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ECONOMIA BRASILEIRA

Aula 2: Brasil Império (1822-1889)

14 DE MARÇO DE 2017
UNIVERSIDADE DE BRASÍLIA
Brasília/DF
Economia Brasileira
Aula 2: Brasil Império (1822-1889)
Prof. Dr. Sérgio Ricardo de Brito Gadelha

Sumário
1. As Crises Fiscal e Monetária .......................................................................................................................... 2
2. Ciclo do Café .................................................................................................................................................. 3
3. Trabalho Escravo na Economia Cafeeira ....................................................................................................... 6
4. Industrialização na Economia Cafeeira.......................................................................................................... 7
5. Crise do Capitalismo no Século XIX e a Vulnerabilidade Externa do Brasil ................................................... 8
6. Resumo .......................................................................................................................................................... 9

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1. As Crises Fiscal e Monetária

 O Brasil independente surge em meio de uma série de crises econômicas, políticas e sociais.
 A Família Real e os nobres daquela época “limparam” os cofres do Banco do Brasil, o qual
ficou em sérias dificuldades. Isso ocorreu porque, para se reconhecer a independência,
exigiram que o Brasil assumisse uma dívida de Portugal com a Inglaterra e ainda pagasse uma
indenização pela perda das terras.
 Em vista disso, D. Pedro I passou a contrair empréstimos internos e externos a juros
extremamente elevados. A dívida aumentava à medida que o Banco do Brasil emitia moeda
sem lastro; com isso, o Banco do Brasil faliu em 1829.
 Uma das causas para o desequilíbrio fiscal que esteve presente no Brasil ao longo de todo o
período imperial era sua frágil base de arrecadação tributária, a qual era centrada em taxas
alfandegárias, como as taxas de importação que respondiam por mais da metade da receita
pública.
 Além disso, a trajetória do setor exportador durante o Império pode ser dividida em dois
períodos: antes e depois do início do ciclo do café. Na primeira década após a independência
do Brasil, o café aparecia na pauta de exportações, mas como uma participação de 18,6%. Por
sua vez, o açúcar ocupava o primeiro lugar (32,2%), seguido pelo algodão (20%). A queda do
preço do açúcar, resultante da concorrência internacional (principalmente Antilhas)
 Ao final da década de 1840, o café superou o açúcar na pauta de exportações e, em 1861,
inaugurou-se um período de superávits comerciais, que só se interromperia de modo
significativo na década de 1970. Mas as dívidas externas contraídas anteriormente possuíam
um serviço de dívida (juros) tão alto que, em diversas ocasiões, o superávit da balança
comercial (exportação menos importação) não era suficiente para equilibrar o saldo em
transações correntes.
 Período de construção da dívida externa: entre 1850 e 1889, os diplomatas brasileiros
conseguiram entrar em acordo com os credores externos para renegociar e resgatar os
empréstimos anteriores e, dessa forma, o Brasil pode terminar a fase do império com a dívida
externa sob controle. Entretanto, a dívida interna apresentava trajetória de crescimento
elevado, sendo que um dos principais motivos era uma série de gastos extraordinários, por
exemplo, os conflitos provinciais do Período Regencial (Cabanagem, Balaiada, Farroupilha

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etc.) e, principalmente, a Guerra do Paraguai. Isso sem falar do uso ineficiente dos recursos
públicos já constatado naquela época!

