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FLEXÃO SIMPLES NA RUÍNA: SEÇÃO T – CAPÍTULO 7

Libânio M. Pinheiro, Cassiane D. Muzardo, Sandro P. Santos, Artur L. Sartorti

Maio de 2016

FLEXÃO SIMPLES NA RUÍNA: SEÇÃO T

7.1 SEÇÃO T

Até agora, considerou-se o cálculo de seções transversais de vigas isoladas


com seção retangular, mas nem sempre é isso que acontece na prática, pois em
uma construção podem ocorrer lajes descarregando em vigas (Figura 7.1). Portanto,
há um conjunto laje-viga resistindo aos esforços. Quando a laje é do tipo pré-
moldada, a seção é realmente retangular.

Figura 7.1 – Piso de um edifício comum – Laje apoiando em vigas

7.2 Ocorrência

Esse tipo de seção ocorre em vigas de pavimentos de edifícios comuns, com


lajes maciças, ou com lajes nervuradas com a linha neutra passando pela mesa, em
vigas de pontes (Figura 7.2), entre outras peças.

Figura 7.2 – Seção de uma ponte


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7.3 Largura Colaborante

No cálculo de viga como seção T, deve-se definir qual a largura colaborante


da laje que efetivamente está contribuindo para absorver os esforços de
compressão.

De acordo com a NBR 6118:2014 no seu item 14.6.2.2, a largura


colaborante bf será dada pela largura da viga bw acrescida de no máximo 10% da
distância “a” entre pontos de momento fletor nulo, para cada lado da viga em que
houver laje colaborante.

A distância “a” pode ser estimada em função do comprimento L do tramo


considerado, como se apresenta a seguir:

 viga simplesmente apoiada ............................................................. a = 1,00 L


 tramo com momento em uma só extremidade ................................. a = 0,75 L
 tramo com momentos nas duas extremidades ................................. a = 0,60 L
 tramo em balanço ............................................................................. a = 2,00 L

Alternativamente o cálculo da distância “a” pode ser feito ou verificado


mediante exame dos diagramas de momentos fletores na estrutura.

Além disso, deverão ser respeitados os limites b1 e b3 conforme indicado na


Figura 7.3.

 bw é a largura real da nervura;


 ba é a largura da nervura fictícia obtida aumentando-se a largura real para
cada lado de valor igual ao do menor cateto do triângulo da mísula
correspondente;
 b2 é a distância entre as faces das nervuras fictícias sucessivas.

Quando a laje apresentar aberturas ou interrupções na região da mesa


colaborante, esta mesa só poderá ser considerada de acordo com o que se
apresenta na Figura 7.4.

7.2
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0,5b 2 b
b1   b3   4 (NBR 6118:2014)
0,10a 0,10a

bf

b3 c b1 b1

b4 c b2

bw bw
ba

bf

hf

b3 bw b1

Figura 7.3 - Largura de mesa colaborante

abertura
2 2
1 1
bf bef

Figura 7.4 - Largura efetiva com abertura

7.3
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7.4 Verificação do Comportamento (Retangular ou T Verdadeira)

Para verificar se a seção da viga se comporta como seção T (Figura 7.5), é


preciso analisar a profundidade da altura y do diagrama retangular, em relação à
altura hf do flange (espessura da laje). Caso y seja menor ou igual a hf, a seção
deverá ser calculada como retangular de largura bf; caso contrário, ou seja, se o
valor de y for superior a hf, a seção deverá ser calculada como seção T verdadeira.

Seja o diagrama de tensões da Figura 7.5. Se y ≤ hf a seção será T falsa. Se


y > hf temos uma seção T efetivamente e será denominada de T verdadeira.

c =3,5‰ cd
d' R's
1 y/2
s' y = x
y=0,8x
A's Md Rc x
y/2
2 d

As
3
Rs s
d"
bw
Diagrama de Diagrama de
ão transversal Vista lateral deformação tensão

Figura 7.5 – Diagrama de tensões no Estádio III

x
x 
d

y
Se y  .x  x  , logo:

y
x 
.d

No limite y  h f , tem-se então:

hf
 xf 
.d

- Para concretos de classes C20 a C50:

  0,8
7.4
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- Para concretos de classes C55 a C90:

  0,8  ( fck  50) / 400 f ck em MPa

Pela característica da viga T falsa ou verdadeira sempre teremos  cd  c . fcd

(situações i e ii de cálculo – ver Cap 5).

- Para concretos de classes C20 a C50:

c  0,85

- Para concretos de classes C55 a C90:

c  0,85.[1,0  ( fck  50) / 200] f ck em MPa

O procedimento de cálculo é indicado a seguir.

Calcula-se xf

Supondo seção retangular de largura bf, calcula-se kc.

kc = bf d² / Md, entrando na tabela 1.1 (PINHEIRO, 2004), obtém-se x.

