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Libro Nuevos Medios, Nueva Comunicación

Do gatekeeping ao gatewatcher: o papel das redes sociais no


ecossistema mediático

Prof. Doutor João Canavilhas


Universidade da Beira Interior
Covilhã, Portugal

Curriculum Vitae : João Canavilhas es licenciado en Comunicação Social (Universidade da


Beira Interior) y doctor por la Universidad de Salamanca. (España).
Actualmente es profesor en la Universidade da Beira Interior donde imparte clases de
webperiodismo, periodismo radiofónico e infografia multimedia para periodistas. Además de las
funciones docentes, es Director de periódico online URBI, el primer periódico universitario
portugués en la web y coordinador de radio y televisión de UBI.
Es miembro del Centro de Investigación Labcom-UBI (evaluación FCT: Very Good)
donde investiga temas conectados con nuevas tecnologías y periodismo.

ABSTRACT (n.b.: En el idioma original de la Comunicación, Español, Inglés,


Portugués o Francés, 250 palabras máximo)
A massificação da Internet está a redefinir as relações entre o jornalismo e os leitores. O modelo
de difusão característico da primeira época dos media (“um para muito”) deu lugar aos modelos
descentralizados e bidireccionais da segunda era dos media (Poster, 2000) em que a informação
circula de “muitos para muitos”, de “muitos para um” e de “um para um”.
A mudança no ecossistema mediático foi acelerada pelo aparecimento dos media sociais
1
(blogues, microblogues e redes sociais) com o aumento do número de fontes e,
consequentemente, da quantidade de informação em circulação. As consequências desta oferta
excessiva sentem-se na actividade jornalística, mas também na forma como os leitores se
relacionam as notícias: enquanto os media aperfeiçoam formas de distribuição que os diferencie
da concorrência e os aproxime da audiência, os leitores procuram processos que lhes permitam
triar a avalanche de informação recebida diariamente pela Web.
Se a blogosfera contribui sobretudo para aumentar a oferta informativa, influenciando
fundamentalmente o lado da emissão, as redes sociais têm mais preponderância ao nível da
recepção, estando a funcionar como um segundo nível de seriação de notícias. Trata-se de um
novo tipo de gatekeeping desenvolvido pelos media nos seus canais sociais, mas também por
cidadãos com prestígio (gatewatchers) em torno dos quais se constroem comunidades virtuais.
Neste trabalho analisa-se o potencial das redes sociais na redistribuição de notícias,
nomeadamente no que concerne ao aumento do número de leitores e à transformação das
audiências em comunidades com maior intervenção no ecossistema mediático.

ABSTRACT (Inglés, siempre debe existir un abstract en inglés, 250 words máx)
Internet massification is redefining the connections between journalism and its readers. The
diffusion model, characteristic of the first media era (“from one to many”) gave place to
decentralised and bidirectional models, in the second media era (Poster, 2000), where the
information runs “from many to many”, “from many to one” and “from one to one”.
The changes in the media ecosystem were accelerated by the “social media” (blogs, microblogs
and social networks) multiplying the number of sources, thus the quantity of information. The
consequences of this excessive offer of information can be felt in the way readers relate
themselves with the news: as the media perfect forms of distribution that distinguish them from

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their competitors and bring them close to their audience, readers look for processes that allow
them select the information storm received daily over the web.
If the blogosphere contributes essentially to increase the offer of information, with particular
influence upon the emitting side, social networks have higher weight on the reception level, as a
news selector of a second degree. It is a new kind of gatekeeping, developed by the media
themselves in their social channels or by prestigious citizens (gatewatchers) within the networks
around which virtual communities are created.
In this paper it is analysed the potential of the social networks in the redistributing of the news,
especially concerning the increasing number of readers and the transformation of audiences in
communities who can participate more in the media ecosystem.

