Você está na página 1de 45

FACULDADE EVANGÉLICA DE BRASÍLIA

SIDNEY MATOS DA SILVA

A EDUCAÇÃO CRISTÃ EVANGÉLICA E A PÓS-MODERNIDADE

BRASÍLIA – DF
2011
SIDNEY MATOS DA SILVA

A EDUCAÇÃO CRISTÃ EVANGÉLICA E A PÓS-MODERNIDADE

Monografia apresentada ao curso de


Integralização de Teologia da Faculdade
Evangélica de Brasília como requisito para
graduação em bacharel em Teologia.

BRASÍLIA – DF
2011
SIDNEY MATOS DA SILVA

A EDUCAÇÃO CRISTÃ EVANGÉLICA E A PÓS-MODERNIDADE

Monografia aprovada em de de 2011

Banca Examinadora

___________________________________

___________________________________

BRASÍLIA - DF
2011
RESUMO

A evolução da época moderna para a pós-moderna trouxe no seu bojo a


relativização de valores e conceitos antes considerados absolutos. Os critérios de
validação da verdade foram mudados deixando de ser objetivos para se tornarem
subjetivos e relativos. Estas transformações trouxeram mudanças nos valores
adotados pela sociedade. Esta pesquisa procurou verificar se a educação cristã
evangélica tem sucesso em manter os valores tradicionais da sua comunidade cristã
ou se estes mudaram acompanhando a relativização dos valores pós-modernos.
Para tanto foram consultados 154 pesquisados para obter suas opiniões sobre
vários itens éticos relacionados a valores morais e sociais. Deste universo, foram
retirados 66 que formaram o grupo cristãos evangélicos e comparados com os
demais considerados como grupo de controle. O resultado da análise dos dados
obtidos mostrou que existem valores caros ao cristianismo evangélico que se
mantêm apesar de toda pressão pós-modernista. Na apresentação deste trabalho, é
dada no capítulo 1 uma visão geral da evolução do pós-modernismo partindo da
época moderna. Em seguida apresentam-se os desafios e especificidades da
educação cristã no capítulo 2. No capítulo 3 é feito o detalhamento do processo
operacional da pesquisa para então apresentar os comparativos entre os valores do
grupo estudado e o de controle no capítulo 4.

Palavras chave: Educação, Valores, Pós-modernidade


LISTA DE GRÁFICOS

Gráfico 1 – Comparativo de médias evangélicos x grupo de controle 31


Gráfico 2 – Comparativo de médias católicos x grupo de controle 32
Gráfico 3 – Comparativo católicos x evangélicos 33
Gráfico 4 - Variância das opiniões do grupo evangélico 34
Gráfico 5 - Distribuição de média e variância para item 5 35
Gráfico 6 - Comparação espíritas x evangélicos 36
Gráfico 7 – Diferenças de médias evangélicos x controle 38

LISTA DE FIGURAS

Figura 1 - Formulário de pesquisa (sítio www.ncconline.info) 23


Figura 2 – Planilha EXCEL com os dados da pesquisa plotados 24
Figura 3 - Planilha EXCEL com as médias por religião por quesito 26
Figura 4 – Planilha EXCEL com os totais das médias por grupo 26
Figura 5 – Planilha EXCEL - variâncias grupo cristão evangélico 28
SUMÁRIO

INTRODUÇÃO 06
CAPÍTULO 1 – PÓS-MODERNISMO: DESENVOLVIMENTO 09
CAPÍTULO 2 – EDUCAÇÃO CRISTÃ: ESPECIFICIDADES E DESAFIOS 18
CAPÍTULO 3 – DETALHAMENTO DA PESQUISA 22
CAPÍTULO 4 – COMPARATIVO AMBIENTES SECULAR / RELIGIOSO 31
CONCLUSÃO 37
REFERÊNCIAS 40
ANEXOS 41
6

INTRODUÇÃO

Este trabalho tem como tema a “Educação Cristã Evangélica e a Pós-


Modernidade”, e trata da influência do papel da educação cristã evangélica na
criação e/ou manutenção de valores naqueles abrangidos por ela.
A Pós-Modernidade tem sido caracterizada por relativização de conceitos
e valores acompanhada de um grande individualismo. O cristianismo, por outro lado,
traz no seu bojo, seus valores próprios considerando o que ensina as Escrituras
cristãs. Este trabalho procura entender a relação da educação cristã e sua influência
relativamente ao individualismo e a relativização trazida pela cultura pós-moderna.
Diante disso, temos o problema sobre o qual focamos este trabalho, que
é: A educação cristã evangélica tem conseguido manter seus valores próprios em
meio à pós-modernidade? Para aqueles sob o ensino cristão evangélico o
cristianismo tem conseguido influenciar na manutenção de valores inseridos em
suas doutrinas ou estas tem sido permeáveis aos valores pós-modernistas?
Para entender a importância de estudar este tema específico, deve levar
em consideração dois aspectos sobre a educação cristã: seu aspecto prático e seu
aspecto pedagógico.
No aspecto prático a educação cristã moldou todo o mundo ocidental,
seus valores de altruísmo, amor ao próximo, disciplina, a busca pelo outro carente,
sempre serviram de alívio para as mazelas trazidas pela sociedade, para os pobres
e moribundos e o estudo deste tema mostra preocupação se o mundo pós-moderno
muda esta orientação aberta ao próximo para outra que o encerra em si mesmo.
No seu aspecto pedagógico este estudo procura conhecer se o ensino
cristão tem sido eficaz em manter os valores cristãos no mundo ocidental apesar da
onda pós-modernista. Contribui para as comunidades cristãs poderem fazer ajustes
de rumo em suas pedagogias para que possam melhor capacitar seus fiéis a
viverem no mundo pós-moderno.
O objetivo geral deste trabalho é, portanto, analisar a influência da
educação cristã evangélica sobre os valores dos fiéis do grupo cristão evangélico na
época pós-moderna.
Desta forma, este trabalho está envolvido em três objetivos específicos
que são:
7

a) verificar se a educação cristã tem conseguido manter os valores


tradicionais no dia-a-dia de seus fiéis ou se estes têm sido flexibilizados
conforme o pensamento da sociedade pós-moderna secular;
b) verificar os valores discordantes e coincidentes entre a comunidade cristã
evangélica e a comunidade secular pós-moderna;
c) em caso de discordância, em que intensidade isso se dá.
Importante destacar que quando citamos “comunidade cristã evangélica”
referimo-nos às várias denominações cristãs protestantes, que tradicionalmente
seguem os preceitos bíblicos como base de seu comportamento ético.
Diferentemente, a comunidade secular não se norteia por esses ensinos
bíblicos possuindo no plano ético, agora na pós-modernidade, um referencial
individualista e relativista conforme veremos mais adiante neste trabalho.
Ressalte-se também que o trabalho visa a analisar a posição do grupo
cristão evangélico segregando-o e comparando os seus dados com os demais
grupos analisados.

Metodologia de Pesquisa
A pesquisa seguiu o planejamento apresentado no módulo de Projeto de
Pesquisa da grade de Integralização do curso de Teologia.
A metodologia foi baseada em pesquisa de opinião na qual o pesquisado
emitiu sua opinião em relação a quinze itens apontados referentes a temas que se
relacionam a valores morais e sociais.
Os formulários foram preenchidos por aqueles que se dispuseram a
cooperar com a pesquisa nas três frentes de coleta: pessoalmente nas instituições
de ensino, empresas e órgãos públicos e indiretamente na internete.
Os temas escolhidos foram aqueles que estão presentes na mídia e
apresentam um caráter polêmico mas que no contexto da comunidade cristã
evangélica já possuem um direcionamento ético definido através do que ensinam as
Escrituras Sagradas do cristianismo – A Bíblia.
Os temas são de conhecimento geral e se encontram na mídia em
debate, alguns em apreciação no Congresso Nacional e nos jornais.
O pesquisador elaborou um formulário em linguagem HTML inserindo
nele os temas para cada um dos quais foi solicitada a opinião do pesquisando sendo
8

feito de forma a facilitar o entendimento e as repostas, sendo colocadas as opções


de opinião em uma listbox.

Coleta dos dados


Durante o período de pesquisa foram coletadas 154 contribuições de
pessoas de vários matizes com respeito à religião: evangélicos, católicos, espíritas,
ateus e não praticantes de nenhuma religião. Desta forma, pode-se separar o grupo
religioso cristão evangélico dos demais, os quais constituíram o grupo de controle
que foi utilizado para comparação.
Consideramos o grupo cristão evangélico segundo a definição de
Champlin (1997, p.605) quando afirma:
“[...] aquilo que pertence ao evangelho é evangélico. Desde a Reforma
Protestante a palavra tem sido adotada por certos grupos cristãos que
supõem que retornaram ao evangelho (ou Bíblia), em contraste com o
sistema tradicional que se desenvolveu na Igreja Católica Romana. Na
Alemanha, na Suíça e em alguns outros países a palavra passou a indicar o
corpo geral das igrejas protestantes”
Após o preenchimento do formulário e envio das informações, as mesmas
já numeradas em uma ordem sequencial, compuseram um banco de dados que foi
utilizado para análise.

Análise dos dados


Os dados foram colocados em planilha EXCEL e plotados em gráficos,
que apresentam os valores médios das opiniões encaminhadas e comparados entre
o grupo cristão e o grupo de controle, cujos resultados serão apresentados e
analisados adiante neste trabalho.
O grau de convergência das opiniões foi obtido mediante aplicação de
fórmula estatística de VARIÂNCIA aplicada aos valores numéricos de cada opinião.
Havendo convergência total das opiniões entre todos os participantes o valor da
variância é “zero”, distanciando-se positivamente conforme a divergência aumenta.
Foram retiradas da análise algumas opiniões que foram encaminhadas
em duplicatas e outras com ausência de informações relevantes para a pesquisa a
fim de não contaminar os resultados.
9

CAPÍTULO 1 – O PÓS-MODERNISMO: DESENVOLVIMENTO

Os teóricos do pós-modernismo têm dificuldades em estabelecer uma


data precisa de seu início estando de acordo que foi em algum momento por volta
da metade do século XX. É importante, porém, destacarmos as características da
época moderna para então compreendermos a pós-modernidade.
A época moderna iniciada no período do Iluminismo trouxe para a
humanidade, critérios rígidos de avaliação da realidade fundamentada
principalmente em princípios científicos. A Razão representava a régua sobre a qual
todas as coisas eram medidas e os métodos científicos aqueles que validavam e
encontravam a verdade sobre o mundo objetivo.
René Descartes foi um representante desta época, também considerado
pai do método científico juntamente com Galileo Galilei na Itália. Em seu “Discurso
do Método” enfatiza os procedimentos necessários para que uma realidade possa
ser apreendida de forma correta, utilizando-se de procedimentos racionais.
Neste contexto, havia uma realidade objetiva a ser conhecida, uma
verdade a ser procurada, critérios fidedignos a serem seguidos. Esses critérios
poderiam se utilizar exclusivamente da razão, pelo traço epistemológico do
racionalismo de Descartes ou pelo empirismo de John Locke, conforme Sommerman
(2006, p.15): “Descartes é considerado o pai do racionalismo moderno, e Locke, o
fundador do empirismo moderno.”
Estes postulados avançaram para outras áreas da vida em sociedade,
onde se reconheciam valores e verdades universais, instituições representativas de
autoridade, valores morais de referência como aqueles estabelecidos pela Igreja
institucionalmente constituída.
A época moderna se impunha com seus critérios de forma avassaladora
causando mal estar contra a maneira livre do comportamento natural do homem
conforme Freud identifica em sua obra “O Mal-estar da Civilização”.
Quanto á esta imposição do mundo moderno sobre a maneira natural de
ação do homem Bauman (1998, p.8) escreve:
“A civilização se constrói sobre uma renúncia ao instinto. Especialmente –
assim Freud nos diz – a civilização (leia-se: a modernidade impõe grandes
sacrifícios à sexualidade e agressividade do homem. O anseio de liberdade,
portanto, é dirigido contra formas e exigências particulares da civilização ou
contra a civilização com um todo. E não pode ser de outra maneira. Os
prazeres da vida civilizada, e Freud insiste nisso, vêm num pacote fechado
com os sofrimentos, a satisfação com o mal-estar, a submissão com a
10

rebelião. A civilização – a ordem imposta a uma humanidade naturalmente


desordenada – é um compromisso, uma troca continuamente reclamada e
para sempre instigada a se renegociar. O princípio de prazer está aí
reduzido à medida do princípio de realidade e as normas compreendem
essa realidade que é a medida do realista. O homem civilizado trocou um
quinhão das suas possibilidades de felicidade por um quinhão de
segurança. Por mais justificadas e realistas que possam ser as nossas
tentativas de superar defeitos específicos das soluções de hoje, talvez
possamos também familiarizar-nos com a idéia de que há dificuldades
inerentes à natureza da civilização que não se submeterão a qualquer
tentativa de reforma.”

