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DIREITO DO CONSUMIDOR

1) Características do CDC: é uma norma de ordem pública, de aplicação obrigatória; é uma lei de função
social; é um microssistema jurídico, ele nasce para tutelar o vulnerável, que, em regra, é o consumidor;
a vulnerabilidade pode ser, segundo o STJ:
o Técnica
o Jurídica
o Real/fática
o Informacional
O CDC é uma norma multidisciplinar porque há, claramente, diversas disciplinas em seu interior; é
uma norma principiológica porque estabelece fins a serem alcançados e veicula valores.
2) Elementos da relação de consumo:
 Subjetivos:
- o consumidor: é toda pessoa física ou jurídica que adquire um produto ou serviço como
destinatário final. O código adotou a teoria finalista ou subjetiva. Obs: fica excluído do CDC o
consumo intermediário, assim entendido como aquele cujo produto retorna para as cadeias de
produção/distribuição compondo custo e, portanto, o preço final de um novo bem/serviço. Obs 2:
vale dizer que só pode ser consumidor, para fins de tutela do CDC, aquele que exaure a função
econômica do bem/serviço, excluindo-o de forma definitiva do mercado de consumo; a pessoa tem
que ser o destinatário final econômico e fático. O STJ em certos casos mitiga o critério subjetivo
para abarcar pessoas que estavam sendo afastadas do conceito de consumidor.
Consumidor equiparado/equiparação: é aquele que não faz parte diretamente da relação de
consumo mas que é vitimado por uma relação de consumo. Ex: quando um ônibus atropela
pedestre.

- o fornecedor: toda pessoa física/jurídica, nacional/estrangeira, pública/privada, bem como os


entes despersonalizados (atuam no mercado de consumo com habitualidade sem ter um registro).

 Objetivos:
- o produto: qualquer bem móvel ou imóvel, material ou imaterial.

- o serviço: qualquer atividade prestada no mercado de consumo mediante remuneração, seja ela
direta ou indireta.
Obs: não é relação de consumo a relação entre condômino e condomínio. Também não é relação de consumo
a relação entre locador e locatário. Já a relação entre locador e imobiliária é uma relação de consumo. Crédito
educativo não se encaixa no conceito de relação de consumo. Também não é relação de consumo os contratos
previdenciários com entidades fechadas. A relação entre franqueado e franqueador também não é relação de
consumo.
3) Direitos Básicos do Consumidor: o rol é exemplificativo e não taxativo.
 Modificação ou revisão de cláusulas: quando houver uma prestação desproporcional, isso é
sinônimo de lesão, o contrato já nasce desequilibrado. A revisão será cabível quando houver fato
superveniente (previsto, mas não esperado) que gere uma onerosidade excessiva. A lesão é uma
causa concomitante à assinatura do negócio. A onerosidade excessiva é uma causa posterior. O
CDC não adotou a teoria da imprevisão. O CC sim. O que o CDC adotou foi a Teoria da Lesão
Consumerista e a Teoria do Rompimento da Base Objetiva do Negócio Jurídico.

 Prevenção/reparação dos danos:


- Material: danos emergentes (perda no patrimônio já existente) e lucros cessantes (perda de algo esperável).
- Moral: é gerado pela violação de um dos direitos da personalidade. Danos morais podem ser cumulados com
danos materiais. A apresentação antecipada de cheque pré-datado configura um dano moral. É um dano moral
in re ipsa, ou seja, presumido. A devolução indevida de cheque também configura dano moral.
- Estético: é um dano autônomo ao dano moral. Ele pode ser cumulado com dano moral. E nada impede que
seja cumulado também com dano material.
- Perda de uma chance: é a perda de uma chance séria e real. Poderá demandar por um dano moral ou por um
dano material.
- Perda do tempo livre: trata-se de um dano moral também.
-Inversão do Ônus da Prova: É aquela em que ocorre análise do critério subjetivo do julgador. O juiz pode
inverter o ônus da prova. Não é uma regra, não é um dever. Poderá inverter quando houver hipossuficiência
ou verossimilhança.

