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TJDFT 2013

DIREITO ADMINISTRATIVO
PROFESSOR LUCIANO OLIVEIRA – AULA 08

Olá, concurseiros! Vamos à nossa aula 08 para Técnico do TJDFT


2013. Hoje falaremos sobre processo administrativo e Lei 9.784/1999.

1. Introdução

Podemos definir o processo administrativo como um conjunto de


atos administrativos ordenados para a solução de uma controvérsia no
âmbito administrativo ou para a obtenção de uma decisão final da
Administração.

Cumpre apontar algumas diferenças entre o processo


administrativo e o processo judicial. Neste, nós temos a conhecida
trilateralidade do processo, em que o Estado-juiz se posiciona de forma
equidistante das partes: autor e réu.

Juiz

Autor Réu

Vale notar que, no processo judicial, é possível que uma das partes
seja o Estado-administração e a outra, o administrado. Neste caso, ainda
assim, o Estado-juiz decidirá o litígio de forma imparcial e com
equidistância das partes.

Já no processo administrativo, o próprio Estado-administração é


quem toma a decisão no processo, sendo, ao mesmo tempo, parte e
decisor. Por isso, não há a equidistância presente no processo judicial.
Em vez de trilateralidade, temos apenas uma bilateralidade.

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Administração

Administrado

Essa, aliás, é uma razão para outra diferença entre o processo


judicial e o processo administrativo: uma vez que não se pode dizer que,
neste, o Estado decide com imparcialidade, a decisão administrativa não
faz coisa julgada, isto é, não se torna soberana, imodificável (como
ocorre com a decisão judicial, quando esgotados todos os recursos).
Caso o administrado não se conforme com a decisão definitiva que a
Administração tomou, se ele entender que houve ofensa a algum direito
seu, ele sempre poderá procurar o Poder Judiciário (Estado-juiz), para
que este resolva a controvérsia. Assim, o que começou como um litígio
administrativo pode se transformar em uma disputa judicial.

Tal possibilidade de ida ao Judiciário é consagrada na nossa


Constituição Federal, sendo conhecida como princípio da
inafastabilidade da jurisdição. Segundo o art. 5.º, XXXV, da CF/88, a
lei não excluirá da apreciação do Poder Judiciário lesão ou ameaça a
direito. Tal regra prevalecerá mesmo quando o autor da lesão ou da
ameaça for o próprio Estado.

Note ainda que o preceito constitucional reza que a lei não excluirá
a lesão ou a ameaça a um direito da apreciação do Poder Judiciário.
Isso significa que todo e qualquer conflito de interesses juridicamente
protegidos pode e deve ser apreciado definitivamente (com força de
coisa julgada) somente por esse Poder. Assim, no nosso país, impera a
chamada jurisdição única (sistema inglês), ao contrário de outros
países, em que a Administração, em certos casos, pode decidir
soberanamente em um processo administrativo (sistema chamado de
jurisdição dualista, contencioso administrativo ou sistema
francês).

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2. A Lei 9.784/1999

Na esfera federal, vigora hoje a Lei 9.784/1999, que regula o


processo administrativo no âmbito da Administração Pública Federal.
Embora seja uma lei apenas federal, isto é, de aplicação restrita à esfera
federal, muitos Estados já a adotaram expressamente, por leis próprias,
ou elaboraram leis de teor semelhante, para regular os processos
administrativos em suas respectivas esferas.

Assim, ainda que você resolva estudar para um concurso estadual


(e mesmo municipal), é bem provável que a maior parte do que é dito
neste capítulo também sirva plenamente aos seus estudos. Inclusive, o
STJ, em muitos casos, já decidiu que os preceitos da Lei 9.784/1999
devem ser aplicados aos Estados, por analogia, se não houver legislação
estadual específica regulando o tema.

Segundo o art. 1.º da Lei, ela estabelece normas básicas sobre o


processo administrativo no âmbito da Administração Federal direta e
indireta, visando, em especial, à proteção dos direitos dos
administrados e ao melhor cumprimento dos fins da
Administração. Seus preceitos se aplicam não só aos órgãos do Poder
Executivo, mas também aos dos Poderes Legislativo e Judiciário da
União, quando no desempenho de função administrativa. Embora não
esteja explícito na Lei, sua aplicação se estende também ao Ministério
Público da União (MPU) e ao Tribunal de Contas da União (TCU).

Para os fins da Lei 9.784/1999, considera-se: órgão a unidade de


atuação da estrutura da Administração direta e indireta; entidade a
unidade de atuação dotada de personalidade jurídica; e autoridade o
servidor ou agente público dotado de poder de decisão. Quanto às
definições de órgão e entidade, a Lei nada mais faz que consagrar o que
já é tradicional na doutrina: que órgão é um centro de competência
desprovido de personalidade jurídica, ao passo que entidade é a unidade
administrativa dotada dessa personalidade. São entidades federais: a
União (pessoa política) e as autarquias, fundações públicas, empresas
públicas e sociedades de economia mista federais (pessoas
administrativas da Administração indireta).

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Conforme o art. 69 da Lei 9.784/1999, os processos


administrativos específicos continuarão a reger-se por lei própria,
aplicando-se-lhes apenas subsidiariamente (ou seja, na lacuna de suas
respectivas leis) os preceitos dessa Lei. Como exemplo de processo
administrativo específico, temos o processo administrativo disciplinar
(PAD), regulado pela Lei 8.112/1990.

3. Princípios do Processo Administrativo

O art. 2.º, caput, da Lei 9.784/99 consagra alguns princípios da


Administração Pública, aplicáveis, por óbvio, ao processo administrativo.
Eles já foram estudados na aula de princípios administrativos, à qual
remetemos o aluno, para evitar repetições. São os seguintes os
princípios enunciados expressamente no dispositivo legal: legalidade,
finalidade, motivação, razoabilidade, proporcionalidade,
moralidade, ampla defesa, contraditório, segurança jurídica,
interesse público e eficiência. Não custa lembrar que a finalidade e o
interesse público são, na verdade, aspectos do princípio da
impessoalidade, conforme ensinamos naquela aula.

Ademais, não ficam excluídos outros princípios igualmente


aplicáveis ao processo administrativo e à atividade administrativa em
geral, como os da publicidade, isonomia, probidade etc.

Além dos citados acima, a doutrina costuma enumerar também


como princípios do processo administrativo os seguintes: verdade
material (ou verdade real), informalismo (ou formalismo moderado),
oficialidade (ou impulsão oficial) e gratuidade.

O princípio da verdade material diz que, no processo


administrativo, importa conhecer o fato efetivamente ocorrido, saber
como se deu o fato no mundo real. Nisso se diferencia o processo
administrativo do processo judicial civil, em que o juiz só aprecia os fatos
apresentados pelas partes (princípio da verdade formal). Assim, tomando
conhecimento de fato relevante para o processo administrativo, mesmo
que não levantado pelos interessados, pode a Administração considerá-lo
no julgamento do caso.

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O princípio do informalismo significa que, nos processos


administrativos, a Administração deve adotar formas simples, apenas
suficientes para propiciar um adequado grau de certeza, segurança e
respeito aos direitos dos administrados, abolindo formalismos excessivos
e que em nada contribuem para o desfecho do processo. O formalismo
moderado se traduz também na exigência de interpretação flexível e
razoável quanto à forma de se praticar os atos do processo
administrativo, para evitar que essa forma seja vista como um fim em si
mesma, desligada das verdadeiras finalidades do processo. Em relação a
esse aspecto, costuma-se enunciar o princípio da instrumentalidade
das formas.

O princípio da oficialidade, no âmbito administrativo, assegura a


possibilidade de instauração do processo por iniciativa da Administração
(de ofício), independentemente de provocação do administrado, e
também a possibilidade de impulsionar de ofício o processo, adotando-se
todas as medidas necessárias a sua adequada instrução. Não há, como
no processo civil, a necessidade de que a parte dê impulsão ao processo,
pois, se for de interesse da Administração a conclusão do procedimento,
ela mesma poderá adotar as medidas necessárias para tanto. O princípio
da oficialidade autoriza a Administração, por exemplo, a requerer
diligências, investigar fatos de que tomou conhecimento no curso do
processo, solicitar pareceres, laudos, informações, rever os próprios atos
e praticar tudo o que for necessário à consecução do interesse público.

Por fim, o princípio da gratuidade do processo administrativo


prevê que a Administração não deve cobrar custas, ônus de
sucumbência, honorários ou outras despesas no âmbito do processo
administrativo.

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PRINCÍPIOS DO PROCESSO ADMINISTRATIVO


Legalidade
Finalidade
Motivação
Razoabilidade
Proporcionalidade
Expressos na Lei
Moralidade
9.784/1999
Ampla defesa
Contraditório
Segurança jurídica
Interesse público
Eficiência
Supremacia do interesse público
Indisponibilidade do interesse público
Publicidade
Outros aplicáveis
Isonomia
Probidade
Outros cabíveis
Verdade material
Informalismo
Doutrinários
Oficialidade
Gratuidade

4. Critérios do Processo Administrativo

O art. 2.º, parágrafo único, da Lei 9.784/1999 expressa os


chamados critérios do processo administrativo. Veremos que eles nada
mais são que expressão dos princípios acima vistos, de modo que, a cada
critério, é possível relacionar um (ou mais) princípio administrativo.
Vejamos os critérios apresentados no dispositivo e, entre parênteses, sua
correlação com os princípios administrativos:

1) Atuação conforme a lei e o Direito (legalidade);

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2) Atendimento a fins de interesse geral (finalidade ou interesse


público), vedada a renúncia total ou parcial de poderes ou
competências, salvo autorização em lei (indisponibilidade do
interesse público);
3) Objetividade no atendimento do interesse público (finalidade ou
interesse público), vedada a promoção pessoal de agentes ou
autoridades (impessoalidade);
4) Atuação segundo padrões éticos de probidade, decoro e boa-fé
(moralidade);
5) Divulgação oficial dos atos administrativos, ressalvadas as
hipóteses de sigilo previstas na Constituição (publicidade);
6) Adequação entre meios e fins, vedada a imposição de obrigações,
restrições e sanções em medida superior àquelas estritamente
necessárias ao atendimento do interesse público (razoabilidade e
proporcionalidade);
7) Indicação dos pressupostos de fato e de direito que determinarem
a decisão (motivação);
8) Observância das formalidades essenciais à garantia dos direitos
dos administrados (segurança jurídica);
9) Adoção de formas simples, suficientes (leia-se: apenas
suficientes) para propiciar adequado grau de certeza, segurança e
respeito aos direitos dos administrados (segurança jurídica e
formalismo moderado);
10) Garantia dos direitos à comunicação, à apresentação de alegações
finais, à produção de provas e à interposição de recursos, nos
processos de que possam resultar sanções e nas situações de litígio
(contraditório e ampla defesa);
11) Proibição de cobrança de despesas processuais, ressalvadas as
previstas em lei (gratuidade);
12) Impulsão, de ofício, do processo administrativo, sem prejuízo da
atuação dos interessados (oficialidade);
13) Interpretação da norma administrativa da forma que melhor
garanta o atendimento do fim público a que se dirige (interesse
público ou finalidade), vedada aplicação retroativa de nova
interpretação (segurança jurídica).

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5. Direitos e Deveres dos Administrados

O artigo 3.º da Lei 9.784/1999 relaciona os direitos dos


administrados. Segundo o dispositivo, o administrado tem os seguintes
direitos perante a Administração, sem prejuízo de outros que lhe sejam
assegurados:

- ser tratado com respeito pelas autoridades e servidores, que


deverão facilitar o exercício de seus direitos e o cumprimento de
suas obrigações;
- ter ciência da tramitação dos processos administrativos em
que tenha a condição de interessado, ter vista dos autos, obter
cópias de documentos neles contidos e conhecer as decisões
proferidas;
- formular alegações e apresentar documentos antes da
decisão, os quais serão objeto de consideração pelo órgão
competente;
- fazer-se assistir, facultativamente, por advogado, salvo
quando obrigatória a representação, por força de lei.

SÚMULA VINCULANTE Nº 5:

A falta de defesa técnica por advogado no processo


administrativo disciplinar não ofende a Constituição.

Já o artigo 4.º da Lei apresenta os deveres dos administrados,


sem prejuízo de outros previstos em ato normativo:

- expor os fatos conforme a verdade;


- proceder com lealdade, urbanidade e boa-fé;
- não agir de modo temerário;
- prestar as informações que lhe forem solicitadas e colaborar
para o esclarecimento dos fatos.

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6. Interessados no Processo Administrativo

Interessado no processo administrativo é a pessoa que pode atuar


como parte no processo, em defesa de direito próprio ou mesmo alheio,
neste caso, se tiver legitimidade para tanto.

De acordo com o artigo 9.º da Lei 9.784/1999, são legitimados


como interessados no processo administrativo:

- Pessoas físicas ou jurídicas que o iniciem como titulares


(legitimidade ordinária) de direitos ou interesses individuais ou no
exercício do direito de representação (legitimidade extraordinária,
por exemplo, um sindicato representando seus sindicalizados);
- Os que, sem terem iniciado o processo, têm direitos ou interesses
que possam ser afetados pela decisão a ser adotada (por exemplo,
um parente de uma parte no processo, quando os direitos desse
parente forem afetados pela decisão administrativa);
- Organizações e associações representativas, no tocante a direitos
e interesses coletivos (por exemplo, uma associação de servidores
públicos, em defesa de seus associados);
- Pessoas ou associações legalmente constituídas quanto a direitos
ou interesses difusos (ex.: uma entidade que atua em defesa do
meio ambiente);

7. Competência Administrativa

Competência é o poder legal conferido a um agente para a


prática do ato administrativo. A competência deriva da lei e por ela é
delimitada. É elemento sempre vinculado de qualquer ato
administrativo, pois na cabe ao administrador decidir quem praticará
determinado ato, ficando restrito, quanto a este aspecto, ao que
estabelece a lei.

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A competência pode ser atribuída a determinado órgão ou agente,


entre outros critérios, em função da matéria (ex.: saúde, educação,
cultura etc.), da hierarquia (ex.: órgãos de direção e órgãos de
execução) ou do lugar onde será exercida (ex.: órgãos em São Paulo,
Minas Gerais, Ceará etc.).

