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1 - Métodos Energeticos - Demonstrações Das Fórmulas Matemáticas PDF
1 - Métodos Energeticos - Demonstrações Das Fórmulas Matemáticas PDF
4 - TEOREMAS ENERGÉTICOS
4.1 - Introdução
Se o elemento de barra representado na Figura 4.1a for submetido a uma força exterior, Q,
que aumenta desde o valor nulo até ao valor QA , a barra sofre um alongamento crescente de
zero até ao valor de uA . Se a resposta Q - u for não linear, isto é, se o material da barra
desenvolver comportamento não linear, a relação Q - u é a que se representa na Figura 4.1b.
(a)
1 δQδu δQ
δQ 2 Trabalho
(W)
Qδu
O uA u O uA u
δu δu
(b) (c)
Figura 4.1 - A barra submetida à força axial Q (a) pode desenvolver uma relação Q-u não linear (b) ou linear
(c).
A área sob a curva Q-u e o eixo das abcissas, We, representa o trabalho produzido pela força
Q ao mover o ponto B para B’ (ver Figura 4.1a),
∫
uA
We = trabalho externo = Qδu (4.1)
0
∫
Q1
Wec = trabalho externo complementar = u δQ . (4.2)
0
1
We = QA uA . (4.3)
2
Neste caso o trabalho externo e o trabalho externo complementar são iguais, dado se são
iguais as áreas OuA A e OAQA , na Figura 4.1c.
Considere-se agora que a barra representada na Figura 4.1a está submetida a uma força Q e
que em determinado instante essa força Q varia de um infinitésimo δQ . Sob a força δQ a
barra sofre um deslocamento infinitésimal δu na direcção de Q. Neste caso, o acréscimo de
trabalho externo realizado durante a variação de deslocamento δu é o seguinte (ver Figura
4.1c)
1
δWe = Q δ u + δ Q δ u . (4.4)
2
Se o material da barra tiver comportamento não linear, surgiriam termos adicionais em (4.4)
que são infinitésimos de ordem superior a δQ δu , que podem ser desprezados, dado se ter
considerado que as estruturas em análise desenvolvem deslocamentos infinitésimais.
T T
∆We = ∫ V
Q δ U dV +
V
∫ s
Q δ U dS
s
+ termos de ordem superior (4.5a)
1
∆We = δ We + δ 2We + ...
2
em que
T T
δ We = ∫ V
Q δ U dV +
V
∫ s
Q δ U dS
s
(4.5b)
O primeiro termo de (4.5b) representa o trabalho externo produzido pelas forças de volume
Q e o segundo termo representa o trabalho externo produzido pelas forças de superfície Q .
V S
δWe = Q T δ U . (4.6)
T T
∆Wec = ∫ V
U δ QV dV + ∫ U δ Q S dS
S
+ termos de ordem superior (4.7a)
⎛1 ⎞
∆Wec = δ Wec + ⎜ δ 2 Wec + " ⎟
⎝2 ⎠
em que
∫U δ QV dV + ∫S U δ Q S dS
T T
δWec = V
(4.7b)
δWec = U T δ Q . (4.8)
N1
σ1 = . (4.9)
A
NA1 NA1 Q
A, E S1 S2 A1
u A1
dA1
L
Figura 4.2 – Barra biarticulada de comprimento L, módulo de elasticidade E e secção transversal de área A.
Sob o esforço axial N1 , a barra sofre um deslocamento u1 , obtido por intermédio da seguinte
expressão:
N1 L
u1 = (4.10)
EA
u1
ε1 = . (4.11)
L
O trabalho interno de deformação produzido pelo esforço axial N1 é igual à área representada
na Figura 4.3a, sendo obtido segundo a expressão
N1 u1
Wi = . (4.12)
2
N A1 σA1
Wi Ui
uA1 ε A1
(a) (b)
Figura 4.3 – Trabalho interno (a) e energia (b) produzidos durante a deformação axial de uma barra biarticulada
com comportamento linear-elástico.
N12 L
Wi = (4.13a)
2E A
ou
E A u12
Wi = (4.13b)
2L
pelo que o trabalho interno pode ser explicitado por intermédio de uma função quadrática nos
esforços ou nos deslocamentos. Considerando-se um elemento de comprimento dA 1 (ver
Figura 4.2), a variação de trabalho interno, dWi, realizado na deformação axial deste elemento
será obtida substituindo em (4.13) L por dA 1 e u1 por du1 , resultando
N12 d A1
dWi = (4.14a)
2E A
ou
E A du12
dWi = . (4.14b)
2 d A1
O trabalho interno por deformação axial da barra obtém-se integrando as expressões (4.14) ao
longo do comprimento da barra,
1 L N12
Wi =
2 ∫ 0 EA
d A1 (4.15a)
ou
2
1 L ⎛ du ⎞
Wi = ∫
2 0
E A ⎜ 1 ⎟ d A1 .
⎝ d A1 ⎠
(4.15b)
1 L σ 12
2 ∫0 E
Ui = A d A1
(4.16a)
1
= ∫ σ 1 ε1 dV
2 V
ou
1
Ui =
2 ∫V
ε12 E A d A1
. (4.16b)
1
= ∫ σ 1 ε1 dV
2 V
1 σ 12
Ui = (4.17a)
2 E
ou
1
Ui = σ 1 ε1 . (4.17b)
2
Ui =
1
2 ∫V
( )
σ 1 ε1 + σ 2 ε 2 + σ 3 ε 3 dV . (4.19)
O elemento de barra representado na Figura 4.4 está submetido a esforços de corte no plano
A 1A 2 , V2 , e a esforços de corte no plano A 1A 3 , V3 . Os eixos A 2 e A 3 são principais centrais de
inércia da secção da barra. Estes esforços produzem trabalho interno de deformação
distorsional (ou de corte) das secções transversais da barra. Dado que o procedimento para se
estabelecer as expressões do trabalho interno e da energia por deformação de corte devido a
V3 é semelhante ao que se aplica na determinação das expressões do trabalho interno e da
energia por deformação de corte devido a V2 , apenas se descreverá este último.
A3
f
A3
A2
f
A2
A1
Figura 4.4 – Elemento de barra submetido a forças distribuídas por unidade de comprimento segundo o eixo A 2 ,
f 2 , e segundo o eixo A 3 , f3 .
Devido à actuação de f 2 , a viga deforma-se, pelo que uma determinada secção transversal da
barra desloca-se segundo A 2 , conforme se representa na Figura 4.5.
f
A2
s2'
A2 s1'
du A2
uA2
(A3)
A1
s1 s2
d A1
L
V2 u2
Wi = (4.20)
2
denominado de trabalho interno por deformação de corte no plano da secção A 1A 2 . Dado que,
u2
= γ 12 , (4.21)
L
V2
τ 12 = (4.22)
A2*
e
τ 12 = G γ 12 (4.23)
então
V2 L
u2 = (4.24)
G A2*
V22 L
Wi = (4.25a)
2 G A2*
ou
G A2* u22
Wi = (4.25b)
2L
V22
dWi = d A1 (4.26a)
2 G A2*
ou
G A2* du22
dWi = . (4.26b)
2 d A1
Assim, o trabalho interno por deformação de corte da barra, no plano A 1A 2 obtém-se
integrando as expressões (4.26) ao longo do comprimento da barra,
1 L V22
Wi =
2 ∫ 0 G A2*
d A1 (4.27a)
ou
2
1 L ⎛ du ⎞
dWi = ∫ G A2* ⎜ 2 ⎟ d A1 . (4.27b)
2 0
⎝ d A1 ⎠
V3 u2
Wi = (4.28)
2
1 L V32
Wi =
2 ∫ 0 G A3*
d A1 (4.29a)
ou
2
1 L ⎛ du ⎞
dWi = ∫ G A3* ⎜ 3 ⎟ d A1 . (4.29b)
2 0
⎝ d A1 ⎠
τ 12 γ 12
Ui = (4.30)
2
1 L τ 122 A2*
2 ∫0 G
Ui = d A1
, (4.31a)
1
= ∫ τ 12 γ 12 dV
2 V
1 L 2
Ui =
2 ∫ 0
γ 12 G A2* d A1
, (4.31b)
1
= ∫ τ 12 γ 12 dV
2 V
τ 13 γ 13
Ui = (4.32)
2
1 L τ 132 A3*
2 ∫0 G
Ui = d A1
, (4.33a)
1
= ∫ τ 13 γ 13 dV
2 V
1 L 2
Ui =
2 ∫ 0
γ 13 G A3* d A1
, (4.33b)
1
= ∫ τ 13 γ 13 dV
2 V
respectivamente, que representam a energia dissipada na deformação por corte nos planos
A 1A 2 e A 1A 3 de um elemento de barra de volume V. A energia de corte dissipada por unidade
de volume no plano A 1A 2 será,
1 τ 122
Ui = , (4.34a)
2 G
ou
1 2
Ui = γ 12G , (4.34b)
2
1 τ 132
Ui = , (4.35a)
2 G
ou
1 2
Ui = γ 13G . (4.35b)
2
Ui =
1
2 ∫V
( )
τ 12 γ 12 + τ 23 γ 23 + τ 31 γ 31 dV . (4.36)
A3
A2
MA2
MA2
A1
Se esta barra for submetida a um par de momentos flectores M 2 (momento em torno do eixo
A 2 ) nas suas extremidades (ver Figura 4.6), após a flexão as secções das extremidades da
barra formam um ângulo θ 2 , denominado de ângulo de rotação por flexão (ver Figura 4.7),
que pode ser obtido por intermédio da seguinte equação
M 2L
θ2 = (4.37)
EI 2
O trabalho interno produzido pela actuação dos momentos flectores M 2 será igual à área
representada na Figura 4.8, sendo obtido por intermédio da seguinte expressão
M 2 θ2
Wi = . (4.38)
2
θA2
dθA2
A3
θA2/2 θA2/2
MA2 MA2
( A2 )
A1
d A1
Μ A2
Wi
θA2
Figura 4.8 - Trabalho interno produzido durante a flexão em torno do eixo A 2 de uma barra (flexão no plano
A 1 A 3 ).