2. Ciclo do Café

 Tem início na década de 1830, com a implantação de lavouras na Baixada Fluminense, depois
no Vale do Paraíba, sul de Minas Gerais e Espírito Santo. Em seguida, o café migra para a
região de Campinas e, por fim, para o chamado “Oeste novo paulista”, que são atualmente as
regiões de Ribeirão Preto e Araraquara.
 Segundo Pires (2010, cap. 2, p. 31), viabilizado pelos ganhos do comércio internacional na
segunda metade do século XIX, e também em parte pela abolição do tráfico dos escravos, em
1850, verifica-se uma forte expansão do café. Nesse tempo, tiveram início as estradas de ferro,
a imigração estrangeira, o telégrafo, a fundação de casas bancárias, a ampliação do mercado
doméstico, o crescimento de centros urbanos na região Sul do país, beneficiados pelas
primeiras manufaturas, que surgiam para atender ao crescimento da economia cafeeira. A
estreita correlação entre o crescimento do país e a exportação de café também traria problemas
crônicos à economia. Dependente das exportações cafeeiras e das importações de bens de
consumo, o Brasil passou a apresentar grande vulnerabilidade às crises econômicas ocorridas
na Europa e nos Estados Unidos.
 O Ciclo do Café levou a uma transformação do modo de produção brasileiro, mas, tendo
começado como mais um ciclo de exportação de bem primário. Em consequência da economia
cafeeira, o Brasil deixou o modo de produção colonial e ingressou na era do capitalismo
industrial. O Ciclo do Café não teria existindo sem os dois conjuntos de fato a seguir:
o Transição do trabalho escravo para o trabalho livre: essa transição ocorreu em
várias etapas. A primeira etapa ocorreu um 1850, com a Lei Eusébio de Queiroz, que
proibiu o tráfico negreiro. Com a baixa oferta de escravos, o preço deles aumentou.
Na obtenção de mão de obra, os cafeicultores utilizaram inicialmente os escravos das
fazendas da Região Nordeste. Entretanto, a entrada de imigrantes europeus, ainda nos
anos 1840, intensificou-se muito das décadas posteriores. Em 1884, o governo
brasileiro passou a subsidiar a venda de europeus e japoneses, fornecendo passagens
grátis e outras vantagens. Em 1888, foi promulgada a Lei Áurea, que aboliu de forma
definitiva a escravatura no Brasil. Surge dois elementos fundamentais no sistema
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capitalista: o mercado de trabalho assalariado e o mercado consumidor. A Lei de


Terras (1850) separou as terras públicas das terras privadas, e estabeleceu que as terras
privadas só poderiam ser de alguém mediante compra. Agora, os fazendeiros poderiam
passar a investir seu capital (que antes era utilizado para adquirir escravos) na
aquisição de terras.
o Avanços da segunda metade do século XIX: os desenvolvimentos ocorridos na
segunda metade do século XIX contribuíram para propiciar as condições necessárias
à industrialização brasileira. São eles: (1) a construção de ferrovias para escoar a
produção de café, a princípio com capital inglês e, depois, com investimentos dos
próprios cafeicultores paulistas; (2) o avanço tecnológico, que se fez visível na
lavoura com a implantação de máquinas para beneficiamento do café e com a
substituição dos velhos engenhos pelas usinas no Nordeste; (3) a formação de um
sistema de crédito, com bancos comerciais e outras instituições capazes de
proporcionar o crédito necessário a novos empreendimentos. A maior parte desses
desenvolvimentos ocorreram no eixo Rio de Janeiro – São Paulo.

Exportações - café - qde. - Unidade - Outras


fontes, inclusive compilação de vários autores -
HIST_QCAFEX
250.000,00

200.000,00

150.000,00

100.000,00

50.000,00

0,00
1848
1808
1812
1816
1820
1824
1828
1832
1836
1840
1844

1852
1856
1860
1864
1868
1872
1876
1880
1884
1888
1892
1896
1900
1904

Fonte: Ferreira, Pedro Cintra, O Café no Comércio. Bruxelas: 1908, Págs. 26 a 29. Série interrompida. Disponível em:
<<http://www.ipeadata.gov.br>>. Acesso em 07/03/2017.

