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ELASTICIDADE (CONCEITO) – PRINCÍPIO DA RESISTÊNCIA DOS

MATERIAIS

Resistência não é a única característica que um bom material estrutural deve ter. Todos os
materiais tracionados ou comprimidos devem possuir outra característica importante,
chamada elasticidade. Um corpo é formado de partículas e moléculas que se opõem à
mudança de sua forma, produzidas por forças externas.

Consideremos um corpo em equilíbrio, conforme figura abaixo.

Figura 11-1. Sólido com em equilíbrio: Esforços externos e internos

As forças internas R e R’ e momentos m e m’ interagem entre si para manter o equilíbrio,


cuja origem se encontra na coesão entre as partículas.

Princípio da elastotécnica: Um corpo, em estado sólido, submetido à influência de esforços


externos, procura oferecer resistência através de esforços internos, proveniente da ação
coesiva das moléculas, a fim de que seja mantido o equilíbrio (F = R; M = m).

Tome-se, como exemplo, o corpo abaixo submetido a uma força externa P, com a direção
do eixo vertical coincidindo com a orientação da força, apenas por uma questão de
conveniência:

Figura 11-2. Trabalho de uma força realizado em um sólido deformável

Nas condições apresentadas, l(= é a variação do comprimento do sólido após a aplicação


da força P, enquanto dy é o deslocamento de uma seção genérica . Entende-se que existe
uma resistência interna do corpo, R, dada pela soma das infinitas resistências, ri, distribuídas
na seção.

n
R  ri
i 1

Figura 11-3. Esforços internos opondo-se à deformação do corpo


Até quando as forças externas P e as forças internas R se equilibram, o corpo se encontra
em deformação. Durante a deformação as forças externas produzem trabalho:

T  P  l , com l   dy ,
0

que é transformado em energia potencial de deformação. Portanto, é válido afirmar que:

U = T.

Fase elástica:

Na fase elástica de deformação, a energia armazenada pelo sólido durante o trabalho


realizado pela força externa é dada por:

dU  Rdy .

Como, no equilíbrio, R = P a energia de deformação pode ser escrita em termos da força


externa conhecida, logo:

dU  Pdy → U   Pdy → U  P ,
0

que é a energia de deformação acumulada pelo sólido em regime elástico. Se, ao mesmo
tempo, a força aplicada puder ser escrita em termos do movimento (de translação) de uma
seção genérica durante a deformação, e sendo, essa mesma força, proporcional ao
deslocamento imposto para qualquer posição y durante o movimento, pode-se escrever que:

P ( y )  ky ou, simplesmente, P  ky .

De forma semelhante à uma mola, a energia potencial acumulada pelo sólido em todo o
processo de deformação, passa a ser escrita como:

1
U   ( ky ) dy → U  k 2 ,
0 2

com k sendo a constante de rigidez ou constante de mola associada ao sólido. Esse conceito
pode ser representado graficamente pela relação força – deslocamento ou, de forma análoga,
pela relação momento – rotação, sendo k a rigidez à rotação ou coeficiente de mola do
sólido, como visto na Figura 11-4, onde a energia de deformação, em ambos os casos,
corresponde à área do gráfico sob a curva.

Esforço axial Momento


Figura 11-4. Deformação elástica de uma mola
Lembrando da lei da ação e reação, que a cada ação corresponde uma reação de mesma
direção, mas de sentido contrário, as forças internas crescem proporcionalmente as forças
externas, até o limite do material, limite, esse, convencionado.

Durante a deformação o corpo pode retornar ao seu estado inicial ao cessarem as forças
externas. Assim, a energia potencial de deformação acumulada pelo sólido é convertida
novamente em trabalho pelas forças internas. Portanto, pode ser escrito que:

e i ,

o que significa que o trabalho realizado das forças externas, Te, é igual ao trabalho das forças
internas, Ti. Uma vez retirado o carregamento, as forças internas realizam trabalho,
restituindo ao sólido o seu estado original.

Dessa forma, a propriedade de os corpos voltarem à forma inicial, após cessadas as forças
externas chama-se elasticidade. Elasticidade é, portanto, definida como a propriedade pela
qual o corpo (o material) tende a retornar à forma original após cessado o carregamento.

Em função da elasticidade os corpos podem apresentar dois tipos básicos de comportamento:

1 – Comportamento perfeitamente elástico

Um corpo é dito perfeitamente elástico, quando recupera completamente sua forma inicial,
após cessar o carregamento. O trabalho das forças externas é igual à energia potencial de
deformação armazenada. A deformação inicial sofrida é dita deformação elástica imediata.

