Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
Vidas Paralelas (prov. 96-120 d.C.) é uma obra que contém biografias
dos mais famosos personagens da antiguidade. São 23 duplas de
biografados (um grego e um romano), todos de um passado distante.
O interesse dos humanistas pela língua grega foi fundamental para a
fortuna da obra de Plutarco a partir do século XIV.
Coluccio Salutati traduziu a obra de Plutarco a partir de uma tradução
aragonesa (por Juan Fernández de Heredia, 1379-84), em 1396.
Leonardo Bruni, que havia sido aluno de Chrysoloras, iniciou as
traduções de Plutarco diretamente do grego para o latim, em Florença,
no início do século XV.
Por volta de 1460 todas as Vidas se encontravam traduzidas, cerca de um
quarto delas em mais de uma versão.
A versão completa das Vidas Paralelas aparece impressa pela primeira
vez em Roma em 1470, preparada por Giovanni Antonio Campano, na
qual percebe-se o envolvimento de largos setores da intelectualidade
italiana na atividade de tradução. A obra foi reeditada muitas vezes
(cinco ainda no século XV e cerca de vinte no século seguinte).
* Florença: bottega Giunta, 1517
* Veneza: herdeiros de Aldo Manuzio, 1519 Roma: Ulrich Han, 1470
“Se empreendi a composição destas
1. Breve árvore biografias foi, de início, para
genealógica para proveito dos outros; mas agora é
mostrar origens para mim mesmo que persevero
nobres do biografado nesse agradável desígnio. A história
dos varões ilustres é como um
2. Educação (formação espelho que observo para, de
intelectual e moral) algum modo, tentar regular minha
3. Feitos extraordinários vida conformemente à imagem de
4. Morte suas virtudes. Ocupando-me deles,
parece-me estar vivendo com eles.”
(PLUTARCO, Vida de Timoleão).
“Precursores” do Dante Alighieri, Divina Comédia – narrativa de traços biográficos de
humanismo personalidades antigas e modernas.
Giovanni Boccaccio:
De vita et moribus... Francesci Petrarcchi (1348-9).
“(...) Dante e (...) Petrarca, (...) se Vite di Dante e del Petrarca (1436) – segue o
comparação se deva fazer, entre esses modelo das Vidas Paralelas de Plutarco. Não
dois muito prestantes homens, (...)
afirmo que ambos foram muito são simples biografias. Com clara
valentes e famosíssimos e dignos de intencionalidade política, Bruni rende
muito grande elogio e louvor (...). homenagem à república florentina através de
Dante na vida ativa e civil foi de maior
preço que o Petrarca. (...) na ciência seus dois filhos prediletos. Descreve e
das letras e gramática e na cognição compara esses dois homens, que se
da língua latina Dante foi muito converteram em símbolos e modelos, inveja
inferior ao Petrarca. (...) Confesso
contudo que Dante na obra principal de toda a Itália. Mostra os dois poetas que,
avantaja toda a obra do Petrarca e, segundo Bruni, se equivalem e, ao mesmo
portanto, concluindo, cada um deles tempo, se superam em excelência.
(...) tem em parte sua excelência, e
em parte é excedido e sobrepujado.”
O segundo Comentário
de Lorenzo Ghiberti
1551: Elogi degli uomini d'arme, apposti ai veri ritratti (Paulii Iovii
Novocomensis Episcopi Nucerini Elogia virorum bellica virtute
illustrium veris imaginibus supposita)
“(...) [Brunelleschi e Donatello] pouco consideravam como comiam e bebiam, como viviam ou se vestiam, contanto
que se satisfizessem naquelas coisas de observar e medir. (...) mandaram cavar em muitos lugares, para encontrar
correspondência de membros e descobrir coisas e edifícios (...) e não existindo outros que fizessem a mesma coisa,
ninguém entendeu aquilo que eles faziam. E a razão da incompreensão é porque naquele tempo não havia quem se
interessasse, nem existiu durante centenas de anos quem tivesse se interessado no modo de edificar antigo; sobre o
qual, se por acaso algum autor do tempo dos gentios deu preceitos, como fez no nosso tempo Batista degli Alberti,
não foram mais do que coisas gerais.” (p. 175)
“(...) reconheceu bem, com o seu olhar agudo, a distinção de cada tipo, como Jônico, Dórico, Toscano, Coríntio e Ático,
e usou a maior parte deles nos momentos e nos lugares onde lhe parecia melhor (...)” (p. 176)
“E [o Tempio degli Angeli] tem tanta durabilidade e artifício, por causa das dificuldades que existiam, que é uma
grande maravilha. Haveria muito a dizer sobre as virtudes de Filippo, com relação a esse templo, se fosse encontrado
o modelo e terminado o edifício segundo o seu projeto, o qual, ainda que seja todo em estilo antigo dentro e fora,
tem invenções de qualidade e, julgando por aquilo que se vê, até onde foi feito, ele tentava coisas novas e belas.
