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Um Método da Engenharia Semiótica para a

Construção de Sistemas de Ajuda Online


Milene Selbach Silveira1,2 Clarisse Sieckenius de Souza2 Simone D.J.Barbosa2
Milene@inf.pucrs.br clarisse@inf.puc-rio.br simone@inf.puc-rio.br
FACIN – PUCRS1
Av.Ipiranga, 6681 – Prédio 30
Porto Alegre, RS 90619-900 - Brasil
SERG - DI/PUC-Rio2
R. Marquês de São Vicente, 225
Rio de Janeiro, RJ 22453-900 – Brasil

ABSTRACT podem produzir atitudes mais positivas em relação à ajuda


Online help systems are typically used (if at all) as a last online, indo em contra ao sentimento de exclusão
resource in interactive breakdown situations. In this paper, tecnológica que muitos usuários expressam.
we present a semiotic engineering method for building Palavras Chave
online help that uses fairly known design models. We Sistemas de ajuda online; engenharia semiótica; design de
discuss the benefits of having designers explicitly IHC; modelos de design; adoção de tecnologia
communicate their design vision to users and the need or
opportunity to foster new cultural attitudes towards online INTRODUÇÃO
help. We show how, as a direct communication channel Como podemos ajudar os designers a construir o sistema de
from designers to users, it opens new possibilities for ajuda online de uma aplicação? E como assegurar que este
interaction that can be skillfully used by designers. By sistema mostrará aos usuários o que eles podem fazer com
exploring such possibilities, designers and users may bring a aplicação, para que ela serve, por que certas decisões de
about more positive attitudes towards online help and design foram tomadas e assim por diante?
counter the feeling of technological exclusion which many Esta série de perguntas reflete uma perspectiva antagônica
users express. àquela que se popularizou sob o rótulo de idiot-proof
Keywords technology. Nesta, acredita-se que a meta de design deve
Online help systems; semiotic engineering; HCI design; ser, no caso de software, por exemplo, a construção de
design models; technology adoption aplicações intuitivas, a prova de erro, e que na medida do
possível façam automaticamente pelos usuários todas as
RESUMO coisas necessárias mas difíceis de fazer manualmente.
Sistemas de ajuda online são tipicamente usados (quando o Como Adler e Winograd [1], as autoras deste trabalham
são) como um último recurso quando encontra-se um acreditam que esta visão é depreciativa e subestima, se não
problema durante a interação. Neste artigo, apresentamos impede, o exercício da inteligência e da criatividade do
um método da Engenharia Semiótica para construção de usuário, para aprender e transformar o software de acordo
sistemas de ajuda online, método este que utiliza modelos com o que a sua necessidade ou imaginação indicam.
de design de IHC amplamente conhecidos. Discutimos os Assim, enquanto numa perspectiva idiot-proof o papel da
benefícios de ter os designers comunicando – ajuda online é constrangedor (porque denuncia o que não é
explicitamente – sua visão de design aos usuários, e a intuitivo ou o que o usuário precisa de explicações para
necessidade ou oportunidade de adotar-se novas atitudes conseguir fazer), na perspectiva exposta por Adler e
culturais em frente a sistemas de ajuda. Mostramos como – Winograd o papel da ajuda online é o de abrir
sendo um canal direto de comunicação dos designers para possibilidades e de dar recursos para o usuário
os usuários – o sistema de ajuda abre novas possibilidades compreender e transcender a idéia original do design,
de interação a serem exploradas pelos designers. Pela tirando o melhor partido possível da tecnologia.
exploração de tais possibilidades, designers e usuários
A construção do sistema de ajuda online de uma aplicação
é um dos passos mais críticos no design de IHC (Interação
Humano-Computador). Tipicamente estes sistemas acabam
por não ajudar muito os usuários e algumas das razões para
esta falta de eficiência podem ser: a falta de tempo ou de
planejamento para realizar esta parte do projeto; a
excessiva confiança ou expectativa com relação à

