Você está na página 1de 71

1

ESTADO DA PARAÍBA
SECRETARIA DA SEGURANÇA PÚBLICA
ACADEMIA DE POLÍCIA – ACADEPOL
CURSO DE FORMAÇÃO DE DELEGADOS

TÉCNICAS
DE
ENTREVISTA
E INTERROGATÓRIO
POLICIAL

CLÁUDIO RODRIGUES COSTA


DELEGADO DE POLÍCIA FEDERAL

2004
TÉCNICAS DE ENTREVISTA E INTERROGATÓRIO

Técnicas de Entrevista e Interrogatório Policial


2

Aos futuros Delegados de Polícia Civil da Paraíba –


ACADEPOL- Turma 2004 – encaminho o presente MANUAL DE
TÉCNICAS DE ENTREVISTA E INTERROGATÓRIO POLICIAL visando tirarem
o máximo de proveito no exercício da árdua profissão policial, sempre
no intuito de se obter a verdade real dos fatos na órbita penal.

Sucesso.

CLÁUDIO RODRIGUES COSTA


Delegado de Polícia Federal

Técnicas de Entrevista e Interrogatório Policial


3

INTRODUÇÃO

Existem três maneiras de se solucionar um crime: confissão,


testemunho e evidência física (qualquer material ou vestígio que possa
ajudar a determinar o que aconteceu e/ou quem tenha sido o seu autor).
Como se percebe, duas destas formas estão relacionadas à
fala, à narrativa verbal sobre os aspectos de um determinado fato
delituoso, seja através da confissão de um suspeito ou do relato de uma
testemunha ou de um informante. Contudo, várias barreiras impedem as
pessoas de transmitirem as informações que estão registradas em suas
memórias ou de admitirem a culpa pela realização ou participação em
um ato criminoso.
O objetivo do tema tratado neste assunto é exatamente o
de proporcionar o conhecimento das técnicas mais eficazes utilizadas na
remoção dessas barreiras.
No exercício do papel de Polícia Judiciária, os organismos
policiais têm como principal atribuição identificar a autoria e a
materialidade de uma ação criminosa, visando instruir o Inquérito Policial
e, conseqüentemente, fornecer os elementos necessários para a
persecução penal do infrator da norma. Quanto melhor instruído o
procedimento investigatório, mais fácil será ao Estado impor o seu
poder/dever de punir quem realiza a conduta tipificada como crime.
Nesse sentido, utiliza-se a Polícia de várias modalidades de
técnicas de investigação, dentre elas a ENTREVISTA e o INTERROGATÓRIO.
Como a palavra falada é potencialmente a maior de todas
as fontes da prova, nenhuma investigação estará completa até que
tenham sido entrevistadas todas as testemunhas e interrogados todos os
suspeitos. A eficiência na execução dessas tarefas produzirá maior
confiança nos resultados e evitará o surgimento, mais tarde, de
depoimentos inesperados. Outros tipos de prova são importantes, mas os
depoimentos de testemunhas e as confissões de suspeitos constituem,
quase sempre, os principais fatores na solução de crimes, apontando a
sua autoria
A entrevista e o interrogatório são técnicas eficientes, que
devem ser aprendidas através de treinamento especializado e da própria
experiência do investigador.

MECANISMOS DA COMUNICAÇÃO

Técnicas de Entrevista e Interrogatório Policial


4
A entrevista e o interrogatório são uma forma de
comunicação. Entre o entrevistador/interrogador e o
entrevistado/interrogado deve haver uma correspondência
recíproca, fundamentada na correção de atitudes, de gestos e de
outros meios de comunicação. As palavras adquirem grande
variedade de significados e valores, dependendo da forma como são
pronunciadas.
Também não basta ao entrevistador/interrogador fazer ouvir
apenas. É necessário que provoque no entrevistado/interrogado a
vontade de falar, criando uma intercomunicação duradoura, uma
retroalimentação constante.
Como conseqüência da importância que a comunicação
tem para a entrevista e interrogatório, surge a necessidade de
identificar as barreiras à comunicação, a fim de promover sua
eliminação.
BARREIRAS À COMUNICAÇÃO

São os fatores que impedem ou dificultam a comunicação e


conseqüentemente o desenvolvimento da entrevista e do
interrogatório, os quais podem ser reunidos em três grupos principais:

- Falta de Motivação

Situações, problemas, estados de ânimo e desejos do


entrevistador/entrevistado poderão ter influência decisiva na condução
da entrevista.
Um entrevistado que veja incluído nos temas da entrevista
algum aspecto que se identifique com seus desejos ou necessidades,
normalmente, terá maior empenho em atender às pretensões do
entrevistador.
Assim, discutir um problema que preocupa o entrevistado,
demonstrar seu interesse pela situação do entrevistado, uma palavra de
compreensão ou a manifestação da vontade de ajudar o entrevistado,
são formas de motivação do entrevistado.
O entrevistador deve conhecer os mecanismos da
motivação para orientar suas ações a partir dos dados sobre as
necessidades, desejos e objetivos do entrevistado.
Uma entrevista planejada e conduzida com base em uma
motivação adequada, alcançará, por certo, os objetivos propostos.

- Barreiras Psicológicas

Técnicas de Entrevista e Interrogatório Policial


5
Das barreiras à comunicação, essas são as de mais difícil
trato. Contudo, se forem corretamente identificadas, poderão servir como
poderoso aliado do entrevistador. Decorrem de defesas que a criatura
humana cria, através da mobilização de forças interiores – forças
dinâmicas de personalidade.
Exemplos dessas defesas são: a racionalização, a repressão,
o deslocamento, a projeção, o medo, a emoção, a insegurança,
patologias, stress, etc.

- Dificuldades de Linguagem

As dificuldades de expressão oral tendem a diminuir o fluxo


da conversação. A entrevista com portadores dessas anomalias obriga o
emprego de um entrevistador bem capacitado a manter uma
comunicação eficiente com tais pessoas.
Algumas anomalias: gagueira, disfasia (distúrbio da palavra
devido a lesão do sistema nervoso central), dispnéia (dificuldade na
respiração), rouquidão, etc.

Técnicas de Entrevista e Interrogatório Policial


6
INTERAÇÃO SOCIAL

A vida em sociedade se faz dentro de um intrincado sistema


de ações, idéias, ideais e sentimentos entre grupos e indivíduos, uns
influindo sobre os outros e reciprocamente sofrendo influência. Isto é o
que se chama interação social. Resulta do incessante e multiforme
contato social e, tanto pode assumir o aspecto construtivo da
cooperação como o aspecto divisionista da oposição.
Cada ação dá nascimento a uma reação e cada reação
provoca um movimento como uma contra-ação até o infinito.
Dessa forma, a interação social pode ser vista como
resultante de uma comunicação bem feita e é possível bem utilizá-la, a
fim de se conseguir o que é chamado COLABORAÇÃO em relações
humanas.

O quadro seguinte resume o que foi dito:

COMUNICAÇÃO INTERAÇÃO
Bem feita Bem utilizada Associação Colaboração

Entrevista/Interrogatório
bem sucedidos

Além dos fatores já citados, o conhecimento de outros


aspectos relativos à estrutura da personalidade humana é necessário ao
entrevistador/interrogador para obter êxito em seu trabalho.
Para alguns pesquisadores, a personalidade humana pode
ser dividida em: personalidade nuclear (constitucional/familiar) e
personalidade periférica (social).
Por personalidade nuclear, entende-se a estrutura fixa e
consistente, de bases sólidas, tais como o temperamento, o caráter, etc. É
importante saber se essas relações foram normais, afetivas ou violentas.
A personalidade periférica é aquela que se forma em
função da influência do grupo social na formação do indivíduo.O grupo
social exerce marcante influência sobre a pessoa, por isso, é necessário
que o entrevistador/interrogador tenha conhecimento sobre o meio social
em que o indivíduo vive.
Algumas experiências mostram que a personalidade
periférica ou social é a área onde podem ocorrer mudanças, desde que
não sejam de todo incompatíveis com a personalidade nuclear.

Técnicas de Entrevista e Interrogatório Policial


7
O entrevistador/interrogador deve conhecer ao máximo,
não só a personalidade periférica do entrevistado/interrogado, como
também a sua personalidade nuclear, visando aproveitar as falhas dessa
estrutura que levam a pessoa a se apoiar no grupo, como forma de
sustentação de sua personalidade global.

Técnicas de Entrevista e Interrogatório Policial


8

ENTREVISTA

1- CONCEITO

“Entrevista é uma conversação relativamente formal, com o


propósito de obter informação”.
A entrevista é, portanto, uma conversação e o que a
distingue da simples conversação é a existência de um propósito definido.

2 - FINALIDADE DA ENTREVISTA

• Recolher dados (obter informes)


• Informar (fornecer conhecimento)
• Influir sobre a conduta do entrevistado (motivar,
orientar, aconselhar, persuadir, etc.)

3 - USO DA ENTREVISTA

A entrevista é uma técnica aplicada em vários campos de


atividades. Em alguns, ela se situa como uma atividade auxiliar, ao passo
que em outros ela representa uma das principais técnicas (jornalismo,
medicina, advocacia, etc.).
A entrevista, embora comumente utilizada para
conhecimento de fatos relevantes e objetivos, é também útil nas
investigações de fatos subjetivos, tais como, opiniões, interpretações e
atitudes da pessoa entrevistada. Mesmo que esses dados possam ser
obtidos através de outras fontes, às vezes, até com maior precisão,
freqüentemente a entrevista se impõe, para que se possa conhecer a
reação do indivíduo sobre um determinado fato, sua atitude e sua
conduta.

4 - TIPOS DE ENTREVISTA

• Ostensiva: A Entrevista Ostensiva ocorre de maneira


formal, isto é, em decorrência de um acontecimento casual, que tanto
pode ser resultante da iniciativa do entrevistador quanto do entrevistado.
Nesse tipo de entrevista, o entrevistador não esconde sua condição de
policial.
• Encoberta: Ao contrário da Entrevista Ostensiva, na
Encoberta o entrevistador, por conveniência da investigação, oculta sua
condição de policial e assume outra que lhe permita acesso ao
entrevistado sem revelar a real finalidade da entrevista.
Técnicas de Entrevista e Interrogatório Policial
9

Técnicas de Entrevista e Interrogatório Policial


11
A entrevista apresenta algumas vantagens e desvantagens:

I - Vantagens:

• Permite maior aproximação entre o entrevistado e o


entrevistador.
• Permite colher respostas mais espontâneas e
reveladoras.
• Dá oportunidade à verificação imediata de pontos
obscuros e confusos, eliminando dúvidas.
• Permite avaliação quanto à segurança e
concordância das informações (seleção ou escolha
das testemunhas e, por conseguinte, a formação
mais célere das provas ou indícios).

II - Desvantagens:

• Necessita de uma preparação cuidadosa e por


vezes demorada.
• Exige um entrevistador realmente capaz.
• Pode oferecer risco à segurança da operação.

5 - ESTRUTURA DA ENTREVISTA

Alguns procedimentos básicos devem ser seguidos pelo


entrevistador para o sucesso de uma entrevista. Evidentemente, o que se
pretende mostrar a seguir são apenas algumas noções elementares que
se aplicam ao assunto, sem esgotar a matéria.

I - Preparação
Tanto as testemunhas propriamente ditas quanto qualquer
pessoa que pode cooperar com a polícia devem ser entrevistadas,
sempre que possível, em lugares alheios ao ambiente policial, geralmente
na sua casa ou local de trabalho, onde se sentem mais confortáveis
psicologicamente.
É necessário que o policial se prepare adequadamente
para a entrevista, desenvolvendo um plano de ação. Geralmente, tal
preparação não demanda muito tempo e restringe-se a uma revisão
mental dos detalhes do caso. É importante, porém, que o entrevistador se
familiarize com as informações disponíveis sobre a pessoa a ser

Técnicas de Entrevista e Interrogatório Policial


12
entrevistada, indagando-se se a mesma já foi entrevistada antes, presa, se
está sendo procurada por algum crime, se é vítima de um crime, etc. O
conhecimento prévio desses detalhes pode evitar situações embaraçosas
ou até mesmo perigosas para o policial. Caso isto não seja possível, a
primeira providência a ser adotada é tentar obtê-las logo no contato
inicial, a fim de adotar as medidas cabíveis e/ou elaborar a sua linha de
questionamento.

Técnicas de Entrevista e Interrogatório Policial


13

Demonstrar interesse e conhecimento do que se busca é


também fundamental. Se o entrevistador se aproxima do indivíduo e diz:
“vamos ver o que eles querem que eu te pergunte...”, estará revelando
um desinteresse que refletirá negativamente na disposição do
entrevistado em falar. Essa é a falha mais comum nas entrevistas
realizadas pela maioria das instituições policiais brasileiras. Em geral, o
policial realiza a tarefa como uma outra obrigação qualquer, com a
mesma frieza de quem elabora um ofício. O desinteresse do investigador
nasce exatamente do seu despreparo, aí incluído o desconhecimento
das técnicas apropriadas para a obtenção da informação que deseja e
dos dados inerentes ao caso específico em que está trabalhando.