Havia dificuldades que causavam grandes inconvenientes, os quais foram remediados facilmente e com economia, e
se alguém pensasse e pesquisasse, ali apareceriam muitas coisas que fariam o homem maravilhar-se de várias coisas,
que é mais útil buscá-las que ouvir dizê-las.” (p. 220)
História da Arquitetura
“Esta arte de construir no modo dito antigo, como todos os outros modos, teve início a
partir de coisas muito vis e rústicas, necessárias somente para escapar do frio, do
calor, dos ventos e da chuva, para os primeiros povos (...). (...) os homens foram se
* Fontes principais: aperfeiçoando, criando experiência com o tempo (...). E como a Grécia se desenvolveu
História Natural de Plínio e em vários lugares e momentos, foram aprovados diversos modos de construir, de
De re edificatoria de Leon acordo com a qualidade dos homens. E, durante algum tempo, dedicaram-se aos
ornamentos e ao reforço e à durabilidade dos edifícios; e porque cada lugar tinha
Battista Alberti homens de autoridade que favoreciam os seus artífices e os seus engenhos, e um não
queria demonstrar que seguia a regra do outro, nem lhe ser inferior, muitos modos
variados e distintos se estabeleceram (...). E, das coisas públicas e profanas, passaram-
se às igrejas e aos templos e aos diversos tributos aos deuses. (...) Mas como das coisas
mais desordenadas daqueles primeiros tempos se chegasse às coisas mais civilizadas ,
parece que tenha sido como segue (...). E ao purgar a desordem, naquilo que restava e
que não desagradava muito, parece que surgiam algumas coisas que agradavam, e no
agradar, também agradou mais uma coisa do que outra; de modo que se começou a
descobrir alguma coisa sobre a razão, isto é, a razão que convém àquelas coisas; e esta
razão foi pouco a pouco purgada de tudo aquilo que desagradava. E no (...) templo de
Diana Efesia (...) pela primeira vez houve condições para corrigir as coisas, que foram
estas as primeiras regras para afastar de vez os inconvenientes e passar às ordens
recomendáveis. E tendo as ordens (...) florescido maravilhosamente na Grécia, na
passagem do reino da Grécia àquele dos romanos, transferiram-se muitas coisas para
aquela famosíssima cidade que foi dona de todo o mundo. E porque os arquitetos vão
e são atraídos aos lugares onde estão os tesouros e os principados, e onde se investia,
com o reino da Grécia se transferiu a arquitetura porque, não encontrando trabalho na
Grécia, procuraram-no onde estavam os principados e a riqueza; daí que em Roma
floresceram os mestres muito mais do que na Grécia, como também cresceram o
principado e as experimentações. E a arquitetura alcançou aqui tal condição, tanta
reputação e tanta maravilha que só as ruínas e as pequenas relíquias já causam
grandíssimo assombro.