PALABRAS CLAVE
Redes Sociais, jornalismo, gatekeeping,

KEY WORDS
Social Networks, journalism, gatekeeping

2
Grupo temático 4:
Comunicación y Periodismo: blogs, wikis, redes sociales, Web 3.0 y telefonía en Internet.

Introdução

A evolução do jornalismo está umbilicalmente ligada ao aparecimento de novas tecnologias. A


imprensa de caracteres móveis, o telefone ou os computadores são apenas três exemplos de
tecnologias que alteraram as rotinas de produção noticiosa em diferentes momentos da história
do jornalismo.
Na última década, as grandes mudanças no campo do jornalismo estão relacionadas com uma
tecnologia que se transformou num novo meio, a Internet, com particular destaque para um dos
seus serviços: a World Wide Web.
Criada no início da década de 90, no CERN, a Web parecia ser apenas mais um serviço da
Internet, como o correio electrónico e o FTP, mas a realidade mostrou algo diferente: apenas
cinco anos após o seu aparecimento, o número de utilizadores da Web crescia a um ritmo
superior a 100%. O aumento exponencial de conteúdos disponíveis, o desenvolvimento de
browsers mais intuitivos e o aparecimento do Blogger (1999), do Facebook (2004), do Youtube

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(2005) e do Twitter (2006) transformaram a Web no grande motor da Internet que passou de16
milhões de utilizadores, em Dezembro de 1995, para cerca de 1,8 mil milhões, em Dezembro de
2009 (Internet World Stats).
As aplicações que alavancaram a sucesso da Web são também as mais utilizadas pelos
jornalistas no seu dia a dia. Algumas delas, como as redes sociais e os blogues, alteraram
profundamente as rotinas de produção noticiosa, estando hoje perfeitamente integradas na
actividade profissional jornalística, sobretudo em duas fases cruciais do processo de produção
jornalístico: a recolha de informação e a distribuição de notícias.

Enquanto fontes, os blogues e as redes sociais suscitam cada vez mais atenção dos jornalistas
nas suas rotinas diárias de pesquisa. O caso da licenciatura do primeiro-ministro português José
Sócrates é um bom exemplo do potencial destas aplicações, com o blogue Portugal Profundo a
estar na origem de uma polémica que dominou as primeiras páginas dos jornais durante
semanas. Mais recentemente, o anúncio de que Cristiano Ronaldo tinha sido pai, efectuada pelo
próprio no Twitter e Facebook, deu origem a milhares de notícias em todo o mundo. Estes são
apenas dois exemplos portugueses da forma como estas aplicações se transformaram numa
importante fonte de informações, aumentando o leque de opções dos jornalistas. 3
Também no campo da distribuição de notícias se registam alterações, com blogues e redes
sociais transformados em verdadeiros canais de distribuição instantânea. Para além dos próprios
media utilizarem estes canais, os leitores chamaram a si esta actividade, funcionando como uma
espécie de novos gatekeepers que comentam e seleccionam as notícias mais interessantes para
os seus amigos (Facebook) ou seguidores (Twitter). Desta forma, “the people formerly known as
the audience”, na feliz expressão de Jay Rosen (2006), coloca-se no centro de um novo
ecossistema mediático, aproximando os dois extremos do processo de produção de notícias: a
recolha de informação e a distribuição dos conteúdos. Como refere Rosental Alves, “pasamos
del sistema media-céntrico al yo-céntrico, donde el individuo se transforma en un
microorganismo al tener el poder de comunicarse, de intercambiar información, de
redistribuir” (1). Esta mudança está a provocar rupturas num ecossistema que ainda procura
agora novos equilíbrios.

1. Do gatekeeping … ao gatewatching

O relatório “Understanding the Participatory News Consumer” (The Pew Internet & American
Life Project, 2010) confirmou uma tendência: os americanos estão a usar cada vez mais as redes

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sociais para filtrar a informação que lhes interessa. A confirmar-se este comportamento, o
percurso da informação passa a ter dois níveis de gatekeeping. No primeiro nível, os jornalistas
seleccionam os acontecimentos que reúnem condições para se transformarem em notícia, um
processo motivado pela escassez de espaço nas páginas dos jornais e nos serviços informativos
radiofónicos e televisivos (Bruns, 2003). No decorrer deste processo, subordinado à aplicação
de critérios profissionais e organizativos, são combinados os diferentes valores-notícia
relacionados com as características do próprio acontecimento, com o processo produtivo de
cada meio de comunicação, com as características do público ao qual se destina a informação e
com a concorrência do meio em questão (Wolf, 1987). Para além desta seriação dos
acontecimentos a tratar, o jornalista recorre ainda a diversas técnicas para reduzir a sua
informação ao espaço que o editor lhe atribuiu.

