerado como tendo certos efeitos, e porque, efetivamente, nfioos teria? Esses efeitos so, afinal, benéficos, ja que ttm a vantagem de reduzir a nada o homem proletirio, gagas a que o homem proletirio realiza a ess¢nci do homem, e, por ser de tudo despojado, esté encarregado de ser o messias do futuro. Tal ¢ a maneira como Marx analisa a nogio de sintoma, Ele dé, é claro, uma multidao de outros sintomas, mas a relagdo destes com uma fé no homem é totalmente incontestvel. Se fizermos do homem nao mais o que quer que seja que veicula um futuro ideal, mas se o determinarmos da particularidade em cada caso do seu Inconsciente eda maneira como ele goza disso, © sintoma permanece no mesmo lugar em que o deixou Marx, mas toma outro sentido, nao seré um sintoma social, serd um sintoma particular. Sem davida, esses sintomas particulares tém tipos, 0 sintoma do obsessivo nao € 0 sintoma do histérico. E muito precisamente o que tentarei trazer para ‘vooés no prosseguimento. Para 0 obsessivo, no entanto, anoto logo, hé um sintoma bem particular. Ninguém, ¢ claro, tem a menor apreensio da morte. Sem 0 qué, nio estariam af to trangiilamente. Para 0 obsessivo, a morte é um ato falho. Nao € nada bobo, pois a morte s6 é abordavel por um ato, ainda que para ser bem sucedido, € preciso que alguém se suicide, sabendo ser um ato, O que s6 acontece muito raramente. Mas esteve muito em moda numa certa €poca, em que a filosofia tinha um certo aleanee, além da sustentagio do edificio social, Algumas pessoas chegaram a se agrupar em escola, de maneira que tinha consequéncias. Mas ¢ bastante singular, e de nos fazer suspeitar da autenticidade de engajamento nas ditas escolas, nfo ser entio absolutamente necessério ter ingido uma qualquer sabedoria, bastando ser um bom obsessivo para saber, de fonte segura que a morte € um ato falho. Nao, € claro, que isto rez 37 suponha que eu nfo faga af alguma explanacdo, mas ficarei nisso hoje, j4 que nem mesmo pude, como era de se esperar, chegar ao ceme do que queria thes dizer, a saber, se, de tanto dizer que a mulher no ex-siste, como alguém me fez a objegio, nfo a fago eu ex-sistir? Nao acreditem Gr i CRS ay We a nisso. Seré o que tratarei da pr6xima vez. Penso poder sustentar, que € no estado de uma , no digo inumerivel, mas de uma __ perfeitamente enumeravel, que as mulheres ex-sistem, e no no estado de a. Bb mt Ly * eset asthe pnts in west j as ic C Ty . iQ ACN \ N ey \\ Wwe @)= Wy WY XN ‘ Bindrios e ligagdao dos binarios O que € um bindrio? E um par, como (Esquerda, Direita), como (Em baixo, Em cima), como (Branco, Negro), como (Yin, Yang), como (Acender, Apagar). Este texto vai apresentar uma nogo de ligagdo dos binérios entre si. E isto, através de dois casos, 0 caso do jogo de cara ou coroa e 0 caso do vai-e-vem elétrico. Caso do jogo de cara ou coroa O funcionamento é bem conhecido, trata-se aqui apenas da colocacéo de um exemplo para expor. Introduzirei cinco bindrios. Hé dois jogadores. Nada impede que se os chame Eu e Voce. Ha duas posicdes, ganhar e perder; serdio chamadas Ganhar e Perder. Ha duas eventualidades, que nao sio simples de definir, porque tm, cada uma, uma dupla definigdo. Eu Ganho equivale a Vocé Perde. Eu Perco equivale a Vocé Ganha. Eventualidade Branca é tanto Eu Ganho quanto Vocé Perde. Eventualidade Negra é tanto Eu Perco quanto Vocé Ganha. Assim: (1) Branco=Eu Ganho (2) Branco=Vocé Perde (3) Negro=Eu Perco (4) Negro=Vocé Ganha (5) Eu Ganho=Vocé Perde (6) Eu Perco=Vocé Ganha H4 dois lances, Cara e Coroa. Hé duas regras, que no so simples de definir, porque tém, cada uma, uma definigdo dupla ou quédrupla. Trata-se da passagem de um lance Cara ou Coroa a uma eventualidade Branco ou Negro. “Se Cara, entéio Branco” equivale a “Se Coroa, entdo Negro”. “Se Cara, entéo Negro” equivale a “Se Coroa, entdo Branco”. Um lance contrério implica uma eventualidade contréria. A regra A, é “Se Cara, entéo Branco” ou, também, “Se Coroa, entéo Negro”. A regra B, é “Se Cara, entio Negro” ou, também, “Se Coroa, entéo Branco”. Assim: (7) A = “Se Cara, entfio Branco” (8) A = “Se Coroa, entdo Negro” (9) B = “Se Cara, entéo Negro” (10) B= “Se Coroa, entéo Branco” (11) “Se Cara, entéo Branco” = “Se Coroa, entéio Negro” (12) “Se Cara, entdo Negro” = “Se Coroa, entéo Branco” Assim: (13) A= “Se Cara, entéo Eu Ganho” (14) A = “Se Cara, entio Voce Perde” (15) A = Cara, Eu Ganho (16) A = Cara, Vocé