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UNIVERSIDADE FEDERAL DO MARANHÃO

BREVE COMENTÁRIO SOBRE A CONSOLIDAÇÃO DA REVOLUÇÃO


BURGUESA NO BRASIL E NA AMÉRICA LATINA

PROFESSOR: Prof. Dr. John Kennedy


ALUNO: Lucas Moreira

São Luís - MA

julho/2018
1) Com base no texto de José Carlos Mariátegui e Florestan Fernandes, explique
a consolidação da Revolução Burguesa no Brasil e na América Latina.

No Brasil, a revolução burguesa, que se caracteriza por uma espécie de continuação de


dominação das camadas aristocráticas brasileiras do período Colonial, pode assim ser
chamada por ser um conjunto de transformações que reconfigurou a política, a economia, as
relações sociais e individuais, embora estivesse intimamente ligada às relações da então elite
brasileira burguesa, que se sustentava como a antiga elite autocrática do Império Brasileiro.
Essa revolução, que significou uma grande mudança tecnológica, econômica, social,
psicocultural e política, eclodiu no período máximo do desenvolvimento capital oriundo da
revolução industrial na Inglaterra (FERNANDES, 1986).

A Revolução Industrial do século XVIII proporcionou um avanço do capital e sua


consolidação como sistema de trocas pelo mundo. Os países europeus começaram, então, a
adotar o novo desenvolvimento tecnológico e econômico que essa revolução permitiu. Foi
assim que, no seio da burguesia brasileira, isto é, da camada abastada continuada do antigo
Império que se manteve durante a República, nasceu um espírito modernizador, segundo
Florestan Fernandes. Essa burguesia brasileira adotou os ideais europeus de desenvolvimento
do capitalismo, isso significa que precisou acompanhar os novos países com novas
tecnologias e meios de produção. Num país que seguia em um desenvolvimento tardio e
marcado ainda pela colonização portuguesa, foi necessário à burguesia o total apoio do
Estado, para conter as possíveis revoltas que originariam na sociedade. O preço desse
desenvolvimento foi uma dependência quase eterna – o capital estrangeiro passara a ser o
principal fomentador do avanço modernizador no Brasil, na qual Florestan Fernandes refere-
se a um capital dependente. Posteriormente, com as grandes intervenções estrangeiras na
economia brasileira, chegou-se a um capitalismo monopolista, no qual a economia do Brasil
se encontrava completamente dependente do capital de países do centro capitalista.

De maneira tão menos diferente, grande parte da América Latina avançava a partir de
um desenvolvimento no mínimo violento às camadas menos abastardas – as grandes
revoluções burguesas latino-americanas partiram de uma camada totalmente elitizada, e que,
diferentemente das revoluções burguesas europeias, não rebaixaram antigos domínios elíticos,
mas fora uma continuação das antigas elites cuja dominação quase feudal já era obsoleta.
Mariátegui, ao analisar o desenvolvimento da burguesia no Peru, nota, de maneira
semelhante, como as antigas elites conseguiram firmar um novo modo de dominação
capitalista que, também, colocou o país peruano em uma total colônia moderna, isto porque
ainda que país soberano, não é economicamente – e logo, politicamente – independente.

Segundo Carlos Mariátegui, a dependência do Peru de centros capitalistas iniciou-se


na grande Conquista, quando os espanhóis dominaram o então império Inca. O território
peruano, rico em minerais, teve seu solo demasiado explorado. Sua riqueza de ouro e prata
seduziu a avidez capitalista de Espanha de acumular metais preciosos e resumiu o solo
peruano a uma escassez mineral. Após explorar por completo, os espanhóis adotaram o
sistema feudal, sistema esse que já estava adentrando de modo retardado em relação aos
sistemas de administração europeus. Foi na independência de Peru que a nova economia
surgiu – da continuação do primeiro, como fator político e militar. Mariátegui aponta para um
momento decisivo para a evolução da economia peruana – a descoberta no guano e do salitre
que posteriormente fora novamente explorado demasiado por Espanha.

O então desenvolvimento ao redor do mundo necessitava de um novo mercado e de


novos consumidores, porém, o desenvolvimento do Peru, nas mãos continuadas das antigas
elites espanholas, ficou a mercê dos interesses dessa elite, que impediu e se opôs totalmente
ao desenvolvimento econômico, monopolizando o direito de comércio e negócios como
exclusivos delas, impedindo que o território colonial mantivesse qualquer relação econômica
senão com seus colonizados (MARIÁTEGUI, 1928). Assim, o desenvolvimento econômico
do Peru, que fora forçado pelos países americanos que necessitavam de um novo mercado de
consumo, foi oriundo das necessidades de desenvolvimento da civilização ocidental, isto é,
capitalista.

Os exemplos acima, encontrados nos textos de Florestan Fernandes e Carlos


Mariátegui, revelam como o desenvolvimento nos países latino-americano, em especial dois
colonizados por portugueses e espanhóis, Brasil e Peru, respectivamente, se deu de uma classe
minoritária e detentora de bens materiais. O trabalho escravo, que representa a base da
exploração colonial, favoreceu aos países colonizadores uma forte dependência tanto
econômica, quanto política, a partir das matérias primas produzidas e exportadas para fora.
Mais tarde, quando a essas colônias viabilizou-se a possibilidade de independência, o
resultado de um grande processo histórico, no qual as antigas elites configuraram-se em novas
formas de dominação, foi uma grande dependência, ainda hoje, de um capital estrangeiro e
monopolista, que só fora possível sua existência a partir das “revoluções nada
revolucionárias” das burguesias latino-americanas.

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