Dimensionamento de Seção T

Em estruturas de concreto moldado no local, onde as lajes e vigas estão interligadas, parte da
laje (largura colaborante) trabalha solidariamente com a viga à compressão, formando a seção T
e aumentando significativamente a região comprimida de concreto.

A seção só funcionará como

uma seção T se o momento
solicitante for positivo
(comprimindo a mesa e
tracionando a nervura).

No item 14.6.2.2 da NBR 6118:2014 diz que “a consideração da seção T pode ser feita para estabelecer as distribuições de
esforços internos, tensões, deformações e deslocamentos na estrutura, de uma forma mais realista”.

Entretanto, apesar de ser uma solução que, em geral, resulta em economia de aço e concreto, é recomedável o uso de vigas de
seção transversal T apenas nos casos de vigas com altura muito reduzida, quando a seção retangular se mostra inviável,
mesmo com armadura dupla.
Dimensionamento de Seção T

A largura colaborante da laje (bf) é dada pela largura da viga (bw) acrescida dos limites b1 (lado interno, onde existe viga
adjacente) e b3 (lado externo, no caso de haver bordo livre), conforme mostra a Figura.

Segundo a NBR 6118:2014 (item 14.6.2.2

da norma), as distâncias b1 e b3 são dadas
por:
b1 ≤ 0,1a ou 0,5b2 e b3 ≤ 0,1a ou b4

onde:
b2 = distância entre as faces de duas nervuras (vigas) sucessivas;
b4 = comprimento do balanço
a = distância entre os pontos de momento fletor nulo. • Viga simplesmente apoiada: a = l;
• Viga apoiada e engastada: a = 0,75l;
• Viga bi-engastada: a = 0,60l;
• Tramo em balanço: a = 2l.

Dessa forma, em tramos distintos da viga, podem ocorrer diferentes valores para a largura colaborante. No caso de vigas
contínuas, a NBR 6118:2014 recomenda calculá-las com uma largura colaborante única para todas as seções, adotando-se o
valor mínimo da largura calculada.
Dimensionamento de Seção T

No dimensionamento da armadura longitudinal com a contribuição da laje, é importante saber a posição da linha neutra
fictícia (y), que pode, numa primeira situação, estar “cortando” a mesa ou ser tangente à ela (y ≤ hf) ou numa segunda
situação estar “cortando” a alma (y > hf).

• 1ª situação: y ≤ hf
Quando a linha neutra fictícia é tangente à face inferior da mesa ou está em seu interior, a zona comprimida é dada pelo
retângulo bf.y e o cálculo é feito como uma seção retangular de largura bf e altura total h.
 Dimensionamento de Seção T
• 2ª situação: y > hf
Quando a linha neutra se situa na nervura ou alma, a zona comprimida tem a forma de T. Nesse caso, o cálculo da armadura é feito
dividindo-se o momento fletor de cálculo Msd em duas parcelas: Msd1 e Msd2.

➢ Msd2 = Msd - Msd1 = momento fletor resistido pela seção

retangular bw.h do concreto da nervura equilibrado pela
segunda parcela da armadura longitudinal na zona
tracionada As2. Assim:

𝑀𝑠𝑑2 𝑀𝑠𝑑2
➢ Msd1 = momento fletor equilibrado pela zona comprimida da mesa, 𝑘𝑚𝑑 = → 𝑘𝑧 → 𝐴 𝑠2 =
𝑏𝑤 𝑑 2 𝑓𝑐𝑑 𝑘𝑧 . 𝑑. 𝑓𝑦𝑑
com largura igual a bf – bw e por parte da armadura longitudinal na
zona tracionada As1. Assim:
𝛼𝑐 . 𝑓𝑐𝑑
A armadura total de tração será a soma das duas
𝑀𝑠𝑑1 = 𝑅𝑐𝑑 . 𝑧 = 𝜎𝑐𝑚𝑎𝑥 . ൫𝑏𝑓 − 𝑏 ). ℎ𝑓 . 𝑑 − ℎ𝑓 Τ2 parcelas: 𝑨𝒔 = 𝑨𝒔𝟏 + 𝑨𝒔𝟐
𝑤

𝑀𝑠𝑑1
𝑀𝑠𝑑1 = 𝑅𝑠𝑑 . 𝑧 = 𝑓𝑦𝑑 . 𝐴𝑠1 . 𝑑 − ℎ𝑓 Τ2 → 𝐴𝑠1 =
𝑑 − ℎ𝑓 Τ2 . 𝑓𝑦𝑑
 Dimensionamento de Seção T

❑ Aplicação: Considere a V3 (15 x 50) do projeto como uma viga biapoiada de vão 5,95 m e lajes L1 e L2 adjacentes com 12 cm
de espessura. Conforme determinado anteriormente, a viga está submetida a um momento fletor solicitante característico de
133,7 kN.m. Calcule a armadura de flexão, considerando a seção T, para o momento fletor positivo máximo, sabendo que o
concreto tem fck = 25 MPa e o Aço é o CA-50.