A competência é intransferível a terceiros por vontade do agente,


pois é conferida por lei. Admite-se, contudo, a delegação e a avocação,
desde que permitidas pelas normas reguladoras da Administração. A
delegação não é a transferência definitiva de competência, pois sempre é
possível sua revogação por vontade do agente delegante.

Segundo o art. 11 da Lei 9.784/1999, a competência é


irrenunciável e se exerce pelos órgãos administrativos a que foi
atribuída como própria, salvo os casos de delegação e avocação
legalmente admitidos. Em outras palavras, ainda que haja delegação ou
avocação, a competência permanece na esfera de atribuições do agente
original.

O art. 12 da Lei permite que um órgão administrativo ou seu


titular, desde que não haja impedimento legal, deleguem parte da sua
competência a outros órgãos ou titulares, ainda que estes não lhe
sejam hierarquicamente subordinados (atenção a esse ponto!),
quando for conveniente, em razão de circunstâncias de índole técnica,
social, econômica, jurídica ou territorial. Tal regra aplica-se,
inclusive, à delegação de competência dos órgãos colegiados aos
respectivos presidentes.

Por sua vez, o art. 13 veda a delegação nos seguintes casos:


edição de atos de caráter normativo; decisão de recursos
administrativos (faz sentido: se a autoridade pudesse delegar a
decisão do recurso ao subordinado, a mesma pessoa que julgou o pedido
poderia também acabar analisando o recurso); e matérias de
competência exclusiva do órgão ou autoridade (pois, aqui, a lei
define expressamente o agente ou o órgão público competente, não se
admitindo a delegação a órgão ou agente diverso, neste caso).

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VEDAÇÃO À DELEGAÇÃO:

Edição de atos de caráter normativo


Decisão de recursos administrativos
Matérias de competência exclusiva do órgão ou autoridade

Segundo o art. 14, o ato de delegação e sua revogação deverão ser


publicados no meio oficial. O ato de delegação deverá especificar as
matérias e poderes transferidos, os limites da atuação do delegado, a
duração e os objetivos da delegação e o recurso cabível, podendo conter
ressalva de exercício da atribuição delegada.

Conforme dito acima, o ato de delegação é revogável a qualquer


tempo pela autoridade delegante. Esta não perde a competência por
havê-la delegado, podendo, a qualquer tempo, chamar o exercício da
atribuição a si novamente. No entanto, as decisões adotadas por
delegação devem mencionar explicitamente esta qualidade e considerar-
se-ão editadas pelo delegado.

Quanto à avocação, ela será permitida em caráter excepcional e


por motivos relevantes devidamente justificados, sempre de forma
temporária, quanto a atribuições de órgãos hierarquicamente
inferiores à autoridade avocante (art. 15).

Inexistindo competência legal específica, o processo administrativo


deverá ser iniciado perante a autoridade de menor grau hierárquico
para decidir (art. 17).

Vale frisar ainda que o ato realizado por agente incompetente ou


por agente que extrapole os limites da competência que lhe foi atribuída
é ato inválido, eivado de excesso de poder. Pode, entretanto, em
certas circunstâncias, ser feita a convalidação de um ato praticado com
vício de competência, conforme visto na aula sobre atos administrativos.

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8. Impedimento e Suspeição no Processo Administrativo

Os artigos 18 a 21 da Lei 9.784/1999 apresentam os casos de


impedimento e suspeição de servidores públicos nos processos
administrativos. A diferença entre impedimento e suspeição é que a
atuação de servidor impedido gera a nulidade do feito. Já a participação
de servidor apenas suspeito no processo não torna este nulo, caso a
suspeição não venha a ser arguida pelo interessado. No entanto, se a
questão da suspeição for levantada, o servidor deverá deixar de atuar no
processo.

De acordo com o art. 18 da Lei, é impedido de atuar em processo


administrativo o servidor ou autoridade que: tenha interesse direto ou
indireto na matéria; tenha participado ou venha a participar do
processo como perito, testemunha ou representante (extensível ao
cônjuge, companheiro ou parente e afins até o terceiro grau); ou esteja
litigando judicial ou administrativamente com o interessado ou o
respectivo cônjuge ou companheiro. Segundo o art. 19, a autoridade ou
servidor que incorrer em impedimento deve comunicar o fato à
autoridade competente, abstendo-se de atuar no processo. A omissão do
dever de comunicar o impedimento constitui falta grave, para efeitos
disciplinares.

Já o art. 20 dispõe que pode ser arguida a suspeição de


autoridade ou servidor que tenha amizade íntima ou inimizade
notória com algum dos interessados ou com os respectivos cônjuges,
companheiros, parentes e afins até o terceiro grau. O indeferimento de
alegação de suspeição poderá ser objeto de recurso, sem efeito
suspensivo (art. 21).

IMPEDIMENTO E SUSPEIÇÃO NO PROCESSO ADMINISTRATIVO


Servidor que tenha interesse na matéria.
Impedimento Servidor que tenha participado ou participe do processo.
Servidor que esteja litigando com o interessado ou cônjuge.
Amizade íntima com interessado, cônjuge ou parente.
Suspeição
Inimizade notória com interessado, cônjuge ou parente.

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9. Início do Processo Administrativo

O processo administrativo pode iniciar-se de ofício (em


atendimento ao princípio da oficialidade) ou a pedido de interessado (art.
5.º). Nos casos em que se inicie a pedido, o requerimento pode ser
escrito ou mesmo oral, quando tal forma for admitida (neste caso,
dependerá do costume do local, bem como da redução a termo da
solicitação oral do administrado).

O requerimento escrito deve conter os seguintes dados (art. 6.º):

- órgão ou autoridade administrativa a que se dirige;


- identificação do interessado ou de quem o represente;
- domicílio do requerente ou local para recebimento de
comunicações;
- formulação do pedido, com exposição dos fatos e de seus
fundamentos;
- data e assinatura do requerente ou de seu representante.

Caso seja necessária a juntada de documentos, para melhor


esclarecimento dos fatos, ou a correção de quaisquer falhas formais no
início do processo, o servidor encarregado deve orientar o interessado
quanto a tais aspectos. Nesse sentido, é vedada à Administração a
recusa imotivada de recebimento de documentos.

Para facilitar a vida dos administrados, os órgãos e entidades


administrativas deverão elaborar modelos ou formulários
padronizados para assuntos que importem pretensões equivalentes
(art. 7.º). Assim, o cidadão poderá comparecer à repartição e
simplesmente preencher o formulário com seus dados e realizar o pedido
à Administração.

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Além disso, dede que não haja vedação legal, quando houver um
grupo de interessados com pedidos de conteúdo e fundamentos
idênticos, eles poderão formular esses pedidos em um único
requerimento (art. 8.º). Por exemplo, um grupo de trabalhadores de
uma mesma empresa solicitando um benefício previdenciário junto ao
INSS, em razão do mesmo fato. Contudo, mesmo nesse caso, nada
impede que eles optem por fazer seus pedidos separadamente.

10. Instrução do Processo Administrativo

A instrução do processo é o conjunto de atos e diligências que


devem ser realizados para o esclarecimento de todos os fatos que
constituem o objeto da questão em análise. Compreende a coleta e
juntada de documentos e provas, a inquirição de testemunhas, o
depoimento das partes, a produção de pareceres e laudos de peritos etc.

De acordo com o art. 29 da Lei 9.784/1999, as atividades de


instrução são destinadas a averiguar e comprovar os dados necessários à
tomada de decisão e podem realizar-se de ofício ou mediante impulsão
do órgão responsável pelo processo (princípio da oficialidade), sem
prejuízo do direito dos interessados de propor atuações probatórias. O
órgão competente para a instrução deverá fazer constar dos autos os
dados necessários à decisão do processo. Sempre que os atos de
instrução exigirem a atuação dos interessados, eles deverão realizar-se
do modo menos oneroso para estes.

Em consonância com o eu dispõe o art. 5.º, LVI, da Constituição


Federal, o art. 30 da Lei reza que são inadmissíveis no processo
administrativo as provas obtidas por meios ilícitos (ex.: documentos
coletados em residência particular, sem mandado de busca e sem
autorização do morador). Vale dizer que as provas ilícitas não invalidam
todo o processo, mas apenas aqueles atos que dependam delas, devendo
os fatos provados por tais provas ser verificados por meio de outros
elementos (desta vez, lícitos).

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É dever do órgão competente realizar a instrução do processo, mas


cabe ao interessado a prova dos fatos que tenha alegado (art. 36). No
entanto, quando o interessado declarar que fatos e dados estão
registrados em documentos existentes na própria Administração
responsável pelo processo ou mesmo em outro órgão administrativo, o
órgão competente para a instrução deverá prover, de ofício, à obtenção
dos documentos ou das respectivas cópias (art. 37).

Em atendimento aos princípios do contraditório e da ampla defesa,


o interessado poderá, na fase instrutória e antes da tomada da
decisão, juntar documentos e pareceres, requerer diligências e perícias,
bem como aduzir alegações referentes à matéria objeto do processo
(art. 38). Para tanto, os interessados têm direito à vista do processo e
a obter certidões ou cópias reprográficas dos dados e documentos que
o integram, ressalvados apenas os dados e documentos de terceiros
protegidos por sigilo ou pelo direito à privacidade, à honra e à imagem
(art. 46). Destaque-se, contudo, que, em caso de risco iminente, a
Administração Pública poderá motivadamente adotar providências
acauteladoras sem a prévia manifestação do interessado (art. 45).

Todos os elementos probatórios juntados ao processo deverão ser


considerados na motivação do relatório e da decisão. No entanto, as
provas propostas pelos interessados que sejam consideradas ilícitas,
impertinentes, desnecessárias ou protelatórias poderão ser
recusadas, mediante decisão fundamentada. Recomenda-se, todavia,
extrema cautela na recusa de provas, pois isso pode se tornar fator
violador do contraditório e da ampla defesa.

Nos casos em que os dados, atuações ou documentos necessários


à apreciação de pedido formulado devam ser fornecidos pelo
interessado, o não atendimento à solicitação da Administração para
fornecê-los, no prazo fixado, implicará o arquivamento do processo
(art. 40).

Encerrada a instrução, o interessado ainda terá o direito de


manifestar-se no prazo máximo de dez dias, salvo se outro prazo for
legalmente fixado (art. 44). São as chamadas alegações finais.

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Por fim, o órgão de instrução que não for competente para emitir a
decisão final deverá elaborar relatório, que indique o pedido inicial e o
conteúdo das fases do procedimento e formule proposta de decisão,
objetivamente justificada, encaminhando o processo à autoridade
competente (art. 47).

11. Decisão no Processo Administrativo

Uma vez tendo chegado o processo à autoridade competente para


decidir, cabe a esta proferir a decisão, levando em conta,
obrigatoriamente, os elementos constantes do relatório elaborado.

Vale destacar que a Administração tem o dever de explicitamente


emitir decisão nos processos administrativos e sobre solicitações ou
reclamações, em matéria de sua competência (art. 48). O prazo para a
decisão é de trinta dias, a partir da conclusão da instrução do processo,
salvo prorrogação por igual período, expressamente motivada (art.
49).

A primeira decisão administrativa pode ou não por termo (fim) ao


processo. Se não houver recurso do administrado, a decisão se torna
definitiva (salvo posterior revisão, em caso de ilegalidade). Se houver
recurso, o processo terá seguimento, conforme será abordado mais à
frente.

12. Consultas e Audiências Públicas

Quando a matéria do processo administrativo envolver assunto de


interesse geral, o órgão competente poderá, mediante despacho
motivado, abrir período de consulta pública para manifestação de
terceiros, antes da decisão do pedido, se não houver prejuízo para a
parte interessada (art. 31).

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A abertura da consulta pública será objeto de divulgação pelos


meios oficiais, a fim de que pessoas físicas ou jurídicas possam
examinar os autos, fixando-se prazo para oferecimento de alegações
escritas, geralmente sob a forma de memoriais. Vale frisar que o
comparecimento à consulta pública não confere, por si, a condição de
interessado do processo (embora isso possa acontecer, se requerido),
mas confere o direito de obter da Administração resposta
fundamentada (se requerida). Tal resposta poderá ser comum a todas
as alegações substancialmente iguais, formuladas por diferentes
pessoas.

Além disso, antes da tomada de decisão, a juízo da autoridade


competente, diante da relevância da questão, poderá ser realizada
audiência pública, para debates sobre a matéria do processo (art.
32). Note que, na consulta pública, a participação dos administrados é
por escrito. Já na audiência pública, há o efetivo comparecimento dos
interessados, que participam de um debate sobre a questão relevante.

Além desses instrumentos de participação popular, quando a


matéria for relevante, os órgãos e entidades administrativas poderão
estabelecer outros meios de participação de administrados, seja
diretamente, seja por meio de organizações e associações legalmente
reconhecidas (art. 33) (ex.: organizações não governamentais,
fundações, sindicatos). Os resultados das consultas e audiências
públicas, bem como dos outros meios de participação de administrados,
deverão ser apresentados com a indicação do procedimento adotado
(art. 34).

Por fim, quando necessária à instrução do processo, a audiência de


outros órgãos ou entidades administrativas poderá ser realizada em
reunião conjunta, com a participação de titulares ou representantes
dos órgãos competentes, lavrando-se a respectiva ata, a ser juntada aos
autos (art. 35).

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13. Forma, Tempo e Lugar dos Atos do Processo Administrativo

Em atenção ao princípio do formalismo moderado, os atos do


processo administrativo não dependem de forma determinada, senão
quando a lei expressamente a exigir (art. 22 da Lei). Apesar disso, para
assegurar o mínimo de segurança jurídica ao administrado, é preciso que
os atos do processo sejam produzidos por escrito, em vernáculo
(língua portuguesa), com a data e o local de sua realização e a
assinatura da autoridade responsável.

Ainda em atenção ao informalismo, não se exigirá, a princípio, o


reconhecimento de firma. Tal reconhecimento só será feito se houver
imposição legal ou dúvida quanto à autenticidade da assinatura.
Além disso, a autenticação de documentos exigidos em cópia poderá ser
feita pelo próprio órgão administrativo, não se exigindo autenticação em
cartório. Para fins de ordenamento dos autos do processo, as páginas
deverão ser numeradas sequencialmente e rubricadas pelo servidor
encarregado.