2 – Comportamento parcialmente elástico (comportamento plástico)

Um corpo é dito parcialmente elástico, se a deformação não desaparece completamente após


cessar o carregamento, ou seja, parte do trabalho realizado pelas forças externas é perdido
sob a forma de calor. O fato de a deformação não voltar ao ponto zero indica que o material
sofreu uma deformação permanente ou plástica.

Na maioria das aplicações de engenharia e no curso de Resistência dos Materiais, o


dimensionamento das estruturas deve ser feito para que essas se comportem como
perfeitamente elásticas, sob as condições de trabalho, para que não haja deformação
permanente em nenhum dos seus componentes. Entretanto, algumas normas construtivas
permitem que certos membros estruturais e certos componentes, por exemplo, em aviões e
mísseis sejam projetados para agirem na região plástica, de modo a obterem menores pesos.

11.1. DIVISÃO DOS MATERIAIS


Na temperatura ambiente, em função de algumas características comuns, os materiais podem
ser separados em duas categorias, em função do ensaio de tração:

Materiais Dúcteis
(Ex.: Aço de baixo teor de carbono, alumínio, latão e cobre)

 Possuem escoamento;
 Possuem estricção;
 A ruptura se dá por tensões de cisalhamento;
 Apresentam grande deformação antes de ocorrer a ruptura (acima de 5%).
 Possuem boa resistência a tensões de tração.

Materiais Frágeis
(Ex.: Aço com alto teor de carbono, pedra, concreto, vidro, gesso)

 Não possuem escoamento;


 Não possuem estricção;
 A ruptura se dá por tensões normais.
 Não apresentam grandes deformações. A ruptura ocorre abruptamente (Deformações <
5%)
 Apresentam baixa tolerância a tensões de tração.

ESFORÇO AXIAL OU ESFORÇO NORMAL

12.1. Princípios da lei de Hooke

Robert Hooke (1635-1703) foi um matemático e físico inglês, sendo o primeiro a estabelecer
experimentalmente a relação linear existente entre tensões e deformações. Em 1678 Hooke
formulou uma lei que permite calcular a deformação longitudinal, alongamento ou
encurtamento (ou l) em barras solicitadas axialmente, tracionadas ou comprimidas.

Condições da aplicação da Lei de Hooke:

1 – Uma das dimensões do prisma deve ser bem superior às outras duas, caracterizando um
eixo longitudinal e uma seção que lhe é transversal;
2 – A barra está exclusivamente sujeita a forças axiais;
3 – Forças axiais são aquelas aplicadas segundo a direção longitudinal da peça, ou seja, são
forças que agem perpendicularmente à seção transversal, aplicadas no centroide dessa seção.
Quando uma força (carga) não atua no centroide, a peça está simultaneamente sujeita a
esforço normal e momento fletor, caracterizando a flexão composta (normal ou oblíqua).
4 – Não se consideram partes das barras situadas na vizinhança da aplicação da força devido
à concentração de tensões que ocorre nessas regiões → Princípio de Saint-Vennant.
5 – Admite-se que durante a aplicação do esforço normal, as fibras longitudinais ao longo
da altura e da largura da seção transversal sofram o mesmo alongamento ou encurtamento.
6 – Admite-se que as seções transversais da barra prismática, tidas originalmente como
planas e perpendiculares a seu eixo, permaneçam nessa condição durante a deformação.
7 – Cabe recordar que as forças normais (ou axiais) podem ser de:
Tração, quando provocam um alongamento do eixo central e um encurtamento das
laterais (efeito de Poison), e de
Compressão, quando provocam uma diminuição do eixo central e um alongamento
das laterais. Se a força for de tração, essa será positiva, e será negativa se for de
compressão:

Tração (+) Compressão (-)

12.2. Desenvolvimento da lei de Hooke

A lei de Hooke é uma lei experimental que foi desenvolvida com os seguintes passos:
1° Passo: Hooke submeteu os corpos de prova de medidas iguais a diferentes
carregamentos P, medindo as deformações absolutas (deslocamentos) δ. Ele
observou que o crescimento de δ era diretamente proporcional ao aumento
da carga.

 P

OBS.: Próximo aos pontos de aplicação da força essa relação deixa de existir.

2° Passo: Hooke variou o comprimento longitudinal l dos corpos de prova, mantendo


a área e o carregamento constantes. Observou que os deslocamentos (δ) eram
proporcionais ao comprimento do corpo de prova.

 l

3° Passo: Hooke mediu a variação de δ mantendo o comprimento l e a carga P


constantes e variou a área A da seção transversal, notando que δ diminuía
com o aumento da área A.

