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O dia 11 de julho foi definido pelas Nações Unidas como Dia mundial de população e tem sido
comemorado a partir de 1989. Desde a criação da ONU, em 1945, a população mundial mais do
que triplicou e continua crescendo. O cronômetro demográfico indica uma população mundial
de 7,6 bilhões de habitantes em 2018. Desde 1800, quando a população mundial era pouco
menos de 1 bilhão de pessoas até 2023, quando terá 8 bilhões de habitantes, o crescimento foi
de 8 vezes.
A notícia boa é que este alto crescimento ocorreu pela queda das taxas de mortalidade e não
pelo aumento da fecundidade. O avanço das condições de vida, as conquistas da medicina e a
melhoria das condições de higiene e de saneamento básico (principalmente água tratada)
possibilitaram uma grande diminuição das taxas de mortalidade, em geral, e da mortalidade
infantil, em particular.
Segundo Roser (2018), a mortalidade global na infância (percentagem de mortes nos primeiros
5 anos de vida) estava acima de 400 por mil entre 1800 e 1860, caiu para 362 por mil em 1900
para 239 por mil em 1940, para 76 por mil no ano 2000 e chegou a 43 por mil em 2015. Ou seja,
no espaço de cerca de 150 anos a taxa de mortalidade na infância diminuiu 10 vezes. A
expectativa de vida ao nascer global, que estava abaixo de 30 anos antes de 1870, subiu para
34,1 anos em 1913, passou para 48 anos em 1950 e chegou a 66,4 anos no ano 2000. Portanto,
a idade média de vida mais que dobrou no século XX, constituindo-se em uma das maiores
conquistas sociais da história da humanidade.
Antes da queda das taxas de mortalidade, as instituições da sociedade (família, Estado, igrejas,
etc.) se organizavam para garantir altas taxas de fecundidade para se contrapor à mortalidade
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precoce. Porém, quando o número de filhos sobreviventes começou a aumentar, o número ideal
de crianças em uma família era atingido mais cedo e, em termo macro, as taxas de reposição
populacional eram atingidas também mais cedo. Desta forma, não era mais necessário manter
proles numerosas para atender o crescimento das famílias e das nações.
Assim, mulheres e homens vivendo mais tempo e atingindo o tamanho desejado de família com
antecedência, passaram a demandar métodos contraceptivos para regular a fecundidade e fazer
coincidir o número de filhos tidos com o número de filhos desejados. Portanto, ter como espaçar
o nascimento dos filhos e limitar o tamanho da prole passou a ser uma necessidade das famílias,
especialmente das mulheres que queriam ter uma profissão e um projeto de vida e não podiam
garantir sua autonomia diante do fatalismo (“seja o que Deus quiser”) da alta fecundidade.
De fato, a demanda por métodos contraceptivos começou ainda no começo do século XIX. O
artigo “Neo-Malthusianism in the Early 20th Century” (MARTINEZ-ALIER, e MASJUAN, 2004)
mostra que houve um movimento pelo direito de regulação da fecundidade nos primórdio do
movimento operário. Em 1822 Francis Place, um alfaiate de profissão e sócio do socialista
utópico Robert Owen, publicou pela primeira vez, em Londres, “Ilustrações e Provas do Princípio
da População”, em que busca divulgar métodos contraceptivos. Outras personalidades seguiram
Place e Owen na mesma preocupação, incluindo Richard Carlisle, que em 1825 escreveu “What
is Love?”. Estes e outros trabalhos foram amplamente disseminados na Inglaterra durante o
primeiro terço do século XIX, tendo ampla aceitação do público, mas perseguição
governamental. Estas preocupações com a regulação da fecundidade chegaram aos Estados
Unidos por meio do próprio Robert Owen, quando fundou sua colônia de inspiração comunista,
Nova Harmonia. Já em 1835, o filho de Robert Owen, Robert Dale, publicou o folheto
neomalthusiano intitulado “Moral Physiology” em Nova York, sendo que várias edições foram
impressas até 1877 na Inglaterra e nos Estados Unidos.
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Em 2005, a Secretaria Especial de Políticas para as Mulheres (SPM) lançou a “Política Nacional
de Direitos Sexuais e Direitos Reprodutivos” cujos objetivos eram: a) Ampliação da oferta de
métodos anticoncepcionais reversíveis no SUS – o Ministério da Saúde se responsabiliza pela
compra de 100% dos métodos anticoncepcionais para os usuários do SUS (até então, o
Ministério era responsável por suprir de 30% a 40% dos contraceptivos - ficando os outros 60%
a 70% a cargo das secretarias estaduais e municipais de saúde); b) Ampliação do acesso à
esterilização cirúrgica voluntária no SUS, aumentando o número de serviços de saúde
credenciados para a realização de laqueadura tubária e vasectomia, em todos os estados
brasileiros; c) Introdução de reprodução humana assistida no SUS. Em 2007, o governo Federal
lançou a “Política Nacional de Planejamento Familiar”, que tem como meta a oferta de métodos
contraceptivos de forma gratuita para homens e mulheres em idade reprodutiva e estabelece
também que a compra de anticoncepcionais será disponibilizada na rede Farmácia Popular.
“Princípio 8: Toda pessoa tem direito ao gozo do mais alto padrão possível de saúde
física e mental. Os estados devem tomar todas as devidas providências para assegurar,
na base da igualdade de homens e mulheres, o acesso universal aos serviços de
assistência médica, inclusive os relacionados com saúde reprodutiva, que inclui
planejamento familiar e saúde sexual. Programas de assistência à saúde reprodutiva
devem prestar a mais ampla variedade de serviços sem qualquer forma de coerção.
Todo casal e indivíduo têm o direito básico de decidir livre e responsavelmente sobre o
número e o espaçamento de seus filhos e ter informação, educação e meios de o
fazer” (p. 43).
Assim, nos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) se reafirmou o que foi acordado na
CIPD do Cairo e nos ODM e uma nova meta foi remarcada até 2030, tal como nos itens abaixo:
“3.7 Até 2030, assegurar o acesso universal aos serviços de saúde sexual e reprodutiva, incluindo
o planejamento familiar, informação e educação, bem como a integração da saúde reprodutiva
em estratégias e programas nacionais”.
“5.6 Assegurar o acesso universal à saúde sexual e reprodutiva e os direitos reprodutivos, como
acordado em conformidade com o Programa de Ação da Conferência Internacional sobre
População e Desenvolvimento e com a Plataforma de Ação de Pequim e os documentos
resultantes de suas conferências de revisão”.
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de milhões de mulheres não têm acesso a cuidados básicos durante a gravidez e o parto,
necessários para protegerem sua saúde e a saúde dos recém-nascidos.
O planejamento familiar, como diz a Constituição Federal, é um direito das pessoas e dever do
Estado fornecer as informações e os meios para a regulação da fecundidade e deve haver
disponibilidade de um mix contraceptivo “sem qualquer forma de coerção”. Neste sentido, é
completamente equivocado a decisão de um membro do Ministério Público que forçou uma
esterilização de uma mulher pobre, em situação de rua, e que tem diversos filhos, chamada
Janaína Aparecida Quirino, de 36 anos. Como Janaina não consentiu ou voluntariamente se
prontificou a realizar a cirurgia, o promotor propôs duas ações judiciais contra ela e o município
de Mococa, com o objetivo de constrangê-la a realizar um procedimento de esterilização
compulsória. Este tipo de ação não está em acordo com as resoluções da CIPD do Cairo.
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