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intuitividade da interface construída; ou ainda uma ingênua A abordagem minimalista para comunicação técnica sugere
aceitação dos padrões correntes [19]. que porções pequenas, mas bastante contextualizadas, de
Este trabalho é baseado na Engenharia Semiótica [7], para conteúdo, são a melhor forma de dar informação aos
a qual a interface de uma aplicação é uma mensagem usuários [5]. O benefício desta abordagem é ainda maior
enviada dos designers aos usuários, representando a com o uso da técnica de layering [10], através da qual
solução do designer para o que ele acredita que são os pequenas partes de conteúdo minimalista são conectadas e
problemas dos usuários. É através desta mensagem que os podem ser acessadas conforme a necessidade do usuário.
designers falam aos usuários o que eles interpretaram ser as Na abordagem aqui descrita, usuários podem escolher uma
necessidades e preferências destes usuários, qual foi sua dentre um conjunto de expressões disponíveis para indicar
resposta para estas necessidades e como eles concretizaram suas dúvidas durante a interação. Fazendo isto eles irão
sua visão na forma de um sistema interativo. obter um conteúdo de ajuda contextualizado, associado à
Para a Engenharia Semiótica, o sistema de ajuda online é expressão escolhida. Por exemplo, ao não perceber o
um componente essencial da aplicação. É através dele que retorno (feedback) após a execução de uma ação o usuário
os designers podem “falar” mais direta e elaboradamente pode escolher a expressão “O que aconteceu?”. Algumas
aos usuários, revelando como a aplicação foi construída, das expressões utilizadas para acessar a ajuda vêm
como ela pode ser usada e para que fins. diretamente do método de avaliação de comunicabilidade e
outras resultam da análise da literatura de ajuda existente
Este artigo descreve um método para design de sistemas de sobre as dúvidas mais freqüentes dos usuários durante a
ajuda online concebido à luz da Engenharia Semiótica e interação [4,20]. Poucas delas são encontradas em
com base em dois pilares principais: a comunicabilidade e a aplicações comerciais, como o “O que é isto?” e “Como
técnica retórica de layering da abordagem minimalista. E, a faço isto?”. O conjunto atual de expressões sendo usadas
fim de ilustrar o método proposto, é apresentado o design para acesso ao sistema de ajuda online é o seguinte:
do sistema de ajuda online de uma apresentação real. A
discussão sobre este método está fundamentalmente • O que é isto?
relacionada à possibilidade, senão à necessidade, de uma • Como faço isto?
mudança da cultura vigente em relação a este importante • Onde está…?
recurso de interação. Em particular, faz-se uma ligação • Para que serve isto?
explícita entre a qualidade da ajuda online e os sentimentos • E agora?
de exclusão tecnológica comumente notados junto aos • A quem isto afeta?
usuários. • Por que eu devo fazer isto?
SISTEMA DE AJUDA ONLINE DO PONTO DE VISTA DA • Onde eu estava?
ENGENHARIA SEMIÓTICA • De quem isto depende?
É essencial que os usuários entendam a mensagem dos • O que aconteceu?
designers para que eles possam fazer um melhor uso e tirar • Quem pode fazer isto?
melhor proveito de todas funcionalidades da aplicação. • Epa!
Uma forma de tornar esta mensagem explícita e mais rica é • Por que não funciona?
através de um design cuidadoso do sistema de ajuda online • Existe outra maneira de fazer isto?
da aplicação. • Socorro!
O objetivo de nossa pesquisa [21] é promover uma nova Tanto usuários quanto designers são beneficiados com o
perspectiva para o design e uso de sistemas de ajuda online. uso destas expressões: os usuários têm a chance de
Os usuários devem ser capazes de expressar mais conseguir uma resposta melhor, mais de acordo a suas
precisamente suas dúvidas e necessidades, e os designers necessidades, e os designers têm um princípio de
de antecipar tais dúvidas e necessidades, bem como de organização diretamente guiado pelas falhas de
organizar sua resposta apropriadamente. comunicação que eles pretendem atingir ou resolver.
Nossa abordagem para o design de sistemas de ajuda online Inspiradas pela técnica de layering [10], nós permitimos
tem como pontos principais de fundamentação a avaliação que o usuário primeiro acesse pequenas peças de conteúdo
de comunicabilidade [14] e a técnica de layering em sobre um determinado elemento de interface ou tarefa,
documentação minimalista [10]. A avaliação de podendo, depois, aprofundá-las, dependendo de suas
comunicabilidade é um método de avaliação de interfaces necessidades, até receber as informações desejadas.
que revela – qualitativamente – falhas de comunicação Um exemplo simples ilustrando as respostas minimalistas e
potenciais que podem ocorrer durante a interação. Como o uso recorrente de expressões a partir desta resposta pode
será visto posteriormente, estas falhas de comunicação são ser visto através do cenário a seguir:
representadas por expressões coloquiais que os usuários
Maria começou um novo emprego hoje, como auxiliar
podem associar a suas necessidades de ajuda.
de escritório. Ela tem conhecimentos básicos de
informática e sua primeira tarefa é criar uma mala

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direta com o endereço da empresa onde trabalha. Só
que isto ela nunca fez…Ela pode até criar uma tabela e
copiar várias vezes o mesmo endereço, mas ela sabe
que existe uma ferramenta própria para isto e vai E agora?
tentar usá-la. E agora?
Para prosseguir você pode imprimir uma (ou

