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INTRODUÇÃO

Quero começar falando sobre amizade no geral e usarei uma afirmação que escutei de
John Piper:

“Jesus nunca pretendeu que o desfrutar de sua presença substitui-se o


desfrutar da presença de amigos cristão”.

“Quando Cristo morreu para que pudéssemos desfrutá-lo supremamente, ele


não anulou o desfrutar da amizade cristã. Ele o criou quando morreu”.

O fato de desfrutarmos de Jesus não indica que não podemos ou devemos desfrutar
de amizades cristãs. Ele morreu também para criar esse grupo de pessoas chamado
igreja.

Deixem-me fazer agora uma distinção importante para nós entendermos a


profundidade do que é amizade.

Em seu livro Os Quatro Amores, C. S. Lewis dedica um capítulo para falar sobre o tipo
de amor que é a amizade. E afirma que muita gente não sabe o que é amizade e não
valoriza a amizade porque nunca teve, de fato, amizades verdadeiras. Então ele
propõe a distinção entre companheirismo e amizade.

Lewis define o companheirismo como aquela união entre pessoas que precisam ou
desejam fazer algo em comum. Ele usa o exemplo da caça e das batalhas na
antiguidade. Homens precisam entrar em cooperação para se alimentar e defender
suas vidas. Hoje isso é feito para trabalhar e gerar renda e para praticar um esporte,
por exemplo. As pessoas seria companheiras de trabalho.

A amizade não deve ser confundida com isso. Ela é mais profunda. Lewis afirma:

“A amizade brota do mero companheirismo quando dois ou mais dos


companheiros descobrem ter em comum alguma perspectiva ou interesse, ou
até gosto, que os outros não compartilham e que, até o momento, cada um
acreditava ser seu próprio tesouro (ou fardo) singular.” (p. 92)

É interessante o ponto de Lewis para nossa definição de amizade cristã. Não está só no
fato de frequentarmos a mesma igreja, mas em termos o mesmo tesouro. O que ele
chama de companheiros, hoje, nós chamamos de colega. Colega de trabalho, colega da
faculdade. Para além do coleguismo estar o desfrutar de um tesouro em comum e de
uma relação mais íntima e de confiança em torno do que une a amizade

Assim eu definiria a amizade cristã assim:

“É um vínculo afetivo entre as pessoas, centralizado em Cristo, enquanto


perseveram na fé com verdade e confiança”.

Agostinho disse que há duas coisas de grande valor no mundo: vida e amizade.
Amizade que ensina

Essa amizade é uma amizade dentro de uma jornada, a jornada da fé. Uma jornada de
crescimento e perseverança na fé cristã. E tal jornada envolve o aprendizado. O
ministério de Jesus foi um ministério de ensino, o ministério dos apóstolos foi um
ministério de ensino. A vida cristã é uma vida de ensinar e aprender!

Ensino faz parte da missão dada a igreja em Mateus 28

Portanto ide, fazei discípulos de todas as nações, batizando-os em nome do Pai,


e do Filho, e do Espírito Santo; Ensinando-os a guardar todas as coisas que eu
vos tenho mandado; e eis que eu estou convosco todos os dias, até a
consumação dos séculos. Amém. (Mt 28:19-20)

Portanto, é esperado de amizades cristãs que elas sejam amizades que ensinam. Vamos
olhar para o texto de Colossenses 3.16:

“Habite ricamente em vocês a palavra de Cristo; ensinem e aconselhem-se uns


aos outros com toda a sabedoria, e cantem salmos, hinos e cânticos espirituais
com gratidão a Deus em seus corações.” (Co 3:16)

Podemos tirar algumas conclusões sobre o ensino entre amigos cristãos:

 O capítulo 3 de Colossenses é uma descrição feita por Paulo da vida espiritual


centralizada em Cristo. Ele está levantando marcas desse novo estilo de vida de
alguém que tem sua identidade em Jesus. Portanto o ensino e aconselhamento
mútuo é marca de uma vida espiritual centralizada em Cristo!

 O ensinar uns aos outros descentraliza a responsabilidade de ensino do pastor ou


líder espiritual. Paulo está afirmando que é uma responsabilidade mútua. O
cristão não foi chamado para deixar o ensino somente nas mãos dos líderes.
Ensinar por meio de relacionamento, conversas e amizade não requer um dom de
ensino como o ser pastor e pregar requer.

 O ensino de uns aos outros é uma das formas que faz a mensagem sobre Cristo
habitar ricamente entre nós. Imagine o crescimento espiritual de uma igreja em
que os amigos se reúnem para ter conversar intencionais sobre o evangelho e a
vida cristã. Onde uns aprendem e são advertidos por outros. A pregação fala de
forma geral, a amizade pode aplicar de forma específica. Os pastores não
conhecem o seu amigo como você conhece!

A amizade cristã que ensina é uma grande benção para os amigos, para toda a igreja e
para a sociedade. Homens humildes que aprendem uns com os outros é uma necessidade
dos nossos dias!
O exemplo de Tolkien e Lewis

Tolkien, autor de O Senhor dos Anéis, e C. S. Lewis, autor de As Crônicas de Nárnia,


foram bons amigos.