No caso das publicações na Web esta situação altera-se. Sem limitações espaciais, o jornalista
pode publicar uma maior quantidade de notícias nos mais variados formatos e com possibilidade
de ligação a outras fontes e documentos através de links. Esta disponibilidade espacial
tendencialmente infinita acaba por se transformar num potencial obstáculo para os leitores, pois
a cada segundo que passa são disponibilizadas milhares de notícias na Web. Aos meios de 4
comunicação juntam-se ainda os conteúdos produzidos por empresas, instituições e utilizadores
que alimentam sites, blogues e redes sociais, gerando-se um caudal informativo que os
utilizadores não conseguem acompanhar. Esta realidade criou a necessidade de mecanismos de
triagem, tendo surgido os leitores de feeders, as tags, etc. Ainda assim, a quantidade de
informação na Web é tal que os consumidores continuam à procura de novos mecanismos de
selecção.

David Sasaki (2), vencedor do Knight News Challenge Winner em 2007 e Director da Rising
Voices, diz que uma das queixas mais ouvidas nas conferências está relacionada com a baixa
qualidade dos filtros. Sasaki considera que a solução pode passar por aplicações como o
StumbleUpon, Digg, Google Reader, NewsTrust, baseadas em algoritmos, ou outras mediadas
por voluntários, como o True/Slant, The Daily Beast ou Global Voices. No seu dia-a-dia, Sasaki
confirma a tendência evidenciada no estudo da PEW (2010): “For many of us, Twitter is
becoming the front page of our morning newspaper.”, conclui Sasaki.

Um estudo da Retrevo (2010) confirma que 42% dos americanos começam o dia a consultar as
redes sociais (Facebook e Twitter), e 16% dizem ser nestas aplicações que procuram as notícias
da manhã. O já referido relatório do PEW (2010) aponta no mesmo sentido: cerca de metade
dos americanos optam pela leitura das notícias nas redes sociais porque confiam na selecção

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noticiosa que os seus amigos fazem. O estudo revela ainda que 75% dos consumidores de
notícias online recebem links para essas notícias via e-mail ou redes sociais, e 52% partilha
igualmente notícias por esta via. Por fim, o estudo refere que 51% dos utilizadores de redes
sociais, como o Facebook, dizem que todos os dias lêem notícias disponibilizadas por algum
dos seus amigos, e 23% seguem notícias disponibilizadas nestas redes por media tradicionais ou
jornalistas.

Esta realidade permite verificar que à primeira acção de gatekeeping dos jornalistas, segue-se
uma segunda protagonizada por utilizadores de referência, porém esta segunda acção de
selecção apresenta características diferentes da anterior: já não se trata de seleccionar/resumir
informação, mas sim de indicar pistas de leitura. Bruns (2003) chamou a esta actividade
“Gatewatching” referindo que ela “completes the shift from a focus on summarising the
information contributed to a news story by a variety of news sources (…) In other words,
gatewatchers fundamentally publicise news (by pointing to sources) rather than publish it (by
compiling an apparently complete report from the available sources) (Bruns, 2003, s/n).

O gatewacher emerge assim como um elemento central num ecossistema mediático onde a
fragmentação motivada pela multiplicação de fontes e o excesso de informação obrigam os
5
media a disputarem a atenção dos leitores. “If scarcity is a main motivator of the type of
organized activity that could possibly be labeled an economy, then the scarcity of attention is an
especially good one” (Goldhaber, 1997, s/n). Nesta economia da atenção, o gatewatcher
funciona com um analista de mercados financeiros que aconselha os seus seguidores/amigos a
investirem a sua atenção neste ou naquele tema, publicando os links para as notícias : “The
World Wide Web's key feature, the hyperlink, more or less automates this redirection of the
flow of attention making it easy to pass attention further up the chain, helping to unify the world
wide flow of attention into one complex free-standing system” (Goldhaber, 1997, s/n). Este
fluxo de atenção cresce à medida que a notícia é partilhada e comentada pelos leitores, gerando-
se novas ligações entre leitores. A estabilização destas ligações tende a transformar um grupo de
leitores numa comunidade, algo que, curiosamente, é coincidente com uma missão do
jornalismo: ajudar as comunidades a definirem-se, encontrando uma cultura comum enraizada
na realidade (Kovach & Rosenstiel, 2001).