Substituindo (4.37) em (4.38) obtém-se,
1 M 22 L
Wi = (4.39a)
2 E I2
ou
1 E I 2 θ 22
Wi = (4.39b)
2 L
1 M 22 d A1
dWi = (4.40a)
2 E I2
ou
1 E I 2 ( dθ 2 )
2
dWi = (4.40b)
2 d A1
sendo dθ 2 a variação de ângulo entre duas secções afastadas de dA 1 (ver Figura 4.7).
Se a barra estiver submetida a flexão simples, o momento M 2 varia ao longo de A 1 , pelo que
o trabalho interno de flexão em torno do eixo A 2 resulta da integração das relações (4.40),
obtendo-se
1 L M 22
2 ∫ 0 EI 2
Wi = d A1 (4.41a)
ou
2
1 L ⎛ dθ ⎞
Wi = ∫ EI 2 ⎜ 2 ⎟ d A1 . (4.41b)
2 0 ⎝ d A1 ⎠
1 L M 32
2 ∫ 0 EI 3
Wi = d A1 (4.42a)
ou
2
1 L ⎛ dθ ⎞
Wi = ∫ EI 3 ⎜ 3 ⎟ d A1 (4.42b)
2 0
⎝ d A1 ⎠
Considere-se que a barra de secção circular representada na Figura 4.9 está sujeita a um par
de momentos torsores M 1 (momento em torno do eixo de barra, A 1 ) aplicado nas
extremidades da barra. Após a torsão as secções das extremidades da barra rodam entre si de
um ângulo θ1 , denominado de ângulo de torsão.
A3
θ'A1
MA1
θ''A1 A2
M 1θ1
Wi = . (4.43)
2
M1 L
θ1 = (4.44)
2GI1
1 M 12 L
Wi = . (4.45a)
2 G I1
ou
1 θ12 G I1
Wi = . (4.45b)
2 L
M A1
A
Wi
O B θA1
Figura 4.10 - Trabalho interno produzido durante a torsão de uma barra.
1 M 12
dWi = d A1 (4.46a)
2 G I1
ou
1 ( dθ1 ) G I1
2
dWi = . (4.46b)
2 d A1
Assim, o trabalho interno por deformação de torsão da barra obtém-se integrando (4.46) no
comprimento da barra, i.e.,
1 L M 12
Wi =
2 ∫ 0 E I1
d A1 (4.47a)
ou
2
1 L ⎛ dθ ⎞
Wi = ∫ G I1 ⎜ 1 ⎟ d A1 . (4.47b)
2 0 ⎝ d A1 ⎠
M1
θ1 = (4.48)
C
No caso mais geral, uma barra pode estar submetida a esforço axial N1 , a esforços de corte na
secção ortogonal ao eixo A 1 e dirigidos segundo o eixo A 2 , V2 , e segundo o eixo A 3 , V3 , a
momento torsor, isto é, momento em torno do eixo A 1 , M 1 , a momento flector em torno do
eixo A 2 , M 2 , e a momento flector em torno do eixo A 3 , M 3 . A barra nº2 do pórtico
tridimensional representado na Figura 4.11 é exemplo disto, dado estar submetida aos seis
tipos de esforços referidos. Neste caso, o trabalho interno obtém-se aplicando o princípio da
sobreposição dos efeitos, pelo que é a soma das parcelas obtidas nas secções anteriores, isto é,
Parcela afecta
1 L M 12 1 L M 22 1 L M 32
2 ∫ 0 GI1 2 ∫ 0 EI 2 2 ∫ 0 EI 3
d A 1 + d A 1 + d A1 (4.46)
em que
A
A2* = (4.47a)
1 S32
A r34 ∫ A h3
dA
e
A
A3* = , (4.47b)
1 S 22
A r24 ∫ A h2
dA
g3 Fg3
Fg1
Fg2
2 3
A3
h A2
g1 g2
MA3
h A3
r a2
VA3 bar
A2
N A1
MA1
A1 VA2
MA2
1
Ui = (σ 1 ε1 + σ 2 ε 2 + σ 3 ε 3 + τ 12 γ 12 + τ 23 γ 23 + τ 31 γ 31 ) . (4.48)
2
1
U i = σ ij εij . (4.49)
2
υ
Ui =
2
(
1 2
)
σ 1 + σ 22 + σ 32 − (σ 1 σ 2 + σ 2 σ 3 + σ 1 σ 3 ) +
E
1
2G
(
τ 122 + τ 232 + τ 312 ) (4.50)
pelo que (4.48) passa a ser função somente das componentes de tensão. A relação (4.48) pode
ser reescrita em função somente das componentes de extensão (recorrendo-se novamente à lei
de Hooke) obtendo-se
Ui =
1
2
( 1
) (
λ ∆ 2 + G ε12 + ε 22 + ε 32 + G γ 122 + γ 232 + γ 312
2
) (4.51)
sendo
νE
λ = (4.52)
(1 + ν )(1 − 2ν )
a constante de Lamé e
∆ = ε1 + ε 2 + ε 3 (4.53)
dU i
= λ ∆ + 2Gε11 (4.54)
d ε1
que, tendo em conta as relações (2.58) e (2.59), é igual a σ11 . De forma similar verifica-se que
dU i 1
= ⎡⎣σ 1 − υ (σ 2 + σ 3 ) ⎤⎦ (4.55)
dσ 1 E
que, tendo em conta a expressão (2.47a), se constata ser igual a ε11 . Assim, por intermédio do
cálculo da energia de deformação é possível obter as componentes de tensão e de extensão em
determinado ponto.
∆U i = σ δ ε
T
em que
δ Ui = σ T δ ε . (4.57)
T
Ui = ∫ V
σ d ε dV . (4.58)
σ
∆ UiC
dσ
UiC
∆ Ui
Ui
ε
dε
Figura 4.12 - Energia de deformação (representação a uma dimensão).
Na Figura 4.12, a área entre a curva σ − ε e o eixo das abcissas representa a densidade de
energia de deformação. Por seu lado, a área entre a curva σ − ε e o eixo das ordenadas (ver
Figura 4.12) representa a energia complementar de deformação (a uma dimensão),
U ic = ∫ V
δ U ic dV (4.59)
∆U ic = ε δ σ
T
em que
δ U ic = ε T δσ . (4.61)
Denomina-se de grandeza virtual toda aquela que é bastante pequena. No presente trabalho,
toda a grandeza precedida pelo simbolo δ é considerada virtual. Por exemplo, δu , δε , δQ e
δσ representam um deslocamento virtual, uma extensão virtual, uma força virtual e uma
tensão virtual. As grandezas virtuais podem ser consideradas como variações das
correspondentes verdadeiras grandezas.