Apesar dos instintos naturais do homem em sua busca pela liberdade e


prazer, Freud indicava que os critérios modernos, fixos e universais trazidos pela
modernidade tolhiam o homem.
Por volta do início do século XX, alguns postulados inabaláveis da ciência
começaram a sofrer críticas, a começar pelas leis de Newton contestadas pela teoria
da relatividade de Einstein. Conforme Champlin (1997, p.310):
“[...] Aplicando as idéias e os métodos de Hume e de Mach, Einstein
demonstrou que a nossa metodologia precisa incluir a crítica que penetra
nas idéias e nos sistemas tradicionais, se quisermos avançar na teoria e no
conhecimento. A defesa constante de qualquer sistema ortodoxo faz
estagnar a pesquisa pela verdade. A rejeição absoluta, por parte de
Einstein, da natureza absoluta do tempo e do espaço, alerta-nos para o fato
de que existem muitos alegados absolutos no pensamento humano que, na
realidade, não são absolutos. A verdade deve ser a nossa única ortodoxia.”

As leis que estabeleciam as velocidades relativas e a constância do


tempo não mais poderiam ser aplicadas. A Relatividade levou a uma contagem de
tempo diferente dependendo do referencial a que se relacionava.
O segundo golpe importante, ainda dentro da física, surgiu com a
mecânica quântica de Niels Bohr, que era tão radicalmente diferente da tradicional
que foi contestada pelo próprio Einstein.
As leis de movimentos da física tradicional não se aplicavam para os
espaços inter e intra-atômicos. Não havia certeza onde o elétron se encontrava,
pois, o comportamento da partícula era diverso daquele tradicional considerado há
séculos. Surgiu o Princípio da Incerteza onde se reconheceu a impossibilidade de se
conhecer a posição exata de uma partícula.
Este aprofundamento da ciência física, em torno da qual gravitava toda a
validação da verdade, acabou por trazer dúvida sobre as certezas científicas, no
sentido de que os resultados das pesquisas mostravam a incapacidade dela de
afirmar com segurança a verdade sobre o mundo objetivo.
11

A descoberta de que o próprio observador interfere na observação do


experimento causando dúvidas sobre a própria natureza do objeto foi uma
confirmação experimental de que não podemos ter certeza exata do mundo objetivo.
Sobre a quebra de paradigma na defesa de uma abordagem
transdisciplinar na Educação podemos citar:
Além disso, a descoberta de que, no nível das escalas muito pequenas
(subatômicas), as leis da física são diferentes daquelas do nível das escalas
macroscópicas invalidou todas as epistemologias reducionistas
(mecanicismo, positivismo, fisicalismo) e seus dogmas “da existência de um
único nível de Realidade” (ibid.p.28), hegemônico nas elites intelectuais dos
séculos XIX e XX, pois foi comprovada a existência de pelo menos dois
níveis de realidade (SOMMERMAN, 2006, p.56)

Esta quebra de paradigma, não só ficou no campo das ciências exatas,


mas, também alcançou a novel “ciências humanas” cujas teorias nas áreas sociais
foram originadas dos mesmos métodos científicos.
Nestas áreas sociais, os teóricos ligados ao grupo de Frankfurt deram
origem à Teoria Crítica, que analisando o desenvolvimento histórico do comunismo
na URSS, contestava as predições estabelecidas por Marx e Engels no século XIX
que se dizia de cunho científico-filosófico.
Aplicando-se a filosofia de Hegel da tese, antítese, síntese, e também do
materialismo dialético, supunha-se pelas “evidências” da história que a classe
operária tomaria o poder (antítese) contra o capitalismo (tese) chegando a um
estado de síntese que seria o fim da história.
A evolução do totalitarismo estatal para o comunismo proletário era
considerada como um movimento necessário já predito pelas leis da filosofia
materialista histórica e decifradas por Karl Marx.
Nada disso se viu confirmado, o que abalou as estruturas em uma fé
rígida na razão e nos postulados científico-filosóficos, tão caros ao mundo moderno.
Conforme Ernest Gellner (1992, pp. 52,53):
“[...] esta tendência foi objeto de maiores desenvolvimentos por um
movimento influente que já não se encontrava ligado ao comunismo
internacional, estando por isso a salvo de qualquer obrigação de defender o
historial da práxis marxista: o movimento filosófico conhecido por Escola de
Frankfurt e sua Teoria Crítica. Este fato em si mesmo era, de certo modo,
característico da libertação da intelligentsia esquerdista internacional em
relação à autoridade e disciplina do Partido Comunista. A atitude destes
antigos marxistas – convencionais, por assim dizer – representava, porém,
uma premonição do que viria a suceder, ao acentuarem que a obediência a
normas de conduta científica meramente formais não era suficiente, não
passando, de fato, de um subterfúgio: a verdadeira objetividade requeira,
acima de tudo, uma posição social e política firme. A passagem à visão de
12

que esta posição firma era suficiente em si mesma e, finalmente, à


perspectiva de que não existiam quaisquer posições objetivas firmes foi
relativamente fácil. A verdadeira ilusão consistiu em acreditar na
possibilidade de uma verdade objetiva, única. O pensamento vive dos
significados e estes estão enraizados na cultura... O que distinguia a Escola
de Frankfurt era a sua tendência para desmerecer o culto do fato objetivo
enquanto tal e não apenas o mau uso que alegadamente se fazia dele.”

As predições do fim da história, do fim da religião, a ascensão de um


homem superdotado de conhecimentos que o levariam a perfeição, nada disso se
cumpriu.
As grandes guerras mundiais e grandes conflitos locais mostraram que o
fim da história, se existisse, estava longe de ser concretizado, que os super-homens
dotados de conhecimento e consciência humanística estavam se destruindo em
intermináveis guerras.
As grandes teorias sociais de origem científicas estavam se mostrando
inconsistentes, e estas inconsistências fizeram com que se acordasse para a
realidade da insuficiência da razão e da filosofia na explicação e predição do mundo.
A Razão sofreu outro duro golpe com as conclusões de Freud de que
aquilo que determina as ações humanas não é o racional, mas um substrato
inconsciente e inconcebível que ele denominava de “Id” onde se encontrava os
impulsos irracionais.
Desde o Iluminismo, o espírito humanista entronizou a razão humana
como o único instrumento de validação das certezas e verdades determinantes do
comportamento humano, no entanto, o que foi mostrado pela pesquisa de Freud era
que, o que governava o comportamento humano era um substrato irracional e
inconsciente causando conflito com o paradigma racional.
Garcia-Roza (1998, p.20) explicita este conflito quando tenta apresentar
onde situar a psicanálise:
“[...] O próprio Freud apontou a psicanálise como a terceira grande ferida
narcísica sofrida pelo saber ocidental ao produzir um descentramento da
razão e da consciência (as outras duas feridas foram as produzidas por
Copérnico e por Darwin). Sem dúvida alguma, a psicanálise produziu uma
derrubada da razão e da consciência do lugar sagrado em que se
encontravam. Ao fazer da consciência um mero efeito de superfície do
Inconsciente, Freud operou uma inversão do cartesianismo que dificilmente
pode ser negada.”

O resultado deste conflito é o aparecimento de âmbito global, de uma


nova forma de ver o mundo, na verdade, outra cosmovisão, que admite que a
13

ciência e a razão não são suficientes para explicar todos os fenômenos da vida
humana e social.
A ciência e a razão dão interpretações da realidade, mas tem dificuldades
em descrevê-las corretamente, pois também pode haver outras razões igualmente
verdadeiras.
Há de se considerar outras variáveis nas explicações dos fatos do mundo
que não somente a razão e a ciência. Desta forma, a verdade única abre espaço
para outras verdades, mesmo irracionais, que fazem parte de nossa vida.
Nasce aí o relativismo destronando a verdade única. Os valores devem
ser respeitados, não só aqueles estabelecidos institucionalmente, mas, aqueles
outros individuais. O individualismo passa a tomar corpo e as características pós-
modernas começam aparecer gradualmente, abrindo espaço para a subjetividade,
individualismo, relativismo, contestação de verdades absolutas e instituições de
referência.
Conforme Bauman (1998, pp.53 e 54)
Quando o politicólogo americano Peter Drucker proclamou: “Não existe
mais salvação pela sociedade, essa foi uma declaração programática e
ideológica, mas foi também, ainda que não conscientemente, a decorrência
de um exame da situação, uma afirmação de neo-realismo.” Não existe
mais salvação pela sociedade” significa que não existem órgãos conjuntos
coletivos e visíveis encarregados da ordem societária global. A
responsabilidade pela situação humana foi privatizada e os instrumentos e
métodos de responsabilidade foram desregulamentados. Uma rede de
categorias abrangente e universal desintegrou-se. O auto-engrandecimento
está tomando o lugar do aperfeiçoamento socialmente patrocinado e a auto-
afirmação ocupa o lugar da responsabilidade coletiva pela exclusão de
classe. Agora são a sagacidade e a força muscular individual que deve ser
estirados no esforço diário pela sobrevivência e aperfeiçoamento.