(...) decaindo o império, decaíram a arquitetura e os arquitetos, e surgindo
as nações bárbaras (...), estas trouxeram consigo seus próprios arquitetos, e
construíram, nos países onde comandaram por centenas de anos, segundo
os seus costumes. (...) Todos os edifícios privados, profanos e eclesiásticos
fizeram-se segundo a maneira deles, e abarrotaram toda a Itália,
principalmente dos colégios e dos postos de comando por Carlos Magno, e
ele entrando em acordo com os pontífices romanos e aquele tanto de
república romana que ainda restava, também ele atraiu os arquitetos da
região romana e dos pontífices, mas que não eram muito conhecedores em
matéria arquitetônica por causa da pouca prática. E no entanto construíam
naquela maneira dos antigos, porque tinham nascido entre aquelas coisas,
e não tinham visto nada além daquilo. E tendo Carlos recomposto ou
restaurado nossa cidade, vê-se alguma casinha, da mão dos arquitetos
trazidos consigo, com um reflexo do esplendor daqueles antigos edifícios de
Roma (...). E como a descendência de Carlos Magno se estendeu por poucos
graus de sucessão e o império depois foi em sua maior parte para as mãos
dos alemães, o modo que havia retornado através de Carlos se perdeu
novamente, e retomaram vigor os modos alemães, os quais duraram até o
nosso século, no tempo de Filippo (...)”. (p. 178-84)
Giorgio Vasari
(Arezzo, 1511-Florença, 1575)
“Muitas vezes são imensos os dons que, por influxos celestes, chovem naturalmente sobre alguns corpos
humanos; outras vezes, de modo sobrenatural, num só corpo se aglomeram superabundantemente beleza, graça e
virtude, de tal maneira que, para onde quer que ele se volte, todas as suas ações são tão divinas, que, deixando
para trás todos os outros homens, se dão a conhecer como coisas (que de fato são) prodigalizadas por Deus, e
não conquistadas pela arte humana. Isso foi visto pela humanidade em Lionardo da Vinci, em quem a beleza do
corpo, nunca suficientemente louvada, era acompanhada por uma graça mais que infinita em qualquer de suas
ações; era tamanha e de tal índole a sua virtude, que todas as dificuldades para as quais ele voltasse sua atenção
se tornavam facilidades absolutas. Nele, foi grande a força unida à destreza, grande o ânimo, sempre nobre e
magnânimo o valor. (…) De fato, o céu às vezes nos manda algumas pessoas que não representam apenas a
humanidade, mas a própria divindade, de tal modo que, sendo tais pessoas modelo desta, possamos imitá-las
para, em espírito e por meio da excelência do intelecto, aproximarmo-nos das partes mais elevadas do céu.” (Vida
de Leonardo da Vinci, p. 443)
A Vida de Filippo Brunelleschi
Narrativa
“A natureza cria muitas pessoas pequenas no corpo e nas feições, mas com alma cheia de
tamanha grandeza e coração repleto de tão desmedida força, que tais pessoas, se não
empreenderem coisas difíceis e impossíveis, terminando-as e entregando-as ao mundo, para
admiração de quem as vê, nunca terão descanso na vida. E todas as coisas que a ocasião lhes
põe nas mãos, por mais humildes e modestas que sejam, são por elas engrandecidas e
exaltadas. Por isso, nunca deveríamos torcer o nariz quando encontramos pessoas cujo aspecto
não tem a graciosidade ou a formosura que a natureza deveria dar a quem vem ao mundo para
exercer algum talento, porque não há dúvida de que debaixo da terra se escondem os veios de
ouro. E muitas vezes naqueles que nascem com formas débeis há tanta generosidade na alma e
sinceridade no coração que, com o acréscimo da nobreza, de tais pessoas não se pode esperar
senão imensas maravilhas; isto porque elas se esforçam por aformosear a fealdade do corpo
com a virtude do engenho, tal como se viu claramente em Filippo di Ser Brunellesco, de
minguada corporatura, mas de tão elevado engenho, que podemos dizer ter ele nos sido dado
pelo céu para conferir nova forma à arquitetura, desgarrada havia centenas de anos, arte na
qual os homens daquele tempo haviam desbaratado tesouros, construindo sem ordem, mal,
com péssimo desenho, estranhíssimas invenções, desenxabida graça e pior ornamento. E o
céu, vendo que a terra passava tantos anos sem uma alma egrégia e um espírito divino, quis
que Filippo desse ao mundo as maiores e melhores construções entre todas as outras feitas
no tempo dos modernos e no dos antigos, mostrando que o valor dos artistas toscanos,
conquanto perdido, não estava morto.” (p. 225-6)
Formação
“(...) ouvindo-o [Messer Paolo dal Pozzo
Toscanelli] discorrer sobre a arte da
matemática, acabou tomando-se de
amizade por ele e com ele aprendeu
geometria. E Filippo, embora não fosse
um homem de letras, argumentava tão
bem sobre as coisas, com a naturalidade