Segundo o art. 23 da Lei, os atos do processo administrativo


devem realizar-se em dias úteis, no horário normal de funcionamento
da repartição na qual tramitar o processo. Não obstante, poderão ser
concluídos depois do horário normal os atos já iniciados, cujo adiamento
prejudique o curso regular do procedimento ou cause dano ao
interessado ou à Administração. Nesse caso, entendeu a Lei que é
melhor passar um pouco da hora do que “perder o fio da meada” do
processo.

Como regra, os atos do processo devem ser praticados no prazo de


cinco dias (art. 24). Esse prazo pode ser estendido se houver algum
motivo de força maior (ex.: o administrado tinha que responder a uma
intimação da Administração, mas caiu de cama, doente). Além disso, o
prazo pode ser dilatado até o dobro, mediante comprovada justificação.
E também pode a lei ou o regulamento trazer disposição específica com
prazo diverso. Mas a regra são os cinco dias.

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Por fim, os atos do processo devem realizar-se preferencialmente


na sede do órgão ou entidade onde ele tramita (art. 25). Se,
eventualmente, outro for o local de realização de algum ato, o
interessado deverá ser devidamente cientificado disso.

14. Comunicação dos Atos do Processo Administrativo

A fim de garantir a publicidade do processo administrativo, bem


como assegurar ao interessado a sua efetivação participação nos autos e,
quando necessário, o exercício do contraditório e da ampla defesa, o
órgão competente perante o qual tramita o processo deverá determinar a
intimação do interessado para ciência de qualquer decisão, bem como
para a efetivação de diligências (art. 26). Os interessados serão
intimados de prova ou diligência ordenada, com antecedência mínima de
três dias úteis, mencionando-se data, hora e local de realização (art.
41).

Devem ser objeto de intimação todos os atos do processo que


resultem para o interessado em imposição de deveres, ônus, sanções ou
restrição ao exercício de direitos e atividades e os atos de outra
natureza, de seu interesse (art. 28).

Sempre que a prestação de informações ou a apresentação de


provas pelos interessados, ou terceiros, forem necessárias, deverão ser
expedidas intimações para esse fim, mencionando-se data, prazo,
forma e condições de atendimento (art. 39). Todavia, não sendo
atendida a intimação, poderá o órgão competente, se entender relevante
a matéria, suprir de ofício a omissão, não se eximindo de proferir decisão
em razão da não obtenção da informação.

A intimação do interessado deverá conter todas as informações


necessárias ao esclarecimento da decisão a ser tomada ou da diligência a
ser feita. A lei elenca como elementos mínimos da intimação (art. 26, §
1.º):

- identificação do intimado e nome do órgão ou entidade


administrativa que intima;
- finalidade da intimação;

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- data, hora e local em que o intimado deve comparecer;


- se o intimado deve comparecer pessoalmente ou fazer-se
representar;
- informação de que o processo terá continuidade
independentemente do comparecimento do intimado;
- indicação dos fatos e fundamentos legais pertinentes.

A intimação observará a antecedência mínima de três dias úteis


quanto à data de comparecimento e poderá ser efetuada por: ciência
pessoal no processo; via postal com aviso de recebimento (AR);
telegrama; ou qualquer outro meio que assegure a certeza da ciência
do interessado. Não obstante, esse outro meio deve ser escrito. Não se
deve considerar suficiente, por exemplo, a comunicação meramente
telefônica, pois ela não fica registrada nos autos.

Se os interessados forem indeterminados, desconhecidos ou com


domicílio indefinido (ex.: processo que interesse a toda uma categoria de
trabalhadores, não identificados individualmente), a intimação deve ser
efetuada por meio de publicação oficial.

As intimações feitas sem observância das prescrições legais serão


consideradas nulas. Vale destacar, no entanto, que o comparecimento
do administrado, tomando ciência dos autos, suprirá (saneará) a
eventual falta ou irregularidade.

Como no processo administrativo impera o princípio da verdade


material, o eventual desatendimento da intimação (isto é, quando o
interessado, embora regularmente intimado, não comparecer ao
processo) não importará o reconhecimento da verdade dos fatos, nem a
renúncia a direito pelo administrado (art. 27). Nesse sentido, se o
interessado comparecer aos autos posteriormente, ainda que fora do
prazo previsto, será garantido a ele o direito de ampla defesa nos autos.

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15. Pareceres e Laudos Técnicos no Processo Administrativo

Os pareceres são manifestações de órgãos técnicos sobre assuntos


submetidos à sua consideração. Em regra, são peças de caráter
meramente opinativo, não vinculando a autoridade que solicitou o
parecer. Os pareceres são peças comumente elaboradas na área jurídica.

Os pareceres podem ser classificados em facultativos,


obrigatórios e vinculantes. Facultativos são aqueles cuja solicitação
fica ao critério da Administração, além de não ser vinculante para quem
o solicitou.

Obrigatórios são aqueles exigidos pela lei como pressuposto para


a prática do ato final. A obrigatoriedade é quanto à solicitação do
parecer, podendo a autoridade decidir diversamente da recomendação do
órgão técnico. Um exemplo de parecer meramente obrigatório (não
vinculante) é o parecer prévio do Tribunal de Contas da União (TCU), em
relação às contas do Presidente da República (art. 71, I, CF/88), pois o
julgamento do Congresso Nacional (art. 49, IX, CF/88) não fica vinculado
à conclusão do parecer.

Já vinculante é o parecer que, além de ser obrigatório, vincula a


decisão da autoridade administrativa, que não poderá decidir de forma
diversa do que o documento recomenda, como nas hipóteses de
pareceres médicos em casos de aposentadorias por invalidez, ou do
parecer prévio do Tribunal de Contas estadual, em relação às contas do
município, quando a Câmara Municipal não conseguir derrubá-lo por dois
terços dos votos dos vereadores (art. 31, § 2.º, CF/88). Os pareceres
vinculantes perdem seu caráter meramente opinativo, pois obrigam
a autoridade a seguir os seus termos.

Assim, os pareceres opinativos são apenas os pareceres


facultativos e obrigatórios, pois a autoridade não está vinculada ao seu
teor. Nestes casos, o STF entende que o parecer em si não é um ato
administrativo, mas sim o ato de aprovação da autoridade decisória que
o homologa.

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Quando um parecer opinativo é homologado, o que subsiste como


ato não é o parecer, mas o ato de sua aprovação. Diz o Pretório Excelso
que, nesses casos, o parecerista não pode ser responsabilizado
solidariamente com a autoridade administrativa, salvo em casos de erro
grosseiro ou dolo no parecer. Isto porque a autoridade incorpora as
opiniões do parecer como se fossem suas, tornando-se responsável pelo
conteúdo do ato.

Embora os pareceres sejam, em regra, peças opinativas, o artigo


50 da Lei 9.784/99 estabelece que os atos administrativos que discrepem
de pareceres, laudos, propostas e relatórios oficiais deverão ser
obrigatoriamente motivados, com indicação dos fatos e dos
fundamentos jurídicos da decisão discrepante, conforme veremos
adiante.

Segundo o art. 42 da Lei 9.784/1999, quando deva ser


obrigatoriamente ouvido um órgão consultivo, o parecer deverá ser
emitido no prazo máximo de quinze dias, salvo se houver norma especial
em sentido contrário (com outro prazo, por exemplo) ou se for
comprovada a necessidade de maior prazo.

Conforme reza a Lei, se um parecer obrigatório e vinculante


deixar de ser emitido no prazo fixado, o processo não terá seguimento
até a respectiva apresentação, responsabilizando-se quem der causa ao
atraso. Mas se um parecer obrigatório e não vinculante deixar de ser
emitido no prazo fixado, o processo poderá ter prosseguimento e ser
decidido com sua dispensa, sem prejuízo da responsabilidade de quem se
omitiu no atendimento.

Os laudos técnicos são semelhantes aos pareceres. O laudo é o


documento emitido por um perito ou especialista em determinada área
do conhecimento, que realizou uma perícia em determinado material
(ex.: computadores, substâncias químicas etc.). Nesse caso, a opinião do
perito tem por base os resultados dos exames efetuados. Já o parecer,
em regra, refere-se apenas à opinião do profissional, independentemente
de testes, sendo mais comum, como se disse, na área jurídica.

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Reza o art. 43 da Lei que, quando, por disposição de ato


normativo, devam ser previamente obtidos laudos técnicos de órgãos
administrativos e estes não cumprirem o encargo no prazo assinalado, o
órgão responsável pela instrução deverá solicitar laudo técnico de outro
órgão dotado de qualificação e capacidade técnica equivalentes.

PARECERES E LAUDOS NO PROCESSO ADMINISTRATIVO


- Solicitados a critério da Administração;
- Não vinculam a autoridade;
Facultativos - Têm caráter meramente opinativo;
- Permitem o andamento do processo,
mesmo que não emitidos.
- Exigidos por lei;
- Não vinculam a autoridade;
Pareceres
Obrigatórios - Têm caráter meramente opinativo;
- Permitem o andamento do processo,
mesmo que não emitidos.
- Exigidos por lei;
- Vinculam a autoridade;
Vinculantes
- Se não emitidos, impedem o andamento do
processo.
- Facultativos ou exigidos por ato normativo;
Laudos Técnicos - Se não emitidos, são solicitados a outro
órgão com capacidade técnica equivalente.

16. Motivação dos Atos Administrativos

Motivação é a manifestação por escrito do motivo do ato


administrativo, mostrando a todos os fundamentos adotados pelo
administrador para a prática do ato. A motivação integra o elemento
forma do ato administrativo, pois faz parte da maneira de exteriorização
do ato.

A motivação é princípio da Administração Pública, razão pela qual


motivar o ato é a regra. Só se dispensará a motivação nos casos em
que a lei permitir, como no caso das nomeações para cargos em
comissão (nomeações ad nutum).

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Conforme o artigo 50 da Lei 9.784/1999, os atos administrativos


deverão ser motivados, com indicação dos fatos e dos fundamentos
jurídicos, quando:

- neguem, limitem ou afetem direitos ou interesses;


- imponham ou agravem deveres, encargos ou sanções;
- decidam processos administrativos de concurso ou seleção
pública;
- dispensem ou declarem a inexigibilidade de processo licitatório;
- decidam recursos administrativos;
- decorram de reexame de ofício;
- deixem de aplicar jurisprudência firmada sobre a questão ou
discrepem de pareceres, laudos, propostas e relatórios oficiais;
- importem anulação, revogação, suspensão ou convalidação de
ato administrativo.

Segundo a doutrina, o rol desse artigo é exemplificativo, de


modo que outros atos administrativos também devem ser motivados,
pois a motivação é princípio da Administração Pública.

A Lei prevê que a motivação deve ser explícita, clara e


congruente, podendo consistir em declaração de concordância com
fundamentos de anteriores pareceres, informações, decisões ou
propostas, que, neste caso, serão parte integrante do ato (é o famoso
“de acordo”, quando a autoridade administrativa apenas concorda com a
conclusão do parecer da área jurídica, por exemplo). Na solução de
vários assuntos da mesma natureza, pode ser utilizado meio mecânico
que reproduza os fundamentos das decisões, desde que isso não
prejudique direito ou garantia dos interessados. A motivação das
decisões de órgãos colegiados e comissões ou de decisões orais constará
da respectiva ata ou de termo escrito.

17. Extinção do Processo Administrativo

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O processo administrativo pode terminar de várias maneiras. A


mais comum é seu término por alcance do seu objetivo (decisão final
no processo). Neste caso, uma vez tomada a decisão respectiva
(concessão ou negativa de um direito, aplicação de penalidade,
deferimento ou não de algum pedido etc.), o processo é arquivado.

O processo pode terminar ainda pelo desaparecimento da parte


ou do objeto em análise no procedimento. Por exemplo, um servidor
que pedia determinada licença vem a falecer. Ou o pedido que ele fazia
com base em certa lei torna-se impossível, por revogação desta.

O processo pode ser encerrado ainda por iniciativa do


administrado, por desistência do pedido ou renúncia a direito. Na
desistência, o administrado não renúncia ao seu direito, apenas decide
não usufruí-lo naquele momento (ex.: desistência de um pedido de férias
em certo mês, para fazê-lo posteriormente). Por outro lado, ao pedir o
encerramento de um processo, o indivíduo pode expressamente
renunciar ao direito (ex.: recusa ao recebimento de um diploma ou
honraria prevista em lei).

Segundo o art. 51 da Lei 9.784/1999, o interessado poderá,


mediante manifestação escrita, desistir do pedido formulado, total ou
parcialmente, ou, ainda, renunciar a direitos disponíveis. Havendo
vários interessados, a desistência ou renúncia atinge somente quem a
tenha formulado. Não obstante, em função do princípio da oficialidade, a
desistência ou renúncia do interessado, conforme o caso, não prejudicará
o prosseguimento do processo, se a Administração considerar que o
interesse público assim o exige.

Já o art. 52 dispõe que o órgão competente poderá declarar extinto


o processo quando exaurida sua finalidade ou o objeto da decisão
se tornar impossível, inútil ou prejudicado por fato superveniente.

Alguns fatores que podem tornar prejudicado o processo,


extinguindo-o, são a decadência, a prescrição e a preclusão. Nesses
casos, a extinção ocorre por não ter o administrado (ou mesmo a
Administração) praticado determinado ato no prazo máximo previsto em
lei.

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A decadência é a extinção de um direito material da pessoa,


isto é, de um direito que alguém tem de impor aos outros,
unilateralmente, o respeito ao exercício do seu direito. Por exemplo, uma
lei pode dar direito a um servidor de requerer da Administração, até dois
anos do término de uma pós-graduação, o pagamento de adicional de
especialização, para recebimento por quatro anos, a partir do
deferimento da solicitação. Se o servidor não exercer esse direito nos
dois anos previstos, seu direito se extinguirá por decadência. Assim, tal
fato poderá ser reconhecido no processo administrativo eventualmente
aberto em razão da solicitação do servidor.

