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Psico-USF

ISSN: 1413-8271
revistapsico@usf.edu.br
Universidade São Francisco
Brasil

Pelisoli, Cátula; Dalbosco Dell’Aglio, Débora


A Humanização do Sistema de Justiça por meio do Depoimento Especial: Experiências e
Desafios
Psico-USF, vol. 21, núm. 2, mayo-agosto, 2016, pp. 409-421
Universidade São Francisco
Iataiba, Brasil

Disponível em: http://www.redalyc.org/articulo.oa?id=401047459017

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Psico-USF, Bragança Paulista, v. 21, n. 2, p. 409-421, mai./ago. 2016 409

A Humanização do Sistema de Justiça por meio do


Depoimento Especial: Experiências e Desafios

Cátula Pelisoli – Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul, Comarca de Passo Fundo, Brasil
Débora Dalbosco Dell’Aglio – Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, Brasil

Resumo
O Depoimento Especial (DE) é uma prática de escuta de crianças e adolescentes vítimas de abuso sexual que objetiva minimizar
os danos causados por recorrentes testemunhos. O objetivo deste trabalho foi verificar a percepção de trabalhadores do Poder
Judiciário sobre o DE, com foco na atuação do psicólogo, a partir de entrevistas com 20 profissionais do Estado do Rio Grande
do Sul com experiência nesse método. A análise de conteúdo das entrevistas, com apoio do software webQDa, evidenciou três
categorias (Papel do entrevistador, Funções do DE e Condições técnicas). Os resultados indicaram que diferentes profissio-
nais podem exercer essa atividade e que a autonomia do entrevistador é dependente dos operadores com quem trabalha. O
DE possui as funções tanto de comprovação do fato como de proteção e a experiência tem propiciado o aperfeiçoamento do
método, ainda que sejam necessárias melhorias. O DE é um método em construção, dependente de seus trabalhadores e pleno
de possibilidades de aperfeiçoamento.
Palavras-chave: abuso sexual, psicologia jurídica, maus tratos infantis

Humanization of justice system by Special Testimony: Experiences and challenges

Abstract
The Special Testimony (ST) is a practice of inquiry for children and adolescents victims of sexual abuse that aims to minimize
negative consequences related to repetitive testimonies. The objective of this study was to verify perceptions of Law work-
ers about ST, focusing on the psychologist work, from interviews with 20 professionals’ experts in this method. The content
analysis with WebQda showed three categories (Role of Psychology, Functions of ST and Technical conditions). The results
indicated that different professionals can execute this activity and the autonomy of interviewer is dependent on workers. The
functions of ST are not only the proof of the fact but also its protection. Workers indicate the experience has been positive and
it has propitiated the improvement of the method, but technical improvements are still necessary. ST is still a method under
construction, dependent on workers and full of possibilities of changes.
Keywords: sexual abuse, forensic psychology, child abuse

Humanización del sistema de justicia por medio del Testimonio Especial: Experiencias y desafíos

Resumen
El Testimonio Especial (TE) es una práctica de indagación de niños y adolescentes víctimas de abuso sexual, cuyo objetivo es
minimizar los daños causados por recurrentes testimonios. El objetivo de este trabajo fue verificar la percepción de trabajadores
del Poder Judicial sobre el TE, centrándose en el trabajo de psicólogos, a partir de entrevistas con 20 profesionales del Estado
de Río Grande del Sur con experiencia en ese método. El análisis de contenido de las entrevistas, con apoyo del software web-
QDa, evidenció tres categorías (Papel del entrevistador, Funciones del TE y Condiciones técnicas). Los resultados indicaron
que diferentes profesionales pueden ejercer esa actividad y que la autonomía del entrevistador depende de los operadores con
quien trabaja. El TE contiene funciones tanto de comprobación del hecho como de protección, y la experiencia contribuyó para
el perfeccionamiento del método, aunque sean necesarias mejorías. El TE es un método en construcción, dependiente de sus
trabajadores y con muchas posibilidades de perfeccionamiento.
Palabras clave: abuso sexual, psicología jurídica, abuso infantil