δ We = ∫ V
QV δ U dV + ∫ S
Q S δ U dS (4.59)
T
δ Wi = ∫ V
σ δ ε dV . (4.60)
δ We = δ Wi (4.61)
isto é, que o trabalho realizado pelas forças exteriores aplicadas a um corpo qualquer,
deformável e em equilíbrio para qualquer estado de deformação virtual compatível com as
ligações ao exterior, é igual ao trabalho virtual interno. A expressão (4.59) pode ser reescrita
da forma seguinte
δ We = ∫ V
QVi δ ui dV + ∫ QSi δ ui dS
S
(4.62)
δ Wi = ∫ V
σ ij δε ij dV . (4.63)
Como
1 ∂u ⎛ ∂u j ⎞
ε ij = ⎜⎜ i + ⎟ (4.64)
2 ⎝ ∂x j ∂xi ⎟⎠
então
1 ∂ (δui )
⎛ ∂ (δu j ) ⎞
δε ij = ⎜⎜ + ⎟. (4.65)
2 ⎝ ∂x j ∂xi ⎟⎠
1 ⎛ ∂ (δ ui ) ∂ (δ u j ) ⎞
δ Wi = ∫ V
σ ij ⎜
2 ⎜ ∂x j
+
∂xi ⎟
⎟ dV
⎝ ⎠
. (4.66)
1 ⎛ ∂ (δ ui ) ∂ (δ u j ) ⎞
= ∫ V 2⎜
⎜ σ ij
∂x j
+ σ ij
∂xi ⎟
⎟ dV
⎝ ⎠
∂ (δu j ) ∂ (δu j )
σ ij = σ ji . (4.67)
δxi δxi
Dado que i e j são índices mudos podem ser trocados entre si,
∂ (δu j ) ∂ (δui )
σ ji = σ ij . (4.68)
δxi δx j
∂ (δ ui )
δ Wi = ∫ V
σ ij
∂x j
dV . (4.69)
∂ (σ ij δ ui ) ∂σ ij ∂ (δ ui )
∫ V ∂x j
dV =∫
V ∂x j
δ ui dV + ∫ σ ij
V ∂x j
dV . (4.70)
∂ (σ ijδ ui ) ∂σ ij
δ Wi = ∫ V ∂x j
dV − ∫
V ∂x j
δ ui dV . (4.71)
O teorema da divergência de Gauss (Kreyszig 1988) diz que se F é uma função contínua,
escalar, vectorial ou tensorial,
∂F
∫ V ∂x j
dV = ∫ S
F n j dS (4.72)
∂ (σ ij δ ui )
∫ V ∂x j
dV = ∫ S
σ ij δ ui n j dS (4.73)
∂σ ij
δ Wi = ∫ S
σ ijδ ui n j dS − ∫
V ∂x j
δ ui dV . (4.74)
⎛ ∂σ ij ⎞
δ We − δ Wi = ∫ ⎜⎜ + QVi ⎟ δ ui dV −
⎟ ∫ (σ n j − QSi ) δ ui dS . (4.75)
⎝ ∂x j
V S ij
⎠
∂σ ij
+ QVi = 0 . (4.76)
∂x j
σ ij n j = QSi . (4.77)
T T
∫ V
Q δ U dV +
V
∫ S
Q δ U dS =
S
∫ V
σ T δ ε dV . (4.78)
Num número considerável de estruturas apenas actuam forças e reacções aplicadas em pontos
do contorno da estrutura. Nestes casos, a variação do trabalho exterior traduz-se por
n
δWe = ∑ Qi δui (4.79)
i =1
No caso geral de um corpo sujeito a um estado tridimensional de tensão e extensão, se lhe for
aplicado uma deformação virtual, durante esta deformação desenvolve-se um trabalho virtual
interno representado pela seguinte relação
δ Wi = ∫
V
(σ 1 δε1 + σ 2 δε 2 + σ 3 δε 3 + τ 12 δγ 12 + τ 23 δγ 23 + τ 31 δγ 31 ) dV . (4.80)
Para um corpo com uma forma qualquer, o cálculo deste integral pode não ser simples.
Porém, para peças lineares o trabalho interno de deformação pode calcular-se a partir dos
diagramas de esforços axiais, de esforços transversos, de momentos flectores e de momentos
de torção, o que simplifica bastante o problema.
n
δWe = ∑ Qi δui . (4.81)
i =1
Q Q Q
esforço axial, N A1 j , do esforço transverso, VA 2 j , e do momento flector, M A 3 j , respectivamente,
que se desenvolvem devidos à actuação do sistema de forças Q j , da forma seguinte
Q Q Q
N A1 j M A 3j VA 2 j
δu A = dA 1 ; δθ A 3 j = dA 1 ; δ u A 2 j =
Qj Q Q
dA 1 . (4.82)
1
EA E IA3 G AA' 2
Q1 Q2 Qi Qm
A2
Qi
A1
(A3) 1 2 i m
L dA1
(a)
Qj
A2
Qj
A1
(A3)
∑Q
L L L
δ ui = ∫ N1Qi δ u1 j + ∫ V2Qi δ u2 j + ∫ M 3Qi δ θ 3 j
Q Q Q
i 0 0 0
i =1
Qj Qj Q
. (4.83)
L N1Qi N1 L V2Qi V2 L M 3Qi M 3 j
= ∫ 0 EA
d A1 + ∫ 0 G A2*
d A1 + ∫ 0 E I3
d A1
Neste exemplo não há momento torsor, M 1 , mas se houvesse, o respectivo termo energético
seria
Qj
L M 1Qi M 1
∫ 0 G I1
d A1 (4.84)
Exemplo de aplicação
Para a viga representada na Figura 4.14, de secção com largura b e altura h, e carregada como
se exemplifica, calcular o deslocamento do ponto 1. Sob a carga Q a estrutura desenvolve
esforços de corte, V2Q , e momentos flectores, M 3Q , conforme se assinala na Figura 4.14a. Para
calcular o deslocamento pedido aplica-se uma carga unitária no ponto 1, na direcção e sentido
do deslocamento pretendido (Figura 4.14b). Sob a carga unitária, F=1, desenvolvem-se
esforços de corte, V2F =1 , e momentos flectores, M 3F =1 (ver Figura 4.15).
Q
A2
1 A1
(A3) h
u1A2 b
L/4
L/2 L/2
Q Q
V A2 ; M A3
(a)
F=1
A2
A1
(A3)
O trabalho virtual externo devido à actuação da força F=1 para os deslocamentos reais, isto é,
para os deslocamentos devidos à actuação da força Q é δ We = 1× u12 , dado que no sistema
correspondente à actuação F=1, além desta força, somente existem reacções de apoio, que,
todavia, não produzem trabalho, pois são nulos os correspondentes deslocamentos na
estrutura sob a carga Q.
L V2F =1 L M 3F =1
δ Wi = ∫ d A1 + ∫
Q Q
V2 M 3 dA . (4.85)
0 G A2* 0 E I3 1
L V2F =1 L M 3F =1
1× u12 = ∫ 0
V2Q
GA2*
d A1 + ∫ 0
M 3Q
E I3
d A1
(4.86)
Q3 Q⎛ 1⎞ ⎛ Q⎞ ⎛ 1⎞
⎜− ⎟ ⎜− ⎟ ⎜− ⎟
L/4 L/2 2 ⎝ 4⎠ L
⎝ 2 ⎠ ⎝ 4 ⎠ dA +
= ∫ 0
2 4 dA +
G A2*
1 ∫ L/4 G A2*
d A1 + ∫ L/2 G A2*
1
⎡ L ⎞⎤ ⎡ L ⎞⎤
1⎛ ⎡ QL Q ⎛ L ⎞⎤ ⎢ 3 1 ⎛⎜
Q 3
Q ⎢3
A1 L − ⎜ A1 − ⎟ ⎥ ⎢ 4 − 2 ⎜ A1 − 2 ⎟ ⎥ ⎢16 L − A1 − ⎟ ⎥
A1 A1 2 ⎢16 4⎜ 4 ⎟⎥ ⎣ ⎝ ⎠⎦ 4⎜ 4 ⎟⎥
L/4 L/2
⎣ ⎝ ⎠⎦ L
⎣ ⎝ ⎠⎦
∫ 0
2 4 dA +
E I3
1 ∫ L/4 E I3
d A1 + ∫ L/2 E I3
d A1
Q/2
Q/2 QL
4
L/2 L/2
Q Q
VA 2
MA 3
3/4
1/4
3L
3L/4 16
L/4
F=1 F=1
VA MA 3
2
Figura 4.15 – Diagramas de esforços devidos à actuação da carga Q (a) e F=1 (b).
Considere-se, por exemplo, a resultante das tensões virtuais normais à faceta ABCD que é
ortogonal ao eixo x1 (ver Figura 4.16). Esta resultante denomina-se de força virtual, e o
trabalho virtual complementar realizado na deformação de um elemento de comprimento dx1 é
δ Wic = ∫ (δσ
V 1 1 ε + δσ 2 ε 2 + δσ 3 ε 3 + δτ 12 γ 12 + δτ 23 γ 23 + δτ 31 γ 31 ) dV . (4.88)
∂ (δσ ij )
+ δ QVi = 0 (4.88)
∂ xj
δ Wic = ∫ V
ε ij δσ ij dV (4.90)
δ Wec = ∫ V
ui δ QVi dV + ∫ S
ui δ QSi dS . (4.91)
dx 3
dx
δσ1 2
dx
1
x1
Figura 4.16 – Elemento de volume dV = dx1 dx2 dx3 submetido a variação de tensão δσ 1 .