da prática e experiência, que muitas vezes
o confundia. E, assim continuando,
dedicou-se às coisas da escritura cristã,
não deixando de intervir continuamente
nas discussões e nas pregações dos
doutos, coisas nas quais admitiu grande
cabedal, graças à sua admirável memória
(...). Também nessa época dedicou-se
muito às coisas de Dante (...). E em
pensamento só fazia maquinar e imaginar
coisas engenhosas e difíceis.” (p. 229)
Evolução/Superação dos
mestres
“(...) vendo que ele [Filippo Brunelleschi]
estava sempre à procura de coisas que
exigissem engenho e artes manuais, [Ser
Brunellesco de Lippo Lapi] passou a
ensinar-lhe o manejo do ábaco e a escrita,
mandando-o depois aprender a arte da
ourivesaria e o desenho com um amigo
seu. E isso deu muita satisfação a Filippo,
que começando a aprender e a praticar
essa arte, não demorou muitos anos para
engastar pedras preciosas melhor que o
artista veterano naquele mister.” (p. 226-
7)
Observação dos
“Feita a encomenda a Lorenzo Ghiberti, Filippo e Donato
antigos resolveram partir juntos para Roma e ali ficar alguns
anos, para que Filippo estudasse arquitetura, e Donato,
escultura. Filippo foi por querer ser superior a Lorenzo e a
Donato, assim como a arquitetura é mais nobre que a
escultura e a pintura. (...) saíram de Florença e foram
para Roma, onde, vendo a magnificência dos edifícios e a
“(...) foi tal o seu estudo, que ele perfeição arquitetônica dos templos, ficou absorto,
conseguia imaginar Roma tal qual era parecendo fora de si. (...) inteiramente dedicado aos
antes de arruinar-se.” (p. 232) estudos, não se preocupando em comer ou dormir,
atento apenas à arquitetura já extinta, ou seja, às boas
ordens antigas, e não à alemã e bárbara, muito usada
“Pôs em uso as cornijas antigas e
em seu tempo. Tinha para si dois importantes conceitos:
um era trazer de volta a boa arquitetura, pois acreditava
restabeleceu as primeiras formas das que, renovando-a, não deixaria de si memória menos
ordens toscana, coríntia, dórica e digna do que a deixada por Cimabue e Giotto; o outro
jônica.” (p. 250) era encontrar o modo, se possível, de abobadar a cúpula
de Santa Maria del Fiore de Florença. (...) em Roma,
estudou todas as dificuldades existentes na Rotunda, para
descobrir como construir a abóbada. Anotava e
desenhava todas as abóbadas antigas, estudando-as
continuamente. E, se porventura encontrassem pedaços
enterrados de capitéis, colunas, cornijas e alicerces,
providenciavam para que fossem feitas escavações até
tocar o fundo.” (p. 231)
Comparação com os
antigos “Pode-se dizer com certeza que os antigos
não fizeram construções tão altas, nem
correram risco tão grande de desafiar o céu,
como ela de fato parece desafiar, pois se
ergue a tamanha altura, que se equipara aos
“Acredito que se pode dizer que desde montes que rodeiam Florença. E, de fato,
os antigos gregos e os romanos até parece que o céu tem inveja dela, pois
agora não houve ninguém mais continuamente lhe desfere raios durante todo
extraordinário e excelente do que ele; e o dia, por lhe parecer que sua fama quase
maior é seu mérito porque, na sua venceu as alturas aéreas.” (p. 244)
época, o estilo alemão era venerado
em toda a Itália e praticado pelos
artistas velhos (...)” (p. 250) “(...) consideravam o engenho de Filippo e
admitiam que ele tinha demonstrado uma
coragem que nenhum arquiteto antigo ou
moderno talvez jamais tivesse demonstrado
(...)” (p. 242)
Inovações
“Filippo dedicou-se muito à
perspectiva, então grandemente
prejudicada pelos muitos erros
“ (...) quem considerasse tudo o que eram cometidos. Nisso
que ele havia criado em termos de perdeu muito tempo, até
tirantes de união, encaixes, junções encontrar sozinho uma maneira
e ligações de pedras ficaria de corrigi-la e aperfeiçoá-la, (...)
estarrecido ao pensar que um só coisa realmente engenhosa e útil à
engenho era capaz de tanto.” (p. arte do desenho.” (p. 228)
242)
“A melhor [cena] (...) era a de Lorenzo di Cione “(...) ambos os modelos [o de “Foi-me concedida a
Ghiberti, que continha desenho, diligência, Brunelleschi e o de Ghiberti] eram palma da vitória por
invenção, arte e figuras muito bem elaboradas. belíssimos e que eles, considerando
No entanto, não lhe era muito inferior a cada aspecto, não sabiam dizer qual todos os peritos e
história de Filippo (...). Assim, quando as cenas
foram expostas, Filippo e Donato, satisfeitos era o melhor e, como a obra era por todos aqueles
apenas com a de Lorenzo, julgaram-na mais grande e tomaria muito tempo e
adequada do que as suas próprias. Por isso, recursos, que se fizesse a que competiram
com boas razões convenceram os Cônsules de encomenda aos dois igualmente, e comigo.
