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ANÁLISE PLÁSTICA

Ao atingir o escoamento, o material entra na fase elástica. Sabe-se que após a tensão de
escoamento o material pode endurecer, oferecendo uma resistência adicional ao esforço
aplicado. No entanto, a tensão de escoamento, para muitas estruturas é uma condição limite,
portanto, assume-se que, ao ser atingida a condição de escoamento, as deformações crescem
indefinidamente sem o aumento das tensões. Nesses casos, diz-se que o material é
perfeitamente plástico.

Segue abaixo o esboço de dois gráficos, representando o comportamento de um material não


linear, mas elástico, e o outro representando um material elastoplástico perfeito.

Elástico mas não linear Elastoplástico perfeito


Figura 1-1. Material elástico não linear e elstoplástico perfeito.

A análise feita dentro da hipótese de material com comportamento elastoplástico perfeito é


dita análise plástica ou análise limite. Na análise plástica admite-se conhecido o diagrama
tensão-deformação do material. Nessa análise é útil conhecer o diagrama carga-
deslocamento do sistema.

Em sistemas elasticamente indeterminados, a análise é muito mais complicada, porque as


forças não podem ser encontradas sem que antes sejam calculados os deslocamentos, que
por sua vez dependem das forças e da relação tensão-deformação.

Portanto, para iniciar a análise é preciso assumir um deslocamento para a estrutura, que
conduzirá a uma equação de compatibilidade para os deslocamentos nas barras. Uma vez
obtidos os deslocamentos de cada barra, calculam-se as deformações específicas de cada
uma, para em seguida, a partir do diagrama tensão-deformação obter as tensões. Com as
áreas, chega-se à força, verificando-se o equilíbrio. Se as forças não estiverem em equilíbrio,
reinicia-se o processo com a assunção de um novo deslocamento, buscando uma nova
equação de compatibilidade.

Tome-se o seguinte sistema hiperestático composto por uma treliça com 3 barras idênticas.

Figura 1-2 - Sistema hiperestático.


Para a solução do problema, numeram-se nós e barras. Importante ter em consideração que
como uma treliça é constituída por barras bi-rotuladas, essas só admitem esforço normal
agindo sobre elas, ou seja, esforço segundo a direção paralela ao eixo.

Figura 1-3 – Esforços nas barras.

Quando a força P varia, variam também as forças nas barras, F1 e F2. A barra (2) é a barra
mais carregada. Quando a força na barra atingir o escoamento, essa não resistirá mais a
aplicação de qualquer esforço, permanecendo em escoamento. No entanto, as barras
inclinadas seguirão impondo resistência ao avanço da força. Até que a barra (2) atinja o
escoamento o sistema comporta-se elasticamente.

Após a barra (2) chegar ao escoamento as barras inclinadas permanecem em comportamento


elástico linear, até que cheguem ao escoamento, ponto B.

Figura 1-4 – Diagrama força-deslocamento.

As barras (1) e (3) ao atingirem o escoamento definem a carga limite do sistema, pois a partir
daí todo o conjunto escoa indefinidamente sem o aumento da carga. De A e B o esforço na
barra central permanece σe.A (tensão de escoamento vezes a área) e as forças nas barras
podem ser encontradas pelo equilíbrio no nó D.

Analisando fase-a-fase:

Do ponto O ao ponto A (Comportamento elástico do sistema)

1) Equilíbrio
Figura 1-5 – Equilíbrio do nó D.

F x = 0 → F1 sen  = F3 sen  ∴ F1 = F3 , (1)


F y = 0 → 2 F1 cos  + F2 = P → P = 2 F1 cos  + F2 . (2)

Portanto, verifica-se ser um problema estaticamente indeterminado, no qual o sistema


precisa de mais uma equação para que possa ser resolvido. Essa equação vem da
compatibilidade das deformações.

2) Compatibilidade:

l1
cos  = → l1 = l2 cos  . (3)
l2

F1l1 Fl
Pela lei de Hooke: l1 = ;  l2 = 2 2 .
EA EA

Logo, substituindo (3) em (1), com alei de Hooke, tem-se:

F1l1 F2l2
= cos  → F1l1 = F2l2 cos  (4)
EA EA

l2 l
Como cos  = → l1 = 2 , (5)
l1 cos 

que pode ser substituída em (4), de forma que:

l2
F1 = F2l2 cos  → F1 = F2 cos2  . (6)
cos 

Voltando ao equilíbrio e substituindo (6) em (2), tem-se:


P = 2( F2 cos2  )cos  + F2 → P = 2F2 cos3  + F2 → P = F2 (1 + 2cos3  ) (7)

A continuação da análise implica em que a força P siga aumentando até que a força na barra
(2) faça com que essa escoe, definindo o ponto A. Nesse instante: F2 = Fe = σeA e P = Pe.