II - Apresentação
A educação e o bom senso sugerem a necessidade de uma
correta apresentação, que deverá indicar o nome do investigador,
autoridade/posição e o propósito da entrevista. A inobservância dessa
regra fará com que o entrevistado pergunte ao entrevistador: “quem é
você e o que deseja?”, invertendo as posições e enfraquecendo, logo de
início, o seu trabalho.
Embora o nome e a posição deixem pouca margem para
flexibilidade, a maneira como o policial se apresenta pode ser
determinante para o sucesso da entrevista. É bom sempre ter em mente
que “você nunca terá uma segunda chance para causar a primeira
impressão”. Se o entrevistador se dirige ao entrevistado em tom de
ameaça, dizendo, por exemplo: “eu fico muito nervoso quando alguém
mente para mim...”, é de se esperar que a pessoa fique ansiosa em
colaborar? Certamente que não. Uma linguagem sem ameaças costuma
oferecer melhores resultados, além de reduzir a ansiedade que
normalmente os policiais despertam nas testemunhas e suspeitos, logo no
primeiro contato. Nenhuma vantagem advém de se colocar a pessoa na
defensiva através do aumento de sua ansiedade pelo uso, tanto de
palavras quanto de tom de voz ameaçadores. Por outro lado, se o
entrevistador oferece uma questão demasiadamente aberta, pode fazer
com que a testemunha em potencial decida ou não cooperar com igual
facilidade. Assim, o entrevistador deve se esforçar para que a recusa se
mostre mais difícil que o ato de cooperar.
Certos policiais desenvolvem uma boa reputação por suas
habilidades em assegurar a cooperação de indivíduos. E os seus colegas
geralmente não entendem como isso pode ocorrer, já que estão todos
teoricamente no mesmo nível. A diferença, em grande parte, se deve
exatamente à forma como se dá o contato inicial com as testemunhas.

Técnicas de Entrevista e Interrogatório Policial


14
Diferenças sutis na escolha das palavras durante a apresentação têm um
impacto significante na entrevista, como no exemplo do investigador que
chega à testemunha e diz “precisamos conversar sobre o que aconteceu
na noite passada”, ao invés de dizer: “gostaria de conversar sobre o que
aconteceu na noite passada”. No primeiro caso, o investigador não
demonstra um apelo ao sujeito, impõe sim uma afirmação que
geralmente remove a opção que o mesmo teria em cooperar ou não
com o ele. As pessoas facilmente declinam em responder perguntas, mas
isto será mais difícil quando se usa declarações afirmativas.

Técnicas de Entrevista e Interrogatório Policial


15

III– Estabelecer o “RAPPORT”


Rapport é um termo de origem francesa, que significa
harmonia de relação, concordância, afinidade, analogia. É um estado da
mente e embora muitas pessoas assim entendam, poucas podem defini-
lo. Palavras como empatia, gosto e conforto chegam perto mas não
capturam a sua essência.
O termo está relacionado ao alcance de um estado de
harmonia entre dois indivíduos através de um processo informal, sem
regras. Para alcançá-lo, é necessário observar, perceber e fazer distinções
do comportamento (verbal e não-verbal) de outra pessoa. Para mantê-lo,
é preciso acompanhar com discrição, elegância e sutileza qualquer
alteração de comportamento da outra pessoa.
As principais técnicas utilizadas para a obtenção do rapport
são as seguintes:

• Expressões faciais
Levantar as sobrancelhas, apertar lábios, enrugar o nariz,
etc.
• Postura
Ajustar o corpo para combinar com a postura do corpo do
outro.
• Gestos
Imitar com elegância e sutileza os gestos da outra pessoa.
• Qualidades vocais
Tonalidade, timbre, velocidade, volume, hesitações,
pontuação, etc.
• Palavras processuais
Detectar e utilizar, em sua própria linguagem, os predicados
utilizados pela outra pessoa.
• Frases repetitivas
Utilizar frases repetitivas usadas pela outra pessoa.
• Respiração
Ajustar a respiração para o mesmo ritmo da respiração da
outra pessoa.
• Espelhamento cruzado (mirroring)

Técnicas de Entrevista e Interrogatório Policial


16
Usar um aspecto de seu comportamento para imitar um
aspecto diferente do comportamento do outro. Por
exemplo: balançar suavemente uma parte de seu corpo no
mesmo ritmo da respiração do outro.

Técnicas de Entrevista e Interrogatório Policial


17

Há cerca de vinte anos, Robert Bandler and John Grinder,


pesquisadores norte-americanos que examinaram as técnicas aplicadas
por psicoterapeutas de sucesso, descobriram que de comum entre eles
estava a habilidade de entrar in sync (sincronização) com seus pacientes,
realçando a comunicação e melhorando os resultados. Assim,
desenvolveram um processo de modificação de comportamento que
eles mesmos passaram a denominar programação neurolingüística, o qual
se concentrava em adquirir harmonia, não através da vestimenta ou estilo
de penteado, por exemplo, mas através das palavras e ações. Dessa
forma, eles modelaram os seus comportamentos na performance dos
colegas que consideravam comunicadores eficazes.
Os dois pesquisadores concluíram o que parecia óbvio:
diferentes pessoas demonstram diferentes peculiaridades e graus de
dinamismo quando interagem com outros. Eles também notaram o que
não era tão óbvio: que a maioria dos comunicadores de sucesso tende a
imitar ou “espelhar” as peculiaridades e o dinamismo daqueles com quem
lidam. Pessoas animadas, de fala rápida, parecem se comunicar melhor
com outras também animadas e de fala rápida. Por outro lado, pessoas
calmas, de fala lenta, se correspondem melhor com aquelas que agem
da mesma maneira.
Com base nesses exemplos, percebe-se que o objetivo do
rapport é o de entrar em sintonia com o comportamento do outro,
ajustando-se a ele para conduzi-lo através de uma alteração em seu
próprio comportamento. Isto fará com que a pessoa entre em uma
atmosfera harmoniosa, reduzindo eventuais barreiras à comunicação,
principalmente a ansiedade. Tal técnica revela-se extremamente útil à
tarefa de entrevistar pessoas.

IV - Saber Perguntar

Saber como perguntar é tão importante quanto saber o que


perguntar, e as perguntas fáceis de serem entendidas evitam que as
pessoas se concentrem em decifrar o seu significado.
As perguntas devem ser selecionadas cuidadosamente,
evitando-se aquelas que, em inglês, são denominadas close ended
questions, ou seja, questões fechadas, frugais e que sempre levam à
resposta do tipo “sim/não”. As perguntas abertas - open ended questions
– forçam o entrevistado a elaborar a informação que dispõe, narrando os
fatos ao invés de simplesmente se deter em uma resposta afirmativa ou
negativa. Por exemplo, quando se está entrevistando uma testemunha de
crime, o investigador deve levá-la a narrar os fatos com suas próprias
Técnicas de Entrevista e Interrogatório Policial
18
palavras, informando tudo o que viu. Isto permite uma melhor aferição do
grau de credibilidade da informação. Além do mais, o entrevistador deve
estar ciente de que perguntas elaboradas em série e aplicadas no início
da entrevista condicionam o entrevistado a acreditar que ele será
indagado se alguma informação for necessária, caso contrário
permanecerá calado. Ao fazer poucas perguntas, visando criar uma
conversação, a pessoa perceberá que tudo o que sabe é significante e
não apenas a informação especificamente solicitada através de uma
determinada indagação. Não raro, pontos importantes deixam de ser
abordados por simples esquecimento por parte do investigador em
elaborar a pergunta certa.

Técnicas de Entrevista e Interrogatório Policial


19

É certo que muitas perguntas não podem ser respondidas


simplesmente com um “sim” ou “não”. O relato é imprescindível para um
completo entendimento dos fatos. Por outro lado, as perguntas fechadas
podem ajudar no caso de uma testemunha relutante, já que determinam
o que será ou não respondido através de respostas do tipo “sim/não”.
Contudo, é igualmente certo que muitas pessoas tendem a concordar
apenas para serem agradáveis ao entrevistador ou por não entenderem
a pergunta, ou, ainda, por receio em discordar. Concordar não significa
que se esteja falando a verdade.
Há ainda o tipo de pergunta que sugestiona ou induz a
pessoa a dar determinada resposta, surtindo o mesmo efeito daquelas de
“sim/não”. Por exemplo, se uma testemunha é questionada desta forma:
“o que ele fez então, colocou a droga no bolso?”, provavelmente
provocará uma resposta afirmativa, porque a testemunha não quer
parecer esquecida ou de pouca observação. Por outro lado, se a
pergunta for no estilo aberta: “o que o suspeito fez com as drogas?”,
poderá levar a testemunha a dizer que nada viu e, caso isto tenha
realmente acontecido, evitará uma falsa informação ao policial. Outros
exemplos de perguntas abertas são: “o que aconteceu então?” ou: “me
conte o que ele fez”.
Perguntas do tipo “pinga-fogo” devem também ser
evitadas. Muitos policiais, ao estilo do conhecido personagem Kojak,
gostam de emendar uma pergunta na outra antes mesmo que a
precedente tenha sido respondida. Pode parecer eficiente,
principalmente para aqueles que julgam ter um raciocínio rápido, mas no
fundo só serve para confundir a testemunha.
Imagine o seguinte o cenário: após o assalto a uma loja, o
policial se aproxima da vítima, que estava no caixa, se apresenta.
Sentindo uma certa ansiedade nela, dispensa algum tempo, a fim de
assegurar-lhe de que não há nada para se preocupar. Ele diz que
entende o trauma pelo qual ela passou, serve-lhe um copo de café e
evita fazer qualquer pergunta até que ela se recomponha. Ele então diz
que precisa de sua ajuda e pede que narre os fatos desde o início. Ela
relata os fatos na ordem cronológica do acontecimento. Terminado o
relato, o detetive diz que ela foi muito útil e que gostaria de rever toda a
história, acrescentando que se ela não se incomodar irá interrompê-la
com algumas questões à medida em que for falando. Reiniciada a
narrativa, ele passa a procurar por alguns outros detalhes que ela talvez
tenha esquecido de mencionar na primeira vez, tais como a possibilidade
de existência de uma outra testemunha, dados descritivos da arma
utilizada pelo assaltante, linguajar, sotaque, etc.

Técnicas de Entrevista e Interrogatório Policial


20
Este cenário ilustra uma situação com a qual se deparam
muitos investigadores e que não resulta propriamente da inabilidade do
policial em perguntar, mas simplesmente de testemunhas que não
conseguem dar as respostas. Respostas como: “eu não me lembro” ou
“isso foi tudo o que eu vi”, costumam frustrar aqueles investigadores que
realmente buscam a verdade, daí a importância de saber “como” e “o
que” perguntar, a fim de extrair a informação mais fidedigna possível.
Ainda dentro deste tópico, merece registro o fato de que,
no passado, alguns organismos policiais estrangeiros recorriam à hipnose
como um meio de realçar a memória. Os resultados satisfatórios apenas
confirmavam o que muitos já suspeitavam: o problema principal não
estava na falta de observação da testemunha, mas sim na sua
inabilidade de relembrar o que tinha visto.

V - Saber Ouvir

Saber ouvir é uma das mais importantes habilidades para


quem deseja se tornar um entrevistador de sucesso. São comuns as
entrevistas e interrogatórios nas quais o policial fala mais do que a pessoa
entrevistada, em um ritmo frenético e incessante de perguntas que
impedem sequer uma resposta completa; antes mesmo de a pessoa
responder à primeira pergunta, já lhe é dirigida outra, como no exemplo
acima, sobre as perguntas do tipo “pinga-fogo”.
Após colocar o sujeito em um estado comunicativo, o
entrevistador deve então concentrar sua atenção na informação que
busca, conduzindo-o para o tópico desejado e permitindo que fale com
um mínimo de interrupção. Nessa fase, o entrevistador deve estar alerta
para palavras inconsistentes ou omissões. Se isso ocorrer, é necessário que
faça algumas perguntas simplesmente para manter o entrevistado
falando, dentro do tópico que deseja.
É certo que perguntas inteligentes, contundentes, levam o
suspeito a confessar, mas quem confessa enquanto o investigador está
falando ? Ouvir é tão importante quanto questionar.
Como mencionado no item anterior, quando se discorreu
sobre as técnicas relativas às perguntas, é importante que o entrevistador
primeiro ouça a história completa, passando logo após a questionar
especificamente sobre questões cuidadosamente construídas ao longo
da narrativa da testemunha.

Técnicas de Entrevista e Interrogatório Policial


21
Outro aspecto importante a ser levado em conta em uma
entrevista é a linguagem não-verbal (também chamada de
comportamento ou comunicação não-verbal). As palavras por si sós
representam apenas uma pequena parte de qualquer mensagem;
sessenta e cinco por cento são não-verbais.
Para “ouvir bem”, o entrevistador deve expandir sua
atenção para além das palavras, estando atento ao tom de voz, contato
de olhos, expressões faciais, gesticulação das mãos, linguagem do corpo,
vestimenta e ambiente. As emoções e atitudes são normalmente
expressadas através da linguagem não-verbal e dificilmente por meio de
meras palavras. Por exemplo, se um ouvinte diz a seu interlocutor: “estou
muito interessado no que você diz”, mas sem que essas palavras tragam
em si a intensidade de gestos do ouvinte, tom de voz e movimento do
corpo, o total da mensagem demonstrará pouco interesse e entusiasmo
por parte desse ouvinte (a linguagem não-verbal será mais
detalhadamente tratada no tópico sobre “detecção de enganos”).
O entrevistador que não sabe ouvir interrompe a
testemunha; concentra-se nas perguntas em vez das respostas; esquece-
se de dar seguimento a certas questões, com vistas a esclarecer alguma
dúvida; é impaciente; não estabelece contato de olhos; e toma notas de
dados que não coincidem com a história contada.