Para iniciar, Maria seleciona, no menu de Arquivos, a mais) folha(s) com as novas etiquetas, criar
um novo documento com estas etiquetas ou
alterar as dimensões das etiquetas.
opção de abrir um arquivo novo, pois lembra que é a Como faço isto?
Como faço isto?
partir dali que pode selecionar um template para criar Para alterar as dimensões da etiqueta você deve
pressionar o botão Opções….
sua mala direta.
Selecionada a aba desejada, aparece o assistente de
ajuda do Word, com as opções que ela pode escolher.
Maria seleciona a opção desejada (criar uma página Figura 1: Respostas de Ajuda e Recorrências.
com várias etiquetas iguais) e é apresentada uma
janela para que ela edite sua etiqueta. Maria está Nossa proposta inclui, também, um módulo de ajuda geral
pronta para trabalhar: ela digita uma frase pequena só (à parte, não embutido na aplicação), onde é possível
para teste e vê que não acontece nada… “E agora?”, encontrar informações relacionadas sobre o domínio e a
pensa Maria, “Como é que eu faço para seguir aplicação como um todo, bem como cenários de uso, para
adiante? Como é que eu faço para ver minhas que designers possam passar sua visão global de design de
etiquetas? O que será que posso fazer para uma maneira consistente.
prosseguir?”. Maria resolve pedir por ajuda, clicando UM MÉTODO PARA CONSTRUÇÃO DE SISTEMAS DE
com o botão direito do mouse sobre a área onde ela AJUDA ONLINE
acaba de digitar seu texto. Uma janela popup aparece, Nesta seção descreveremos os passos na construção de um
mostrando as expressões que ela pode usar sobre o sistema de ajuda online: (1) design de IHC considerando-se
item indicado. Ela escolhe E agora?, esperando questões específicas relacionadas à ajuda; (2) geração do
encontrar informações sobre o que fazer a seguir, dado rascunho do conteúdo da ajuda; (3) refinamento do
que já digitou a informação desejada. Uma mensagem conteúdo e especificação dos pontos de recorrência; (4)
de ajuda é apresentada, tal como: “Para prosseguir construção do módulo de ajuda geral; (5) conexão dos
você pode imprimir uma (ou mais) folha(s) com as pontos de acesso à ajuda aos elementos de interface; (6)
novas etiquetas, criar um novo documento com estas testes preliminares; (7) análise de uso durante a avaliação
etiquetas ou alterar as dimensões das etiquetas.”. de comunicabilidade; e (8) refinamento ou redesign do
Agora Maria tem três opções… Ela quer poder ver as conteúdo da ajuda. Este método é ilustrado na Figura 2.
etiquetas, mas como a única opção disponível que Design de IHC
considerando-se as
parece permitir isto é criar um novo documento com as Modelo de
questões de ajuda Modelo de
Interação +
etiquetas, ela clica com o botão direito do mouse sobre Aplicação +
ajuda
Modelo de
Usuário +
Modelo de
Tarefas +
ajuda

a expressão criar um novo documento com estas Modelo de


ajuda ajuda Modelo de
Interface +
Domínio +
etiquetas e seleciona a expressão Como faço isto?. A ajuda Geração do rascunho do
conteúdo da ajuda
ajuda

mensagem de ajuda correspondente poderia ser: “Para


criar um novo documento com as etiquetas você deve Rascunho
da ajuda
pressionar o botão Novo documento”.
Refinamento do conteúdo Construção do módulo
Maria segue as instruções, torcendo para conseguir e especificação dos de ajuda geral
pontos de recorrência
terminar logo sua tarefa e conseguir causar uma boa
impressão em seu primeiro dia de trabalho... Módulo de
ajuda geral
Ajuda local +
recorrências

Este cenário pode ser visualizado na Figura 1. Este é um Conexão dos pontos de
acesso à ajuda aos
exemplo fictício, baseado na tarefa de criação de etiquetas elementos de interface

no MS Word®. O conteúdo das respostas de ajuda baseia-


Testes preliminares
se no funcionamento real do Word para esta tarefa e nas
informações de ajuda que o mesmo oferece sobre esta
Análise de uso durante
tarefa (o conteúdo textual da ajuda não foi produzido avaliação de
Refinamento e/ou
comunicabilidade
utilizando nossa abordagem). redesign do
conteúdo da ajuda

Figura 2: O método proposto.

Design de IHC considerando-se as Questões de Ajuda


Um requisito implícito de nossa proposta é que
necessitamos capturar parte da lógica de design (design