L2 12 L1
38
15
385 cm 285 cm
V4a V3 V1
➢ Largura da mesa colaborante: bf = bw + b1e + b1d
b1 ≤ 0,1a ou 0,5b2
Viga simplesmente apoiada: a = l = 595 cm;

b1e ≤ (0,1.595) ou (0,5.385) b1e = 59,5 cm

b1d ≤ (0,1.595) ou (0,5.285) b1d = 59,5 cm

Adotar: b1 = 59,5 cm
bf = 15+2.59,5 = 134 cm
Dimensionamento de Seção T ❑ Aplicação: cont.

bf =134 cm • fck = 25 𝑀𝑃𝑎 fcd = 25ൗ1,4 = 17,9 𝑀𝑃𝑎

12 •  = 0,8 e αc = 0,85 → concretos de classe até C50

50
• 𝑑  0,9h = 0,9.50 = 45 cm
V4a 15 V3 V1 fyd = 435 𝑀𝑃𝑎
• 𝐴ç𝑜 𝐶𝐴50

➢ Cálculo da seção de máximo momento fletor: Msd = f. Mk Msd = 1,4.133.7 = 187,2 kN.m
𝑀𝑠𝑑 (187,2.100)
1. 𝑘𝑚𝑑 = 𝑘𝑚𝑑 = 𝒌𝒎𝒅 =0,038
𝒃𝒇 𝑑 2 𝑓𝑐𝑑 134. 452 1,79

2𝑘𝑚𝑑 1/2 2.0,038 1/2

2. 𝑘𝑥 = 1 − 1 − /𝜆 𝑘𝑥 = 1 − 1 − /0,8= 0,058
𝛼𝑐 0,85

𝜀𝑐𝑢 3,5
3. 𝑘𝑥𝑙𝑖𝑚2−3 = = = 0,259 𝑘𝑥 < 𝑘𝑥𝑙𝑖𝑚2−3 → Domínio 2
𝜀𝑐𝑢 +10‰ 3,5+10‰

4. Pelo critério de ductilidade: 𝑘𝑥 = x/d  0,45 → 𝑜𝑘!

5. 𝑘𝑥 = 0.058 𝑥 = 2,61 cm < ℎ𝑓 (12 cm) → Seção transversal retangular de largura 𝒃𝒇 e altura útil d

𝑴𝒔𝒅 𝟏𝟖𝟕𝟐𝟎
6. 𝑘𝑧 = 1 − 0,5𝜆𝑘𝑥 = 1 − 0,5.0,8.0,058 =0,977 7. 𝑨𝒔 = = = 𝟗, 𝟕𝟗 𝒄𝒎²
𝒌𝒛 .𝒅.𝒇𝒚𝒅 𝟎,𝟗𝟕𝟕.𝟒𝟓.𝟒𝟑,𝟓
Dimensionamento de Seção T ❑ Aplicação: cont.

𝑀𝑠𝑑 18720
7. 𝐴𝑠 = = = 9,79 𝑐𝑚²
𝑘𝑧 .𝑑.𝑓𝑦𝑑 0,977.45.43,5

𝐴𝑠,𝑚𝑖𝑛 = 𝜌𝑚𝑖𝑛 . (𝑏𝑤 . ℎ൯

𝐴𝑠,𝑚𝑖𝑛 = 0,15/100. (124.12 + 15.38൯

𝐴𝑠,𝑚𝑖𝑛 = 3,09 𝑐𝑚2 ൯

Área de aço por número de barras (cm²)
𝐴𝑠 > 𝐴𝑠,𝑚𝑖𝑛 Bitola
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10
(mm)
5,0 0,20 0,40 0,60 0,80 1,00 1,20 1,40 1,60 1,80 2,00
6,3 0,315 0,63 0,95 1,26 1,58 1,89 2,21 2,52 2,84 3,15
𝐴𝑠,𝑚𝑎𝑥 = 4%𝐴𝑐 = 4%(124.12 + 15.38൯ 8,0 0,50 1,00 1,50 2,00 2,50 3,00 3,50 4,00 4,50 5,00
10,0 0,80 1,60 2,40 3,20 4,00 4,80 5,60 6,40 7,20 8,00
12,5 1,25 2,50 3,75 5,00 6,25 7,50 8,75 10,0 11,25 12,5
𝐴𝑠,𝑚𝑎𝑥 = 82 𝑐𝑚² 16,0 2,00 4,00 6,00 8,00 10,0 12,0 14,0 16,0 18,00 20,0
20,0 3,15 6,30 9,45 12,60 15,75 18,90 22,05 25,2 28,35 31,5
𝐴𝑠 < 𝐴𝑠,𝑚𝑎𝑥 25,0 5,00 10 15,0 20,0 25,0 30,0 35,0 40,0 45,0 50,0
32,0 8,00 16 24,0 32,0 40,0 48,0 56,0 64,0 72,0 80,0
40,0 12,5 25 37,5 50 62,5 75 87,5 100 112,5 125
𝑨𝒅𝒐𝒕𝒂𝒓 𝑨𝒔 = 𝟗, 𝟕𝟗 𝒄𝒎𝟐 (5 16)
 Dimensionamento de Seção T

❑ Aplicação: Análise da V3 (15 x 50) considerando o cálculo como seção retangular:

𝑀𝑠𝑑 (187,2.100)
1. 𝑘𝑚𝑑 = 𝑘𝑚𝑑 = 𝒌𝒎𝒅 =0,344
𝒃𝒘 𝑑 2 𝑓𝑐𝑑 15. 452 1,79

2𝑘𝑚𝑑 1/2
2. 𝑘𝑥 = 1 − 1 − /𝜆
𝛼𝑐

2.0,344 1/2
𝑘𝑥 = 1 − 1 − /0,8= 0,7
0,85

𝜀𝑐𝑢 3,5
• 𝑘𝑥 = 0,7 > 𝑘𝑥𝑙𝑖𝑚2−3 = = = 0,259 → Dom. 3 ou 4
𝜀𝑐𝑢 +10‰ 3,5+10

• 𝑘𝑥 = 0,7 > 0,45 Critério de ductilidade não satisfeito

❑ Conclusão: considerar seção T é vantajoso também para aumentar a ductilidade ou sair do domínio 4.