Perde (17) 'A = “Se Coroa, entéo Eu Perco” (18) A = “Se Coroa, entéo Vocé Ganha” (19) A = Coroa, Eu Perco (20) A = Coroa, Voeé Ganha (21) B = “Se Cara, entio Bu Perco” (22) B = “Se Cara, entéio Voce Ganha” (23) B Cara, Eu Perco (24) B= Cara, Voct Ganha (25) B = “Se Coroa, entéio Eu Ganho” Eis, entdo, introduzidos, cinco bindrios: (E Vocé) (Ganhar, Perder) (Branco, Negro) (C Coroa) (A, B) Sio os dois jogadores, as duas posighes, as duas eventualidades, os dois lances, as duas regras, Esses cinco bindrios nao sto independentes uns dos outros, eles so interligados, estio ligados pelas formulas (1) (2) (3) (4) (7) (8) (9) (10) (13) (14) (15) (46) (17) (18) (19) (20) (21) (22) (23) (24)(25)... Essas formulas so muito redundantes. A interligagao dos bindrios é uma maneira de se livrar desse atravancamento e dessa redundancia, Essas formulas tém uma invaridincia, elas sio invariantes por “inversio par”. Todas as formulas numeradas sio invariantes por “inversio par”. O que é uma inversao par? Exemplo: sejaa formula: (53) “A regra A, € que o lance Cara coloca 0 jogador Eu na posigo Ganho”. Aqui, varias outras formulas que dela se deduzem por “inversio par”. (64) “A tegra B, € que o lance Coroa coloca 0 jogador Voce na posicSo Perde”. Houve inversio de quatro elementos. (55) “A regraB, €queo lance Coroa coloca o jogador Eu na posico Ganho”. Houve inversio de dois elementos. (56) “A regra A, € que 0 lance Coroa coloca 0 jogador Vocé na posigio Ganha”. Houve inversio de dois elementos. (57) “A regra A, € que o lance Cara coloca 0 jogador Vocé na posigdo Perde”. Houve inversio de dois elementos. (58) “A regra B, é que © lance Cara coloca o jogador Eu na posigio Perco”, Houve inversiio de dois elementos. (59) “A regra B, € que 0 lance Cara coloca o jogador Vocé na posi¢o Ganha”. Houve inverstio de dois elementos. (60) "A regra A, 6 que o lance Coroa coloca o jogador Eu na posigiio Perco”, Houve inversio de dois elementos, (53) "A regra A, é que © lance Cara coloca o jogador Eu na posigao Ganho”. Houve inversiio de zero elementos. Exemplo: A passagem da formula “Cara, Eu Ganho” para a f6rmula “Coroa, Vocé Perde”, no 6 uma inversio par. Uma formula, que se deduz de 30 uma f6rmuia verdadeira por inversio par, é vordadeira, Uma formula € equivalente a uma {Ormula que se deduz dela por inversio par. Como sio interligados os cinco bindrios? (Eu, Voct) ¢ (Ganho, Perde) e (Branco, Negro) sio interligados. So interligados pelas formulas (1) (2) (3) (4). Branco, Negro) e (Cara, Coroa) e (A, 1)) sho interligados. Sao interligados pelas formulas (7) (8) (9) (10). (Eu, Voo’) e (Ganho, Perde) e (Cara, Coroa) e (A, B) s4o interligados. Stio interligados pelas formulas (13) (14) (15) (16) (17) (18) (19) (20) (21) (22) (23) (24) (25)... (53) (54) (55) (56) (57) (58) (59) (60). Bindrios em geral Um binério tem dois elementos, é um par de contrarios ou um par de inversos. O inverso ou 0 contrério de um elemento, € 0 outro elemento. Qualquer paré um binério? Nao. Melhor é reservar 4 denominaggo binério aos verdadeiros pares de contrarios. Como distinguir? Um critério é 0 de se considerar como bindrio o par que figura numa ligagio de binérios. Isso causa surpresas, revela como par de contrérios, duplas que, 8 primeira vista, causam barroco heteréclito. Quando hé muitos bindrios, uma ligagao entre esses bindrios 6 uma ligagdo entre elementos desses binérios que ¢invariante por inversao par. O que é uma inversio par? Fdefinida pelo exemplo acima. O que é uma ligago entre elementos de bindrios? Nao esti definido, No caso do jogo de cara e coroa, sfio {Ormulas verdadeiras onde os elementos de bindrios figuram como palavras. O que € a invarifincia de uma ligagio por uma \vansformagiio? Nao esté definido. Nocaso do jogo de cara e coroa, € 0 fato de que pela transformagio vina fOrmula verdadeira se torna uma f6rmula verdadeira, H14, neste texto, frases em que figuram elementos de bindrios que nao so invariantes por inversfio par. Todas as formulas numeradas so invarlantes por inversdo par. Certas formulas umeradas exprimem a invaridncia por inversso pur de ovtras {6rmulas. E elas préprias tém a \nvaridinela por inversio par. Exprimir a ligacdo ‘lon elementos de varios bindrios € dificil, jedundante, IncOmodo, O habito quanto a isto (wim, 6, para limitar a redundancia e o incdmodo, © (le conservar apenas alguns representantes da liqayho dos