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rationale), tarefa esta que não é fácil [11]. Entretanto, execução, e os signos de domínio e de aplicação a ela
devemos enfatizar que as únicas porções relevantes desta associados.
lógica para sistemas de ajuda online são aquelas que afetam • Modelo de Usuário (sobre os usuários da aplicação):
diretamente a experiência do usuário. Em outras palavras, papéis e perfis, indicando quem pode ou deve realizar
todas as decisões que são relacionadas ao design de quais tarefas, e quais são as preferências de interação de
software, sua arquitetura e itens semelhantes, não são cada (classe de) usuário.
importantes para propósitos da ajuda.
• Modelo de Interação (sobre os caminhos de interação
A informação sobre a lógica de design deve ser capturada
possíveis na aplicação, ou seja, sobre a conversa para
durante o processo de design da aplicação. Esta é uma das
realizar uma determinada tarefa na aplicação):
razões pelas quais seguimos uma abordagem baseada em
alternativas de operacionalização possíveis para
modelos (de fato extensões de modelos conhecidos) para o
execução de cada tarefa. Para cada alternativa:
design de IHC. Os modelos são estendidos precisamente
motivação do usuário para execução (segundo a
por causa da introdução de informações que são específicas
percepção do designer), condição para execução,
para o design da ajuda.
indicação de preferência de execução (segundo a
Em geral, abordagens de IHC baseadas em modelos percepção do designer), seqüência de ações necessárias
promovem a representação de soluções de interação a fim para sua execução. Para cada ação: valor default, forma
de ajudar o designer a refletir sobre elas e tomar decisões de desfazer, conexão com a próxima ação.
adequadas, ou ainda para permitir a geração (semi-)
• Modelo de Interface (sobre os elementos de interface da
automática da interface de usuário. Existe uma variedade
aplicação): tipo de elemento de interface, valores
de modelos conhecidos: modelos de tarefas são os mais
possíveis, valor default, localização na interface, signos
amplamente utilizados, mas modelos de usuário, domínio,
de domínio ou aplicação a ele associado.
apresentação e diálogo, entre outros, são também
encontrados na literatura [13,16,17,18]. Após uma série de Neste passo enfatizamos a importância de o designer da
estudos sobre estes modelos, a fim de verificar a ajuda (e/ou equipe responsável pelo desenvolvimento do
possibilidade de utilizá-los como fonte de informações para sistema de ajuda) participar durante todo o processo de
o conteúdo da ajuda, foram selecionados os modelos de design da aplicação, no que tange a experiência do usuário,
domínio, de aplicação, de tarefas, de usuário, de interação e a fim de capturar a informação necessária à construção do
de interface, os quais foram estendidos para cobrir as sistema de ajuda online.
informações de ajuda necessárias. Geração do Rascunho do Conteúdo da Ajuda
Tanto as respostas locais de ajuda (abordagem minimalista) Conforme visto anteriormente, deve-se elaborar respostas
quanto o módulo de ajuda geral são derivados destes minimalistas para cada expressão que um usuário pode
modelos, os quais devem ser construídos durante o período escolher para expressar sua necessidade de ajuda. A fim de
de design da aplicação. acelerar a geração de um rascunho destas respostas, nosso
A seguir será descrito, brevemente, o que cada modelo método disponibiliza templates de conteúdos de ajuda
deve conter, a fim de conter as informações necessárias à associados a cada expressão. Estes templates são
construção do sistema de ajuda: instanciados com informações advindas dos diferentes
modelos de design de IHC. Por exemplo, para a expressão
• Modelo de Domínio (sobre o domínio da aplicação): “O que é isto?”, o conteúdo vem diretamente da descrição
descrição do domínio e da natureza do trabalho nele do signo relacionado ao foco da expressão (signo de
realizado, definição detalhada dos signos de domínio, domínio ou de aplicação), conforme indicado no modelo
i.e., conceitos do domínio que são apresentados ou correspondente (de domínio ou de aplicação):
manipulados pela aplicação ou pelo usuário durante a
interação. O que é isto?
• Modelo de Aplicação (sobre a aplicação (a ser) Resposta: descrição(Signo)
implementada): descrição da aplicação, incluindo sua
Vale ressaltar neste ponto que a noção de signo é
utilidade, as vantagens de utilizá-la, as atividades que
justamente uma das extensões que fizemos aos modelos
ela permite realizar, e os signos de aplicação utilizados,
mais tradicionais de domínio e aplicação, com vistas a
i.e., conceitos que não pertencem ao domínio e que são
apoiar a construção da ajuda online. Um signo é uma
introduzidos pela aplicação.
unidade de significação (que pode ser interpretada e usada
• Modelo de Tarefas (sobre as tarefas que podem ser para comunicar uma idéia). Assim, por exemplo, são
realizadas na aplicação): descrição de cada tarefa, signos de um domínio de editoração de textos unidades
incluindo sua utilidade e a motivação do usuário para como ‘documento’ e ‘layout de página’. São signos de uma
realizá-la (segundo a percepção do designer), tarefas aplicação de edição eletrônica de texto como o MS Word®,
relacionadas (tarefa-mãe e os relacionamentos com por exemplo, unidades como ‘caixa de ferramentas de
outras tarefas), condições necessárias para sua controle’ ou ‘layout on-line’.