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Exportações - café em grão - Libra esterlina (mil)


- Outras fontes, inclusive compilação de vários
autores - HIST_XCAFEVL
80.000,00
70.000,00
60.000,00
50.000,00
40.000,00
30.000,00
20.000,00
10.000,00
0,00
1851

1916
1821
1826
1831
1836
1841
1846

1856
1861
1866
1871
1876
1881
1886
1891
1896
1901
1906
1911

1921
1926
1931
1936
Fonte: Estatísticas históricas do Brasil: séries econômicas, demográficas e sociais de 1550 a 1988. 2. ed. rev. e atual.
do v. 3 de Séries estatísticas retrospectivas. Rio de Janeiro: IBGE, 1990. Apud: Estatísticas do século XX, Centro de
documentação e disseminação de informações. Rio de Janeiro: IBGE, 2003. Obs.: Os dados referem-se, de 1821 a 1969,
ao café em grão. De 1970 a 1987, ao café cru em grão. No período de 1833 a 1887: os dados referem-se ao ano fiscal (de
julho do ano anterior a junho do ano de referência). Série interrompida. Acesso em 07/03/2017.

Exercício: ao longo da história do império colonial português, há eventos que revelam fortalecimento
do mercantilismo e da exploração portuguesa dos negócios mercantis, e outros que revelam
enfraquecimento da burguesia portuguesa e favorecimento de interesses de outras nações nesses
negócios. Considere os eventos históricos listados abaixo.
I - Fundação de companhias de comércio portuguesas nos séculos XVII e XVIII
II - Tratado de Methuen
III - Ministério do Marquês de Pombal
É(São) fator(es) de enfraquecimento do mercantilismo ou da exploração colonial portuguesa apenas:
(A) I.
(B) II.
(C) III.
(D) I e II.
(E) II e III.

Solução: A questão pergunta quais seriam fatores enfraquecedores do comércio entre Portugal e suas
colônias. Obviamente companhias de comércio criadas nos séculos XVII e XVIII só fortaleciam o

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comércio português com suas colônias visto que asseguravam o monopólio: estabeleciam Portugal
como único vendedor e único comprador dos produtos de suas colônias. Também obviamente, sendo
Marquês de Pombal um estadista português do século XVIII, seu interesse visava fortalecer o
comércio entre Portugal e suas colônias. Já o Tratado de Methuen, ou o famoso "Tratado dos Panos
e Vinhos" de 1703, enfraqueceu tal mercantilismo pois, ao invés de deixar Portugal como destino
final dos produtos brasileiros, de forma à exploração colonial enriquecer essa metrópole, induziu o
envio das mercadorias coloniais de Portugal para a Inglaterra uma vez que tal tratado, assinado entre
esses dois países, estabelecia facilidades na troca comercial de panos provenientes da Inglaterra e
vinhos provenientes de Portugal. Sendo roupas e tecidos mais caros que vinhos, Portugal passou a
enviar muito mais dinheiro para a Inglaterra do que receber dela. Dessa forma, o ouro proveniente da
exploração colonial passava pela metrópole portuguesa e tinha, como destino final, terras inglesas. O
gabarito é mesmo a letra B.

3. Trabalho Escravo na Economia Cafeeira

 De acordo com Abreu e Lago (2014, cap. 1, p. 27), a produção de café em grandes
propriedades requereu a importação maciça de escravos e, após a proibição de fato do tráfico
em 1850, a transição para o trabalho livre. Foi um processo lento que só se acelerou nos anos
1880, quando foram aumentados os subsídios à imigração face à concorrência de outras
economias importadoras de mão de obra.

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Fonte: IPEADATA

4. Industrialização na Economia Cafeeira

 De acordo com Abreu e Lago (2014, cap. 1, p. 27), a economia cafeeira e, em menor medida,
outros polos de exportação, estimularam a criação de importante infraestrutura, em especial
ferrovias públicas e privadas. Entre as ferrovias privadas, parte foi estabelecida por
empresários estrangeiros, parte por capitalistas nacionais. No final do período imperial,
respondendo às demandas da urbanização, ganhou importância a provisão de serviços
públicos urbanos, também como importante papel do capital estrangeiro. A industrialização
foi incipiente no período imperial. Apenas em meados da década de 1880 começou a diminuir
gradativamente a penetração de importações de bens de consumo não duráveis, processo que
vai amadurecer apenas na primeira década republicana.