A escuta de crianças e adolescentes que sofreram 1998; Finnilã-Tuohimaa et al., 2005; Herman, 2010;
abuso sexual não é tarefa fácil para nenhum profissio- Stein, Pergher, & Feix, 2009). Tendo em vista a necessi-
nal (Hoffmeister, 2012). Com frequência, vários atores dade de atuação de diferentes áreas e a complexidade e
são chamados a participar e intervir nessas situações: interdisciplinaridade contida no problema, atualmente
conselheiros tutelares, assistentes sociais, psicólogos, se tem pensado em metodologias que visam a reduzir a
médicos, enfermeiros, policiais e outros operadores da quantidade de pessoas e situações de escuta da criança,
lei (Faller, 2007a). Uma vez que se trata de crime carac- com a intenção prioritária da proteção integral e não
terizado, geralmente, pela não materialidade do fato, a revitimização (Brasil, 1990a).
palavra da (suposta) vítima torna-se, na maior parte dos A revelação do abuso, por exemplo, pode ocorrer
casos, a principal forma de acessar os fatos (Dammeyer, tanto em um contexto clínico como em um contexto

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forense (Faller, 2007a), e a entrevista é a principal estra- as crianças e adolescentes vítimas de abuso sexual do
tégia para acessar a suposta vítima e avaliá-la. Essa ambiente formal da sala de audiências e transferi-las
avaliação, porém, tem objetivos bem diferentes, depen- para uma sala especialmente projetada, com recursos
dendo do contexto em que é realizada (Faller, 2007a; audiovisuais e um profissional especializado (Daltoé
Huss, 2011). Em primeiro lugar, o “cliente” no contexto Cezar, 2007). Os objetivos do método são reduzir o
forense é o próprio sistema de justiça, enquanto que, na dano à criança e ao adolescente vítima, garantir os
clínica, é a criança ou o membro da família em atendi- direitos, proteger e prevenir, e melhorar a produção
mento. Outra diferença diz respeito à neutralidade do da prova (Daltoé Cezar, 2007). O DE é, atualmente,
profissional no contexto forense: o profissional não uma recomendação do Conselho Nacional de Justiça
deve ter interesse prévio em provar se o abuso ocorreu – CNJ (2010). Na Resolução 33/2010, o CNJ conside-
ou não. Além disso, o foco na justiça é nos fatos que rou documentos como a Constituição Federal (Brasil,
ocorreram, enquanto o foco do clínico é em como esses 1988), o Estatuto da Criança e do Adolescente (Brasil,
fatos afetaram a vítima. Essas diferenças vão implicar 1990a) e a Convenção Internacional Sobre os Direitos
no uso de estratégias diversas de entrevista e de manejo da Criança (Brasil, 1990b) para recomendar a implan-
das situações (Faller, 2007a). tação de salas de depoimento videogravado para
Uma estratégia que tem sido utilizada em entrevis- crianças e adolescentes. Nesse documento, justifica-
tas no contexto forense é a videogravação (Myers, 1998), -se a recomendação por meio do interesse prioritário
considerada a forma mais completa de documentação pela criança, do direito da criança e do adolescente
da entrevista, fornecendo informações verbais e visuais de serem ouvidos em processos judiciais de seu inte-
sobre o que aconteceu durante o tempo de avaliação resse e de terem sua opinião considerada. O CNJ