Já a prescrição é perda de um direito processual, referente ao


exercício do direito de ação (ação judicial). O prazo de prescrição
começa a fluir quando há a violação de um direito material do
indivíduo. Violado o direito da pessoa, surge para ela a chamada
pretensão, que é a prerrogativa que ela tem de exigir a reparação desse
direito, a qual será feita mediante uma ação judicial (direito de ação).
Essa pretensão se extingue pela prescrição, que é o decurso do prazo
durante o qual o indivíduo poderia ter ajuizado a ação, mas não o fez
(art. 189 do Código Civil de 2002). Vejam que, na decadência, não se
fala, como na prescrição, em violação de direito, eis que, naquela
hipótese, o direito material do indivíduo já existia, independentemente
de ter havido qualquer violação do direito.

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Um exemplo é o direito do administrado de pedir reparação à


Administração, por ter um servidor colidido uma viatura oficial em seu
veículo particular. Neste caso, imagine que uma lei autorize a
Administração a realizar acordo com o particular, desde que não
prescrito o prazo de ação judicial contra o Estado (que, em regra, é de
cinco anos). Caso o pedido esteja sendo discutido em um processo
administrativo, o servidor encarregado pode, verificando que houve a
prescrição da pretensão, quanto à ação judicial, extinguir o processo
administrativo.

Já a preclusão é a extinção do direito de praticar um ato


processual. É um prazo interno ao processo. Imagine que alguém
tenha o prazo de dez dias para apresentar um laudo ou parecer sobre
determinado fato, como elemento de prova. Se o interessado não
apresenta o documento, o prazo para que o faça preclui (sofre
preclusão). O prazo para recorrer de uma decisão também é preclusivo.
Se o administrado não apresentar o recurso no prazo previsto, a decisão
se torna definitiva no âmbito administrativo e o processo se encerra.

A preclusão é mais comum no processo judicial (notadamente no


processo civil), no qual se exige com mais rigor o cumprimento dos
prazos processuais, em função do formalismo que lá impera. No processo
administrativo, podemos citar como exemplo os atos que se tornaram
irrevogáveis, por integrarem um procedimento (ex.: a Administração não
pode mais revogar a habilitação dos licitantes, quando a concorrência já
estiver na fase de julgamento das propostas).

Decadência Extinção de um direito material


Extinção da pretensão
Prescrição
(exigência de reparação em juízo)
Preclusão Extinção de um direito processual

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18. Anulação, Revogação e Convalidação de Atos


Administrativos

A anulação, a revogação e a convalidação dos atos administrativos


já foram estudadas na aula de atos. Aqui, vale destacar apenas o que diz
a Lei 9.784/1999 sobre o assunto. De acordo com o art. 53 da Lei, a
Administração deve anular seus próprios atos, quando eivados de vício
de legalidade, e pode revogá-los por motivo de conveniência ou
oportunidade, respeitados os direitos adquiridos. Realmente, vimos na
aula de atos administrativo que a anulação incide sobre atos ilegais e a
revogação, sobre atos inconvenientes e/ou inoportunos.

O disposto na Lei se coaduna com as Súmulas 346 e 473 do STF:

Súmula 346: “A Administração Pública pode declarar a nulidade


dos seus próprios atos.”
Súmula 473: “a Administração pode anular seus próprios atos,
quando eivados de vícios que os tornam ilegais, porque deles não
se originam direitos; ou revogá-los, por motivo de conveniência ou
oportunidade, respeitados os direitos adquiridos, e ressalvada, em
todos os casos, a apreciação judicial.”

Segundo o art. 54, o direito da Administração de anular os atos


administrativos de que decorram efeitos favoráveis para os destinatários
decai em cinco anos (é um prazo de decadência), contados da data
em que foram praticados, salvo comprovada má-fé. Se houver má-fé do
servidor, não haverá prazo para anulação do ato ilegal (ex.: servidor
apresenta diploma falso, para ganhar adicional de especialização).

No caso de efeitos patrimoniais contínuos (ex.: pensão, adicionais


pecuniários), o prazo de decadência contar-se-á da percepção do
primeiro pagamento. Além disso, considera-se exercício do direito de
anular, por parte da Administração, qualquer medida de autoridade
administrativa que importe impugnação à validade do ato. Ou seja,
iniciado o processo administrativo anulatório, ainda que não concluído,
não se deve mais falar em prazo decadencial.

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Se os cinco anos citados no art. 54 se consumarem, o ato ilegal


que gere benefícios ao administrado de boa-fé não poderá mais ser
anulado. Neste caso, ocorrerá a chamada convalidação tácita do ato.

Já o art. 55 dispõe que, em decisão na qual se evidencie não


acarretarem lesão ao interesse público nem prejuízo a terceiros, os atos
que apresentarem defeitos sanáveis poderão ser convalidados pela
própria Administração. Aqui, temos a chamada convalidação expressa
(pois depende da prática de um ato de convalidação pela Administração).
Neste caso, não há prazo decadencial para a convalidação, mas é
essencial que esta não acarrete lesão ao interesse público nem prejuízo a
terceiros. Além disso, o vício que macula o ato deve ser sanável
(sugerimos, se necessário, reler a aula de atos quanto ao instituto da
convalidação).

Por fim, falamos no começo da aula que o STJ já decidiu que a Lei
9.784/1999 pode ser aplicada aos Estados, na ausência de lei estadual
própria. Os casos analisados pela Corte eram justamente sobre a
decadência do direito da Administração de anular atos ilegais que
geravam direitos aos administrados de boa-fé. Segundo o Tribunal, é
possível a aplicação da citada Lei no âmbito dos Estados, na ausência de
lei própria específica, para que a Administração Pública estadual só possa
rever seus próprios atos, quando viciados, se observado o prazo
decadencial de cinco anos, fazendo a aplicação analógica da Lei
9.784/1999. Isso porque não pode o administrado ficar sujeito
indefinidamente ao poder de autotutela do Estado, sob pena de
desestabilização de um dos pilares mestres do Estado Democrático de
Direito, qual seja, o princípio da segurança das relações jurídicas.

19. Recursos Administrativos

Os recursos administrativos são pedidos formulados pelo


interessado de um processo administrativo, para que se reforme
(modifique) ou anule uma decisão anterior que lhe tenha sido
desfavorável. O recurso interpõe-se por meio de requerimento no qual
o recorrente deverá expor os fundamentos do pedido de reexame,
podendo juntar os documentos que julgar convenientes (art. 60 da Lei
9.784/1999).

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Como regra, das decisões administrativas é cabível a interposição


de recurso administrativo à instância superior. O recurso só não será
possível quando a autoridade que decide já for a mais alta na hierarquia
da Administração (chefe de Poder ou dirigente máximo de entidade da
Administração indireta). Além disso, conforme o art. 57 da Lei, o recurso
administrativo tramitará no máximo por três instâncias
administrativas, salvo disposição legal diversa. Vale lembrar que,
inexistindo competência legal específica, o processo administrativo
deverá ser iniciado perante a autoridade de menor grau hierárquico
para decidir (art. 17).

A possibilidade de interposição de recursos no processo


administrativo consagra o princípio do duplo grau de jurisdição no
âmbito da Administração Pública. Embora não haja propriamente
jurisdição na esfera administrativa (as decisões em processos
administrativos não fazem coisa julgada), o núcleo desse princípio é
também aqui aplicável: o administrado tem direito a que seu caso seja
reexaminado por uma instância superior, nos casos em que entender que
a decisão adotada, da qual se recorre, não foi a correta ou a mais justa.
Ainda que não consiga modificar a decisão, no mínimo, haverá maior
conformidade do interessado em aceitá-la, já que ela terá sido
considerada adequada por mais de uma instância administrativa.

Os recursos administrativos em sentido amplo (lato sensu)


podem ser divididos em pedido de reconsideração e recurso
administrativo em sentido estrito (stricto sensu). Este, por sua vez,
divide-se em próprio e impróprio. A doutrina inclui ainda entre os
recursos administrativos em sentido amplo os institutos da revisão
administrativa, da representação e da reclamação, que serão
estudados adiante.

Vejamos agora os pedidos de reconsideração e os recursos


administrativos em sentido estrito. Pedido de reconsideração é aquele
pelo qual o interessado requer o reexame da decisão à própria
autoridade que a proferiu. Já recurso administrativo em sentido
estrito (ou recurso hierárquico) é o pedido de reexame do feito dirigido à
autoridade superior à que decidiu.

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Recurso hierárquico próprio é o que é dirigido à autoridade


imediatamente superior, dentro do mesmo órgão em que o ato foi
praticado, como decorrência da hierarquia (a autoridade à qual se
recorre é hierarquicamente superior à que decidiu). Como decorre do
poder hierarquia, tal modalidade de recurso independe de previsão
legal.

Já recurso administrativo (ou hierárquico) impróprio é o


encaminhado à autoridade de outro órgão não integrante da mesma
hierarquia daquele que proferiu o ato. Não decorrendo da hierarquia, tal
recurso só é cabível se expressamente previsto em lei. Um exemplo
de recurso impróprio é o interposto contra decisão do dirigente máximo
de uma autarquia, junto ao respectivo Ministério supervisor. Vale
recordar que a autarquia, como entidade da Administração indireta, não
é subordinada ao Ministério, mas apenas vinculada.

O artigo 56 da Lei 9.784/1999 estabelece que das decisões


administrativas cabe recurso, em face de razões de legalidade e de
mérito, e que o recurso será dirigido à autoridade que proferiu a
decisão, a qual, se não a reconsiderar, no prazo de cinco dias, o
encaminhará à autoridade superior. Nota-se que a lei, na prática,
estabeleceu a obrigatoriedade do pedido de reconsideração prévio em
qualquer recurso hierárquico, já que este só será encaminhado à
autoridade superior se o agente que proferiu a decisão não reformar sua
decisão em cinco dias, daí a razão de se encaminhar o recurso
hierárquico à própria autoridade que decidiu inicialmente. Tal fórmula
possui um nítido caráter de economia processual administrativa. Assim,
na esfera federal, o recurso hierárquico traz implícito um pedido de
reconsideração, ainda que este não tenha sido formulado pelo
interessado.

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A lei prevê ainda que, salvo exigência legal, a interposição de


recurso administrativo independe de caução (depósito). Na verdade, o
STF decidiu que é inconstitucional a exigência de depósito ou
arrolamento prévios de dinheiro ou bens para admissibilidade de recurso
administrativo (Enunciado n.º 21 da Súmula Vinculante). Assim,
atualmente, nem mesmo a lei pode exigir a prévia caução para a
interposição de recurso administrativo.

O § 3.º do art. 56 prevê ainda que, se o recorrente alegar que a


decisão administrativa contraria qualquer enunciado da Súmula
Vinculante, caberá à autoridade prolatora da decisão impugnada, se
não a reconsiderar, explicitar, antes de encaminhar o recurso à
autoridade superior, as razões da aplicabilidade ou inaplicabilidade da
Súmula, conforme o caso.

Segundo o art. 58 da Lei, têm legitimidade para interpor recurso


administrativo:

- os titulares de direitos e interesses que forem parte no processo;


- aqueles cujos direitos ou interesses forem indiretamente
afetados pela decisão recorrida;
- as organizações e associações representativas, no tocante a
direitos e interesses coletivos;
- os cidadãos ou associações, quanto a direitos ou interesses
difusos.

O art. 59 estabelece que, salvo disposição legal específica, é de


dez dias o prazo para interposição de recurso administrativo, contado a
partir da ciência ou divulgação oficial da decisão recorrida. Interposto o
recurso, o órgão competente para dele conhecer deverá intimar os
demais interessados para que, no prazo de cinco dias úteis,
apresentem alegações (art. 62). São as chamadas contrarrazões do
recurso, apresentadas pelos demais interessados, notadamente aqueles
a quem não interessa o provimento do recurso.

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Se o interessado não apresentar o recurso nesse prazo, haverá a


preclusão administrativa e a decisão se tornará definitiva no âmbito
administrativo (salvo eventual revisão do processo, como veremos
adiante). Além disso, quando a lei não fixar prazo diferente, o recurso
administrativo deverá ser decidido no prazo máximo de trinta dias, a
partir do recebimento dos autos pelo órgão competente. Esse prazo
poderá ser prorrogado por igual período, mediante justificativa explícita.

Os recursos podem ter efeito suspensivo ou meramente


devolutivo. Este se refere à devolução de toda a matéria à análise da
instância superior (à qual se recorre), para que ela se pronuncie sobre o
tema, confirmando, reformando ou anulando a decisão inicial. Como se
vê, o efeito devolutivo é característica inerente de qualquer recurso. Já o
efeito suspensivo é aquele que suspende a execução da decisão
recorrida, até que seja resolvida a questão que se discute no recurso.

Os recursos administrativos só tem efeito suspensivo quando


houver previsão expressa nesse sentido. De acordo com o art. 61 da Lei
9.784, salvo disposição legal em contrário, o recurso não tem efeito
suspensivo. No entanto, diz a Lei também que, havendo justo receio de
prejuízo de difícil ou incerta reparação, decorrente da execução da
decisão, a autoridade recorrida ou a imediatamente superior poderá, de
ofício ou a pedido, dar efeito suspensivo ao recurso. Neste caso, o
provimento do recurso poderia tornar inútil a decisão (de segunda
instância), caso a decisão inicial já tivesse sido executada e não se
pudesse restaurar o estado inicial das coisas.

Um exemplo seria uma decisão administrativa para demolir uma


obra irregular. Interposto o recurso contra tal decisão, suspender-se-ia a
demolição, até que a autoridade superior confirmasse, no recurso, que a
obra realmente era irregular e deveria ser demolida. Caso a demolição
fosse executada antes de decidido o recurso, de nada adiantaria a
instância superior decidir pela não demolição, uma vez que esta já teria
sido feita.

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Interposto o recurso, a autoridade administrativa inicialmente


verifica se deve aceitá-lo (conhecer do recurso). Somente após essa
análise preliminar é que a autoridade verificará então o conteúdo
(mérito) do recurso, dando-lhe ou negando-lhe provimento. De acordo
com o art. 63 da Lei, o recurso não será conhecido quando interposto:

- fora do prazo;
- perante órgão incompetente;
- por quem não seja legitimado; ou
- após exaurida a esfera administrativa.

No caso de recurso apresentado perante órgão incompetente, a


Administração deverá indicar ao recorrente a autoridade competente
para conhecer do recurso, sendo-lhe devolvido o prazo recursal.