Técnicas de Entrevista e Interrogatório Policial


22

Finalizando este tópico do estudo, no qual se discorreu sobre


a ESTRUTURA DA ENTREVISTA, pode-se afirmar que, geralmente, um
entrevistador será bem sucedido se adotar as seguintes atitudes:
• apresentar-se apropriadamente
• desenvolver um plano de ação
• deixar o entrevistado à vontade
• deixar o entrevistado falar
• selecionar as questões cuidadosamente
• saber “como” e “o quê” perguntar
• ser um bom ouvinte
• manter o controle da situação
• fazer pequenas anotações
• encerrar a entrevista apropriadamente
• preparar um relatório logo em seguida
• aprender com a experiência

6 - ENTREVISTA COGNITIVA

Dentro do estudo da estrutura da entrevista, alguns


pesquisadores incluem o tópico relativo à Entrevista Cognitiva.Tal
modalidade tem por fim realçar a lembrança da testemunha sem o
estigma dos processos de retirada de informações por meio da hipnose.
Embora o procedimento contenha pouca ou quase
nenhuma inovação, eles sistematizaram técnicas que os investigadores,
na maior parte do tempo, usam apenas esporadicamente. As pesquisas
realizadas sugerem que o enfoque cognitivo, nas entrevistas de
testemunhas, aumenta a quantidade de informação obtida e, ao
contrário da hipnose, não prejudica a credibilidade da testemunha
perante a corte.
As técnicas específicas de realce da memória utilizadas na
Entrevista Cognitiva, e que não fazem parte das tradicionalmente
utilizadas na entrevista comum, são as seguintes:

• reinstalação do contexto do evento


• recordação do evento em uma seqüência diferente
• visão do evento em uma perspectiva diferente
Técnicas de Entrevista e Interrogatório Policial
23

Técnicas de Entrevista e Interrogatório Policial


24

Entrevistas tradicionais de vítimas e testemunhas, similares às


anteriormente abordadas, costumam ser iniciadas com o entrevistador se
apresentando e tentando colocar a pessoa a vontade antes de
perguntar: “o que aconteceu?” ou “o que você pode me contar
sobre...?”. Logo após, são lançadas perguntas visando esclarecer os
pontos omissos ou obscuros deixados pelas testemunhas.
Os criadores da Entrevista Cognitiva sugerem que isto não
costuma produzir bons resultados. Pedir às pessoas que isolem eventos em
suas mentes para então verbalizá-los, requer que elas operem em uma
espécie de vácuo. Mesmo sem o trauma que freqüentemente resulta do
envolvimento ou do dano causado por um crime, a memória da pessoa
funciona melhor quando as coisas são colocadas dentro de um contexto.
O uso da Entrevista Cognitiva contribui para esse processo. “Você achou
as chaves do seu carro através da repetição dos passos anteriores ?”.
Ajude a testemunha a usar o mesmo processo.

Reinstalação do contexto

Os entrevistadores devem simplesmente se esforçar em


restabelecer o ambiente, a atmosfera, o cenário e as experiências,
pedindo à testemunha que reviva mentalmente os eventos que
ocorreram antes, durante e depois de crime.
Voltando ao exemplo anterior, sobre a cena de roubo na
loja, na qual o detetive havia se apresentado à vítima e solicitado sua
colaboração, em vez de perguntar-lhe o que aconteceu durante a ação
criminosa, ele pode proceder da seguinte forma, usando a entrevista
cognitiva: “que tal me contar como foi seu dia, desde a hora em que se
levantou, saiu de casa e chegou ao trabalho?”. À medida que ela relata
suas atividades, o detetive se junta à conversação, discutindo os eventos
ocorridos, aí incluídos os problemas de mães que trabalham fora, o que
ela preparou para o café da manhã e qualquer outro detalhe que seja
mencionado. Somente após ambos desenvolverem um quadro claro
daqueles eventos, é que o detetive deve sugerir que a vítima descreva o
seu percurso até o local de trabalho. Esta nova etapa da conversação
deve ser tratada da mesma maneira que a anterior. Ele não deve fazer
perguntas superficiais apenas para que ela chegue logo à cena do crime,
mas, ao contrário, deve discutir com ela detalhes de seu percurso até o
trabalho, tais como, a rota, as condições de tempo e tráfego, coisas que
ela observou pelo caminho e, finalmente, onde estacionou o carro e o
que ela percebeu naquele momento. Com isso, ele não quer que ela
simplesmente descreva o seu dia, mas sim que o reviva. Ele então usa a
Técnicas de Entrevista e Interrogatório Policial
25
mesma técnica para que ela descreva o momento em que chegou à
loja. No instante em que eles finalmente entram na discussão sobre o
assalto, o evento já está dentro de todo o contexto, ou seja, não é
apenas um evento isolado do dia. Freqüentemente, tal procedimento
realça a habilidade para recordar. A testemunha coloca o evento
criminoso dentro de uma perspectiva e assim se concentra e foca a
situação melhor do que quando solicitada a descrever isoladamente um
determinado evento.

Técnicas de Entrevista e Interrogatório Policial


26

Trocando a ordem dos eventos

A fim de realçar ainda mais a memória da testemunha, o


entrevistador deve entrar em uma outra fase da entrevista cognitiva. É
comum que as testemunhas liberem as informações que possuem de
forma cronológica. Contudo, quando assim agem, tendem a apagar da
memória a história contada, e isto resulta em um sumário baseado naquilo
que a testemunha considera importante. Embora os entrevistadores
freqüentemente tentem sanar tais problemas através da advertência de
que todos os detalhes - até os mais insignificantes – são importantes, a
maioria pode citar exemplos nos quais dados importantes não foram
mencionados, porque a testemunha simplesmente preferiu omiti-los.
Assim, os entrevistadores devem envidar todos os esforços no sentido de
encorajar a testemunha a contar tudo, embora tal tentativa em geral
apenas reduza essa tendência, sem eliminá-la.
Nesse sentido, deve-se utilizar uma técnica que leve a
testemunha a contar sua história em outra ordem cronológica, ou seja,
trocando a seqüência de sua lembrança, contando os fatos do final para
o início. Isto fará com que cada evento seja tratado isoladamente,
evitando-se distorções e exageros, que comumente ocorrem quando os
fatos fluem dentro de uma seqüência de eventos.
Retornando ao exemplo estudado, deve o entrevistador
perguntar à vítima sobre a conversa que teve com o primeiro policial a
chegar à loja, visando saber o que a mesma estava fazendo no exato
momento em que isso ocorreu, assim como antes e depois. Com essa
linha de questionamento, o investigador gradualmente chegará ao
momento do roubo, em um segundo relato do crime de maneira inversa.
Nesse ponto, ela recordará os fatos como uma coleção de peças vistas
independentemente, como alguém que olha para um cenário e revela
detalhes que esquecera quando da narrativa verbal. Olhando para os
estágios de um evento de trás para frente, a testemunha “verá” itens
antes despercebidos.

Trocando a perspectiva

Visando ainda estimular a memória da testemunha, os


pesquisadores também sugerem a troca de perspectiva sob o argumento
de que a testemunha experimenta um evento apenas uma vez, embora
possa percebê-lo de vários ângulos. A testemunha costuma fazer o relato
inicial, dentro de sua perspectiva pessoal e dificilmente dela se afasta.
Preparando-a para trocar fisicamente o posicionamento de sua memória,
Técnicas de Entrevista e Interrogatório Policial
27
o entrevistador lhe dá a oportunidade de lembrar um pouco mais da
experiência pela qual passou. Assim, deve o entrevistador fazer com que
a testemunha considere no seu relato o ponto de vista de uma outra
testemunha, vítima ou na perspectiva da lente de uma câmara fixada na
parede.
Com essa técnica, é possível conduzir a vítima à discussão
sobre o que teria a câmara gravado, caso existisse uma naquele local.
Esta técnica não apenas leva a um replay do evento de um ângulo
diferente, como também neutraliza um eventual trauma decorrente da
situação. “Rever um filme produz menos ansiedade do que reviver um
assalto à mão armada”.

Técnicas de Entrevista e Interrogatório Policial


28

7) CRÍTICA

Ao final do seu trabalho, o entrevistador deve fazer-se a


seguinte pergunta: “Se eu tivesse que repetir esta entrevista, o que faria
de diferente?”. Com esta indagação, surge uma chance de melhora, não
importando se a pessoa confrontada é um suspeito de assalto a banco ou
a própria vítima de um crime. Contudo, muitos policiais, até mesmo os
mais experientes, costumam ter problemas ao responder tal indagação.
Eles são tomados por um vago sentimento de ineficácia sem solução. “A
experiência é o melhor professor se você aprender através dos seus erros”.
Nessa linha de pensamento, os entrevistadores devem
analisar todo o processo ou não haverá progresso. Assim, devem
perguntar: “eu me preparei adequadamente? Desenvolvi e mantive o
rapport, fiz perguntas abertas, ouvi e verifiquei as respostas?”. Estas e
outras questões similares, baseadas na estrutura da entrevista, produzirão
melhoria no desempenho do entrevistador. Para tanto, vale relembrar,
resumidamente, alguns pontos:

- Desenvolva um plano de ação: revisão de dados


pertinentes e elaboração de questões que irão extrair as
informações desejadas.
- Conduza a entrevista privativamente: evita distrações e
interferências impróprias durante a entrevista.
- Deixe o entrevistado à vontade: emoção e stress produzem
uma testemunha difícil de ser avaliada; iniciar a entrevista
sem conversas ameaçadoras deixa a testemunha calma.
- Deixe o entrevistado falar: uma das maiores falhas do
entrevistador é falar demais; ele deve controlar a entrevista,
não dominá-la.
- Saiba questionar: saber “como” é tão importante quanto
saber “o que” perguntar; perguntas fáceis de serem
entendidas evitam perda de tempo em decifrá-las.
- Selecione as perguntas com cuidado: perguntas que
exigem respostas “sim/não” apenas confirmam ou negam
fatos; perguntas de respostas abertas forçam o entrevistado
a elaborar uma narrativa, possibilitando uma melhor
avaliação por parte do entrevistador.
- Seja um bom ouvinte: o entrevistador deve focar sua
atenção no que está sendo dito e como está sendo dito.

Técnicas de Entrevista e Interrogatório Policial


29
Não deve se concentrar na pergunta subseqüente e nem
analisar a resposta antes que tenha terminado.
- Não desafie as respostas dadas: o entrevistador não deve
externar suas reações emocionais e deixar que sentimentos
pessoais interfiram na entrevista.
- Esteja no controle: durante a entrevista, algumas pessoas
tentam se afastar das questões apresentadas. O
entrevistador precisa se preparar adequadamente, a fim de
assegurar que isto não ocorra.

Técnicas de Entrevista e Interrogatório Policial


30

- Faça pequenas anotações: elas permitem que o


entrevistador se lembre de detalhes importantes revelados
durante a entrevista. Por outro lado, as longas anotações
interrompem o contato dos olhos e levam o entrevistado a
diminuir o ritmo das respostas.
- Conclua a entrevista adequadamente; faça um sumário
logo depois e aprenda com a experiência.

Essas regras básicas, acima estudadas, são meras diretrizes


que devem ser seguidas quando se realiza uma entrevista. Embora não
aliviem todos os problemas que podem surgir, ajudam a desenvolver as
habilidades que são necessárias para criar um entrevistador de sucesso.
8 - MITOS DA ENTREVISTA

A maioria dos alunos policiais entra na sala de aula com


pouca ou quase nenhuma experiência em entrevistas. Além disso, trazem
consigo alguns mitos que os instrutores devem, antes de qualquer coisa,
tentar corrigir. Tais mitos, que nascem principalmente dos programas
televisivos e outras mídias, são muito mais difíceis de serem sanados, do
que propriamente o desconhecimento das técnicas aplicáveis à
entrevista/interrogatório.
Esses mitos são:

1) Técnicas de entrevista não podem ser ensinadas: como


muitos mitos, este contém elementos de verdade, suficientes para
perpetuá-lo. Porém, não é só a experiência que faz um bom entrevistador,
uma vez que aquele que inicia com maus hábitos, irá sempre repeti-los. É
necessário que o entrevistador aprenda as técnicas fundamentais,
aperfeiçoando-as com a prática.
2) Uma entrevista é uma lista de perguntas: como já citado
anteriormente, a maioria dos entrevistadores bem sucedidos define a
entrevista como “uma conversa com um propósito definido”, através da
qual, muitas técnicas devem ser empregadas, no sentido de extrair a
informação desejada e não apenas uma lista de perguntas.
3) Entrevistadores já nascem feitos: certos atributos pessoais
são importantes para o sucesso da entrevista. Contudo, se não forem
adequadamente aplicados, não surtirão os efeitos desejados.
4) O entrevistador deve se ater aos fatos: ao contrário dos
estudantes, que simplesmente obtêm informações de um livro inerte, o
Técnicas de Entrevista e Interrogatório Policial
31
entrevistador lida com uma fonte de informações que tem emoções e
sentimentos.
5) Ouvir é um processo natural, não uma habilidade: ao
contrário do que muitos pensam, ouvir é um processo ativo, que requer
consideráveis esforços por parte do entrevistador.
6) Fazer anotações é de fundamental importância: enquanto
perde tempo fazendo longas anotações, o entrevistador não só deixa
passar alguns fatos importantes, como também deixa de observar a
comunicação não-verbal da pessoa entrevistada.
7) O entrevistador deve dominar a situação: embora esta
afirmativa não esteja errada, o problema é a maneira como é
interpretada. Ao ensinar aos novos investigadores que eles devem
dominar a situação, é provável que muitos se apresentem à testemunha
com armas e distintivos à mostra. Isto certamente colocará a pessoa na
defensiva.