2. Comunidades online e audiências


O número de utilizadores de redes sociais não pára de crescer. O Facebook, com cerca de 500
milhões de utilizadores, é a maior rede social, mas juntamente com Myspace, QQ, Orkut,

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Ozone, Vkontakte e CyWorld, ultrapassam os mil milhões de utilizadores. A blogosfera, que em


2006 crescia à razão de um blogue por cada meio segundo, já passou a sua fase áurea, no
entanto há milhões de blogues que continuam a ser actualizados. Quanto ao Twitter, uma
plataforma de microblogues, os números apontam para cerca de 190 milhões de utilizadores.
Com os media sociais em acelerado crescimento, os meios de comunicação procuram adaptar-se
a este ecossistema mediático em rápida mutação, optimizando os sites para a partilha das
notícias (SMO - Social Media Optimization) e oferecendo espaços para comentários. O
objectivo é envolver mais os leitores, criando comunidades virtuais, “agregados sociais surgidos
na Rede, quando os intervenientes de um debate o levam por diante em número e sentimento
suficientes para formarem teias de relações pessoais no ciberespaço”. (Rheigold, 1993,18). O
sucesso do SMO e a emergência dos gatewatchers levou ao nascimento de comunidades virtuais
que permitem aos media cumprir uma das suas missões: a criação de espaços de debate.
“Journalism must provide a forum for public criticism and comment” (Kovach & Rosenstiel
2001, 134). O estudo do PEW (2010) confirma que 72% dos americanos consomem notícias nas
redes sociais porque gostam de falar com outros consumidores acerca do conteúdo das notícias,
um comportamento que justifica a necessidade de integrar as redes no ecossistema como forma
de envolver mais os leitores. “News consumption is a socially-engaging and socially-driven
6
activity, especially online. The public is clearly part of the news process now. Participation
comes more through sharing than through contributing news themselves”. (PEW, 2010, 10).
Cientes desta nova realidade, os media criaram contas nas redes sociais, efectuando um segundo
nível de gatekeeping e funcionado eles próprios como dinamizadores do grupo. Esta aposta em
contas próprias nas redes sociais e o SMO têm o mesmo objectivo – aumentar o número de
leitores - mas os resultados podem ser distintos. Enquanto no primeiro caso a acção é dirigida
directamente aos leitores, no segundo caso o contacto é indirecto, pois são os gatewatcher que
redistribuem a informação para a sua comunidade. Estamos assim perante dois conceitos
distintos: “comunidade” e “audiência”

Uma audiência caracteriza-se por uma relação unidireccional entre emissor e receptor (de um
para muitos) e pela inexistência de relações entre os receptores. Este tipo de relacionamento é o
modelo característico nos media tradicionais. No caso das comunidades regista-se uma
comunicação bidireccional (muitos para muitos), existindo algum tipo de relação de
proximidade entre os seus membros (Shirky, 2002a). Neste caso estamos perante um modelo
característico dos novos meios interactivos.

Com o desenvolvimento das telecomunicações e a emergência da Internet, os media tradicionais


procuraram juntar comunicação massiva e interactividade (Palácios, 1996), explorando melhor

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as novas possibilidades dos receptores interagirem com os media. Porém, o processo de


transformação de audiências em comunidades não depende apenas da abertura de canais de
retorno do receptor para o emissor. Para além das questões técnicas, a existência de uma
comunidade implica a existência de algum tipo de relação horizontal entre receptores que
reforce os laços que os unem: “a comunidade virtual parece enfatizar uma comunidade de
interesses relacionada com o assunto em discussão que pode conduzir ao fortalecimento do
espírito comunitário” (Correia, 2002, 4). Não se trata apenas da passagem do sistema de “um
para muitos” para outro “de muitos para um”: é preciso que exista também a alternativa “ de
muitos para muitos”.