Eles se encontram pela primeira vez em 11 de maio de 1926 (quase há exatos 93 anos) e
dali nasceu uma amizade que praticou o ensinar um ao outro.

Eles participavam de um grupo de amigos escritores que se reunia em Oxford chamada


Inklings. E ali eles liam suas obras uns para os outros e cada um avaliava o trabalho dos
outros e melhorias eram propostas. Tolkien e Lewis foram o que mais fizeram isso.

Um grande resultado dessa amizade foi a conversão de Lewis ao cristianismo. Quando


conheceu Tolkien ele era um ateu, altamente naturalista, e achava que os cristãos eram
pessoas alienadas e ignorantes. Ao conhecer Tolkien ele viu um cristão com uma mente
brilhante e suas conversas sobre os evangelhos e interesses em comum ajudaram Lewis
a se tornar um cristão

“Lewis tinha motivos para estimar Tolkien, cujas opiniões sobre mito, história e
imaginação o ajudaram por fim a crer na existência de Deus. A concordância de
mentes, tanto sobre imaginação quanto sobre a verdade do cristianismo, tornou-
se o fundamento de sua notável amizade” (Colin Duriez)

Além de participarem das obras um do outro, com opiniões, conselhos e ensinamentos,


eles se encorajaram mutuamente. Principalmente Lewis a Tolkien. Era como se ele
estivesse dizendo: Coloque o que você sabe e aprendeu em prática, continue, vá em
frente!

Tolkien escreveu sobre Lewis:

“A dívida impagável que devo a ele não foi influência como se compreende
normalmente, mas sim puro encorajamento. Por muito tempo, ele foi minha única
plateia. Foi só por ele que cheguei a ter a ideia de que minhas coisas poderiam ser
mais do que um passatempo pessoal. Não fosse seu interesse e avidez incessante
por mais, eu jamais teria levado O Senhor dos Anéis a uma conclusão” (Em Colin
Duriez)

Nós não teríamos Lewis do nosso lado (o maior apologeta cristão do século 20) se
não fosse pela amizade de Lewis e Tolkien. E não teríamos O Senhor dos Anéis, a
maior história já escrita do mundo recente, se não fosse pela amizade Lewis e
Tolkien. Olhe só o que nós perderíamos se não fosse por essa amizade de ensino e
encorajamento daquilo que foi aprendido.

Colin Duriez, a partir dessa amizade, descreveu a amizade como “o conto de fantasia que
dá as pessoas um ponto de observação para ver o mundo de um modo novo”.

No seu amigo você encontra um outro ponto de vista que pode te ensinar algo. É bem
melhor ver o mundo com 4 ou 6 olhos do que apenas com 2. Na multidão de conselheiros
há segurança e sabedoria. Entre amigos há mais sabedoria do que você isolado!
O que a amizade cristã ensina?

 Ensina sobre Cristo e o evangelho


 Ensina sobre a vida cristã em santidade
 Ensina sobre nossos pecados e a necessidade de mudança
 Ensina sobre nossos dons e talentos
 Ensina sobre a vida em família
 Ensina sobre a vida de trabalho
 Ensina sobre as dificuldades da vida
 Ensina sobre maturidade
 Ensina sobre sentimentos, namoro, casamento
 Ensina teologia
 Ensina sobre lazer
 Ensina sobre masculinidade

“Como ferro afia o ferro, o homem afia o seu amigo” (Pv 27:17). Amigos tornam um ao
outro mais prontos para a vida, para fazerem o que foram chamados a fazer.

“A amizade não é uma recompensa para nosso discernimento e bom gosto em


achar um ao outro. É o instrumento pelo qual Deus revela a cada um as virtudes
de todos os outros... Pela amizade Deus abre nossos olhos a elas”. (C. S. Lewis)

APLICAÇÕES:

Coloque suas grandes amizades em amizades cristãs!

Procure por amigos de todas as idades. Você, mais novo deve aprender com os mais
velhos. Os mais velhos devem aprender com os mais novos. Os de mesma idade
também aprendem uns com os outros.

A ideia não é você ter só amigos que saibam mais que você e tenham boa capacidade
de ensinar. A ideia que todos nós sejamos esse amigo que ensinam, de acordo com
nossas próprias capacidades.

Só ensinamos aquilo que sabemos, por isso devemos aprender.

Boas amizades cristãs que ensinam fortalecem sua vida e toda a igreja

LEWIS SOBRE AS REUNIÕES DOS INKLINGS E O DOM AMIZADE:

“Essas são as melhores reuniões... quando colocamos nossos chinelos, nossos


pés esticados em direção ao fogo da lareira e nossos drinques ao alcance de
nossas mãos; quando o mundo inteiro, e algo além do mundo, se abre para
nossas mentes a medida que falamos. E ninguém reivindica ou tem qualquer
responsabilidade com o outro, mas todos são pessoas livres e iguais, como se
tivessem se encontrando há uma hora, ao mesmo tempo que uma afeição
enternecida pelos anos nos envolve. A vida – a vida natural – não possui dádiva
melhor que essa para dar. Quem poderia merecer isso?” (Em Colin Duriez)

Ninguém merece. Boas amizade são dons ou graça de Deus. Vamos aproveita-las para
sua glória!

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