9- DETECTANDO MENTIRA

Este tópico trata das alterações comportamentais que


ocorrem quando as pessoas mentem. Saber identificá-las é muito
importante porque possibilita ao policial se orientar dentro de uma linha
de questionamento.
O exemplo a seguir foi extraído do Manual de Entrevista e
Interrogatório da Academia do FBI:
“Você viu algum tigre-de-dente-de-sabre ultimamente?
Caso positivo, seu sistema nervoso reagirá da mesma forma do que o dos
seus ancestrais; eles passaram para você o reflexo conhecido como a
‘síndrome do lute ou fuja’ (fight-or-flight syndrome). Este fenômeno realça
as funções do organismo, essenciais à sobrevivência durante uma crise,
enquanto põe de lado as outras funções irrelevantes.” Incluem:

- Liberação de açúcar e adrenalina na corrente sangüínea


- Aumento da pulsação e da respiração
- Ativação das funções das glândulas sudoríparas
- Dilatação das pupilas
- Desativação das funções das glândulas salivares
- Interrupção da digestão

Técnicas de Entrevista e Interrogatório Policial


32
A versão moderna do exemplo do tigre-de-dente-de-sabre é
representada quando o investigador encontra a “culpa”. Em tais
situações, ele solta a ameaça e essa ameaça irá produzir os efeitos que
foram desenvolvidos no homem, no decorrer da sua evolução. Por dentro,
o corpo se prepara para fugir ou lutar. Porém, há situações em que ele
não poderá correr, lutar ou mesmo apresentar qualquer indicativo de que
deseja realizar uma daquelas duas ações. Este conflito produz os seus
próprios sintomas, os quais, se observados, podem proporcionar mais
insight para o entrevistador.
Quase todas as pessoas demonstram uma certa ansiedade
e nervosismo quando estão prestes a serem entrevistadas por um policial.
Por isso, é importante atingir aquele estado de harmonia anteriormente
citado, que é o rapport, inclusive com relação à pessoa culpada, a qual
deve ser convencida de que não há qualquer ameaça imediata.
Desenvolvido o rapport, o entrevistador pode, através de
uma observação, enquanto discute detalhes rotineiros, avaliar qual é o
padrão de comportamento que o entrevistado apresenta quando está
falando a verdade. Tal padrão servirá de comparação quando a
entrevista chegar aos pontos críticos, onde normalmente o entrevistado
mente.
A fim de comprovar essa afirmativa, deve o entrevistador
ficar bem atento aos instantes iniciais de uma entrevista, quando são
dirigidas perguntas sobre as quais ele tem certeza que a pessoa não irá
mentir: dados pessoais, como filiação, endereço, profissão, etc. Essa fase
costuma ser encarada por muitos policiais como uma simples coleta de
informações que não têm a ver com o objetivo da investigação, daí o
costume de deixá-la exclusivamente a cargo de um outro funcionário,
geralmente o escrivão.
De uma forma geral, as pessoas exibem comportamentos
constantes, espontâneos e involuntários quando entrevistadas sob
condições estressantes. Movimentos do corpo, posições do corpo,
expressões faciais, sintomas psicológicos e paralinguagem refletem estes
comportamentos não-verbais. Saber interpretá-los, como dito
anteriormente, é de fundamental importância para a solução de um
caso, como se verá a seguir.

Movimento do corpo

Uma pessoa calma, com uma face que não demonstra


emoções, aliado a braços, pernas, mão e pés ativos, representa um
modelo distinto de decepção, ou seja, de que está mentindo. Regra
Técnicas de Entrevista e Interrogatório Policial
33
geral, quando entrevistados, os suspeitos que mentem inclinam menos o
corpo para frente e movem as pernas e pés significativamente mais do
que quando falam a verdade.
Muitas outras formas de comportamentos encontram-se
elencadas nas obras que tratam do tema. Os mais fáceis de serem
interpretados são aqueles relacionados aos movimentos de mãos e
braços, os quais proporcionam, ao entrevistador, uma avaliação crítica
sobre os sentimentos da pessoa. Como exemplo, o entrevistado/suspeito
que mantêm os braços cruzados de maneira frouxa pode indicar
relaxamento; quando cruzados firmemente e à altura do tórax pode
significar desafio ou recusa. Se tais gestos são difíceis de se interpretar,
deve o entrevistador prestar atenção às mãos do entrevistado, para ver
se estão relaxadas ou pressionadas. Os movimentos das mãos, em geral,
indicam incerteza. Quando uma pessoa mente, esses movimentos
diminuem e são substituídos por encolhimento dos ombros. Além disso, o
ato de esfregar as palmas das mãos indica expectativa, enquanto as
batidas e dedilhar dos dedos demonstram nervosismo, geralmente
associado a alguma mentira. A pessoa que gesticula na direção do peito
é geralmente identificada como sincera e honesta, enquanto que outra,
que leva as mãos à direção da boca, está em dúvida sobre o que diz ou
provavelmente está mentindo. Pessoas confiáveis tendem a gesticular
para o lado externo do corpo, ou seja, de dentro para fora; as que
mentem gesticulam ao contrário, de fora para dentro.
Existem várias outras modalidades de movimentos corporais
que poderiam ser aqui mencionadas e, embora muitas possam ser
facilmente observadas, devem ser consideradas apenas como uma parte
da avaliação global da pessoa entrevistada/interrogada, em sintonia
com as demais técnicas aplicadas ao processo.

Técnicas de Entrevista e Interrogatório Policial


34

Expressões faciais

Segundo os pesquisadores, quando as expressões faciais são


espontâneas, o movimento dos músculos tende a ser igual em ambos os
lados da face. Quando são deliberados, por exemplo, quando a pessoa
mente ou esconde algo, os músculos do lado esquerdo da face movem-
se mais do que os do lado direito. Assim, um observador astuto pode
utilizar-se de tais assimetrias como um indício, no sentido de determinar se
a pessoa está sendo sincera ou não.
Essas diferenças parecem ocorrer devido à maneira como o
cérebro regula os movimentos faciais. Os espontâneos passam pelo
centro cognitivo do cérebro. Já quando alguém conscientemente move
uma parte da face, os sinais se dão no córtex, que é a parte do cérebro
que dirige as decisões conscientes e que parece ser mais forte no lado
esquerdo do corpo.
Além desses indicadores faciais assimétricos, a face pode
ainda revelar algumas boas pistas quando combinada com outros
comportamentos não-verbais. Por exemplo, quando uma pessoa está
mentindo, o stress que lhe acomete internamente aumenta o ritmo de
piscada dos olhos de uma para duas por segundo. Esse tipo de stress
pode também fazer com que os olhos fiquem mais abertos que o normal.
Em tais situações, a pessoa evita o contato de olhos com seu interlocutor
ou dirige o olhar para outro local.

Sintomas psicológicos

Como dito anteriormente, quando uma pessoa mente, o seu


corpo passa por uma série de mudanças, dentre elas,o aumento da
transpiração, palidez da pele, pulsação acelerada e realce das veias da
cabeça, pescoço e garganta. Também ocorre secura na boca,
mudanças respiratórias e alterações na fala. Em certos casos, até
gagueira.

Paralinguagem

Há momentos, durante a entrevista, em que “o que” a


pessoa diz é menos importante do que “como” diz. O estudo da
paralinguagem destina-se a examinar a maneira como a pessoa fala e
todas as características de sua voz, sem se ater às palavras. Quando

Técnicas de Entrevista e Interrogatório Policial


35
corretamente aplicada, as variações podem indicar o momento em que
a pessoa mente. Nessas situações, ela fica menos fluente e gagueja mais.
As respostas são menos plausíveis, mais longas e contêm mais frases
repetidas e inacabadas. A tentativa de enganar faz com que a pessoa
também fique nervosa, resultando no aumento do volume da voz,
diminuição do ritmo da fala, maior hesitação antes de responder e menos
informações voluntárias.
Há, contudo, exceções. Quando a pessoa está sob
influência de drogas ou quando se tratam de criminosos profissionais ou
habituais, é possível que não exibam um comportamento não-verbal
normal.

Técnicas de Entrevista e Interrogatório Policial


36

Em suma, é certo afirmar que poucas pessoas enfrentam


problemas de ansiedade quando falam a verdade. Porém, quando
mentem o corpo e a mente enviam sinais involuntários que, corretamente
interpretados, podem indicar tal situação. A linguagem não-verbal é
dinâmica e complexa e, embora uma boa porção de tempo, esforço e
prática sejam necessários para tornar o entrevistador proficiente na
técnica de “ler” o comportamento não-verbal, o investimento pode ser
benéfico e compensador.

Mecanismos de defesa.

- Hostilidade: a mais freqüente. Até mesmo o inocente


aparenta hostilidade no início; acalma-se no decorrer do interrogatório, à
medida que outros problemas são resolvidos. O culpado ficará na
defensiva durante todo o interrogatório.
- Projeção: põe a culpa em todo o mundo.
- Desassociação: apresenta evasivas, usa palavras
monossílabas e evita especulações.
- Racionalização: “algumas pessoas merecem morrer, serem
roubadas, etc.”

Características dos mentirosos.

1. Falam na terceira pessoa: “eu vou lhe dizer uma coisa,


fulano de tal (citando seu próprio nome) é um homem
honesto”.
2. Chegam perto da verdade, tentando demonstrar falta de
medo.
3. Oferecem admissões simbólicas, uma técnica utilizada
para parecer inocente: “eu não roubei esses cem, roubei
dez em uma outra ocasião”.
4. Admitem tudo que pode ser provado e nada mais.
5. Tentam evocar o sentimento de culpa no interrogador:
“você não imagina o que é ser acusado falsamente”.
6. Utilizam-se de alguma referência: “veja o relatório policial,
eu dei essa informação lá ontem”.

Técnicas de Entrevista e Interrogatório Policial


37
7. Utilizam-se da técnica de argüir os aspectos legais do caso
para desviar a atenção da essência da situação.
8. Tentam desacreditar as testemunhas: “ela é vagabunda e
usuária de drogas. Por que você acredita nela?” Tentam
conduzir o interrogador ao debate sobre a credibilidade da
testemunha.
9. Tentam dispensar sumariamente o interrogador: “você
nunca entenderia isso”.
10. Fazem um grande esforço para convencer, enquanto o
inocente irrita-se após algum tempo. Não é possível insultar a
pessoa culpada porque ela sabe que você está certo.
Concluindo essa fase do estudo sobre a Estrutura da
Entrevista, mais especificamente no que tange à utilização de técnicas
voltadas à detecção de mentiras, percebe-se que a maioria dos
pesquisadores consultados entende que, após ouvir atentamente a
narrativa do suspeito e acreditar que o mesmo esteja mentindo - embora
sem ter certeza -, não deve o entrevistador passar rapidamente para o
interrogatório acusatório. Em vez disso, deve assumir a “técnica da
dominação benevolente”, a qual consiste no aprofundamento da
inquirição, ou seja, formular mais perguntas e obter mais respostas. As
perguntas superficiais não revelam as mentiras, mas as que exijam
detalhes minuciosos sim. Exemplo: “Você abriu a porta? Que mão você
usou?”. Este tipo de indagação impressiona o inocente sobre o quão
detalhista é o entrevistador, ao passo que o culpado tende a demonstrar
uma diferença marcante, que revela uma mudança em relação ao seu
comportamento anterior, considerado razoável. Contudo, problemas
podem surgir neste ponto se as questões forem muito acusatórias, levando
o suspeito a terminar o interrogatório. Portanto, melhor não dizer: “Você
não quer que eu acredite em uma asneira dessas”, mas sim: “Por quê?
Como isso pode ter acontecido?”, etc.

Técnicas de Entrevista e Interrogatório Policial


38

INTERROGATÓRIO

1 - CONCEITO

“Questionamento sistemático de um indivíduo no sentido de


determinar o seu próprio envolvimento ou de outrem em um ato
criminoso.”
Interrogar é perseguir, através da comunicação (uso da
pergunta e da persuasão), a realidade dos fatos nos quais tenha interesse,
na esfera policial, objetivando induzir alguém a revelar intencionalmente
uma informação oculta. Geralmente, essa informação tem caráter
incriminatório ou absolvitório. O interrogatório na investigação criminal ou
informações de segurança interna, bem como nos processos
administrativos, faz parte do processo operacional, e não do processo
propriamente dito, no sentido jurídico.
Em sentido amplo, o termo INTERROGATÓRIO pode ser
aplicado tanto às entrevistas quanto aos interrogatórios propriamente
ditos (em sentido estrito). De fato, quando a autoridade policial ouve uma
testemunha, o que se vê é uma espécie de interrogatório, através do qual
as perguntas são formuladas. A grande diferença entre a entrevista e o
interrogatório é que na primeira o que se procura são informações
geralmente não incriminatórias, ao passo que no interrogatório o
propósito é a busca de informações de natureza específica, que podem
incriminar, tanto o suspeito quanto outros indivíduos a ele vinculados.
Embora os processos sejam essencialmente os mesmos, o
interrogatório tem o objetivo adicional de fazer com que o indivíduo
admita sua conexão ou participação em fatos delituosos e, quase
sempre, é dirigido a elementos hostis e não cooperadores.

O interrogatório, na persecução penal, tem dupla


finalidade:

A) Diálogo entre autoridade ou agentes da autoridade


versus indiciado-suspeito-testemunhas, visando colher elementos de
convicção para a instrução do Inquérito Policial.

B) Ato formal – solene previsto no artigo 185 do CPP.

Considerado na lei como meio de prova e na doutrina


também como meio de defesa, o Interrogatório é um ato de instrução,
sob a presidência do juiz ou delegado, em que estes indagam ao réu ou
suspeito/indiciado sobre fatos a ele imputados na fase pré-processual ou
narrados na denúncia ou queixa. Deve ser executado tanto na fase
Técnicas de Entrevista e Interrogatório Policial
39
inquisitorial ou no curso do processo, e sua falta (no processo penal) é
causa de nulidade, quando presente o acusado.

Direito de permanecer calado – STF: “qualquer indivíduo que


figure como objeto de procedimentos investigatórios policiais ou que
ostente em juízo a condição jurídica de imputado, tem, dentre as várias
prerrogativas que lhe são constitucionalmente asseguradas, o direito de
permanecer calado. Ninguém pode ser constrangido a confessar a
prática de um ilícito penal. À acusação é que cumpre produzir a prova
de culpabilidade do acusado”. (o art. 5º, inciso XLIII, da Constituição
Federal torna sem efeito a segunda parte do art. 186 do CPP).

Técnicas de Entrevista e Interrogatório Policial


40

2- ESTRUTURA DO INTERROGATÓRIO

Apesar das peculiaridades de cada entrevista, a maioria


segue um formato geral em sua estrutura, como visto anteriormente.
O mesmo ocorre com o interrogatório. A terminologia pode variar
conforme o curso tomado, mas a maioria dos investigadores bem
sucedidos aplica muitas dessas técnicas e princípios básicos.