Neste contexto, os valores e as verdades ensinadas pelas instituições


cristãs passam a ser contestados e considerados retrógrados e fora do contexto
atual.
Ernst Gellner (1992, p.41) reconhece que “O pós-modernismo parece ser
claramente favorável ao relativismo, no sentido em que é propenso à transparência
e avesso à idéia de uma verdade única, exclusiva, objetiva, externa ou
transcendente”.
A Bíblia antes considerada “infalível” e “inerrante”, da qual deriva os
valores cristãos ensinados nas instituições, através da teologia liberal de origem
14

alemã, passa a ser vista por outro ângulo, ou seja, um livro de exemplos, com
inspiração natural, contendo ela mesma contradições internas.
O aparecimento do “desconstrucionismo” vem colocar em dúvida o próprio
significado original do texto, apoiando a tese de que o significado quem dá é o leitor
de acordo com seu ambiente interno subjetivo deslocando a análise hermenêutica
do texto e de seu autor para o leitor. É o leitor quem dá significado ao texto dentro
de suas estruturas de significações e nisto agrega sua matriz de valores.
Como cita Ernst Gellner (1992, p.41) “[...] todos os significados devem ser
desconstruídos de forma que os seus opostos sejam expostos e as suas
contradições assinaladas, ou algo semelhante impeça, de fato, uma definição de
posições clara e concisa.”
Sobre a verdade fundada nos significados o mesmo autor cita (2004,
p.41, p56): “A verdade objetiva deve ser substituída pela verdade hermenêutica”.
“[...] pressente-se que o mundo não é a totalidade das coisas, mas, dos significados.
Tudo é significado e o significado é tudo e a hermenêutica o seu profeta.”
Não existem mais estruturas internas fixas que dêem significação objetiva
aos valores que devam ser seguidos, pois cada um dá sua significação própria
originando seus valores próprios.
A este respeito se refere Bauman (1998, p.32):
A imagem do mundo diariamente gerada pelas preocupações da vida atual
é destituída da genuína ou suposta solidez e continuidade que costumavam
ser a marca registrada das estruturas modernas. O sentimento dominante,
agora, é a sensação de um novo tipo de incerteza, não limitada à própria
sorte e aos dons de uma pessoa, mas igualmente a respeito da futura
configuração do mundo, a maneira correta de viver nele e os critérios pelos
quais julgar os acertos e os erros da maneira de viver.

Esta relativização atinge as grandes fontes de criação e transmissão de


valores, ou seja, as religiões.
Agora, pois, não existe uma religião correta que imponha seus valores
aos outros, pois cada religião tem um pouco da verdade, senão, a sua própria
verdade, condizente com sua estrutura de significados.
Todas as religiões estão corretas, e há benevolência com a diversidade,
valores, conceitos. Como o mesmo autor coloca “[...] não existem modelos, exceto
os de apoderar-se mais e mais, e não existem normas, exceto o imperativo de
“saber aproveitar bem as cartas de que se dispõe.”
15

Por esta razão Libâneo (2004, p.117) se refere à aderência dos jovens a
uma diversidade de religiões:
No concreto da vida, acontece com a geração jovem pós-moderna uma
privatização e individualização da religião a modo de kit religioso preparado
com as práticas religiosas oferecidas no gigantesco supermercado de
religiões da pós-modernidade. Presencia-se um pot-pourri religioso com
ingredientes cristãos, orientais, africanos, indígenas, esotéricos, evangélicos
etc.

Uma contestação dos valores modernos começa a aparecer, e encontra


na juventude, seu carro chefe, a partir das manifestações da década de 60. Como
cita Libâneo (2004, p.124):
“[...] desenvolve uma face crítica à modernidade avançada, denunciando-lhe
os desvarios tecnológicos, os efeitos nefastos da industrialização, os
monstros das bombas atômicas e napalm, a barbaridade da tecnologia de
guerra usada na Guerra do Golfo, a perversidade dos campos de
concentração e Gulags, enfim, aponta tantos outros frutos perversos da
modernidade. Anuncia a linguagem dos hippies: Paz e amor! [...]”

Na Europa, nos Estados Unidos e em toda a parte há uma revolução


cultural que afeta os valores antes estabelecidos, e conforme o mesmo autor:
Hair significou mais que um musical. Levantou uma série de problemas
tabus que tocavam a moralidade, a sexualidade, o individualismo, o
racismo, a violência, o uso de droga e sua aceitação social. Problemas que
continuarão nas décadas seguintes. J.Cl. Guillebaud não teme dizer que
“ninguém compreendeu que, em 1964, uma ruptura cultural decisiva
acabava de se dar em todos os países industrializados”.

É neste ponto que se circunscreve a pesquisa ora apresentada. É sabido


que o cristianismo sempre estabeleceu regras fixas e bem delimitadas para o
comportamento dos fiéis, seus valores, suas aspirações os quais são extraídos do
texto sagrado cristão – a Bíblia.
Há então claramente um embate entre os valores estabelecidos pelo
cristianismo e a relativização dos mesmos pelo pós-modernismo.
Há de se destacar que o pós-modernismo não é contra os valores
cristãos. O pós-modernismo o engloba, admite uma pluralidade de valores e os
relativiza. Admite a coexistência de valores contrastantes e opostos no entendimento
de que estes devem apresentar uma causa válida em algum lugar não apreensível
pela razão.
É a relativização desses valores e a falta de uma estrutura fixa que
demonstre o certo e o errado o fenômeno preocupante para o grupo cristão
evangélico em estudo.
16

A importância deste fenômeno pode-se medir por meio das referências


que se faz ao pós-modernismo e seus “perigos”, nos cultos, nas cerimônias, nas
reuniões, nos estudos e nos encontros cristãos.
Procuramos, pois, através desta pesquisa, verificar se a educação cristã
tem sido eficaz na transmissão de seus valores tradicionais ou se, por outro lado, a
relativização de valores na pós-modernidade vem se impondo mudando a matriz
ética cristã evangélica que poderá estar apoiada em uma releitura pós-moderna do
texto bíblico.
Há de se destacar que esta pesquisa, não obstante aplicação de método
científico, é feita dentro do ambiente pós-moderno e que segundo Acácio Pereira
(2005) as pesquisas não são voltadas para objetos, mas, para pessoas.
Dessa forma, a complexidade da pesquisa em educação, no mundo pós-
moderno, e cujo objeto são as pessoas, se traduz em que a ciência é interpretativa e
não determinante no entendimento da realidade. No entendimento do mencionado
autor:
Referir-se a essa característica da ciência – a de interpretar a realidade –
significa referir-se à concepção de ciência denominada de pós-moderna.
Noutras palavras, as características de descrição e de interpretação da
realidade passam a co-existir. E justamente porque prevalece na concepção
pós-moderna de ciência a idéia de superação de qualquer dicotomia.

O entendimento da característica “interpretativa” da realidade e não


somente “descritiva” mostra o quanto a própria pesquisa está, ela própria, sujeita a
relativização do pós-modernismo visto ser ela dotada de método científico.
Potiguara (2005, p.37) ressalta a importância de se admitir a interpretação
dos resultados a partir de outras áreas de interpretação da realidade:
Como afirmei anteriormente, a ciência é tida hoje como uma das possíveis
interpretações da realidade. Desse ponto de vista, o conhecimento científico
é construído pro sujeitos. Ao lado da ciência estão à filosofia, a arte, a
religião e o senso comum, que também interpretam a realidade, a partir, são
claro, de sues próprios interesses.

Desta forma, verifica-se a dificuldade de pesquisa na área de educação,


cujo objeto são pessoas, e que apresenta um sistema complexo e aberto e não um
sistema fechado como normalmente ocorre nas pesquisas na área de ciências da
natureza.
Sobre este assunto Maria Cândida de Moraes (2008, p.34) destaca:
“[...] um dos graves problemas da pesquisa, hoje, é que a maioria dos
pesquisadores continua trabalhando em sistemas complexos, como são os
17

educacionais, com ferramentas intelectuais e heurísticas de outros tempos,


sob interferência de uma mentalidade evolutiva linear e determinista”

Além do problema metodológico ela também destaca a interação


pesquisador – pesquisa como uma variável que não poderá ser desconsiderada:
Como produto de uma atividade científica, a objetividade não é isolável de
nossas crenças, emoções, desejos e afetos, já que não conseguimos excluir
o espírito humano, o sujeito individual, cultural e social dos processos de
construção do conhecimento.
18

CAPÍTULO 2 – EDUCAÇÃO EVANGÉLICA: ESPECIFICIDADES E


DESAFIOS

Uma das características básicas da educação cristã evangélica, é que


fora dos meios acadêmicos, ela repousa sobre trabalho de pessoas voluntárias que
extraem do texto bíblico a fundamentação para adoção de valores e formas de
comportamento.
Nas igrejas evangélicas além dos professores em caráter de voluntariado,
os pastores e demais membros com função ministerial transmitem os valores
tradicionais sob o fundamento escriturístico das Escrituras Sagradas cristãs – a
Bíblia.
Uma das grandes preocupações destes que trabalham na educação
cristã, quer participante do corpo ministerial quer não, é encontrar fundamentação
escriturística para adotar um corpo de valores tidos como “essenciais” para a vida
cristã em meio à onda relativista na pós-modernidade.
Esta onda relativista acaba por deteriorar os fundamentos básicos da fé
cristã evangélica levando esta a uma metamorfose que desfigura suas bases. Na
ótica de Machen (apud Couch, 2009, p.19):
Neste ponto um erro fatal nos espera. Este é um dos erros fundamentais do
liberalismo moderno. A experiência cristã, como acabamos de dizer, é útil
na confirmação da mensagem do evangelho. Mas pelo fato de isso ser
necessário, muitas pessoas têm ido direto à conclusão de que apenas a
experiência é necessária [...]. Não importa que tipo de homem a história
possa dizer que Jesus de Nazaré tenha sido; não importa qual é a história
de sua alegada ressurreição; será que tudo isso anulará a experiência da
presença de Cristo em nossa alma? O problema é que esse tipo de
experiência não é uma experiência cristã. Pode até ser chamada de
experiência religiosa, mas experiência cristã, com certeza não é.

Diante deste quadro, há o reconhecimento de que o jovem precisa ter


instrumentos eficientes para defender sua fé e seus valores tradicionalmente
transmitidos. Conforme cita Libâneo (2004, p.44):
Os jovens abandonados a eles mesmos dificilmente manterão a fé
tradicional, especialmente aqueles que entram na Universidade. Aí o
embate com a modernidade freqüentemente hostil à religião, termina o
processo de secularização até o secularismo sem religião [...]. Muitos
jovens, ao entrar especialmente na Universidade e defrontar com as críticas
ferrenhas da modernidade à religião, perdem toda a referência de fé por
falta de preparação [...] “amanhã será tarde demais”, ao querer apagar um
incêndio e em vez de dispor o jovem de extintores de fogo. Torna-se
crescente a privatização e subjetivização da fé que afetará fortemente esse
jovem tradicional.
19

De forma geral, devido a isto, o pós-modernismo tem sido visto na maior


parte das igrejas evangélicas como uma ameaça à vida cristã, pois relativiza
ensinamentos e valores tradicionalmente aceitos.
Estes valores são aqueles apresentados nas Escrituras cristãs conforme
ensinados pelos apóstolos e profetas, como por exemplo, não viver praticando o
sexo antes do casamento cujo sentido está incluído na palavra “porneia” no texto
grego do apóstolo Paulo na carta aos Efésios capitulo 5 e versículo 5 que diz “[...]
porque bem sabeis isto, que nenhum fornicário (pornos) ou impuro, ou avarento, o
qual é idólatra, tem herança no reino de Deus”.
Também o evitar a bebedeira e o embriagar-se são valores cristãos
exarados no capítulo cinco e versículo vinte e um carta aos Gálatas do apóstolo
Paulo que diz: “[...] invejas, homicídios, bebedices, glutonarias e coisas semelhantes
a estas acerca das quais vos declaro, como já antes vos disse, que os que cometem
tais coisas não herdarão o reino de Deus”
Outro ensinamento tradicional da cultura cristã evangélica é a aversão da
prática do homossexualismo, pelo que está escrito pelo apóstolo Paulo na carta aos
Romanos capitulo um e versículos vinte e seis e vinte e sete:
“[...] pelo que Deus os abandonou às paixões infames. Porque até as suas
mulheres mudaram o uso natural no contrário à natureza.
E, semelhantemente, também os varões, deixando o uso natural da mulher,
se inflamaram em sua sensualidade uns para com os outros, varão com
varão, cometendo torpeza e recebendo em si mesmos a recompensa que
convinha ao seu erro”

