Você está na página 1de 14

NOTAS DE AULA E EXEMPLOS RESOLVIDOS

UC ELEMENTOS ESTRUTURAIS DE AÇO I


2021
MÓDULO 4
BARRAS TRACIONADAS EM PERFIS SOLDADOS E LAMINADOS

 IMPORTANTE: ESSAS NOTAS DE AULA SÃO COMPLEMENTARES A


SEÇÃO 5.2 DA ABNT NBR8800:2008

4.1 Generalidades

Encontra-se elementos estruturais submetidos à tração, em barras de sistemas


treliçados, tais como os contraventamentos, utilizados para estabilizar a edificação
(Figura 1-a e Figura 1-b).

(a) (b)
Figura 1 - Contraventamentos

Os elementos tracionados também aparecem em barras de treliças ou pilares


treliçados, conforme Figura 2-a e Figura 2-b.

1
(a)Tesoura de cobertura (b) Pilar treliçado
Figura 2 – Barras tracionadas

4.2 Dimensionamento

O dimensionamentos de barras à tração é um dos dimensionamentos mais simples.


A verificação das tensões de tração são feitas na seção transversal da peça. No
dimensionamento, deve ser atendida a condição:

N t ,Sd  N t ,Rd (1)


Onde:
Nt,Sd é a força axial de tração solicitante de cálculo;
Nt,Rd é a força axial de tração resistente de cálculo.
No caso da peça apresentar furos, tais como as chapas de ligação ou o próprio
elemento estrutural, feitos para ligação parafusada (Figura 3) ou outra finalidade, a
seção resistente deverá ser aquela que resulta dos descontos das áreas relativas aos
furos; essa seção denomina-se área líquida.

Figura 3 – Ligação parafusada

2
4.2.1 Estados-Limites Últimos
A força axial de tração a ser considerada no dimensionamento, é o menor dos valores
obtidos considerando-se os estados-limites últimos de escoamento da seção bruta e
ruptura da seção líquida, de acordo com as expressões indicadas a seguir.
 Importante: além das verificações a seguir, é necessário fazer outras verificações
para chapas de ligações, tais como esmagamento do furo, rasgamento da chapa etc.
No entanto essas verificações serão vistas em outro unidade curricular, no capítulo
específico de ligações.

a) para escoamento da seção bruta

Ag f y
N t , Rd  (2)
 a1
b) para ruptura da seção líquida
Ae f u
N t , Rd  (3)
 a2
onde:
Ag é a área bruta da seção transversal da barra;
Ae é a área líquida efetiva da seção transversal da barra;
fy é a resistência ao escoamento do aço;
fu é a resistência à ruptura do aço.
A área liquida efetiva, Ae, é dada pela Equação 4:

Ae  Ct  An (4)

Ct é um coeficiente de redução da área líquida, que depende do arranjo de parafusos


e soldas nas ligações de extremidades. Quando a força de tração for transmitida
diretamente para cada um dos elementos da seção transversal da barra, por soldas
ou parafusos, Ct=1,0. Como exemplo pode-se ilustrar o perfil I da Figura 4, ligado por
parafusos tanto nas mesas quanto na alma. Para este caso, Ct=1,0.

3
Figura 4 – Perfil I ligado pelas mesas e pela alma

Na Figura 5 podem ser visto um caso similar ao do perfil I da Figura 4, ligado por
parafusos pelas mesas e pela alma.

Figura 5 – Perfil I ligado pelas mesas e pela alma

As cantoneiras da Figura 6 estão ligadas por parafusos em apenas uma das abas,
conforme esquema. Neste caso o valor do coeficiente Ct é diferente de 1.

4
Parafusos apenas
nesta aba

Não há parafusos
nesta aba

Esquema da ligação

Figura 6 – Perfil cantoneira composta ligado apenas por uma das abas

Então, para perfis abertos (cantoneira, perfil I etc) em que algum elemento da seção
(alma, mesa, aba) não esteja ligado, deve-se calcular o valor de Ct de acordo com a
Equação 5 e Figura 7:

ec
Ct  1 (5)
lc
onde:
ec é a excentricidade da ligação, igual à distância do centro geométrico da seção da
barra, G, ao plano de cisalhamento da ligação;
lc é o comprimento efetivo da ligação (esse comprimento, nas ligações soldadas, é
igual ao comprimento da solda na direção da força axial; nas ligações parafusadas é
igual a distância do primeiro ao último parafuso da linha de furação com maior número
de parafusos, na direção da força axial).