∂ (δσ ij )
δ Wec = − ∫ V
ui
∂ xj
dV + ∫ S
ui δσ ij n j dS . (4.92)
∂ ( ui δσ ij ) ∂ ui ∂ (δσ ij )
∫ V ∂ xj
dV = ∫ V ∂ xj
δσ ij dV + ∫ V
ui
∂ xj
dV (4.93)
∂ ui ∂ ( ui δσ ij )
δ Wec = ∫ V ∂ xj
δσ ij dV − ∫ V ∂ xj
dV + ∫ S
ui δσ ij n j dS . (4.94)
∂ ( ui δσ ij )
∫ V ∂ xj
dV = ∫ S
ui δσ ij n j dS . (4.95)
∂ ui
δ Wec = ∫ V ∂ xj
δσ ij dV − ∫ S
ui δσ ij n j dS + ∫ S
ui δσ ij n j dS
. (4.96)
∂ ui
= ∫ V ∂ xj
δσ ij dV
Devido à simetria do tensor das tensões σ ij = σ ji , pelo que (4.96) pode converter-se na
seguinte expressão
1 ⎛ ∂ ui ∂ uj ⎞
δ Wec = ∫ ⎜⎜ + ⎟ δσ ij dV
∂ xi ⎟⎠
2 ⎝ ∂ xj
V
(4.97)
= ∫ V
ε ij δσ ij dV
Estas condições devem ocorrer para qualquer campo de tensões virtuais δσ ij estaticamente
admissível. Pode-se assim enunciar o princípio do trabalho das forças vituais: a condição
necessária e suficiente para que um corpo deformável desenvolva deslocamentos
cinematicamente admissíveis é que o trabalho exterior complementar seja igual ao trabalho
interior complementar, para todo o sistema de forças virtuais estaticamente admissíveis, i.e.,
δ Wec = δ Wic .
Tendo em conta as expressões (4.91) e (4.97), a igualdade anterior pode ser representada, em
notação matricial, pela seguinte
∫
T
∫
T
V
U δ QV dV +
S
U δ Q S dS = ∫ V
ε T δ σ dV (4.99)
Exemplo de aplicação
M3 R x + MA
σ1 = x2 = A 1 x2 .
I3 I3
δ Wic = ∫ V
ε1 δσ 1 dV
σ1
= ∫V E
δσ 1 dV
RA x1 + M A δ Q x1
= ∫V EI 3
x2
I3
x2 dV
= ∫ L
RA x1 + M A
EI 3
δ Q x1
I3
( ∫ x dA) dx
A
2
2 1
em que
δ M 3 ( x1 )
δσ 1 = x2
I3
δ Q x1
= x2
I3
e
I3 = ∫ A
x22 dA .
δQ
δ Wic =
EI 3 ∫ (RL
x + M A ) x1 dx1
A 1
.
δ Q ⎛ RA L3 L2 ⎞
= ⎜ + MA ⎟
EI 3 ⎝ 3 2⎠
Pelo teorema das forças virtuais sabe-se que δ Wec =δ Wic pelo que
RA L3 M A L2
0 = +
3 EI 3 2 EI 3
que permite determinar a incógnita RA . Esta relação é uma equação de compatibilidade dos
deslocamentos.
x2
MA
B x1
(x3) A
RA
L
(a)
δQ
A B
LδQ
δQ
(b)
x2
dA x1
x3 x2 σ1
(c)
Figura 4.17 – Exemplo de aplicação.
n εi
∫ ∑Q ∫ ∫ (σ δε1 + σ 2 δε 2 + σ 3 δε 3 + τ 12 δγ 12 + τ 23 δγ 23 + τ 31 δγ 31 ) dV (4.100)
ui
i δ ui = 1
0 V 0
i =1
Q σ
Qi σi
ui u εi ε
δui (a) δεi (b)
Figura 4.18 – Trabalho externo (a) e interno (b) quando as acções aumentam desde o valor nulo até ao seu valor
final. Representação a uma dimensão.
Considerando a lei de hooke estabelecida em termos de grandezas virtuais (ver secção 2.8,
expressões (2.47)),
δσ 1 δσ 2 + δσ 3
δε1 = −υ + α δt
E E
δσ δσ + δσ 1
δε 2 = 2 − υ 3 + α δt
E E
δσ δσ + δσ 2
δε 3 = 3 − υ 1 +α δ
E E
(4.101)
δτ 12
δγ 12 =
G
δτ 23
δγ 23 =
G
δτ 31
δγ 31 =
G
υ
1 n
∑ Qi ui =
2 i =1
1
∫
2E V
( )
σ 12 + σ 22 + σ 32 dV − ∫ (σ 1σ 2 + σ 2σ 3 + σ 3σ 1 ) dV
E V
(4.102)
+
1
2G V∫ ( ) 1
τ 122 + τ 232 + τ 312 dV + ∫ (σ 1 + σ 2 + σ 3 ) α t dV
2 V
em que
1
(σ 1 + σ 2 + σ 3 )α t dV = Wi ,t
2 ∫V
(4.103)
∑Qu
i =1
i i = ∫ (σ ε
V 1 1 + σ 2ε 2 + σ 3ε 3 + τ 12γ 12 + τ 23γ 23 + τ 31γ 31 ) dV . (4.104)
Q σ
Qi σi
We = Qi ui W i = σ i εi
ui u εi ε
Figura 4.19 – Trabalho externo (a) e interno (b) quando as acções são aplicadas como seu valor final.
Representação a uma dimensão.
2υ
( )
n
1
∑Q u
i =1
i i =
E ∫ V
σ 12 + σ 22 + σ 32 dV −
E ∫V
(σ 1σ 2 + σ 2σ 3 + σ 3σ 1 ) dV
. (4.105)
+
1
G ∫V
2
( 2 2
V
)
τ 12 + τ 23 + τ 31 dV + ∫ (σ 1 + σ 2 + σ 3 ) α t dV
Comparando (4.102) com (4.105) verifica-se que esta última é o dobro da primeira, pelo que,
n Qi =Q
1 n
∑Q u
i =1
i i = ∑ Qi ui .
2 i =1
(4.106)
Qi = 0 Qi =Q
Considere-se que a viga representada na Figura 4.20 tem comportamento linear e elástico
quando submetida a qualquer sistema de forças exteriores. A essa viga vai-se aplicar dois
sistemas de forças exteriores, independentes e em equilíbrio, Qi e Qj. Sob o primeiro sistema
de forças, Qi, a viga deforma-se desenvolvendo-se deslocamentos ui sob os pontos de
aplicação das forças Qi e segundo a direcção dessas forças (ver Figura 4.20a). Aplicando o
sistema de forças Qj, a viga deforma-se, e os pontos de aplicação das forças Qj deslocam-se de
uj na direcção dessas forças (ver Figura 4.20b).
Qi 1 Qi 2 Qi 3 Qi 4
1
Sistema de forças
Qi
ui 1 i ui 3i ui 4i
ui 2 i
uj 1 i
uj 2 i
(a)
Qj 1 Qj 2
Sistema de forças
Qj
uj1 j
uj2 j
ui 1 j ui 4 j
ui 2 j ui 3 j
(b)
Figura 4.20 – Deformação de viga sob um sistema de forças Qi (a) e Qj (b).
Aplicando o teorema dos trabalhos virtuais a cada um dos sistemas de forças em equilíbrio,
tomando como deformação virtual a deformação produzida pelo outro sistema de forças
pode-se verificar que o trabalho produzido pelo sistema de forças Qi na deformação induzida
pelo sistema de forças Qj,
uik j = ∫ (σ 1iε1 j + σ 2iε 2 j + σ 3iε 3 j + τ 12iγ 12 j + τ 23iγ 23 j + τ 31iγ 31 j ) dV
n
∑Q
k =1
ik (4.107)
V
é igual ao trabalho produzido pelo sistema de forças Qj na deformação virtual induzida pelo
sistema de forças Qi.
∑Q
A =1
jA (4.108)
V
em que Qik é componente k do sistema de forças Qi (admite-se que este sistema é constituído
por n componentes), Q jA é componente A do sistema de forças Qj (admite-se que este sistema
é constituído por m componentes), uik j é o deslocamento do ponto de aplicação da
componente k do sistema de forças Qi, Qik , devido à actuação do sistema de forças Qj, e u jAi é
o deslocamento do ponto de aplicação da componente A do sistema de forças Qj, Q jA , devido
à actuação do sistema de forças Qi. Por sua vez, σ 1i , σ 2i , σ 3i ,τ 12i , τ 23i , τ 31i e
ε1i , ε 2i , ε 3i , γ 12i , γ 23i , γ 31i são as componentes de tensão e extensão devidas à actuação do
sistema de forças Qi, enquanto σ 1 j , σ 2 j , σ 3 j ,τ 12 j , τ 23 j , τ 31 j e ε1 j , ε 2 j , ε 3 j , γ 12 j , γ 23 j , γ 31 j são
as componentes de tensão e extensão devidas à actuação do sistema de forças Qj.