O individualismo, na pós-modernidade, é acentuado, trazendo rejeição de


valores como estes impostos por instituições, conforme Bauman (1998, p.26) “A pós-
modernidade, por outro lado, vive num estado de permanente pressão para se
despojar de toda interferência coletiva no destino individual [...]”
No mesmo diapasão Libâneo (2004, p.114) destaca o niilismo que trazem
o individualismo e relativismo:
Vige a convicção de que cada um tem a sua verdade. Ninguém se
incomoda com a verdade do outro, nem se deixa questionar por ela.
Estamos em pleno pensamento débil em oposição às verdades absolutas.
Alguns vêem nisso uma face positiva. Ao ruírem as verdades eternas, os
valores absolutos e as ideologias totalitárias, abriu-se um espaço para as
pessoas expressarem suas verdades, seus valores e suas ideologias e
assim decidirem sobre o próprio viver.
20

O niilismo da verdade prolonga-se no niilismo das éticas, dos valores. A


dificuldade de construir-se uma ética comum torna-se cada vez mais difícil
já que se abandona o seu fundamento último e absoluto, Deus.
[...] A sociedade passa por rápida transformação de valores. Alguns que se
percebiam antes como positivos, agora não mais o são. E isso se chama de
perda de valores. Talvez seja mais exato falar de substituição. Ninguém vive
sem valor. Consciente ou não, adota os seus que lhe regem a vida.

Para lutar contra esse niilismo que o individualismo e relativismo trazem


há a procura parte dos educadores cristãos, de um maior entendimento do pós-
modernismo, suas origens e conseqüências para a vida cristã, no sentido de
encontrar ferramentas para melhor defender os valores tradicionais e para ensinar o
viver cristão.
Para Libâneo (2004, p.100) com referência a uma nova forma de ensinar
os valores “[...] a questão básica é mostrar a relevância existencial da fé e das
experiências religiosas e não sua obrigatoriedade. Pela via da autoridade não se vai
longe.”
Ainda com respeito aos valores Kohl (2006, p.113) destaca que:
A nossa sociedade pós-moderna apresenta muitos desafios para o ser
humano neste novo século. As características de uma sociedade utilitarista
e acumuladora de bens têm levado indivíduos e famílias inteiras a fazer
novas opções de valores, prioridades e estilo de vida. Não só isso, mas uma
série de conseqüências que atingem diretamente a vida humana.

Em seguida ele destaca alguns resultados trazidos pelo estilo pós-


moderno de viver como, a solidão, competição, descartabilidade, padrões errados de
comportamento, traumas interiores, medos, ansiedades e desintegração familiar.
No contra-ataque dessa disseminação de valores pós-modernos há um
aumento na procura de capacitação teológica, visto que, para os evangélicos, os
valores cristãos são extraídos do texto bíblico e uma melhor compreensão do
mesmo melhora a fundamentação.
Esta procura pela capacitação teológica para lutar contra a onda pós-
modernista, muitas vezes se vê frustrada quando, no mundo acadêmico, o educador
se depara com uma teologia liberal que já desde o século XIX, subverte os
ensinamentos mais caros ao cristianismo ortodoxo.
Conforme destaca Couch (2009, p.20) com referência ao aparecimento da
teologia liberal:
Nos Estados Unidos, o liberalismo, transformou-se em um movimento
humanístico, revelando-se dessa maneira na apresentação do “evangelho
social”. Sua ênfase estava fundamentada basicamente no ativismo social
21

defendido por Walter Rauschenbusch (1861-1918) e sobre as teorias da


educação religiosa sustentadas por Horace Buschnell (1802 – 1876).
Seguindo as idéias básicas de Schleiermacher, estes e outros homens
colocaram a “alimentação” cristã acima da evangelização contestadora e
promoveram uma experiência do cristianismo que não era dependente de
nenhuma comprovação bíblica. De acordo, com essa avaliação do
liberalismo e seus primeiros passos, a neo-ortodoxia, Charles Ryrie
comenta: “... fosse a Bíblia verdadeira, ela era inspirada, mas o trabalho da
crítica liberal era determinar quais pontos da Bíblia eram verdadeiros”. Esta
atitude terminou finalmente minando os últimos vestígios das bases cristãs
no liberalismo.

Ainda sobre a dificuldade que os educadores cristãos evangélicos têm de


lidar com a teologia liberal nos dias de hoje nos meios acadêmicos, diz Machen
(apud Couch, 2009, p.19):
Em seu admirável trabalho, Machen argumenta que as conclusões
acadêmicas do liberalismo eram completamente incompatíveis com a fé
cristã, já que as propostas dos liberais, escreveu ele, eram nada menos que
a substituição do cristianismo por uma nova religião – propostas estas que
negavam a inspiração sobrenatural da Bíblia, os milagres e a deidade, a
expiação e a ressurreição de Jesus Cristo. Isto nada tem a ver com que as
igrejas católicas ou protestantes sempre acreditaram e defenderam. Os
liberais afirmam não crer que a Bíblia tenha vindo de Deus. Proclamam um
Cristo, de quem duvidam que tenha vivido, morreu pelos pecados da
humanidade e até mesmo que tenha ressurreto!

Não é propósito deste trabalho, dissecar estas dificuldades e analisar


detalhadamente como os cristãos evangélicos estão lidando com este problema,
mas sim, se a educação cristã resulta na manutenção dos valores tradicionais por
parte dos fiéis, ou se estes estão relativizando valores considerados fundamentais
para a doutrina ortodoxa cristã evangélica.
Para tal, a pesquisa primeiramente considerou as pessoas que formaram
o grupo cristão evangélico em comparação com os demais que formaram um grupo
de controle. As pessoas tipificadas como evangélicas foram aquelas que se
declararam como tais no formulário preenchido e que totalizaram 66 pessoas do
total de 154 pessoas consultadas. As demais 86 estão consideradas no grupo de
controle. Duas foram retiradas do universo de dados por razões explicitadas no
Capítulo 3.
22

CAPÍTULO 3 – DETALHAMENTO OPERACIONAL DA PESQUISA

A pesquisa deu-se por coleta de informações de pessoas que se


dispuseram a colaborar apontando suas opiniões para 15 itens envolvendo questões
éticas.
Várias destas questões, selecionadas para a pesquisa, estão apontadas
na mídia e trabalham questões morais polêmicas, embora o grupo cristão
evangélico, grupo que se quer estudar, já possua um posicionamento doutrinário
para as mesmas.
A princípio a busca por voluntários deu-se nas instituições de ensino,
empresas privadas e órgãos públicos. Posteriormente decidiu-se pela utilização da
internete onde foi colocado o formulário de pesquisa. A colocação do formulário de
pesquisa na internete facilitava o anonimato do pesquisando tornando a pesquisa
menos invasiva.
Para a colocação do formulário na internete foi utilizado um domínio
registrado pelo pesquisador para outra finalidade, porém, sem utilização naquele
momento, cujo endereço é www.ncconline.info. O registro deste domínio deverá ser
mantido ativo até dezembro de 2011.
O formulário colocado neste sítio foi projetado e programado pelo
pesquisador em linguagem de hipertexto HTML (HyperText Markup Language)
utilizando-se do Microsoft Office Publisher 2007, do pacote (suit) da Microsoft Office.
O servidor, onde se encontrava o formulário, capturava as informações
postadas pelos pesquisandos e as encaminhava para o correio eletrônico do
pesquisador através do scrip “formmail.php” do servidor de hospedagem sem a
identificação da pessoa que o encaminhou.
O formulário colocado é apresentado abaixo:
23

Figura 1 – Formulário de pesquisa (sítio www.ncconline.info). Fonte: Pesquisa 2011

Os 15 temas colocados para apreciação dos pesquisandos foram:


1) Pena de morte;
2) Tortura;
3) Aborto;
4) Homossexualismo;
5) Sexo fora do casamento;
6) Existência de Deus;
7) Tornar a prostituição uma profissão;
8) Fumar cigarro;
9) Beber;
10) Descriminalização das drogas;
11) Assassinato;
12) Ajuda humanitária aos desabrigados;
13) Traição conjugal;
24

14) Prática das diversas religiões;


15) Discriminação racial e da mulher.
Para cada um dos 15 temas as opções na listboxes eram:

a) Totalmente de acordo – que recebeu uma pontuação 3;


b) Concordo mas com muitas restrições – que recebeu uma pontuação 2;
c) Concordo mas com poucas restrições – que recebeu uma pontuação 1;
d) Indiferente – que recebeu uma pontuação 0;
e) Contra com muitas restrições – que recebeu uma pontuação -1;
f) Contra com poucas restrições – que recebeu uma pontuação -2;
g) Totalmente contra – que recebeu uma pontuação -3.

A pontuação para cada uma das opções inseridas nas listboxes se torna
importante, pois, posteriormente, cada opção é considerada um ponto da faixa que
vai de (+) 3 (três positivo) a (-) 3 (três negativo), faixa esta, estabelecida para cada
um dos 15 temas analisados.
Além das informações acima, foram solicitados do pesquisado a faixa
etária, a religião e o sexo. Destas três, a informação utilizada para filtragem e
composição dos grupos foi a “religião”. As demais informações serviram de valor
agregado à pesquisa para posterior utilização caso necessitasse fazer uma abertura
dos dados diferente, por exemplo, por idade e/ou sexo.
Os dados encaminhados ao correio eletrônico eram extraídos e colocados
em planilha Excel preparada pelo pesquisador, constante do Anexo e cuja amostra é
apresentada abaixo:

Sexo 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 Religião Idade


1 M 1 -3 1 -3 0 3 -3 -3 -1 -3 -3 3 -3 1 -3 EV 4
2 M 1 -3 -3 -3 -3 3 -3 -3 -3 1 -3 3 -3 1 -3 EV 4
3 F -1 -3 -1 -3 -3 3 -3 -3 -2 1 -3 1 -3 1 -3 EV 4
4 M 2 1 2 0 1 0 2 2 2 -1 0 2 1 3 -2 NP 2
5 F -3 -3 -3 -1 1 3 -3 -3 1 -3 -3 3 -3 1 -3 EV 3
6 F -3 -3 -3 -3 -3 3 -1 -3 -3 -3 -3 3 -3 0 -3 EV 3
7 M -3 -3 -3 -3 -3 3 -3 -3 -3 3 -3 3 -3 0 -3 EV 3
8 F -3 -2 -3 -3 -3 3 -3 -3 -2 -3 -3 3 -3 -3 -3 EV 2
9 M -3 -3 -3 -3 -3 3 -3 -3 -3 -3 -3 3 -3 0 -3 EV 2
10 M -3 2 -3 -3 1 3 -3 -3 -3 3 -3 1 -3 0 -3 EV 3
Figura 2 – Planilha EXCEL com os dados da pesquisa plotados: Pesquisa 2011
25