Fase 1 – Faça uma acusação

Há situações em que o entrevistador, após rever todos


os detalhes de uma entrevista bem conduzida, a despeito de todas as
negativas por parte do suspeito, conclui que pegou a pessoa certa.
Ele também se utiliza das técnicas da entrevista para realçar seu
entendimento sobre as motivações e valores do suspeito. Em seguida,
passa para a fase da acusação, deixando claro ao suspeito que
todas as informações já obtidas levam à conclusão de que ele está
mentindo, ou seja, que não está admitindo a culpa pela realização
ou participação no fato delituoso sob investigação.
Sem a acusação, o interrogatório de fato não se inicia,
e é isto que o diferencia da entrevista. Muitos policiais, contudo,
sentem certa dificuldade em chegar a tal ponto, restringindo-se a
discutir aspectos do crime ou outros assuntos sem cunho acusatório
que geralmente não surtem qualquer efeito no suspeito. Se não
houver imputação de culpa, não haverá uma negativa real. O
suspeito simplesmente ignorará o assunto.
Mesmo aquele que deseja confessar, raramente o fará
se não for confrontado com sua culpabilidade, já que a natureza
humana resiste em fazer algo desagradável, se outras opções
existirem. Nesse sentido, sem uma acusação firme, o suspeito
continuará na esperança de poder optar por outras saídas. O papel
do interrogador é justamente destruir estas esperanças como um
primeiro passo para chegar à confissão. Em suma: o suspeito deve
saber que o interrogador sabe que ele é culpado.

Fase 2 – Apresente um atrativo

Desse ponto em diante, o interrogador não deve mais


tolerar qualquer discussão, cortando imediatamente os comentários
Técnicas de Entrevista e Interrogatório Policial
41
ou defesas apresentados pelo suspeito. Deve deixar claro que toda
história tem dois lados, mas que, até aquele momento, ele só
conhece um, daí a necessidade de ouvir a versão do suspeito sobre
os fatos.
Feita a acusação, o objetivo passa a ser a obtenção
da confissão, a qual será bastante facilitada caso o interrogador
apresente razões aceitáveis para tanto. Embora muitos argumentos
possam ser apresentados nesse sentido, eles basicamente se resumem
em três principais ou na sua combinação. Para selecionar o
argumento apropriado, o interrogador deve decidir o que o suspeito
vai aceitar naquele momento em particular, sem se ater a regras
gerais.

Técnicas de Entrevista e Interrogatório Policial


42

As três razões principais resumem-se em:


a) redirecionar a culpa, ou seja, fazer crer ao suspeito
que, embora tenha realizado a ação ilícita, a culpa não foi sua, foi
idéia de outra pessoa;
b) proporcionar um bom motivo ou uma boa intenção
no sentido de sugerir ao suspeito que o seu comportamento tem
justificativa. Isto geralmente fornece a motivação necessária para a
obtenção da confissão;
c) reduzir a magnitude, que consiste em minimizar a
natureza da ofensa, levando o suspeito a admitir sua culpabilidade
em níveis que ele próprio considere aceitáveis. Um bom exemplo seria
fazer a comparação de sua conduta com outra que poderia ter sido
bem mais grave.

Fase 3 – Impeça as negativas

Normalmente, o culpado oferece alguma negativa


durante a fase de argumentação do interrogatório, a qual pode ser
aceita se ocorrer logo após a acusação. Isto dá ao interrogador a
chance de avaliar sua validade. Contudo, após essa negativa,
nenhuma outra deve ser tolerada, senão poderá reforçar o desejo do
suspeito em resistir, tornando a confissão mais difícil.
Tratando-se de uma pessoa inocente, a partir do
momento em que é acusada, o interrogatório tende a terminar ali, já
que em tais condições se sentem insultadas e passam a negar
firmemente a acusação ou até mesmo se recusarem a ouvir qualquer
outra coisa. As pessoas culpadas, porém, não se insultam tão
facilmente e, em um esforço de parecerem inocentes, fingem
demonstrar uma tolerância excessiva a todas as acusações. Tentam
debater com o interrogador e procuram colocar a negativa sempre
que este der uma pausa. Além disso, costumam interromper o
interrogador com questões como: “posso dizer uma coisa?”. Se a
permissão for concedida, apresentam uma nova negativa.

Fase 4 - Evite os protestos

Quando a negativa é mal sucedida, o culpado resolve


partir para o protesto. Imagine um exemplo, em que o filho diz para a
mãe: “mãe você sabe que eu não pegaria aqueles biscoitos; não sei
Técnicas de Entrevista e Interrogatório Policial
43
porque está me acusando, eu nem alcanço o pote no armário”.
Percebe-se que a criança em momento algum nega ter apanhado os
biscoitos. Em vez disso, faz uma explanação sobre o motivo que
aparentemente lhe impediria de fazer aquilo. Normalmente, tal tipo
de protesto contém um elemento de veracidade, que possibilita ao
acusado se defender através de um argumento tecnicamente viável.
Assim, o interrogador deve evitar tais protestos, a fim de não se
envolver em argumentações vagas. No exemplo acima, nada
impedia que a criança tivesse usado uma cadeira.

Fase 5 – Evite a distração (desligamento)

Quando as negativas e os protestos não surtem os


efeitos desejados, a maioria dos suspeitos tende a se alterar com a
situação, mas não o faz porque precisa manter a expressão de
inocência. Contudo, eles podem tentar escapar mentalmente da
situação, criando uma barreira invisível à comunicação, que evitaria
ceder às acusações formuladas pelo interrogador. O interrogador
então deve ficar atento à expressão do suspeito, a fim de se certificar
de que ele esteja “ouvindo” suas palavras. Para evitar o
desligamento, deve diminuir a distância entre ele e o suspeito, assim
como chamá-lo pelo primeiro nome ou até mesmo tocá-lo levemente
para que “volte” ao interrogatório.

Fase 6 – Ofereça uma boa/ má opção

Muitas pessoas gostam de ter opções porque acham


que isso lhes dá uma sensação de controle da situação. Não gostam
da idéia de serem compelidas a ter que fazer alguma coisa. Por outro
lado, opções demais podem levar à indecisão. Um vendedor de
automóveis, por exemplo, geralmente tenta influenciar um
comprador em potencial, alegando que aquele é o momento certo
para a aquisição do veículo, já que está com um ótimo desconto
promocional por tempo limitado. Eles fazem crer ao suposto
comprador que, já que ele terá mesmo que adquirir o carro, que o
faça imediatamente, para poupar o valor relativo ao desconto. Nesse
exemplo, o vendedor nem sequer chegou a perguntar à pessoa se

Técnicas de Entrevista e Interrogatório Policial


44
ela quer ou não comprar o produto. Simplesmente confrontou-a com
uma opção boa (com desconto) e outra ruim (sem desconto).
No caso do interrogatório, a mesma técnica pode ser
usada com êxito. Imaginando um caso de estupro, pode-se oferecer
ao suspeito duas alternativas: a de que ele é um ser desprezível por
ter cometido um crime hediondo, premeditado e violento; ou de que
agiu por impulso e foi vítima das circunstâncias que fugiram ao seu
controle. É provável que o suspeito vislumbre algum benefício caso
admita que agiu da segunda maneira, e aí ele estará confessando a
autoria do crime.

3- CLASSIFICAÇÃO DO INTERROGATÓRIO

Existem várias classificações de interrogatórios, porém,


podem ser assim resumidas: narração espontânea e interrogatório
inquisitório.

- Narração Espontânea

É um relato contínuo e ordenado de um fato ou incidente


ocorrido. É empregado para conseguir um resumo rápido do que um
indivíduo sabe ou daquilo que se deseja que ele diga sobre determinado
assunto.

- Interrogatório Inquisitório

a) direto;
b) reconstitutivo;
c) acusatório;
d) cruzado ou de contradição.

Interrogatório Inquisitório Direto

No interrogatório inquisitório direto, o interrogador formula


perguntas que vão diretas ao caso. É um interrogatório sistemático,
destinado a obter um relato relacionado com um fato ou incidente. Tem
por finalidade obter novas informações ou preencher os detalhes omitidos
durante a narração espontânea.

• Comece propondo questões que, provavelmente, não


farão com que o indivíduo se torne hostil.
Técnicas de Entrevista e Interrogatório Policial
45
• Faça as perguntas de maneira em que os fatos se
desenvolvam obedecendo a ordem da ocorrência ou em qualquer
ordem sistemática.
• Faça apenas uma pergunta de cada vez e formule-a de
forma a exigir apenas uma resposta.
• Faça perguntas diretas e francas; nada de blefes, truques
ou tiradas inteligentes.
• Dê ao indivíduo tempo suficiente para responder, não o
apresse.
• Tente ajudá-lo a lembrar, mas não sugira respostas e trate
de não deduzir uma determinada resposta apenas pela expressão facial,
gestos ou tipo de resposta dada.
• Se necessário, repita ou reformule as questões, a fim de
conseguir os dados desejados.
• Veja se entendeu perfeitamente as respostas, se não
forem perfeitamente claras, faça com que o indivíduo as explique.
• Dê ao indivíduo a oportunidade de modificar as respostas.
• Separe os fatos de conclusões ou opiniões.
• Faça comparações percentuais, fracionárias, estimativas
de tempo, distância, tipos de carros, reconhecimento de pessoas, para
determinar a capacidade de julgamento e as informações do suspeito.
• Obtenha todos os fatos. Quase toda testemunha ou
pessoa pode fornecer mais informações do que inicialmente admite
saber.
• Depois do interrogado ter feito sua exposição, faça
perguntas sobre cada assunto discutido. Pergunte-lhe sobre coisas de
menor importância e as respostas, em geral, revelarão pistas de interesse
relacionadas com as informações anteriormente prestadas.
• Quando terminar o exame direto, peça ao indivíduo para
que resuma suas informações e depois faça você mesmo um resumo
delas. Peça ao depoente que verifique se as conclusões estão corretas.

Técnicas de Entrevista e Interrogatório Policial


46
Interrogatório Inquisitório Reconstitutivo

No interrogatório inquisitório reconstitutivo, o interrogador


ajuda o interrogado a lembrar-se de fatos, procurando estimular
adequadamente sua memória. Nesse processo, procura-se ajudar o
suspeito (que nesse caso quer colaborar) a relembrar certos fatos,
fornecendo detalhes outros que, por indução ou dedução, avisem à
memória. Deve-se ter o cuidado de não sugerir as respostas ao
interrogado, sob pena do mesmo prestar declarações falsas. Pode-se
ainda utilizar o processo cronológico. Neste método, os fatos são bem
situados no tempo e no espaço pela rememoração de datas ou de
situações marcantes.

Interrogatório Acusatório

No interrogatório acusatório, o interrogado é apontado


frontalmente como tendo praticado tal ou qual ato ou como tendo
conhecimento de tal ou qual situação ou fato. É utilizado para interrogar
suspeitos de culpa certa ou quase certa. Ex. Prisão em flagrante.

Interrogatório cruzado ou de contradição.

É um interrogatório exploratório, destinado a verificar a


fidedignidade ou falsidade de afirmações anteriores, feitas pelo suspeito
ou testemunha. É de grande eficiência para testar a exatidão de
testemunhas, elucidar informações contraditórias, preencher detalhes
incompletos, avaliar a capacidade de julgamento da testemunha e
abalar a confiança dos transgressores.
O interrogatório cruzado ou de contradição não deve incluir
abusos. O interrogador deve sempre se mostrar amigável, porém,
reservado e insensível.
Faça com que o indivíduo repita o testemunho prestado
sobre um fato ou ocorrência algumas ou muitas vezes. Tente conseguir o
maior número de detalhes possíveis, sem, contudo, seguir uma ordem ou
seqüência definida. Para melhor se conseguir isso, deve-se fazer perguntas
diferentes de tempos em tempos, sobre um mesmo assunto.

♦ O que aconteceu?
♦ Por que isso aconteceu?
♦ Quando isso aconteceu?
♦ Quem estava lá?
♦ O que foi ele fazer lá?
♦ O que aconteceu após a ocorrência?
Técnicas de Entrevista e Interrogatório Policial
47

Técnicas de Entrevista e Interrogatório Policial


48
Inclua às vezes uma pergunta diferente ou detalhes
relacionados com o fato. Por exemplo:

♦ 1ª Pergunta: Onde você se encontrou com o acusado


pela primeira vez?
♦ 2ª Pergunta: Sobre o que falaram nesse primeiro encontro?
♦ 3ª Pergunta: O acusado disse-lhe algo sobre seus planos
antes do encontro já mencionado?
♦ 4ª Pergunta: Quanto tempo decorreu depois que você
teve conhecimento do plano do acusado, até o encontro mencionado?

