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Instabilidade local em
painéis-sanduíche
Num painel-sanduíche, as faces podem ser vistas como placas sob compressão (ou tração) montadas
sobre apoios elásticos. Esse apoio é o núcleo do sanduíche, que pode ser homogêneo como nos casos de
núcleos de espuma, ou discreto como nos casos de núcleos de colméia ou de corrugados. Esse arranjo
pode levar a diversos tipos de falha no sanduíche associados à instabilidade local das faces, como
ilustrado qualitativamente no Capítulo 10. A quantificação aproximada de alguns desses modos de
falha foi sucintamente apresentada no Capítulo 15 para falha por wrinkling e dimpling de faces em
sanduíches de núcleo de colméia, e para falhas por wrinkling em casos de núcleo de espuma. Neste
capítulo, apresentaremos as análises que deram origem àquelas formulações, iniciando pelo caso do
núcleo isotrópico-homogêneo. Toda a análise que segue neste capítulo é baseada nos trabalhos de
Gough e Hoff [67] e de Hoff [86], também sumarizados por Allen [6] eVinson [178].
d4 w d2 w
Dv + P = bσ z , (17.1)
dx4 dx2
541
Capítulo 17. Instabilidade local em painéis-sanduíche 549
Até a década de 1960, a única forma de resolver problemas de placas e cascas, isotrópicas ou não, era
através de soluções analíticas, geralmente em séries, por métodos como os de Ritz, de Galerkin, de
Navier e outros em centenas de formas e variações. Esses métodos são aplicados ou sobre a forma forte
ou sobre a forma fraca do problema e, em geral, permitem o tratamento de problemas relativamente
simples e simétricos em termos de geometria, carregamento e condições de contorno. Entre as décadas
de 1960 e 1980, com o advento dos computadores, os métodos de elementos finitos foram desenvolvidos
a partir do método dos resíduos ponderados, permitindo o tratamento de problemas de complexidade
mais próxima das situações reais. As soluções analíticas disponíveis passaram, então, a ser usadas
apenas em etapas preliminares de projeto, enquanto a análise de segurança de projetos passou a ser
executada mais intensamente por elementos finitos e não através de procedimentos experimentais,
como anteriormente.
A partir dos anos de 1990, os computadores pessoais passaram a ser disponíveis a custo baixo
o suficiente para sua disseminação a virtualmente qualquer engenheiro, deixando de ser acessíveis
apenas às grandes universidades e corporações. Ao mesmo tempo, as capacidades de processamento e
memória cresceram ao ponto de suportarem os programas comerciais de elementos finitos que haviam
sido desenvolvidos nas décadas anteriores para computadores de grande porte, principalmente main
frames. Não apenas isso, mas eles passaram a admitir os programas gráficos de interação com o usuário
nas etapas de pré e pós-processamento do modelo numérico.
De fato, o processo de projeto atual pode usar o método de elementos finitos em quase todas as
suas etapas. Tipicamente essas etapas são as seguintes:
555
Capítulo 18. Análise de compostos por elementos finitos — 1a ordem 561
exemplo u(x, y, z) = uo (x, y) − zw,xx , isto é, κx = −w,xx . Nesse caso as funções base aqui usadas não
seriam satisfatórias, uma vez que elas têm primeira derivada descontínua e segunda derivada singular.
Isso faria com que a existência das integrais no PTV não mais fosse garantida. Formulações para
placa fina são geralmente mais complicadas, pois exigem funções base com continuidade C 1 (Ω), isto
é, com primeiras derivadas contínuas. Atualmente há uma tendência a evitar seu uso em lugar das
formulações C o (Ω) baseadas na teoria de Mindlin.
Por outro lado, da mesma forma como a função do elemento 2 na Figura 18.3a foi usada para
definir a função global vista na Figura 18.3b, a função local do elemento 1 pode definir uma função
global similar àquela da Figura 18.3b, que quando somada a esta, dará origem a uma função N3 (x)
global contínua associada ao nó 3, como visto na Figura 18.3c.
Tomemos as deformações que aparecem na expressão do PTV em (18.1), em termos dos deslocamentos
⎧ ⎫
⎪
⎪ uo,x ⎪
⎪
⎪
⎪ o
v,x ⎪
⎪
½ ¾ ⎪
⎪ ⎪
⎪ ½ ¾ ½ ¾
⎨ ⎬
εo uo,y + v,x
o γ yz ψ y + w,y
= e = . (18.11)
κ ⎪
⎪ ψ x,x ⎪
⎪ γ xz ψ x + w,x
⎪
⎪ ⎪
⎪
⎪
⎪ ψ y,y ⎪
⎪
⎩ ⎭
ψ y,x + ψ x,y
⎡ ⎤
⎢ ⎥
⎢ N1,x 0 0 0 0 ··· Nnne ,x 0 0 0 0 ⎥
⎢ ⎥
⎢ 0 N1,y 0 0 0 ··· 0 Nnne ,y 0 0 0 ⎥
½ o ¾e ⎢ ⎥
ε ⎢ N1,y N1,x 0 0 0 ··· Nnne ,y Nnne ,x 0 0 0 ⎥ e
=⎢
⎢ 0 ··· ⎥ {U }
⎥
κ h ⎢ 0 0 N1,x ··· 0 0 0 Nnne ,x ⎥
⎢ 0 0 0 0 N1,y ··· 0 0 0 0 Nnne ,y ⎥
⎢ ⎥
⎢ 0 0 0 N1,y N1,x ··· 0 0 0 Nnne ,y Nnne ,x ⎥
⎣ ⎦
| {z }| {z } | {z }
Nó 1 Nó 2 Nó nne
(18.12)
⎡ ⎤
½ ¾e ⎢ ⎥
γ yz ⎢ 0 0 N1,y 0 N1 ··· 0 0 Nnne ,y 0 Nnne ⎥ e
=⎢ ··· ⎥ {U } .