Figura 7 – Valores de ec

Área líquida (An) para furos alinhados


A área liquida de um elemento estrutural (perfil, chapa etc) com furos alinhados
(Figura 8) é dada pela Equação 6 a seguir.

5
Linha de ruptura

Nt,Sd
b
t
t

Figura 8 – Linha de ruptura para furos alinhados


An  Ag   d f  t (6)

Onde df é o diâmetro do furo t é a largura do elemento. Vamos considerar nos nossos


cálculos o furo do tipo “padrão”. Para este tipo de furo, o diâmetro do furo é dado pela
segunda coluna da Tabela 1.

Tabela 1 – Dimensões máximas de furos para parafusos e barras redondas


rosqueadas
Fonte: ABNT NBR 8800:2008

A norma ainda orienta (seção 5.2.4.1 da norma) que em ligações parafusadas, a


largura dos furos deve ser considerada 2,0 mm maior que a dimensão máxima desses
furos. Como exemplo, se estivéssemos verificando uma ligação em que o diâmetro do
parafuso é menor ou igual a 24mm (primeira linha da Tabela 1), então teríamos que o
diâmetro do furo-padrão seria: (db + 1,5mm)+2mm. Por outro lado, se o diâmetro do
parafuso for igual a 27mm (segunda linha da Tabela 1), então teríamos que o diâmetro
do furo-padrão seria: (27mm)+2mm.

Área líquida (An) para furos em zigue-zague


A área liquida de um elemento estrutural (perfil, chapa etc) com furos em ziguezague
(Figura 9) é dada pela Equação 7 a seguir.

6
Linha de ruptura

Nt,Sd
b g t

Figura 9 – Ilustração dos espaçamentos s e g

s2 t
An  Ag   d f  t  (7)
4 g

Num elemento estrutural (perfil, chapa etc) com furos em ziguezague é necessário
verificar (dimensionar) todas as possíveis linhas de ruptura. A resistência de cálculo,
considerando ruptura da seção liquida, será o menor dos valores obtidos nas
possíveis linhas de ruptura. Na Figura 10 ilustra um exemplo das possíveis linhas de
ruptura para uma barra com furos não alinhados (em ziguezague).

Nt,Sd
b

Linhas de ruptura

7
Linhas de ruptura

Figura 10 – Linhas de ruptura

Num perfil aberto do tipo cantoneira, quando houver furação em mais de um elemento
(aba) da seção transversal, deve-se rebater a seção transversal do perfil no plano para
obter e verificar as possíveis linhas de ruptura, conforme Figura 11.

a
a

a
Cantoneira rebatida no plano

Algumas das possíveis linhas de


ruptura
3 2 1

3 2 1

Figura 11 – Linhas de ruptura de um perfil aberto com furação em mais de um


elemento

8
Por outro lado, nos perfis I e U, quando houver furação em mais de um elemento (alma
ou mesa), pode-se calcular a área líquida de cada elemento plano separadamente e
suas respectivas linhas de ruptura. Ao final soma-se a área líquida obtida para cada
elemento para obter a área líquida final.

4.2.1 Estado Limite de Serviço

Elementos tracionados podem resultar em seção com elevado índice de esbeltez, o


que pode dar origem a vibrações excessivas sob a ação de impactos do vento ou de
algum outro tipo de perturbação, constituindo um estado limite de serviço. A ABNT
NBR 8800:2008 recomenda que o índice de esbeltez das barras tracionadas , tomado
como a maior relação entre o comprimento destravado e o raio de giração
correspondente (L/r), excetuando-se tirantes de barras redondas pré-tensionadas ou
outras barras que tenham sido montadas com pré-tensão, não supere 300 (Figura 12).

Chapas espaçadoras

l : Comprimento
destravado

Figura 12 - Comprimento destravado


I
Então l/r ≤ 300, sendo r o raio de giração, dado por r  ; sendo I o momento de
A
inércia do conjunto (duas cantoneiras com chapa espaçadora, conforme ilustra o corte
A-A) e A é a área da seção transversal.