Na figura acima, que apresenta uma amostra da planilha total, a coluna


da esquerda é o seqüencial que indica numeração da contribuição do pesquisando.
A primeira linha acima indica o número do item que está sendo analisado seguido do
código da religião e o código da idade.
O item religião recebeu codificação própria quando plotado na planilha
EXCEL, para facilitar a filtragem dos dados conforme abaixo especificado:
Evangélica  EV
Católica  CA
Espírita  ES
Ateu  AT
Outras religiões  OU
Não praticante  NP
Também a faixa etária recebeu uma codificação própria quando colocada na planilha
conforme abaixo:
Até 16 anos  1
De 17 anos até 25 anos  2
De 26 até 35 anos  3
Mais de 35 anos  4
Para cada um dos quesitos analisados foi obtida uma média das opções
apontadas pelos pesquisados, já que estas foram convertidas em valores numéricos.
A média simples foi extraída obtendo o somatório total dos pontos do quesito para o
grupo analisado dividido pelo número de pessoas pesquisadas para aquele grupo
utilizando a seguinte fórmula do EXCEL para o quesito número 1, apresentado como
exemplo:
=SOMASE(Tabulação!$S$3:$S$170;"EV";Tabulação!D$3:D$152)/SOMASE(Tabulaç
ão!$S$3:$S$170;"EV";Tabulação!$B$3: $B$152)
Estas médias foram obtidas para todos os quesitos analisados para o
grupo “cristão evangélico” – “EV” que totalizou 66 pessoas, bem como para demais
participantes considerados como grupo de controle, totalizando para este grupo 86
pessoas, no total geral de 152 pessoas.
Dentro do universo total de 154 pessoas, as de número seqüencial 20 e
21 por suspeita de ser a mesma pessoa a opinar, dada a coincidência de opinião em
todos os quesitos, diferençando apenas em relação ao sexo e sendo enviado ao
26

correio eletrônico em uma diferença de 1 minuto, estas foram retiradas da análise


evitando possível contaminação.
A planilha com as médias por quesito por religião é apresentada abaixo:

1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15

EV Nº 66 66 66 66 66 66 66 66 66 66 66 66 66 66 66
Méd -1,6 -2,2 -2,1 -2,5 -1,7 3,0 -2,5 -2,7 -1,5 -1,7 -2,9 2,5 -2,5 -0,3 -2,7

CA Nº 49 49 49 49 49 49 49 49 49 49 49 49 49 49 49
Méd -1,0 -2,6 -1,0 0,6 0,1 2,9 -0,5 -1,6 0,6 -1,9 -2,8 2,8 -2,3 0,6 -2,8

ES Nº 4 4 4 4 4 4 4 4 4 4 4 4 4 4 4
Méd 0,2 -2,4 -0,8 -0,6 0,0 2,4 0,4 -1,8 -1,0 -2,4 -2,2 2,4 -2,4 0,6 -2,4

AT Nº 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0
Méd 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0

OU Nº 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0
Méd 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0

NP Nº 33 33 33 33 33 33 33 33 33 33 33 33 33 33 33
Méd -0,4 -1,7 -0,9 0,1 1,9 2,7 0,2 -0,8 1,2 -1,5 -2,6 2,8 -0,5 1,5 -2,4
Figura 3 – Planilha EXCEL com as médias por religião por quesito: Pesquisa 2011

Após o levantamento das médias simples por quesito por religião foi feito
o cálculo das médias por quesito por grupo de estudo, ou seja, para o grupo cristão
evangélico e para os demais (grupo de controle), obtendo os dados listados na
planilha abaixo:
Média totais por grupo
ev -1,6 -2,2 -2,1 -2,5 -1,7 3,0 -2,5 -2,7 -1,5 -1,7 -2,9 2,5 -2,5 -0,3 -2,7
controle -0,7 -2,2 -0,9 0,4 0,8 2,8 -0,2 -1,3 0,8 -1,8 -2,7 2,8 -1,6 1,0 -2,6

Diferença das médias entre grupos evangélicos x controle


Dif ev-controle0,90 0,06 1,15 2,81 2,56 0,23 2,38 1,40 2,22 0,04 0,19 0,31 0,90 1,24 0,07
Figura 4 – Planilha EXCEL com os totais das médias por grupo: Pesquisa 2011

O pesquisador também se interessou em conhecer para cada quesito o


grau de convergência de opiniões do grupo cristão evangélico e do grupo de
controle. Para tal foi utilizada a fórmula do EXCEL para “variância”.
A variância é um elemento estatístico indicador da dispersão entre
diversos valores, desta forma, foi aplicado o cálculo da variância para os valores
27

numéricos obtidos de cada quesito para cada grupo analisado e comparou-se


quesito a quesito entre os dois grupos analisados.
Por exemplo, foi calculada a variância para as 66 pessoas apontadas
como cristãs evangélicas para todos os valores apresentados nas respostas para o
quesito 1 e assim por diante até completarem-se todos os 15 quesitos analisados.
Para o grupo de controle, totalizando 86 pessoas, foi obtida a variância
para os valores de cada um dos 15 quesitos analisados.
A fórmula para obtenção da variância é simples e apresentada no próprio
EXCEL como a seguir: =VAR(X3:X150)  para o cálculo da variância dos valores
entre X3 e X150 da planilha.
Após a obtenção da variância para o grupo cristão evangélico e o de
controle foi feita a comparação entre eles para verificar a convergência de opiniões
comparativamente entre um grupo e outro e dentro de cada grupo.
A seguir, apresentamos como exemplo, os valores utilizados para o
cálculo da variância, para cada quesito, do grupo cristão evangélico, após a filtragem
para “EV”, e as respectivas variâncias para cada quesito ao final.
28

EVANGÉLICOS - PARA CÁLCULO DA VARIÂNCIA


1 -3 1 -3 0 3 -3 -3 -1 -3 -3 3 -3 1 -3
1 -3 -3 -3 -3 3 -3 -3 -3 1 -3 3 -3 1 -3
-1 -3 -1 -3 -3 3 -3 -3 -2 1 -3 1 -3 1 -3

-3 -3 -3 -1 1 3 -3 -3 1 -3 -3 3 -3 1 -3
-3 -3 -3 -3 -3 3 -1 -3 -3 -3 -3 3 -3 0 -3
-3 -3 -3 -3 -3 3 -3 -3 -3 3 -3 3 -3 0 -3
-3 -2 -3 -3 -3 3 -3 -3 -2 -3 -3 3 -3 -3 -3
-3 -3 -3 -3 -3 3 -3 -3 -3 -3 -3 3 -3 0 -3
-3 2 -3 -3 1 3 -3 -3 -3 3 -3 1 -3 0 -3
-3 -3 -3 -3 -3 3 -3 -3 -3 3 -3 3 -3 -3 -3
-3 -3 -3 -3 -3 3 -3 -3 -3 -3 -3 3 -3 3 -3
-3 -3 -1 -3 -3 3 -3 -3 -3 -3 -3 3 -3 -3 -3
-3 -3 1 -3 1 3 -3 -3 1 -3 -3 3 -3 3 -3
-3 -3 -3 -3 -3 3 -3 0 0 0 -3 2 -3 0 -3
1 -3 -1 -3 -3 3 -3 -1 -2 -3 -3 2 -3 -3 -3
-3 -3 -3 -3 -3 3 -3 -3 -3 -3 3 -3
-3 -3 -2 -3 -3 3 -3 -3 -3 -3 -3 3 -3 -3 -3
-3 -3 -3 -3 -3 3 -3 -3 -3 -2 -3 2 -3 0 -3
-3 -3 -3 -3 -3 3 -3 -3 -3 -3 -3 2 -3 0 -3
-3 -3 -3 -3 -3 3 -3 -3 -3 -3 -3 2 -3 0 -3
3 -1 -3 -3 -3 3 -3 -3 -3 -3 -3 3 -3 0 -3

-3 -3 -3 -3 -3 3 -3 -3 -3 -3 -3 3 -3 0 -3
-3 -3 -3 -3 1 3 -3 -3 1 -3 -3 3 -3 0 -3
0 -3 -3 -3 -3 3 -3 -3 -3 -3 -3 3 -3 -1 -3
-2 -2 -3 -3 0 3 -3 -3 -3 0 -3 3 -3 -3 -3
-3 -3 -3 -3 -3 3 -3 -3 -3 0 -3 3 -3 0 -3

-3 3 -3 -3 3 3 -3 -3 -3 -3 -3 3 -3 1 -3
-1 -1 -1 -1 -1 3 -1 -1 -1 -1 -1 3 -1 0 -1

1 1 1 1 -1 3 0 -3 1 -3 -3 3 0 3 -3
-3 -3 -3 -3 -3 3 -3 -3 -3 -3 -3 3 -3 -3 -3

-3 -2 -3 -3 -3 3 -3 -3 -3 -3 -3 3 -3 -3 -3

-3 -3 -3 0 -3 3 -3 -3 3 -3 -3 3 -3 -3 -3

-3 -3 -3 -3 -3 3 -3 -3 -3 -3 -3 3 -3 3 -3

3 3 3 3 3 3 -3 -3 -3 -3 -3 3 -3 -3 -3
29

-3 -3 -3 3 3 3 -3 -3 1 -3 -3 3 -3 3 -3

3 3 3 -3 3 3 -3 -3 3 -3 -3 3 3 1 -3

-3 -3 -3 -3 -3 3 -3 -3 1 -3 -3 -2 -3 1 -3

-3 -3 -3 -3 -3 3 -3 -3 3 -3 3 -3 -3 -3

-3 -3 -3 -3 -3 3 -3 -3 -3 -3 -3 3 -3 -3 -3

-3 -3 -3 -3 -3 3 0 -3 -3 -3 -3 -3 -2 2 -3

1 -3 1 -3 -3 3 -3 -3 2 -2 -2 2 -3 -2 -2
-3 -3 -3 -3 -3 3 -3 -3 -1 3 -3 2 -3 -3 -3
-3 -3 -3 -3 -3 3 -3 -3 -3 -3 -3 3 -3 3 -3
-3 -3 -3 -3 1 3 -3 -3 1 -3 -3 3 -3 -3 -3
-1 -1 -1 -3 2 3 -3 -3 -3 -3 -3 1 -3 3 -3
-1 -3 -1 -3 1 3 -3 -3 1 -3 -3 3 -1 1 -3

-3 -3 -3 -3 -3 3 -3 -3 -3 -3 -3 -3 3 -3 -3
-3 -3 -3 -3 -3 3 -3 -3 -3 -3 -3 3 -3 -3 -3

-3 -3 -3 -3 -3 3 -3 -3 0 -3 -3 3 -3 0 -3
-3 -3 -3 -3 -3 3 -3 -3 2 3 -3 3 -3 -3 -3

1 -3 -2 -1 0 3 0 -3 0 -2 -3 3 -3 -3 -3

-3 -3 -3 -1 -1 3 -3 -3 -1 -1 -3 3 -3 2 -3

-3 1 -3 -3 -3 3 -3 -3 -3 -3 -3 3 -3 1 -3

-3 -3 -3 -3 -3 3 -3 -3 -1 -3 -3 3 -3 2 -3
30

-2 -3 -3 -3 -3 3 -3 -3 -3 -3 -3 3 -3 3 3
3 -3 -3 -3 -3 3 -3 1 2 -3 -3 3 -3 -3 1
-1 -1 -1 -1 -1 3 -1 -1 -1 -1 -1 3 -1 1 -1

