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As cinco Marias

Personagens:
Carcereira (Leticia): Evelyn
Policial (Daniela): Bruna
Repórteres (Juliana e Carolina): Maisa e Damily
Maria Isabel: Talita
Maria Luiza: Ariane
Maria Alicia: Emily
Maria Vitória: Gabriele
Maria José: Lana

A policial e a carcereira que já começam em cena. Entra as duas repórteres.

Juliana: Olá, tudo bem.


Policial: Oi.
Carolina: Olá.
Juliana: Nós somos da faculdade de jornalismo, e gostaríamos de saber se podemos entrevistar algumas de
suas detentas.
Carolina: É um documentário para o nosso TCC.
Policial: Porque vocês ainda perguntam? Se sabem que tem autorização para isso, se fosse por mim as
expulsaria, mas o governo me impede. Só precisam passar pela revista.

As repórteres são revistadas.

Policial: Vocês duas saibam que a sala tem câmeras, não tentem dar uma de espertinhas. Leticia leve as
moças até a sala de entrevista.
Carcereira: Ok, podem me seguir.

Enquanto as duas repórteres estão na sala, a policial e a carcereira vão até a cela e tiram a primeira
detenta.

Policial: Não vai dar tempo de levar você para sala 21, então vê se não fala nada, lá tem câmeras e o seu
castigo pode vim depois.
Maria Luiza: Pode ficar tranquila.

Leticia leva Maria Luiza para a entrevista, enquanto a policial tira Maria Isabel e leva para a sala 21.

Maria Luiza entra na sala de entrevista.

Juliana: Olá, tudo bem, meu nome é Juliana, e essa é a Carolina.


Carolina: Nós somos da faculdade de jornalismo e gostaríamos de saber se pode responder algumas
perguntas para o nosso documentário.
Maria Luiza: Posso sim.
Juliana: Nós gostaríamos que você se se apresentasse primeiramente, nos conte seu nome, idade, de onde
você veio.
Maria Luiza: Meu nome é Maria Luiza Ramos, eu tenho 24 anos e sou aqui de São Paulo mesmo.
Carolina: Como era a sua vida antes de ser presa?
Maria Luiza: Eu vivia com a minha mãe, na zona Leste de São Paulo, ela tinha um salão lá. Foi ela quem me
apoiou a casar com o Rodrigo, sabe como né, desde pequena fui ensinada que pra fica rica tinha que me

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casar bem, então casei com um deputado estadual, passei a morar no metro quadrado mais rico dessa
cidade, engravidei dele pra segurar o casamento e assim eu ia levando.
Juliana: E como você veio parar aqui?
Maria Luiza: Ué, não ficou sabendo não, eu matei o deputado mais votado do estado. Peguei 18 anos de
cadeia.
Juliana: Mas porque você fez isso?
Maria Luiza: O filho da puta me batia todo dia, e eu aguentava, ele era o meu âmbar financeiro. Aquele foi
direto pro inferno, roubava dinheiro público que nem biscate rouba marido. Um dia ele chegou bêbado me
bateu tanto na frente da nossa filha, e quando eu vi ele indo na direção dela, eu corri pro quarto, peguei o
revolver que ele tinha do pai dele, e voltei pra sala, quando ele me viu solto o pescoço da minha menina,
daí eu mandei ela ir pro quarto, e antes que ele desse alguma desculpa eu atirei três vezes bem no peito
dele, nem quis me livrar do corpo, apenas fui até o quarto da Renata, abracei ela bem forte e esperei a
polícia chegar.
Carolina: E como é a sua vida aqui?
Maria Luiza: A minha vida aqui, bom, aqui é um presídio, é basicamente sela, banho e descaço.
Carolina: E sonhos, você tem algum?
Maria Luiza: Eu tenho mais dezesseis anos aqui, né. Mas já tô feliz por a minha filha estar sendo criada pela
minha tia e não pela vadia da minha mãe. Sabe, culpo a minha mãe por tudo isso, pois ela que me ensinou
a ganância e me fez casar com aquele cafajeste. Acho que é isso que eu quero fazer da minha vida, sabe,
ser professora, talvez, mas dos pequenos, pra ensinar as meninas a crescer na vida com a sua própria luta r
garra, e não do jeito mais fácil.
Juliana: Obrigada pelo seu depoimento.
Carolina: Muito Obrigada.
Maria Luiza: Até.

Leticia leva Maria Luiza até a sela, e pega Maria Isabel, que está na sala 21, e leva para a sala de entrevista.
Depois pega Maria Alicia e a leva até o policial.
Maria Isabel entra na sala.

Carolina: Olá, tudo bem?


