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MERCENÁRIOS DA
GALÁXIA
Autor
H. G. EWERS
Tradução
AYRES CARLOS DE SOUZA
Digitalização
VITÓRIO
Revisão
ARLINDO_SAN
(De acordo, dentro do possível, com o Acordo Ortográfico válido desde 01/01/2009)
Na Terra e nos outros mundos da Humanidade os
calendários registram fins de fevereiro do ano 3.442. Desde o
dia em que ocorreu a onda de imbecilização, retardando as
inteligências de todas as criaturas da galáxia, deste modo,
transcorreram exatamente 15 meses.
O misterioso “Enxame” continua o seu caminho,
voando sem se deixar deter, através da Via-Láctea — assim
como também Perry Rhodan e seus companheiros imunes não
se deixam deter no seu perigoso trabalho de investigar o
sentido e o objetivo dos sinistros invasores.
Perry Rhodan e os outros homens, que lutam com ele, já
sabem por amarga experiência própria que os emissários do
“Enxame” trouxeram desgraças multiplicadas por milhões a
inumeráveis mundos. Entrementes também sabem que o
“Enxame” é responsável pela ascensão do Homo superior e
também pela “grande matança”.
Mas eles ainda não sabem o bastante. Apenas
pressentem que o “Enxame” ainda abriga outras surpresas,
que poderão ser mortíferas para as populações de planetas
inteiros. E então os terranos o presenciam, com seus próprios
olhos. Um planeta é tomado de assalto — o mundo dos
“Mercenários da Galáxia”...
Tadschor seguia o ataque à base de apoio kuaturica Ilkete, nos monitores. Sondas
voadoras transmitiam-lhe imagens e ruídos para a sua central de comando.
A primeira fase do ataque de surpresa fora um êxito total. Ninguém em Ilkete tinha
contado com a nova arma secreta do Reino Sashani. Os “desmiolados” eram vistos pelos
adversários, com eles se apresentavam, ou seja, como fugitivos arruinados em busca de
ajuda, da cidade em ruínas Prulathum, ocupada por tropas sashani.
Tadschor observou como os “desmiolados” eram escoltados por soldados inimigos
e levados para os fortes nas portas da base de apoio. Depois que eles desapareceram nos
portais, o cientista dedicou-se ao copiador de notícias.
Os últimos comunicados do quartel-general não se diferenciavam decisivamente dos
Comunicados do Dia, que davam entrada há semanas. Combates violentos pela ilha
Dideron, batalhas aéreas sobre o Mar Grodones, bombardeios de cidades adversárias, e
ataques inimigos às suas próprias cidades.
Tadschor virou-se quando o seu assistente Porzos entrou.
— Como transcorreram as experiências com nosso Ubalaer, Porzos? — quis ele
saber.
Porzos tirou os olhos dos monitores.
— Até agora satisfatoriamente, Tadschor. Mesmo assim, ainda vai demorar alguns
dias, até que as séries de experimentos sejam concluídas e então saberemos se o Ubalaer
poderá ser usado sem problemas.
— Eu espero que nos dêem este prazo — retrucou Tadschor. — Os kuaturer estão
tentando, há algum tempo, nos pressionar para uma batalha decisiva. Se eles conseguirem
isso — e se por acaso vencerem — então teremos que fazer uso do Ubalaer
imediatamente.
Porzos fez um gesto defensivo com a mão.
— Eu desaconselho isso, Tadschor. Primeiramente ainda vamos ter que calcular as
consequências que poderão advir de uma utilização do Ubalaer.
Tadschor olhou seu ajudante, de má vontade.
— Consequências! — disse ele, com desprezo. — Só existe uma coisa que é
importante para nós, e isto é a reconquista do ídolo Galango.
— Nós não precisamos recuperá-los — retrucou Porzos. — O ídolo Galango
encontra-se na ilha Dideron, que até agora não pôde ser conquistada nem por nossas
tropas nem pelas do Reino Kuatur. As instalações para a proteção de Galango funcionam
um pouco bem demais. — Ele riu. — O que eu vejo como uma grande sorte para a
civilização de Sidir.
O rosto de Tadschor ficou vermelho.
— O senhor fala como um traidor, Porzos! Em primeiro lugar se abstém de dar ao
ídolo Galango o seu título, e em segundo lugar o ídolo pertence apenas a nós, a única
civilização verdadeira em Sidir. Assim está escrito no legado de nossos antepassados, que
vieram do Reino Divino Arkh'Noon.
Porzos sentou-se diante de sua mesa de controles e olhou fixamente para o seu
superior. Tadschor era alto, magro, tinha a pele clara e cabelos brancos compridos. Ele se
parecia como os antepassados eram descritos nos livros da deusa Log. Todos eles eram
descendentes dos antepassados, porém a maioria dos habitantes de Sidir eram
atarracados, tinham a pele escura e cabelos duros, de um preto azulado. Porzos achava
que os descendentes dos primeiros habitantes de Sidir tinham sido modificados pelas
condições do meio ambiente, porém isso ele não devia dizer em voz alta. Seria uma
violação dos princípios de verdades do culto de Galango.
Somente diante de Tadschor, Porzos, de vez em quando, arriscava uma franqueza,
pois o cientista naturalmente defendia os princípios da verdade, mas não era um fanático,
ainda que quase sempre procurava manter essa aparência.
— O ídolo Galango — disse Porzos, pensativo — na minha opinião, de há muito já
suspendeu sua função. Antigamente ele devia imperar sobre Sidir, mas há mais de vinte
anos que ele não edita mais qualquer lei. A luta pela ilha Dideron tomou-se tão insensata
quanto toda a guerra.
Tadschor suspirou.
— O senhor ainda acabará diante do Tribunal de Depuração, se continuar emitindo
opiniões tão heréticas, Porzos. O que então acontecerá com o senhor, eu naturalmente não
preciso descrever. Somente nós sashanis somos os descendentes do direito dos
Arkh'Noon. Somente quando tivermos destruído o Reino Kuatur, podemos assumir o
legado de nossos antepassados.
— Os kuaturenses dizem isso ao contrário. Eu receio que ambos os lados não têm
razão. Esta guerra destrói o legado dos antepassados, que de acordo com a teoria de Isola
não vieram do seu “Reino Divino”, mas sim de um outro planeta.
— Isola foi executado — declarou Tadschor num tom de repreensão. Ele baixou a
voz. — Eu conheço a teoria dele. Pela mesma, nossos antepassados vieram de um grande
reino entre as estrelas, com a tarefa de criarem, aqui em Sidir, uma civilização, e mais
tarde...
Ele interrompeu-se e ergueu a mão.
— Chegou a hora. Nossas tropas atacam Ilkete. Os “desmiolados” executaram sua
tarefa, irradiando o sinal correspondente.