Substituindo P por Pe e F2 por σe.A na equação (7) , pode-se escrever:

Pe =  e A(1 + 2cos3  ) (8)

Com a continuidade do aumento de P ingressa-se na fase do gráfico força-deslocamento


correspondente ao trecho de A até B e a força nas barras inclinadas pode ser obtida pelo
equilíbrio do nó D.

P −e A
F y = 0 → 2 F1 cos  +  e A = P → P = 2 F1 cos  +  E A ⸫ F1 =
2 cos 
. (9)

Quando as barras inclinadas atingirem o escoamento F1 = σeA e P = Plim .

Plim = 2 e A cos  +  e A → Plim =  e A(1 + 2 cos  ) . (10)

Exercício 1.1.
Considere o sistema formado por um tubo e uma barra em seu interior, sendo solicitado
axialmente, conforme Figura 1-6:

Barra interna b: Barra externa (tubo) t


Ab = 45mm2 At = 60mm2
Eb = 200GPa Et = 100GPa
 yb = 200MPa  yt = 250MPa

Figura 1-6. Exercício 1.1.


Admitindo o comportamento elastoplástico, determine:

a) O gráfico força-deslocamento do conjunto, considerando:


– Carregamento até 19,5 kN e
– Descarga total
b) Deformação residual do conjunto
c) Tensão residual na barra
d) Tensão residual no tubo

Solução:

As curvas tensão-deformação para as respectivas são construídas admitindo-se


comportamento elastoplástico perfeito, para o qual as tensões crescem até o escoamento
ocorrer e, a partir daí, continuam escoando.

As deformações específicas que correspondem às tensões de escoamento, são:

 yb 200MPa
P = = →  Pb = 110−3 (barra b - núcleo)
b
Eb 200 10 MPa
3

 yt 250MPa
P = = →  Pb = 2,5 10−3 (barra t - tubo)
t
Et 100 103 MPa

Assim, seus diagramas tensão-deformação ficam:

Barra b Barra t
Gráfico Tensão-Deformação das barras b e t

Diagramas Força-Deslocamento

Os diagramas de Força-Deslocamento de cada componente são obtidos multiplicando as


tensões pelas áreas das respectivas seções transversais:

Barra interna b:

N
N eb =  y b Ab = 200 2
 45mm 2 = 9kN ,
mm

 e =  P L →  e = 110−3  800 →  e = 0,8mm


b b b b

Barra externa t - tubo:


N
N et =  y t At = 250 2
 60mm 2 = 15kN ,
mm

 e =  P L →  e = 2,5 10−3  800 →  e = 2mm .


t t t t

Barra b Barra t
Gráfico Força-Deslocamento das barras b e t

Verifica-se que a força que produz o escoamento do tubo é maior que a da barra interna.
Portanto, é preciso conhecer a força que corresponde à essa posição no diagrama força-
deslocamento do tubo. Assim, por semelhança de triângulos (ou pela equação da reta):

15
Nt =  .
2

Substituindo o deslocamento correspondente ao escoamento da barra interna.  = 0,8mm :

15
Nt =  0,8 = 6kN .
2

Ou ainda, pela deformação específica, considerando o comprimento do tubo de 800 mm:

0,8
 0,8 = = 1 10 −3 ∴  0,8t = E0,8t   0,8t →  0,8t = 100MPa .
t
800

Como força é tensão vezes área, pode ser feito que:

N0,8t =  0,8t  At = 100  60 → N0,8t = 6kN .

Gráfico Força-Deslocamento do conjunto:

Em um primeiro instante, o conjunto se comporta elasticamente, portanto é um sistema


estaticamente indeterminado, necessitando que se estabeleça uma equação adicional, da
compatibilidade dos deslocamentos ou deformações.

1) Equilíbrio

F x = 0 → F = Nb + Nt (1).

2) Compatibilidade

Como os deslocamentos são iguais em ambas as barras:


Nbl Nl
lb = lt → = t .
Eb Ab Et At

Portanto, isolando a força no tudo, por exemplo:

EA 
Nt = Nb  t t  (2),
 Eb Ab 

que substituída em (1), conduz a:

EA   EA 
F = Nb + Nb  t t  → F = Nb 1 + t t  (3).
 Eb Ab   Eb Ab 

Quando a barra interna atinge o escoamento, a força na barra interna é a força que produz o
seu escoamento e F passa a ser a força do primeiro estágio do conjunto, ou seja:

Nb = Nbe e F = Fc e .

 EA   100  60 
Com isso, a equação (3) fica: Fc e = Nb e 1 + t t  , logo: Fc e = 9  1 +  ⸫
 Eb Ab   200  45 

 60   2  5  45
Fc e = 9  1 +  = 9  1 +  = 9    = ∴ Fc e = 15kN .
 90   3   
3 3

Dessa fase até o escoamento do tubo, tem-se, por equilíbrio:

Nb e = 9kN → tensão de escoamento da barra interna,


F = 9 + Nt , quando o tubo escoa Nt = Nt e e F = Fc lim ⸫ Fc lim = 9 + 15 → Fc lim = 24kN .

Os pontos correspondentes a essas forças são os pontos do diagrama Força-Deslocamento


do conjunto:

Com as tensões sendo determinadas por:


Pode-se obter o módulo de elasticidade do conjunto fazendo:

Primeiro trecho:

N1
1 = ; Ac = At + Ab ; Ac = 105mm2 (área do conjunto),
Ac

15 103 N
1 = = 142,857 MPa
105mm 2

É importante observar que nesse ponto (1) a deformação e o deslocamento do conjunto são
os do escoamento da barra, de forma que:

1 142,857 MPa
1 =  e → E1 = ∴ E1 = → E1 = 142,857GPa ,
b
1 110−3

que é um valor menor do que o módulo da barra, mas maior que o do tubo.

Segundo trecho:

Raciocínio análogo pode se fazer para o segundo trecho

N 2 − N1 ( 24 − 15) 10 N
3

 2 = = = 85, 741MPa .
Ac 105mm2

 2 85, 7416MPa
Como  2 =  et −  eb = 1,5 10−3 → E2 = = → E2 = 57,143GPa
 2 1,5 10−3

Observação:

Preliminarmente,

Seja r: y = mx + n (1),

uma reta de coeficiente angular m.


Se A ∊ r, então: ( x0 , y0 ) satisfaz à equação de r. Assim:

y0 = mx0 + n (2).

y − y0
Fazendo (1) – (2), vem y − y0 = mx − mx0 ou y − y0 = m( x − x0 ) ∴ m = .
x − x0

Para o diagrama dado as duas retas têm o mesmo coeficiente angular m:

O Ponto A tem coordenadas:

A = (1, 4;19,5) ,

de forma que a equação da reta fica:

F − 19,5 = m( − 1, 4) → F = 19,5 + m( − 1, 4) .

15
Como m = , que é coeficiente angular da reta paralela, reta do trecho inicial do diagrama,
0,8
tem-se:

15
F = 19,5 + ( − 1, 4 ) (3)
0,8

Que é a reta que representa a descarga do conjunto. O procedimento matemático descrito


anteriormente pôde ser feito porque, quando conjunto é descarregado, a reta da descarga é
paralela à reta do carregamento, ou seja, essas possuem a mesma inclinação.

a) O conjunto é solicitado até 19,5 kN e descarregado.

Para se saber qual o deslocamento do conjunto quando esse é carregado até 19,5 kN, usa-se
a semelhança dos triângulos formados pelas ordenadas (19,5-15) e (24-15), e abscissas (-
0,8) e (2,0-0,8):

19,5 − 15 24 − 15 (19,5 − 15)(2 − 0,8)


= →= + 0,8 →  = 1, 4mm .
 − 0,8 2, 0 − 0,8 24 − 15

b) Com o resultado anterior, é possível estabelecer a equação da reta da descarga,


considerando que a reta de descarga é paralela ao trecho inicial, ou seja têm o mesmo
coeficiente angular (15/0,8):

15
F = 19,5 + ( − 1, 4) ,
0,8

Quando o corpo é descarregado a deformação é a deformação residual: F = 0 →  =  r .

15 15
0 = 19,5 + ( r − 1, 4) → −19,5 = ( r − 1, 4) ⸫
0,8 0,8

−19,5  0,8 19,5  0,8


 r − 1, 4 = →  r = 1, 4 − →  r = 0,36mm .
15 15

c) Tensão residual na barra interna b:

A equação da descarga da barra interna é:

 9 
Nb = 9 +   ( b − 1, 4) ; quando  b =  br ∴ Nb = Nbr ,
 0,8 

 9 
Nbr = 9 +   (0,36 − 1, 4) → Nbr = −2,7kN .
 0,8 

Portanto, a tensão residual na barra interna será:

Nbr 2700
b = =− →  br = −60MPa .
r
Ab 45

No tubo t:
O deslocamento do conjunto recaiu no trecho livre do tubo, portanto a equação da reta de
descarga será:

15kN
Nt = 
2, 0mm

Como  =  cr (  cr = deformação residual do conjunto)

15
N tr =  0,36 → Ntr = 2,7kN .
2, 0

E a tensão residual será:

N tr 2700
t = = ∴  tr = 45MPa .
r
At 60

FLEXÃO EM BARRAS DE SEÇÃO HETEROGÊNEA

2.1. POSIÇÃO DA LINHA NEUTRA

Tomemos uma seção genérica composta de dois materiais com módulos de elasticidade
diferentes, E1 da área 1 e E2 da área 2, sujeita a um momento fletor Mz, como indicado.

Figura 2-1. Flexão em seção heterogênea.

O ângulo de giro da seção é dado por:


x y x 1 x
tg  = → como  x = → = → = tg ,
y  y  y

onde  é o raio de curvatura da peça fletida e y é a distância em relação ao centroide da


seção, em outras palavras, a varável independente do problema, que posiciona qualquer
elemento infinitesimal de área dA em relação a esse centro.

O eixo x é perpendicular ao plano da seção, ou seja, saindo da figura. A barra se deformará


mantendo a hipótese de seção plana, mesmo sendo constituída de dois materiais, conforme
indicado na Figura 2-1(b). Assim, a deformação εx varia linearmente com a distância em
relação à linha neutra (o centroide) da seção, portanto:

y
x = , com y para baixo positivo a partir do centro.

Como os módulos de elasticidade E1 e E2 dos dois materiais são diferentes, as expressões


obtidas para a tensão normal em cada material também serão diferentes, daí:


n
 y 1
 x1 = E  = E1   → n = x1n ,
n
(1),
1 x
  E1 y


n
 y 1
 x2 = E  = E2   → n = x 2n ,
n
(2),
2 x
  E2 y

com y podendo ser positivo ou negativo. Considera-se que os módulos de elasticidade dos
materiais sejam válidos tanto na tração quanto na compressão. A área A é constituída de dois
materiais, assim:

A = A1 + A2 .

n
Como A1 =  dA e A2 =
A1
 dA , a área total será A =  dA +  dA ou simplesmente A =  Ai
A2 A1 A2 i =1

A equação anterior, escrita em termos de um somatório, permite levar em conta um número


arbitrário n de materiais na seção. Por definição, a força elementar agindo em um elemento
diferencial é dada por:

dF
= → dF =  dA ,
dA

onde  é a tensão normal no elemento de área, pois dF age de forma perpendicular à


superfície. Portanto, a força que age no elemento dA na região ocupada pelo material 1 é

dFx1 =  x1dA ,

e no elemento dA, na região de área 2, é


dFx 2 =  x 2 dA .

Para encontrar a força total na seção deve-se integrar, nas respectivas áreas A1 e A2, essas
forças elementares, de forma que:

Fx1 =   x1dA e Fx 2 =   x 2 dA .
A1 A2

Como consequência, a resultante das forças internas na seção será dada pela soma das
contribuições de cada parte, logo: F = Fx1 + Fx 2 . Como essa resultante é nula, pois a barra
está apenas em flexão, F = 0 , o equilíbrio das forças internas leva a:


A1
x1 dA +   x2 dA = 0
A2
(3).

Substituindo as equações (1) e (2) na expressão (3), tem-se:

n n
 y  y
A E1    dA + A E2    dA = 0 .
1 2

Como a curvatura é a mesma para qualquer ponto da seção, tem-se que:

E1  y n dA + E2  y n dA = 0 (4),
A1 A2

que é a equação que permite determinar a posição da linha neutra na seção, ou seja, do
centroide. Para essa determinação, tome-se um eixo zb passando na base da seção, como eixo
de referência para as alturas, como indicado a seguir.