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5. Crise do Capitalismo no Século XIX e a Vulnerabilidade Externa do


Brasil

 Segundo Pires (2010, cap. 2, p. 33), o século XIX se caracterizou por crises cíclicas do
capitalismo, as quais, dando-se no âmbito internacional das potências hegemônicas do
hemisfério norte, afetaram a conjuntura econômica reflexa e voltada aos interesses externos
do Império brasileiro. Os principais e mais significativos picos de crise do capitalismo para a
política econômica do Império brasileiro foram:
o 1847-1848: constata-se dificuldades nas construções ferroviárias da Inglaterra,
arrastando atrás de si a construção civil, com repercussões nas indústrias mineradora
e metalúrgica, assim como consequente baixa da produção dos preços.
Consequentemente, ocorrem crises monetárias e bancárias na Inglaterra e na França,
com desemprego e depressão dos salários, resultando em levantes na Inglaterra, com
o renascimento do Cartismo, e influência nas situações políticas de 1848 na França,
na Alemanha, na Checoslováquia e na Hungria. A expansão do capitalismo foi
favorecida pela abertura do mercado chinês, bem como pela descoberta de ouro nos
Estados Unidos da América e Austrália.
o 1857-1858: a superestimação das jazidas de ouro descobertas na Califórnia (EUA),
“corrida do ouro”, e a quebra de empresas ferroviárias nos EUA, na Inglaterra e na
França, somadas à especulação imobiliária e à crise na indústria de transformação
decorrentes da oferta metálica, deflagraram outra crise. Nos EUA, 9.655 empresas
com passivo maior que 400 milhões de dólares fecharam entraram em falência.
o 1865-1866: em período anterior, a Guerra Civil nos EUA (1861-1865) causará uma
crise que acarretará em diminuição do consumo, baixa produção, crise monetária, crise
especulativa e desemprego. Na Inglaterra e na França, observam-se a liquidação de
casas bancárias.
o 1873-1874: vitória dos alemães na Guerra Franco-Prussiana (1870). Inglaterra
expande as fronteiras de seu comércio internacional, forçando suas zonas de influência
e sua colônias a adotarem um rígido controle monetário, provocando um jogo no qual,
vitoriosa ou não em sua política de controle cambial e oferta monetária, a localidade
favorecia os interesses britânicos. Essa expansão britânica contou com a companhia
de alemães, belgas, franceses e holandeses, na formação do imperialismo moderno,
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com a “Partilha da África” (1870-1914) e a disputa da Ásia, gerando instabilidades


econômicas periódicas. Em 1873, eclodem crises ferroviárias, mineiras e metalúrgicas
na Alemanha, resultando em queda dos preços na Bolsa de Viena, além de pânico
especulativo. Nos EUA, mais de 6 mil empresas faliram entre 1871-1873, provocando
enorme desemprego.
o 1885-1887: período de crise financeira que teve consequências na França, nos EUA e
na Inglaterra.

 Segundo Pires (2010, cap. 2, p. 35) a resposta da economia brasileira a essas condições
externas for caracterizada por:
o Falta de meio circulante;
o Debilidade das políticas industrializantes: os surtos industriais ocorridos nas
décadas de 1850 e 1870 não foram expressivos suficientemente para engendrar um
processo industrial efetivo no país e suprir a grande distância entre demanda suprida
e a efetiva.
o Insipiência das protopolíticas de desenvolvimento: com exceção da expansão da
malha ferroviária, o uso de novas tecnologias não foi difundido de maneira a promover
o desenvolvimento da economia brasileira, e mesmo o aumento do número de
ferrovias serviu apenas à reprodução e ao incremento da exportação de café.
o Crise do trabalho escravo e sua substituição pelo trabalho assalariado: apesar das
pressões da Inglaterra pelo abandono do uso de mão de obra escrava (Lei Aberdeen),
a resistência passiva empreendida pela elite brasileira em abandonar o escravismo
refletiu-se na conhecida política gradualista, em que se buscava eliminar a escravidão
em ritmo que permitisse aos latifundiários a absorção de mão-de-obra assalariada,
sobretudo imigrante europeia.