(Faller, 2007b). As vantagens de seu uso são: a) redução considera que o sistema de justiça necessita de provas
do número de entrevistas e/ou do número de entre- testemunhais mais confiáveis para a responsabilização
vistadores; b) documentação completa da entrevista; c) de agressores e indica a importância de preservar as
possibilidade de substituição do testemunho da criança crianças e adolescentes nessas situações. Dessa forma,
numa audiência tradicional; d) contribuição para o o DE deve acontecer em espaço adequado e com
entrevistador relembrar o seu conteúdo antes de servir profissional capacitado para acolher, orientar e enca-
como testemunha em uma audiência; e) pode ser utili- minhar as pessoas, de acordo com suas necessidades.
zada para persuadir um cuidador não abusivo que não O método de escuta protegida de crianças vítimas
está acreditando na revelação; f) pode ser utilizada para pelo Poder Judiciário tomou proporções grandiosas,
persuadir o agressor a confessar seu crime; g) peritos em tanto em sua expansão quanto pelas críticas recebidas.
abuso sexual podem assistir ao vídeo para formar uma Em diversos países, essa prática já é reconhecida e ins-
opinião sobre o caso; h) o vídeo preserva a revelação titucionalizada (Santos & Gonçalves, 2008). Entretanto,
inicial; i) pode ser utilizado para supervisão e j) é mais no Brasil, o DE tem enfrentado duras críticas e ainda
persuasivo do que o testemunho do entrevistador sobre não se configura como uma prática aceita por todas as
o que a criança disse. Entretanto, existem desvantagens: categorias profissionais envolvidas. Assistentes sociais
a) a existência de inconsistências no depoimento pode e psicólogos, aqueles que seriam, em tese, os principais
ser motivo de contestação em audiência; b) a técnica entrevistadores das crianças e adolescentes vítimas, têm
do entrevistador pode ser também motivo de contesta- opiniões divergentes sobre a tarefa: enquanto os conse-
ção; c) gravar pode deixar a criança desconfortável; d) lhos federais são contrários à prática (Conselho Federal
vídeos de baixa qualidade podem não deixar os dados de Psicologia, 2010; Conselho Federal de Serviço Social,
claros; e) as gravações podem ser realizadas/manti- 2009), algumas associações, sociedades e outras insti-
das por pessoas não confiáveis, que não vão garantir tuições são favoráveis (Estado do Rio Grande do Sul,
a confidencialidade dos dados; f) as crianças podem 2010). Esses dois polos opostos não têm encontrado
modificar seus comportamentos por estarem sendo fil- um diálogo intermediário para que a real proteção a
madas (Myers, 1998). crianças e adolescentes seja possível.
A videogravação de entrevistas de crianças e Aqueles que são favoráveis entendem que a escuta
adolescentes vítimas de abuso sexual tem ocorrido no sistema judiciário é um direito fundamental da
há pouco tempo dentro do Poder Judiciário brasi- criança (Froner & Ramires, 2008) e que, comparado
leiro. Inicialmente denominado “Depoimento Sem às audiências tradicionais, o DE oferece um atendi-
Dano”, o Depoimento Especial – DE propõe retirar mento mais humanizado e que possibilita o exercício