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Uma geração mais elaborada pode ser ilustrada pela suas expressões correspondentes) e problemas freqüentes
expressão “Como faço isto?”, referente a uma tarefa. Neste encontrados fora do contexto da aplicação (por exemplo,
caso, temos o seguinte template de resposta: problemas de conexão de rede ou falhas de energia durante
uma tarefa).
tarefa1,
… As porções relativas a informações de domínio e de
Como faço isto? e aplicação deste módulo podem ser construídas e refinadas
pode tarefan.
Resposta: Para tarefa_mãe, você
pari passu com a construção e refinamento do conteúdo da
deve ajuda local. Parte do conteúdo de ajuda local gerado pode
tarefa1,
… também ser incluída no módulo de ajuda geral.
busca, no modelo de ou
tarefan. Conexão dos Pontos de Acesso à Ajuda aos Elementos
tarefas, as tarefas que
são filhas da tarefa de Interface
indicada Estando o conteúdo da ajuda local (expressões e respostas
[, na ordem que correspondentes) e também o módulo geral de ajuda bem
dependendo da seqüência de você desejar]. definidos, estes podem ser disponibilizados na interface.
operadores de tarefa
relacionados Para cada elemento acessível por expressões associadas
escolhido pelo designer da ajuda, um link ao conteúdo de
A partir destes templates e das informações contidas nos ajuda correspondente é adicionado. Este link oferece as
modelos, um rascunho da resposta de ajuda é gerado para expressões disponíveis para determinado elemento e –
cada par expressão–elemento (signo, tarefa, cursos através destas – chega-se às respostas correspondentes.
alternativos de ação e ações propriamente ditas). Estas respostas já foram previamente geradas e refinadas e
são embutidas na aplicação a fim de evitar retardos na
Refinamento do Conteúdo e Especificação das execução. Mais do que isso, este refinamento prévio
Recorrências possibilita um refinamento manual do rascunho de resposta
Tendo sido gerado o rascunho das respostas, o designer da gerado, a fim de que o formato das respostas seja mais
ajuda necessita selecionar os elementos que – de seu ponto natural e sua comunicação mais eficiente.
de vista (baseado em entrevistas com os usuários, análise
de domínio, etc) – devem ter associadas respostas de ajuda Um designer gráfico deve trabalhar junto neste passo a fim
locais (sensíveis ao contexto). Para cada elemento, o de especificar a interface do módulo de ajuda geral, da
designer da ajuda deverá, também, selecionar uma ou mais ajuda local, e dos elementos de interface que representam
das expressões relacionadas. Em outras palavras, ele os pontos de conexão à ajuda.
selecionará aqueles elementos sobre os quais ele acredita Testes Preliminares
que o usuário poderá ter dúvidas ou que ele gostaria de Estando construídos o protótipo da aplicação, o sistema de
explicar ou descrever aos usuários, e as expressões que ajuda local e o módulo de ajuda geral, a equipe de design
serão utilizadas para acessar este conteúdo de ajuda. deve promover testes preliminares a fim de verificar se as
Logo que estes pares de elemento–expressão são expressões e suas respostas correspondentes e, também, as
selecionados, os rascunhos de respostas gerados devem informações do módulo de ajuda geral, estão consistentes.
passar por um processo de refinamento, durante o qual Toda conexão de ajuda deve ser testada, bem como todos
especialistas em redação técnica trabalharão o texto, a fim os pontos de recorrência das respostas.
de melhor comunicar a mensagem do designer aos Análise de Uso durante Avaliação de Comunicabilidade
usuários. Tendo feito isto, cada resposta de ajuda é Uma vez que a aplicação como um todo esteja
analisada, a fim de verificar os possíveis pontos de implementada, podem ser efetuados testes com usuários
recorrência que elas podem conter. Estes pontos indicam os reais através da avaliação de comunicabilidade [14], para
elementos textuais da resposta que terão expressões e verificar se a interface está transmitindo realmente a
conteúdo de ajuda associados. Este conteúdo pode, por sua mensagem pretendida pelo designer e para investigar
vez, conter pontos de recorrência adicionais e assim, problemas que possam ocorrer durante a interação.
sucessivamente, permitindo o aprofundamento das
Além de analisar a interface como um todo, é possível
informações de ajuda sobre determinado tópico.
aproveitar esta avaliação para analisar a interação
Este passo pode ser feito antes de a interface ser específica com o sistema de ajuda. A fim de melhor
implementada, com base nos storyboards construídos observar a interação durante os testes e de ser capaz de
durante o processo de design de IHC. capturar os problemas que possam ocorrer no uso da ajuda,
Construção do Módulo de Ajuda Geral é interessante que o designer da ajuda esteja presente
Este módulo contém informações de ajuda sobre o domínio durante as observações, para que ele tenha foco
e a aplicação, e, também, explicações sobre como especificamente nestas questões. Ele pode não somente
diferentes tipos de ajuda funcionam (geral e local). Além observar problemas no acesso às expressões de ajuda e na
disso, contém informações sobre elementos de interface (e compreensão de suas respostas, mas também notar

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dificuldades dos usuários que ainda não tenham sido utilizando palavras relacionadas ao mesmo e, também,
antecipadas (e portanto não tenham ajuda associada), ou ordená-los a fim de facilitar sua busca.
aquelas respostas que não auxiliam o usuário em seu Nem todas as seções do quadro estão disponíveis para toda
problema corrente. a sociedade. Determinadas seções são de interesse apenas
Refinamento e/ou Redesign do Conteúdo da Ajuda da comunidade (como as que apresentam avisos relativos à
A partir dos resultados de teste, a interface pode ser parte administrativa, por exemplo), sendo apresentadas em
refinada ou re-projetada. Isto pode causar a necessidade de uma área privativa, visualizada somente pelos membros da
re-projetar o conteúdo da ajuda. Além disto, testes podem organização que se cadastraram e que por isto têm
indicar a necessidade de mudanças tanto no conteúdo da permissão de acesso. Nesta área, além do acesso às seções
ajuda quanto nas conexões de interface. Depois destes privativas, os membros da comunidade podem gerenciar
ajustes, a aplicação deve passar por sessões de testes seus avisos (incluir novos, e alterar ou excluir os
adicionais com usuários, e esta iteração continuará até que existentes).
maiores problemas não sejam encontrados. Como ilustração dos passos seguidos no método, será
ESTUDO DE CASO: PROJETO ORÉ utilizado o seguinte cenário, ilustrado na Figura 4:
Para fins de ilustração descreveremos porções do sistema Joana, uma nova voluntária, foi informada de que
de ajuda de uma aplicação, o qual foi projetado e agora existe um quadro de avisos virtual onde todos os
desenvolvido seguindo o método proposto. A aplicação membros da organização podem colocar avisos
deste estudo de caso destina-se a apoiar o trabalho relativos a seus grupos. Para ela, usar um quadro deste
voluntário em uma organização não governamental [12]. O tipo é fácil pois ela usa muito a Internet como fonte de
módulo desta aplicação que será utilizado como exemplo é pesquisa para seus trabalhos de faculdade e como meio
o Quadro de Avisos (Figura 3). de contato com seus amigos que moram fora do estado.
Disseram a ela que além de ser muito fácil usar o
quadro, se ela tivesse alguma dúvida era só clicar no
ponto de interrogação azul, através do qual ela obteria
ajuda imediatamente. Ela decide verificar o quadro
para ver como ele funciona… Logo na entrada ela vê
algumas mensagens sob o título “Destaques”. “Uhm,
existe um pequeno ponto de interrogação aqui”, nota
Joana. Ela decide ver a explicação e aprende que
aquele título (“Destaques”) indica qual é a seção
corrente. Como a palavra “seção” estava destacada,
ela decide clicar nela para ver o que acontece. “Legal,
aqui explica que as seções são utilizadas para
podermos separar os avisos que são relacionados!”.
Assim ela vai diretamente a seção eventos para
verificar quais serão os próximos eventos da
Figura 3: Página principal do módulo Quadro de Avisos. organização...
Como o próprio nome indica este módulo é utilizado como
quadro de avisos virtual da comunidade de membros desta
organização não-governamental. Através do quadro, a
comunidade apresenta à sociedade em geral, via Internet,
avisos relacionados ao seu trabalho e à organização como
um todo, os quais podem ser lidos por qualquer
interessado.
Estes avisos podem ser classificados em diferentes seções,
de acordo com diferentes tópicos ou divisões da
organização. Avisos relacionados à parte administrativa da
organização, por exemplo, encontram-se na seção
“Administração”; avisos relacionados a pedidos e
possibilidades de doações, na seção “Como ajudar”; avisos
relacionados a festas e eventos públicos ocorridos (ou a
ocorrer), na seção Eventos; e, assim, sucessivamente. A Figura 4: Acessos à ajuda e respostas relacionadas.
pessoa que utilizar o quadro pode navegar pelas diferentes
seções em busca dos avisos de seu interesse, buscá-los