 1 A

4° Passo: Hooke variou o material e manteve as dimensões iguais para os corpos de


prova. Verificou que para um mesmo material existe sempre o mesmo δ, em
materiais diferentes os δ anotados eram diferentes, ou seja, as deformações
estarem relacionada a uma propriedade típica de cada material. Essa
propriedade foi designada por e.

 e

Conclusão: Hooke concluiu que os deslocamentos apresentados pelos corpos de prova sob
solicitação axial eram diretamente proporcionais à força aplicada, ao comprimento do sólido,
inversamente proporcional à área da seção transversal do prisma e dependia diretamente do
material investigado. Matematicamente, isso quer dizer que:

1 Pl 1
  P, l , , e →   e , e fazendo e  , pode-se escrever que:
A A E

Pl
l    ,
EA

onde:

P é a força aplica ao sólido,


l é o comprimento da barra,
E é o módulo de elasticidade ou módulo de Young, e
A é a área da seção transversal do prisma.

O produto EA é conhecido como “produto de rigidez axial” da barra, e envolve uma


propriedade elástica e outra geométrica. Essa relação informa o quão fácil (ou difícil) é para
um sólido ser deformado quando solicitado axialmente. O módulo de elasticidade pode ser
expresso em: kgf/cm², nas unidades técnicas, ou em Pascal (N/m²) e seus múltiplos, no
Sistema Internacional. Para a determinação do módulo de elasticidade, é necessário obter
um diagrama denominado “curva tensão-deformação” por meio de ensaios. O módulo de
elasticidade é calculado pela inclinação da reta do trecho linear desse diagrama, conforme
ilustrado na Figura 12-1.

( 2  1 ) ( f  1 ) ( f  2 )
E  tan( )    , com
( 2  1 ) ( f  1 ) ( f   2 )

 f indicando a tensão que corresponde ao fim do


trecho linear, sendo  f a deformação específica
correspondente à essa posição no diagrama.

Figura 12-1. Diagrama tensão - deformação (módulo de elasticidade)

12.3. Fórmulas de definição

São definidos:

l
1.   → Deformação específica ou deformação por unidade de comprimento, sendo
l
representada pela letra grega ε (épsilon) e é adimensional.

P
2.   → Tensão ou tensão axial ou normal (tensão média), sendo representada pela letra
A
grega  (sigma).

É de interesse evidenciar que a tensão média é uma grandeza equivalente à força total
dividida pela área da seção transversal em que atua. Se a tensão for de tração será positiva.
Se for de compressão será negativa.

Importante, entretanto, é ter claro que o conceito de tensão deve estar associando à notação
diferencial que relaciona a força interna com a área. Nesse caso, o cálculo da tensão deev
considerar uma área infinitesimal dA na qual atua uma força elementar dR, o que representa
um conceito pontual da tensão. Isso quer dizer que a tensão é calculada no ponto de interesse.
Se um valor médio é utilizado para uma determinada superfície, significa que todos os pontos
dessa superfície têm o mesmo valor de tensão.

dR R
 ,   lim .
dA A  0 A

É com o valor da tensão que se verifica se uma peça irá romper ou não, e é com o valor das
tensões admissíveis que se faz o dimensionamento de um determinado componente
estrutural. A condição de segurança é dada pelas tensões internas geradas pelas forças
atuantes. Nesse sentido, a simples informação de que uma barra está sujeita a um esforço
externo não revela se ela é “segura” ou não. É preciso conhecer a área de sua seção
transversal e as características do material, como ilustrado a seguir:
R
 (Tensão média. Todos os pontos
A
estão com a mesma tensão).
R
 ADM  Max → Condição de Segurança.
AMin
No equilíbrio: R  P → Proporcionalidade
entre esforços externos e internos.

Uma vez que foram estabelecidos os conceitos de tensão e deformação, a lei de Hooke pode
ser escrita da seguinte forma:

Pl  P1 1
 →  →    →   E .
EA l AE E

Pode ser visto, a equação anterior descreve a dependência, em primeiro grau, da tensão com
a deformação específica. É uma lei que estabelece a proporcionalidade entre tensões e
deformações com uma constante (de proporcionalidade) entre elas. Isso significa que as
tensões em uma peça comprimida ou tracionada são proporcionais às deformações impostas
de forma linear. Essa é a lei fundamental da elasticidade linear. No Sistema Internacional a
força P é dada em Newton N e a área A em m², então:

P N
   Pascal .
A m2

Como Pascal é uma unidade muito pequena, a tensão vem, normalmente, expressa em um
de seus múltiplos:

Quilo (k) Pascal = kPa = 10³ Pa,


Mega (M) Pascal = MPa = 106 Pa,
Giga (G) Pascal = GPa = 109 Pa.