1 -3 2 -3 -3 3 -3 -3 -3 -3 -3 3 -3 -3 -3

1 3 1 0 0 3 3 0 0 1 -3 3 0 0 -3
-1 -1 -1 -1 0 3 -1 -1 -1 -1 -1 0 -1 -1 -1
-1 -3 -3 -3 1 3 -3 -3 -1 -1 -3 3 -3 1 -3

3 -3 -3 -3 -3 3 1 -3 -3 -3 -3 3 -3 1 -3
1 1 -1 -1 -3 3 -3 -3 -3 3 -3 2 -3 1 -3

-2 -2 -2 -3 0 3 0 -3 0 1 -3 3 -3 3 -3

Variância
3,9 3,1 2,6 1,8 3,9 0,0 1,4 0,7 3,5 4,3 0,2 1,7 1,5 4,6 1,0
Figura 5 – Planilha EXCEL com as variâncias por quesito do grupo cristão evangélico: Pesquisa 2011

Após a obtenção das médias e variâncias dos valores relativos às


opiniões dos pesquisados, estes foram plotados em gráficos comparativos que estão
apresentados no Capítulo 4.
31

CAPÍTULO 4 – COMPARATIVO AMBIENTE SECULAR / RELIGIOSO

A pesquisa segregou os dados encaminhados pelos cristãos evangélicos


através da filtragem dos mesmos em planilha EXCEL e para cada item de avaliação
foi obtida uma média aritmética simples que foi comparada com a média de cada
item de avaliação das pessoas que constituíram o grupo de controle.
A comparação resultante é apresentada no gráfico abaixo, lembrando que
quanto mais negativo o valor da média, maior é a reprovação para aquele item, e
quanto mais positivo, maior a aprovação:

Evangélicos Controle

4,0
3,0
2,0
1,0
0,0
-1,0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15

-2,0
-3,0
-4,0
Gráfico 1 – Comparativo de médias evangélicos x grupo de controle – Fonte: Dados da pesquisa
2011
Como se pode perceber do gráfico acima, as maiores diferenças de
opinião entre o grupo de cristãos evangélicos e o grupo de controle se encontram
nos itens 3, 4, 5, 7, 8,9.
No item 3 – Aborto, a pontuação indica que tanto os cristãos evangélicos
e o grupo de controle têm uma posição contrária, porém, os evangélicos são mais
refratários com média -2. O mesmo acontece com os itens 7 – Tornar a prostituição
uma profissão e o item 8 – Fumar cigarro.
Uma comparação entre os itens 8 – Fumar cigarro e item 9 – Beber, tanto
para o grupo cristão evangélico como para o de controle demonstra que há maior
tolerância para a atitude de beber que a de fumar.
Considerando que a bebida alcoólica traz mais prejuízos visíveis que o
cigarro (haja vista as conseqüências do alcoolismo, como violência nos lares,
assassinatos, brigas, hospitalizações por motivos oriundos do uso do álcool, crimes
passionais etc.) a maior aprovação para este item pode estar relacionada ao
acolhimento social que este hábito traz.
32

Este fato mostra que fatores sociais podem transformar um hábito


pernicioso em algo aceitável pela sociedade. Embora dentro do meio evangélico o
acolhimento seja maior para o álcool acompanhando a tendência do grupo de
controle, ainda assim a média é negativa.
Para os itens 4 – Homossexualismo e o item 5 – Sexo fora do casamento,
enquanto o grupo de controle apresenta uma visão positiva deste comportamento o
grupo evangélico apresenta um resultado negativo na média.
A visão tradicional cristã evangélica condena a prática do
homossexualismo, por isso a média resultou em valor negativo. Para o grupo de
controle a média positiva pode estar associada às recentes campanhas em prol do
reconhecimento para a união estável de parceiros homossexuais.
O item 6 – Existência de Deus obteve médias quase próximas para os
dois grupos confirmando o que a sociologia afirma que a crença em um ser superior
que orienta e determina as ações humanas é um “imperativo antropológico”.
A similaridade da média nos itens 6 – Existência de Deus, 10 –
Descriminalização das drogas, 11 – assassinato, 12 – ajuda humanitária aos
desabrigados, 13 – traição conjugal e 15 – discriminação racial e da mulher, parece
indicar que todos possuem as mesmas opiniões, mostrando que esses valores
coincidem para quaisquer grupos considerados.
Comparando o grupo cristão católico com o grupo de controle (sem a
participação dos católicos neste grupo) temos o resultado que se apresenta no
gráfico abaixo:

Católicos Controle-CA

4,0
3,0
2,0
1,0
0,0
-1,0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15

-2,0
-3,0
-4,0
Gráfico 2 – Comparativo de médias católicos x grupo de controle. Fonte: Dados da pesquisa 2011
33

Pelo gráfico percebe-se que o grupo cristão católico se aproxima mais do


grupo de controle que o grupo evangélico.
Pode-se argumentar por este resultado, que ou a educação cristã católica
tem sido mais liberal em alguns valores ou conceitos, ou grande parte daqueles que
participaram da pesquisa que se intitularam católicos não são realmente ativos
dentro de sua religião (apesar de o item religião apresentar a escolha “Não
participante”).
Como conseqüência do resultado acima, comparamos as opiniões dos
grupos católicos e evangélicos cujo resultado é apresentado abaixo:

Católicos Evangélicos

5,0
4,0
3,0
2,0
1,0
0,0
-1,0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15

-2,0
-3,0
-4,0
-5,0

Gráfico 3 – Comparativo católicos x evangélicos. Fonte: Dados da pesquisa 2011

Como seria natural verificar dado o resultado apresentado no gráfico 2, o


grupo católico se distancia do grupo evangélico nos mesmos pontos em relação ao
que apresenta o grupo de controle.
Adicionalmente interessou verificar qual o grau de discordância entre os
evangélicos a respeito dos itens pesquisados. Para isso foi usado uma fórmula no
EXCEL que calcula a variância dos valores numéricos das opiniões apresentadas
pelos pesquisados do grupo evangélico.
A aplicação da fórmula da VARIÂNCIA resulta em um indicador de quanto
à opinião de cada item apresentou discordância, sendo que quanto maior o valor,
maior a discordância.
Desta forma, calculando a variância conforme explicitado anteriormente
temos o resultado apresentado no gráfico abaixo:
34

Variância Evangélicos

8,0

7,0

6,0

5,0
4,6
4,0 4,3
3,9 3,9
3,5
3,0 3,1
2,6
2,0 1,8 1,7 1,5
1,4
1,0 1,0
0,7
0,0 0,0 0,2

-1,0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15

Gráfico 4 – Variância das opiniões do grupo evangélico. Fonte: Dados da pesquisa 2011

Pelo que se percebe há uma convergência total entre os evangélicos


sobre o item 6 – Existência de Deus (variância “zero”).
Os outros itens com baixa variância (alta concordância) são os itens 7 –
tornar a prostituição uma profissão, 8 – fumar cigarro, 11 – assassinato, 15 –
discriminação racial e da mulher.
O item com mais alta variância (de opiniões mais divergentes) é o item 14
sobre a prática de outras religiões. Embora a média para este item seja negativa, ou
seja, de forma geral não há concordância para que seus fieis admitam a prática de
religiões diversas da do cristianismo evangélico, há muita divergência entre pares,
significando que muitos admitem não haver importância a prática de outras religiões.
Uma variância alta pode indicar que está havendo uma mudança de rumo
ou entendimento, não tem consenso geral, esta fase é delicada e instável, pois um
fator de influência externa ou interna mais forte pode determinar a convergência
para uma posição, positiva ou negativa.
Como fator de influência externa, podemos citar a mídia, com seu apelo
aos desejos e emoções. Como fator de influência interna, podemos citar,
campanhas intra-grupo de valorização de posicionamentos tradicionais, seminários
ou influência de atores carismáticos dentro do grupo. Nesse sentido, os grandes
líderes nacionais evangélicos desempenham um papel primordial na definição do
posicionamento dos fiéis para alguns assuntos polêmicos e determinação de
valores.
O segundo item com mais alta variância é o item 10 referente à
descriminalização das drogas. A princípio causa estranheza os evangélicos estarem
35

tão divergentes quanto a este item, embora fosse necessária uma pesquisa
específica para verificar a causa dessa divergência, podemos supor que aqueles
mais favoráveis podem ter esta opinião no entendimento de que o que causa a
procura de drogas são a proibição e curiosidade, ou seja, a idéia subjacente é que a
liberação diminuiria o consumo.
O terceiro item com mais alta divergência é o item 5 referente ao sexo
fora do casamento. Os dados mostram que na faixa etária entre 25 e 35 anos é onde
a média das opiniões mais se aproxima da indiferença e onde também a
discordância é maior, a variância chega a 5,4.

Gráfico 5 – Distribuição de média e variância para item 5. Fonte: Dados da pesquisa 2011

Este item é mais divergente que o item 13 – Traição Conjugal. A


dispersão para o item 13 é menor, havendo, portanto, mais convergência de opinião
condenando o sexo extra-marital.
Quando o item 5 - sexo fora do casamento é analisado, a comparação
com o item 13 – traição conjugal, faz concluir que a condição “sexo antes do
casamento” faz a dispersão aumentar e esta diferença ocorre principalmente devido
às opiniões de pessoas na faixa entre 25 até 35 anos de idade que apresentam
maior divergência, apesar disso a média resultou em valor negativo.
Adicionalmente a pesquisa verificou a distância de opinião entre o grupo
espírita e o grupo evangélico resultando no gráfico a seguir:
36

Espíritas Evangélicos

5,0
4,0
3,0
2,0
1,0
0,0
-1,0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15

-2,0
-3,0
-4,0
-5,0

Gráfico 6 – Comparação espíritas x evangélicos. Fonte: Dados da pesquisa 2011

Embora existindo grandes diferenças doutrinárias, percebe-se pelo gráfico 6


que a curva para o grupo espírita se aproxima mais do grupo evangélico que a curva do
grupo católico conforme Gráfico 3, principalmente para os itens 4 – Homossexualismo, 5
– Sexo fora do casamento, 7 – Tornar a prostituição uma profissão, 9 – Beber.
37