O não conhecimento do recurso não impede a Administração de


rever de ofício o ato ilegal, desde que não ocorrida a preclusão
administrativa (art. 63, § 2.º). Isso decorre do princípio da autotutela
administrativa, que permite à Administração rever de ofício seus atos,
quando verificada alguma ilegalidade. Assim, por exemplo, se um
recurso for interposto fora do prazo (recurso intempestivo), a
Administração, após não recebê-lo, poderá anular, de ofício, o ato
administrativo que se combatia no recurso, caso verifique que ele era
ilegal.

A preclusão administrativa citada na Lei refere-se, na verdade,


conforme ensina Hely Lopes Meirelles, à chamada coisa julgada
administrativa, que será estudada adiante.

Conforme o art. 64 da Lei 9.784/1999, o órgão competente para


decidir o recurso administrativo poderá confirmar, modificar, anular ou
revogar, total ou parcialmente, a decisão recorrida, se a matéria for de
sua competência (se não for de sua competência, como visto acima, o
órgão não conhecerá do recurso e indicará ao recorrente a autoridade
competente, devolvendo-lhe o prazo recursal).

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O parágrafo único do art. 64 da Lei consagra a possibilidade de


reformatio in pejus (reforma em prejuízo) no recurso administrativo.
Segundo o dispositivo, se, da decisão do recurso, puder decorrer
gravame à situação do recorrente, este deverá ser cientificado para que
formule suas alegações antes da decisão. Assim, nada impede que a
decisão do recurso administrativo seja prejudicial ao recorrente, desde
que lhe seja assegurado o direito de manifestação contra essa possível
reforma da decisão em seu prejuízo.

Isso decorre dos princípios da verdade material e da autotutela


administrativa, que permitem à Administração, respectivamente,
perquirir sobre o real acontecimento dos fatos no processo e rever de
ofício seus próprios atos, quando ilegais ou mesmo inconvenientes. Por
exemplo, seja um recurso interposto por um servidor, punido
disciplinarmente com advertência, para que seja anulada a sanção,
sendo que a lei previa a aplicação de suspensão para a falta praticada. A
Administração, ao verificar a inadequação da penalidade, poderá não só
negar o recurso, como aplicar a sanção mais grave, conforme previsto
em lei.

Vale citar também os novos artigos 64-A e 64-B da Lei


9.784/1999, que preveem regras aplicáveis às decisões administrativas
que desrespeitem a Súmula Vinculante, do STF. Segundo o art. 64-A,
se o recorrente alegar violação de enunciado da súmula vinculante, o
órgão competente para decidir o recurso deverá explicitar as razões da
aplicabilidade ou inaplicabilidade da Súmula, conforme o caso. Se a
decisão não for modificada e o recorrente restar inconformado, caberá
reclamação ao Supremo em razão do fato. Nesse sentido, o art. 64-B
reza que, acolhida pelo Supremo Tribunal Federal a reclamação fundada
em violação de enunciado da Súmula Vinculante, dar-se-á ciência à
autoridade prolatora e ao órgão competente para o julgamento do
recurso, que deverão adequar as futuras decisões administrativas em
casos semelhantes, sob pena de responsabilização pessoal nas esferas
cível, administrativa e penal.

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20. Revisão Administrativa

Entre os recursos administrativos em sentido amplo, a doutrina


inclui a chamada revisão administrativa. A peculiaridade da revisão é
que ela ocorre em relação a processos administrativos já encerrados
e só pode ser feita em situações muito específicas.

Segundo o art. 65 da Lei 9.784/1999, os processos administrativos


de que resultem sanções poderão ser revistos, a qualquer tempo, a
pedido ou de ofício, quando surgirem fatos novos ou circunstâncias
relevantes suscetíveis de justificar a inadequação da sanção
aplicada. Ao contrário do que ocorre com os recursos administrativos
stricto sensu, da revisão do processo não poderá resultar agravamento
da sanção (vedação de reformatio in pejus).

A revisão do processo também é prevista para o processo


administrativo disciplinar (PAD) do servidor público federal, nos artigos
174 a 182 da Lei 8.112/1990.

21. Reclamação e Representação Administrativas

Segundo Hely Lopes Meirelles, representação administrativa é a


denúncia formal e assinada de irregularidades internas ou de abuso de
poder na prática de atos da Administração, feita por qualquer pessoa
à autoridade competente para conhecer e coibir a ilegalidade apontada.

A representação tem por fundamento o direito de petição,


previsto no art. 5.º, XXXIV, “a”, da CF/88, que dispõe que a todos são
assegurados, independentemente do pagamento de taxas, o direito de
petição aos Poderes Públicos, em defesa de direitos ou contra ilegalidade
ou abuso de poder.

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O art. 14 da Lei 8.429/1992 (Lei de Improbidade Administrativa)


estabelece que qualquer pessoa poderá representar à autoridade
administrativa competente para que seja instaurada investigação
destinada a apurar a prática de ato de improbidade. O art. 22 da norma
dispõe também que, para apurar qualquer ilícito previsto nessa Lei, o
Ministério Público, de ofício, a requerimento de autoridade administrativa
ou mediante representação formulada de acordo com o disposto
no art. 14, poderá requisitar a instauração de inquérito policial ou
procedimento administrativo.

Ainda segundo Hely Lopes Meirelles, a reclamação


administrativa é a oposição expressa a atos da Administração que
afetem direitos ou interesses legítimos do administrado. O direito de
reclamar é amplo e se estende a toda pessoa física ou jurídica que se
sentir lesada ou ameaçada de lesão pessoal ou patrimonial por atos
ou fatos administrativos (portanto, não é qualquer pessoa que pode
apresentar a reclamação, como ocorre na representação, mas apenas
aquelas que tenham seus direitos ou interesses afetados por ato da
Administração).

Segundo o art. 6.º do Decreto 20.910/1932, o direito à reclamação


administrativa, que não tiver prazo fixado em disposição de lei para ser
formulada, prescreve em um ano, a contar da data do ato ou fato do
qual a mesma se originar.

RECURSOS ADMINISTRATIVOS
Pedido de reconsideração
Recurso administrativo Próprio
em sentido estrito Impróprio
Revisão
Representação
Reclamação

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22. Coisa Julgada Administrativa e Prescrição Administrativa

A chamada coisa julgada administrativa é definida pela doutrina


como a impossibilidade de modificação (irretratabilidade) da decisão da
Administração na via administrativa. A expressão vem do direito
processual, no qual o conceito de coisa julgada é aplicável a uma decisão
judicial da qual não caiba mais recurso (decisão definitiva, irreformável).
No caso do processo administrativo, a irretratabilidade da decisão
significa que a Administração, após decidir em última instância, não pode
mais modificar a decisão para prejudicar o administrado.

Di Pietro cita, também, como hipóteses de coisa julgada


administrativa, alguns atos administrativos irrevogáveis: os atos
vinculados, os atos que já exauriram seus efeitos, os atos que geraram
direitos adquiridos e os meros atos administrativos. Nesses casos, a
decisão administrativa também é irretratável.

Parte da doutrina destaca, contudo, que a decisão administrativa


final pode ser anulada, quando contiver uma ilegalidade. A coisa julgada
administrativa referir-se-ia, assim, à impossibilidade da modificação do
mérito de uma decisão final da Administração, quando essa mudança
pudesse prejudicar o interessado. Apesar desse entendimento, percebe-
se que a lei expressamente vedou a revisão de ofício do ato ilegal,
quando ocorrida a preclusão administrativa. Assim, esse é o
entendimento que devemos levar para a prova.

Já para beneficiar o interessado, a alteração ou a anulação de


decisão final no âmbito administrativo têm sido admitidas, como vimos
acima, no instituto da revisão do processo.

Já a prescrição administrativa é expressão empregada sem rigor


técnico no Direito Administrativo e refere-se a várias situações. Temos
prescrição administrativa no caso da perda do direito do indivíduo de
recorrer ou formular pedidos administrativamente, por decurso de prazo;
bem como no da perda do direito da Administração de manifestar-se
contra o indivíduo, ou aplicar-lhes punições, também pelo transcurso de
um prazo.

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A doutrina diz que a expressão é utilizada sem rigor técnico,


porque, no caso da perda do direito de recorrer, temos, na verdade,
conforme já citado, preclusão administrativa; no caso de perda do
direito do administrado ou servidor de formular pedidos (ex.: um
servidor requerer um adicional em seu contracheque), temos
decadência desse direito (nota-se, contudo, ser este o caso que mais se
assemelha à prescrição judicial, vista acima); na hipótese de a
Administração perder o direito de sancionar o particular ou o servidor, há
também decadência do seu direito de punir o indivíduo.

De qualquer maneira, a expressão prescrição administrativa é


consagrada no Direito Administrativo, sendo importante conhecê-la para
efeitos de concurso público. Quanto ao assunto, o art. 142 da Lei
8.112/1990 estabelece que a ação disciplinar contra o servidor público
federal prescreverá:

- em cinco anos, quanto às infrações puníveis com demissão,


cassação de aposentadoria ou disponibilidade e destituição de
cargo em comissão;
- em dois anos, quanto às infrações puníveis com suspensão;
- em 180 dias, quanto às faltas puníveis com advertência.

Em relação ao exercício do poder de polícia, o art. 1.º da Lei


9.873/1999 estabelece que prescreve em cinco anos a ação punitiva da
Administração Pública Federal que objetive apurar infração à legislação
em vigor, contados da data da prática do ato ou, no caso de infração
permanente ou continuada, do dia em que tiver cessado.

23. Prazos no Processo Administrativo

Os artigos 66 e 67 da Lei 9.784/1999 tratam da contagem dos


prazos nos processos administrativos. Segundo o art. 66, os prazos
começam a correr a partir da data da sua cientificação oficial, excluindo-
se da contagem o dia do começo e incluindo-se o do vencimento.
Considera-se prorrogado o prazo até o primeiro dia útil seguinte se o
vencimento cair em dia em que não houver expediente ou este for
encerrado antes da hora normal.

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Reza o artigo ainda que os prazos expressos em dias contam-se de


modo contínuo. Já os prazos fixados em meses ou anos contam-se de
data a data (ex.: um prazo de seis meses, iniciado em 15 de março,
vence no dia 15 de agosto). Se no mês do vencimento não houver o dia
equivalente àquele do início do prazo, tem-se como termo o último dia
do mês (regra utilizada para os meses que não possuem o dia 31 ou, no
caso de fevereiro, também os dias 29 e 30).

Por fim, de acordo com o art. 67, salvo motivo de força maior
devidamente comprovado, os prazos processuais não se suspendem.

24. Sanções no Processo Administrativo

No caso de processos administrativos que impliquem em aplicação


de sanções (punições), o art. 68 da Lei estabelece que as sanções, a
serem aplicadas por autoridade competente, terão natureza pecuniária
(obrigação de dar) ou consistirão em obrigação de fazer (ex.: edificar
em certo terreno urbano) ou de não fazer (ex.: não utilizar determinado
produto em suas atividades), assegurado sempre o direito de defesa.

Entre os processos administrativos, um tipo muito comum é o


processo administrativo disciplinar (PAD), previsto na Lei
8.112/1990, para os servidores públicos federais. Neste caso, as
penalidades previstas nesta Lei são as seguintes (art. 127): advertência,
suspensão, demissão, cassação de aposentadoria ou disponibilidade,
destituição de cargo em comissão e destituição de função comissionada.

25. Prioridades no Processo Administrativo

Finalmente, vale citar que o art. 69-A da Lei 9.784/1999 prevê que
terão prioridade na tramitação, em qualquer órgão ou instância, os
procedimentos administrativos em que figure como parte ou interessado:

- pessoa com idade igual ou superior a 60 anos;


- pessoa portadora de deficiência, física ou mental; e
- pessoa portadora de doença grave, mesmo que contraída após
o início do processo.

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A pessoa interessada na obtenção do benefício deverá juntar prova


de sua condição e requerê-lo à autoridade administrativa competente,
que determinará as providências a serem cumpridas. Deferida a
prioridade, os autos receberão identificação própria que evidencie o
regime de tramitação prioritária.

Muito bem! Vista a teoria, vamos aos nossos exercícios. Lista seca
ao final.

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26. Exercícios

1) (Cespe/Inca/Analista/2009) O processo administrativo


estabelece uma relação bilateral, de um lado o administrado, que
deduz uma pretensão, e de outro a administração, que, quando
decide, não age como um terceiro, estranho à controvérsia, mas
como parte.

Ao contrário do processo judicial, que se caracteriza pela trilateralidade,


com a presença de autor, réu e de um juiz imparcial e equidistante
dessas partes, o processo administrativo é bilateral, pois é composto
apenas pelos interessados no processo (administrados) e pela
Administração Pública, que age ao mesmo tempo como julgadora e
interessada. Desse modo, o item está correto.

2) (Cespe/OAB/2007) Aos processos administrativos aplica-se,


entre outros, o princípio

(A) do formalismo ou da essencialidade das formas.


(B) da verdade formal.
(C) da impulsão pelas partes.
(D) da proporcionalidade.

Letra A: Aos processos administrativos aplica-se o princípio do


informalismo, conhecido também como formalismo moderado. Este
princípio significa que, nos processos administrativos, a Administração
deve adotar formas simples, apenas suficientes para propiciar um
adequado grau de certeza, segurança e respeito aos direitos dos
administrados, abolindo formalismos excessivos e que em nada
contribuem para o desfecho do processo. O preceito é consagrado no
artigo 2.º, parágrafo único, IX, da Lei n.º 9.784/1999 (Lei do Processo
Administrativo Federal). Desse modo, a alternativa está errada.

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Letra B: Nos processos administrativos, aplica-se o princípio da verdade


material ou real, não o da verdade formal, estando errado o item. O
princípio da verdade material significa que a Administração Pública, na
condução do processo administrativo, deve descobrir o que realmente
aconteceu, buscar a verdade real e concreta dos fatos constantes do
processo, não devendo se limitar a analisar a versão oferecida pelas
partes. A Administração deverá colher todas as provas que julgar
necessárias, para a efetiva elucidação do caso, inclusive agindo de ofício.