OBS.: 1 N/mm2 = MPa.

A tensão também pode ser definida no sistema técnico como:

kgf/cm² (quilograma força por centímetro quadrado),


kgf/m² (quilograma força por metro quadrado), ou mesmo em
tf/m² (tonelada força por metro quadrado),

com 1 tf = 1000 kgf, 1m = 100 cm, 1 cm = 10 mm, 1m = 1000 mm. Na conversão do sistema
técnico ao SI deve ser observado que:

1 kgf = 9,80665 N ≅ 10 N (considerando a aceleração da gravidade g = 9,80665 m/s2).

Um exemplo de resistência, que do ponto de vista prático representa a especificação de um


material, é a resistência característica à compressão do concreto (fck). O concreto é um
material definido, para fins de cálculo, por sua resistência à compressão.

Exemplo de valores típicos para o fck: 150 kgf/cm² = 15 MPa; 180 kgf/cm² = 18 MPa,
200 kgf/cm² = 20 MPa, 250 kgf/cm² = 25 MPa; 300 kgf/cm² = 30 MPa, 350 kgf/cm² =
35 MPa.
Outro material cuja definição é feita por sua resistência característica é o aço. O aço é
especificado em função de sua resistência característica contra o escoamento (fyk). O aço
ASTM-A36, por exemplo, que é o aço estrutural mais comum, usado para a confecção das
estruturas metálicas mais tradicionais, tem uma tensão característica contra o escoamento de
250 MPa.

Por sua vez, os aços para concreto armado (CA), os vergalhões, têm tensões de escoamento
conforme sua categoria. O aço CA-50 possui tensão de escoamento de 500 MPa
(5000 kgf/cm²) e o aço CA-60 de 600 MPa (6000 kgf/cm²). O aço CA-50 é o utilizado na
confecção da armadura longitudinal de vigas, lajes e pilares, enquanto o CA-60 é o usado
para a confecção de estribos.

Exercício 12.1.
Uma barra prismática, com seção retangular de (25 x 50) mm e comprimento l = 3,60 m, está
submetida a uma força axial de tração de 100 kN. O alongamento da barra é de 1,23 mm.
Calcular a tensão e a deformação unitária da barra.

O problema pede σ e . Assim:

A área da seção é: A  (25  50)mm 2  1250mm 2  1250  106 m2 .

P 100kN
A tensão, portanto, será:     80000kPa →   80MPa .
A 1250 106 m 2

l 1, 2mm 1, 2 103 m
e a deformação específica:     →   3,33  104 .
l 3, 60m 3, 60m

Exercício 12.2.
Um parafuso de aço (E = 21.000 kgf/mm2), com 50 mm de diâmetro, está sujeito a uma carga
de tração de 30.000 kgf. Sabendo que o comprimento inicial da parte carregada é 550 mm,
calcular o comprimento final.

Dados:

E = 21.000 kgf/mm²,
d = 50 mm,
P = 30.000 kgf,
lo = 550 mm.

O alongamento, ou variação de comprimento, total da barra é dado por:

Pl 30000  550
l   → l  0, 40mm .
EA    50 2 
21000   
 4 

Portanto, o comprimento final da barra será encontrado somando-se o comprimento inicial


com a deformação absoluta obtida:
l f  l0  l  550  0, 40 → l f  550, 40mm .

Exercício 12.3.
Uma barra prismática de aço de 60 cm de comprimento é distendida de 0,06 cm sob a ação
de um a força de tração. Achar a grandeza da força P, sendo o volume da barra de 400 cm³.
(E = 21 x 105 kgf/cm²).

Dados:

P=?
l = 60 cm
Δl = 0,06 cm
Vol = 400 cm³

A deformação específica é a relação entre a deformação absoluta e o comprimento inicial da


barra. Logo:

l
 .
l

Pela lei da elasticidade linear as tensões são proporcionais às deformações na forma de:

l
  E →   
l

Substituindo os dados do problema:

0, 06 6  102
  21 10 
5
 21 105 →   21 102 kgf / cm 2 .
60 6  10

O volume de uma barra prismática é encontrado por:

Vol  A  l .

Vol 400 20
Logo, a área da barra será: A   → A  cm2 .
l 60 3

Como tensão média é a relação entre a força e a área da seção transversal:

P 20
 → P   A  21102  → P  14  103 kgf .
A 3

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