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da cidadania (Wolff, 2008). O próprio surgimento dessa ainda que a metodologia é “supostamente humanizada”,
metodologia foi devido à percepção, por promotores tendo em vista que o profissional não é chamado a rea-
de justiça e juízes, de que a audiência tradicional podia lizar uma intervenção, mas a atuar como mediador para
ser caracterizada como uma revitimização (Dobke, o inquiridor (juiz). É importante considerar, entretanto,
2001; Tabajaski, Paiva & Visnievski, 2010). Os argu- que os textos publicados, em sua maioria, retratam opi-
mentos favoráveis incluem o fato de que, muitas vezes, niões técnicas e não necessariamente dados empíricos.
a prova testemunhal é a única possível de ser produzida Neste tema, há uma carência evidente de estudos que
e que o ambiente da sala tradicional de audiências não é possam lançar luz a essa questão e contribuam para a
adequado para ouvir crianças e adolescentes (Froner & resolução dessas ambiguidades.
Ramires, 2008). Aliás, anteriormente à prerrogativa do Fato é que o DE é, atualmente, um sistema esta-
Depoimento Sem Dano, as normas e procedimentos belecido, ainda que com opiniões divergentes a seu
de inquirição eram os mesmos utilizados com adultos respeito. No entanto, poucos estudos buscam saber
(Dobke, 2001; Potter, 2010), desconsiderando quaisquer empiricamente como tem sido utilizada e quais as
necessidades específicas daquela população. Hoffmeis- repercussões dessa estratégia para os envolvidos. Pro-
ter (2012) entende que quando o sistema de justiça fissionais, famílias e as próprias vítimas podem e devem
possibilita uma condição especial para o depoimento ser participantes de estudos que busquem verdadeira-
de crianças e adolescentes significa valorizar sua palavra mente conhecer o método, em suas forças e fraquezas.
e respeitá-los enquanto sujeitos de direitos. Atualmente, Partindo do pressuposto de que não há ninguém que
com a recomendação pelo Conselho Nacional de Jus- conheça tão bem essa metodologia quanto aqueles que
tiça, o DE não é somente uma possibilidade, mas uma atuam diariamente com ela, este estudo teve o objetivo
prática que deve ser institucionalizada como norma no de identificar as percepções dos trabalhadores da Jus-
país (Conselho Nacional de Justiça, 2010). tiça sobre o DE.
Aqueles que são contrários afirmam que essa
escuta não é exatamente um direito da criança, mas um Método
dever (Conselho Federal de Psicologia, 2008) e uma
obrigatoriedade que é imputada a ela de dizer a verdade Delineamento
(Conte, 2008). Alguns autores entendem que duas rea- Este é um estudo de caso coletivo (Stake, 1994)
lidades diferentes entram, neste contexto, em oposição: envolvendo servidores da Justiça no âmbito do Estado
a realidade psíquica e a realidade factual. Para Conte do Rio Grande do Sul.
(2008), insistir no relato objetivo (realidade factual)
pode causar dano psíquico, enquanto somente a escuta Participantes
(da realidade psíquica) possibilita a recomposição sim- Foram entrevistados 20 profissionais vinculados
bólica. Dessa forma, Conte (2008) conclui que a prática ao Poder Judiciário (cinco juízes de direito, cinco pro-
do psicólogo se insere na segunda perspectiva, concor- motores de justiça, cinco defensores públicos e cinco
dando com o Conselho Federal de Psicologia (2008), psicólogas), os quais tiveram atuação em casos de abuso
quando este diz que o psicólogo, nestes procedimentos, sexual infantil com a utilização da metodologia do DE.
“está fora de seu verdadeiro papel” (p.10). De acordo Estes profissionais são provenientes de cinco municí-
com essa opinião, há um distanciamento entre o que pios do Estado do Rio Grande do Sul.
seria um trabalho para o profissional de Psicologia e a
realização de audiências e coleta de testemunhos, uma Instrumentos
vez que não há objetivo, nesse procedimento, de ava- Foram utilizados dois protocolos de entrevista
liação psicológica, atendimento ou encaminhamento semiestruturada, elaborados para este projeto de pes-
(Brito, 2008). No DE, conforme Brito (2008), não há quisa. Um protocolo foi utilizado para os operadores
tempo para entrevistas com outras pessoas envolvidas do Direito e outro para as psicólogas judiciárias, sendo
ou estudos psicológicos e, além disso, pode se revelar que ambos investigavam as opiniões dos entrevistados
prejudicial à criança. Além disso, o Conselho Federal sobre o DE, funções e objetivos, a relação do profis-
de Psicologia entende que o DE “ignora a função do sional de Psicologia e suas competências e habilidades.
psicólogo” (p.10) e afirma que o psicólogo é usado para As questões propostas às diferentes categorias foram
punir o maltratante, que tem relação de afeto com a semelhantes, com apenas algumas adaptações. Algumas
criança (Conselho Federal de Psicologia, 2008). Afirma questões utilizadas com todos os participantes foram:

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“Nos casos que você acompanhou, quais foram os (Bardin, 1977). O webQDA é um software destinado à
resultados positivos e negativos do Depoimento Espe- análise de dados qualitativos, que possui mecanismos
cial?”; “Você teve oportunidade de acompanhar casos de armazenamento, pesquisa e recuperação de dados
similares que não passaram pelo DE, mas por audiência (Souza, Costa, & Moreira, 2011). O software permite
tradicional? Como você poderia comparar esses dois a visualização e discussão dos dados de pesquisa e da
procedimentos?”; “Quais são os requisitos/conheci- categorização por pesquisadores, de forma simultânea,
mentos necessários para atuar na escuta da criança?”. possibilitando uma análise interativa e uma constru-
Por sua vez, com as psicólogas foi questionado: “Como ção colaborativa do conhecimento e, especialmente, a
se dá a relação com os operadores do direito? Você tem validação dos processos de categorização (Souza et al.,
autonomia e poder para modificar uma pergunta ou não 2011). Portanto, o software não realiza a categorização de
fazê-la caso considere desnecessária ou inadequada?”. forma automática, apenas facilita a administração das
Já com os operadores do Direito, algumas questões informações pelos pesquisadores.
foram: “Quem você considera ser os profissionais mais
qualificados para a tarefa de ouvir judicialmente as Resultados
crianças e adolescentes vítimas?”; “Quais são os requi-
sitos/conhecimentos necessários para atuar na escuta Na apresentação dos resultados, os participantes
da criança?”; “Como se dá a relação com o psicólogo serão identificados pelos seguintes códigos alfabéti-
no DE? Ele tem autonomia e poder para modificar uma cos: defensores públicos (D), promotores de justiça
pergunta ou não fazê-la caso considere desnecessária (Pro), juízes de direito (J) e psicólogas judiciárias (Psi);
ou inadequada?” e as cidades serão numeradas de um a cinco (1-5). As
categorias e subcategorias, resultantes da análise de
Procedimentos conteúdo foram: (a) Papel da Psicologia: competência
A seleção dos participantes se deu a partir da da Psicologia; autonomia; (b) Funções do depoimento
identificação das cidades no Estado do Rio Grande do especial: produção da prova, proteção da vítima; e c)
Sul que possuíam duas condições simultâneas: 1) salas Condições técnicas: equipamento e espaço físico, expe-
de depoimento especial e 2) psicólogos em sua equipe riência prática.
(cinco municípios). No sentido de garantir o anonimato
dos participantes, que exercem funções específicas a) Papel da Psicologia:
e únicas nessas localidades, os municípios não serão Essa categoria descreve as percepções dos par-
identificados. A duração das entrevistas variou de 15 ticipantes sobre as competências e possibilidade de
minutos a mais de uma hora, com uma média de 40 autonomia do psicólogo no DE. Quanto à competência
minutos. Todos os participantes aceitaram prontamente da Psicologia, defensores, promotores e juízes reconhe-
a participação na pesquisa, tendo assinado o Termo de cem a possibilidade de outros profissionais atuarem no
Consentimento Livre e Esclarecido (Resolução nº 466, DE, como psiquiatras, assistentes sociais e profissionais
Brasil, 2012)). Este projeto teve aprovação prévia do da educação. Porém, a maior parte dos entrevistados
Comitê de Ética do Instituto de Psicologia da Univer- considera que a Psicologia é a área de conhecimento
sidade Federal do Rio Grande do Sul, sob o protocolo com maiores condições de contribuir para essa prática.
de número 20698. Os entrevistados afirmam que suas experiências com a
participação de psicólogos têm demonstrado que eles
Análise de Dados apresentam conhecimentos diferenciados, técnica para
Os dados foram armazenados em arquivos digi- inserir a pergunta em um contexto adequado e também
tais e transcritos pela equipe de pesquisa para a análise sensibilidade e habilidade para conquistar a confiança
qualitativa. Foi utilizado o software webQDA para a do entrevistado, aspectos que contribuem para o traba-
sistematização da análise de conteúdo. As entrevistas lho no DE.
foram analisadas, inicialmente, considerando-se as cate- Alguns participantes (dois promotores de justiça,
gorias profissionais. No entanto, não foram observadas uma defensora e um juiz) consideram que a formação
diferenças que justificassem uma análise por categorias em nível de graduação é menos importante do que um
profissionais, e dessa forma, chegou-se à formulação de treinamento específico posterior e as características da
categorias gerais, que englobam as respostas de todos pessoa do entrevistador: “Eu acho que independente
participantes. As categorias foram levantadas a posteriori de qualquer coisa tem que ter muita sensibilidade”