Letra C: Nos processos administrativos, vige o princípio da oficialidade ou


do impulso oficial do processo. Maria Sylvia Zanella Di Pietro ensina que
esse princípio, no âmbito administrativo, assegura a possibilidade de
instauração do processo por iniciativa da Administração,
independentemente de provocação do administrado, e também de a
Administração impulsionar de ofício o processo, adotando todas as
medidas necessárias à sua adequada instrução, ou seja, o processo pode
ter seguimento, mesmo que as partes não promovam a movimentação
dos autos. Com isso, a assertiva está errada.

Letra D: Esta alternativa é o gabarito. O artigo 2.º da Lei n.º 9.784/1999


estabelece que a Administração Pública obedecerá, dentre outros, aos
princípios da razoabilidade e da proporcionalidade. Segundo o STF, os
princípios da razoabilidade e da proporcionalidade possuem sede
constitucional, na cláusula que trata do devido processo legal (artigo 5.º,
LIV), representando o aspecto material ou substantivo do devido
processo legal. Assim, para o atendimento ao due process of law, não
basta seguir as regras previstas para o trâmite do processo (acepção
formal ou adjetiva), é preciso atender aos critérios de justiça,
razoabilidade e proporcionalidade (acepção material ou substantiva).

3) (Cespe/TCM-GO/Procurador/2007) Na Lei do Processo


Administrativo (Lei n.º 9.784/1999), são definidas regras
aplicáveis a praticamente todas as atividades administrativas e
não necessariamente relacionadas ao processo administrativo.
Regras básicas relacionadas a anulação, revogação e
convalidação dos atos administrativos, por exemplo, que não
mantêm pertinência direta com o processo administrativo, estão
previstas na mencionada lei.

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Lucas Rocha Furtado. Curso de direito administrativo.


Belo Horizonte: Fórum, 2007, p. 1.212 (com adaptações).

A lei referida no texto acima

(A) estabelece que os atos do processo administrativo não


dependem de forma determinada senão quando a lei
expressamente a exigir, assim como está disposto no CPC para os
atos processuais.
(B) institui normas básicas sobre o processo administrativo no
âmbito da União, dos estados, do DF e dos municípios, visando,
em especial, à proteção dos direitos dos administrados e ao
melhor cumprimento dos fins da administração.
(C) fixa um prazo prescricional de cinco anos, contados da data
em que foram praticados, para a administração anular os atos
administrativos de que decorram efeitos favoráveis para os
destinatários.
(D) não tem nenhuma aplicação nos processos dos tribunais de
contas, visto que a própria lei exclui a sua aplicabilidade aos
processos administrativos específicos, regidos por legislação
própria.

Letra A: O artigo 22 da Lei n.º 9.784/1999 diz que os atos do processo


administrativo não dependem de forma determinada senão quando a lei
expressamente a exigir. Ressalta, contudo, algumas formalidades
mínimas, como a forma escrita, a utilização do vernáculo e a numeração
das páginas. É o princípio do informalismo ou formalismo moderado. O
artigo 2.º, parágrafo único, da Lei diz ainda que, nos processos
administrativos, serão observados, entre outros, os critérios de
observância das formalidades essenciais à garantia dos direitos dos
administrados e a adoção de formas simples, suficientes para propiciar
adequado grau de certeza, segurança e respeito aos direitos dos
administrados.

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Por outro lado, o Código de Processo Civil (CPC) consagra em seu texto o
princípio da instrumentalidade das formas, nos artigos 154 (“Os atos e
termos processuais não dependem de forma determinada senão quando
a lei expressamente a exigir, reputando-se válidos os que, realizados de
outro modo, lhe preencham a finalidade essencial.”) e 244 (“Quando a lei
prescrever determinada forma, sem cominação de nulidade, o juiz
considerará válido o ato se, realizado de outro modo, lhe alcançar a
finalidade.”). Assim, está certo o item (gabarito).

Vale ressaltar, todavia, que, na prática, o CPC prescreve rígidas


formalidades para os atos processuais, o que impede que se diga que
impera, no Direito Processual Civil, o princípio do formalismo moderado.
Basta conferir os requisitos exigidos para a petição inicial, os quais, se
não atendidos, podem implicar o seu indeferimento pelo juiz (artigos 282
a 284 do CPC).

As fórmulas estabelecidas no CPC são bem mais solenes do que as do


processo administrativo e sua inobservância importa, muitas vezes, na
nulidade dos atos praticados. Mesmo se admitindo, em alguns casos,
certa flexibilidade das formas no processo civil, esta é muito menor do
que a presente nos processos administrativos.

Letra B: A Lei n.º 9.784/1999 regula o processo administrativo apenas


no âmbito da Administração Pública federal. Por isso, o item é falso. O
artigo 1.º da Lei diz que ela estabelece normas básicas sobre o processo
administrativo no âmbito da administração federal direta e indireta,
visando, em especial, à proteção dos direitos dos administrados e ao
melhor cumprimento dos fins da Administração, aplicando-se, ainda, aos
órgãos dos Poderes Legislativo e Judiciário da União, quando no
desempenho de função administrativa.

Letra C: O artigo 53 da Lei n.º 9.784/1999 diz que a Administração deve


anular seus próprios atos, quando eivados de vício de legalidade, e pode
revogá-los por motivo de conveniência ou oportunidade, respeitados os
direitos adquiridos.

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Segundo o artigo 54, o direito da Administração de anular os atos


administrativos de que decorram efeitos favoráveis para os destinatários
decai em cinco anos, contados da data em que foram praticados, salvo
comprovada má-fé.

Desse modo, o item está errado, pois o prazo é de decadência, não de


prescrição, mesmo porque o prazo de decadência relaciona-se com o
exercício de um direito potestativo da pessoa. Direito potestativo é o
poder que a pessoa tem de influir na esfera jurídica de outrem, sem que
este possa fazer algo que não seja se sujeitar. É uma prerrogativa
jurídica de impor a outrem, unilateralmente, a sujeição ao seu exercício.
É um direito a que não corresponde um dever da parte contrária.

Já o prazo de prescrição é referente ao exercício do direito de ação, e


nasce com a violação de um direito. Violado o direito da pessoa, surge
para ela a pretensão (prerrogativa de exigir o cumprimento da reparação
desse direito), que será exercida mediante uma ação judicial, e que se
extingue pela prescrição, que é o decurso do prazo durante o qual o
indivíduo poderia ter exercido sua pretensão. Na decadência, por outro
lado, não se fala em violação de direito, eis que o direito a ser exercido é
de cunho potestativo.

Assim, a Administração possui o direito potestativo de anular seus


próprios atos, quando ilegais. Quando estes atos, contudo, gerarem
efeitos favoráveis para os destinatários, e desde que estes não tenham
agido de má-fé, haverá um prazo decadencial (e não prescricional) para
que a Administração exerça esse direito.

Ressalte-se, por fim, que o enunciado não ressaltou as situações em que


o destinatário tenha contribuído com má-fé para a produção do ato,
quando não haverá prazo decadencial para a Administração anular o
feito.

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Letra D: O artigo 69 da Lei n.º 9.784/1999 reza que os processos


administrativos específicos continuarão a reger-se por lei própria.
Entretanto, o dispositivo diz que essa Lei aplicar-se-á subsidiariamente a
esses processos. Assim, na falta de regramento nas leis específicas de
cada tipo de processo administrativo, a Lei n.º 9.784/1999 poderá ser
aplicada para suprir as lacunas.

Em âmbito federal, já declarou o TCU (Decisão 1.020/2000 – Plenário)


que, nos casos em que a Corte não esteja exercendo função
administrativa, mas função de controle externo, prevista
constitucionalmente, o Tribunal de Contas não está compelido a observar
os ditames da Lei n.º 9.784/1999, que, aliás, determina uma
processualística amplamente divergente daquela já regulada pela Lei n.º
8.443/92 (Lei Orgânica do TCU), aplicável aos julgamentos em matéria
de controle externo. As decisões do Tribunal de Contas traduzem o
exercício da função de controle externo, de caráter legislativo, sobre a
função administrativa, que com aquela não se confunde.

O TCU esclarece que não se quer dizer que os princípios que norteiam o
processo administrativo nunca serão levados em conta fora de seu
âmbito. Contudo, o serão por representarem princípios constitucionais ou
por consistirem em valores reconhecidos pelo Direito. Quando forem
apenas regras específicas do processo administrativo, não terão o condão
de vincular as decisões do controle, em que pese os processos do
Tribunal de Contas poderem aproveitá-los, subsidiariamente, conforme
acontece com os princípios da oficialidade, do formalismo moderado e da
verdade material.

Além disso, o STF já decidiu (MS 26.393/09) que o art. 54 da Lei


9.784/1999, que trata do citado prazo decadencial de cinco anos (ver
letra C acima) é aplicável aos processos do TCU.

Portanto, a aplicação dos preceitos da Lei n.º 9.784/1999 aos processos


do Tribunal de Contas não é obrigatória, podendo, todavia, haver
aplicação subsidiária dessa Lei nas lacunas da Lei Orgânica do Tribunal.
Está errada, portanto, a alternativa.

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4) (Cespe/TCM-GO/Procurador/2007/adaptada) O princípio da
ampla defesa traduz a faculdade do indivíduo de, em processos
judiciais ou administrativos, na defesa de seus interesses, alegar
fatos e propor provas, com os meios e recursos inerentes.

O artigo 5.º, LV, da CF/88 diz que aos litigantes, em processo judicial ou
administrativo, e aos acusados em geral são assegurados o contraditório
e ampla defesa, com os meios e recursos a ela inerentes. Trata-se de um
dos mais importantes direitos fundamentais de nosso ordenamento, que
não pode ser afastado nem mesmo por emenda constitucional, por
representar cláusula pétrea, assim como os demais direitos e garantias
individuais (art. 60, § 4.º, IV, CF/88). Os princípios do contraditório e da
ampla defesa representam a liberdade inerente ao indivíduo de contestar
as acusações que lhe são dirigidas e produzir provas em defesa de seus
interesses, com todos os meios e recursos disponíveis para tal.
Compreende a permissão de ter vista do processo, exercer a faculdade
de resposta e de produzir qualquer meio de prova admitido em direito,
para se opor à acusação. Assim, a alternativa é verdadeira.

5) (Cespe/PCES/Escrivão/2010) Os princípios que informam o


processo administrativo são os mesmos que informam o processo
judicial, aplicando-se, com a mesma intensidade, em um e outro
processo.

Esta questão está errada. Por exemplo, o princípio da oficialidade, no


âmbito administrativo, assegura a possibilidade de instauração do
processo por iniciativa da Administração (de ofício), independentemente
de provocação do administrado, e também a possibilidade de impulsionar
de ofício o processo, adotando todas as medidas necessárias a sua
adequada instrução. Já na esfera processual, tal preceito só existe depois
de instaurada a relação processual, cabendo ao juiz movimentar o
procedimento até a decisão final (artigo 262 do CPC). Além disso, caso a
parte não tome as providências cabíveis, sua omissão pode dar ensejo à
extinção do processo sem resolução do mérito (artigo 267, II e III, do
CPC).

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Cite-se ainda o princípio do informalismo, o qual reza que, nos processos


administrativos, a Administração deve adotar formas simples, apenas
suficientes para propiciar um adequado grau de certeza, segurança e
respeito aos direitos dos administrados, abolindo formalismos excessivos
e que em nada contribuem para o desfecho do processo. Já no processo
civil impera a obediência à forma e aos procedimentos. Por sua vez, o
processo judicial está sujeito a formas solenes, com atos que devem ser
praticados exatamente como o previsto, sob pena de rejeição desses
atos.

Finalmente, no processo administrativo, vigora o princípio da verdade


material, que significa que a Administração Pública, na condução do
processo, deve descobrir o que realmente aconteceu, buscar a verdade
efetiva e concreta dos fatos constantes do processo, não devendo se
limitar a analisar a versão oferecida pelas partes. Por outro lado, no
processo civil, não se exige do juiz a busca da verdade real. Prevalece o
princípio da verdade formal.

6) (Cespe/MS/Analista Técnico-Administrativo/2009) A lei que


regula o processo administrativo no âmbito da administração
pública federal assegura ao administrado a possibilidade de
fazer-se assistido por advogado.

O art. 3.º da Lei 9.784/1999 enuncia os direitos dos administrados no


âmbito do processo administrativo federal. Segundo o dispositivo, o
administrado tem os seguintes direitos perante a Administração, sem
prejuízo de outros que lhe sejam assegurados:

- ser tratado com respeito pelas autoridades e servidores, que


deverão facilitar o exercício de seus direitos e o cumprimento de suas
obrigações;
- ter ciência da tramitação dos processos administrativos em que
tenha a condição de interessado, ter vista dos autos, obter cópias de
documentos neles contidos e conhecer as decisões proferidas;
- formular alegações e apresentar documentos antes da decisão, os
quais serão objeto de consideração pelo órgão competente;
- fazer-se assistir, facultativamente, por advogado, salvo quando
obrigatória a representação, por força de lei.

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Assim, a questão está correta.

7) (Cespe/TJTO/Juiz de Direito/2007) O processo


administrativo em geral, no âmbito da União, pode ser instaurado
de ofício ou por iniciativa dos interessados, entre os quais se
incluem as pessoas e associações legalmente constituídas quanto
a direitos ou interesses difusos.

Diferentemente do que ocorre com o Poder Judiciário, que só age por


provocação do interessado (princípio da inércia da jurisdição), a
Administração pode instaurar processos administrativos por iniciativa
própria (de ofício), em razão dos princípios da autotutela e da verdade
material, ou por provocação dos interessados.

De acordo com Marcelo Alexandrino e Vicente Paulo, o princípio da


autotutela autoriza a Administração a rever os seus próprios atos, por
iniciativa própria. É um princípio implícito, decorrente da atividade
administrativa e do princípio da legalidade. Não é preciso, portanto, que
a Administração seja provocada para o fim de controlar sua própria
atividade, podendo instaurar processos administrativos de ofício.

Segundo os mesmos autores, o princípio da verdade material diz que, no


processo administrativo, importa conhecer o fato efetivamente ocorrido,
saber como se deu o fato no mundo real. Nisso se diferencia o processo
administrativo do processo judicial civil, em que o juiz só aprecia os fatos
apresentados pelas partes (princípio da verdade formal). Assim, tomando
conhecimento de fato relevante para o processo, mesmo que não
levantado pelos interessados, pode a Administração considerá-lo no
julgamento do caso.