6. Resumo

No século XV, o comércio mercantil passou a ser o meio mais rápido de enriquecimento e,
portanto, de fortalecimento do poder dos povos. Nesse contexto, Portugal, o pioneiro das grandes
navegações, é superado em sua potência marítima pela Espanha, Holanda e Inglaterra. A competição

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desses países, incluindo França, foi uma das características da revolução comercial (período de
expansão econômica da Europa, movido pelo colonialismo e mercantilismo, que durou
aproximadamente do século XII ao século XVIII).
A política da procura de metais preciosos se apoiava no fato de os preços dos produtos de um
país caírem imediatamente após pronunciamentos de falta de metais monetários dentro de um país. E
os Estados, com essa desvalorização, sentiam um rápido empobrecimento. Portugal e Espanha
procuravam tais metais em outras terras, enquanto a Inglaterra alargava sua produção industrial
buscando atrair a entrada de ouro que, de outra forma, lhe escassearia.
A centralidade da religião na Idade Média vai cedendo lugar à mercantilização na Idade
Moderna (1453 a 1789), explícita na mudança do nome da terra de Vera Cruz ou Santa Cruz, como
fora oficialmente batizada, por Brasil, nome da riqueza que então se supunha principal. França e
Holanda disputavam o novo território com Portugal e investiam em agrados aos índios que ofereciam
o trabalho e entrega do pau-brasil por bugigangas. O contrabando será realidade por muitos anos
nessa região.
Visando a intensificação do comércio, o infante D. Henrique fez com que se iniciasse, na
Madeira e em colônias portuguesas, a cultura da cana de açúcar. Utilizando braços africanos, mais
adaptados ao trabalho que o indígena, o Brasil tornou-se produtor de açúcar, pecuária e diversas
culturas alimentares; de cacau (a partir 1679), de café (a partir de 1727); o algodão também se fez
presente a partir da segunda metade do século XVIII.
Com o fim do tráfico de escravos para o Brasil no início da segunda metade do século XIX,
há um aumento da imigração interna de escravos que se mostra insuficiente para atender a demanda
de mão de obra nas plantações. Os fazendeiros, então, passam a estimular a vinda de imigrantes
europeus para o Brasil e o próprio governo deste país se dispõe a organizar a vinda de pessoas da
Itália, da Alemanha, da Suíça, Bélgica, Portugal e até do Japão para povoar e trabalhar no café. Esse
contingente estrangeiro favorece a industrialização no Brasil pois muitos desses imigrantes já haviam
lidado com fábricas e possuíam uma qualificação um pouco melhor, na média, que os trabalhadores
brasileiros.
As primeiras fábricas manufatureiras surgiram espontaneamente no século XVIII, porém o
alvará assinado pela rainha Maria de Portugal em 1785 proibiu a produção manufatureira no Brasil,
com exceção de panos grossos para roupas dos escravos. Tal alvará foi revogado em 1808, porém o
tratado de 1810, da abertura dos portos do Brasil às nações estrangeiras amigas, aniquilou o surto
manufatureiro posterior à revogação. Nessa época o Brasil não exportava produtos em quantidades
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suficientes para pagar o que importava da Inglaterra. Como resultado, a balança comercial do novo
império se tornou deficitária e as taxas cambiais sentiram o reflexo. Os produtos ingleses chegavam
ao Brasil pagando menos imposto (15%) de importação que todas as outras nações (24%), inclusive
Portugal (16%).
Somente pelo Decreto de 1818 são tomadas providências por Portugal para melhorar a
situação do comércio luso-brasileiro. Os aguardentes e vinhos estrangeiros sofreram forte taxação. A
tarifa de importação de mercadorias portuguesas baixaram de 16 para 15%, ficando equiparadas às
inglesas. Já as produções asiáticas passaram a pagar 3%, ao invés de 8%.
Quanto ao desenvolvimento em infraestrutura, este se deu de forma significativa a partir de
meados do século XIX, com a construção de estradas de ferro, expansão das linhas de navegação
fluvial a vapor e pouca ampliação da rede rodoviária. A rede telegráfica, o lançamento de cabos
submarinos, transoceânicos, e a instalação do primeiro telefone em 1877 mostram aspectos
progressistas do Brasil Império (1822 a 1889).
Em 1889 é proclamada a república no Brasil, estabelecida depois de um golpe militar liderado
por Marechal Deodoro da Fonseca cuja popularidade alcançada no exército e na corte imperial após
seu retorno Guerra do Paraguai (1864-1870), favoreceu o feito. A guerra havia sido financiada por
fortes emissões de moeda mas não resultou em inflação papelista, dado à pouca capilaridade bancária
e à carência no suprimento de papel emitido pelo Tesouro Nacional no Brasil. Isso porque a expansão
do trabalho assalariado, resultante do fim da escravidão e do grande fluxo de imigrantes para o Brasil,
havia gerado expansão da demanda por moeda e o sistema bancário brasileiro, pouco desenvolvido e
concentrado principalmente no Rio de Janeiro, tinha grande dificuldade de atender essa demanda por
moeda física. O resultado eram problemas de liquidez e escassez de crédito.