Figura 2-2. Determinação da linha neutra na seção heterogênea.

Os elementos de área dA, em cada parte da seção, têm suas alturas em relação ao eixo de
referência definidas por y1 e y2.

Como y = y1 − y e y = y2 − y , pode ser escrito que, da equação (4):


E1  ( y1 − y ) n dA + E2  ( y2 − y ) n dA = 0 ,
A1 A2

com solução podendo ser encontrada numericamente ou pelo binômio de newton. Se o


material é linear (n = 1), tem-se que:

E1  y1dA − E1  ydA + E2  y2 dA − E2  ydA = 0 ,


A1 A1 A2 A2

 
y  E1  dA + E2  dA  = E1  y1dA + E2  y2 dA ⸫
 A 
 1 A2  A1 A2

E1  y1dA + E2  y2 dA
y=
A1 A2
,
E1  dA + E2  dA
A1 A2

onde as integrais do numerador representam os momentos estáticos parciais, das áreas 1 e 2


em relação à LN, Q1 e Q2,

Q1 =  y dA e Q =  y dA ,
A1
1 2
A2
2

e as do denominador representam as respectivas áreas, como já indicado. Para o caso de


seção composta por dois materiais, como representado na Figura 2-1, tem-se:

E1Q1 + E2Q2 E A y + E2 A2 y02


y= → y = 1 1 01 ,
E1 A1 + E2 A2 E1 A1 + E2 A2

com y01 e y02 sendo as distâncias dos centroides das áreas 1 e 2 em relação ao centroide da
seção. De uma forma geral pode-se escrever:
n

 E  y dA
i =1
i i

y=
Ai
n
,
 E  dA
i =1
i
Ai

ou em termos dos momentos estáticos das áreas que compõem a seção:

E A y i i 0i
y= i =1
n
,
E Ai =1
i i
onde Ai y0i é o momento estático da área Ai composta por um material com módulos de
elasticidade Ei, tendo uma distância y0i de seu eixo baricentrico ao eixo de referência. Se a
seção fosse composta de um único material, ter-se-ia:

Q + Q2 +  + Qn Ay i 0i
y= 1 ou y = i =1
,
A1 + A2 +  + An n

A i =1
i

que é a equação geral para a determinação dos centroides de figuras planas.

2.2. RELAÇÃO MOMENTO-CURVATURA

Lembrando que  = dF / dA → dF =  dA , portanto dF  y = dM , com dM sendo o


momento elementar de uma força infinitesimal dF, agindo na área elementar dA e tendo y
como a distância perpendicular à sua linha de ação, tomada em relação ao centroide da seção
como indicado na Figura 2-3, tem-se:

Figura 2-3. Forças elementares agindo em áreas infinitesimais.

M =  ydF =  y dA → M =   ydA ,
A A A

Para os elementos de área dA da Figura 2-2 tem-se que dM = dM1 + dM2, com respeito às
partes 1 e 2 da seção, com dM1 sendo o momento da força elementar dF1 agindo na área
elementar dA1 distante y1 da LN e dM2 o momento da força elementar dF2 agindo na área
elementar dA2 distante y2 da LN, logo:

dM = dFx1 y + dFx 2 y .

Integrando em toda a área:

M =   x1dAy +   x 2 dAy → M =   x1 ydA +   x 2 ydA


A1 A2 A1 A2

Substituindo-se as equações (1) e (2) na equação anterior, escreve-se, portanto:

n n
 y  y E E2
M =  E1   ydA +  E2   ydA → M = 1n y y
n +1 n +1
dA + dA .
A1  A2   A1
 n
A2
Pondo ser escrito que:

1 M
= ,
 n
E1  y n +1dA + E2  y n +1dA
A1 A2

que é a relação momento-curvatura da seção.