elementos, & esterilizante. A ligagdo slo binirios permite se escapar ao incdmodo sem # peidler ie inyorifincias, Masistotambém permite ue e eReApE A difleuldade de se exprimiraligagéo Hoe elemento canola val-eovem elétrico “ £ uma montagem elétrica corrente. Chama-se um “vai-e-vem”. Seja num niimero inteiro, Han interruptores de duas posigdes. Hé um aparelho elétrico, por exemplo, uma lampada, que pode estar acesa ou apagada. A montagem fazcom que ela possa estar acesa ou apagada a partir de qualquer dos n interruptores. Quais sio os binérios? Hé (n+1). (Acende, Apaga), para a lampada. As duas posigées para cada interruptor. ‘O.uso corrente é de se utilizar um s6 interruptor de cada vez, 0s outros permanecendo como esto e, invertendo-se esse interruptor, entdo, sea Jmpada estava acesa, ela se apaga, se estava apagada, se acende. Um outro uso seria o de inverter dois interraptores ao mesmo tempo e verificar que a lampada néo muda de estado. Os (n+1) bindrios correspondentes a n interruptores e uma lampada, esto ligados. Os n bindrios correspondentes aos n interruptores so independentes, isto é, pode-se colocar os interruptores em qualquer posi¢do, independentemente uns dos outros. Na verdade, n bindrios quaisquer, tomados entre os (n+1), so independentes. O vai-e-vem elétrico mais corrente € uma lampada e dois interruptores. Isso dé trés bindrios ligados e independentes dois a dois. A propriedade de escrita para os bindrios Os binarios ea ligagio dos bindrios, de onde vém? Vém do caracterizar objetos no espago que existem em estado de dois exemplares. Vém do manipular, no concernente ao né borromeano, os bindrios seguintes: (Em Cima, Em Baixo) (Antes, Depois) (Subir, Descer) (Interno, Externo) (Positivo, Negativo) (Esquerda, Direita) (Levo, Dextro) as duas circulagOes de trés cores. Lacan definiu a propriedade de escrita. Primeira definig&o: seja n um inteiro. n elementos fazem escrita ssi: - os n elementos estéio ligados - se retiramos um elemento qualquer, os (n-1) elementos restantes ficam independentes. No caso dos nés: Um né de n rodelas faz escrita ssi: - as n rodelas nfo se podem separar - se retiramos uma rodela qualquer, as (n-1) rodelas restantes so completamente separadas. Para os bindrios, dé-se também a propriedade de escrita. Hé dificuldades de definicéo. Para poder indicar essas dificuldades, farei uma reformulagdo da propriedade de escrita. O termo “elemento” serviu precedentemente para desi gnar os dois elementos de um bindrio. Aqui, ele serviré para designar um elemento de um conjunto qualquer, e, em particular, um bindrio de um conjunto de binarios. Segunda definigéo: H& os “conjuntos com ligago”. Um “conjunto com ligago” pode estar 0u ndo “ligado”. Um “conjunto com ligagd0” pode ser ou néo “independente”. Ha a operagdo do “elemento a menos”: Seja um “conjunto com ligagdo”. Seja um elemento. Ha, entéio, um “conjunto com ligagio” que é 0 resto quando se retira 0 elemento, Um “conjunto com ligagio é uma escrita ssi: - ele estd ligado, - se retiramos um elemento qualquer, o resto é independente. No caso dos binétios: Os cinco bindrios (Eu, Voce) ¢ (Ganho, Perde) e (Branco, Negro) e (Cara, Coroa) e (A, B) foram ditos ligados, Nao tém a propriedade de escrita. Os trés bindrios (Eu, Vocé) € Ganho, Perde) e (Branco, Negro) foram ditos ligados. Tém a propriedade de escrita. Os trés bindrios (Branco, Negro) e (Cara, Coroa) e (A, B) foram ditos ligados. Tém a propriedade de escrita. Os quatro bindrios (Eu, Voc’) e (Ganho, Perde) (Cara, Coroa) e (A, B) foram ditos ligados. Tém a propriedade de escrita. Os (n+1) bindrios do vai-e-vem elétrico foram ditos ligados. Tém a propriedade de escrita. Problema: o objeto teunindo varios binérios ndo € definido, a independéncia dos bindrios € reconhecfvel mas no definida, eu nfo conhego uma nogio de ligagdo geral cujos “ligado", “independente”, “escrita” sejam casos especiais. De fato, para os bindrios, encontra-se logo aescrita. A propriedade de escrita para os bindrios abre um cAlculo sobre os bindrios. A propriedade “os bindrios A, B,C, D fazem escrita” abre a operagio “A = B* C* D” ou “A = C* B® D” ou “B= At C* D”. (Na verdade, € um cilculo sobre as involugdes subjacentes aos binarios). Problema interessante: sejam varios bindrios independentes; encontrar um bindrio que os ligue. © n6 borromeano orientado. O problema Eis aqui 16 figuras, que sio 16 nos borromeanos orientados planeados. (quadro 16) Por que se interessar por essas 16 figuras? Nao se justifica aqui. O problema é: “Esses 16 nés orientados planeados definem um s6 n6é orientado”. A demonstragio € por ter suficientes transformagoes para assegurar a passagem de qualquer um dentre esses 16, para qualquer outro. As transformagées em questo devem mudar 0 nd orientado planeado e nao mudar 0 né orientado. Caracterizago das 16 figuras: Essas 16 figuras sio 8. Certas figuras esto desenhadas trés vezes, trés vezes que 86 se diferenciam pelo alto € pelo baixo do papel. As figuras desenhadas trés vezes sho aquelas em que as rodelas néo tém todas © mesmo sentido, Cada figura é levo ou dexiro, de acordo com sua zona central ser levo ou dextro. Fi a Giragdo, Cada rodela esté orientada no planeamento, seja no sentido positivo, seja no negativo. E 0 Sentido da Rodela. A giragiio € os ntidos das trés rodelas, so caracteristicas suficientes para distinguir e caracterizar essas oito figuras, esses oito nds borromeanos orientados planeados Quais transformacoes? Hé revirada do planeamento, que inverte 0 sentido das rodelas © conserva a giraca revirada da rodela, que conserva o sentido de duas rodelas, inverte o sentido de uma rodela e inverte a giragio. Essas transformagdes bastam para assegurar a passagem de qualquer uma dessa para qualquer outra, Vou dar mais transformacoes, seja no total: - Ha revirada do planeamento, que inverte o sentido das rodelas ¢ conserva a giracio. - Hé mudanga interno-externo, que inverte o sentido das rodelas ¢ inverte a giragio. - Ha revirada de banda, que conserva 0 sentido das rodelase invertea giragio, - Ha reviradade rodela, que conserva o sentido de duas rodelas, inverte 0 sentido de uma rodela e inverte a giragio A revirada de banda seré definida de duas maneiras diferentes. - Hé revirada de banda, Isso consiste em mudar, sendo a meada levada por uma banda, as duas faces da banda, sem deslocar a rodela que carrega a banda. (quadro 17-1) Isso conserva o sentido das rodelas e inverte a giragao. Definigao das transformagoes. ‘Uma maneira especial de assegurara revirada de banda no caso do n6 borromeano planeado. A passagem de 1 a 7, passando por 2, 3, 4, 5, 6, € equivalente a revirada da banda. Isso conserva 0 sentido das rodelas ¢ inverte a giracdo. Ver no final, as duas péginas de desenhos numerados de 1a7. Definigdo das transformagées. A revirada de rodela. (quadro 17-2) Isso inverte 0 sentido de uma rodela, conserva o sentido de duas rodelas e inverte a giragio. (quadro 18) UMA PROPRIEDADE — NAO DEMONSTRADA Aqui estéo dois nés planeados coloridos orientados: (quadro 19) Cada um deles define um né colorido orientado. Problema : Definem eles o mesmo né colorido orientado ou dois nés coloridos orientados diferentes? Dito de outra forma: Problema : Sim ou nio existe uma deformagao no espago que faga passar de um a outro? O problema proposto é um problema de reconhecimento Os nés sio conhecidos apenas por suas apresentagdes, Dadas suas apresentagdes de nés, definem clas um mesmo né ou dois nos diferentes? f. um problema de reconhecimento, Um algoritmo de reconhecimento é um algoritmo que resolve todos os problemas de reconhecimento. Um algoritmo de 41 reconhecimento dos nés é um algoritmo que, a partir de duas quaisquer apresentagSes de nés, consegue indicar se, sim ou nfo, definem um mesmo n6. Nao se conhece nenhum algoritmo de reconhecimento dos nds. Solugio do problema colocado: propriedade (nao demostrada): Os dois nés so planeados coloridos orientados, dados acima, definem dois nds coloridos orientados distintos. Bis aqui, agora, uma reformulagéo da propriedade nfio demostrada. Os dois nés planeados coloridos oritentados, dados acima, definem 0 mesmo n6. (Em sua apresentago, s6 diferem na orientacio, definem o mesmo né planeado colorido). Este né & chamado 1n6 borromeano. Whitten, em 1969, assim definiu a propriedade de "inversibilidade" de um n6: "Um Jago ordenado orientado L, com m componentes, mergulhado ndodesordenadamente em umaesfera rientada S, seré dito inversivel se, e apenas neste caso, existir umautohomeomorfismoconservando 8 orientago de S, que transforma sobre si mesma cada componente de L, invertendo a orientaco" Com uma tal linguagem, a propriedade nao demostrada se equivale a: Propriedade (ndo demonstrada): segundo Whitten 1969, 0 n6 borromeano nao é inversfvel. A inversabilidade foi definida por Fox, em 1962, no concernente aos nés de uma s6 rodela, € por Whitten 1969 no tocante aos nés de diversas fodelas, Em 1962, s6 se conheciam nés nfosinversiveis. A primeira propriedade de nho-inversibilidade foi dada por Trotter, em 1964. Referéncias: Fox, 1962, "Some problems of jot theory", Trotter, 1964, "Non-invertible knots exist”, Whitten, 1969, "A pair of non-invertible Hinks", O problema da inversiblidade de um né € ou no um caso especial de problema de reconhecimento? O problema da inversibilidade de um n6 € ou jlo um easo especial de problema de invaridncia 1) notural intere niio s6 pela invariancia do wulomorfismo de inversio mas por todos os ulomorfismos © por todas as invariincias. No uno do nO borromeano colorido orientado, hé 96 julomorfiamos de invarlincias e dois exemplares fuiomorfos, Nao ¢ imediato. Um fracnnso no estabelecimento de uma Ayurn de nd ow UJ) enguno de perspectiva “ (Ver quadros 20, 21 e 22) Os nés so conhecidos apenas por suas apresentagdes. Dadas suas apresentagdes de nés, definem elas um mesmo né ou dois nés diferentes? E um problema de reconhecimento. Um algoritmo de reconhecimento € um algoritmo que resolve todos os problemas de reconhecimento. Um algoritmo de reconhecimento dos nés é um algoritmo que, a partir de duas quaisquer apresentagbes de nés, consegue indicar se, sim ou nio, definem um mesmo n6. Nao se conhece nenhum al goritmo de reconhecimento dos nés. Solugéo do problema colocado: propriedade (no demostrada): Os dois nés sio planeados coloridos orientados, dados acima, definem dois 16s coloridos orientados distintos. Eis aqui, agora, uma reformulagio da propriedade nao demostrada. Os dois nés planeados coloridos oritentados, dados acima, definem 0 mesmo né. (Em sua apresentacao, sé diferem na orientagao, definem 0 mesmo né planeado colorido). Este né é chamado n6 borromeano. Whitten, em 1969, assim definiu a propriedade de "inversibilidade” de um né: "Um lago ordenado orientado L, com m componentes, mergulhadonao desordenadamente em umaesfera orientada S, serd dito inversivel se, e apenas neste caso, existir umautohomeomorfismoconservando 2 orientagdo de S, que transforma sobre si mesma cada componente de L, invertendo a orientagio". Com uma tal linguagem, a propriedade nio demostrada se equivale a: Propriedade (nao demonstrada): segundo Whitten 1969, 0 nd borromeano nao é inversivel. A inversabilidade foi definida por Fox, em 1962, no concernente aos nés de uma sé rodela, € por Whitten 1969 no tocante aos nés de diversas rodelas. Em 1962, sé se conheciam nds néo-inversiveis. A primeira propriedade de néo-inversibilidade foi dada por Trotter, em 1964. Referencias: Fox, 1962, "Some problems of Knot theory”. Trotter, 1964, "Non-invertible knots exist". Whitten, 1969, "A pair of non-invertible Jinks". O problema da inversiblidade de um né é ou nao um caso especial de problema de reconhecimento? O problema da inversibilidade de um n6 € ou no um caso especial de problema de invariancia. E natural interessar-se no s6 pela invaridincia do automorfismo de inversio mas por todos os automorfismos € por todas as invaridncias. No caso do né borromeano colorido orientado, hé 96 automorfismos de invaridncias e dois exemplares automorfos. Nao é imediato. Seminario do 11 de marco de 1975 Tive duas raz6es de encorajamento, para me levantar 0 moral (qual é ento 0 outro, nao € 0 de voces? Este, 0 que €? Bom, entio tirem, é um a mais!). Bom, tive duas raz6es de encorajamento para tomar um viés outro que aquele em que me viram da tltima vez, € porque tive a fraqueza de autorizar a publicagdo desses semindrios num certo boletim, tive, ao mesmo tempo, a obri gagio de ter que olhar os dois primeiros, que devem sair no segundo niimero desse boletim; e que, afinal, disse para mim mesmo que, apesar da dificuldade que ha, no, é claro, a me orientar mas a sustentar o interesse de voo8s pelo que enuncio este ano do R.S.I. e, meu Deus, mesmo esses primeiros \rilhamentos dos dois primeiros seminérios nio assim tao insustentaveis. A segunda razo de encorajamento foi-me dada pela resposta, nfo estou bem certo de que seja simplesmente uma resposta, quero dizer que as oas que me enviaram dois papéis sobre os nés, © muito especialmente os nds borromeanos, Michel Tomé e Pierre Souris, esse papel tem algo muito digno de interesse. E a esses papéis que respondem os desenhinhos da fileira de baixo. Quanto aos primeiros, os da primeira fileira, sao 0 prosseguimento do que tenho a |hes dizer, do que me propus Ihes dizer este ano. R.S.L, ento, escrevo este ano, como titulo, slo 86 letras, e como tais, supdem uma equivaléncia, O que resulta de que eu as fale, a ‘ossus letras, servindo-me delas como iniciais, e se us falo como Real, Simbélico e Imaginério, isso Joma sentido, e essa questio do sentido, é justo 0 que tento situar este ano. Isso toma sentido, mas 0 préprio do sentido é ue se nomeie af alguma coisa, ¢ isto faz surgi a diz-mansio, a diz-mansio justamente dessa coisa yun que so as coisas, € que se fundam no Real, dizer, um dos trés termos com que fiz algo poderia chamar emergéncia do sentido. Nomed-los, foi o que fiz, nao direi ainda que temonstrando, pois isso se resume a al go que nfio # (nuis demonstrdvel que 0 n6 borromeano, isso se ‘enue 4 uma demonstragéo. Se fui levado a mostragdo desse n6, enquanto 0 que buscava era uma demonstragiio de um fazer, o fazer do discurso analitico, isso € bastante, diria eu, mostrativo ou demonstrativo. O que quer que seja oque eu queria adiantar hoje, € algo de que eu, néo sem malicia, porque permeio sempre as coisas assim, bem de leve, hd alguma malfcia af -e nio € pouco, também, reconhecé-la- é que !hes indiquei um dia, que, em Freud, isso gira em tomo do Nome do Pai, isso no faz nenhum uso do Simbélico, do Imaginario, nem do Real, mas no entanto, os implica. E 0 que quero thes dizer, € que, nao foi A toa que nao falei_ do Nome do Pai, quando comecei, como imagino que alguns o sabem, j4 que repiso um bocado, falei, dos Nomes do Pai. Pois bem, os Nomes do Pai, é isso: 0 Simbélico, o Imagin4rio, e 0 Real, naquilo que, pelo meu sentido, com 0 peso que dei ainda hé pouco, a palavra sentido, ¢ isso os Nomes do Pai. Os nomes primeiros, enquanto nomeiam algo que, como indica a Biblia para com esse extraordindrio negécio que nela é chamado Pai, 0 primeiro tempo dessa imaginago humana que é Deus, foi consagrado a dar um nome, meu Deus! a algo que nao é indiferente, um nome a cada um dos animais. Claro, antes da Biblia, quer dizer, a escrita, havia uma tradigo, no veio assim do nada. E sensivel, ao ponto de que deveria impressionar, enfim, aos amantes da tradicdo. E gue uma tradigdo é sempre o que eu chamo babaca. E inclusive por isso que se tem devogio, nio hé maneira de se prender a isso sendo pela devogio. E sempre de forma horrorosa, € 0 que acabo de dizer. Tudo que se pode esperar de uma tradigo, € que seja menos babaca que outra. Como se julga isso? Entramos af no mais ou menos. Julga-se isso pelomais-gozar enquanto produgdo. O mais-gozar 6, bem evidentemente, tudo que se tem para encher a barriga. E porque se trata do gozar que se acredita . © gozat, se podemos assim dizer, esté no horizonte desse mais e desse menos. E um ponto ideal. Ponto ideal que a gente chama como pode, o falo, de que jé sublinhei, num outro dia, que, no falesser, tem sempre sua relaco mais estreita, € a esséncia do cémico. Tao logo falem de 44 algo que tenha relagéo com 0 falo, 6 cémico. O cOmico nada tem a ver com o chiste. Assinalei isto em outra época, quando falei do chiste. O alo, é outra coisa, é um comico como todos os cSmicos, é um cOmico triste. Quando vocés Iéem Lisistrata, podem pegé-lo pelos dois lados. Rir, ou achar amargo. Deve-se dizer também que 0 falo é 0 que dé corpo ao Imagindrio. Lembro af algo que muito me impressionou na época, Eu tinha visto um filminho que me fora trazido por Jenny Aubry, a titulo de ilustragéo a0 que eu chamava naquele momento de estddio do espelho. Havia uma crianga diante de um espelho, que néo me lembro mais se era uma garota ou um garotinho. E inclusive impressionante que eu no me lembre mais. Alguém aqui se lembra talvez, mas 0 que € certo, € que a garotinha ou menino, peguei af,em um gesto, algo que, aos meus olhos, tinha o valor disto que, a se supor, como fago, em fundamentos pouco seguros, a saber, que esse estddio do espelho consiste numa unidade captada, no ajuntamento, no dominio assumido do fato da imagem disto que esse corpo de prematuro, de descordenado até af, parece ajuntado. Fazer disso um corpo, saber que o domina, o que néoacontece, sem que se possa, é claro, afirmé-lo, 0 que nao acontece, no mesmo grau, aos animais, que nascem maduros, nao hé essa alegria, do estédio do espelho, a que chamei jubilacdo. Pois bem, hé realmente um lago, um lago disso a algo que se fizera senstvel nesse filme, por algo que, fosse um menininho ou uma menininha, insisto, tinha o mesmo valor: a elisdo, na forma de um gesto, a nndo que passa pela frente, a elisdo disto que fosse talvez. um falo, ou talvez sua auséncia. Um gesto claramente o retirava da imagem. E isso sensibilizou-me como cortelato, se posso assim dizer, desta prematuragao. Ha af algo cujo lago é, de certa forma, primordial por relagio a isto que se chamard, mais tarde, pudor, mas que seria excessivo fazer parte na etapa dita do espelho. O falo, pois, é 0 Real, sobretudo enquanto se © elide. Se voltarem ao que trilhei este ano, tentando fazé-los consonar consisténcia, ex-sisténcia e buraco, por outro lado, a Imagindrio, Real para ex-sisténcia e Simbélico, direi, entio, que 0 falo, nao é a ex-sisténcia do Real. Hé um Real que ex-siste com esse falo, que se chama gozo, mas é antes a consisténcia, é 0 conceito, se posso assim dizer, do falo. Com o conceito faco eco palavra Begriff , 0 que nio € téo mau, pois, em suma, esse falo € 0 que se pega com a méo. Ha algo no conceito que nio deixa de ter relagao com esse antincio, essa prefiguragdo de um 6rgdio que no € ainda tomado como consisténcia, mas 45 como apéndice, ¢ que é bastante bem manifestado naquilo que prepara o homem, como nos dizem, enfim, ou isso que se Ihe parece, isso que nao esté longe, quer dizer, 0 macaco. O macaco se masturba, todos sabem e é nisso que se parece com o homem, fica bem claro, No conceito, hé sempre algo da ordem da macaquice, A nica diferenca entre © macaco € 0 homem, ¢ que o falo, nele também, néio deixa de consistir, seja ele femea ou macho, um falo, como ilustrei naquela breve visi de ainda ha pouco, valendo sua auséncia, Donde oacento especial que o falesser poe no falo, neste sentido de que 0 gozo ai ex-siste, que esté af 0 acento proprio do Real, O Real, enquanto ex-siste, quer dizer, 0 Real como R a segundo poténcia, é tudo que esse fale dodois, éapoténcia. Seja, uma aparéncia pela qual ele se mantém o apenas um. Ff o que se chama 0 ser. Isso, de partida, um elevado A segunda poténcia, igual a um Deve haver uma ligagio, j4 que contei isso assim, j4 indicando, deve haver um laco entre isso eo sentido, ou seja, isso porque o um se aplica to bem ao zero. Foi Frege que o descobriu , em outra época, jé tagarelei quanto a diferenca entre Sinn € Bedeutung , isto é, algo em que se vé a diferenca do zero a0 um, sempre sugerindo que nao é uma diferenga. Nada melhor que o conjunto vazio para sugerit 0 um. Afesté. Como, entéo, o Simbélico, como isso de que fiz simplesmente observar ter seu peso na pratica analitica, quer dizer, isto que no comum se chama de blé-blé-bl4, ou ainda, Verbo; tudo isso Se parece, como causa isso 0 sentido? Eis a questo, que s6 coloco tendo a resposta: estard na idéia do Inconsciente? Ser4 isto o que digo desde © primeiro discurso de Roma? Interrogacio, Nao esté na idéia do Inconsciente. Esta na idéia de que o Inconsciente ex-siste, escrito como escrevo, isto 6, que ele condiciona o Real, o Real des designo pelo falesser. Ele nome i hé pouco eu o evocava a propésito daquela brincadeira primeira da Biblia no Parafso Terrestre. Ele nomeia as coisas para esse falesser, quer dizer que esse ser que é, ele proprio, uma espécie animal mas que se diferencia singularmente, cle é animal apenas nisto -porque, animal, isso nfo quer dizer nada- isso nada quer dizer, caracterizar animal pela sua maneira de reproduzir, sexuada ou nfo sexuada, Um animal, € isso, € 0 que se reproduz. S6 que, como esse animal € parasitado pelo Simbdlico, pelo bli-blé? Parece-me, ai, mas ¢ pouco provavel, que eu me distingua da gente da mesma espécie animal que, dememéria de homem, sabem que falam, mas no © explicitam, e 0 que mostra que nio explicitam, € claro, € que nao o tenham dito, tudo se disse no blé-bl4. Eles ndo o explicitam, por isso: sonham em néo serem os tinicos. Isso € visceral. Escrevam os tnicos, se quiserem: |-a-i-s-s-e-u-I-s, ‘| para evocar os deixados sozinhos nesse falatério. Hoje em dia, isso se manifesta assim, nessa necessidade frenética de se descobrir a linguagem dos golfinhos, das abelhas, enfim, por que nao? Enfim,sempre um sonho. Antigamente, isso tomava outras formas, o que mostra ser sempre um sonho. Sonhavam haver pelo menos um Deus que fala e que, sobretudo, nao fala sem que isso tenha efeito, que causa 2. O incrivel é essa confusio que quer que se acoste nesse Deus uns sub-falantes. Anjos, € como chamam, comentaristas, ora! Hé também algo, enfim, um pouco maissério, € que vem desse fato de que ha um pequeno avango, nfio um progresso, € claro, porque ndo ha {iO para que no se continue a se confundir, é que na Lingufstica, isto é, sobre a palra, distingue-se ao menos o dar 0 nome, o nomear, 0 consagrar uma coisa com um nome da palrago. Vé-se, de qualquer forma, af, que € distinto da comunicagéo. Que é af que a palragio, por assim falar, se ata, a algo do Real. “Naming”. Qual relagio desse “naming”, como diz o titulo de um livro, com a necessidade? O incrivel é que, hd muito tempo, houve um lal de Platdo que se deu conta de que era preciso af ‘© lerceiro termo, da idéia, do eidos , que € mesmo uma 6tima palavra grega para traduziro que chamo Imagindrio, porque quer dizer a imagem. Ele viu muito bem que, sem o eidos , néo havia a menor chance que os nomes colassem as coisas. Néo chegava até o ponto de ele enunciar 0 né borromeano dos trés, do Real, do Simbélico, do Imuginério. Mas € porque 0 acaso néo tinha njudado. A idéia fazia, para ele, a consisténcia do Keal. Nio obstante, no sendo, a idéia, no seu lempo, sendo nomedvel, resultava dai o que se deduziv, € claro, 0 que se deduziu assim com 0 diseurso universitério, o realismo do nome. Deve ‘alismo do nome, é melhor que o nominalismo do Real, a saber, que o nome, meu Deus, é posto, poe-se qualquer um para designar 0 Neal, O nominalismo filos6fico, assim, nao é para que ev marque uma preferéncia, marco simpleamente que onominalismo, trata-se, a saber, # Imundiele de que o mundo se purifica, em we dizer ore jirinelpio, we é que mundo hi. © que nfo quer dizer que ele consiga CO homem esd sempre ali, A ex-sisténcia do Linunild # suber, do que niio é mundo, af esté o Real, sem mais. Mas isso bem vale que se 0 leve até 2 elaboraco do quantificador 3y, (ele ex-siste tal x) que, melhor que um x, mais valeria dizer uma X, para que ela ex-sista desde entdo, essa uma. A ex-sisténcia como uma, eis 0 que € preciso se perguntar, é em qué ela ex-siste. Ela ex-siste na consisténcia ideica do corpo, essa que esse corpo reproduz, bem como Platéo muito bem situa, segundo a formula que agora contaminamos com a idéia da mensagem pretensa dos genes. Ela ex-siste no Simbdlico em tanto que o Simbélico gira em torno de um buraco inviolvel, sem o que, 0 n6 dos trés nio seria borromeano. Pois é 0 que n6 borromeano quer dizer. E que 0 buraco do Simbélico € invioldvel. Af est, por que entdo nfo escrever assim, na ordem que é mais simples de se escrever: 0 Simbélico aqui (quadro 23). fi ele que ponho em rodela ali. O Simbélicoimpondo-se ao Imaginério, que coloco em verde, cor da esperanga. Vé-se como o Real af ex-siste, por nfo se comprometer, néio mais que o Imagindrio, em se atar como dito Simb6lico em particular. Af, entio, mostrei-Ihes enquanto estava ali, afinal, que, qualquer que seja o sentido em que girem esse Imagindrio esse Real, eles se cruzardo, comoaqui planeado, de maneira, em todo caso, a nao fazer cadeia. Pois a indicacio aqui, nessa forma de cruzamento, € igualmente que essas duas consisténcias possam ser retas ao infinito, mas 0 que se deve muito bem precisar € que, como quer que se conceba esse ponto no infinito que foi sonhado por Desargues, como especifico da reta, uma reta que retorna, de uma das suas pontas & outta, deve-se, pelo menos, esclarecer isto, que de forma alguma ela se imagine dobrar, sem que aquela que, antes, passava por cima, passe ainda por cima da outra. Ao que chegamos, entéo, € que, para demonstrar que o Nome do Pai nada mais € que esse n6, no h4 outro modo de fazé-1o sendo se os, supondo desatados. Mas niio passemos esse Simbélico diante do Imagindrio... Vi que preciso acrescentar. Claro, € a cor errada! A apartir daf, qual a maneira de atar essas trés consisténcias independentes? Hé uma maneira, que é esta (quadro 26), a que chamo de Nome do Pai. E 0 que fez Freud e, a0 mesmo tempo, reduzo o Nome do Pai & sua fungo radical, que € a de dar um nome &s coisas, com todas as consequéncias que isto comporta, porque consequéncias mancardo ( manquer ). Atéo gozar, sobretudo, como indiquei ainda hd pouco. Eu tinha jé feito um tracado, desses quatronés como tais. Tinha, inclusive, feito um errado. Mas 46

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