Esteja atento para as respostas inconsistentes. Se ele se


lembrar de fatos, suas respostas serão provavelmente verdadeiras. O
indivíduo que mente acha necessário inventar detalhes adicionais. E o
que ocorre, em geral, é que ou o indivíduo se esquece do que afirmou
anteriormente ou inventa detalhes que contradizem suas declarações
anteriores.
É permitido o uso de perguntas sugestivas ou influenciáveis
durante o interrogatório cruzado (tais como: “você viu o acusado golpear
o supervisor, não viu?; você não teve dificuldade em distinguir João da
Silva à noite, não foi?; você estava a 1 km de distância do local?”.).
Se muitas das perguntas tiverem por finalidade obter
respostas falsas, o depoente poderá trair-se com afirmações falsas. Este
método poderá ser de grande ajuda para verificar a validade do
testemunho prestado pela testemunha, bem como para destruir a
autoconfiança do infrator.
Faça perguntas sobre informações desconhecidas como se
estas já fossem conhecidas. Use um tom de voz ou expressão facial que
dêem, sutilmente, a impressão de astúcia e conhecimento.
Escolha com critério as perguntas que têm probabilidade de
obter respostas verdadeiras, se você acertar várias suposições e for
cauteloso, o depoente poderá ser grandemente influenciado pelo que
pensa que você sabe.
Aponte as contradições. Geralmente, é melhor fazer todas
as perguntas que estimulem respostas falsas, antes de mostrar ao
depoente provas contraditórias ou que comprovem falsidade de seu
depoimento. Isso lhe dará chance para que arquitete grande número de
mentiras antes de aperceber-se de que está sendo levado a isso. Ao
verificar que caiu em logro e suas mentiras foram descobertas, sua
autoconfiança será totalmente destruída. Peça-lhe para que explique as
inconsistências ou contradições de seu depoimento. Mostre-lhe que o
estabelecimento de fatos anteriores, provas físicas, circunstâncias
contraditórias, etc., demonstrou serem falsas suas declarações.
Técnicas de Entrevista e Interrogatório Policial
49
Quaisquer explanação ou informações corrigidas, dadas
pelo depoente, devem ser submetidas ao interrogatório direto.
Aponte-lhe os sinais físicos evidentes de quem mente, tais
como nervosismo, aparência de culpabilidade, boca seca, suor nas mãos,
etc. Isto, geralmente, descontrola o depoente e ajuda a destruir sua
autoconfiança.
Raciocine com o depoente. Peça-lhe para que se coloque
no lugar de um investigador, um juiz, um jurado ou de um cidadão.
Mostre-lhe depois os itens da prova, um a um e pergunte-lhe, após cada
item, se não estaria convencido da mentira e da culpa, se tivesse de
julgar tais itens.
Exemplo: “Se você fizesse parte do júri, o que pensaria de
um homem que dissesse que não conseguiu lembrar o nome de seus
comparsas?”.
Resuma os fatos conhecidos e compare-os com as
declarações do depoente. Mostre-lhe depois como a conclusão lógica
leva a indicar que o indivíduo é culpado ou mente. Peça-lhe para que
explique, de uma vez, os itens contrários às provas, mostre-lhe quão
ilógicas foram suas respostas.

4 - PLANEJAMENTO DO INTERROGATÓRIO

Considerações Iniciais

Sendo o interrogatório uma das mais eficientes armas para a


obtenção e o desenvolvimento das informações, evidentemente é
necessário que seja cuidadosamente planificado para que se consiga o
máximo de rendimento quando de sua aplicação.

Esta planificação envolve dois aspectos:

1) O que é necessário saber, apurar ou esclarecer?

2) Como inquirir para atingir tal objetivo?

O que é necessário obter através de um interrogatório pode


ser agrupado em duas categorias de requisitos: os básicos e os
específicos.
Regra geral, os requisitos básicos são representados por
elementos ainda completamente desconhecidos ao se iniciar um
interrogatório. Compreendem, por exemplo, a ficha biográfica completa

Técnicas de Entrevista e Interrogatório Policial


50
do interrogado, suas atividades, relações, contato e conhecimentos sobre
o caso que está sendo apurado.
Já os requisitos específicos dizem respeito ao conhecimento
particular que é necessário obter quanto a determinados elementos, fatos
ou circunstâncias, compreendidos dentro do quadro geral da
investigação.
O planejamento de um interrogatório tem, assim, dois
objetivos principais:

a) Situar, perfeitamente, a potencialidade do interrogado


como fonte de informações.
b) Conseguir todas as informações que o interrogado
possui.

É evidente que somente uma parte do conhecimento de um


interrogado poderá interessar no desenvolvimento ou obtenção de
informações. Entretanto, é indispensável que seja obtido todo este
conhecimento. Uma das formas de planejar um interrogatório é pela
organização de questionários adequados que irão compor o plano de
interrogatório.

Técnicas de Entrevista e Interrogatório Policial


51
PREPARAÇÃO

a) Revista Preliminar

O primeiro passo no trabalho preparatório é a realização de


uma revista preliminar no interrogado, em busca de armas e qualquer
outra coisa que possa causar danos ao interrogador.

b) Revista do Local

O segundo passo é a revista do local ou área onde o


suspeito foi detido em busca de qualquer evidência ou prova. Este passo
deve se realizar conforme os procedimentos e normas legais vigentes, tal
como o Mandado de Busca e Apreensão, quando necessário. As outras
pessoas que se encontrarem presentes no momento da apreensão
deverão ser interrogadas sobre suas relações com o suspeito. É
aconselhável, quando possível, retirar o suspeito da vizinhança durante
esta fase, pois o investigador poderá recolher informações que sejam
convenientes, e que são ignoradas pelo suspeito, a fim de permitir melhor
condução do interrogatório.
Realizado este segundo passo, o suspeito deve ser
conduzido à Delegacia. Durante a condução, devem ser adotadas as
medidas necessárias para evitar que haja envolvimento ou discussão
sobre o porquê da detenção. Contudo, deve-se permitir que o suspeito
fale tanto quanto deseje. Assim, sem se dar conta, poderá revelar
informações que, mais tarde, poderão ser valiosas no interrogatório.

c) Revista Completa

Ao chegar na Delegacia, o suspeito deve ser submetido a


uma minuciosa revista. Poderá ser desnudado, se for necessário. Se for
encontrado objeto de grande valor probatório, este poderá ser
selecionado para ser utilizado como “arma” no interrogatório.

d) Providenciar Material Suplementar e de Auxílio

Tanto na entrevista como no interrogatório, são necessários


material suplementar e de auxílio. Podem ser de grande utilidade ao se
interrogar uma testemunha ou suspeito. Seu valor, entretanto, depende
de estarem corretamente dispostos e disponíveis quando necessários.
Alguns dos materiais de auxílio e suplementares são:
1. Declarações por escrito ou gravadas de outras
testemunhas ou suspeitos.
Técnicas de Entrevista e Interrogatório Policial
52
2. Fotografias de suspeitos, locais de crimes e provas.
3. Alinhamento de suspeitos para identificação.
4. Material ou instrumentos do crime.
5. Confronto com outros suspeitos ou testemunhas.
6. Informações anteriores.
7. Declarações provenientes de outras fontes, que devem ser
confirmadas ou desacreditadas.
8. Declarações anteriores do mesmo depoente.
9. Resultados de laboratório.
10. Laudos periciais, etc.
e) Verificação dos arquivos (bancos de dados)

Ao se completar a revista do suspeito em busca de alguma


prova ou evidência, o passo seguinte é verificar os bancos de dados. Estes
devem ser consultados durante cada fase da investigação. Os arquivos
de outras fontes também poderão ser solicitados.

f) Correlacionar dados

O passo seguinte é estabelecer a correlação dos dados


obtidos, isto é, todos os dados e evidências deverão ser revistos
cuidadosamente. Mesmo que o agente ou delegado tenha trabalhado
em determinado caso, desde o seu período inicial até o presente
momento, podem ser esquecidos pequenos detalhes desenvolvidos
durante o curso da investigação. O caso todo, informes anotados,
declarações de testemunhas, se houver, e os registros de evidência física,
tudo deve ser lido cuidadosamente com o objetivo de ter presente cada
detalhe. Em geral, este período se encerra com a preparação de uma
folha de notas, que servirá como guia e verificação durante o trabalho.

g) Plano de Interrogatório

O último passo na preparação do interrogatório é o


planejamento do interrogatório. O planejamento compreende duas fases:
o Plano Físico e o Plano Mental.

I - Plano Físico

A primeira preocupação deverá ser a preparação do local


do interrogatório.
O local ideal para o interrogatório de um suspeito deve ser
fechado, contar unicamente com o mobiliário indispensável: uma cadeira
para o interrogador e uma para o suspeito. Contudo, o número de
Técnicas de Entrevista e Interrogatório Policial
53
cadeiras poderá variar de acordo com o número de interrogadores. O
local deve ser desprovido de adornos, a fim de não causar a distração do
interrogado. As janelas podem ser com vidros foscos, pintados ou
recobertos com madeira, tela ou persiana. Esta providência é devido ao
fato que, por um impulso natural, o suspeito procurará olhar pela janela,
caso ouça um ruído. Assim, isto deve ser evitado, na medida do possível.
Com o objetivo de se observar as reações físicas que o
suspeito possa manifestar durante o interrogatório, o local deve ser
iluminado convenientemente. Se houver equipamento de gravação, já
deverá estar pronto e com sua instalação perfeitamente dissimulada.
O interrogador deverá cuidar para que durante o
interrogatório não haja interrupções. Uma vez começado o trabalho,
ninguém deverá entrar ou sair do local, salvo se esta movimentação fizer
parte do plano.
Se dispuser de espaço suficiente, poderá existir uma sala
anexa, onde um monitor permanecerá para auxiliar o interrogatório.
Nesta sala de monitoração estarão: o equipamento de gravação,
telefone (para comunicação com o interrogador) e o material necessário
ao interrogatório. Desta sala, através de uma pequena janela com vidro
espelhado (oferece visão apenas de um lado), o monitor acompanhará o
interrogatório.

II - Plano Mental

Agora que o local do interrogatório esteja completamente


pronto, o interrogador estudará que plano mental colocará em prática.
Depois de rever o caso desde o princípio, por meio de todos os dados
reunidos, o interrogador estará em condições de iniciar o trabalho,
devendo começar pelas seguintes fases: o que sabe, o que ignora, e o
que espera obter.

a) O que sabe

O interrogador deve expor, de forma breve, todos os fatores


que se referem ao caso e ao suspeito. Juntamente com esta relação,
deve organizar uma lista ou questionário das perguntas pertinentes ao
caso, para verificar se as respostas do suspeito estão ou não de acordo
com as informações conhecidas pelo interrogador.

b) O que ignora

Técnicas de Entrevista e Interrogatório Policial


54
Sob esta denominação, o interrogador deve incluir as
perguntas, referentes ao caso, que não foram descobertas durante a
investigação. São seis perguntas básicas: QUEM – O QUE – QUANDO –
ONDE – PORQUE – COMO.

c) O que se espera obter

Conterá o objetivo final do interrogatório. O fato de o suspeito vir


a admitir que é culpado ou que praticou o ato não é suficiente. Deve-se
procurar obter todos os esclarecimentos sobre o caso, a fim de ter
condições de prová-los plenamente.

Detalhes do Interrogatório

Todos os detalhes do interrogatório deverão estar previstos


no plano. Exemplo: o interrogatório será realizado por um único
interrogador ou não? Em geral, é melhor usar um único interrogador. Em
certos casos, porém, será aconselhável utilizar dois ou três interrogadores.
Quando se utiliza equipamento de gravação, os outros interrogadores
devem acompanhar o interrogatório de outra sala, ouvindo o gravador.
Os interrogadores deverão se reunir com o interrogador chefe para
preparar seus planos. O chefe deverá repassar o caso com seus auxiliares
e certificar-se de que eles entendam todos os seus aspectos. Quando isto
for obtido, deverá ser preparado um sistema de sinais a ser utilizado como
meio de comunicação entre os interrogadores, no sentido de indicar
quem conduzirá a maior parte do interrogatório, como assinalar que se
deseja fazer uma pergunta, etc.

Técnicas de Entrevista e Interrogatório Policial


55
ATRIBUTOS PESSOAIS DO INTERROGADOR

- Atitudes e Comportamentos

Conforme já visto no estudo do “Rapport”, para ser tornar


um bom entrevistador/interrogador é necessário que o investigador saiba
ajustar o seu comportamento, para que se harmonize ou domine os
muitos traços e modos das pessoas com quem se comunica.
Algumas das atitudes importante que devem ser observadas
durante a condução de um interrogatório:

♦ Não prejulgue um suspeito ou testemunha.


♦ Subjugue todos os preconceitos.
♦ Mantenha uma mente aberta e receptiva a todas as
informações.
♦ Tente avaliar cada progressão dos fatos pelo seu próprio
mérito.
♦ Aprenda a refrear o impulso de tentar impressionar o
suspeito ou testemunha, a menos que tal ação seja usada
especificamente como um truque de interrogatório.
Freqüentemente, os interrogadores, mesmo sem intenção,
fazem perguntas de uma forma a impressionar a pessoa
com sua importância ou capacidade. Isto ocorre sempre
e resulta em exibição de sarcasmo, raiva, desgosto e
outros atos indesejáveis, que diminuem o respeito ao
interrogador. O interrogador deve sempre suprimir seus
próprios incentivos emocionais e aplicar todas as suas
faculdades, visando o seu objetivo.
♦ Não subestime a estabilidade física ou mental da pessoa.
Em algumas ocasiões, uma ou ambas as faculdades
podem exceder à do interrogador. Contudo, sua posição
oficial e treinamento especializado o qualificam a
entrevistar e interrogar qualquer pessoa. Sempre trabalhe
na suposição de que o suspeito é inteligente.
♦ Evite atitudes desdenhosas (exceto quando usadas como
expediente durante um interrogatório).
♦ Evite zombarias.
♦ Não ridicularize.
♦ Não banque o arrogante.
♦ Não considere o sucesso como uma vitória.
♦ Mantenha todas as promessas.
♦ Não menospreze a pessoa ou sua informação.

Técnicas de Entrevista e Interrogatório Policial


56
♦ Evite ao máximo citar personalidades, religião, política,
assuntos que possam causar controvérsias.
♦ Seja justo.
♦ Evite andar de um lado para o outro na sala, ou outros
sinais que possam mostrar nervosismo de sua parte.
♦ Evite criar uma impressão que demonstre que você é o
único interessado em uma confissão ou condenação.
♦ Não grite.
♦ Evite antagonizar a testemunha/interrogado.
♦ Através de uma eficiente atividade, tente impressionar a
pessoa com a sua competência.
♦ Domine sem aparentar domínio, seja sério.
♦ Seja um bom ouvinte, tenha paciência.
♦ Mostre confiança na sua ação, seja persistente.
♦ Seja profissional, objetivo e lógico.
♦ Procure obter o máximo de dados possíveis em uma só
entrevista / interrogatório.
♦ Não divulgue dados sigilosos.
♦ Não entreviste/interrogue apressadamente.

TÉCNICAS UTILIZADAS PARA REDUZIR RESISTÊNCIA

Logros, blefes e insinuações são formas para influenciar pessoas.