Em muitos monitores ele viu que os carros de combate das tropas estacionadas ante
Ilkete saíram em velocidade, seguidos das tropas de infantaria, com blindados de
proteção de aço, e armas laser portáteis. Eles atravessaram, sem serem detidas, a terra-de-
ninguém, arrasada pelas explosões e queimada pelos raios laser, chegando ao primeiro
âmbito do escudamento da base de apoio inimiga e...
Tadschor estremeceu quando o escudo energético subiu, chamejante, por cima de
Ilkete. Alguma coisa devia ter dado errada, pois os “desmiolados”, a este tempo, já
deviam ter completado sua tarefa.
Os carros de combate sashanis frearam. Alguns deles não o conseguiram mais,
acabaram dentro do escudo energético, e se desfizeram em chamas. Os outros atiraram,
com seus canhões laser sobre o escudo energético, enquanto recuavam. Mas o escudo de
proteção manteve-se de pé, como sempre até agora.
De repente, na retaguarda dos grupos de ataque, abriram-se buracos. Tubos de aço
saíram de dentro dos mesmos, e milhares de pequenos corpos, brilhando metalicamente,
derramaram-se das embocaduras dos tubos para fora.
Robôs!
Tadschor apertou alguns botões comutadores. As tropas de ataque sashânicas —
também chamadas sashanis — deram meia-volta e viraram-se contra os novos
adversários. Travou-se uma luta feroz, que ia e vinha — até que o escudo energético por
cima de Ilkete se apagou e as cúpulas dos canhões da base de apoio foram colocadas em
posição.
Dentro de curto tempo as tropas de ataque sashânicas estavam dizimadas e
dispersadas. Os restos procuravam passar através das colunas de robôs para colocar-se
em segurança. Era apenas uma questão de tempo até que a guarnição da base de apoio
começasse uma contra-ofensiva tomando a base de apoio sashânica — Troastes — de
assalto.
— Troastes está despojada de tropas — disse Tadschor. — Agora estamos na
situação em que queríamos colocar Ilkete. Se quisermos evitar a derrota definitiva, vamos
ter que fazer uso do Ubalaer.
Sua mão estendeu-se para uma alavanca.
— Não! — gritou Porzos. — Não o Ubalaer! Ele provocaria uma derrota tamanha
aos kuaturenses, que...
— É isso que eu quero dele! — retrucou Tadschor, aferrado. — Eles finalmente
precisam saber que jamais poderão ganhar esta guerra.
Ele puxou a alavanca comutadora para baixo.
Por um monitor ele ficou observando como o Ubalaer, um robô gigante de aço
especialmente duro, com um cérebro autônomo, se movimentava no seu duto de
armazenamento.
Tadschor sorriu, em triunfo, quando o Ubalaer abandonou o silo, marchando com
passadas trovejantes na direção das tropas de robôs adversárias. Os canhões laser do robô
cuspiam destruição. Contra eles os robôs inimigos não tinham qualquer chance, uma vez
que o Ubalaer empurrava diante de si um escudo de campos de força, que repelia sem
esforço os fracos raios laser das pequenas máquinas de combate kuaturenses.
Na base de apoio de Ilkete rapidamente reconheceram o perigo. O fogo das cúpulas
foi dirigido em cima do robô gigante. Mas Tadschor estava esperando justamente por
isso. Ele puxou para baixo uma segunda alavanca de comutação.
Exteriormente não aconteceu nada — a não ser que as cúpulas dos canhões de Ilkete
logo suspenderam o seu fogo. Devido a isso Tadschor concluiu que o histerizador,
recentemente desenvolvido, do Ubalaer, agia como se esperava dele.
A prova definitiva disto logo lhe foi fornecida. Os portais dos fortes de Ilkete se
abriram, e num fluxo ininterrupto soldados kuaturenses saíram para fora. Na sua maior
parte eles estavam desarmados, e davam a impressão de um bando de mikassos, que,
cheios de pânico, corriam às cegas para longe dali.
Sem ser tocado por inibições éticas, o Ubalaer disparava para dentro daquela massa
de soldados inimigos correndo sem destino, até que o último movimento cessou...
Tadschor anunciou o êxito para o quartel-general e foi elogiado. Ele foi encarregado
de construir tantos Ubalaer quanto possível, para colocá-los à disposição do alto-
comando.
Porém antes que o cientista pudesse chegar a executar as instruções, os canais de
comunicação foram bloqueados por notícias alarmantes. As centrais de vigilância aérea,
instaladas por toda a parte, anunciavam que grandes enxames de foguetes se
aproximavam da região do Reino Sashani. A julgar pelo seu curso, eles tinham origem no
Reino Kuatur.
Tadschor virou-se procurando por Porzos, porém o seu assistente se retirara. A toda
pressa o cientista dirigiu o Ubalaer de volta para a base de apoio, depois queria tomar o
elevador, para dirigir-se aos fortes subterrâneos, antes que os foguetes inimigos
começassem a cair.
Um aviso da central de vigilância aérea mais próxima fez com que ele ainda
esperasse com isso. A notícia dizia que alguns dos foguetes inimigos tinham explodido na
alta atmosfera. Logo em seguida foi dado alerta de radiação. Todos os foguetes inimigos
tinham explodido na alta atmosfera. Por toda a parte nuvens luminosas passavam por
cima de território sashani. Delas saia uma radiação dura, que ameaçava todas as formas
de vida.
Quando Tadschor ficou sabendo, por um outro comunicado, que também os
foguetes sashani tinham sido disparados, para também despovoar o território kuaturense
através de suas radiações, ele deu-se conta de que Porzos tinha razão com suas
advertências.
O sucesso retumbante do Ubalaer tinha levado o adversário a uma situação de
pânico e em vista da derrota temida, o levara a disparar o seu potencial em bombas
radiativas. Só isso já significava um suicídio, pois as nuvens radiativas circulariam pelo
planeta por muitos séculos, destruindo por baixo delas toda a vida. O disparo das bombas
de radiações sashânicas na realidade tinha sido uma represália supérflua. Ele apenas
aceleraria a morte.
Tadschor estava consciente de sua culpa. Mas ele não queria desistir. Já de há muito
tempo ele providenciara para que ele mesmo sobrevivesse a uma catástrofe, para mais
tarde poder tentar reunir eventuais sobreviventes, ou mesmo seus descendentes, para dar
início a uma nova civilização.
Ele usou o elevador para dirigir-se ao bunker mais profundo da base de apoio, onde
o Ubalaer já o esperava. Depois de ter ordenado ao robô para esperar diante da galeria
secreta, onde deveria vigiar ele abriu a porta do seu laboratório.
Sorrindo, ele examinou os aparelhos, que tinha montado em anos de trabalho.
Ninguém, exceto ele, conhecia seu verdadeiro significado.
E então Tadschor começou a tirar a roupa...