Maria Isabel: Olá senhorita, estou bem sim, obrigada.
(As duas apertam as mãos)
Carolina: Meu nome é Carolina e essa é a Juliana.
Juliana: Oi.
(As duas também apertam as mãos)
Juliana: Nós estamos fazendo um documentário e precisamos de respostas para algumas perguntas, você
pode nos ajudar?
Maria Isabel: Sim, claro.
Carolina: Então vamos começar por seus dados como, nome, idade e de onde veio.
Maria Isabel: Meu nome é Maria Isabel Pereira, eu tenho 19 anos e vim da Cidade de Deus lá do Rio.
Juliana: E como era sua vida antes de tudo isso?
Maria Isabel: Eu fui criada pela minha mãe Telma, ela é uma batalhadora sabe, foi domestica a vida inteira,
e sempre me ensinou o valor do estudo, dois anos atrás, eu tentei 5 vestibulares, mas só passei em um
aqui de São Paulo, então vim morar com a minha tia.
Carolina: E porque você foi presa?
Maria Isabel: Nem eu sei direito, eu estava indo bem na faculdade, os professores me diziam até que eu
tinha chance de fazer meu mestrado em outro país. Eu era a única de cor da minha sala, sabe. Daí uma
garota da minha sala perdeu a chave de casa, e naquela mesma noite a casa dela foi assaltada. Então
disseram que eu tinha roubado a chave da casa dela e tinha sido cumplice em um crime junto com um

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garoto que eu nem sabia o nome. Mas como quem deve não teme dei a minha mala para os policiais
revistarem e lá estava a chave, eu não sei como isso aconteceu. Só sei que peguei seis anos de cadeia.
Juliana: E vocês são bem tratadas aqui?
Maria Isabel: Sim, na medida do possível.
Carolina: E qual é os seus planos quando sair daqui cinco anos?
Maria Isabel: Eu vou terminar minha faculdade, e mostrar a minha mãe que a sua educação que ela me
deu não foi jogada fora. Sabe medicina é mais que um curso, é a paixão da minha vida.
Juliana: Muito obrigada.
(Maria Isabel aperta a mão das duas)

Leticia a leva e busca Maria Alicia que será a próxima entrevistada.


A policial vai buscar Maria José para leva-la a sala 21.
Maria Alicia entra na sala.

Maria Alicia: Oi, oi.


Juliana: Olá, tudo bem?
Maria Alicia: Tudo graças a Deus.
Juliana: Que bom. Meu nome é Juliana e essa é a Carol.
Carolina: Nós somos estudantes de jornalismo, e gostaríamos de entrevista-la. Pode ser?
Maria Alicia: Tranquilo.
Juliana: Vamos começar pelo seu nome, idade, cidade natal.
Maria Alicia: Meu nome de batismo é José Carlos Costa, mas sou Maria Alicia, desde a cirurgia, tenho 27
anos, e vim de Faxinal do Sul, no Paraná, lá da puta que pariu mesmo.
Carolina: Nos conte um pouco da sua vida antes da prisão.
Maria Alicia: Minha família é muito conservadora, né. Quando eu fiz dezoito eu me assumi, daí eu fui
expulsa de casa. Tinha uns trocado que ganhei da minha vó, então vim pra cá, tenta a vida né. Mas logo cai
na prostituição, não que eu não gostasse sabe, mas de um jeito é uma vida miserável, lá pelos meus 24
anos comecei a fazer sucesso, pois consegui fazer a cirurgia, e transformei mesmo sabe, então entrei pro
bordel do Tião, lá era outro nível, né, então eu ia levando a vida assim.
Juliana: E como você foi presa?
Maria Alicia: Tião era um bom homem, mas só sexo não dá tanto lucro assim, então ele mandava nós
tentar vender uns, vocês sabem né, peguei sete anos de prisão por tráfico. Tião que se ferrou mais, pegou
vinte por causa de uns assassinatos, lá.
Carolina: E para seu futuro, o que planeja?
Maria Alicia: Prometi pra mim mesma que vou sonhar mais alto, sair dessa vida e lutar pela causa LGBT,
sabe, tem muitos garotos e garotas que não são aceitos por suas famílias, então, eu irei aceita-los, não sei
ainda como, mas não tenho nada a perder mesmo.
Juliana: Muito obrigada pela entrevista.
Maria Alicia: Obrigada você querida.

A carcereira pega Maria Alicia e traz Maria José.


Maria José entra na sala.

Carolina: Olá meu nome é Carolina, nós somos estudantes de jornalismo, e precisamos de algumas
respostas para um documentário que estamos fazendo.
Maria José: Olá, tudo bem.
Juliana: Olá, meu nome é Juliana, e você pode começar falando seus dados pessoais.
Maria José: Meu nome é Maria José de Jesus, eu tenho quarenta e um anos, e vim de Caraçá na Bahia, mas
sai de lá faz tanto tempo que nem me alembro mais.
Carolina: E sua vida como era lá?