Exemplos:

♦ Simular atitude hostil e amigável – Um investigador se mostra


hostil em relação ao suspeito e lhe dirige a palavra de maneira grosseira e
insultante. Um segundo investigador entra e reprova a atitude de seu
colega, com relação ao suspeito, e pede-lhe que deixe a sala. Continua
o interrogatório, solidarizando-se com o suspeito do mau tratamento
recebido (anjo mau e anjo bom).

♦ Jogar um suspeito contra o outro – Interrogar alternadamente


cada suspeito e fazer cada um sentir que o outro fez admissões que o
culpam. Para levar mais longe este blefe, faça com que um dos suspeitos
perceba a entrada na sala onde o outro suspeito está sendo interrogado.
O blefe assumirá um ar ainda mais verossímil se o suspeito puder ouvir ou
perceber o escrivão perguntar alguns dados ao outro suspeito e registrá-
los, por exemplo: pedir ao suspeito que soletre seu sobrenome ou
perguntar-lhe seu endereço.

Técnicas de Entrevista e Interrogatório Policial


57
♦ Ignorar o suspeito – Faça-o sentar em um lugar de onde possa
ser bem observado, enquanto o investigador e outros suspeitos se
locomovem, de um lado para o outro da sala, sem dar sinal do que está
acontecendo. Este tratamento resulta, muitas vezes, em apreensão ou
pânico e quebra de resistência do indivíduo.

♦ Mudar a ordem do interrogatório – Formular as questões,


obedecendo à ordem inversa da história contida no depoimento. O
suspeito poderá se trair em detalhes contraditórios.

♦ Observação/Escuta planejada – O suspeito pode ser colocado


em um local de onde possa perceber o que os investigadores discutem
em voz baixa, levando-se a acreditar que eles têm uma prova
incriminadora muito forte. É aconselhável que durante a conversação o
investigador olhe para o lado do suspeito.

Técnicas de Entrevista e Interrogatório Policial


58
♦ Declarações contraditórias – Deve-se pedir ao suspeito para
que descreva sua história duas ou mais vezes, pretextando, de cada vez,
inconsistência nos detalhes ou na fraseologia de seu depoimento. Isto
pode fazer com que ele se traía e faça admissões que explicarão as
contradições.

♦ Permitir que os comparsas fiquem juntos – Alguns, ou muitos,


suspeitos devem ser interrogados separadamente e depois, sob qualquer
pretexto, colocados juntos, em uma sala onde se achem instalados alguns
aparelhos de escuta. Geralmente, esses indivíduos não são cautelosos e
começam logo a perguntar, uns aos outros, o que aconteceu. Durante a
conversação podem revelar informações que os incriminem. O uso de tais
informações, em interrogatórios posteriores, podem apresentar excelentes
resultados.

♦ Acentuar detalhes secundários – Se o investigador ignorar os


principais elementos de um crime e concentrar sua investigação em
detalhes secundários, talvez consiga dar a impressão ao suspeito de que
conhece vasta quantidade de informações sobre a transgressão.

♦ Destruir álibis – Quando o suspeito protesta estar sendo


injustamente acusado, pois se encontrava em determinado local quando
o crime foi cometido, pergunte-lhe por fatos fictícios, ali ocorridos, ou pela
presença de pessoas imaginárias que lá se encontravam. Em tais casos,
quase sempre o suspeito fica muito embaraçado, pois não poderá saber
se não estiveram lá; outras vezes respondem afirmativamente, o que
demonstrará que está mentindo e seu álibi será destruído.

♦ Exagerar a culpabilidade – Procure mostrar que, se não


confessar, poderá responder por crime mais grave.

COMO USAR UM INTÉRPRETE NO INTERROGATÓRIO

Quando se utiliza um intérprete, é necessário que essa


pessoa fale fluentemente a língua do depoente. O conhecimento de
uma língua estrangeira, adquirido apenas em escola, muitas vezes não é
suficiente. Também não se deve usar um intérprete que conheça mal sua
própria língua. O intérprete precisa conhecer a língua suficientemente
bem para entender o que se deseja saber do depoente. Precisa ter um
bom vocabulário e saber como se constroem as sentenças, em ambas as
línguas, a fim de fazer uma tradução perfeita. Precisa estar apto a
transmitir informações ao indivíduo, bem como a refletir a atitude e
maneira de expressão desejadas pelo investigador. Mais, ainda, precisa

Técnicas de Entrevista e Interrogatório Policial


59
estar apto a reconhecer as peculiaridades das respostas do indivíduo e
chamar a atenção para isso.
Se o intérprete for estrangeiro, certifique-se de que não é do
mesmo lugar do depoente, a fim de evitar qualquer tendência pessoal,
tais como amizade, preconceito ou interesse comum.

♦ Deve atuar somente como veículo de interpretação, passando as


informações entre o investigador e o depoente.

♦ Deve imitar, o melhor possível, a inflexão de voz e os gestos do


investigador.

♦ Não deverá falar mais nada, além daquilo que lhe é dito pelo
investigador.

♦ Não importa o que o depoente disser, o intérprete deverá


transmiti-lo ao invés de tentar avaliar se a informação é ou não valiosa.
Isto inclui as observações ou exclamações mais significantes.

♦ Mesmo que o depoente conheça um pouco a língua falada pelo


investigador, ou vice-versa, todas as questões devem ser feitas através do
intérprete.

♦ O investigador deve controlar o intérprete e, através dele, o


depoente. Geralmente, terá que se restringir ao emprego de métodos
rotineiros de entrevista e interrogatório, devido às limitações do intérprete.
Quando terminar o interrogatório, antes do depoente deixar a sala,
pergunte ao intérprete sua impressão sobre o depoente.

FATORES DE INFLUÊNCIA FÍSICA E PSICOLÓGICA

As condições físicas predominantes ou previstas podem


freqüentemente ser controladas ou neutralizadas através de alguns
fatores:

Fumo: O fumo diminui, tanto a eficiência física quanto a


mental. O fator emocional é muito importante ao se determinar a
freqüência com que fuma o usuário mediano. Observando a proporção
de cigarros fumados, pode-se, possivelmente, obter indicações sobre o
temperamento emocional de um indivíduo e as flutuações em que o
mesmo incorre.
O fumar proporciona um alívio emocional a muitos
indivíduos. Durante os períodos de interrogatório, em que é aconselhável

Técnicas de Entrevista e Interrogatório Policial


60
manter o suspeito em estado de excitação, pode ser vantajoso impedi-lo
de fumar.

Tóxicos: Os opiáceos, compreendendo o ópio, a morfina, a


heroína e outras drogas semelhantes de combates à dor, exercem um
efeito depressivo sobre o sistema nervoso central.
A cocaína, ao contrário, é uma droga estimulante. Ela causa
uma sensação de hilaridade, acelera o intelecto por curto espaço de
tempo, fazendo o indivíduo parecer muito fluente em conversações. Mas,
ao final, é sempre seguida de uma sensação geral de depressão.
Os barbitúricos são drogas do tipo hipnótico ou sedativo,
que exercem um efeito depressivo sobre o sistema nervoso central.
Em geral, nem os efeitos da depressão, nem os efeitos
estimulantes dessas drogas são úteis durante entrevistas ou interrogatórios.
Sempre que possível, a inquisição de pessoas que estejam sob a influência
de drogas deve ser retardada até que elas alcancem um estado físico
mais próximo do normal.

Técnicas de Entrevista e Interrogatório Policial


61
Álcool: O álcool produz uma paralisia decrescente dos
sistemas cerebral e nervoso. O estímulo aparente do indivíduo deve-se à
remoção das inibições normais. Em ordem decrescente, surgem os
seguintes sintomas em indivíduo sob efeito do álcool:
- sensação de bem estar;
- exultação;
- maior autoconfiança;
- perda do discernimento;
- loquacidade;
- entorpecimento dos sentidos;
- perda da habilidade;
- linguajar indistinto;
- distúrbio do equilíbrio;
- distúrbio visual com referência à cor, movimentos e
percepção de distância;
- apatia;
- tremores;
- cessão dos movimentos automáticos;
- transpiração;
- coma;
- morte (4 a 5% de álcool no sangue).

Nos estágios iniciais da intoxicação ocorre uma acentuada


diminuição do autocontrole e um enfraquecimento da força de vontade.
Caso o suspeito esteja intoxicado, é aconselhável adiar a inquisição
formal até que ele esteja suficientemente sóbrio para ter consciência de
seus direitos constitucionais e de posse total de suas faculdades. As
pessoas intoxicadas possuem reduzida habilidade em forjar mentiras.
Entretanto, sofrem uma debilitação dos órgãos sensoriais e uma redução
na capacidade de discernimento e raciocínio. O investigador deve ser
cauteloso quanto às evidências fornecidas por pessoa intoxicada ou sob
efeito do álcool.

Café e chá (cafeína): A cafeína, tanto do café quanto do


chá, atua como estimulante mental e físico, retardando
consideravelmente o início da fadiga. Às pessoas que estejam sendo
reinquiridas ou interrogadas não se deve servir chá ou café. Entretanto,
durante entrevistas prolongadas, com testemunhas amistosas, o uso
dessas bebidas poderá aumentar a disposição mental e auxiliar no
processo da recordação de detalhes.

Fome e sede: As distrações resultantes do desconforto


gerado pela fome e pela sede interferem, tanto nas entrevistas como nos
Técnicas de Entrevista e Interrogatório Policial
62
interrogatórios. Como norma geral, deve-se fornecer comida e bebida a
essas pessoas.

Técnicas de Entrevista e Interrogatório Policial


63
Fadiga: A fadiga resulta do consumo de alimentos e o
acúmulo de produtos residuais que diminuem a eficiência do corpo.
Atividades físicas prolongadas ou extremas, perda do sono e emoções
fortes são fatores que geram a fadiga. A recuperação física ocorre
quando os produtos residuais são expulsos do sangue ou energia
adicional é levada às células. A fadiga produz uma resistência
aumentada ao funcionamento do sistema nervoso. Os processos inibitórios
mentais são, também, afetados pela fadiga e tendem a produzir reações
que devem ser observadas. Essa condição freqüentemente torna o
indivíduo mais sensível à persuasão e menos perspicaz durante a
inquirição.

Idade: As crianças, freqüentemente, são boas testemunhas.


Entretanto, as informações delas devem ser cautelosamente obtidas e
cuidadosamente avaliadas. Em alguns assuntos, elas observam melhor do
que os adultos, mas nem sempre são capazes de diferenciar o que vêem
realmente do que ouvem os outros dizerem. Uma imaginação fértil
poderá criar informações deturpadas ou falsas. Algumas crianças são
excepcionalmente susceptíveis de sugestão. Adotam as expressões de
outros como próprias ou respondem com a resposta que crêem ser a
desejada, em vez de relatarem os fatos somente. Elas geralmente se
cansam com facilidade e não devem ser interrogadas nessas condições.
As pessoas idosas são muito parecidas com as crianças, no que se refere
à susceptibilidade da sugestão. Em alguns casos, são também vítimas de
deficiência visual ou auditiva, memória fraca ou engano e alucinações,
que podem afetar seus depoimentos.

Sexo: Os homens geralmente são melhores testemunhas, no


que concerne às coisas mecânicas, tais como automóveis, aviões, etc. As
mulheres freqüentemente estão melhor informadas sobre assuntos sociais
e acontecimentos na vizinhança. Interessam-se pelas pessoas e suas
atividades, roupas, características, etc. São também mais emotivas do
que os homens.

Emoções: As emoções de maior importância para o


investigador são: a raiva, o medo e a neutralidade. Envolvem processos
físicos e mentais que preparam o indivíduo para enfrentar uma
emergência inesperada. Durante a raiva, o indivíduo está resolvido a
enfrentar a emergência, resistindo, inclusive, pelo combate físico, caso
necessário. A raiva contra o investigador é quase sempre prejudicial
quando parte do suspeito que esteja sendo inquirido ou interrogado. A
raiva, dirigida contra comparsas, cônjuge infiel, amigo traidor, etc., pode
ser útil durante as inquirições. Em geral, a raiva contra o investigador pode
ser evitada tratando o suspeito de maneira amistosa e passando a
Técnicas de Entrevista e Interrogatório Policial
64
impressão de que o investigador não é responsável de modo algum por
suas dificuldades atuais ou passadas.
Durante o medo, a pessoa tende a escapar. Isso pode ser
conseguido pelo esforço físico ou pela anulação da emergência
imediata, pelo abandono da resistência e desenvolvimento de uma
vontade de resolver o assunto mediante cooperação e declaração da
verdade. A emoção causada pelo medo é geralmente benéfica quando
se entrevista testemunhas hostis ou se interroga suspeitos. Na tentativa de
se obter depoimentos minuciosos de testemunhas amistosas, o medo
deve ser anulado. O medo resulta de qualquer perigo real ou imaginário.
Ele se desenvolve quando um indivíduo sabe o suficiente sobre uma
situação para perceber o perigo em potencial, mas não pode resolver
satisfatoriamente a dificuldade. O medo pode ser reduzido ou eliminado,
movendo-se a dificuldade real ou imaginária ou encontrando uma
solução que o indivíduo possa aceitar.
Na excitação neutra, o indivíduo é meramente preparado
para enfrentar o que quer que surja. A excitação neutra é de alguma
importância, por afetar a percepção da testemunha e poder transformar-
se em medo ou raiva, alterando a atitude mental. Geralmente, surge
quando o indivíduo tem consciência do perigo contra ele.
Condições emocionais do corpo são freqüentemente
derivadas pelo “hábito” desenvolvido através das repetidas reações
emocionais a situações variadas. Isso é chamado “reflexo” e existe em
quase todas as pessoas, no que diz respeito à mentira e formas
semelhantes de decepção. A maioria das pessoas demonstra alguma
emoção sempre que conscientemente diz uma mentira, não importando
qual seja. A raiva e a excitação estão também sujeitas a uma excitação
de reflexo condicionado que as faz surgir habitualmente em resposta às
emergências ou indicações de perigos em potencial.