1
O som da flauta tremulava por cima do teto de folhas da floresta virgem, no qual os
raios solares eram refletidos por incontáveis gotas de água, criando um mar reluzente de
diamantes. Um arco-íris armou-se, como um portal gigantesco, por cima desta paisagem.
O condor passava...
O tocador de flauta estava sentado no ponto mais alto de uma edificação em ruínas,
que se erguia perto de outras, numa clareira. Troncos de árvores e terra revolvida
revelavam que a clareira fora aberta na floresta só há pouco tempo.
O homem com a flauta de madeira vestia apenas uma calça verde-clara e botas de
cano curto cinzentas. O seu corpo nu, bronzeado, da cintura para cima, brilhava de suor.
Aos pés da edificação semidestruída havia milhares e milhares de criaturas vivas
estranhas. Na sua maior parte elas estavam vestidas em peças de vestuário coloridas,
diferentes entre si, mas em parte estavam despidas, de modo que as formas dos seus
corpos se ofereciam ao observador de forma desinibida.
Corpos de formas que nenhuma criatura humanóide mostrava.
As criaturas tinham 2,40 metros de altura em média, tinham esqueletos externos de
cor preto-avermelhada e oito membros. Quatro membros se encontravam na parte do
tronco, fortemente desenvolvido, parecendo um tonel, enquanto as duas partes traseiras
do corpo, fortemente destacadas — a parte do meio e o baixo-ventre — possuíam cada
uma dois membros.
As cabeças das criaturas eram fortemente achatadas, possuindo um par de olhos
facetados, bem grandes, nos quais a luz solar provocava reflexos de luz iridescentes. A
maior parte dessas criaturas estava acocorada nas pernas, várias vezes articuladas, dos
seus dois segmentos do corpo traseiros, mantendo a parte do peito com a cabeça erguidos
e apoiando-se nos compridos quatro membros anteriores. Dois pares de sensores se
destacavam, ligeiramente vibrando, da cabeça.
Até minha música de flauta, reinava um silêncio total. Eu, Capitão Hysk Vantolier,
cosmozoólogo da nave de exploração terrana EX-6633 Special, tinha chegado há duas
horas a esta clareira, para examinar as escavações feitas das edificações, em tempos mais
felizes, de uma antiquíssima cultura. Havia tanta coisa que ainda não sabíamos. Mas a
forte chuva do meio-dia ainda não terminara, quando o local das escavações foi cercado
por milhares dessas inteligências nativas, e que agora escutavam, sem se mexerem, a
música de minha flauta.
Os plostas, como se chamavam os nativos, eram os descendentes inteligentes de
uma grande espécie de insetos. Depois de tudo que eu conseguira ficar sabendo até agora,
os plostas provavelmente nunca teriam sido capazes de construírem uma civilização, se
não tivesse havido, há cerca de três ou quatro mil anos atrás, um acontecimento incisivo
que levou a uma modificação radical de suas disposições hereditárias.
Durante muitos séculos a superfície do planeta Aggres devia ter sido bombardeada
por radiações duras inimagináveis, evidentemente o resultado de uma guerra louca e
absurda, na qual os descendentes dos colonos arcônidas tinham exterminado a si mesmos
e a sua florescente civilização.
Os plostas, produtos de uma guerra de destruição mortífera, e por isso produtos da
loucura humana, tinham se transformado em seres para os quais a vida do indivíduo valia
menos que nada. Seu único conteúdo vital era — além da manutenção da espécie — a
luta, e esta também era a razão para a minha presença neste planeta.
O Império Solar provavelmente nunca teria ficado sabendo da existência desse
povo, se há algumas décadas atrás muitos milhares destes seres não tivessem aparecido,
como mercenários, a serviço do ditador Dabrifa, da Liga Carsuálica. Eles tinham se
mostrado especialmente em assaltos ousados a planetas de bases de apoio do Império
Solar, bem como em mundos colonizados independentes. Apesar de não terem uma
civilização técnica própria, eles aprendiam bem depressa — sobretudo o modo de
funcionamento de armas de destruição altamente modernas. Onde eles tinham surgido, os
seus ataques sem medo e seu morticínio impiedoso sempre tinham espalhado terror e
pânico. Eles não conheciam hesitação nem compaixão, e muitos dos nossos
cosmopsicólogos afirmavam que eles não tinham sentimento algum.
Eu poderia ter-lhes provado o contrário, pois aquelas criaturas selvagens, sem
medo, já escutavam, em silêncio, há quase vinte minutos, a música de minha flauta,
depois de terem tentado me matar, a principio.
Só me restava continuar tocando. Se eu tirasse a flauta da boca, teria que contar que
os plostas cairiam em cima de mim. Portanto eu toquei todas aquelas melodias, que em
nossa casa, nos Andes terranos, eram passadas de geração a geração, e cuja origem devia
alcançar a remota antiguidade dos incas, conforme contava minha avó.
E enquanto eu tocava, os acontecimentos desde minha chegada a Aggres passaram
indistintamente diante dos olhos do meu espírito...
Desde o aparecimento das primeiras tropas mercenárias plostásicas, a Contra-
Espionagem Galáctica tinha investigado febrilmente em busca da origem dos plostas.
Estas criaturas agressivas significavam um perigo para todos os povos amantes da paz da
galáxia, enquanto pudessem ser alistadas por detentores do poder sem consciência.
Poucas semanas antes da chegada de um acontecimento terrível, ao qual ainda
voltarei mais tarde, as coordenadas galácticas do planeta pátrio plostásico finalmente
puderam ser determinadas. Seguindo os princípios básicos do Império Solar, não se
colocou em marcha uma frota de combate, para eliminar o perigo de modo tão rigoroso
como desumano, mas a Junta de Segurança em Terrânia encarregou um Comando
Explorer, para cuidar do problema.
O Marechal-de-Estado Bell chamou o meu superior, o Major Mincos Polata e a
mim, para o seu gabinete. Ele nos dispensou de nosso comando numa nave de contato no
East Side Galáctico, e ordenou-nos a assumir o comando da nave especial EX-6633, para
equipá-la, e para reunir uma tripulação, com ajuda da positrônica do pessoal, que
trouxesse consigo todas as condições prévias para a exploração pacífica de um povo
agressivo.
A EX-6633 já fora utilizada muitas vezes antes, para este tipo de missão. Construída
sobre a célula globular de um cruzador pesado, ela possuía todos os aparelhos, que eram
necessários para a proteção defensiva de sua tripulação. Para o caso de naves espaciais de
outras civilizações tentarem impedir nosso trabalho pacífico de exploração, também
havia um forte armamento ofensivo. Porém as determinações para o seu uso eram muito
severas, de modo que qualquer mau uso era praticamente impossível. No total, o Major
Polata reuniu quatrocentas pessoas, cientistas masculinos e femininos da Frota de
Exploração, que sempre dominavam, cada um, duas áreas científicas especiais, e
adicionalmente, como era habitual na Frota de Exploração, também estavam
familiarizados com as tarefas cosmonáuticas e militares de uma grande nave cósmica.