∑Q
k =1
ik uik j = Qi1 ui1 j + Qi2 ui2 j + Qi3 ui3 j + Qi4 ui4 j (4.109)
e
m
∑Q
A =1
jA u jAi = Q j1 u j1i + Q j2 u j2i . (4.110)
n m
A relação estabelecida em (4.111) pode também ser obtida por intermédio do procedimento
que se passa a descrever.
1 n 1
We,1 = ∑
2 k =1
Qik uik i = ∑ Qi f ii .
2
(4.112)
uik i = f ii , (4.113)
Qi 1 Qi 2 Qi 3 Qi
Qi 1
ui 1i ui 3i
ui 2i
1 Qi 1 ui 1i
2
d1
(a)
ui 1i ui
(b)
Figura 4.21 – Deformação de viga sob um sistema de forças Qi (a) e representação do trabalho produzido por
uma componente de força do sistema Qi (b).
We,1 =
1
(
Qi ui i + Qi2 ui2i + Qi3 ui3i .
2 1 1
) (4.114)
n
1 m
We, 2 = ∑ Qik uik j + ∑Qj u j j (4.115a)
k =1 2 A =1 A A
ou
1
We, 2 = ∑ Qi f ij + ∑ Q j f jj (4.115b)
2
Qi 1 Qj 1 Qi 2 Qj 2 Qi 3
d1
d2
ui1 j ui3 j
Qi Qj
Qi1 Qj1
1 1
We = We ,1 + We, 2 =
2
∑ Qi f ii + ∑ Qi f ij + ∑ Q j f jj .
2
(4.117)
Considere-se agora o caso em que primeiro se aplica o sistema de forças Qj, seguido do
sistema de forças Qi. Esta situação está representada nas Figuras 4.24 a 4.26. Desenvolvendo
procedimento semelhante ao acabado de descrever obtém-se
1 m
We',1 = ∑ Q jA u jA j . (4.118a)
2 A =1
ou
1
We',1 = ∑ Q j f jj . (4.118b)
2
m
1 n
We', 2 = ∑ Q jA u jAi + ∑ Qi ui i (4.119a)
A =1 2 k =1 k k
ou
1
We', 2 = ∑ Q j f ji + ∑ Qi fii (4.119b)
2
pelo que
1 1
We' = We',1 + We', 2 =
2
∑ Q j f jj + ∑ Q j f ji + ∑ Qi f ii .
2
(4.120)
∑Q i f ij = ∑Q j f ji . (4.121)
Qj 1 Qj 2 Qj
Q j1
uj1 j uj2 j
1 Qj1 uj1 j
2
d1
(a)
uj1 j uj
(b)
Figura 4.24 – Deformação de viga sob um sistema de forças Qj (a) e representação do trabalho produzido por
uma componente de força do sistema Qj (b).
Qi 1 Qj 1 Qi 2 Qj 2 Qi 3
d1
d2
ui 1 i ui 3i
uj 1 i ui 2 i uj 2 i
Figura 4.25 – O sistema de forças Qi introduz um acréscimo de deformação na viga já sujeita ao sistema de
forças Qj.
Qj Qi
Qj1 Qi1
Qj1 uj1 j
Qi1 ui1 j
uj1 j uj ui1 j ui
(a) (b)
Figura 4.26 – Trabalho produzido pelo sistema de forças Qj durante a deformação devida ao sistema de forças Qi
(a). Trabalho produzido pelo sistema de forças Qi durante a deformação devida a este sistema de forças (b).
Pode-se facilmente provar que o teorema de Betti resulta directamente do teorema dos
trabalhos virtuais. Para tal considere-se ainda a viga representada na 4.20. Quando a viga é
sujeita a um sistema de forças exteriores Qi desenvolvem-se deslocamentos ui, esforços e
correspondentes deformações. No caso desta viga desenvolvem-se esforços axiais, N1i ,
esforços de corte segundo o eixo A 2 , V2i , e momentos flectores segundo o eixo A 3 , M 3i . Um
elemento de comprimento infinitesimal dA 1 submetido a estes esforços sofre deformações
axiais, de corte e de flexão que se obtêm por intermédio das seguintes expressões,
N1i V M
d A 1 ; 2 i * d A 1 , 3i d A 1 . (4.122)
EA GA2 EI 3
Por sua vez, quando a viga é submetida a um sistema de forças Qj desenvolve deslocamentos
uj, esforços N1 j , V2 j e M 3 j , e deformações determinadas pelas expressões,
N1 j V2 j M3 j
d A1 ; d A 1 , d A1 . (4.123)
EA GA2* EI 3
Segundo o teorema dos trabalhos virtuais, o trabalho externo produzido pelo sistema de forças
exteriores Qi nos deslocamentos devidos à actuação do sistema de forças exteriores Qj (uij) é
igual ao trabalho interno realizado pelos esforços induzidos pelo sistema de forças Qi ( N1i ,
V2i , M 3i ) nas deformações internas provocadas pelo sistema de forças Qj ( ( N1 j d A1 ) EA ,
(V 2j d A1 ) GA2* , ( M 3 j d A1 ) EI 3 ), isto é,
n N1 j V2 j M3 j
∑Q
k =1
ik uik j = ∫ L
N1i
EA
d A1 + ∫ L
V2i
GA *
d A1 + ∫ L
M 3i
EI 3
d A1 . (4.124)
2
Por outro lado sabe-se ainda que, pela aplicação do teorema dos trabalhos virtuais, o trabalho
externo produzido pelo sistema de forças exteriores Qj nos deslocamentos devidos à actuação
do sistema de forças exteriores Qi (uji) é igual ao trabalho interno realizado pelos esforços
induzidos pelo sistema de forças Qj ( N1 j , V2 j , M 3 j ) nas deformações internas provocadas
pelo sistema de forças Qi ( ( N1i d A1 ) EA , (V2i d A1 ) GA2* , ( M 3i d A1 ) EI 3 ), isto é,
m
N1i V2i M 3i
∑Q
A =1
jA u jAi = ∫ N1 j
L EA
d A1 + ∫ L
V2 j
GA2*
d A1 + ∫ L
M3 j
EI 3
d A1 . (4.125)
Como os termos da direita das relações (4.124) e (4.125) são iguais, resulta a igualdade
(4.111).
Qi = 1 Qj = 1
i j i j
ui = f ii uj = f ji ui = f ij uj = f jj
(a) (b)
Figura 4.27 – Configuração de equilíbrio Qi=1 (a) e Qj=1 (b).
Como em qualquer das configurações as reacções não produzem trabalho, dado não haver
assentamentos de apoios, a aplicação do teorema de Betti resulta na seguinte relação,
1 × f ij + 0 × f jj =1 × f ji + 0 × f ii (4.126)
pelo que
f ij = f ji (4.127)
A relação (4.127) indica que o deslocamento de um ponto i devido à actuação de uma força de
valor unitário aplicada num ponto j, fij, de um corpo elástico é igual ao deslocamento de um
ponto j devido à actuação de uma força de valor unitário aplicada num ponto i, fji. O valor das
forças aplicadas não têm que ter necessariamente valor unitário. O que têm que ter é o mesmo
valor, dado que assim,
Q f ij = Q f ji (4.128)
em que Q representa o valor da força aplicada quer no ponto i quer no ponto j. A relação
(4.128) degenera na relação (4.127). Os termos fij e fji são os coeficientes de influência das
forças Qj e Qi, respectivamente, já referidos em secções anteriores. No sentido mais geral, a
relação (4.123) significa que a matriz de flexibilidade é simétrica.
Exemplo de aplicação
A2
MA = 1
B A1
(A3) A
f BA
(a)
F=1
A B
f AB
(b)
Figura 4.28 – Viga submetida a momento aplicado na secção A (a) e força aplicada na secção B (b).
Resolução:
i j i j
ui = 1 ui = 0
uj = 0 uj = 1
(a) (b)
Figura 4.29 – Configuração de equilíbrio ui=1 e nulos os restantes deslocamentos (a) e uj=1 e nulos os restantes
deslocamentos (b).
pelo que
k ji = kij (4.130)
A relação (4.130) indica que a força aplicada num ponto j necessária para impedir o
deslocamento desse ponto segundo a força Qj, quando no ponto i se impõe um deslocamento
unitário ui=1, kji, é igual à força aplicada num ponto i necessária para impedir o deslocamento
desse ponto segundo a carga Qi quando no ponto j se impõe um deslocamento unitário uj=1,
kij.
O valor dos deslocamentos impostos nos pontos i e j não têm que ter necessariamente valor
unitário. O que têm que ter é o mesmo valor, dado que assim,
em que u representa o valor do deslocamento aplicado no ponto i e no ponto j. kij e kji são os
coeficientes de influência dos deslocamentos uj e ui, respectivamente, já referidos em secções
anteriores. No sentido mais geral, a relação (4.130) significa que a matriz de rigidez é
simétrica.
