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EIXOS DE SEÇÃO NÃO-CONVENCIONAIS

Torção em eixos de seções não circulares

Para as seções circulares a hipótese básica era de que as seções planas permaneciam planas
após a deformação, o que não é válido para outros tipos de seção, pois essas sofrem
empenamento. Portanto, as expressões obtidas para os eixos circulares não podem ser usadas
para outras formas, o que significa que não pode ser adotada uma distribuição de tensão
linear a partir do centro da seção.

Considerando um cubo elementar situado no vértice de uma seção de uma barra retangular
submetida à torção, Figura 20-1, as faces do cubo voltadas para a superfície estão isentas de
tensões:

Figura 20-1. Cubo elementar no vértice de uma barra retangular.

 xy  0 ;  yx  0 ;  zx  0 ;
 xz  0 ;  yz  0 ;  zy  0 .

Os elementos situados nas arestas da barra ficam isentas de tensões, enquanto as tensões
ocorrem ao longo da parte central. Isso pode ser notado pela torção de um modelo de
borracha.

Figura 20-2. Deformação de elementos na região central da barra.

A tensão máxima para uma barra retangular sujeita a um torque T, Figura 20-3, é dada por:

Figura 20-3. Parâmetros de uma barra de seção retangular.


T
 Máx  ,
c1ab 2

onde de a e b são os lados da barra, com a sendo o lado maior e b o lado menor. O ângulo
de torção, por sua vez, é dado por:

TL
 ,
c2 ab3G

onde L é o comprimento da barra, G é o módulo de elasticidade transversal, e c1 e c2 são


dados na tabela seguinte:

a/b c1 c2
1,0 0,208 0,1406
1,2 0,219 0,1661
1,5 0,231 0,1958
2,0 0,246 0,229
2,5 0,258 0,249
3,0 0,267 0,263
4,0 0,282 0,281
5,0 0,291 0,291
10,0 0,312 0,312
∞ 0,333 0,333

Para o caso particular de uma seção quadrada:

4,81T 7,1TL
 Máx  3
; .
a Ga 4

Para uma seção triangular:

20T 46TL
 Máx  3
; .
a Ga 4

Elipse:

16T 16(a 2  b 2 )TL


 Máx  ;   .
 ab 2 G a 3b3

EIXOS VAZADOS DE PAREDES FINAS


Considere-se um elemento diferencial situado na parte central de uma barra de seção
qualquer, de paredes finas, conforme indicado na Figura 21-1, na qual:

tb = espessura superior do elemento dx, e


tc = espessura inferior do elemento dx.

Figura 21-1. Eixo de paredes finas: equilíbrio de um elemento infinitesimal.

Fazendo o equilíbrio do elemento diferencial em x, tem-se:

F x  0 →  Fab  Fcd  0 → Fab  Fcd ∴  b (tb dx)   c (tc dx) →  btb   ctc .

Assim, pode ser visto que o produto da tensão pela espessura da parede é constante e igual
a f. Logo, pode-se escrever que:

 t  f ,

onde f é conhecido como fluxo de cisalhamento. Fluxo em analogia ao escoamento em


canais, que embora haja variação na largura do canal, a vazão permanece constante. f vem
expressa em força por unidade de comprimento. Escrevendo a relação anterior em termos da
tensão, tem-se:

f
 .
t

Tome-se a seção transversal de uma barra de paredes finas, conforme se indica a seguir

Figura 21-2. Seção de uma barra de paredes finas.

A tensão de cisalhamento em qualquer ponto da seção transversal é paralela à parede da


superfície, e seu valor médio pode ser calculado ao longo da linha média por meio do
equilíbrio de forças, considerando o fluxo de cisalhamento.

A tensão de cisalhamento é definida como sendo:


dF
 → dF   dA
dA

Considerando um elemento infinitesimal de comprimento ds na linha média da espessura


que percorre o perímetro da seção, a diferencial da área será dada por:

dA  tds .

Com isso:

dF    tds .

f
Como   → dF  fds .
t

O torque infinitesimal da força elementar é dado por:

dT  dF  r → dT  ( fds )r .

Integrando no comprimento da linha média da espessura da parede, Lm, tem-se:


Lm Lm

T  0
frds ⸫ T  f  rds .
0

Lm

Pode ser percebido que a integral  rds


0
é igual a 2 vezes a área do triangulo elementar

formado pela linha média e o centro da seção, pois:


Lm Lm Lm
1 1 1
dAm  ds  r → Am 
2 
0
2
ds  r → Am 
2  rds → 2 A
0
m   rds .
0

Portanto, pode ser escrito que:


Lm

 rds  2 A
0
m ,

com Am sendo a área definida pela linha média e o interior da seção vazada. Logo:

T
T  f 2 Am → f  .
2 Am

T
f 2 Am T
Como,   → → ,
t t 2tAm

onde t é a espessura da parede no ponto considerado e τ é o valor médio da tensão de


cisalhamento na parede. O ângulo de torção, por sua vez, será dado por:
TL
 ,
GJ

com o momento de inércia polar J obtido pelo método da energia, sendo calculado por:

4 Am 2
J Lm
,
ds

0
t

com a integral sendo calculada ao longo da linha central da seção na parede.

Exercício 21.1.
A extremidade B da barra de aço inoxidável indicada gira de 2° pela ação do torque T.
Sabendo que G  80GPa , determinar a máxima tensão de cisalhamento da barra.

B  2
G  80GPa
 Máx  ?

Figura 21-3. Exercício 21.1.

Solução:


  2 →   2 →   0,0349rad .
180

TL a 30 c1  0, 231
 ;   1,5 →
c2 ab3G b 20 c2  0,1958

Logo:

T  750mm
0, 0349  → T  174,969kN  mm .
kN
0,1958  30mm  (20mm)  80
3

mm2

A tensão, então, será:

T 174,969kN  mm
 Máx  →  Máx  →  Máx  0, 063kN / mm 2 →  Máx  63MPa .
c1ab 2
0, 231 30mm  (20mm) 2
Exercício 21.2.
Uma barra de seção transversal indicada na figura, é formada por uma lâmina metálica de
1,5 mm de espessura. Determinar o maior momento torsor que pode ser aplicado à barra, se
a tensão não pode exceder a 2,5 MPa.

Figura 21-4. Exercício 21.2.

Solução:

Inicialmente, deve ser estabelecida a linha média na espessura da parede.

A área delimitada pela linha média na parede da seção e seu interior será obtida dividindo-
se a região em duas partes para formar dois retângulos A1 e A2:

Am  A1  A2  (50  1,5)  (20  1,5)  (30)  (20  1,5) → Am  1452, 25mm 2

T
A tensão limite é dada por:  Máx  com a máxima sendo 2,5MPa  2,5 N / mm2 .
2tAm

N T
Assim: 2,5  → T  10892 Nmm ∴ T  10,892 Nm .
mm 2
2 1,5mm 1452, 25mm2

Supondo L = 2,0 m qual o ângulo de torção? ( G  80GPa ).


TL 4A 2
 , com J  Lm m , tem-se:
GJ ds
0 t
Lm
ds 4  (50  1,5)

0
t

1,5
 129,333 , que é um parâmetro adimensional. Logo:

4  (1452, 25mm 2 ) 2
J  6,5234 104 mm4 ∴ J  6,5234 108 m4 .
129,333

Uma vez obtido o momento de inércia polar a rotação da seção pode ser calculada por:

10,892 Nm  2, 0m
 →   0,00417rad →   0,239º .
80 10 N / m 2  6,5234 108 m 4
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