γ xz ⎣ 0 0 N1,x N1 0 ··· 0 0 Nnne ,x Nnne 0 ⎦
| {z }| {z } | {z }
Nó 1 Nó 2 Nó nne
Capítulo 18. Análise de compostos por elementos finitos — 1a ordem 571
½ ¾t ∙ ¸½ ¾ ¾t ∙ ½ ¸½ ¾
R εo A B εo γ̂ yz R E44 E45 γ yz
Ω dΩ + Ω dΩ−
κ̂ B D κ γ̂ xz E45 E55 γ xz
Z ½ o ¾t ½ T ¾
R ε N (18.44)
b q dΩ −
Ωw T dΩ = 0.
Ω κ̂ M
| {z }
novo
n ot ⎢ ⎢
Z ∙
£ e ¤t A B £ e ¤
¸ Z ⎥
⎥ e
Û e ⎢ B B dxdy + [B e t
] [E e
] [B e
] dxdy ⎥ {U } −
⎢ e f B D f c c ⎥
⎣| Ω {z } | Ωe
{z }⎦
[Kfe ] [Kce ] (18.45)
n ot Z n ot Z £ ¤ ½ N T ¾
e t
Û e {Nw } q(x, y) dxdy − Û e Bfe dxdy = 0,
e e MT
|Ω {z } |Ω {z }
{F e } (novo) {F eT }
donde resulta
© ª
[K e ] {U e } = {F e } + F eT (18.46)
Capítulo 18. Análise de compostos por elementos finitos — 1a ordem 577
Figura 18.5: Trecho de casca modelada por elementos sólidos triquadráticos de Serendipity em (a),
e por elementos bidimensionais apenas em sua superfície média em (b).
Este capítulo e as teorias nele apresentadas e detalhadas dizem respeito à tentativa de se obter uma
teoria de placas que produza uma variação correta da solução dos deslocamentos e tensões ao longo da
espessura. A dificuldade nesta tarefa pode ser entendida observando as soluções de Pagano [129] obti-
das por elasticidade tridimensional. Neste ponto, o leitor pode se beneficiar de uma leitura da Seção
13.2.5. Na Figura 13.12, página 465, observa-se que, para laminados delgados a variação de desloca-
mentos coplanares ao longo da espessura pode ser bem aproximada por uma reta. Para laminados
mais espessos, a distribuição dos deslocamentos assume um comportamento cada vez mais diferente
do linear, à medida que a relação espessura/comprimento cresce. As teorias de Kirchhoff e Mindlin
prevêem apenas variação linear, e por isso são capazes de prover apenas resultados aproximados, com
erros às vezes acentuados nas tensões.
Uma outra observação útil dos resultados de Pagano refere-se à presença de tensões σ z , mais acen-
tuadas nos laminados espessos. Essa tensão é diretamente associada a εz , e esta por sua vez é associada
a uma dependência de w com z, isto é, w = w (x, y, z) . As teorias de Kirchhoff e Mindlin, usando
a hipótese de inextensibilidade, w = w(x, y), não podem detectar diretamente σ z , que, entretanto, é
importante no processo de delaminação de um composto laminado.
Em vez de se restringir a uma variação linear dos deslocamentos coplanares, toma-se uma variação
cúbica, o que explica o nome “teoria de ordem superior”. Note que ainda se mantém a inextensibilidade
da normal na última equação.
As funções uo , v o e w denotam os deslocamentos de um ponto de coordenada (x, y, 0) localizado
na superfície de referência e ψ x e ψ y são as rotações dos segmentos normais à superfície em relação
aos eixos y e x, respectivamente. As funções ζ x , ζ y , ξ x e ξ y são dependentes apenas do ponto (x, y) e
587
Capítulo 19. Teorias de ordem superior 591
°
° u(x, y, z) = uo + zψ x + z 2 ψ 2x + z 3 ψ 3x + . . . + z n ψ nx ,
°
°
° v(x, y, z) = vo + zψ y + z 2 ψ 2y + z 3 ψ 3y + . . . + z n ψ ny , (19.15)
°
°
° w (x, y, z) = wo + zw1 + z 2 w2 + . . . + z m wm .
Algumas dessas teorias são detalhadas nas seções seguintes, em conjunto com as respecticas teorias
de elementos finitos. Comparações entre as precisões obtidas por algumas dessas teorias são feitas na
Seção 19.6.