Exemplo de aplicação
A2
E, I A3 A1
B C
(A3) A
L L
(a)
A B C
uA = ∆A = 1 QB = KBA
(b)
A B C
uB = ∆B = 1
QA = KAB
(c)
Figura 4.30 – Exemplo de aplicação do teorema da reciprocidade das forças.
Resolução:
A segunda configuração de equilíbrio (ver Figura 4.31b) é constituída por uma força no ponto
j, capaz de produzir um deslocamento unitário neste ponto e na direcção dessa força, Qj=kjj, e
por uma força nula no ponto i, Qi=0, tendo neste ponto ocorrido um deslocamento ui = f ij ≠ 0 .
Coloca-se sobre a variável fij um traço ( f ij ), por forma a distingui-la de fij. f ij é o
deslocamento do ponto de aplicação da força Qi, devido à actuação de um deslocamento
unitário no ponto j segundo a direcção de Qj, enquanto que, como se viu em anteriores
secções, fij é o deslocamento do ponto de aplicação de Qi, segundo a sua direcção, devido à
actuação de uma força unitária Qj=1.
Qi = 1 Kji Qj = Kjj
Qi = 0
i j i j
ui = f ii
ui = f ij = 0 uj = 1
uj = f ji =
0
(a) (b)
Figura 4.31 – Configuração de equilíbrio Qi=1, ui = f ii ≠ 0 , k ji ≠ 0 e uj=fji=0 (a). Configuração uj=1,
Q j = k jj ≠ 0 , ui = f ij ≠ 0 , e Qi=0 (b).
pelo que
k ji = − f ij (4.133)
A relação (4.133) indica que a força aplicada num ponto j necessária para impedir o
deslocamento desse ponto segundo a força Qj ( k ji ), quando no ponto i se aplica uma força
unitária Qi=1, é igual, mas de sinal contrário, ao deslocamento do ponto de aplicação da força
Qi, na sua direcção, quando no ponto j se impõe um deslocamento unitário segundo a direcção
de Qj.
Exemplo de aplicação
Resolução:
pelo que
k ji = -124.645 kN uj = 10 mm
j j
Qi = 200 kN
i i
ui fij
(a) (b)
Figura 4.33 – Configuração Qi (a) e Qj (b).
Considere-se que o corpo representado na Figura 4.34 tem comportamento linear e elástico e
está submetido a um conjunto de forças Qi (forças de acção, QiA , e de reacção, QiR )
estaticamente independentes.
R
A
Q3
Q2 A
Q3
2 3
A
Q1 1
R
Q1
4
R
Q2
A
Q4
A R
Figura 4.34 – Corpo submetido a forças de acção, Qi , e de reacção, Qi .
Tomando para deformação virtual a deformação real provocada pelo sistema de forças Qi, a
aplicação do TTV resulta na expressão (4.104). Separando as forças de acção, QiA , das de
reacção, QiR , e representando por uiA os deslocamentos em correspondência com QiA e uiR
(assentamentos de apoio) os deslocamentos em correspondência com QiR , (4.104) converte-se
na seguinte relação:
nA nR
∂ nA
∂ nR
∂ QkA
∑ QiA uiA +
i =1 ∂ QkA
∑Q
i =1
i
R
uiR =
. (4.135)
⎛ ∂σ ∂σ ∂σ ∂τ ∂τ ∂τ ⎞
∫V ⎜⎝ ∂ Qk1A ε1 + ∂ Qk2A ε 2 + ∂ Qk3A ε 3 + ∂ Q12kA γ 12 + ∂ Q23kA γ 23 + ∂ Q31kA γ 31 ⎟⎠ dV
∂ nA
∂ QkA
∑Q i =1
i
A
uiA = ukA (4.136)
∂ nR
∂ WeR
∂ QkA
∑ QiR uiR =
i =1 ∂ QkA
(4.137)
em que
nR
∂ WeR = ∑Q
i =1
i
R
uiR (4.138)
⎛ ∂ σ1 ∂σ 2 ∂σ3 ∂τ ∂τ ∂τ ⎞ ∂ Wi
∫ V
⎜
⎝ ∂ Qk
ε +
A 1
∂ Qk
ε +
A 2
∂ Qk
ε + 12A γ 12 + 23A γ 23 + 31A γ 31 ⎟ dV =
A 3
∂ Qk ∂ Qk ∂ Qk ⎠ ∂ QkA
(4.139)
é a variação do trabalho interno, pelo que (4.135) passa a apresentar o seguinte formato:
∂ WeR ∂ Wi
ukA + = . (4.140)
∂ QkA ∂ QkA
∂ Wi ∂ WeR
ukA = − . (4.141)
∂ QkA ∂ QkA
Caso não ocorram assentamentos nas ligações do corpo ao exterior, a expressão (4.141) reduz
à seguinte:
∂ Wi
ukA = . (4.142)
∂ QkA
Se no ponto que se pretende calcular o deslocamento não existir um força aplicada segundo a
direcção pretendida, pode-se aplicar uma força fictícia nesse ponto e nessa direcção, que se
acrescenta ao sistema de forças próprio do problema, anulando-se depois o valor dessa força
fictícia na expressão do trabalho interno.
Exemplos de aplicação
1º Exemplo
p Q
u
L/2 L/2 u
L/2 L/2
(a) (b)
Figura 4.35 – Exercício n. 1 sobre a aplicação do teorema de Castigliano.
Resolução:
Como não existe uma força vertical a meio vão, vai-se considerar aplicada nesse ponto uma
força fictícia de valor Q (ver Figura 4.35b). Considerando apenas o trabalho por deformação
de flexão sabe-se que:
1 M ( x) M ( x)
2 2
Wi = ∫
2 L EI
d x=∫
L2 EI
dx (a)
pL p x2 Q
M ( x) = x− + x. (b)
2 2 2
∂ Wi 2 ⎡ ∂ M ( x) ⎤
u= = ⎢ ∫L 2 M ( x ) d x⎥ . (c)
∂Q Q =0
EI ⎣ ∂Q ⎦ Q=0
p L4
u= . (d)
384 E I
2º Exemplo
A viga representada na Figura 4.36 tem inércia 2 I entre x = 0 e x = L/2 e inércia I entre
x = L/2 e x = L. Aplicando o teorema de Castigliano calcular o deslocamento vertical e a
rotação na extremidade direita dessa viga. Considere apenas a deformação por flexão.
Q
2I I
L/2 L/2
Resolução:
1 L 2 M ( x) 1 L M ( x)
2 2
Wi = ∫ dx+ ∫ dx (a)
2 0 E ( 2I ) 2 L2 EI
pelo que
∂ Wi L2 M ( x) ∂ M ( x) L M ( x) ∂ M ( x)
u =
∂Q
= ∫0 E ( 2I ) ∂Q
dx + ∫ L2 EI ∂Q
d x. (b)
Como
M ( x) = − Q L + Q x (c)
e
∂ M ( x)
= −L + x (d)
∂Q
( −Q L + Q x ) ( −Q L + Q x )
( −L + x ) d x (−L + x) d x
L 2 L
u = ∫0 2E I
+ ∫
L 2 EI
∫ (Q L ) ∫ (Q L )
1 L2 1 L
= 2
− 2 Q L x + Q x2 d x + 2
− 2 Q L x + Q x2 d x
2E I 0 EI L 2
L 2 L . (e)
1 ⎡ 2 2 Q L x 2 Q x3 ⎤ 1 ⎡ 2 2 Q L x 2 Q x3 ⎤
= ⎢Q L x − + ⎥ + ⎢Q L x − + ⎥
2E I ⎣ 2 3 ⎦0 EI ⎣ 2 3 ⎦L2
3 Q L3
=
16 E I
M ( x) = − M − Q L + Q x (f)
e
∂ M ( x)
= −1. (g)
∂M
Como
∂ Wi L 2 M ( x) ∂ M ( x) L M ( x) ∂ M ( x)
u =
∂M
= ∫0 E ( 2I ) ∂M
dx + ∫L2 EI ∂M
dx (h)
m
Qi = ∑k
j =1
ij uj (4.143)
1 n
We = ∑ Qi ui
2 i =1
(4.144)
1 n m
We = ∑
2 i =1
∑k
j =1
ij u j ui (4.145)
1 n m
∑
2 i =1
∑k
j =1
ij u j ui = Wi . (4.146)
∂ ⎛1 n m ⎞ ∂ Wi
⎜ ∑ ∑k u j ui ⎟ = . (4.147)
∂ uA ∂ uA
ij
⎝ 2 i =1 j =1 ⎠
Como:
1 n m
1
∑
2 i =1
∑k
j =1
ij u j ui =
2
(k11 u12 + k12 u2 u1 + ... + k1A uA u1 + ... + k1m um u1 +
então,
∂ ⎛1 n m ⎞ 1
⎜ ∑ ∑k u j ui ⎟ = ( k1A u1 + k2A u2 + ... + kA1 u1 + kA 2 u2 + ... + 2 kAA uA + ...)
∂ uA
ij
⎝ 2 i =1 j =1 ⎠ 2
. (4.149)
1
= ⎡⎣u1 ( k1A + kA1 ) + u2 ( k2A + kA 2 ) + ... + 2 kAA uA ⎤⎦
2
∂ ⎛1 n m ⎞ m
⎜ ∑ ∑ kij u j ui ⎟ = ∑k Aj uj . (4.150)
∂ uA ⎝ 2 i =1 j =1 ⎠ j =1
m
∂ Wi
∑k
j =1
Aj uj =
∂ uA
(4.151)
pelo que,
m
∂ Wi = ∂ uA ∑ kAj u j
j =1 (4.152)
= ∂ uA QA
dado que,
m
QA = ∑k
j =1
Aj uj . (4.153)
De (4.152) resulta:
∂ Wi
QA = (4.154)
∂ uA
que traduz o teorema inverso do teorema de Castigliano e que se enuncia da seguinte forma:
dado um corpo, isento de variação de temperatura e de assentamento de apoios, deformado
por acção de forças exteriores, o valor de uma força aplicada num ponto é igual à derivada
parcial do trabalho de deformação elástica do corpo em ordem ao deslocamento do ponto, na
direcção da força.
Exemplos de aplicação
Aplicando o teorema inverso do teorema de Castigliano determine o momento que deve ser
aplicado na extremidade esquerda da viga representada na Figura 4.37 por forma a produzir
uma rotação unidade nesta extremidade.
M
A B
(a) L
L θA L θA
4EI 2EI
A B
θA
6EI θ 6EI θ
(b) L2 A L2 A
Figura 4.37 – Exercício sobre a aplicação do teorema inverso do teorema de Castigliano.
Resolução:
Aplique-se uma rotação θA na secção A em correspondência com o momento M pretendido
(ver Figura 4.37b). Sob esta rotação desenvolvem-se as reacções indicadas nesta Figura, pelo
que o diagrama de momentos flectores é o seguinte
4E I 6E I
M ( x) = θA − 2 θA x
L L
. (a)
4E I ⎛ 3 x⎞
= θ A ⎜1 − ⎟
L ⎝ 2 L⎠
Substituindo esta expressão na que fornece o trabalho interno de deformação por flexão
obtém-se:
1
⎡⎣ M ( x ) ⎤⎦ d x
L
∫
2
Wi =
2E I 0
2
. (b)
8E I 2⎛ 3 x⎞
L
=
L2 ∫0 θ A ⎜⎝1 − 2 L ⎟⎠ d x
∂ Wi
M =
∂θ A
16 E I L ⎡ ⎛ 3 x⎞ ⎤
2
= ∫ ⎢θ A ⎜1 − ⎟ ⎥ dx
L2 ⎣⎢ ⎝ 2 L ⎠ ⎦⎥
0
θ A =1
L
⎡
16 E I 3 x2 9 x3 ⎤
= ⎢ L − + ⎥ . (c)
L2 ⎣ 2 L 12 L3 ⎦ 0
16 E I ⎛ 3 9 ⎞
= ⎜L − L + L⎟
L ⎝
2
2 12 ⎠
4E I
=
L
Q3 Q5
3 5 5
x2
u3x2
2 7
8 4 9 L
1 1 3 6 6 x1
2 4
L L L
Figura 4.38 - Estrutura articulada plana (barras com módulo de elasticidade E e secção transversal de área A).
Dado que nas barras só se desenvolvem esforços axiais, o trabalho interno será somente o
devido à deformação axial:
9
1 ⎛ N2 L ⎞
Wi = ∑ ⎜ ⎟ .
i =1 2 ⎝ E A ⎠ i
(4.155)
∂ Wi
u32 =
∂ Q3
. (4.156)
⎛ N L ⎞ ∂ Ni
9
= ∑⎜ ⎟
i =1 ⎝ E A ⎠i ∂ Q3
Se no ponto em que se pretende conhecer o deslocamento não existir nenhuma força aplicada
com a direcção desejada, aplica-se uma força fictícia e anula-se o seu valor na expressão
(4.156).
∂ Wi
u42 =
∂ Q4 Q4 = 0
. (4.157)
9 ⎡⎛ N L ⎞ ∂ N i ⎤
= ∑ ⎢⎜ ⎟ ⎥
i =1 ⎢⎣⎝ E A ⎠i ∂ Q4 ⎥⎦ Q4 =0
x2 3
N2 N5
N3
1.5 2 3 5
N3
N2 N5 Q4x1
R1x1 N1 N1 N4 N4 x1
1 4
1 2 4
Para resolver o problema pedido, começa-se por calcular os esforços nas barras por
intermédio das equações de equilíbrio nos quatro nós que compõem a estrutura:
⎧⎪ ∑ F1 = 0 ∴ N1 + N 4 = 0
Nó 2 ⎨
⎪⎩∑ F2 = 0 ∴ N 3 − 20 = 0
∂ Wi
uk =
∂ Qk
n
⎡ Ni ∂ N M1 ∂ M1
= ∑ ⎢∫ E A ∂ Qk
dl1 + ∫ G I1 ∂ Qk
dl1 +
⎣
L L
i =1
. (4.158)
M2 ∂ M2 M3 ∂ M3
∫ L E I 2 ∂ Qk
dl1 + ∫ L E I 3 ∂ Qk
dl1 +
⎤
V2 ∂ V2 V3 ∂ V3 ⎥
∫L G A2* ∂ Qk 1 ∫L G A3* ∂ Qk 1 ⎥⎥⎦
dl + dl
i
A3
MA3
A1
MA1
VA3 N A1
A2
VA2
MA2
Figura 4.40 - Componentes de esforços que actuam numa barra de pórtico espacial.
Note-se que o deslocamento ui em (4.158) é genérico pelo que pode também representar um
deslocamento angular. Considere-se, por exemplo, que se pretendia determinar a rotação da
barra 4 da estrutura articulada representada na figura 4.41.Para tal, aplica-se na extremidade
da barra forças fictícias que produzem um binário de grandeza M (ver Figura 54.41).
Q3 Q5
3 5 5
M
L. 2
2 7
2
8
L. 4 9 L
M
L. 2
1 1 3 6 6
2 4
L
Figura 4.41 - Estrutura articulada.
Exemplos de aplicação
x2
2
A1= 1060 mm
3 N2 2
A2= 942.5 mm
5
E = 2.07 x 10 MPa
2
N2
N
2.5 30º 20 kN
x1
1 N1 1 N1 2 N
2.5
2.5 (m)
Resolução:
O binário M a aplicar na barra 1 é constituído por duas forças iguais e opostas de valor
M/2500 aplicadas nos pontos 1 e 2. Os esforços nas barras da estrutura, quando esta está
submetida à força de 20 KN e às forças M/2500, podem ser obtidos efectuando o equilíbrio do
nó 2, i.e.:
∑ F1 = 0 ∴ − N 2 cos 30 º + N1 = 0 (a)
M
∑F 2 = 0 ∴ − 20 000 +
2500
+ N 2 sin 30 º = 0
pelo que:
⎛ M ⎞
N1 = 0.866 ⎜ 40 000 + ⎟
⎝ 1250 ⎠
. (b)
M
N 2 = 40000 +
1250
Aplicando a equação (4.160) obtém-se:
⎛N L ⎞ ∂ N1 ⎛ N 2 L2 ⎞ ∂ N2
θ1 = ⎜ 1 1 ⎟ +⎜ ⎟ = 7.47 × 10− 4 rad . (c)
⎝ A1 E ⎠ M = 0 ∂ M ⎝ A2 E ⎠ M = 0 ∂ M
Considere-se que a estrutura representada na Figura 4.43a está em equilíbrio elástico sob a
acção do sistema de forças exteriores aplicado. Esta estrutura é duas vezes hiperestática, dado
que tem duas ligações ao exterior redundantes, isto é, tem-se três equações de equilíbrio e
cinco reacções incógnitas. A reacção horizontal no apoio A e o momento no apoio B foram as
incógnitas hiperestáticas seleccionadas, conforme se representa na Figura 4.43b.
g2
Q1 p Q2 Q1 p Q2 M B3
R A1 g1
A
B
= (g 3 )
(a) (b)
Figura 4.43 - Vigas duas vezes hiperestáticas
∂ Wi (4.161a)
U A1 = = 0
∂ RA1
∂ Wi (4.161b)
θ B3 = = 0
∂ M B3
dado que se admite que não há assentamento de apoio nos pontos de aplicação das incógnitas
hiperestáticas. Como a expressão do trabalho interno de deformação vem em função das
incógnitas hiperestáticas e de dados conhecidos (geometria, características dos materiais da
estrutura, diagramas de esforços), isto é, Wi = f ( RA1 , M B 3 ) , as equações (4.161) conduzem
a um sistema de duas equações a duas incógnitas, RA1 M B 3 . As equações (4.161) são
designadas por equações de compatibilidade de deslocamentos e permitem determinar o valor
das incógnitas hiperestáticas que tornam máxima ou mínima a função do trabalho interno de
deformação. Se o valor de qualquer incógnita hiperestática variar de um infinitésimo, por
exemplo, se RA1 passar para RA1 + ∆ RA1 , o princípio do movimento incipiente diz que:
∆ U A1 (4.162)
> 0,
∆ RA1
∆ U A1 ∂ U A1 ∂2 W (4.163)
lim = = 2 i > 0,
∆ RA1 → 0 ∆ RA1 ∂ RA1 ∂ RA1
o que significa que a função Wi passa por um mínimo para o verdadeiro valor de RA1 .