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(D4). Também nesse sentido, uma promotora afirma: com a possibilidade de modificação para uma maior
“Eu não diria que a criança está resguardada simples- adequação às circunstâncias do caso.
mente pela questão de ser um psicólogo. Eu acho que Houve também profissionais que consideraram
a criança está resguardada pela questão de ser um psi- que o psicólogo deve ter total autonomia: “Eu acho que
cólogo capacitado” (Pro4). Dessa forma, é possível a autonomia do psicólogo nessas questões teria que ser
concluir que não basta ser psicólogo, mas também há irrestrita, porque é o profissional adequado para esse
a necessidade de formação/treinamento específico e tipo de situação, inclusive no sentido de dizer “não, esse
habilidades pessoais que contribuam para a tarefa. tipo de pergunta vai gerar uma situação assim, então
As psicólogas judiciárias concordam que o pre- vou fazer de outra forma” ou, enfim, até para orien-
paro para a tarefa específica se sobrepõe à formação. tar” (D4). Essa opinião foi pouco comum, mas houve
As profissionais veem a possibilidade de advogados, profissionais de todas as categorias que indicaram que
psiquiatras, pedagogos, além de assistentes sociais e o entrevistador poderia e deveria negar-se a realizar
dos próprios psicólogos, atuarem no DE, desde que determinados questionamentos à vítima. Para esses
tenham treinamento para a condução da entrevista. profissionais, ainda que exista um sistema presidencial
Para uma psicóloga: “Se a gente como profissional tá na audiência e que a autoridade seja o juiz, o entrevis-
sendo chamado pra isso eu acho que a gente não pode tador não estaria submetido a uma determinação de
se omitir” (Psi5). Entretanto, não são todos os psicó- responder a todas as questões. Dessa forma, fica carac-
logos que devem assumir o exercício dessa complexa terizado que existem opiniões divergentes a respeito da
atividade. Além da capacitação adequada, é esperado autonomia do psicólogo no DE. O que prevalece é a
que este tenha sensibilidade para acolher crianças e ado- ideia de que o entrevistador deve respeitar a hierarquia
lescentes vítimas de uma forma cuidadosa. do Poder Judiciário. Sendo ele um auxiliar da Justiça,
Uma questão controversa observada foi referente deve responder à autoridade do Juiz, podendo intervir,
à possibilidade de autonomia dos entrevistadores para adaptando as questões, mas buscando e garantindo o
modificar ou não fazer perguntas que tenham sido soli- conteúdo das questões propostas, o que pode ser tradu-
citadas. Por exemplo, há profissionais que consideraram zido por uma autonomia limitada.
que o entrevistador não deve mudar em nada os ques- Quanto a essa questão, as psicólogas judiciárias
tionamentos já deferidos pelo juiz, o que significaria relataram suas experiências sobre o que tem ocorrido
uma ausência total da autonomia do entrevistador. Uma nas salas de DE em que trabalham. As participantes
defensora afirmou efusivamente: “A psicóloga não tem indicaram que se sentem com autonomia no trabalho,
e nem pode ter, no meu ponto de vista, autonomia para mas respeitam uma inegável hierarquia do Poder Judi-
ficar modificando ou acrescentando pergunta!” (D3). ciário e do sistema presidencial da audiência. Nesse
Nesse caso, o entrevistador seria um reprodutor de contexto, a autonomia fica dependente dos operadores
questões deferidas pelo juiz. No entanto, outros entre- com quem elas trabalham. Segundo elas, nem todas as
vistados consideraram que o psicólogo/entrevistador experiências de condução do DE foram livres e autô-
pode e deve adaptar a questão à situação e condição nomas, mas alguns operadores, mais rígidos, exercem
da criança, mas deve buscar obter seu conteúdo, o que um controle maior sobre a atividade. Segundo umas das
pode ser caracterizado como uma autonomia limitada: participantes: “Eu tenho autonomia, mas essa autono-
“o psicólogo tem que dar um jeito de conseguir intro- mia eu acho que é determinada pelas pessoas com quem
duzir essa pergunta na mesma conversa, nem que seja eu trabalho.” (Psi1). A questão da autonomia também
modificando um pouco, mas o conteúdo tem que ser foi compreendida como um “processo” no trabalho em
extraído” (D1), ou ainda “Eu entendo que ela não pode equipe. Dessa maneira, fica claro que a autonomia no
não fazer a pergunta, agora, a adaptação da pergunta eu DE não é assunto esclarecido e definido entre os traba-
acho que é tranquilo” (Pro1). Um juiz considerou que lhadores. As opiniões diferentes sobre essa questão vão
esta possibilidade é o diferencial do DE: “Isso é o que influenciar a forma como o procedimento é executado
eu acho mais interessante no sistema, essa reformulação pela psicóloga e como as relações com os operadores
da pergunta” (J4). Não foi observado posicionamento do Direito vão se desenrolar durante a audiência.
diferente em relação a essa questão nas diferentes cate-
gorias profissionais e houve predominância da ideia de b) Funções do DE
que o entrevistador tem o dever de obter as respostas Essa categoria descreve as percepções dos parti-
para as questões formuladas pelos operadores, mas cipantes quanto às diferentes funções que o DE pode