Nós partimos em meados de novembro de 3.440, e voamos, sem sermos impedidos,
para dentro do sistema do pequeno sol amarelo, que o Major Polata, conforme o velho
costume, chamou de EX-Polata. O sol possuía somente três planetas, e o número dois era
aquele que, de acordo com os documentos da Contra-Espionagem Solar, levava o nome
Aggres.
O Major Polata levou a EX-6633 para dentro de uma órbita em volta de Aggres e
entrou em contato de rádio com os habitantes do planeta. Nós logo recebemos
informações sobre a organização política dos plostas, quando nosso chamado foi
respondido pela “Coordenadoria Central das Tribos Gloriosas”. Um plosta de nome Id
Zirroh Par saudou-nos num intercosmo pouco inteligível, que teve que ser vertido
primeiramente pelos nossos tradutores de frequência, numa língua aproveitável.
Os plostas eram seres viventes cujas emissões de voz e fala ficavam no âmbito do
ultra-som. O vocabulário, entretanto, combinava bastante com o nosso, o que podia ser
atribuído às experiências no contato com os representantes de outros povos humanóides.
Id Zirroh Par deu-nos autorização de pouso, sem hesitação. Nós recebemos um raio
direcional e pousamos numa planície entre gigantescas edificações de pedra, muito
espalhadas, que na sua forma pareciam-se mais ou menos com formigueiros terranos, só
que em média tinham uma altura de quinhentos metros.
Pouco depois do pouso, nós presenciamos um espetáculo impressionante. De
inúmeras aberturas nas construções de pedra saíram dezenas de milhares de criaturas
aladas, subindo para os céus, e depois velejando, em grandes enxames, por cima de nossa
nave. No começo não entendemos o que eles visavam com isso, até que os enxames
repentinamente se separaram em dois grupos, dois exércitos que atiravam uns nos outros,
com todas as armas de raios imagináveis.
Naturalmente isso nos encheu de susto e mal-estar, pois pensávamos que aqui
estava acontecendo uma carnificina mútua. Mas depois verificamos que os exércitos
plostásicos apenas faziam uma batalha simulada, para nos impressionar. Ninguém foi
morto, e os enxames pousaram, uma hora mais tarde, perto da nave.
Depois da batalha simulada, uma delegação das tribos plostásicas, sob a chefia de Id
Zirroh Par, veio para bordo. Os membros da delegação nos deram as boas-vindas e
mostraram forte interesse nas instalações da nave Explorer especial. Nós fomos
convidados a visitar os castelos da tribo — e eles realmente os chamavam de castelos.
Naturalmente aceitamos o convite. Esta naturalmente era a oportunidade de que
precisávamos, e pela qual, antes, mal tínhamos esperanças de consegui-la.
Nós aprendemos a conhecer o modo de viver de nossos anfitriões, muito
pormenorizadamente. Conforme já tínhamos sabido pelos documentos da Contra-
Espionagem Solar, tratava-se de descendentes inteligentes de insetos. Novo para nós era
o fato de que a maioria dos plostas era do sexo feminino e que os guerreiros eram
exclusivamente guerreiras, ou seja, do sexo feminino.
O motivo disso tinha causas biológicas. Em cada geração de uma tribo, sempre
“nascia” apenas uma criatura masculina. Ele se desenvolvia para um tamanho físico que
ultrapassava em oito vezes o tamanho das fêmeas, e sua única tarefa era a de fertilizar os
ovos das fêmeas. Na morada de um macho, que sempre ficava no andar inferior do
castelo da tribo, reinava um constante ir e vir. Sem levar em conta o preenchimento de
seus deveres de manter a espécie, os machos precisavam ser abarrotados de alimentos de
grande valor, precisavam deixar que os limpassem e cuidassem, para que suas forças não
diminuíssem prematuramente, ou mesmo que morressem antes do “nascimento” e da
puberdade do próximo macho, o que significaria o desaparecimento da tribo.
Como as fêmeas, somente uma vez por ano e dentro de pouco tempo, botavam até
trezentos ovos, elas tinham tempo para executar todos os outros trabalhos. Elas
ampliavam o castelo da tribo, executavam trabalhos de restaurações e cuidavam dos
rebanhos de ghools, vermes de mais de cinquenta quilos, que serviam de alimentação
para os plostas, junto com uma espécie de cogumelo.
Nós tivemos que verificar que em muitas tribos os castelos eram descuidados.
Quase por toda a parte havia sinais de decadência. Em grande contraste estavam as
riquezas, que eram açambarcadas pelos plostas, em forma de aparelhagens técnicas.
Nós reconhecemos rapidamente, que aqui se tratava apenas de um contraste
aparente. Realmente os dois fatores — decadência ampliada e açambarcamento de
riquezas — tinham uma conexão muito estreita. Os plostas, possessos por combater,
deixavam-se alistar, em números cada vez maiores, como mercenários, por potentados
irresponsáveis. Aqueles que regressavam, traziam consigo, como paga pelos seus
serviços de guerra, aparelhagens técnicas modernas de civilizações adiantadas, mas
durante a sua ausência eles faziam falta como força de trabalho. Além do mais, apenas
regressavam em média quarenta por cento dos mercenários, o que levava à diminuição da
população. Com ajuda da aparelhagem técnica, isso naturalmente poderia ter sido
compensado, porém os plostas se interessavam unicamente pelas armas trazidas, e não
pelas máquinas, que poderiam tê-los livrado dos seus trabalhos corporais. Eles mal
utilizavam seus reatores de fusão, para fornecer luz elétrica e calefação para os castelos
de suas tribos.
Infelizmente não chegamos sequer a insinuar muito cautelosamente aos plostas, as
consequências deste perigo, que ameaçava a continuação de sua civilização. É que
quando eles se deram conta de que nós não tencionávamos alistá-los como mercenários,
eles tomaram uma atitude inamistosa, de modo que se tornou impossível continuarmos a
visitá-los ainda nos seus castelos tribais.
Certo dia então eles cercaram nossa nave com uma força de combate fortemente
armada, ameaçando um ataque, se nós não abandonássemos o seu planeta imediatamente.
Mais negociações foram negadas, de maneira bastante rude.
Para nós não restaria outra alternativa, que de seguirmos as suas exigências, pois
nós não devíamos — seguindo nossos princípios — entrar em luta com eles, uma vez que
nos encontrávamos no território de um povo estranho.
E então aconteceu uma coisa, com que ninguém, mesmo em sonho, tinha contado.
A tripulação da nave Explorer imbecilizou quase que de soco — com exceção do Major
Polata e eu. Do mesmo modo imbecilizaram os complementos de bioplasma das
positrônicas de bordo, de modo que uma partida somente poderia ser efetuada com
tripulação completa das centrais principais e anexas. Dois homens sozinhos, depois das
biopositrônicas terem deixado de funcionar, não eram capazes de fazer isso.
Os primeiros dias depois da aparição da imbecilização certamente foram os piores
de minha vida. O Major Polata e eu não apenas tínhamos que cuidar de quatrocentos
homens e mulheres, que se haviam tomado praticamente indefesos, mas também
tínhamos que convencer os plostas, que tinham permanecido inteligentes, que uma
partida da nave Explorer, nestas circunstâncias, era impossível.
Nós passamos por horas difíceis, antes que os seres-inseto nos acreditassem, e mais
tarde, muito mais tarde, tivemos horas mais difíceis ainda. Cerca de um ano depois de
nosso pouso em Aggres, apareceu uma gigantesca nave espacial em formato de
cogumelo, pousou no planeta, e deu início a uma atividade tão misteriosa quanto
ameaçadora. Nós nos mantivemos longe deles, e também não fomos incomodados, mas
os plostas — de acordo com sua mentalidade — atacaram furiosamente, conseguindo
apenas uma derrota depois da outra.
Entrementes o Major Polata e eu já tínhamos terminado os trabalhos de escavações,
de há muito iniciadas, tendo descoberto os restos de uma civilização, cujos portadores
tinham sido criaturas humanóides, como nós. Tudo indicava que devia tratar-se dos
descendentes de colonos arcônidas.
E agora eu estava sentado em cima de uma dessas edificações meio ruídas, tocando
minha flauta para acalmar os agressivos plostas...
***
Um trovejar surdo dominou a música de minha flauta e assustou os plostas. Muito
para o oeste, na savana na qual também se encontrava a EX-6633, viam-se descargas
chamejantes de energia. Nuvens de fumaça erguiam-se para o céu.
Pelos seres-inseto à minha volta, passou uma onde de agitação. Primeiramente
somente alguns deles abriram as asas subindo para o alto, depois mais e mais os
imitaram. Dentro de poucos minutos eu estava sozinho.
Enfiei a flauta no meu cinturão e levantei-me. Eu podia imaginar o que acontecera.
Isso acontecera repetidas vezes, ultimamente. Uma tribo plostásica, irritada pela presença
de nave-cogumelo, tinha passado, mais uma vez, ao ataque — e mais uma vez foram
repelidos com terríveis baixas.
Enquanto eu ainda refletia se devia continuar com minhas investigações na ruína
escavada, ou se devia voltar para a nave Explorer com o meu planador, descobri, logo
acima do teto da floresta verde, um ponto brilhante, que se aproximava de mim em voo
muito rápido. Poucos minutos depois, uma figura, metida num traje de combate terrano,
voou por cima da borda da clareira, e logo pousou perto de mim.
A figura jogou o seu capacete globular para a nuca, e eu vi o rosto largo, de grandes
poros, de Mincos Polata.
— Os plostas são incorrigíveis — disse o major, irritado. — Eles atacaram a nave-
cogumelo novamente, e foram dizimados por um fogo concentrado de pesadas armas
energéticas, e outra vez foram repelidos.
Eu fechei os olhos. Imediatamente senti outra vez, como as lembranças do meu
inconsciente fluíam, paralisando o refletir consciente.
Diante dos olhos do meu espírito apareceu a imagem da nave-cogumelo que
pousava...
Tinha sido de noite, quando aquela nave gigantesca pousou na planície, que mais
parecia uma savana, mas os aparelhos de infravermelho e sensores energéticos da EX-
6633, tinham desenhado uma imagem clara nas telas de vídeo.
Perplexos, o Major Polata e eu observamos a imagem da monstruosa nave cósmica.
Os mostradores indicavam uma altura de cinco mil metros. O “chapéu” do cogumelo era
aproximadamente semi-esférico. O seu corte tinha um diâmetro de sete mil metros. Nele
encontravam-se os propulsores, conforme se podia reconhecer nos fluxos luminosos de
energia. Por baixo do “chapéu” havia uma base em formato de funil de aço, que se
transformava na “haste”, cuja superfície no chão tinha um diâmetro de dois mil metros.
Nós desistimos de ativar os escudos protetores da nave Explorer, ou de fazermos
uso das armas ofensivas, apesar da positrônica de fogo, livre de plasma, ainda funcionar
normalmente e sem problemas.
Fascinados, nós observamos aquela nave monstruosa. Seus propulsores
desencadeavam um tufão, que fazia com que os castelos das tribos dos plostas
tremessem. O chão, por baixo da astronave-cogumelo que pousava, foi queimado e
transformado em lava incandescente e fluida.
Os plostas se mantinham relativamente discretos. Talvez eles pensassem que
finalmente alguém pousava para aliciar mercenários, depois que o seu planeta, já há
muitos meses, não fora mais visitado para isso.
Mincos Polata interrompeu minhas lembranças, e disse:
— Enquanto o senhor persegue os seus pensamentos, Capitão Vantolier, eu darei
prosseguimento nas investigações da edificação sobre a qual o senhor está parado.
Confuso, olhei para ele.
Ele repetiu suas palavras e acrescentou:
— A tripulação de nossa nave foi devidamente alimentada e cuidada, e pela nossa
experiência as ações da astronave-cogumelo se limitam a rechaçar os plostas. Portanto o
senhor ainda pode sonhar um pouco tranquilamente, enquanto eu procuro erguer os véus
do passado deste planeta.
— O que existe ainda para desvendar por aqui — retruquei, sem notar que estava
me contradizendo, pois afinal viera para cá para procurar, nas provas do passado, indícios
de sua existência.
O Major Polata não respondeu nada, apenas ligou seu aparelho de voo e
desapareceu do ângulo de minha visão.
Eu me sentei nas placas de cimento-plástico rachadas, ainda inteiramente tomado
pelas minhas lembranças. Já antes eu notara, que fortes impressões emocionais em mim
levavam a visionárias recordações, e quase sempre, quando um acontecimento provocava
estas lembranças. Porém nunca este fenômeno acontecera tão fortemente quanto aqui em
Aggres. Quando isso tomava conta de mim, só raramente eu ficava em situação de me
apartar dessas visões.
Eu me recostei num pedaço da ruína e olhei por cima da floresta, sem poder
reconhecer as realidades. O meu espírito regressava ao tempo do pouso da nave-
cogumelo...
Dezenas de milhares de plostas tinham saído de seus castelos de tribos, e tinham
cercado a nave-cogumelo, num largo anel. Lentamente solidificou-se a pedra derretida e a
terra por baixo da cúpula do cogumelo. As aberturas dos propulsores ainda estavam
incandescentes. O material esfriava, com ruídos rangentes.
Cada vez mais plostas apareciam, aos borbotões. Eu me lembrei dos tempos difíceis
pelos quais tivéramos que passar, até que os plostas acreditassem, que além do Major
Polata e eu, todos os membros da tripulação de nossa nave, tinham sido imbecilizados.
Como os plostas tinham conservado suas inteligências em sua totalidade, as suas dúvidas
tinham sido compreensíveis. Polata e eu atribuímos a sua imunidade — ou seja lá como
se podia chamar a isso — a uma mutação muito profunda dos seus cérebros.
Somente depois que permitimos que os plostas enviassem comandos de verificação
para dentro da EX-6633, os quais testaram nossos imbecilizados, as suas dúvidas se
desfizeram lentamente. A isso provavelmente ainda se juntavam o fato de que mais
nenhuma astronave estranha pousara, para contratar mercenários, e que a vigilância de
rádio plostásica também captara, como nós, inúmeros pedidos de socorro de outros povos
galácticos, dos quais se depreendia que a onda de imbecilização atacara praticamente
todos os seres inteligentes da galáxia.
Apesar das circunstâncias difíceis, e das dificuldades com nossos imbecilizados,
Polata e eu tínhamos tentado sondar, ao que se poderia atribuir o repentino retardamento
das inteligências. Nós verificamos que a constante de gravitação de linhas de campo tinha
caído em exatos 852 megakalups. Como este novo valor ficava constante, naturalmente o
colocamos em conexão com a imbecilização. A última prova para isto, entretanto, ainda
nos faltava.
Meus pensamentos voltaram novamente para pouco tempo depois do pouso da
astronave-cogumelo...
Passaram-se horas sem que a tripulação da nave se tivesse anunciado pelo rádio ou
mostrado de outra maneira. Os plostas que estavam esperando, começaram a ficar com
uma inquietação crescente.
E então, de repente, na base do “caule” abriram-se oito enormes portais em arco.
Luz clara caía para fora, espelhando-se no magma solidificado e esfriado. Polata e eu,
instintivamente, retivemos a respiração quando daqueles portais saíram milhares de
figuras exóticas. Elas possuíam um corpo cilíndrico de 2,50 metros em média de altura,
com uma superfície em formato semi-esférico abaulado, sobre a qual, por sua vez, havia
uma excrescência também em formato de cúpula, de cerca de trinta centímetros. Oito
pernas, que mais pareciam tocos, sobressaíam da parte inferior lisa do tronco cilíndrico.
Os estranhos se movimentavam, com estas “pernas”, com surpreendente rapidez.
Na realidade o número oito tinha um papel especial nestas criaturas. Na parte
superior em formato de cúpula, provavelmente a cabeça, havia oito pequenos olhos
facetados. Por baixo do abaulamento da cúpula sobressaíam oito cotos curtos, que deviam
ser os braços e que nas suas extremidades se dividiam em dois tentáculos cada. Estes
tentáculos, por sua vez, tinham, cada um, oito finas excrescências parecidas com dedos.
Os estranhos estavam envoltos quase que totalmente em uniformes de cor amarelo-
ocre, de um material de couro, que em intervalos irregulares mostravam buracos de dez
centímetros em média. Através destes buracos — e pela cabeça descoberta — podíamos
ver que a pele dos estranhos era moreno-escura e coriácea.
Eles não deram importância nem para a EX-6633, que na verdade se encontrava a
cerca de oitenta quilômetros do seu lugar de pouso, nem para os plostas que os
esperavam. Em contrapartida eles começaram, muito ativamente, com trabalhos
misteriosos. Pela sua iniciativa verificamos que estas criaturas não podiam estar
imbecilizadas. Mas os seres-inseto também o notaram, e esperaram, com impaciência
ainda maior pela tomada de contato, que, ao que eles acreditavam, lhes daria a desejada
oportunidade de se engajarem em grandes números num exército estrangeiro.
Porém os estranhos não tomaram qualquer medida para isso. Eles continuaram
trabalhando, como se não houvesse dezenas de milhares de outras criaturas, que os
observavam nisto. Lentamente entendemos que o objetivo daquela atividade enorme era a
transformação da nave-cogumelo. Ela se transformava num complexo ainda mais exótico.
Constantemente se faziam novas instalações. Por baixo do “chapéu” do cogumelo surgiu
uma coisa que lembrava remotamente uma imagem de ídolo das religiões antigas da
humanidade terrana. Indistintamente podia reconhecer-se algo semelhante a um rosto, no
qual, depois de algum tempo, apareceram oito orifícios redondos, que brilhavam,
incandescentes, num vermelho-flamingo.
Aquilo parecia fantasmagórico, e esta impressão também continuou, quando o dia
seguinte chegou. Os microfones direcionais da nave Explorer estavam constantemente
dirigidos para o local de pouso da nave espacial-cogumelo. Nós conseguimos escutar que
os estranhos falavam entre si, ininterruptamente. A sua língua infelizmente resistiu aos
esforços de nossos pequenos tradutores, e os tradutores grandes tinham deixado de
funcionar, uma vez que possuíam adições de plasma, nas suas positrônicas.
A única coisa que Polata e eu conseguimos escutar naquela balbúrdia toda, mas sem
poder dar-lhe um sentido, eram gritos repetidos que pareciam “Xanthomonary” aos
nossos ouvidos.
Como o Major Polata e eu receávamos, os plostas finalmente perderam a paciência.
Eles apertaram o anel do seu cerco. Os primeiros enxames subiram nos ares e se
aproximaram da astronave-cogumelo transformada.
De repente formaram-se no casco do “chapéu” do cogumelo, inúmeras aberturas,
das quais raios claros como o sol se projetaram nos céus. Muitos dos seres-inseto
voadores foram queimados por eles.
Este foi o sinal para que os outros atacassem, por seu lado. Eles vieram em
antiquados blindados aéreos de fabricação arcônida, plataformas de canhões, dos efetivos
dos exércitos de Dabrifa e em trajes de combate reformados, aconenses. Durante os
primeiros minutos os seus ataques furiosos provocaram um caos indescritível entre as
criaturas cilíndricas. Muitas delas morreram no fogo dos plostas. As outras voltaram, em
fuga rápida, para dentro da astronave.
O contra-ataque ocorreu de uma maneira, como eu e Polata jamais tínhamos
presenciado antes. Dos “olhos do ídolo” de cor vermelho-flamingo brotaram formas
energéticas fortemente radiantes, de cor vermelho-escuras, e que pareciam lágrimas.
Parecia que o “ídolo” chorava devido ao ataque das criaturas-inseto. Mas então,
repentinamente, as “lágrimas” aceleraram para dentro das fileiras dos plostas atacantes,
explodindo ali com a violência de pequenas bombas de fusão.
Os seres-inseto não se deixaram intimidar nem perturbar com suas terríveis baixas.
Todos os sobreviventes continuaram avançando na direção da astronave-cogumelo,
fazendo fogo ininterruptamente com suas armas diversificadas.
Eles atacaram e lutaram até que foram fustigados e destruídos pelos raios
energéticos que caíam sobre eles. Logo em seguida os seres cilíndricos retomaram sua
estranha atividade, como se não tivesse havido qualquer incidente.
Nos meses que se seguiram as tribos dos plostas demonstraram uma notável reserva.
Evidentemente eles eram absolutamente capazes de avaliarem objetivamente uma
situação militar. Mesmo assim, de vez em quando venciam o seu natural impulso
agressivo. Em intervalos irregulares tribos isoladas tentavam tomar de assalto a
astronave, em ataques de surpresa. Todos esses ataques fracassavam, com grandes perdas
para os seres-inseto.
O Major Polata e eu nos mantínhamos na espera, enquanto cuidávamos de nossos
imbecilizados, e repetidamente executávamos medições, para tentar descobrir o que a
astronave-cogumelo realmente queria em Aggres.
Há pouco tempo atrás, conseguimos o primeiro indício utilizável. Quando as
cinturas cilíndricas terminaram os seus trabalhos, nós medimos, poucas horas mais tarde,
uma estranha erupção energética no âmbito da quinta dimensão. A fonte era
evidentemente a astronave-cogumelo, e logo depois nossos aparelhos de medição
constataram que a constante gravitacional de quinta dimensão da galáxia, dentro do
alcance de nossos aparelhos, fora alçada em exatamente 132,6583 millikalups.
A conclusão de que esta — e outras naves-cogumelo — também tinham provocado
a manipulação original da constante gravitacional, com isto dando origem à onda de
imbecilização, era evidente. Dali em diante o Major Polata e eu refletimos febrilmente, o
que poderíamos fazer contra os estranhos aterrissados em Aggres. Mas as “lágrimas”
mortíferas do “ídolo” tinham nos prevenido. Nós não poderíamos iniciar a luta, antes que
nossa nave estivesse outra vez com capacidade de ser manobrada.
E nisto nem se podia pensar, em tempo previsível.
***
O meu consciente separou-se lentamente das imagens do passado, voltando para o
presente.
Quando olhei para o oeste, verifiquei que os fanais da luta tinham se apagado.
Cautelosamente desci da ruína, voltando-me para a entrada liberada. O meu holofote de
mão ainda estava no mesmo lugar em que eu o colocara, quando os plostas me
acossaram. Eu liguei-o e dirigi o feixe de luz amarelada para o corredor ligeiramente
íngreme, por trás da abertura.
De algum lugar abaixo de mim, em diagonal, vinham ruídos altos. Isso devia ser
Polata. Na realidade era absurdo que, em nossa situação, ainda demonstrássemos
interesse nas escavações de uma civilização de há muito desaparecida. Mas esta parecera
ser a melhor possibilidade de manter íntegra a nossa saúde mental, fortemente
pressionada.
Eu segui a inclinação do corredor. Por toda a parte o teto estava escorado por finas
varas de metal-plástico, vindos dos magazines da Explorer. Depois de alguns minutos
topei com o Major. Com ajuda de um desintegrador ele liberara mais uma abertura. O
recinto por trás parecia um grande salão, e o teto levemente abaulado tinha se mantido
firme, apesar de ser repassado de muitas fendas estreitas.
As instalações, naturalmente, estavam apodrecidas, em sua maior parte. Mas nas
paredes eu descobri, entre fragmentos de molduras de aço enferrujadas, os restos de
grossas placas de vidro. A maioria caíra ao chão e se quebrara, quando as molduras se
abriram, mas elas evidentemente tinham permanecido o tempo suficiente para retardar o
processo de desagregação das peças instaladas por trás delas.
O Major Polata remexeu, com um sensor de medição, por entre módulos
eletrônicos, que ainda estavam dependurados em fios, sem isolamento, de material
inoxidável. Ele virou-se ao ouvir os meus passos, e disse:
— Parece que encontramos os restos de uma instalação de monitores, cujas telas
ainda trabalhavam de conformidade com o antigo sistema holográfico dos arcônidas.
Eu me aproximei mais e pude confirmar a opinião de Polata.
— Uma instalação de monitores... — refleti. — Ela poderia ter servido para vigiar
os arredores, mas também para vigiar outros recintos desta edificação.
Então descobri uma abertura retangular na parede. As duas bordas estavam
desmoronadas, e por baixo dela havia um montinho de ferrugem.
Eu fui até lá, apoiei-me com uma de minhas mãos na parede e iluminei a abertura
com a lanterna de mão.
— Isso é um duto — disse eu, surpreso.
Quando Polata estava do meu lado, eu acrescentei:
— Veja estes tingimentos em estrias cor de ferrugem, nas paredes do poço. Isso
poderiam ser os trilhos direcionais dentro dos quais se movia uma cabine de elevador.
Major, eu acho que fizemos uma descoberta importante. Se descermos nesse poço, com
aparelhos antigravitacionais, provavelmente vamos descobrir que até agora apenas
examinamos uma pequena parte, — a torre superior — de uma edificação bem maior.
Mincos Polata passou a mão pelos seus cabelos louros curtos e sorriu.
— Fico satisfeito em ver que o senhor chegou à mesma conclusão que eu, quando vi
este duto pela primeira vez, Capitão Vantolier. Eu sugiro que o senhor volte para o
planador, vista o seu traje de combate, e volte com ele, para que nós...
Ele interrompeu-se quando o seu telecomunicador de pulso deu o sinal
característico de chamada. Nós ficamos surpresos, pois éramos as únicas pessoas não
imbecilizadas neste planeta amaldiçoado. Quem, portanto, poderia chamar-nos, na
frequência de rádio de nossos aparelhos de pulso?
Levou alguns minutos até que o Major Polata se recuperasse o suficiente de sua
surpresa, para finalmente ligar o seu aparelho de rádio.
— Fala o Major Polata! — avisou ele. — Quem chama?
— O que é isso? — disse alguém, como se falasse consigo mesmo. — Essa coisa
sabe falar, Ossuti, você ouviu isso?
Polata e eu nos entreolhamos rapidamente. Ossuti Wangemu era o chefe do
rastreamento de nossa nave Explorer, pelo menos até sua imbecilização. Pelo que nós
sabíamos ele se encontrava a bordo da nave, e estava trancado na sua cabine, como
também os outros membros da tripulação. Como ele ocupava uma cabine sozinho,
alguém devia ter ido visitá-lo.
E pelas palavras desse visitante não era difícil perceber que ele não tinha clareza
quanto a função de um aparelho de radiotransmissão.
— Isso que está falando não é uma coisa, — explicou o Major lentamente, — mas
sim eu, o Major Mincos Polata, estou falando através do meu aparelho de rádio de pulso,
ao senhor. Como é o seu nome?
Por algum tempo reinou o silêncio. Somente podia ouvir-se alguém respirando
pesadamente, depois a mesma voz de antes falou:
— Isso não pode ser. O Major Mincos Polata... O nome me lembra alguém, um
homem. Mas como é que um homem pode se meter nesta caixinha tão pequena? Ossuti,
você tem uma explicação para isso?
Nós escutamos murmúrios, depois soou uma voz de baixo profundo:
— Aqui fala Ossuti. Eu acho que isso é um aparelho, com o qual se pode falar com
outras pessoas, através de grandes distâncias. Mesmo assim não entendo muita coisa.
Quando depois de algum tempo acordei como de um pesadelo, encontrei-me trancado
num quarto, com objetos estranhos. Mas pude me soltar. Quem fala aí?
— O Major Polata, Comandante da EX-6633 — respondeu Mincos Polata,
conseguindo só a custo abafar sua agitação. — O senhor é Ossuti Wangemu, chefe do
rastreamento da nave Explorer. Por favor não toque em qualquer outro instrumento, antes
que eu esteja aí, com o senhor! Impeça também que outras pessoas manipulem quaisquer
aparelhos! Eu irei o mais depressa possível. Desligo.
Ele levou a mão para o botão do telecomunicador, mas logo decidiu-se a manter a
ligação. Sem que palavras fossem necessárias, Polata e eu corremos ao longo do corredor.
Nós desligamos nossas lanternas de mão, colocamos as mesmas ao lado da entrada e
corremos para o meu planador.
Em alta velocidade voamos de volta para a nossa nave. Também agora ainda
silenciamos, mas nossos pensamentos certamente se movimentavam na mesma linha.
Quando tínhamos abandonado a Explorer, nenhum dos imbecilizados tinha sido
capaz de se libertar de sua cabine, ou então de raciocinar sobre o sentido e a utilização de
aparelhagens técnicas. Menos ainda alguém poderia designar um aparelho transmissor de
rádio, como algo com que se podia falar com outras pessoas, a grandes distancias.
Mas exatamente isso tinha acontecido.
Mincos Polata somente freou já bem perto da nave Explorer, e colocou o planador,
de modo bastante duro, no chão da eclusa aberta dos hangares. Nós saltamos do veículo,
entramos no elevador antigravitacional mais próximo e pairamos para o convés onde
ficavam os alojamentos da tripulação.
Quando entramos no corredor externo, vimos uma porta aberta. Era a de Ossuti
Wangemu. Por trás da curva seguinte vimos uma segunda escotilha aberta. Como as
escotilhas normalmente se fechavam automaticamente depois que alguém passava por
elas, o mecanismo de trava devia ter sido ativado.
Antes de alcançarmos a abertura, dois homens saíram da cabine para o corredor.
Um deles era Ossuti Wangemu, o outro Nosartes Alcante, nosso gerente de magazine, um
senhor de idade meio gordo, cuja profissão principal era a Cosmosociologia.
Eles nos olharam com expressões estranhas no rosto, e nós registramos que os seus
olhos estavam mais claros, que desde a imbecilização.
Polata e eu caminhamos mais devagar, e paramos bem perto dos dois homens. O
Major sorriu, um pouco forçadamente, conforme notei, e disse, quase sem fôlego:
— Eu sou o Major Mincos Polata — caso os senhores não me reconheçam —, e
meu acompanhante é o Capitão Hysk Vantolier. Como se sentem?
Nosartes Alcante sorriu, timidamente, o que normalmente não era do seu feitio —
de qualquer modo não antes da imbecilização.
— Eu acho que me sinto bem — respondeu ele, inseguro. Ele refletiu. — Me parece
que eu tive um sonho terrível, e que ainda não acordei inteiramente. Quando quero
refletir, sinto uma dor surda aqui em cima. — Ele apontou para a cabeça.
— Foi algo bem pior que um sonho terrível — retrucou o Major Polata. — Mas
agora tudo ficará bem novamente, Professor Alcante.
Ossuti Wangemu produziu inúmeras rugas no seu rosto muito moreno, o que
revelou uma reflexão intensa.
— Nossa... inteligência estava... bloqueada, não é mesmo? — perguntou ele, aos
trancos. — Eu só me lembro indistintamente deste espaço de tempo, mas lentamente cada
vez mais recordações voltam do tempo anterior a isto. Nós partimos com uma nave, uma
nave que se movimenta entre as estrelas. A noção “Império Solar” perpassa pelo meu
consciente, mas eu não consigo classificá-la ainda.
Mincos Polata respirou fundo, ruidosamente. Evidentemente ele pensava a mesma
coisa que eu, ou seja, que o pior tempo já se passara e que os imbecilizados lentamente
acordavam do seu estado terrível.
— Nós ainda nos encontramos na nave estelar — explicou ele. — E o Império Solar
é nossa pátria. Nós viajamos... — ele evitou noções difíceis, que poderiam deixar os
recém-acordados confusos —...para um mundo desconhecido, para visitar criaturas que...
— ele procurou pelas palavras —...que têm uma aparência um pouco diferente da nossa.
Aqui chegados, repentinamente, as forças do entendimento se enfraqueceram — com
exceção das do Capitão Vantolier e as minhas. Nós tivemos que trancá-los nos seus
alojamentos, para que não pudessem brincar com aparelhos, cujas funções... quero dizer...
cuja maneira de trabalhar, os senhores não mais entendiam, e assim eventualmente
poderiam causar danos.
Ossuti Wangemu passou os dedos pela sua barba negra. Nós não podíamos também
fazer a barba dos nossos imbecilizados. Lentamente ele disse:
— Quer dizer que nós nos encontramos numa nave estelar. Tenho razão, ao
presumir que não estamos sozinhos?
— O senhor tem razão — respondeu Polata. — Nós somos — no total —
quatrocentas pessoas, além do Capitão Vantolier e eu.
— Então precisamos verificar como vão as outras pessoas — declarou Wangemu.
— Se elas somente acordarem lentamente da... da imbecilização, talvez precisem de
ajuda.
Mincos Polata sorriu, aliviado.
— Eu fico muito contente que esta sugestão parta do senhor, Capitão Wangemu.
Nós vamos imediatamente cuidar de nossos companheiros.
Ele virou-se para o Professor Alcante.
— O senhor, por favor, poderia ajudar-nos nisso, professor?
— Naturalmente, com prazer. Eu naturalmente não entendo tudo sobre o que os
senhores falaram, mas eu ajudarei no que posso.
— Neste caso não vamos mais perder tempo — declarou Mincos Polata. — Vamos
ir de cabine a cabine, falar com seus ocupantes e animá-los psicologicamente. — As
últimas palavras tinham sido dirigidas para mim.
Eu anuí.
— Mas nós também devíamos cuidar para que, além do senhor, ninguém mais
abandone sua cabine, Major. Pelo menos não neste estado ainda.
— Isso é evidente — Polata riu. — Caso contrário, alguém ainda acabará
disparando os canhões.
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