Faremos aqui um detalhamento da teoria de Reddy conforme apresentado em [142], de forma a obter
as equações do movimento consistentes com as hipóteses cinemáticas (19.7). Esse desenvolvimento
é colocado aqui a título de exemplo. De fato, as equações de movimento, definição de esforços e
deformações de placa e condições de contorno variacionalmente consistentes serão distintas para cada
uma das formulações listadas na seção 19.1.1 e poderão ser deduzidas da forma padrão, como mostrado
a seguir. De qualquer forma, este procedimento é o mesmo já utilizado no Capítulo 11 para o caso da
placa laminada de Mindlin.
Parte-se, então, das eqs.(19.7) para os deslocamentos. As relações deformação-deslocamento li-
neares usadas são as relações lineares dadas em (11.37), página 392, de forma que se obtém:
° °
° εx (x, y, z, t) = εox + zκx + z 3 κ3x , ° γ xz (x, y, z, t) = γ oxz + z 2 κxz ,
° °
° °
° εy (x, y, z, t) = εoy + zκxy + z 3 κ3xy , ° γ yz (x, y, z, t) = γ oyz + z 2 κyz , (19.16)
° °
° °
° γ xy (x, y, z, t) = γ oxy + zκxy + z 3 κ3xy , ° εz (x, y, z, t) = 0,
onde as deformações de placa na superfície de referência z = 0 são:
⎧ o ⎫ ⎧ ⎫
⎨ εx (x, y, t) ⎬ ⎨ uo,x ⎬
membrana {εo } = εoy (x, y, t) ≡ o
v,y (19.17)
⎩ o ⎭ ⎩ o o ⎭
εxy (x, y, t) u,y + v,x
½ ¾ ½ ¾
γ oyz (x, y, t) ψ y + w,y
cisalhamento transversal {γ oc } = ≡ (19.18)
γ oxz (x, y, t) ψ x + w,x
602 Materiais Compostos e Estruturas-sanduíche — Projeto e Análise
Tabela 19.1: Deflexões e tensões para laminado quadrado [0o /90o /0o ] sob carga senoidal simplesmente
apoiado. Os valores entre parênteses são erros em relação à solução de elasticidade. Os resultados de
cisalhamento transversal são obtidos diretamente pelas relações constitutivas.
3a Ordem 1a Ordem [143]
a
Variável Elasticidade (1) [142] k=1 k = 5/6 k = 3/4 k = 1/2
H
w 2, 0059 1, 9218 1, 5681 1, 7763 1, 9122 2, 5769
4 σx 0, 7548 0, 7345 0, 4475 0, 4369 0, 4308 0, 4065
τ yz 0, 21717 0, 1835 0, 1227 0, 1562 0, 1793 0, 3030
w 0, 7530 0, 7125 0, 6306 0, 6693 0, 6449 0, 8210
10 σx 0, 590 0, 5684 0, 5172 0, 5134 0, 5109 0, 4993
τ yz 0, 12275 0, 1033 0, 0735 0, 0915 0, 1039 0, 1723
w 0, 4347 0, 4342 0, 4333 0, 4337 0, 4340 0, 4353
100 σx 0, 5392 0, 5390 0, 5385 0, 5384 0, 5384 0, 5382
τ yz 0, 08282 0, 0750 0, 0586 0, 0707 0, 0782 0, 1175
(1) Valores obtidos usando a formulação de Pagano [128], revista na seção 15.3.
A Tabela 19.1 mostra, além dos resultados da teoria de elasticidade obtidos por Pagano, resultados
da teoria de primeira ordem para diversos valores da constante de cisalhamento k, onde se usou
k1 = k2 = k. Observa-se que, não importa qual valor de k seja usado, os resultados da teoria de
terceira ordem são bem melhores que os de primeira ordem. O mesmo se confirma na Tabela 19.2. Na
Figura 19.2 aparecem distribuições de tensões cisalhantes transversais τ yz ao longo da espessura. Na
Figura 19.2a temos os valores obtidos diretamente das relações constitutivas. Nota-se que, mesmo que
a teoria seja de ordem superior, as tensões são incorretamente descontínuas, embora parabólicas ao
longo de cada lâmina. Na Figura 19.2b aparecem os valores como obtidos por um pós-processamento
pela integração das equações diferenciais de equilíbrio. Nota-se que também a teoria de terceira ordem,
tanto quanto as demais, se beneficia com o processo.
De forma geral, embora a teoria de terceira ordem aproxime muito melhor os resultados, é visível
que ela não é completamente satisfatória, o que explica as diversas propostas listadas na Seção 19.1.1,
e outras ainda sendo investigadas. Essas deficiências são visíveis na faixa de erros de τ yz e τ xz vistos
na Tabela 19.2, atingindo até 30% na teoria de terceira ordem e até 50% na teoria de primeira ordem.
Também as deficiências se manifestam na forma de descontinuidades nas interfaces como vistas na
Figura 19.2a. Diversas causas dessas deficiências podem ser identificadas, como por exemplo: