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RETICULADOS

É sempre possível substituir um corpo rígido em equilíbrio por um sistema de barras


articuladas, sujeitas a esforços aplicados nas articulações, dirigidos, assim, exclusivamente
sobre seus próprios eixos. O sistema estrutural obtido dessa forma é dito Sistema reticulado.
Nesses sistemas as barras estarão sujeitas unicamente a esforços normais.

Figura 6-1. Sólido em equilíbrio convertido em um sistema reticulado.

As forças exteriores e as barras formam então uma configuração geométrica conhecida como
dinâmica das forças exteriores ou dinâmico fechado, que é a condição gráfica primária para
o equilíbrio das forças exteriores (poligonal fechada).

Os sistemas funiculares, aqueles formados por cordas ou cabos, assumem uma configuração
de equilíbrio compatível com as forças externas, é o caso de uma corda como na figura
abaixo.

Figura 6-2. Funicular.

Tomem-se os reticulados mostrados nas Figura 6-3(a), (b) e (c). Percebe-se que na
configuração (a), o equilíbrio do sistema se ajusta às forças aplicadas. Portanto, embora
possa estar em equilíbrio estático, sua configuração final depende das forças atuantes. Esse
é um reticulado deformável.

Se, entretanto, forem adicionadas barras, ligando o nó 1 ao nó 3, como no caso (b), e ligando,
também, o nó 2 ao 4, como no caso (c), esses reticulados tornar-se-ão indeformados e suas
configurações de equilíbrio não mais dependerão das forças externas.
(a) Reticulado deformável. (b) Reticulado isostático. (c) Reticulado hiperestático.
Figura 6-3. Reticulado deformável e indeformável.

Quando o reticulado é indeformável ele é conhecido como treliça, sendo frequente usado
em aplicações de engenharia por se constituírem em sistemas práticos e econômicos.

Um sistema reticulado, portanto, pode ser definido como um conjunto de pontos materiais
submetidos a ação de forças exteriores e ligados entre si, seja por barras rígidas ou por fios
“inextensíveis”, podendo ser bem representados por um grafo (representação gráfica) de nós,
interconectados por barras.

Treliças, então, são definidas como sendo o conjunto de elementos de construção (barras
redondas, chatas, cantoneiras, perfis I, U etc) interligados entre si, sob a forma geométrica
triangular, através de pinos, soldas, rebites, parafusos, que visem formar uma estrutura
rígida, com a finalidade de receber e transmitir esforços.

Condição de estaticidade. Uma treliça é classificada em relação à estaticidade conforme o


seguinte critério:

b  2n  3 (treliça hipoestática),
b  2n  3 (treliça isostática),
b  2n  3 (treliça hiperestática),

com b sendo o número de barras e n o número de nós. Tome-se, como exemplo, o caso da
Figura 6-3:

(a) b = 4, n = 4, logo: 4  2  4  3 → 4  5 . Portanto, treliça hipoestática.


(b) b = 5, n = 4, logo: 5  2  4  3 → 5  5 . Portanto, treliça isostática.
(c) b = 6, n = 4, logo: 6  2  4  3 → 6  5 . Portanto, treliça hiperestática.

6.1. SOLUÇÃO PELO MÉTODO DOS NÓS

A análise é feita a partir do diagrama de corpo livre de cada nó que compõe a treliça. A
solução, portanto, consiste em verificar o equilíbrio de cada nó através das equações de
equilíbrio da estática. Como em cada nó, as forças (incluindo as barras) concorrem em um
único ponto, a condição de equilíbrio da Estática:

F x 0, Fy 0 e M  0,
se reduz a apenas a:

F x 0 e F y  0,
já que as forças, concorrendo em equilíbrio em um mesmo ponto, não geram momento em
relação a esse, pois que tendo suas linhas de ação passando pelo centro de momento, não
possuem braço de alavanca. Com isso, tem-se apenas duas equações disponíveis para cada
rótula (nó).

São consideradas:

1. Forças saindo do nó → como forças de tração,


2. Forças dirigidas para o nó → como forças de compressão.

Procedimentos de Solução:

1º Passo – São determinadas as reações dos apoios.


2º Passo – São identificados os tipos de solicitação em cada barra (tracionada ou
comprimida). Se não se conhece a natureza da força em uma determinada barra, é possível
arbitrá-la (por exemplo tração) e o sinal obtido ao final do equilíbrio indicará o sentido
correto do vetor em relação ao nó considerado.
3º Passo – O estudo do equilíbrio é iniciado pelo nó que tenha o mesmo número de incógnitas
e de equações.

Exercício 6.1.
Resolver a treliça abaixo usando o método dos nós.

Figura 6-4. Exercício 6.1.

1) Identificação de nós e barras.


Inicialmente, numeram-se os nós e são identificadas as barras da treliça.

2) Diagrama de Corpo Livre:


Posteriormente, é traçado o diagrama do corpo livre (DCL) que permite o cálculo das reações
de apoio. Nessa etapa a treliça é considerada como corpo rígido.
3) Cálculo das reações:
As reações de apoio são calculadas usando as equações da Estática.

F y  0 → RA  RB  600 ,
1200
M A  0 → RB  4  200 1  200  2  200  3 → RB 
4
→ RB  300kN ∴ RA  300kN .

Pode ser verificado que esse é um resultado já esperado dada a simetria do sistema. Da
simetria decorre que metade do total das forças verticais, de 600 kN, portanto, 300 kN, vai
para cada reação.

4) Esforços nas barras (equilíbrio dos nós)

Como a treliça é simétrica, só é preciso resolver metade do sistema. Cabe recordar que só é
possível equilibrar um nó com no máximo duas incógnitas, pois as equações de equilíbrio
disponíveis para cada nó são:  Fx  0 e  Fy  0 .

4.1 – Orientação dos eixos locais de referência.

Sistema local de referência.

São consideradas como orientações positivas para os eixos locais de referência, em termos
de equilíbrio, as direções para a direita e para cima. Trata-se aqui, portanto, de equilíbrio de
ponto material, onde as forças com orientações coincidentes com a dos eixos de referência
são consideradas positivas. Importante não confundir essas orientações com as usadas na
determinação das naturezas das forças, de tração ou compressão.

4.2 – Equilíbrio do Nó 1

No equilíbrio do nó 1, Fa e Fb são admitidas saindo do nó, portanto, forças de tração.

Nó 1: Orientação inicial das forças (arbitradas).


Essas forças, segundo o sistema de referências local, ficam:

Nó 1: Forças no sistema local de referências

A decomposição das forças é feita conforme a geometria do sistema, com o ângulo  sendo
definido por:

1
, tg   →   45 .
1

Com isso, o equilíbrio de ponto material pode ser feito com as equações disponíveis:

F x  0 →  Fa cos 45  Fb  0 ∴ Fb   Fa cos 45 ,

F y  0 → Fa sen 45  300  0 ∴ Fa  424,30kN ⸫


Fb  (424,30) cos 45 ∴ Fb  (424,30) cos 45 ∴ Fb  300kN .

Como Fa foi encontrada ser negativa, o sentido dessa força se inverte em relação ao sentido
adotado, de forma que:

Fa entrando no nó (força de compressão)

Uma alternativa que pode ser adotada, é a assunção da orientação original, de tração, saindo
do nó, mas mantendo-se o sinal negativo que foi obtido para essa força.

Fa entrando saindo do nó (força de tração de -Fa)

3.3 – Nó 2

No equilíbrio do nó 2, se Fa entra no nó 1 entrará também no nó 2. Assim, a força Fa estará


dirigida para o nó (sentido indicado pela solução do nó anterior). Arbitrando como de tração
as demais forças, ou seja, Fa e Fd saindo do nó, o equilíbrio do ponto material fica:
Nó 2

Portanto, decompondo o conjunto de força segundo os eixos locais de referência, tem-se:

F x  0 →  Fd  Fc cos 45  424,30 cos 45  0 → Fd   Fc cos 45  300 ,


300  200
F y  0 → 200  Fc sen 45  424,30sen 45  0 ⸫ Fc 
sen 45
→ Fc  141, 42kN .

Logo: Fd  141, 42 cos 45  300 → Fd  400kN .

Lançando-se os valores encontrados nas barras da treliça, pode-se construir o diagrama final
com todas as forças e suas naturezas (tração ou compressão). Importante registrar que,
vetorialmente, esse conjunto de forças deve constituir uma poligonal fechada.

→ Tração
→ Compressão

Diagrama final (em kN)

6.2. SOLUÇÃO PELO MÉTODO DAS SEÇÕES OU MÉTODO DE RITTER

Este método foi apresentado por Ritter em 1860 na Escola Técnica de Hannover. Sua
característica está no traçado de seção em três barras e cujos esforços são desconhecidos. As
três barras não devem ser concorrentes num mesmo ponto. A seção tem por finalidade fazer
transparecer os esforços nas barras, os quais existem para possibilitar o equilíbrio físico entre
as diversas forças exteriores em pontos distintos da estrutura.

Para determinar as cargas axiais atuantes nas barras de uma treliça plana, através do método
de Ritter, deve-se proceder da seguinte forma:

─ Corta-se a treliça em duas partes;


─ Adota-se uma das partes para verificar o equilíbrio, ignorando-se a outra parte até o
próximo corte.