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Maria José: Ah...A vida lá sempre um foi difícil né, meu pai sempre foi um pé de cana, mas era trabalhador,
a gente plantava milho, dava pouco, mas nós sobrevivia.
Juliane: E como você foi presa?
Maria José: A primeira vez que eu fui presa, foi uma estupidez né. Quando eu fiz dezoito anos, minha
mainha que Deus a tenha, me disse a seguinte frase, eu nunca mais vou esquecer: “Minha menina, não se
assuste, mas para o mundo menos de julgar, o teu cabelo tem que cobrir-te e tuas unhas começar a
arranhar”. E me deu uns trocados que tinha sobrado do plantio, me pediu pra comprar um vestido e ir pro
forró e sair dessa vida de sertão. Então eu fui, e já no primeiro baile, conheci o cafajeste do Xico Luís, ele
era bonito, sempre tinha dinheiro e eu burrinha que era, cai fácil na dele. Um dia ele me ligou, falou que
tava em Brasília, e que nos ia morar lá, sempre vi aquela cidade na Tv, a única coisa que eu precisava era
engolir uns saquinhos. Eu fui uma tonga mesmo, nem cheguei a ver o avião, peguei seis anos de cadeia.
Quando eu sai, meu pai e minha mãe já tinham morrido, também fiquei sabendo que Xico tinha morrido,
aquele foi direto pro inferno.
Carolina: Mas não é por isso que você está aqui, né?
Maria José: A senhora tá certa, não é por isso que eu tô aqui não, depois que eu sai, vendi a casa dos meus
pais porque queria vir pra São Paulo tentar a vida, mas o dinheiro só dava pra passagem, então peguei a
pexeira do meu pai, e assaltei um casal de turista, fim meio fugida pra cá. Consegui um emprego como
empregada domestica, fiquei lá por quatorze anos, mas um dia descobri que o filho da minha patroa era
um drogadinho, peguei ele no flagra, ele tento me comprar, mas eu burra que nem da primeira vez não
aceitei, e eu contei pra mãe dele, dai ele colocou uma planta na minha bolça e chamou a polícia, falando
que era eu que vendia aquilo pra ele, e como eu já tinha passagem, peguei mais quatro anos.
Juliana: E sonhos, a senhora tem?
Maria José: Sonhos? Esperança eu posso perder as vezes, mas sonhos?! Meu painho dizia que a alma que
não sonha é porque nunca conheceu o amor. Um dia eu vou sair daqui, só tenho mais dois anos, então vou
arranjar um emprego, conseguir dinheiro honesto, porque já conheci a justiça do tempo, e vou lá pra
Brasília cantar nas praça as músicas da minha lá da terra, sei toca gaita que é uma beleza. Sabe repórter
quando eu fui presa pela primeira vez eu chorei tanto, mas não por medo não, porque percebi que trai o
verdadeiro amor da minha vida, a música.
Carolina: Muito obrigada, boa sorte na vida.

Sai Maria José e entra Maria Vitória.

Juliana: Olá, já devem ter te explicado como funciona.


(Maria Vitória faz sim com a cabeça)
Carolina: Meu nome é Carolina e essa é a Juliana, nós só precisamos de algumas respostas.
Maria Vitoria: Ok
Juliana: Como é seu nome, sua idade e natalidade?
Maria Vitoria: Meu nome é Maria Vitoria Oliveira eu tenho 20 anos e sou de BH Minas Gerais.
Carolina: Como era sua vida antes de ser presa?
Maria Vitoria: Minha vida não era tão ruim sabe, agora eu dou mais valor, eu tinha uma família completa, dois
irmãos, mas sempre sonhei em ser modelo. Então uma amiga me disse que a agencia do tio dela estava contratando,
então eu criei esperanças.
Juliana: E porque você foi presa?
Maria Vitoria: Essa mesma amiga me disse que eu teria mais chances se emagrecesse um pouco, e que ela
poderia me ajudar com isso, então eu fugi de casa e vim com ela pra cá. Ela me ofereceu crack disse que
funcionava, mas mesmo assim disse que seria difícil de eu conseguir entrar. Daí ela me falou que poderia
me dar uma ajuda se eu dirigisse o carro pra ela em uma fuga, eu aceitei, sempre gostei de adrenalina.
Então estou aqui né, peguei quatro anos de prisão.
Carolina: E você é bem tratada aqui?
Maria Vitoria: Aqui é uma cadeia né, o que você acha?!

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Juliana: E sonhos tem?
Maria Vitoria: Tenho sonho de sair daqui só isso.
Carolina: Ok, obrigada pelo seu tempo.
Maria Vitoria: Nada.

Leticia leva Maria Vitoria.

Policial: Tá bom assim já, ne?

Juliana: Se você não se importar, poderíamos te fazer algumas perguntas?


Policial: Sim, mas vai logo.
Carolina: Ok, pode se identificar?
Policial: Meu nome é Daniela.
Juliana: É difícil trabalhar aqui?
Policial: Bom não é, mas foi o que eu escolhi pra minha vida.
Carolina: Você trata bem as presidiarias.
Policial: Sim, como manda a lei.
Carolina: Tem certeza?
Policial: Porque, você desconfia de mim?
Juliana: Não foi isso que ela quis dizer, é porque nós ouvimos gritos, só isso.
Policial: Teve briga numa sela, só isso.
Carolina: Ok, obrigada pelo seu tempo.

Eles apertam as mãos e as jornalistas saem. A policial resmunga para a carcereira. E Fim!

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