que deviam encomendar a obra a Lorenzo, que se tornassem colegas.
mostrando que tanto o poder público quanto
Convocados Filippo e Lorenzo, e Universalmente, foi-
os cidadãos seriam assim mais bem servidos;
foi essa realmente uma verdadeira bondade ditas palavras desse teor, Lorenzo me concedida a
de amigos, virtude sem inveja, juízo são sobre mantinha-se calado, enquanto glória sem exceção.”
si mesmos, atitude pela qual merecem mais Filippo não quis aceitar de modo
louvor do que se tivessem realizado a obra. algum, a não ser que ele fosse (2º Coment., §19)
(...) Os Cônsules pediram a Filippo que fizesse
a obra com Lorenzo, mas ele não quis, apesar inteiramente encarregado da obra,
de estar pronto a atender a qualquer sinal, e manteve sua posição.” (p. 170)
pois preferia ser primeiro numa única arte a
ser parceiro ou ajudante naquela obra.” (p.
230-1)
Vasari, Vida de Filippo Brunelleschi Manetti, Vida de Filippo Brunelleschi
“Uma bela manhã, Filippo não foi ao trabalho, enfaixou a cabeça, “(...) uma manhã, Filippo não saiu da cama, ou melhor, ficou nela
enfiou-se na cama e, gritando sem parar, mandava esquentar fingindo estar doente, particularmente de uma dor nos flancos, se
vasilhas e panos com grande aflição, fingindo estar com dor nas lamentando e pedindo panos aquecidos e cuidados semelhantes,
remédios para o suposto mal. E no entanto ele era acostumado a ser o
costas. Ao saberem disso, os mestres, que estavam esperando primeiro a chegar na obra. E sendo necessário a cada momento
instruções para os trabalhos, perguntaram a Lorenzo o que perguntar alguma coisa, e não tendo, como de costume, para quem
deveriam fazer: ele respondeu que as ordens eram de Filippo, e perguntar, eles recorreram a Lorenzo; e ele sabia que o programa era de
que seria preciso esperá-lo. Alguém disse: ‘E tu não sabes o que Filippo, e ele não havia entendido bem o que se devia fazer a seguir –
ele quer?’ ‘Sim – disse Lorenzo –, mas eu não faria nada sem pois Filippo mantinha o programa por quanto possível escondido e
ele.’ Disse isso para desculpar-se, pois, não tendo visto o modelo Lorenzo tinha vergonha de perguntar para não parecer ignorante, e
de Filippo e nunca lhe tendo perguntado suas intenções para porque sabia que ele estava ali contra a sua vontade, e que não lhe diria
nada – e ele não queria causar nenhum inconveniente, dizendo alguma
não parecer ignorante, evitava falar dessas coisas e sempre coisa, para que depois Filippo pudesse se lamentar, dizendo que lhe
respondia com evasivas, sobretudo por saber que estava haviam arruinado o programa, e que se devesse desfazer alguma parte
naquela construção contra a vontade de Filippo. Como durasse exposta, causando-lhe vergonha e aumentando a reputação e a honra
já dois dias aquela dor, o administrador da obra e vários mestres de Filippo, pois lhe parecia que já tivesse ganhado prestígio demais.