172
A seguir será descrita, passo a passo, a utilização do TAREFA Fornecer os dados necessários{
método proposto na construção do sistema de ajuda online TAREFA-MÃE(Criar um aviso)
da aplicação em questão. OPERADOR seqüência
SEQÜÊNCIA 1
Modelos de Design de IHC e as Informações de Ajuda SIGNO DE DOMÍNIO(autor título data seção
Na aplicação usada como ilustração de utilização deste chamada aviso prazo)
método, o primeiro passo realizado foi a análise de domínio SIGNO DE APLICAÇÃO(quadro_geral login)
e de usuário, através de entrevistas abertas com membros }
TAREFA Incluir o aviso{
representativos da organização [1]. Depois de a análise ter
TAREFA-MÃE(Criar um aviso)
sido concluída, foram construídos os cenários, os modelos OPERADOR seqüência
de tarefa e de interação e os storyboards, segundo a SEQÜÊNCIA 2
abordagem proposta em [3]. E, em paralelo a isto, o }
designer da ajuda instanciou as informações coletadas a ...
partir destas análises e modelagem nos modelos descritos Geração do Conteúdo da Ajuda
na seção que descreve o método. O rascunho das respostas de ajuda foi gerado
O designer da ajuda foi um membro ativo durante todo o automaticamente a partir das informações contidas na base
processo de design. Sua presença foi essencial para de dados derivada dos modelos de design. A partir desta
assegurar a captura das informações específicas de ajuda geração, o designer da ajuda selecionou quais respostas
necessárias e armazenar estas informações na base de deveriam realmente ser incluídas na aplicação.
dados correspondente que, no final do processo, continha Considere-se o indicador da seção corrente, “Destaques”.
todas as informações necessárias para a geração do Este indicador é um signo de domínio, e as expressões
rascunho do conteúdo da ajuda. Desta forma, o processo de relacionadas a signos (tanto de domínio quanto de
design da ajuda foi mais eficiente e deu melhores aplicação) são: “O que é isto?”, “Para que serve isto?” e
resultados, dado que a informação não refletia somente o “Onde está?”. Tomando como exemplo a expressão “O que
produto do design, mas incluía também a lógica de design é isto?” e usando o template mencionado anteriormente, o
por trás de decisões relevantes. Se estas informações não elemento descrição é buscado do componente de signos de
tivessem sido capturadas durante o processo de design, domínio, do modelo de domínio, resultando no seguinte
muitas delas poderiam ter sido perdidas ou esquecidas. rascunho de resposta:
Como ilustração deste passo, considere uma parte do Este é o indicador de qual é a seção atual (seção
modelo de domínio, relacionado a um signo de domínio: Quadro geral, ou seção Como ajudar, por exemplo).
SIGNO DE DOMÍNIO Seção{ Outro exemplo, este relacionado ao modelo de tarefas, seria
DESCRIÇÃO(Uma seção é o lugar onde os a resposta para a expressão “Como faço isto?”, relacionada
avisos são agrupados de acordo à tarefa “Criar um aviso”. Utilizando o template indicado, e
com seu assunto.) buscando as tarefas que têm “Criar um aviso” como tarefa-
UTILIDADE(Para classificar os avisos que têm
mãe, o rascunho resultante seria:
características comuns, facilitando
sua localização. Por exemplo, avisos Para criar um aviso, você deve fornecer os dados
sobre eventos encontram-se na necessários e incluir o aviso.
seção Eventos, sobre voluntários, na
Refinamento do Conteúdo e Especificação das
seção Voluntários, e assim
Recorrências
sucessivamente.)
} Tendo sido gerado o rascunho das respostas para todas as
… combinações expressão–elemento, o primeiro passo de
uma parte do modelo de aplicação, relacionado a um signo refinamento foi selecionar quais destas combinações
de aplicação: seriam, de fato, incluídas no sistema.
SIGNO DE APLICAÇÃO Indicador da Seção Atual{ No exemplo apresentado na Figura 4, a expressão “Para
DESCRIÇÃO(Este é o indicador de qual é a que serve isto?” está também relacionada a um signo de
seção atual (seção Quadro Geral ou domínio (no caso, “Indicador de seção atual”). Entretanto,
seção Como ajudar, por exemplo). foi decisão do designer não incluir esta expressão, porque,
Uma seção pode ser pública o neste caso particular, sua resposta seria redundante com a
privativa da comunidade.)
resposta dada à expressão “O que é isto?”.
UTILIDADE(Para indicar qual a seção que está
sendo apresentada no momento.) O rascunho do texto das respostas selecionadas foi então
} refinado e analisado mais uma vez, com o propósito de
... encontrar pontos de recorrência possíveis.
e uma porção do modelo de tarefas: No exemplo trabalhado, na resposta à expressão “O que é
isto?”:

173
Este é o indicador de qual é a seção atual (seção • informações sobre problemas de conexão de rede
Quadro geral, ou seção Como ajudar, por exemplo). que podem ocorrer durante a interação.
o designer verificou referência a outro signo de domínio, Conexão aos Elementos de Interface
no caso, “seção”. Ele selecionou esta palavra como um Para esta aplicação, o designer gráfico criou um símbolo a
ponto de recorrência na resposta, e associou as expressões ser disposto junto aos elementos de interface onde deseja-
“O que é isto?” e “Para que serve isto?” a ele. se disponibilizar acesso à ajuda local, para funcionar como
O template para a expressão “O que é isto?” de um signo um link para este acesso. O símbolo escolhido foi um ponto
de domínio é o seguinte: de interrogação com uma borda quadrangular (destacado na
descrição(Signo) Figura 6).
e o template para a expressão “Para que serve isto?” é:
utilidade(Signo)
Então, a resposta à expressão “O que é isto?” é:
Uma seção é o lugar onde os avisos são agrupados de Figure 6: Link de acesso à ajuda local.
acordo com seu assunto.
Tendo sido definidos os elementos que têm ajudas locais
E a resposta para a expressão “Para que serve isto?”: associadas, seus links foram implementados na interface.
Para classificar os avisos que têm características
comuns, facilitando sua localização. Por exemplo,
As requisições de ajuda locais que podem estar disponíveis
avisos sobre eventos encontram-se na seção Eventos, neste formato são aquelas relacionadas a signos e/ou
sobre voluntários, na seção Voluntários, e assim tarefas. Os demais elementos são referenciados através dos
sucessivamente. pontos de recorrência encontrados dentro das respostas
Estas respostas já faziam parte do rascunho inicial de fornecidas.
respostas gerado, e foram, então, refinadas e analisadas Testes Preliminares
para inclusão de possíveis pontos de recorrência. Foi feita a verificação de todos os acessos à ajuda da
Construção do Módulo de Ajuda Geral
aplicação – tanto através da interface quanto de
O módulo de ajuda geral da aplicação usada como estudo recorrências – pelo designer da ajuda e outros membros da
de caso aparece em uma nova janela (Figura 5). Assim o equipe, a fim de detectar erros possíveis. Alguns poucos
usuário pode ver ambas as janelas – aplicação e sistema de problemas foram detectados, como falta de chamadas de
ajuda – simultaneamente. ajuda locais ou inconsistências nos pontos de recorrência,
os quais foram rapidamente corrigidos e testados
novamente.
Análises mais aprofundadas foram também efetuadas, a fim
de verificar se os textos da ajuda estavam ambíguos,
levando o usuário a interpretações equivocadas.
Análise de Uso durante Avaliação de Comunicabilidade
Quando o primeiro protótipo da aplicação ficou pronto para
teste, algumas sessões de avaliação de comunicabilidade
foram efetuadas com seis usuários reais, selecionados
especificamente por representarem o perfil geral da maioria
da população-alvo de usuários, como havia sido indicado
pela análise das entrevistas. Dois deles tinham muito pouco
conhecimento computacional, três deles eventualmente
usavam computadores para propósitos pessoais e um tinha
Figura 5: Módulo de ajuda geral. bastante experiência.
Cinco seções foram projetadas para este módulo: Do ponto de vista do designer este passo tornou possível
determinar problemas na ajuda, os quais podem ser
• informações sobre os tipos de ajuda disponíveis; agrupados em três classes: conteúdo da ajuda, o declinar da
• informações sobre o domínio no qual a aplicação ajuda e cultura de uso da ajuda.
está inserida; Conteúdo da Ajuda
• detalhes sobre a aplicação em si; Durante os testes, o designer da ajuda observou que os
• uma versão completa das expressões e pontos de usuários tinham problemas em situações não previstas por
recorrência para ajuda local, apresentados ele, o que significava que a ajuda correspondente era
seqüencialmente e com links de hipertexto; inadequada ou não tinha sido implementada. Não existiam,