Quanto aos interessados, o artigo 9.º da Lei n.º 9.784/1999 (Lei do


Processo Administrativo Federal) diz que são legitimados como tal no
processo administrativo:

♦ pessoas físicas ou jurídicas que o iniciem como titulares de


direitos ou interesses individuais ou no exercício do direito de
representação;

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♦ aqueles que, sem terem iniciado o processo, têm direitos ou


interesses que possam ser afetados pela decisão a ser adotada;
♦ as organizações e associações representativas, no tocante a
direitos e interesses coletivos; e
♦ as pessoas ou as associações legalmente constituídas quanto a
direitos ou interesses difusos.

Nota-se, assim, que o item está correto.

8) (Cespe/PCES/Escrivão/2010) Terão prioridade na tramitação


do processo administrativo, em qualquer órgão ou instância, em
que figurem como partes ou interessados, pessoas com idade
igual ou superior a 60 anos, pessoas portadoras de deficiência,
física ou mental, e portadores de doenças graves.

Conforme o art. 69-A da Lei 9.784/1999, esta questão é verdadeira.


Reza esse dispositivo que terão prioridade na tramitação, em qualquer
órgão ou instância, os procedimentos administrativos em que figure
como parte ou interessado:

- pessoa com idade igual ou superior a 60 (sessenta) anos;


- pessoa portadora de deficiência, física ou mental; e
- pessoa portadora de doenças relacionadas na lei, que cita, entre
outras, tuberculose ativa, esclerose múltipla, hanseníase,
cardiopatia grave e qualquer outra doença grave com base em
conclusão da medicina especializada, mesmo que a doença tenha
sido contraída após o início do processo.

Segundo a Lei, a pessoa interessada na obtenção do benefício deve


juntar prova de sua condição e requerê-lo à autoridade administrativa
competente, que determinará as providências a serem cumpridas.
Deferida a prioridade, os autos receberão identificação própria que
evidencie o regime de tramitação prioritária.

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9) (Cespe/STM/Analista Judiciário/2010) No âmbito do processo


administrativo, um órgão e seu titular podem, se não houver
impedimento legal, delegar parte da sua competência a outros
órgãos ou titulares, devendo, tanto o ato de delegação quanto
sua eventual revogação, ser objeto de publicação em meio oficial.

O art. 12 da Lei 9.784/1999 reza que um órgão administrativo e seu


titular poderão, se não houver impedimento legal, delegar parte da sua
competência a outros órgãos ou titulares, ainda que estes não lhe sejam
hierarquicamente subordinados, quando for conveniente, em razão de
circunstâncias de índole técnica, social, econômica, jurídica ou territorial.
Essa regra aplica-se inclusive à delegação de competência dos órgãos
colegiados aos respectivos presidentes. Já o art. 14 dispõe que o ato de
delegação e sua revogação deverão ser publicados no meio oficial.
Assim, o enunciado é verdadeiro.

Reza a Lei que o ato de delegação especificará as matérias e poderes


transferidos, os limites da atuação do delegado, a duração e os objetivos
da delegação e o recurso cabível, podendo conter ressalva de exercício
da atribuição delegada. O ato de delegação é revogável a qualquer
tempo pela autoridade delegante. Além disso, as decisões adotadas por
delegação devem mencionar explicitamente esta qualidade e considerar-
se-ão editadas pelo delegado.

10) (Cespe/TCU/Técnico/2007) Os atos de caráter normativo e


a decisão de recursos administrativos não podem ser delegados.

Diz o artigo 11 da Lei n.º 9.784/1999 que a competência do


administrador público é irrenunciável e se exerce pelos órgãos
administrativos a que foi atribuída como própria, salvo os casos de
delegação e avocação legalmente admitidos. Competência é a parcela de
poder público atribuída por lei a um agente público, que deve exercê-la
nos exatos termos definidos na norma legal. Maria Sylvia Zanella Di
Pietro conceitua competência como o conjunto de atribuições das
pessoas jurídicas, órgãos e agentes, fixadas pelo direito positivo. Já Hely
Lopes Meirelles define-a como o poder atribuído ao agente da
Administração para o desempenho específico de suas funções,
acrescentando que a competência resulta da lei e por ela é determinada.

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De acordo com o artigo 12 da Lei n.º 9.784/1999, um órgão


administrativo e seu titular poderão, se não houver impedimento legal,
delegar parte da sua competência a outros órgãos ou titulares, ainda que
estes não lhe sejam hierarquicamente subordinados, quando for
conveniente, em razão de circunstâncias de índole técnica, social,
econômica, jurídica ou territorial, aplicando-se essa regra à delegação de
competência dos órgãos colegiados aos respectivos presidentes.

Não obstante, o artigo 13 estabelece que não podem ser objeto de


delegação: a edição de atos de caráter normativo; a decisão de recursos
administrativos; e as matérias de competência exclusiva do órgão ou
autoridade. Essas matérias excluem-se da regra geral da Lei, que
permite a delegação. Assim, está correto o item.

11) (Cespe/TCU/Técnico/2007) Os atos do processo


administrativo devem ser produzidos por escrito, com a
assinatura da autoridade que os pratica. Essa assinatura deve ser
submetida ao reconhecimento de firma, afastando-se qualquer
dúvida sobre a sua autenticidade.

Nos processos administrativos, não obstante a incidência do princípio do


formalismo moderado, um mínimo de formalidade é exigido, uma vez
que está em jogo o interesse público e a segurança jurídica dos
administrados. Assim, os parágrafos do artigo 22 da Lei 9.784/1999
determinam que os atos do processo sejam produzidos por escrito, em
vernáculo, com a data e o local de sua realização e a assinatura da
autoridade responsável. Contudo, salvo imposição legal, o
reconhecimento de firma somente será exigido quando houver dúvida de
autenticidade (esse é o erro da questão). Diz a Lei ainda que a
autenticação de documentos exigidos em cópia poderá ser feita pelo
próprio órgão administrativo e que o processo deverá ter suas páginas
numeradas sequencialmente e rubricadas. Com isso, asseguram-se os
procedimentos necessários a um adequado grau de certeza, segurança e
respeito aos direitos dos administrados, sem que o processo
administrativo se perca em formalismos excessivamente burocráticos e
inúteis.

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12) (Cespe/TCU/Técnico/2007) Pedidos de vários interessados


com conteúdo e fundamentos idênticos devem ser formulados em
requerimentos separados, com vistas à maior agilidade dos
processos administrativos e à diminuição dos seus volumes.

Segundo o artigo 8.º da Lei n.º 9.784/1999, quando os pedidos de uma


pluralidade de interessados tiverem conteúdo e fundamentos idênticos,
poderão ser formulados em um único requerimento, salvo preceito legal
em contrário. Portanto, está errada a afirmação.

13) (Cespe/Correios/Analista/2011) As intimações dos atos


administrativos devem obedecer às prescrições legais, contudo,
ainda que apresentem algum vício que as tornem nulas, o
comparecimento espontâneo do administrado suprirá a
irregularidade.

O art. 26 da Lei 9.784/1999 dispõe sobre a comunicação dos atos do


processo administrativo. Estabelece esse dispositivo que o órgão
competente perante o qual tramita o processo administrativo
determinará a intimação do interessado para ciência de decisão ou a
efetivação de diligências. A intimação deverá conter alguns elementos
básicos, relacionados no § 1.º, entre os quais: a identificação do
intimado e nome do órgão ou entidade administrativa; a finalidade da
intimação; e a data, hora e local em que o administrado deve
comparecer. Ela deverá observar a antecedência mínima de três dias
úteis quanto à data de comparecimento. A intimação poderá ser efetuada
por ciência no processo, por via postal com aviso de recebimento, por
telegrama ou outro meio que assegure a certeza da ciência do
interessado. No caso de interessados indeterminados, desconhecidos ou
com domicílio indefinido, a intimação deve ser efetuada por meio de
publicação oficial. Segundo a Lei, as intimações serão nulas quando
feitas sem observância das prescrições legais, mas o comparecimento do
administrado supre sua falta ou irregularidade. Assim, a presente
questão está correta.

14) (Cespe/Unipampa/Assistente em Administração/2009) O


prazo para a administração decidir um processo administrativo,
após a conclusão da instrução, é de trinta dias improrrogáveis.

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Os artigos 48 e 49 da Lei 9.784/1999 tratam do dever da Administração


de decidir nos processos administrativos. Segundo o art. 48, a
Administração tem o dever de explicitamente emitir decisão nos
processos administrativos e sobre solicitações ou reclamações, em
matéria de sua competência. Não se admite, portanto, que a
Administração fique em silêncio, omitindo-se de decidir. Já o art. 49
dispõe que, concluída a instrução de processo administrativo, a
Administração tem o prazo de até trinta dias para decidir, salvo
prorrogação por igual período expressamente motivada. Como a questão
afirma que o prazo é improrrogável, ela está errada.

15) (Cespe/TJTO/Juiz de Direito/2007) Por meio do recurso ou


da revisão administrativa, não se admitirá como resultado o
agravamento da situação do recorrente.

Decorre do princípio da verdade material a possibilidade de, nos


processos administrativos, um recurso provocado pelo particular ser
decidido de modo a agravar sua situação inicial. Esta possibilidade leva o
nome de reformatio in pejus, e é inadmissível, por exemplo, no processo
judicial penal. O artigo 64 da Lei n.º 9.784/1999 deixa clara a
possibilidade de a decisão no recurso agravar a situação do
administrado, quando dispõe que o órgão competente para decidir o
recurso poderá confirmar, modificar, anular ou revogar, total ou
parcialmente, a decisão recorrida, se a matéria for de sua competência, e
que, se da decisão puder decorrer gravame à situação do recorrente,
este deverá ser cientificado para que formule suas alegações antes da
decisão. Em razão disso, a alternativa está errada.

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Situação diversa é a da revisão administrativa, que não se confunde com


o recurso administrativo. Este é o pedido de reforma da decisão feito
dentro do próprio processo, após a tomada da decisão pela autoridade
competente e dentro do prazo legal. Aquela é o reexame de processo já
encerrado em âmbito administrativo, quando se aduzir fato novo ou
circunstância suscetível de justificar a inadequação de uma sanção
aplicada. Da revisão do processo não poderá resultar agravamento da
sanção, isto é, não há a chamada reformatio in pejus na revisão
administrativa (artigo 65, parágrafo único, da Lei n.º 9.784/1999 e
artigo 182, parágrafo único, da Lei n.º 8.112/1990). Será possível
apenas a reformatio in mellius, isto é, a reforma da decisão para
beneficiar o interessado.

16) (Cespe/MS/Analista Técnico-Administrativo/2009) O


servidor público que for punido após regular processo
administrativo poderá remanescer sujeito a rejulgamento do feito
para fins de agravamento da sanção, desde que surjam novas
provas em seu desfavor.

Conforme o art. 65 da Lei 9.784/1999, os processos administrativos de


que resultem sanções poderão ser revistos, a qualquer tempo, a pedido
ou de ofício, quando surgirem fatos novos ou circunstâncias relevantes
suscetíveis de justificar a inadequação da sanção aplicada. Todavia, da
revisão do processo não poderá resultar agravamento da sanção
(reformatio in pejus), razão pela qual o item está errado.

17) (Cespe/Unipampa/Assistente em Administração/2009)


Recurso administrativo que for interposto perante órgão
incompetente será arquivado, ocorrendo a preclusão
administrativa.

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O art. 56 da Lei 9.784/1999 dispõe que, das decisões administrativas


cabe recurso, em face de razões de legalidade e de mérito. Todavia,
segundo o art. 63, o recurso não será conhecido quando interposto: fora
do prazo; perante órgão incompetente (que não tenha competência para
julgar o recurso); por quem não seja legitimado para recorrer; ou após
exaurida a esfera administrativa. Na hipótese de interposição de recurso
perante órgão incompetente este deverá indicar ao recorrente a
autoridade competente, sendo-lhe devolvido o prazo para recurso. Por
isso, o item está errado. Por fim, ressalte-se que o não conhecimento do
recurso não impede a Administração de rever de ofício o ato ilegal, desde
que não ocorrida preclusão administrativa. Neste caso, a Administração
estará exercendo o seu poder de autotutela administrativa.

18) (Cespe/TSE/Analista Judiciário/2007) Ana, servidora


pública, solicitou a concessão de licença para capacitação, com o
objetivo de cursar, por dois meses, um curso de língua inglesa na
Austrália. O pedido foi indeferido porque a autoridade
competente, Bartolomeu, considerou que, embora presentes os
requisitos formais que permitissem a concessão desse tipo de
licença, não havia interesse da administração em liberar
servidores para efetuarem esse tipo de curso. Ana, então,
apresentou pedido de reconsideração, argumentando que a
capacitação dos servidores para falar outras línguas era relevante
para a administração, mas esse pedido foi indeferido por
Bartolomeu, que reiterou a inexistência de interesse
administrativo. Irresignada, Ana ingressou com recurso contra o
indeferimento do pedido de reconsideração, dirigindo-o à
autoridade imediatamente superior a Bartolomeu.

Com relação ao pedido de reconsideração de Ana e ao recurso


contra a decisão que o indeferiu, assinale a opção correta.

(A) O pedido de reconsideração deveria ter sido dirigido ao


superior imediato de Bartolomeu.
(B) O pedido de reconsideração é descabido, por tratar-se de
decisão de caráter discricionário.
(C) O recurso interposto por Ana é descabido, pois pedidos de
reconsideração são irrecorríveis.

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(D) Ana dirigiu o recurso à autoridade correta.

Letra A: Pedido de reconsideração é aquele pelo qual o interessado


requer o reexame do ato à própria autoridade que o emitiu (daí o erro
desse item). Já recurso hierárquico é o pedido de reexame do ato
dirigido à autoridade superior à que o proferiu.

Letra B: Não há impedimento à interposição de pedido de reconsideração


em relação a decisões de caráter discricionário. Na verdade, é até mais
justificável o pedido nesse caso, já que caberá à autoridade avaliar se
deve adotar posição diversa da inicial, dentro da discricionariedade
permitida pela lei. Sendo o ato vinculado, não haverá essa margem
decisória, ficando a reforma da decisão vinculada exclusivamente ao
atendimento ou não dos pressupostos legais pelo interessado. Assim, a
alternativa está errada.