Exercício: A produção de tecidos de algodão por processos manuais e equipamentos pré-industriais


já se havia instalado no Brasil no século XVIII. No entanto, apenas após a década de 40 do século
seguinte é possível identificar o início da instalação de unidades desta indústria. Qual dos fatores
abaixo encorajou tal instalação?
(A) A redução de preços industriais na Europa, ligados à melhoria técnica da produção.
(B) A valorização do mil-réis.
(C) A imposição de tarifas sobre as importações.
(D) O tratado comercial de 1810 com a Grã-Bretanha.
(E) O declínio da produção indiana de tecidos.
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Solução: Pensar em industrialização no Brasil é lembrar do incentivo do Estado para seu desenvolvimento
através da imposição de tarifas sobre similares importados. Com o similar estrangeiro mais caro no mercado
interno, o consumidor preferia comprar do produtor nacional. Vendendo seus produtos e ganhando dinheiro, o
empresário nacional não apenas continuava produzindo, mas também investia e crescia, junto com a indústria
brasileira. Portanto o gabarito é a letra C.
Vejamos o erro das outras alternativas: se o preço do produto importado se reduz, os consumidores
vão preferir comprar dele (mais barato) ao invés do nacional, enfraquecendo a indústria doméstica que perde
dinheiro proveniente de consumidores. No mesmo sentido, a valorização da moeda nacional também não
favorece a indústria doméstica pois barateia os produtos produzidos no estrangeiro. Por exemplo: você
compraria mais mercadorias que custam 10 dólares quando o dólar está a 4 reais (e o preço em reais da
mercadoria é 40) ou quando o dólar está a 2 reais (e portanto a mercadoria vale 20 reais)? Veja que a moeda
se valoriza quando a sua cotação passa de 4 para 2 pois no primeiro caso preciso de 4 reais para trocar por um
dólar e no segundo caso preciso de apenas 2 reais para essa mesma troca, portanto a moeda cresceu em valor.
Com a moeda valendo mais, os produtos estrangeiros ficam mais baratos e o consumidor prefere comprar do
estrangeiro.
Por último, o tratado comercial de 1810 com a Grã-Bretanha não favoreceu a indústria brasileira pois
reduziu as tarifas de importação sobre os produtos daquele país, favorecendo menores preços para os produtos
importados em detrimento dos nacionais. Já o declínio da produção indiana de tecidos não afetou a indústria
do Brasil pois nós não éramos importadores de tecido da índia e sim da Grã-Bretanha.

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