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por exemplo, explicações sobre as diferenças entre seções testes teria sido facilmente eliminada se eles tivessem
públicas e privadas do Quadro de Avisos, ou sobre os consultado a ajuda local correspondente.
critérios disponíveis para busca.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
O Declinar da Ajuda Neste artigo, mostramos porque, para a Engenharia
Uma observação interessante durante os testes foi que um Semiótica, o sistema de ajuda online é uma parte essencial
usuário, depois de muitas tentativas infrutíferas em usar os da aplicação. É através da ajuda que o designer pode falar
mecanismos de busca da aplicação, fez uso da ajuda local. diretamente aos usuários da aplicação, mostrando as razões
Ele leu a explicação e espontaneamente disse que entendeu por trás de seu design e como os usuários podem fazer um
o que deveria ser feito. Porém, mesmo assim, decidiu fazer uso melhor desta.
algo diferente do que está detalhado na ajuda, o que acabou Os usuários podem, por sua vez, expressar suas dúvidas
impedindo-o de conseguir executar a tarefa definida no mais diretamente usando uma das expressões de acesso à
cenário de teste. ajuda local, durante a interação. A resposta será um
Cultura de Uso da Ajuda fragmento do ponto de vista e lógica de design do designer,
O designer da ajuda também notou que, independente do enquanto este estava projetando a aplicação. Além disto, os
grau de conhecimento que os usuários tivessem sobre o usuários podem aprofundar suas questões através dos
domínio da aplicação ou sobre o uso de computadores em pontos de recorrência disponíveis em cada resposta de
geral, a maioria deles não acessou a ajuda. Não existe uma ajuda, em uma infinita cadeia de associações, guiada por
cultura de buscar por ajuda online quando acontece algum suas necessidades. Este processo é associado a alguns dos
problema. Poucos foram aqueles que buscaram por ajuda e, conceitos fundamentais na teoria semiótica, os conceitos de
quando o fizeram, parecia que tinham feito isso de forma semiose (uma cadeia indefinidamente longa de associação
arbitrária, porque logo fechavam a janela de ajuda sem que de signos disparada por um signo inicial) e de abdução (um
tivesse havido tempo suficiente para ler as informações tipo especial de inferência, que mistura elementos do
apresentadas. Ou, como no caso anterior, liam a raciocínio indutivo e do dedutivo).
informação mas não procediam como indicado. Um único O método apresentado neste artigo facilita o design do
usuário leu o texto da ajuda e seguiu a explicação sugerida. sistema de ajuda online sob esta perspectiva. E o custo de
sua construção é reduzido seguindo-se um design de
Refinamento e/ou Redesign do Conteúdo da Ajuda
interfaces baseado em modelos. Isto permite, por um lado,
A partir das observações feitas durante os testes, as
que mesmo as versões beta de aplicações em
respostas de ajuda necessárias foram refinadas, o que
desenvolvimento já tragam um componente de ajuda online
resultou, também, no refinamento dos modelos de design
para apoiar os usuários iniciais que tipicamente determinam
envolvidos. Por exemplo, a resposta de ajuda para o signo
a adoção da tecnologia. Por outro, legitima a ajuda online
de domínio “seção” foi ajustada, e uma nova resposta de
como parte integrante de uma aplicação e não como um
ajuda foi criada para responder aos problemas descritos em
último e derradeiro apêndice, adicionado às pressas
Conteúdo da Ajuda, sobre seções públicas e privadas
somente à versão que ‘vai para as prateleiras’.
(figura 7).
Para a Engenharia Semiótica em particular, o design
baseado em modelos é muito importante porque possibilita
manter a consistência entre os produtos de design
construídos a cada fase. Isto permite ao designer criar e
enviar uma mensagem coesa aos usuários, a fim de
aumentar as chances destes de entender sua mensagem.
Além dos esforços técnicos e teóricos, devemos ter uma
atenção redobrada na introdução de mudanças na maneira
que os usuários percebem a ajuda. Como uma regra,
usuários acessam a ajuda somente como um último recurso
[6]. As razões para isto não devem ser enunciadas com
precipitação, pois podem estar ligadas a vários fatores
dentre os quais destacamos dois.
Em primeiro lugar, eles podem ter tido experiências
Figura 7: Respostas de ajuda revisadas e novas. frustrantes no passado, ou até nem entenderem qual a
utilidade de um sistema de ajuda. Esta experiência pode
Atualmente, o designer de ajuda está analisando
reforçar uma atitude negativa a priori em relação a todo e
alternativas para criar uma cultura de acesso (bem como
qualquer sistema de ajuda. Contribuem para este
leitura e consideração) à ajuda na organização em questão.
diagnóstico as abundantes evidências da qualidade muito
A maioria das dúvidas que os usuários tiveram durante os

175
ruim dos sistemas de ajuda oferecidos pela maioria das
aplicações de software contemporâneas.
Mas, em segundo lugar, isto pode estar associado a causas
mais profundas, muito bem retratadas por Robert Pirsig em
seu famoso romance publicado nos anos 70 – Zen e a arte
de manutenção de motocicletas [14]. Uma colagem do
texto do capítulo inicial do livro, em que o narrador faz
observações sobre o comportamento do amigo que realiza
com ele um passeio de motocicleta pelo interior dos
Estados Unidos, nos ajuda a chegar ao ponto desta
discussão.
Parece-me natural e normal fazer uso dos
pequenos estojos de ferramentas e manuais de
instrução que vêm com a máquina [...]. John,
porém, não concorda. Prefere entregar a moto
a um mecânico competente [...]. [...] uma vez,
[...] num dia de calor infernal, [...] vejo o John
acionando repetidamente o pedal do kick. O
fedor de gasolina é tão forte que dir-se-ia
estarmos ao lado de uma refinaria. Eu digo isto
a ele, achando que é suficiente para informá-lo
de que o motor está afogado.
[...]
- A máquina não tem razão nenhuma para
não pegar. É novinha em folha, eu sigo as
instruções ao pé da letra. Veja, está com o
afogador aberto, como eles recomendam.
- Afogador aberto?
- É o que recomendam as instruções.
- Isto a gente faz quando o motor está frio!
- Mas estivemos no bar uma meia hora pelo
menos – justifica ele.
[...]
- John, hoje está quente. O motor leva mais
tempo para esfriar mesmo num dia gelado.
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