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Reformar é esvaziar

Pedro Pamplona

Paulo tinha um motivo urgente quando escreveu aos Filipenses dizendo “sede meus imitadores”
(Fp 3:17). A razão para essa ordem é a presença perigosa dos “inimigos da cruz de Cristo” (Fp
3:18) no meio e ao redor da igreja. O apóstolo estava preocupado em estabelecer um bom
exemplo cristão diante da ameaça dos maus exemplos. Ele tinha em mente aquela máxima que
se faz verdadeira até hoje: nós estamos sempre imitando alguém. Isso faz parte da nossa
essência criada a imagem de outro. Numa linguagem mais teológica eu diria que somos sempre
a imagem de alguém. De quem?

Paulo chamou a responsabilidade de ser essa imagem humana que aponta para a imagem de
Deus em Cristo (1 Co 11:1). E fez isso dentro de um contexto especial em Filipenses, o do
esvaziamento. Quero que você tire um tempo agora para ler as duas pequenas histórias que
Paulo conta nessa carta. A primeira está em 2:5-11 e fala sobre a encarnação e o esvaziamento
de Cristo. A segunda está em 3:4-11 e fala sobre a conversão e esvaziamento de Paulo.
Provavelmente você já leu esses textos várias vezes, mas pode nunca ter parado para compara-
los. São duas histórias com aspectos diferentes (divino e humano), mas com o mesmo padrão
de esvaziamento, humildade e serviço.

Esse é o contexto do imperativo “sede meus imitadores”. E esse padrão é exatamente o oposto
daquele descrito por Paulo sobre os inimigos da cruz de Cristo. Esses idolatram o próprio ventre
e enganam-se satisfazendo seus próprios desejos terrenos (Fp 3:19). Os inimigos de Cristo são
aqueles cheios de si mesmos. Quão diferentes são esses comportamentos! E é nessa diferença
que peço sua reflexão hoje. Ser reformado é ser vazio de si mesmo. É se colocar em posição
humilde. É se colocar a serviço da igreja. É servir de bom padrão do esvaziamento cristão. Os
cinco solas e as doutrinas da graça* são grandes verdades e ferramentas de esvaziamento. O
reformado não é alguém cheio de si mesmo, mas cheio do Cristo humilde e servo (Fp 2:5).

Agora olhe para sua vida e suas redes sociais. Elas seguem o “padrão Cristo-Paulo” ou o “padrão
inimigos da cruz de Cristo”?. Elas refletem alguém vazio ou cheio de si mesmo? Refletem alguém
que se doa pela igreja ao alguém que só cobra da igreja? Pense nisso. E saiba que assim como
na igreja, a reforma em nossas vidas é constante. Cristão reformado, sempre se reformando. O
pecado buscará nos encher de nós mesmo, mas reformar é esvaziar. Cristão reformado, sempre
se esvaziando. E quando você estiver vazio de si mesmo, poderá então ser um padrão não de si
mesmo, mas do Cristo que o preencheu. Soli Deo Gloria!

*Esse é o padrão mais abrangente (soteriológico) de “reformado” que estou usando.

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