CONCLUSÃO

A análise da pesquisa realizada comparando os dados do grupo religioso


evangélico e os dados do grupo de controle apresentam alguns resultados
significativos para o objetivo deste trabalho.
Cabe neste ponto recordarmos dos três objetivos específicos deste
trabalho:
a) verificar se a educação cristã altera ou modifica os valores
estabelecidos na sociedade pós-moderna secular;
Entendemos que os valores da sociedade pós-moderna estão retratados
no grupo de controle cujas médias relativas a cada item da pesquisa foram
apresentadas no Gráfico 1. Os pontos de descasamento de médias refletem um
posicionamento particular do grupo evangélico em pontos mais polêmicos,
posicionamento este mais conservador.
Considerando que a pós-modernidade tem iniciado os primeiros passos
por volta da metade do século XX, o que se conclui é que o posicionamento mais
conservador é resultado do esforço da doutrinação dos valores cristãos.
A variância maior em itens mais polêmicos, mostrando uma divergência
de opiniões, pode estar indicando uma pressão da visão pós-modernista trazida por
novos “entrantes” no grupo.
São significativos os dados do Gráfico 5, onde localiza a origem do maior
peso da dispersão (discordância) para a faixa etária entre 25 a 35 anos. A faixa até
25 anos do gráfico é a que apresenta a maior convergência e posicionamento
conservador entre as faixas pesquisadas, esta faixa de maior importância na
formação da personalidade é a mais representativa do esforço pedagógico do grupo
evangélico.
Desta forma, podemos constatar que existe a manutenção dos valores
conservadores cristãos evangélicos apesar de toda a pressão pós-moderna na
relativização dos mesmos.
b) verificar os valores discordantes e coincidentes entre a comunidade
cristã evangélica sob sua educação específica e a comunidade secular;
Os itens 2,6,10, 11, 12, 13, 15 apresentaram praticamente a mesma
média para os diferentes grupos pesquisados indicando que há alguns itens de
38

concordância geral entre os dois grupos (evangélicos e o de controle). Isto indica


que há valores comuns independente da fonte de formação.
Parece haver um núcleo básico de valores refletidos nas opiniões
coincidentes independente de suas crenças ou religiões que pode indicar um
patrimônio moral comum das pessoas.
A origem deste patrimônio comum não é objeto de estudo do presente
trabalho, mas parece indicar a veracidade da declaração bíblica nos escritos do
apóstolo Paulo (Bíblia ARC, Rm 2.14,15) quando cita que os gentios e judeus
apresentam um núcleo moral comum:
“[...] porque quando os gentios que não têm lei fazem naturalmente as
coisas que são da lei, não tendo eles lei, para si mesmos são lei; os quais
mostram a obra de lei escrita em seus corações, testificando juntamente a
sua consciência e os seus pensamentos quer acusando-os quer
defendendo-os [...]”

Os demais itens na pesquisa apresentaram médias diferentes mostrando


que o grupo evangélico não acompanha os valores pós-modernos apresentados no
grupo de controle. Isto demonstra que a doutrinação tem se mantido eficaz na
manutenção de valores conservadores e caros ao cristianismo evangélico.
c) em caso de discordância, em que intensidade isso se dá.
Apresenta-se a seguir o gráfico de diferenças entre as médias do grupo
evangélico e do grupo de controle:

Diferença evangélicos-controle
Diferença ev-controle

3,00
2,50
2,00
1,50
1,00
0,50
0,00
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15

Gráfico 7. Diferenças de médias evangélicos x controle. Fonte: Dados da pesquisa 2011

Observa-se que a maior diferença nas opiniões dos dois grupos está no
item 4 – Homossexualismo seguido do item 5 – Sexo fora do casamento.
39

Apesar de uma maior liberação nas práticas sexuais de forma geral a


partir da década de 60 e mais recentemente a do homossexualismo,
especificamente, o ensino doutrinário dentro do grupo cristão evangélico tem
mantido o posicionamento conservador bíblico.
40

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
RENOVATO, ELINALDO. Perigos da pós-modernidade. Rio de Janeiro: CPAD,
2007.

LIBANIO, J.B. Jovem em tempo de pós-modernidade, considerações


socioculturais. Loyola, 2004.

MORAES, MARIA CÂNDIDA e JOSÉ ARMANDO VALENTE. Como pesquisar em


educação a partir da complexidade e da transdiciplinaridade? São Paulo:
Paulus, 2008.

PEREIRA, POTIGUARA ACÁCIO. O que é pesquisa em educação?. São Paulo.


Paulus: 2005.

BAUMAN, ZYGMUNT. O Mal-estar da Pós-Modernidade. Rio de Janeiro: Zahar,


1998.

SOMMERMAN, AMÉRICO. Inter ou transdisciplinaridade?. São Paulo: Paulus,


2006.

GELLNER, ERNST. Pós-modernismo, razão e religião. Lisboa:Instituto Piaget,


1992

PELLÁ, ANGELO VIRGÍLIO. Tendas e Tabernáculos, religião e pós-


modernidade. S. Paulo: Paulinas, 2006.

CHAMPLIN R.N. e J.M.Bentes. Enciclopédia de Bíblia, Teologia e Filosofia. São


Paulo: Candeia,1997.

GARCIA-ROZA, LUIZ ALFREDO. Freud e o Inconsciente. Rio de


Janeiro:Zahar,1998

KOHL, MANFRED W. Aconselhamento Cristão Transformador. Londrina:


Descoberta, 2006.

COUCH, MAL Os fundamentos para o século XXI. São Paulo: Hagnos,2009


41

ANEXOS
Formulário
42

Planilha dos dados plotados no EXCEL


Sexo 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 Religião Idade
1 M 1 -3 1 -3 0 3 -3 -3 -1 -3 -3 3 -3 1 -3 EV 4
2 M 1 -3 -3 -3 -3 3 -3 -3 -3 1 -3 3 -3 1 -3 EV 4
3 F -1 -3 -1 -3 -3 3 -3 -3 -2 1 -3 1 -3 1 -3 EV 4
4 M 2 1 2 0 1 0 2 2 2 -1 0 2 1 3 -2 NP 2
5 F -3 -3 -3 -1 1 3 -3 -3 1 -3 -3 3 -3 1 -3 EV 3
6 F -3 -3 -3 -3 -3 3 -1 -3 -3 -3 -3 3 -3 0 -3 EV 3
7 M -3 -3 -3 -3 -3 3 -3 -3 -3 3 -3 3 -3 0 -3 EV 3
8 F -3 -2 -3 -3 -3 3 -3 -3 -2 -3 -3 3 -3 -3 -3 EV 2
9 M -3 -3 -3 -3 -3 3 -3 -3 -3 -3 -3 3 -3 0 -3 EV 2
10 M -3 2 -3 -3 1 3 -3 -3 -3 3 -3 1 -3 0 -3 EV 3
11 F -3 -3 -3 -3 -3 3 -3 -3 -3 3 -3 3 -3 -3 -3 EV 3
12 F -3 -3 -3 -3 -3 3 -3 -3 -3 -3 -3 3 -3 3 -3 EV 3
13 F -3 -3 -1 -3 -3 3 -3 -3 -3 -3 -3 3 -3 -3 -3 EV 2
14 F -3 -3 1 -3 1 3 -3 -3 1 -3 -3 3 -3 3 -3 EV 4
15 M -3 -3 -3 -3 -3 3 -3 0 0 0 -3 2 -3 0 -3 EV 2
16 M 1 -3 -1 -3 -3 3 -3 -1 -2 -3 -3 2 -3 -3 -3 EV 4
17 M -3 -3 -3 -3 -3 3 -3 -3 -3 -3 3 -3 EV 3
18 M -3 -3 -2 -3 -3 3 -3 -3 -3 -3 -3 3 -3 -3 -3 EV 2
19 M -3 -3 -3 -3 -3 3 -3 -3 -3 -2 -3 2 -3 0 -3 EV 3
20 F -3 -3 -3 -3 -3 3 -3 -3 -3 -3 -3 2 -3 0 -3 EV 4
21 M -3 -3 -3 -3 -3 3 -3 -3 -3 -3 -3 2 -3 0 -3 EV 4
22 F 3 -1 -3 -3 -3 3 -3 -3 -3 -3 -3 3 -3 0 -3 EV 3
23 F -1 -1 1 2 3 3 -3 1 1 0 -1 3 -1 2 -3 CA 4
24 F -3 -3 -3 -3 -3 3 -3 -3 -3 -3 -3 3 -3 0 -3 EV 4
25 F -3 -3 -3 -3 1 3 -3 -3 1 -3 -3 3 -3 0 -3 EV 3
26 F 0 -3 -3 -3 -3 3 -3 -3 -3 -3 -3 3 -3 -1 -3 EV 2
27 M -2 -2 -3 -3 0 3 -3 -3 -3 0 -3 3 -3 -3 -3 EV 3
28 F -3 -3 -3 -3 -3 3 -3 -3 -3 0 -3 3 -3 0 -3 EV 4
29 M -3 -3 1 3 3 3 3 -3 3 -3 -3 3 -3 3 -3 CA 4
30 M 1 -3 2 2 3 3 1 2 1 -3 -3 3 -3 1 -3 CA 2
31 M -3 -3 -3 -3 3 3 -3 -3 -3 -3 -3 3 2 3 -3 NP
32 M -3 3 -3 -3 3 3 -3 -3 -3 -3 -3 3 -3 1 -3 EV 3
33 M -1 -1 -1 -1 -1 3 -1 -1 -1 -1 -1 3 -1 0 -1 EV 2
34 M 2 -3 -1 0 2 3 -1 -2 2 -3 -3 3 -3 -1 -3 CA 2
35 F 3 3 -3 2 0 3 0 -1 -1 -1 -1 3 -1 0 1 CA 4
36 M 1 -1 1 0 1 3 1 2 2 -2 -3 3 -3 3 -3 CA 2
37 F 1 1 1 1 -1 3 0 -3 1 -3 -3 3 0 3 -3 EV 4
38 F -3 -3 -3 -3 -3 3 -3 -3 -3 -3 -3 3 -3 -3 -3 EV 2
39 M -1 -3 -3 0 0 3 3 -3 -3 -3 -3 3 0 0 -3 CA 4
40 F -3 -2 -3 -3 -3 3 -3 -3 -3 -3 -3 3 -3 -3 -3 EV 2
41 F -3 -3 1 0 3 3 -3 -3 2 -3 -3 3 -3 3 -3 3
42 F 3 -3 -3 3 3 3 3 3 3 -3 -3 3 -3 3 3 NP 3
43 M 3 -3 -3 3 3 3 3 -3 3 -3 -3 3 3 -3 -3 CA 2
44 F 1 -3 1 3 -3 3 -3 -3 3 -3 -3 3 -3 3 -3 CA 3
45 M -3 -3 -3 0 -3 3 -3 -3 3 -3 -3 3 -3 -3 -3 EV 3
46 F 3 3 -3 3 3 3 3 -3 -3 -3 -3 3 -3 3 -3 NP 2
47 M -3 -3 3 -3 -3 3 -3 -3 -3 -3 -3 3 -3 3 -3 CA 4
48 M -3 -3 1 -3 -3 3 3 -3 3 -3 -3 3 -3 3 -3 CA 2
49 F 1 -3 1 3 3 3 -1 0 1 -3 -3 3 -3 3 -3 ES 4
50 F -3 -3 -3 3 -3 3 3 -3 -3 -3 -3 3 -3 -3 -3 CA 3
51 F -3 -3 -3 3 3 3 -3 -3 1 -3 -3 3 -3 -3 -3 CA 3
52 F -3 -3 -3 -3 -3 3 -1 -3 -3 -3 -3 3 -3 -3 -3 ES 3
53 M -3 -3 -3 -3 -3 3 -3 -3 -3 -3 -3 3 -3 3 -3 EV 4
54 F -3 -3 -3 3 3 3 -3 3 3 -3 -3 3 -3 3 -3 CA 3
55 F -3 -3 -3 3 3 3 -3 -3 1 -3 -3 3 -3 1 -3 CA 2
56 M 3 3 1 -3 3 3 -3 3 1 -3 -3 3 3 3 -3 NP 4
57 M 3 3 3 3 3 3 -3 -3 -3 -3 -3 3 -3 -3 -3 EV 4
58 M -3 -3 -3 0 3 3 3 -3 -3 -3 -3 3 1 -3 -3 CA 4
59 F -3 -3 -3 3 3 3 -3 3 3 -3 -3 3 -3 3 -3 NP 3
60 M 3 3 -3 -3 -3 3 -3 -3 -3 -3 -3 3 3 3 -3 NP 2
43