Ao cortar a treliça deve-se observar que a seção a intercepte de tal forma, que se apresentem
no máximo 3 incógnitas, para que possa haver solução por meio das equações de equilíbrio.
É importante ressaltar que entrarão nos cálculos, somente as barras da treliça que forem
cortadas, as forças ativas e reativas da parte adotada para a verificação de equilíbrio.

Exercício 6.2
Calcular o esforço na barra a da treliça abaixo.

Figura 6-5. Exercício 6.2

Numeram-se os nós e realiza-se o corte por meio de uma seção de forma a interceptar a barra
em estudo. Dessa forma, tem-se:

Numeração dos nós. Corte passando pela barra de interesse.

Com a realização do corte expõem-se as barras cuja seção intercepta, que são: Fa, Fb e Fc.
Para calcular Fa com apenas uma equação (método de Ritter), deve ser feito o somatório de
momento em relação ao ponto (ou nó) (6), devido ao fato que a linha de ação das forças Fb
e Fc passam por esse ponto.

Se se quisesse calcular Fb com apenas uma equação, o somatório dos momentos deve ser
realizado em relação ao ponto (1), onde concorrem Fa e Fc. Para calcular Fc com apenas uma
equação, o somatório de momentos deve ser feito em relação ao ponto (5), onde concorrem
Fa e Fb.

Como o problema pede apenas Fa, será feito o momento em relação ao ponto (6). Nesse caso,
por Fb e Fc estarem concorrendo nesse ponto não geram momento pois suas linhas de ação
passam pelo ponto considerado. Assim, fazendo-se o somatório dos momentos das forças
existente à direita da seção, tem-se:

M 6
Direita
 0 → 100  2  100  4  100  6  Fa  6  tg 30  0 ⸫

Fa  346, 41kN . Logo, Fa é de compressão.

O método das seções é bastante útil no cálculo de uma barra determinada (específica), pois
não há a necessidade de serem calculados todos os nós até a barra de interesse, ou seja, nó-
a-nó, partindo daquele que tenha no máximo duas barras concorrendo, até que se possa
chegar ao nó onde está a barra desejada.

6.3. SOLUÇÃO PLEO MÉTODO DE MAXWELL CREMONA


Este método é o mais empregado método gráfico na resolução de todos os reticulados
indeformáveis e é mais conhecido como método de Cremona. Antes de Cremona, Maxwell
e Rankine já haviam apresentado a teoria do método.

Para a utilização do método de Cremona, é preciso empregar a notação de Bow, que serve
para designar as forças que atuam num sistema reticulado, tanto as forças interiores (esforços
nas barras) quanto as forças exteriores. A notação de Bow consiste em marcar com letras os
espaços limitados por forças, quer exteriores, quer interiores, designando-se cada força por
duas letras: as relativas aos espaços de cada lado.

Regra para o traçado das cremonas:

1ª Regra – Só se pode iniciar e prosseguir o traçado de Cremona, estudando o equilíbrio em


um vértice que contenha apenas duas barras cujos esforços sejam desconhecidos.
2ª Regra – Deve-se fixar um sentido de rotação e percorrer cada nó sempre no mesmo
sentido.
3ª Regra – Deve-se estudar o equilíbrio de cada nó, iniciando o traçado do polígono
respectivo por uma força exterior ou por uma força já conhecida, escolhida de tal sorte que,
percorrendo o nó no sentido fixado, se encontre primeiro as forças conhecidas, ficando para
últimas, as duas forças conhecidas.

Natureza dos Esforços:

Para serem conhecidos os esforços, se são de compressão ou de tração, deve ser observado
o sentido de cada esforço no diagrama das cremonas em relação ao nó em evidência
diretamente na treliça. Se o sentido do esforço estiver dirigido para fora do nó, ele será de
tração, se dirigido para o nó, será de compressão.

Ao estudar o equilíbrio de cada nó devem ser reconhecidos os sentidos dos esforços nas
barras, percorrendo o polígono de equilíbrio correspondente sempre no mesmo sentido.

Exercício 6.3
Calcular os esforços nas barras da treliça indicada abaixo, usando o método de Cremona.

Figura 6-6. Exercício 6.3

1° Passo:

Numeração dos nós dos espaços entre as barras e forças (ativas ou reativas).
2° Traçar a Cremona usando par de esquadros:

O diagrama deve ser traçado em escala. Para se conhecer a intensidade da força basta medir
ao segmento na escala utilizada. Para se saber se é de tração ou compressão uma força deve
pronunciar a origem e o destino formando um vetor orientado. A partir daí, é observado se
o vetor entra ou sai do nó de interesse. Se sair é de tração e de compressão em caso contrário.

Diz-se por exemplo: De A para B, orienta-se a reta em a para b e verifica-se qual a orientação
em relação ao nó, se entrar no nó é compressão, se sair é de compressão.

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