Como Wi pode ser explicitada com uma função quadrática nas componentes de tensão1 e
também das forças exteriores, então a expressão ∂ 2 Wi / ∂ 2 RA1 é independente de RA1 , pelo
que Wi passa por um mínimo para todos os valores de RA1 .Assim, para uma incógnita
hiperestática qualquer QK :
∂ Wi (4.164)
= 0,
∂ Qk
pelo que o teorema de Menabrea enuncia-se da seguinte forma: quando um corpo, isento de
variação de temperatura e de assentamentos de apoio, está em equilíbrio elástico sob a acção
de certo sistema de forças exteriores admissíveis, o verdadeiro sistema é aquele que torna
mínima a expressão do trabalho interno de deformação.
Se o corpo for solicitado por variação de temperatura, o teorema de Menabrea aplica-se ainda
da mesma forma, havendo apenas que substituir em (1.164) Wi por Wit − WR , em que WR é o
trabalho realizado pelas reacções dos apoios em que haja assentamentos.
Exemplos de aplicação
1º Exemplo
p p MB
A
B
x
L L
(a) (b)
Figura 4.44 - Exercício n. 1 de aplicação do teorema de Menabrea
Resolução:
Momento numa secção à distância x do apoio A:
MB pL p x2 (a)
M ( x) = x+ x−
L 2 2
⎛ σ1 σ + σ3 ⎞
=
m
∑Q F i ij Qj
= ∫σ
V
1 ⎜
⎝E
−υ 2
E
⎟ + ...
⎠
j =1
⎛ σ 12 σ σ σ σ ⎞
= ∫
V
⎜
⎝ E
− υ 1 2 − υ 1 3 ⎟ + ...
E E ⎠
1 L (b)
Wi =
2E I ∫ 0
M 2 ( x) d x
2
1 L ⎛ MB pL p x2 ⎞
=
2E I ∫
0
⎜
⎝ L
x +
2
x −
2 ⎠
⎟ dx
∂ Wi (c)
= 0
∂ MB
fica:
L ⎛ MB pL p x2 ⎞ x (d)
∫0
⎜
⎝ L
x +
2
x −
2 ⎠L
⎟ dx = 0
pelo que:
p L2 (e)
MB = − = 0
8
2º Exemplo
Considere ainda a viga representada na figura 4.44, mas admita agora que no apoio A ocorre
um assentamento vertical descendente ∆ (ver Figura 4.45). Calcule o momento de
encastramento em B.
p
A
B
L
Figura 4.45 - Exercício n. 2 de aplicação do teorema de Menabrea
Resolução:
∂ (Wi − WR ) (a)
= 0
∂ MB
em que
WR = − RA2 . ∆ (b)
⎛ P L MB ⎞ (c)
RA 2 = − ⎜ − ⎟
⎝ 2 L ⎠
então
∂ (Wi − WR ) = 0
∂ MB
∂ ⎡ 1 ⎛ MB pL p x2 ⎞
2
1 ⎛ pL M B ⎞⎤
∂ MB
⎢
⎢⎣ 2 E I
∫L ⎝⎜ L x +
2
x −
2 ⎠
⎟ d x + ⎜
2⎝ 2
+ ∆ ⎟⎥ = 0
L ⎠⎥
⎦
2
1 ⎛M pL p x2 ⎞ x ∆ (d)
2E I ∫ L ⎜⎝ LB x + 2
x− ⎟
2 ⎠ L
dx+
2L
= 0
MB L p L3 ∆
+ + = 0
6E I 48 E I 2L
pelo que:
P L2 3 E I (e)
MB = − 2 ∆
8 L
n (4.165)
∑Q δ U
i =1
i i = δ Wi ,
pelo que
n (4.166)
δ Wi − ∑Q δ U
i =1
i i = 0.
⎡ n
⎤ (4.167)
δ ⎢Wi +
⎣
∑( −
i =1
Qi U i ) ⎥ = 0
⎦
em que
n (4.168)
Wi + ∑( −
i =1
Qi U i )
é a energia potencial total do corpo que deve ser um valor constante mínimo, por forma a que
seja estável a configuração de equilíbrio do corpo sob a acção das forças exteriores (posição 3
na analogia com os possíveis movimentos de uma esfera – ver Figura 4.46).
De seguida, o teorema de Manabrea vai ser aplicado ao cálculo das incógnitas hiperestáticas
de estruturas articuladas. Considere-se, para o efeito, a estrutura representada na Figura 4.47a
que, por condições interiores, é uma vez hiperestática. Na Figura 4.47 está esquematizado o
princípio da sobreposição dos efeitos, tendo-se adaptado como incógnita hiperestática o
esforço axial da barra 5. Assim, os esforços reais NR (ver Figura 4.45a) são iguais à soma
Q
dos esforços devidos à actuação da solicitação exterior no sistema de base, N , (ver Figura
55b) com os esforços que se desenvolvem no sistema base solicitado pelas forças unitárias
aplicadas na secção de corte da barra 5, NX .
g2
Q2 Q4 Q2 Q4
3 4
2
f1Q
5
1 6 8 f1Q
4
5
g1
1
2 3 7
(a) (b)
Figura 4.47 - Aplicação do teorema de Menabrea na determinação do valor de incógnitas hiperestáticas.
Por sistema base ou sistema principal, entende-se todo o sistema que se obtém do real,
descarregado, por supressão das ligações superabundantes (exteriores e interiores). Assim,
NR = NQ + X N X . (4.169)
∂ Wi (4.170)
= 0.
∂X
Dado que,
8
1 ⎛ N2 L ⎞ (4.171)
Wi = ∑ 2⎜ ⎟
i =1 ⎝ E A ⎠i
8
(
⎡ NQ + X N X L⎤ ) (4.172)
∑
i =1
⎢
⎢⎣ EA
⎥ NX = 0
⎥⎦
ou
8
⎛ NQN X L ⎞ 8
⎛ NXNXL ⎞ (4.173)
∑ ⎜ ⎟ + X ∑ ⎜ ⎟ = 0
i =1 ⎝ E A ⎠i i =1 ⎝ E A ⎠
da qual se pode obter o valor da incógnita hiperestática X:
8
⎛ NQN X L ⎞
∑ ⎜
i =1 ⎝ E A ⎠i
⎟
X = − 8 (4.174)
⎛ NXNXL⎞
∑ ⎜
i =1 ⎝ E A ⎠i
⎟
fX Q + X fX X = 0 (4.175)
em que
n
⎛ NQN X L ⎞ (4.176)
fX Q = ∑⎜ ⎟ = 0
i =1 ⎝ E A ⎠i
n
⎛ NXNXL ⎞ (4.177)
fX X = ∑ ⎜ ⎟
i =1 ⎝ E A ⎠i
pelo que f X Q é o deslocamento relativo entre as faces de corte da barra 5 (da incógnita
hiperestática) devido à actuação da solicitação exterior (ver Figura 4.47b) e f X X é o
deslocamento relativo entre as faces de corte da barra 5 devido à actuação do par de forças
unitário aplicado na secção de corte da barra 5 (ver Figura 4.47c). A soma de f X Q com X
vezes f X X tem que ser igual a zero, dado que o deslocamento real entre as duas faces
infinitamente próximas da barra 5 é nulo.
O coeficiente de flexibilidade f X Q pode ser obtido aplicando o teorema dos trabalhos virtuais
ao sistema de forças N X (ver Figura 4.47c) na deformada provocada pelas forças exteriores
(sistema N Q - Figura 4.47b). Procedendo-se dessa forma obtém-se:
We = 1 × f X Q (4.178)
8
⎛ N X NQL ⎞ (4.179)
Wi = ∑ ⎜ ⎟
i =1 ⎝ E A ⎠i
We = 1 × f X X (4.180)
8
⎛ NXNXL ⎞ (4.181)
Wi = ∑ ⎜ ⎟
i =1 ⎝ E A ⎠i
Se a estrutura for n vezes hiperestática aplica-se a equação (4.164) a cada uma das incógnitas
hiperestáticas, obtendo-se n equações de compatibilidade que permitem determinar as n
incógnitas hiperestáticas por intermédio da resolução deste sistema de equações.