61 M 3 -3 -3 -3 3 3 -3 -3 -3 -3 -3 -3 3 -3 -3 NP 4
62 F -3 -3 -3 3 3 3 3 3 3 -3 -3 3 -3 0 -3 NP 3
63 F -3 -3 -3 -3 -3 3 3 -3 -3 -3 -3 3 -3 -3 3 NP 3
64 M -3 -3 -3 3 3 3 -3 -3 1 -3 -3 3 -3 3 -3 EV 3
65 F -3 -3 -3 0 3 3 -3 -3 3 -3 -3 3 1 0 -3 NP 2
66 F -3 -3 -3 0 3 3 -3 -3 3 -3 -3 3 1 0 -3 NP 3
67 M 3 -3 -3 0 3 3 3 -1 3 -3 -3 3 -3 3 -3 CA 3
68 M -3 -3 -3 0 3 3 -3 -3 1 -3 -3 3 -3 -3 -3 CA 3
69 M -3 -3 -3 3 3 3 -3 -3 1 -3 -3 3 -3 3 -3 NP 3
70 M 1 1 -1 -3 3 3 -3 -3 1 -3 -3 3 -3 -3 -3 NP 3
71 M 1 -3 -3 -3 3 3 -3 -3 -3 -3 -3 3 3 3 -3 CA 2
72 M 3 3 3 -3 3 3 -3 -3 3 -3 -3 3 3 1 -3 EV 3
73 M -3 -3 -1 0 1 3 -3 -3 1 3 -3 3 3 3 -3 NP 3
74 M -3 -3 -1 0 1 3 -3 3 3 -3 -3 3 -3 3 -3 NP 3
75 M 1 -3 1 -3 3 3 -3 3 -3 1 3 3 3 1 -3 NP 3
76 M 3 -3 -3 3 3 -3 -3 3 3 -3 -3 3 -3 -3 -3 CA 3
77 M -3 -3 -3 -3 3 3 3 3 3 -3 -3 3 -3 -3 3 CA 2
78 M -3 3 -3 -3 3 3 3 -3 3 -3 1 3 -3 3 -3 NP 2
79 M 1 -3 -3 0 3 3 3 -3 3 -3 -3 3 -3 3 -3 NP 2
80 M -3 -3 -3 0 3 3 -3 -3 -3 -3 3 1 3 -3 NP 2
81 M -3 -3 -3 0 3 3 -3 -3 3 -3 -3 3 -3 1 -3 NP 2
82 M 3 3 -1 0 3 3 3 3 3 -3 -3 3 -3 3 -3 NP 3
83 F -3 -3 -3 -3 -3 3 -3 -3 1 -3 -3 -2 -3 1 -3 EV 4
84 M 1 -3 3 0 3 3 3 0 0 3 -3 3 3 3 -3 NP 4
85 F -3 -3 -3 -3 -3 3 -3 -3 3 -3 3 -3 -3 -3 EV 4
86 F -3 -3 -3 -3 -3 3 -3 -3 -3 -3 -3 3 -3 -3 -3 CA 2
87 M -3 -3 -3 -3 -3 3 -3 -3 -3 -3 -3 3 -3 -3 -3 EV 2
88 F -3 -3 -2 0 -3 3 0 -3 1 -3 -3 3 -3 2 -3 CA 3
89 F -3 -3 -3 -3 -3 3 0 -3 -3 -3 -3 -3 -2 2 -3 EV 3
90 F 1 -3 1 0 -3 3 -3 0 0 -3 -3 3 -3 0 -3 CA 2
91 M -3 1 -3 -3 -3 3 -3 1 1 1 1 3 -3 3 -3 CA 4
92 F 3 -3 1 0 3 3 0 3 3 3 -3 3 0 0 -3 NP 2
93 M 1 -3 1 0 3 2 3 -3 2 2 -3 3 0 2 -3 NP 3
94 M 1 -3 1 0 -3 3 1 -3 -3 -3 -2 3 -3 0 -3 ES 4
95 M 1 1 1 3 -3 3 -3 0 1 -3 -3 3 -3 3 -3 CA 3
96 F -2 -3 2 3 -3 3 2 -1 1 2 -3 3 -3 3 -3 CA 3
97 F 1 -3 1 0 3 3 3 -3 1 -3 -3 3 -3 3 -3 CA 4
98 F 1 -3 1 -3 -3 3 -3 -3 2 -2 -2 2 -3 -2 -2 EV 3
99 M -3 -3 -3 -3 -3 3 -3 -3 -1 3 -3 2 -3 -3 -3 EV 4
100 M -3 -3 -3 -3 -3 3 -3 -3 -3 -3 -3 3 -3 3 -3 EV 4
101 F -3 -3 -3 -3 1 3 -3 -3 1 -3 -3 3 -3 -3 -3 EV 3
102 F -1 -1 -1 -3 2 3 -3 -3 -3 -3 -3 1 -3 3 -3 EV 3
103 F -1 -3 -1 -3 1 3 -3 -3 1 -3 -3 3 -1 1 -3 EV 3
104 F -3 1 -1 0 -3 3 -3 -3 -1 -3 -3 3 -3 0 -3 CA 3
105 M -3 -3 -3 0 0 3 2 -3 -3 -3 -3 2 -3 0 -3 CA 4
106 F -3 -3 -3 -3 -3 3 -3 -3 -3 -3 -3 -3 3 -3 -3 EV 4
107 M -3 -3 -3 -3 -3 3 -3 -3 -3 -3 -3 3 -3 -3 -3 EV 3
108 F -3 -3 -3 0 0 3 0 0 0 3 -3 3 -3 0 -3 CA 2
109 M -3 -3 2 0 0 3 0 -3 0 1 -3 3 -3 3 -3 CA 4
110 F 1 -3 1 0 0 3 0 -3 1 1 -3 2 -3 0 -3 CA 4
111 F -3 -3 -3 -3 -3 3 -3 -3 0 -3 -3 3 -3 0 -3 EV 3
112 F -3 -3 -3 -3 -3 3 -3 -3 2 3 -3 3 -3 -3 -3 EV 4
113 M -3 -3 1 0 0 3 0 0 3 0 -3 2 -1 0 -3 CA 3
114 M 2 -3 -3 -3 3 3 3 -3 0 -3 -3 3 -3 3 -3 ES 4
115 M -3 -3 2 3 -2 3 3 1 1 1 -3 3 -2 3 -3 NP 4
116 F 1 -3 -2 -1 0 3 0 -3 0 -2 -3 3 -3 -3 -3 EV 4
117 M 1 -3 2 0 2 0 2 -3 2 1 -3 3 0 0 -3 NP 4
118 M 1 -3 1 3 3 3 3 0 3 -3 -3 3 3 0 -3 NP 3
119 M -3 -3 2 3 3 3 0 1 1 -2 -3 3 -3 0 3 NP 3
120 M -3 -3 -3 -1 -1 3 -3 -3 -1 -1 -3 3 -3 2 -3 EV 4
121 F 1 -3 -3 3 -3 3 -3 -3 0 -2 -3 3 -3 -3 -3 CA 4
44

122 F -3 1 -3 -3 -3 3 -3 -3 -3 -3 -3 3 -3 1 -3 EV 4
123 F 1 -3 -2 3 -3 3 0 -3 1 1 -3 3 -3 3 -3 CA 2
124 M -3 -3 -3 -3 -3 3 -3 -3 -1 -3 -3 3 -3 2 -3 EV 2
125 F -3 -3 -2 -2 2 3 3 -3 2 -1 -3 3 1 2 -3 NP 3
126 F -2 -3 -3 -3 -3 3 -3 -3 -3 -3 -3 3 -3 3 3 EV 2
127 F 3 -3 -3 -3 -3 3 -3 1 2 -3 -3 3 -3 -3 1 EV 3
128 M -1 -1 -1 -1 -1 3 -1 -1 -1 -1 -1 3 -1 1 -1 EV 3
129 -3 -3 1 3 3 3 -3 1 3 -3 -3 3 -3 -3
130 F 1 -3 2 -3 -3 3 -3 -3 -3 -3 -3 3 -3 -3 -3 EV 3
131 M 3 0 0 1 0 3 3 -3 3 -3 -3 3 0 0 -3 NP 3
132 M 1 3 1 0 0 3 3 0 0 1 -3 3 0 0 -3 EV 4
133 M -1 -1 -1 -1 0 3 -1 -1 -1 -1 -1 0 -1 -1 -1 EV 2
134 M -1 -3 -3 -3 1 3 -3 -3 -1 -1 -3 3 -3 1 -3 EV 3
135 F 1 -3 2 3 3 3 -1 -2 2 -1 -3 3 -3 3 -3 CA 3
136 F 3 -3 -3 -3 -3 3 1 -3 -3 -3 -3 3 -3 1 -3 EV 4
137 F 1 1 -1 -1 -3 3 -3 -3 -3 3 -3 2 -3 1 -3 EV 3
138 F -3 -3 -3 0 2 3 2 0 3 1 -3 3 -3 3 -3 CA 3
139 M -3 -3 1 3 3 3 -3 -3 2 -3 -3 3 2 0 -3 CA 3
140 M 1 -3 1 -3 -3 3 -3 -3 0 -3 -3 1 -3 0 -3 CA 4
141 M -2 -2 -2 -3 0 3 0 -3 0 1 -3 3 -3 3 -3 EV 2
142 M 1 -1 2 0 -3 3 3 -3 2 2 -3 2 -3 3 -3 NP 4
143 M -3 -3 -1 -1 -3 3 -3 -1 -2 2 -3 1 -3 -2 -2 CA 1
144 M -3 -3 3 3 1 0 3 2 2 1 -3 3 1 3 -3 NP 3
145 M 1 -3 -3 0 -3 2 0 -3 2 -3 -3 3 -3 3 -3 CA 2
146 F 2 -3 -2 0 -3 3 1 -3 -1 -3 -2 3 -3 3 -3 CA 2
147 M -3 -3 -1 -2 2 3 -3 -2 2 3 -3 3 -3 -2 -3 CA 3
148 F -2 -3 1 0 0 3 -3 -3 -2 -3 -3 2 -3 0 -3 CA 3
149 F 1 -3 2 3 0 3 3 -1 2 -2 -3 3 0 2 -3 CA 3
150 M -3 -3 -3 0 -3 3 0 -3 1 -3 -3 3 -3 1 -3 CA 4
151 M -3 -2 -3 -3 -3 3 -3 -3 1 -3 -3 3 -3 1 -3 EV 3
152 F -3 -3 -3 2 3 3 -3 0 0 -3 -3 1 -3 -3 -3 CA 3
153 F 1 -3 -1 -3 -3 3 -3 -3 -1 -1 -3 1 3 -1 -3 EV 4
154 M -2 -3 2 2 3 3 3 -3 2 -2 -3 3 -2 2 -3 CA 4

Você também pode gostar