Para além disso, o conceito de comunidade está relacionado com a tensão entre dois elementos:
dimensão e especialização. Como refere Shirky (2002b), é possível ter uma grande comunidade
não muito focalizada, ter uma comunidade focalizada mas não muito grande, ou um grande
número de pessoas focalizadas nalgum tema, mas jamais será uma comunidade. Os mainstream
media enquadram-se nesta última opção, mas regista-se um movimento no sentido de evoluírem
para um modelo comunitário em que as relações são mais fortes e duradouras. A utilização de
ferramentas próprias, como o Eskup (3) do jornal El Pais, e a contratação de gestores de novos 7
media, são exemplos da aposta que os media estão a fazer nesta transformação das audiências
em comunidades virtuais.

3. Metodologia e problema de investigação


O aumento da informação na Web está a obrigar o ecossistema mediático a passar de um
ambiente pull, em que os receptores procuram as notícias, para um ambiente push, em que as
notícias vão ter com os receptores. Neste novo ambiente, as redes sociais são um canal de
selecção onde os gatewatchers emergem como elementos dinamizadores de comunidades
virtuais, pelo que a sua acção dever ter efeitos no consumo de notícias.

Ao seleccionar uma notícia colocando um link na sua página, o gatewatcher está a dar uma
indicação de leitura, pelo que deverá ocorrer um aumento no número de leitores dessa mesma
notícia. Na primeira parte do trabalho empírico procuramos verificar se existe uma relação entre
a publicação do link para uma notícia e o aumento do número de leitores.

Nos capítulos anteriores estabeleceu-se a diferença entre audiências e comunidades,


distinguindo-as pela dimensão/especialização, mas também pelo facto das segundas
privilegiarem a bidireccionalidade e horizontalidade no processo de comunicação. Na segunda

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parte do trabalho procuramos avaliar a dinâmica comunicacional gerada em torno dos


gatewatchers, observando as alterações verificadas no número de comentários à notícia e
comparando a actividade dos utilizadores no site do jornal e nas redes sociais.

3.1 Participantes
Participaram como gatewatchers os jornalistas António Granado1 (725 amigos no Facebook e
4104 seguidores no Twitter), José Manuel Fernandes2 (5185 no Facebook e 7204 no Twitter) e
Paulo Querido3 (4937 no Facebook e 26685 no Twitter)4.

3.2 Desenho e procedimento


Entre os dias 27 de Agosto e 14 de Setembro foram seleccionadas 12 notícias Web dos jornais
Diário de Notícias, Jornal de Notícias, Ionline e Público. Apenas em 4 casos foi escolhida uma
notícia pertencente à edição do dia, mas nestes casos o gatewatcher só publicou o link no final
da tarde. O objectivo era anular o efeito de outras referências sem ligação ao nosso trabalho.
Embora na maior parte dos casos exista um registo de tráfego directo, isto é, do número de
leitores que chegou à notícia a partir do link publicado pelo gatewatcher, optámos por contar 8
todas as leituras efectuadas após a referência, medindo também as leituras resultantes dos
chamados “retuites” motivados pela referência inicial. Devido a erros relacionados com os
tempos de publicação foram anuladas duas notícias.
Para responder à primeira pergunta de investigação foi registado o número de visitas antes e
depois das referências efectuadas pelos gatewatchers nas duas redes sociais testadas (Twitter e
Facebook).
Para responder à segunda foram registados os comentários à notícia antes e depois das
referências. Contaram-se ainda os comentários e os “gostos” no Facebook para avaliar este nível
de interactividade.

4. Resultados

4.1 Os primeiros números estão relacionados com o número de visitas motivado pela indicação
da notícia na rede social do gatewatcher. Optou-se pela apresentação dos resultados em
percentagem porque existe uma grande variação no número de visitas, o que poderia induzir em
erro.