4) Responsabilidade Civil no CDC: sempre será objetiva, independe de culpa.

 Ocorrência do vício: o vício é uma impropriedade ou uma inadequação que recai sobre o
produto/serviço. Tem natureza intrínseca.
>vício em relação à qualidade: para os fornecedores a regra é a solidariedade. Nos produtos ‘in natura’ há
um rompimento da solidariedade, a responsabilidade será somente do alienante imediato. O consumidor
tem que oportunizar ao fornecedor a oportunidade de sanar o problema em 30 dias, e se nada for feito, ele
poderá alternativamente pedir a sua substituição, ou restituição ou o abatimento. Exceções: o consumidor
poderá fazer o uso imediato das alternativas do parágrafo primeiro sempre quando o vício for de grande
extensão ou se tratar de produto essencial ou se houver acordo entre as partes reduzindo o prazo para 7
dias ou aumentar para 180 dias. Quando o contrato for de adesão, a escolha caberá ao consumidor.
>vício em relação à quantidade: no art. 19 existe o rompimento da solidariedade dos fornecedores. A
responsabilidade será sempre objetiva tendo em vista o risco da atividade. Havendo vício na quantidade o
consumidor não terá que esperar o prazo máximo de 30, ele poderá usar as alternativas da substituição,
restituição ou abatimento imediatamente.
>vício do serviço: não há de se falar em prazo de espera aqui também.

- Qual ação a ser proposta diante dos vícios? Os vícios podem ser aparentes (que se dá com o mero olhar),
de fácil constatação (é aquele que se dá com o mero manusear) ou ocultos (que só pode ser observado em
um momento posterior). Para o vício aparente ou de fácil constatação, tenho um prazo para demandar de
30 dias para produtos e serviços não duráveis e 90 dias para produtos e serviços duráveis. Esse prazo será
contabilizado da entrega efetiva ou do término da execução do serviço. Não há um prazo para constatar o
vício oculto, mas uma vez descoberto, terei um prazo decadencial de 30 ou 90 dias para a propositura da
ação.

 Ocorrência do fato: é o acidente de consumo, é o dano que recai sobre o consumidor. Quem são os
responsáveis? O fabricante, o produtor, o construtor e o importador. O comerciante será
responsabilizado de forma subsidiária. Causas excludentes de responsabilidade: caso fortuito; força
maior. O prazo para a propositura da ação é prescricional de 5 anos, da data do conhecimento do dano
e de sua autoria.
No fato do serviço o responsável são os fornecedores. A responsabilidade é objetiva, mas para o
profissional liberal a responsabilidade é subjetiva, mediante a verificação de culpa. O prazo para a
propositura da ação também é de 5 anos prescricionais da data do conhecimento do dano e de sua
autoria.

5) Banco de Dados:
- A inscrição do nome do devedor pode ser mantida nos serviços de proteção ao crédito até o prazo máximo
de cinco anos, independentemente da prescrição da execução.
- Cabe ao órgão mantenedor do Cadastro de Proteção ao Crédito a notificação do devedor antes de proceder à
inscrição.
- Da anotação irregular em cadastro de proteção ao crédito, não cabe indenização por dano moral, quando
preexistente legítima inscrição, ressalvado o direito ao cancelamento.
- É dispensável o aviso de recebimento (AR) na carta de comunicação ao consumidor sobre a negativação de
seu nome em bancos de dados e cadastros.
-Incumbe ao credor a exclusão do registro da dívida em nome do devedor no cadastro de inadimplentes no
prazo de cinco dias úteis, a partir do integral e efetivo pagamento do débito.

6) Desconsideração da Personalidade Jurídica: é a suspenção episódica da eficácia do ato constitutivo.


Foi adotada a teoria menor no CDC, pois traz menos complexidade para que haja a penetração no
patrimônio do sócio. O CC adota a teoria maior.