Alucinações: Percepção de sensações sem objeto que lhes


dê causa direta. Interpretação anormal das experiências ideativas, como
percepções. As alucinações são fenômenos psicopatológicos pelos quais
as representações objetivas parecem ao indivíduo como percepções
verdadeiras. São comuns a diversos tipos de alienação, tais como: crises
delirantes de natureza tóxica (álcool, entorpecentes, etc). Normalmente
são fáceis de detectar durante um interrogatório.

Fabulações: São processos normais, iniciados por


perturbação amnésica parcial. O indivíduo preenche inconscientemente,
por representações subjetivas de aparência plausível, as lacunas da
lembrança, os fluxos da memória.

Técnicas de Entrevista e Interrogatório Policial


65
Ilusão: Percepção errônea de dados sensoriais presentes.
Errada interpretação de um fato ou de sensação. As ilusões são erros
parciais conseqüentes ao jogo espontâneo da atividade imaginativa,
dando lugar à alteração da percepção ou da lembrança. Constituindo
desvios ligeiros e passageiros do mecanismo de conhecimento, assumem
duas formas fundamentais, completando, transformando ou combinando
imagens incompletas ou esmaecidas. Assim, é evidente que o interrogado
poderá, mesmo com toda a boa vontade e desejo de cooperar, prestar
uma informação falsa, resultante de sua interpretação falha ou errônea
quanto ao fato do qual teve conhecimento. Da mesma maneira, uma
posição mental fundamentalmente diversa entre ele e o interrogador
poderá resultar em informações falhas ou mesmo falsas, por deficiência
de interpretação daquilo que está sendo transmitido por ele.

Preconceito: Uma pessoa que tenha preconceito por


alguma coisa, poderá, sem intenção de fazê-lo, prestar informação
distorcida. Uma pessoa que desgosta tremendamente do uso de bebidas
alcoólicas, poderá concluir que um vizinho que bebe estava embriagado
quando se envolveu em um acidente automobilístico. Se uma testemunha
odeia um suspeito, poderá prestar informações desairosas sobre ele e
ignorar as informações favoráveis.

Técnicas de Entrevista e Interrogatório Policial


66
TIPOS PSICOLÓGICOS

Os tipos psicológicos mais comumente encontrados nos


interrogatórios são os seguintes:

a) O “não sei de nada” – que reluta em dar qualquer


informação, alegando ignorância do fato. Se a observação prévia tiver
demonstrado que não se trata realmente de ignorância do fato (ou
simplesmente estupidez), a melhor técnica é a de formular um grande
número de perguntas que tenham respostas obrigatórias, inclusive de
assuntos gerais (esportes, mulheres, política, etc.) e assim mostrar ao
indivíduo que ele não é um imbecil. Mostrar, em seguida, a importância
que representam as informações que ele pode fornecer e a
inconveniência ou perigo de suas negativas, inclusive quanto ao aspecto
legal do falso testemunho.

b) O “desinteressado” – que não tem a ver, nem liga


àquilo que não diz respeito ao seu próprio mundo, deve ser tratado da
mesma forma que o tipo anterior.

c) O “desconfiado” e o “tímido” – são dois tipos


semelhantes, que requerem previamente a conquista da confiança,
inclusive em entrevistas sucessivas e com a troca de interrogatórios ou de
interrogadores. Algumas vezes, há o desconhecimento da real função do
interrogado ou a timidez pode resultar do temor das conseqüências que
poderão advir se o nome do indivíduo aparecer ligado ao caso.

d) O “falador” ou “papagaio” – deve ser conduzido


com cuidado, mas nunca interrompido. Só será capaz de relatar
informações falando muito e se for interrompido bruscamente poderá
acabar se “fechando”.

e) O “egocêntrico” – é o centro do mundo e o dono da


verdade. Para ele é indispensável que fique bem claro o papel central
que desempenhará nos acontecimentos. Requer muito cuidado e
paciência. Em geral, a exploração da vaidade de tais tipos dá excelentes
resultados.

f) O “mudo” ou “fechado” – simplesmente se recusa a falar,


é o mais difícil de lidar, principalmente se tem uma ficha policial. A única
maneira será tentar quebrar o gelo, com uma conversa banal, para ver se
conquista a confiança, mostrando então a importância das suas
informações.

Técnicas de Entrevista e Interrogatório Policial


67
g) O “cachaça” – os bêbados podem ser grandes
informantes principalmente porque, em virtude de sua condição, passam
desapercebidos e, muitas vezes, não são tomadas maiores precauções
em sua presença. É preciso, contudo, avaliar as informações que
forneçam.

h)Os “psicopatas” – podem também fornecer boas


informações, pois a vivacidade é uma das características do maluco. É
evidente, porém, que o valor de tais informações dependerá sempre do
tipo e grau do distúrbio mental.

i) O “mentiroso” – nunca deve ser interrompido, nem


decepcionado inicialmente. Deve-se, pelo contrário, dar corda e, só
depois, apontando uma série de inverossimilhanças ou de contradições,
mostrar que ele está mentindo, ameaçando com as providências legais a
respeito.
j) O “informante honesto” – não oferece dificuldades em
qualquer interrogatório adequadamente conduzido.

Interrogatório de suspeitos de culpa incerta ou duvidosa

Geralmente, há três linhas de abordagem que se oferecem


ao interrogador.

a) Tratar o suspeito, desde o início do interrogatório, como se


na realidade fosse considerado culpado. Vantagem do elemento
surpresa

b) Tratar o suspeito, desde o início do interrogatório, como se


fosse inocente. Vantagem de que ele ficará mais a vontade e poderá se
trair, tornando-se menos cauteloso.
c) Assumir atitude neutra, evitando qualquer frase ou
comentário que possa pender para um sentido ou outro, até que alguma
coisa indique a inocência ou culpa do suspeito.

1) Perguntar se sabe porque está sendo interrogado.


2) Perguntar o que sabe do fato sob investigação.
3) Obter do suspeito detalhadas informações sobre suas
atividades antes, durante e depois do crime. Ficar alerta sobre os alíbis
(teste-os, utilizando as técnicas de interrogatório).
4) Pedir ao suspeito que relate tudo o que sabe acerca da
ocorrência, da vítima e de possíveis suspeitos.
5) Quando certos fatos sugestivos acerca da culpa do
suspeito forem conhecidos, perguntar sobre os mesmos, de modo
Técnicas de Entrevista e Interrogatório Policial
68
aparentemente casual e como se tais fatos ainda não fossem sabidos.
Dar, ao mesmo, a oportunidade de mentir, a fim de que seja flagrado em
sua mentira. Isto lhe quebra a resistência.

Interrogatório de suspeitos de culpa certa

a) Emotivos

Indivíduos que cometem crimes no calor da paixão, do ódio


ou da vingança (agressores, homicidas, crimes sexuais, etc). Geralmente,
têm sentimento de remorso, angústia ou arrependimento.

1) Ostentar um ar de convicção na culpabilidade do


interrogado. Apontar as provas circunstanciais indicativas da
culpabilidade.
2) Chamar a atenção do interrogado para os sintomas
fisiológicos e psicológicos da sua culpabilidade.
3) Aparentar simpatia, reconhecendo que qualquer um, nas
mesmas condições ou circunstâncias, teria cometido o mesmo delito.
4) Jogar a culpa nas vítimas (redirecionar). Nos casos de
furto, roubo e apropriação indébita e aqui se refere de modo especial aos
criminosos primários, faça o jogo do mesmo, jogando a culpa na
sociedade, no patrão ou na vontade de enriquecimento rápido ou
necessidade de conseguir o bem objeto de crime.
5) Condenação do cúmplice. “Eu sei que você foi
influenciado pelos companheiros e que deu azar”.
6) O ato do amigo e inimigo. Alternância entre
interrogadores, sendo um bonzinho e o outro o carrasco.

b) Não Emotivos

Indivíduos que cometem o crime, visando vantagem


(mercenários, crime contra o patrimônio, homicidas profissionais, etc).

1) Ostentar um ar de convicção na culpabilidade do


interrogado.
2) Apontar as provas circunstanciais indicativas da
culpabilidade.
3) Chamar a atenção do interrogado para os sintomas
fisiológicos e psicológicos da sua culpabilidade.
4) Alertar para a inutilidade da resistência.

Técnicas de Entrevista e Interrogatório Policial


69
5) Quando houver insucesso na obtenção da confissão,
tente o uso de uma ponte, procurar uma admissão acerca de algum
delito de natureza relativamente menor.
6) Jogar um criminoso contra o outro, sendo cúmplices.

OBSERVAÇÕES FINAIS

- Os Riscos do Uso da Coação

As normas relativas aos depoimentos de testemunhas,


encontram-se descritas nos art. 202 e seguintes do Código de Processo
Penal. No âmbito do Departamento de Polícia Federal, o assunto está
disciplinado na Instrução Normativa n° 011/2001 (item 51 e seguintes).
No Brasil, a proibição do uso de força é extensiva a todos os
organismos policiais (exceto nos casos de exclusão de ilicitude – Art. 23 do
CP) e se aplica a todos os tipos de desconforto mental ou físico, bem
como às ameaças ou promessas impróprias (Lei n.º 9.455, de 07 de abril
de 1997). Não se deve esquecer também das garantias previstas no art. 5º
da Constituição Federal.
A força, quase sempre, resulta em anuências de indivíduos,
porém, dá pouca ou quase nenhuma certeza de validade. Em alguns
casos, pouca força já é suficiente para amedrontar uma pessoa a fazer
falsas declarações. Em nenhuma circunstância o abuso (tortura) se
justifica e o seu uso, além de constituir crime, classifica o investigador
como preguiçoso, incompetente ou sádico.

Técnicas de Entrevista e Interrogatório Policial


70
- Obrigação de Proteção dos Direitos das Testemunhas e Suspeitos (Lei
9.207/97 - Proteção de Testemunhas)

De acordo com a lei, o policial está obrigado a proteger os


direitos do cidadão, bem como a salvaguardar o interesse público. Sob
nenhuma circunstância poderá justificar uma violação desse direito pelos
seus próprios atos.
O policial só resolverá os crimes com sucesso, se souber
utilizar os processos que sejam legais e moralmente corretos, aliados à sua
habilidade e inteligência.

- As Pessoas são a Melhor Fonte de Informação

Geralmente, alguém conhece todos os detalhes importantes


de um crime. Várias outras pessoas podem conhecer o bastante para
tornar possível juntar os fatos. Se for possível obter eficazmente a
informação de uma ou de ambas dessas fontes, o caso estará
solucionado e os culpados, condenados.

- O Testemunho é, Quase Sempre, a Melhor Prova no Tribunal

Muitos casos são ganhos ou perdidos no tribunal,


simplesmente, em razão do que dizem as testemunhas ou os acusados em
seus depoimentos. Confissões ou testemunhos podem ser inadmissíveis, se
ilegal ou impropriamente obtidos. Uma investigação de um ato criminoso
torna-se de pouco valor, se a prova não puder ser apresentada no
tribunal.
Quando uma confissão é obtida através de um eficaz
processo de interrogatório, o réu dificilmente contestará sua culpa.

Técnicas de Entrevista e Interrogatório Policial


71
BIBLIOGRAFIA

1. ALVES, Léo da Silva; INTERROGATÓRIO E CONFISSÃO NO PROCESSO DISCIPLINAR,


ed. Brasília Jurídica, 2000, DF.
2. BERLO, David K; O PROCESSO DE COMUNICAÇÃO, Fundo de Cultura, 2ª Ed., Rio de
Janeiro, 1968.
3. FRITZEN, Silvio José; EXERCÍCIOS DE DINÂMICA DE GRUPO E DE RELAÇÕES HUMANAS,
Petrópolis, Vozes, 1973, Vol. 1 a 3.
4. GARRETT, Annette; A ENTREVISTA, seus princípios e métodos; Tradução de Maria de
Mesquita Sampaio e outros. 7ª Ed. Agir, Rio de Janeiro, 1977.
5. OLIVEIRA, Eudes; A TÉCNICA DO INTERROGATÓRIO, 3ª Ed. 1993, Ed. Revista dos
Tribunais.
6. LEIS, (Constituição Brasileira, Código de Processo Penal, Código Penal, Legislação
sobre Direitos da Pessoa Humana, Abuso de Autoridade, Lei 9.455/97 e 9207/97,
etc).
7. MINUCUCCI, Agostinho. DINÂMICA DE GRUPO: Manual e técnicas. 3ª Ed. São Paulo,
Atlas, 1977.
8. WEIL, P e TOMPAKOW, R. O CORPO FALA, Petropólis-RJ, ed. Vozes Ltda, 1999.
9. BROUGHAM, Charles G. Nonverbal Communication. In: FBI Law Enforcement Bulletin.
Quantico VA. 1992.
10. FEDERAL BUREAU OF INVESTIGATION. ACADEMY. Interview and Interrogation. 192nd.
FBI National Academy. Quantico-VA. 1998
11. HESS, John E. Interviewing and interrogation for law enforcement. Cincinnati-OH:
Anderson Publishing Co., 1997.
12. HOLMES, Warren. Listening for Deception. Palestra proferida na Academia do FBI.
Quantico-VA. 1997.
13. INSTITUTO BRASILIENSE DE PROGRAMAÇÃO NEUROLINGÜÍSTICA . Use a cabeça!
Curso de programação neurolingüística. Brasília-DF. 1996. Fotocopiado.
14. JENKINS, David. Interview and Interrogation. Washington-DC: DEA International
Trainning Division, 1998.
15. MINER, Edgar M. The importance of listening in the interview and interrogation
process. In: FBI Law Enforcement Bulletin. Quantico- VA. 1984.
16. RYALS, James R. Successful Interviewing. In: FBI Law Enforcement Bulletin. 1991.

João Pessoa-PB, 23 de abril de 2004.

Técnicas de Entrevista e Interrogatório Policial

Você também pode gostar