foram visitá-lo, perguntando-lhe sempre o que deviam fazer. E Não sabendo o que fazer, acorreu em solicitar que Filippo viesse; e
ele respondia: ‘Lorenzo está lá, ele que faça alguma coisa.’ E mandava lá alguns mestres pedreiros, o provedor etc. para discutirem
mais não se arrancava dele. Em vista disso, começou-se a como se tivessem ido por iniciativa própria. E Filippo fingia estar pior a
cada hora, e a coisa se alongou tanto que a obra teve de ficar suspensa
comentar e a tecer grandes críticas àquela obra; alguns diziam (...). E os amigos de Filippo, aos quais era dita alguma coisa,
que o mal que levara Filippo a cair de cama era a falta de respondiam: ‘Lorenzo não está lá? Se Filippo está doente, que culpa tem
coragem de fazer a abóbada, que ele estava arrependido de ter ele? Ninguém está mais desgostoso do que ele’; e quem estava do lado
entrado na dança. Os amigos o defendiam, dizendo que, se ele contrário acusava Filippo de fingir o mal-estar porque estava
tinha algum desgosto, era pela ofensa de terem posto Lorenzo arrependido de ter se envolvido em tal empreitada, que havia
como seu companheiro; que seu mal era mesmo a dor nas embarcado nela mais para parecer extraordinário do que para sê-lo, e
costas, causada pelo muito trabalho na obra.” (p. 240) que agora não tinha peito de realizá-la.” (p. 204-5)
A Vida de Michelangelo Buonarroti
“Porque sobre os vivos, que por si mesmos
são conhecidíssimos, não cabe aqui
discorrer. Mas aquele que, entre os mortos
e os vivos, sobrepuja, transcende e
Primeira longa biografia de encobre todos os outros é o divino Michel
Michelangelo. Agnolo Buonarroti, que não tem a
supremacia em apenas uma dessas artes,
mas nas três em conjunto. Ele supera e
Único biografado vivo presente na
vence não só todos os outros, que quase
venceram a natureza, mas até mesmo os
edição de 1550 das Vidas. famosíssimos antigos, que com tanto
louvor, sem dúvida alguma, a superaram. É
o único que com justiça triunfa daqueles,
Há controvérsias quanto à aprovação ou destes e da natureza, não se podendo
não do conteúdo da biografia por parte imaginar coisa alguma, por mais estranha
de Michelangelo. e difícil que seja, na qual ele não a
ultrapasse com a virtude de seu
diviníssimo engenho, por meio da
indústria, do desenho, da arte, do tino e
da graça.” (Proêmio da IIIª parte das Vidas,
p. 442)
Narrativa “Enquanto os espíritos industriosos e egrégios,
guiados pela luz do famosíssimo Giotto e de seus
seguidores, se esforçavam por mostrar ao mundo o
valor que a benignidade das estrelas e a bem-
proporcionada mistura dos humores haviam dado a
seus engenhos e debalde trabalhavam no afã de
atingir ao máximo o supremo conhecimento que
muitos chamam universalmente de inteligência, por
desejarem imitar com a excelência da arte a
grandeza da natureza, mais que benigno Regente do
Céu, voltando clemente os olhos para a terra e
vendo a vã infinidade de esforços, os ardentes e
infrutíferos estudos e a opinião presunçosa dos
homens, bem mais distante da verdade que as
trevas da luz, para livrar-nos de tantos erros se
dispôs a mandar para a terra um espírito, que,
atuando por si só em cada uma das artes e em
todos os misteres, fosse capaz de mostrar como
superar as dificuldades da ciência das linhas, da
pintura, da escultura e da invenção da arquitetura
realmente graciosa.” (p. 713)
Comparação com os “E, querendo imitar a sacristia velha [de S. Lorenzo de
antigos, inovação, Florença] feita por Filippo Brunelleschi, mas com outra
ordem de ornamento, fez um ornamento compósito,
superação segundo modos mais variados e novos que em seu tempo
eram usados por alguns mestres, antigos ou modernos;
porque a novidade de cornijas, capitéis, bases, portas,
tabernáculos e sepulturas os distinguia bastante daquilo
“(...) levando-se em conta as invenções da que era feito em termos de proporção, ordem e norma,
arquitetura nas sepulturas, é forçoso segundo o uso comum e de acordo com Vitrúvio e os
confessar que ele superou todos os homens antigos, para só falar destes.” (p. 729)
(...)” (p. 730)
Escritos:
•Le considerazione sulla pittura (1620)
Escritos:
•Le nove chiese di Roma (1639)
•Le vite de' pittori, scultori et architetti dal pontificato di Gregorio XIII del
1572 in fino a tempi di Papa Urbano VIII nel 1642 (1642)
Giovanni Battista Passeri
Roma c. 1610 – 1679
Pintor
Escritos:
•Le vite de' pittori, scultori et architetti che hanno lavorato in Roma morti del
1641 fino al 1673
Gian Pietro Bellori
Roma 1613 – Roma 1696
Pintor e antiquário, curador de papa Clemente X
Escritos:
ALEMANHA
Charles Perrault, Parallèle des anciens et des
Joachim von Sandrart, Teutsche Akademie
modernes en ce qui regarde les arts et les sciences
(1675-9)
(1688)
ESPANHA
Roger de Piles, Abregé de la vie des peintres, avec
Francisco Pacheco, Libro de Verdaderos des reflexions sur leurs ouvrages (1699)
Retratos de Ilustres y Memorables Varones
(1599) (1ª ed. 1886)
Escritos:
Escritos:
•Vita del Cavalier Gio. Lorenzo Bernini (1713)