Se x  xf  cálculo como seção retangular com largura bf – seção T falsa,

Se x > xf  cálculo como seção T verdadeira.

bf

y hf

d
h

As

bw

Figura 7.6 – Seção T falsa

7.5
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7.5 Cálculo como Seção Retangular

Procede-se o cálculo normal de uma seção retangular de largura igual a b f


(Figura 7.7). Utiliza-se a tabela com o x calculado para verificação do
comportamento, pois se partiu da hipótese que a seção era retangular. Com este
valor de x, obtém-se o valor de ks e calcula-se a área de aço com a equação:
ks M d
As 
d
bf bf
cd
y hf yy = x
= 0,8x

d
h

As

bw

Figura 7.7 – Seção T “falsa” ou retangular

7.6 Cálculo como Seção T Verdadeira

Para o cálculo como seção T verdadeira, a hipótese de que a seção era


retangular não foi confirmada, portanto procede-se da seguinte maneira (Figura 7.8).

bf bf - bw bw

hf hf
y y


h
+

bw

Md = M0 + M
Figura 7.8 – Seção T verdadeira

7.6
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Calcula-se normalmente o momento resistente M0 de uma seção de concreto


de largura bf - bw, altura h e x = xf. Com esse valor de M0, calcula-se a área de aço
correspondente. Com a seção de concreto da nervura (bw x h) e com a parcela de
momento que ainda falta para completar o momento solicitante, M = Md – M0,
calcula-se como uma seção retangular comum (Figura 7.8), podendo ser esta com
armadura simples ou dupla. A área de aço total será a soma das armaduras
calculadas separadamente para cada seção.

Para garantir a solidariedade entre a laje e a nervura, deverá existir nessa


ligação uma armadura transversal com área mínima de 1,5 cm²/m.

7.7 EXEMPLOS

A seguir apresentam-se alguns exemplos envolvendo o cálculo de flexão


simples em seção T.

7.7.1 EXEMPLO 1

Calcular a área de aço para uma seção T com os seguintes dados:

Concreto classe C25, Aço CA-50


bw = 30 cm, bf = 80 cm
h = 45 cm, hf = 10 cm
Mk = 315 kN.m
h – d = 3 cm
Seria melhor adotar h – d = 4 cm, por conta do cobrimento da armadura.

Solução:

d = 45 – 3 = 42 cm

hf 10
 xf    0,30
0,8d 0,8  42

7.7
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2 2
bf d 80  42
kc    3,2  x = 0,29
Md 1,4  31500

x = 0,29 < xf  T “Falsa” (Cálculo como seção retangular de largura bf)

ks = 0,026 – Tabela 1.1 (PINHEIRO, 2004)

Md 1,4  31500 2
As  ks   0,026   27,30cm
d 42
As: 6 Ø 25 (30 cm²)
7 Ø 22,2 (27,16 cm²) 2 camadas

7.7.2 EXEMPLO 2

Calcular a área de aço para a mesma seção do exemplo anterior, para um


momento Mk = 378 kN.m (20% maior).

a) Verificação do comportamento

hf 10
 xf    0,30  kcf = 3,1 e ksf = 0,026
0,8d 0,8  42
2 2
bd 80  42
kc    2,7  x = 0,36 > xf  T Verdadeira
Md 1,4  37800

b) Flange

2 2
bd (80  30)  42
M0    28452 kN.cm
k cf 3,1

28452 2
A s0  0,026   17,61 cm
42

c) Nervura

M = Md – M0 = 1,4 x 37800 – 28452 = 24468 kN.cm

7.8
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2 2
bwd 30  42
kc    2,2  k c lim  1,8  Armadura Simples
M 24468

24468 2
A s  0,028   16,31 cm
42

d) Total

As = 17,61 + 16,31 = 33,92cm²

As  7 Ø 25 (35 cm²) 2 na 2ª camada

A solução adotada é indicada na Figura 7.8, cujo detalhamento pode ser


modificado, por exemplo, adotando-se estribos fechados na nervura.

Figura 7.8 – Detalhamento da seção T

QUESTIONÁRIO
1) Em que tipos de estruturas podem ocorrer seção T?
2) O que significa largura colaborante?
3) Como se calcula a largura colaborante, de acordo com a NBR 6118:2014?
4) Quais os tipos de comportamento de uma seção T? Em que situações ocorrem?
7.9
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5) Qual o significado de xf?


6) Como se faz o cálculo de uma seção T que se comporta como retangular?
7) Como se decompõe uma seção T verdadeira para cálculo usando tabelas?
8) Como se determina o momento Mo, atuante na parte da seção que contém o
flange? Qual a posição admitida para a linha neutra no cálculo de As0?
9) Qual o procedimento para cálculo da parte da seção relativa à nervura?
10) Como se garante a solidariedade entre a laje e a nervura?

REFERÊNCIAS

ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS (ABNT). NBR 6118:2014:


Projeto de estruturas de concreto – Procedimento. Rio de Janeiro.
PINHEIRO, L. M. (2004). Tabelas gerais. Disponíveis no site:
www.set.eesc.usp.br/mdidatico/concreto. Acesso em 19 abril 2012.

7.10

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