7) Oferta: a oferta vincula se for suficientemente precisa, sem conter erro grosseiro ou exagero
publicitário. Em caso de descumprimento da oferta. Se o fornecedor de produtos ou serviços recusar
cumprimento à oferta, apresentação ou publicidade, o consumidor poderá, alternativamente e à sua
livre escolha:
I - exigir o cumprimento forçado da obrigação, nos termos da oferta, apresentação ou publicidade;
II - aceitar outro produto ou prestação de serviço equivalente;
III - rescindir o contrato, com direito à restituição de quantia eventualmente antecipada,
monetariamente atualizada, e a perdas e danos.

8) Publicidade: A publicidade deve ser veiculada de tal forma que o consumidor, fácil e imediatamente,
a identifique como tal. É proibida toda publicidade enganosa ou abusiva.É enganosa qualquer
modalidade de informação ou comunicação de caráter publicitário, inteira ou parcialmente falsa, ou,
por qualquer outro modo, mesmo por omissão, capaz de induzir em erro o consumidor a respeito da
natureza, características, qualidade, quantidade, propriedades, origem, preço e quaisquer outros dados
sobre produtos e serviços. É abusiva, dentre outras a publicidade discriminatória de qualquer natureza,
a que incite à violência, explore o medo ou a superstição, se aproveite da deficiência de julgamento e
experiência da criança, desrespeita valores ambientais, ou que seja capaz de induzir o consumidor a se
comportar de forma prejudicial ou perigosa à sua saúde ou segurança.

9) Cláusulas abusivas: são nulas de pleno direito. Não invalidam todo o contrato.

São nulas de pleno direito, entre outras, as cláusulas contratuais relativas ao fornecimento de produtos e
serviços que:

I - impossibilitem, exonerem ou atenuem a responsabilidade do fornecedor por vícios de qualquer


natureza dos produtos e serviços ou impliquem renúncia ou disposição de direitos. Nas relações de consumo
entre o fornecedor e o consumidor pessoa jurídica, a indenização poderá ser limitada, em situações
justificáveis;

II - subtraiam ao consumidor a opção de reembolso da quantia já paga, nos casos previstos neste código;

III - transfiram responsabilidades a terceiros;

IV - estabeleçam obrigações consideradas iníquas, abusivas, que coloquem o consumidor em


desvantagem exagerada, ou sejam incompatíveis com a boa-fé ou a eqüidade;

V - (Vetado);

VI - estabeleçam inversão do ônus da prova em prejuízo do consumidor;

VII - determinem a utilização compulsória de arbitragem;


VIII - imponham representante para concluir ou realizar outro negócio jurídico pelo consumidor;

IX - deixem ao fornecedor a opção de concluir ou não o contrato, embora obrigando o consumidor;

X - permitam ao fornecedor, direta ou indiretamente, variação do preço de maneira unilateral;

XI - autorizem o fornecedor a cancelar o contrato unilateralmente, sem que igual direito seja conferido
ao consumidor;

XII - obriguem o consumidor a ressarcir os custos de cobrança de sua obrigação, sem que igual direito
lhe seja conferido contra o fornecedor;

XIII - autorizem o fornecedor a modificar unilateralmente o conteúdo ou a qualidade do contrato, após


sua celebração;

XIV - infrinjam ou possibilitem a violação de normas ambientais;

XV - estejam em desacordo com o sistema de proteção ao consumidor;

XVI - possibilitem a renúncia do direito de indenização por benfeitorias necessárias.

§ 1º Presume-se exagerada, entre outros casos, a vantagem que:

I - ofende os princípios fundamentais do sistema jurídico a que pertence;

II - restringe direitos ou obrigações fundamentais inerentes à natureza do contrato, de tal modo a ameaçar
seu objeto ou equilíbrio contratual;

III - se mostra excessivamente onerosa para o consumidor, considerando-se a natureza e conteúdo do


contrato, o interesse das partes e outras circunstâncias peculiares ao caso.

§ 2° A nulidade de uma cláusula contratual abusiva não invalida o contrato, exceto quando de sua
ausência, apesar dos esforços de integração, decorrer ônus excessivo a qualquer das partes.

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