1
Ex-coordenador do Público Online, professor na Univ. Nova de Lisboa e dinamizador do blogue Ponto Media
2
Ex-director do Jornal Público e professor na Univ. Católica
3
Consultor de New Media e dinamizador de vários projectos online, entre os quais o Certamente que Sim
4
Dados recolhidos no dia 28 de Agosto de 2010

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Gatewatcher Jornal Aplicação %


Público Facebook 23%
António Granado JN Twitter 24%
JN Facebook 16%
JN Facebook 14%
Ionline Twitter 12%
Paulo Querido Público Facebook 21%
DN Facebook + T 35%
DN Facebook 58%
José Manuel Fernandes Público Facebook 22%
DN Facebook 32%

Os resultados permitem concluir que, em média, a acção dos gatewatchers representa 26% das
leituras registadas numa notícia referenciada. Os outliers (12 e 58%) resultam de duas situações
especiais: no primeiro caso foram consideradas apenas as leituras directas (o jornal em causa
não disponibiliza estatísticas na sua página) e no segundo trata-se de uma notícia que registava
um baixo número de visitas pelo que a referência teve um peso acima do habitual.
Dado que visitas foram registadas em quatro períodos (1, 3, 6 e 24 horas depois da referência)
9
foi possível verificar que não existe um aumento brusco do número de visitas, mas uma
progressão linear. Esta constatação permite dizer que as leituras não resultam de visitas de
impulso resultantes do surgimento da referência no mural, mas de uma pesquisa dos
amigos/seguidores no perfil do gatewatcher.
Refira-se ainda que não se verificou a existência de uma proporcionalidade directa entre o
número de amigos/seguidores do gatewatcher e o número de leituras induzidas pela sua acção.

4.2 A redistribuição de notícias usando as redes sociais tem igualmente efeitos ao nível da
interacção. Das dez notícias observadas, 3 aumentaram o número de comentários após a
referência. Verifica-se ainda que a interacção no Facebook é superior à que ocorre no espaço de
comentários da notícia. No total, as notícias registaram 32 comentários enquanto no Facebook
foram recebidos 83 comentários. Este dado é particularmente interessante porque confirma as
redes sociais como um ambiente mais favorável à interactividade.
Os dados apurados permitem ainda concluir que as referências suscitam mais comentários
quando o gatewatcher assume alguma posição em relação ao teor da notícia.

Conclusões
Embora se trate de um estudo preliminar que deve ser aprofundado e replicado com amostras
maiores, podemos dizer que a utilização das redes sociais na distribuição de notícias aumenta o

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número de leitores. Com a oferta mediática em contínuo crescimento, os media são obrigados a
disputar a atenção dos consumidores, procurando gerar tráfego nos seus sites e, desta forma,
aumentar as receitas publicitárias.

Para além deste efeito catalisador, as redes sociais facilitam uma transmutação na forma como
os leitores se relacionam com os media, gerando um maior envolvimento e fortalecendo os laços
entre media e leitores. Esta aproximação potencia a transformação das audiências em
comunidades, uma situação que tende a gerar a fidelização dos consumidores por estes
reconhecerem que a pertença à comunidade é uma mais-valia. A intensificação do
relacionamento, por via da interacção com o gatewatcher e com os restantes leitores, aumenta o
valor da participação, reforçando a fidelidade dos leitores. Neste nível de relacionamento, os
media estão melhor posicionados para cobrar o acesso aos conteúdos uma vez que o leitor
reconhece valor à informação que lhe é fornecida por via da participação na comunidade.

Bibliografia

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10
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acedido a 23 de Julho de 2010.

Notas:

1. Entrevista ao Jornal El País de 5 de Setembro de 2010


(http://www.elpais.com/articulo/reportajes/medios/deben/aparcar/arrogancia/elpepusocdmg/201
00905elpdmgrep_5/Tes)

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2. http://www.pbs.org/idealab/2010/04/our-friends-become-curators-of-twitter-based-
news092.html

3. http://eskup.elpais.com/index.html

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