1  x1
Como = , pela equação (1), pode ser feito que:
 n
E1 y n

 x1 M M
= →  x1 = E1 y n  (5),
E1  y n +1dA + E2  y n +1dA E1  y n +1dA + E2  y n +1dA
n
E1 y
A1 A2 A1 A2

que é a equação para o cálculo da tensão na área constituída pelo material 1 e, analogamente,

 x2 M M
= →  x 2 = E2 y n  (6),
E1  y n +1dA + E2  y n +1dA E1  y n +1dA + E2  y n +1dA
n
E2 y
A1 A2 A1 A2

a equação para o cálculo da tensão para a região constituída pelo material 2, podendo, em
ambos os casos y ser positivo ou negativo, mas devendo estar restrito à cada região onde está
sendo calculada a tensão. Para considerar a presença de três materiais na seção, conforme se
indica na Figura 2-4,

Figura 2-4. Seção com três materiais.

uma pequena rotina de programação foi elaborada, considerando a curva tensão


deformação dos materiais.
Início

Defina:
E1, E2,E3, L1, L2, L3, b, M

Calcule:
A1 = L1  b; y1 = L3 + L2 + L1 / 2 ; A2 = L2  b; y2 = L3 + L2 / 2 ; A3 = L3  b; y3 = L3 / 2

E1  ( y1 − y ) n dA + E2  ( y2 − y ) n dA = 0 ;
A1 A2

Defina:
Valor inical de y: yi = −( L1 + L2 + L3 − y )
Valor final de y: y f = y
Passo para o incremento de y: y

Incremente y de yi até y f
yi = yi + y

Sim
Verifique se y 
−( L1 + L2 + L3 − y )  y  −( L2 + L3 − y )

Calcule:
M
Não  x1 ( y ) = E1 y n 
E1  y dA + E2  y n +1dA
n +1

A1 A2

Verifique se y  Sim
−( L2 + L3 − y )  y  L3
Calcule:
M
Não  x 2 ( y ) = E2 y n 
E1  y dA + E2  y n +1dA
n +1
Calcule: A1 A2

E3 M
 ( y) = y
E1I1 + E2 I 2 Memorize:
y; ( y )

Gere gráfico:
Fim
y; ( y )

Normalmente, a configuração de uma seção composta de três materiais está associada às


chamadas peças tipo sanduiche na qual um núcleo mais pobre em propriedades compõe a
seção com materiais de melhor qualidade, normalmente com as mesmas propriedades
mecânicas, aplicados nas bordas da seção. Peças sanduiche costumam ter bordas, também,
com mesma espessura. Dessa forma, pode ser dito que L1 = L3 e E1 = E3. Com esse arranjo,
o gráfico da tensão normal devido à flexão na altura da seção tem a forma de um zigue-
zague, onde os trechos horizontais denotam as regiões de interface. Se o comportamento da
curva tensão deformação for linear, o diagrama é:

(a) curva tensão-deformação

E o gráfico das tensões na altura da seção será:

Interface

Núcleo

Borda

(a) tensões na altura da seção

Se o comportamento for não linear, o diagrama dependerá da curva tensão deformação dos
materiais constituintes e da relação dos módulos de elasticidade do núcleo e das bordas.

Se ambos os materiais tiverem variação quadrática, ter-se-á:


(a)

(b)
ou cúbica:

(a)
(b)

ou raiz quadrada:

(a)

(b)
Exercício proposto: M = 20 kNm

CONCRETO

Um exemplo de material com comportamento não-linear da curva tensão é o concreto. A lei


constitutiva desse material é descrita pela seguinte equação:

   c (1 +  )  
n

 ( c ) = 0.85 f cd 1 − 1 −  ,
   c 2 (1 +  )  

sendo n = 2 para concretos com fck ≤ 50 MPa,  c 2 = 2 10−3 e  o coeficiente de fluência. A


equação anterior é representada pelo gráfico seguinte, para  = 0, considerando um
fck = 20 MPa.

A determinação da contribuição do concreto na resistência da seção pode ser feita


desconsiderando a parte tracionada do diagrama e a criação de um diagrama equivalente,
que torna os cálculos mais simples:
A resultante de compressão do concreto é dada pela integral do diagrama de tensão

u
Rcd =   ( c )d 
0

O momento estático da região comprimida em relação à borda superior é:

u  eq
  ( c )d   (  u −  ) = 0.85 f cd   eq  ⸫
0 2

u
  ( c )d   (  u −  )  2
 eq = 0
.
0.85 f cd

 eq
Considerando:  u = 3,5 10−3 , chega-se a  eq = 2,872 10−3 ⸫ = 0,821 .
u

Essa é uma relação válida independente da resistência do concreto. Com isso a determinação
da linha neutra na seção pode ser feita considerando a parcela resistente da seção no
equilíbrio de momento das forças internas:

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