Letra C: A interposição de pedido de reconsideração não impede a


posterior impetração do recurso hierárquico. A própria redação do artigo
56 da Lei 9.784/1999 nos leva a esse entendimento. Desse modo, esta
opção é incorreta.

Letra D: Embora o artigo 56 da Lei 9.784/1999 diga que o recurso


hierárquico será dirigido à autoridade que proferiu a decisão, isso se
deve ao necessário exame de reconsideração a ser feito por essa
autoridade (ver comentário à letra A). Note que a Lei dispõe que, se o
agente não reconsiderar a decisão em cinco dias, o recurso deverá ser
encaminhado à autoridade superior. Assim, o recurso deve ser dirigido a
autoridade superior, no sentido de que ela deve ser a autoridade à qual o
recorrente destina seu discurso em seu arrazoado, embora deva o
recurso ser entregue inicialmente à autoridade que prolatou a decisão,
para que ela decida se reconsiderará ou não o feito. Desse modo, a
alternativa esta correta (gabarito).

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19) (Cespe/TSE/Analista Judiciário/2007/adaptada) No curso


de um procedimento licitatório realizado para a aquisição de
computadores, um dos concorrentes foi inabilitado por não
apresentar comprovação de determinado requisito ligado à
regularidade fiscal. Irresignado, esse licitante ingressou com
recurso contra a inabilitação, demonstrando claramente que a
comprovação do requisito estava presente na documentação
originalmente entregue. Porém, o recurso foi apresentado fora do
prazo legal, embora antes da abertura das propostas. Frente a
essa situação, a autoridade competente indeferiu o recurso, por
intempestividade, mas decidiu anular, de ofício, a inabilitação,
determinando que o licitante fosse considerado habilitado e que
suas propostas fossem abertas juntamente com as restantes.
Nessa situação, a autoridade deveria ter julgado procedente o
recurso, uma vez que invalidou a inabilitação.

O artigo 109, I, da Lei n.º 8.666/1993 estabelece que o recurso


administrativo, nos casos de habilitação ou inabilitação do licitante, deve
ser interposto no prazo de cinco dias úteis a contar da intimação do ato
ou da lavratura da ata. No presente caso, a autoridade indeferiu o
recurso por ser intempestivo, isto é, por ter ultrapassado o prazo
previsto em lei para sua interposição. E não há nenhuma obrigatoriedade
de provimento do recurso, se a autoridade, posteriormente, invalida, de
ofício, a inabilitação do licitante. Assim, está errada a alternativa.

Marçal Justen Filho ensina que os pressupostos do recurso administrativo


são apreciados com maior largueza do que se passa no Direito
Processual. Assim se impõe porque vigora, no Direito Administrativo, o
poder-dever de a Administração rever seus próprios atos e de sanar, até
mesmo de ofício, os defeitos encontrados. Trata-se do poder de
autotutela administrativa. Por isso, o vício apontado em recurso
defeituosamente formulado pode (na verdade, deve) ser decretado pela
Administração, mesmo quando o recurso não preencha os requisitos
legais. Esclarece Marçal que o recurso defeituoso pode ser apreciado
como mero exercício do direito de petição.

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Além disso, impera, nos processos administrativos, o princípio da


verdade material, conforme nos lembra Hely Lopes Meirelles. Esse
princípio autoriza a Administração a valer-se de qualquer prova lícita de
que a autoridade venha a ter conhecimento para a confirmação dos
fatos. É a busca da verdade material em contraste com a verdade
formal. Enquanto nos processos judiciais o juiz deve limitar-se às provas
indicadas no devido tempo pelas partes, no processo administrativo a
autoridade processante ou julgadora pode, até o julgamento final,
conhecer de novas provas, ainda que intempestivas ou produzidas em
outro processo, que comprovem as alegações em tela.

A Lei 9.784/1999, aplicada subsidiariamente aos recursos administrativos


da Lei 8.666/1993, em razão do seu artigo 69, consagra esse
entendimento doutrinário. O artigo 63, I, da Lei 9.784/1999 diz que o
recurso administrativo não será conhecido quando interposto fora do
prazo, mas o § 2.º desse artigo ressalta que o não conhecimento do
recurso não impede a Administração de rever de ofício o ato ilegal, desde
que não ocorrida a preclusão administrativa. Foi o que aconteceu na
situação descrita no enunciado.

20) (Cespe/TCE-AC/Analista de Controle Externo/2009) Em


face do princípio da indeclinabilidade da jurisdição (CF, art. 5.º,
inciso XXXV), não se admite a existência da chamada coisa
julgada administrativa, uma vez que sempre é dado ao
jurisdicionado recorrer ao Poder Judiciário contra ato da
administração.

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A expressão coisa julgada aplicada ao Direito Administrativo tem sentido


diverso do que é conceituado no Direito Processual. Segundo Hely Lopes
Meirelles, coisa julgada administrativa é, na verdade, apenas uma
preclusão de efeitos internos. Ela não tem o alcance da coisa julgada
judicial, porque o ato decisório da Administração não deixa de ser um
simples ato administrativo, sem a força conclusiva da decisão do Poder
Judiciário. Já nos países que adotam o contencioso administrativo
(sistema francês), tal força existe também nas decisões dos tribunais
administrativos. No Direito Administrativo o significado da coisa julgada
significa a irretratabilidade das decisões tomadas pela própria
Administração, isto é, no exaurimento das vias administrativas, com o
não cabimento de mais nenhum recurso administrativo. O item está
errado porque diz que não se admite a existência da coisa julgada
administrativa, quando, na verdade, ela existe, nos termos acima
expostos.

Destaque-se que a decisão final na esfera administrativa tem força


vinculante apenas para a própria Administração, que não poderá buscar
o Poder Judiciário para reverter uma decisão administrativa que ela
mesma proferiu em seu desfavor, reconhecendo um direito do
administrado. Este, por sua vez, sempre poderá recorrer à Justiça para
discutir seu direito, se se sentir inconformado com a decisão
administrativa. Por isso, a decisão administrativa nunca terá
definitividade absoluta, atributo exclusivo das decisões judiciais, sendo
somente irretratável e indiscutível para a própria Administração.

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LISTA DE QUESTÕES DESTA AULA

1) (Cespe/Inca/Analista/2009) O processo administrativo estabelece


uma relação bilateral, de um lado o administrado, que deduz uma
pretensão, e de outro a administração, que, quando decide, não age
como um terceiro, estranho à controvérsia, mas como parte.

2) (Cespe/OAB/2007) Aos processos administrativos aplica-se, entre


outros, o princípio

(A) do formalismo ou da essencialidade das formas.


(B) da verdade formal.
(C) da impulsão pelas partes.
(D) da proporcionalidade.

3) (Cespe/TCM-GO/Procurador/2007) Na Lei do Processo Administrativo


(Lei n.º 9.784/1999), são definidas regras aplicáveis a praticamente
todas as atividades administrativas e não necessariamente relacionadas
ao processo administrativo. Regras básicas relacionadas a anulação,
revogação e convalidação dos atos administrativos, por exemplo, que
não mantêm pertinência direta com o processo administrativo, estão
previstas na mencionada lei.
Lucas Rocha Furtado. Curso de direito administrativo.
Belo Horizonte: Fórum, 2007, p. 1.212 (com adaptações).

A lei referida no texto acima

(A) estabelece que os atos do processo administrativo não dependem de


forma determinada senão quando a lei expressamente a exigir, assim
como está disposto no CPC para os atos processuais.
(B) institui normas básicas sobre o processo administrativo no âmbito da
União, dos estados, do DF e dos municípios, visando, em especial, à
proteção dos direitos dos administrados e ao melhor cumprimento dos
fins da administração.
(C) fixa um prazo prescricional de cinco anos, contados da data em que
foram praticados, para a administração anular os atos administrativos de
que decorram efeitos favoráveis para os destinatários.

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(D) não tem nenhuma aplicação nos processos dos tribunais de contas,
visto que a própria lei exclui a sua aplicabilidade aos processos
administrativos específicos, regidos por legislação própria.

4) (Cespe/TCM-GO/Procurador/2007/adaptada) O princípio da ampla


defesa traduz a faculdade do indivíduo de, em processos judiciais ou
administrativos, na defesa de seus interesses, alegar fatos e propor
provas, com os meios e recursos inerentes.

5) (Cespe/PCES/Escrivão/2010) Os princípios que informam o processo


administrativo são os mesmos que informam o processo judicial,
aplicando-se, com a mesma intensidade, em um e outro processo.

6) (Cespe/MS/Analista Técnico-Administrativo/2009) A lei que regula o


processo administrativo no âmbito da administração pública federal
assegura ao administrado a possibilidade de fazer-se assistido por
advogado.

7) (Cespe/TJTO/Juiz de Direito/2007) O processo administrativo em


geral, no âmbito da União, pode ser instaurado de ofício ou por iniciativa
dos interessados, entre os quais se incluem as pessoas e associações
legalmente constituídas quanto a direitos ou interesses difusos.

8) (Cespe/PCES/Escrivão/2010) Terão prioridade na tramitação do


processo administrativo, em qualquer órgão ou instância, em que
figurem como partes ou interessados, pessoas com idade igual ou
superior a 60 anos, pessoas portadoras de deficiência, física ou mental, e
portadores de doenças graves.

9) (Cespe/STM/Analista Judiciário/2010) No âmbito do processo


administrativo, um órgão e seu titular podem, se não houver
impedimento legal, delegar parte da sua competência a outros órgãos ou
titulares, devendo, tanto o ato de delegação quanto sua eventual
revogação, ser objeto de publicação em meio oficial.

10) (Cespe/TCU/Técnico/2007) Os atos de caráter normativo e a decisão


de recursos administrativos não podem ser delegados.

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11) (Cespe/TCU/Técnico/2007) Os atos do processo administrativo devem


ser produzidos por escrito, com a assinatura da autoridade que os
pratica. Essa assinatura deve ser submetida ao reconhecimento de firma,
afastando-se qualquer dúvida sobre a sua autenticidade.

12) (Cespe/TCU/Técnico/2007) Pedidos de vários interessados com


conteúdo e fundamentos idênticos devem ser formulados em
requerimentos separados, com vistas à maior agilidade dos processos
administrativos e à diminuição dos seus volumes.

13) (Cespe/Correios/Analista/2011) As intimações dos atos


administrativos devem obedecer às prescrições legais, contudo, ainda
que apresentem algum vício que as tornem nulas, o comparecimento
espontâneo do administrado suprirá a irregularidade.

14) (Cespe/Unipampa/Assistente em Administração/2009) O prazo para a


administração decidir um processo administrativo, após a conclusão da
instrução, é de trinta dias improrrogáveis.

15) (Cespe/TJTO/Juiz de Direito/2007) Por meio do recurso ou da revisão


administrativa, não se admitirá como resultado o agravamento da
situação do recorrente.

16) (Cespe/MS/Analista Técnico-Administrativo/2009) O servidor público


que for punido após regular processo administrativo poderá remanescer
sujeito a rejulgamento do feito para fins de agravamento da sanção,
desde que surjam novas provas em seu desfavor.

17) (Cespe/Unipampa/Assistente em Administração/2009) Recurso


administrativo que for interposto perante órgão incompetente será
arquivado, ocorrendo a preclusão administrativa.

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DIREITO ADMINISTRATIVO
PROFESSOR LUCIANO OLIVEIRA – AULA 08

18) (Cespe/TSE/Analista Judiciário/2007) Ana, servidora pública, solicitou


a concessão de licença para capacitação, com o objetivo de cursar, por
dois meses, um curso de língua inglesa na Austrália. O pedido foi
indeferido porque a autoridade competente, Bartolomeu, considerou que,
embora presentes os requisitos formais que permitissem a concessão
desse tipo de licença, não havia interesse da administração em liberar
servidores para efetuarem esse tipo de curso. Ana, então, apresentou
pedido de reconsideração, argumentando que a capacitação dos
servidores para falar outras línguas era relevante para a administração,
mas esse pedido foi indeferido por Bartolomeu, que reiterou a
inexistência de interesse administrativo. Irresignada, Ana ingressou com
recurso contra o indeferimento do pedido de reconsideração, dirigindo-o
à autoridade imediatamente superior a Bartolomeu.

Com relação ao pedido de reconsideração de Ana e ao recurso contra a


decisão que o indeferiu, assinale a opção correta.

(A) O pedido de reconsideração deveria ter sido dirigido ao superior


imediato de Bartolomeu.
(B) O pedido de reconsideração é descabido, por tratar-se de decisão de
caráter discricionário.
(C) O recurso interposto por Ana é descabido, pois pedidos de
reconsideração são irrecorríveis.
(D) Ana dirigiu o recurso à autoridade correta.

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19) (Cespe/TSE/Analista Judiciário/2007/adaptada) No curso de um


procedimento licitatório realizado para a aquisição de computadores, um
dos concorrentes foi inabilitado por não apresentar comprovação de
determinado requisito ligado à regularidade fiscal. Irresignado, esse
licitante ingressou com recurso contra a inabilitação, demonstrando
claramente que a comprovação do requisito estava presente na
documentação originalmente entregue. Porém, o recurso foi apresentado
fora do prazo legal, embora antes da abertura das propostas. Frente a
essa situação, a autoridade competente indeferiu o recurso, por
intempestividade, mas decidiu anular, de ofício, a inabilitação,
determinando que o licitante fosse considerado habilitado e que suas
propostas fossem abertas juntamente com as restantes. Nessa situação,
a autoridade deveria ter julgado procedente o recurso, uma vez que
invalidou a inabilitação.

20) (Cespe/TCE-AC/Analista de Controle Externo/2009) Em face do


princípio da indeclinabilidade da jurisdição (CF, art. 5.º, inciso XXXV),
não se admite a existência da chamada coisa julgada administrativa,
uma vez que sempre é dado ao jurisdicionado recorrer ao Poder
Judiciário contra ato da administração.

Gabarito

1C 2D 3A 4C 5E 6C 7C 8C 9C 10C 11E 12E

13C 14E 15E 16E 17E 18D 19E 20E

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