9
Exemplos resolvidos
1) Propõe-se obter o valor da força axial resistente de cálculo, Nt,Rd, para todos os
elementos planos (chapas) mostrados a seguir. As chapas possuem espessura igual
a 12,5mm, conforme ilustrado nas figuras. Com exceção do primeiro exemplo, as
demais chapas são parafusadas. Os parafusos usados na ligação têm diâmetro de
19mm (3/4”). O aço empregado possui resistência ao escoamento de 250MPa
(25,0kN/cm2) e à ruptura de 400MPa (40,0kN/cm2). Supor combinações normais de
ações.

a) Elemento sem furos


b = 150mm

Nt,Sd

t = 12,5mm
a.1) Escoamento da seção bruta
Ag f y
N t , Rd 
 a1

N t ,Rd 
15,0cm  1,25cm   25,0kN / cm 2
 426,14kN
1,1

Tabela 3 da página 23 da NBR8800

Como não há furos nesta chapa, então o cálculo diz respeito apenas a seção bruta.
Então, a força axial resistente de cálculo, Nt,Rd = 426,14kN.

10
b) Elemento com um furo

b = 150mm
Nt,Sd

1
t = 12,5mm

b.1) Escoamento da seção bruta

Ag f y
N t ,Rd   426,14kN (mesmo cálculo da chapa anterior)
 a1
b.2) Ruptura da seção líquida

Ae f u
N t ,Rd 
 a2

Ae  Ct  An ; para este caso Ct =1,0.


- Cálculo do diâmetro do furo

d f  (db  1,5)  2,0

d f  (19  1,5)  2,0  22,5mm

- Cálculo da área líquida

An  Ag   d f  t

An  15  1,25  2,25  1,25

An  15,94cm 2

Então, Ae  15,94cm
2

15,94cm 2  40kN / cm 2
Então, N t ,Rd   472,30kN
1,35

Conclusão: a força axial resistente de cálculo é o menor entre os dois valores


encontrados, Nt,Rd = 426,14kN.

11
c) Elemento com dois furos

b = 150mm
Nt,Sd

1
t = 12,5mm

c.1) Escoamento da seção bruta

Ag f y
N t ,Rd   426,14kN (mesmo cálculo da chapa anterior)
 a1
c.2) Ruptura da seção líquida

Ae f u
N t ,Rd 
 a2

Ae  Ct  An ; para este caso Ct =1,0.


- Cálculo do diâmetro do furo

d f  (db  1,5)  2,0

d f  (19  1,5)  2,0  22,5mm

- Cálculo da área líquida

An  Ag   d f  t

An  15 1,25  2  2,25 1,25


2 furos
An  13,13cm 2

Então, Ae  13,13cm
2

13,13cm 2  40kN / cm 2
Então, N t , Rd   389,04kN
1,35

Conclusão: a força axial resistente de cálculo é o menor entre os dois valores


encontrados, Nt,Rd = 389,04kN.

12
d) Elemento com 3 furos não alinhados
b = 150mm

Nt,Sd
25mm
25mm

50mm
t = 12,5mm

Possíveis linhas de ruptura


1 2

1 2

d.1) Escoamento da seção bruta


Ag f y
N t ,Rd   426,14kN (mesmo cálculo da chapa anterior)
 a1
d.2) Ruptura da seção líquida

Ae f u
N t ,Rd 
 a2

Ae  Ct  An ; para este caso Ct =1,0.


- Cálculo do diâmetro do furo

d f  (db  1,5)  2,0

d f  (19  1,5)  2,0  22,5mm

- Cálculo da área líquida


Linha de ruptura 1: 2 furos alinhados
O cálculo é o mesmo do exemplo 3.
13
An  Ag   d f  t

An  15 1,25  2  2,25 1,25


2 furos
An  13,13cm 2

Então, Ae  13,13cm
2
2

Linha de ruptura 2: 3 furos em ziguezague

s2 t
An  Ag   d f  t 
4 g

5,0 2  1,25 5,0 2 1,25


A n  15  1,25  3  2,25  1,25    16,56cm 2
4  2,5 4  2,5 2

Cada parcela desta corresponde a parte da


3 furos linha inclinada ligando dois furos.

 O menor valor obtido para a área líquida é igual a 13,13cm2, correspondente a linha
de ruptura 1.

13,13cm 2  40kN / cm 2
Então, N t , Rd   389,04kN
1,35

Conclusão: a força axial resistente de cálculo é o menor entre os dois valores


encontrados, Nt,Rd = 389,04kN.

14

Você também pode gostar