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desempenhar nos processos judiciais envolvendo ASI. processo. A responsabilização é compreendida como
Enquanto os juízes são unânimes em afirmar que o uma necessidade não apenas do sistema de justiça, mas
novo método é relevante e faz muita diferença para os da família da vítima: “a responsabilização é uma res-
operadores e, principalmente, para a criança, defensores posta pra essa família...porque, se não, não tem sentido
e promotores discordam sobre sua efetividade. Os juí- passar pelo que ela passou, fazer um boletim de ocor-
zes de direito consideram, de uma maneira geral, que o rência, denunciar, a pessoa ser afastada, ela passar por
DE trouxe um avanço significativo na maneira de con- todo um tratamento...” (Psi5).
duzir audiências em situações de abuso sexual. Esses Entretanto, a maior parte desses profissionais
profissionais comparam a estratégia a suas experiências entende que o método é muito mais importante no sen-
em audiências tradicionais, em que presenciaram cenas tido de proteção da vítima. Os profissionais consideram
de constrangimento das crianças vítimas diante de seus que, neste aspecto, o DE apresenta uma “diferença
agressores e/ou de seus representantes (defensores/ enorme” (D1): “Vir em uma audiência falar com pes-
advogados). Para os juízes, a audiência tradicional é soas estranhas, numa sala fria até pra nós é uma coisa
caracterizada por “formalidade e insensibilidade” (J2), desgastante... então, uma sala mais aconchegante, com
enquanto o DE “é um marco no judiciário” (J4), “uma coisas pra crianças, com brinquedos, com objetos da
grande criação, uma grande construção” (J3). idade delas... a gente percebe que a criança fica mais à
Defensores, promotores e juízes, que concordam vontade e isso certamente não vai contribuir para um
com o método e o consideram importante, justificam trauma a mais...” (D1). Uma promotora destaca que o
suas opiniões a partir de dois argumentos: o da pro- nome inicial do projeto era exatamente pela proposta de
dução da prova e o da proteção da vítima. O fato de proteção à vítima: “antes era chamado de depoimento
o DE possibilitar a coleta do depoimento da vítima de sem dano e a ideia era essa, que não houvesse uma revi-
uma forma que garanta os direitos do réu (contraditó- timização da criança quando fosse ouvida no processo
rio e ampla defesa), ao mesmo tempo em que busca criminal” (Pro5). Para outro promotor, não há dúvidas
preservar a criança/adolescente justificam, para estes sobre o quanto a estratégia protege a vítima: “O depoi-
participantes, a continuidade da utilização da estra- mento sem dano é fundamental porque vai ter esse
tégia do DE. Para eles, a produção da prova no DE direcionamento feito com pessoas que têm mais habi-
lhes dá maior “certeza” (D2) e “segurança” (D1) para lidades técnicas pra isso, e para a proteção da criança é
que possam executar sua tarefa numa circunstância em algo que não tem como tu quantificar a diferença que
que, na maior parte dos casos, o “depoimento é a única existe entre uma oitiva do depoimento sem dano e uma
prova” (D4). No contexto penal, o interesse jurídico é oitiva feita em audiência ou numa delegacia” (Pro2).
exatamente este: “o profissional tem que saber o que Ainda que uma coleta de depoimento busque a obten-
se busca naquela entrevista; que não é uma entrevista ção de informação sobre o possível abuso, a tendência
de tratamento, e sim de apuração do que aconteceu” dos participantes é concordar com o foco do método
(Pro1). Considerando o aspecto de produção de prova, na questão protetiva. Por isso, questiona um juiz: “se é
os participantes revelam a importância, no contexto melhor para a criança, por que não?” (J5).
do processo jurídico, do conhecimento de detalhes Não são todos os operadores, contudo, que con-
da situação abusiva, além, é claro, da necessária com- cordam que o DE proteja as crianças e adolescentes
provação desta. Por se tratar deste crime carente de vítimas. Um dos defensores considera que a circunstân-
materialidade - o abuso sexual – o depoimento da cia do depoimento, ainda que ocorrendo em uma sala
vítima se faz essencial para que se conheça o que de especial, continua causando constrangimentos: “elas
fato ocorreu. E o DE contribui nesse sentido, possibi- ficam de cabeça baixa, não querem falar, não falam
litando, numa circunstância acolhedora e mais natural, muito, ficam retraídas” (D2), causando, mesmo assim,
uma coleta de dados mais fidedigna, que ajuda “a con- danos à criança ou adolescente. “Acho que se deram
denar e a absolver” (J3). conta de que ainda assim tem dano...da forma como é
Mesmo as psicólogas judiciárias, que apresentam, feito, eu tenho convicção de que não protege a criança”
então, formação diferenciada dos outros participan- (D5). Os promotores de justiça, por sua vez, são unâni-
tes, percebem a importância da comprovação do fato mes e concordam com a questão protetiva presente no
alegado. Segundo elas, esse é, afinal, o objetivo primor- DE, ainda que não concordem quanto aos resultados
dial do trabalho neste contexto: contribuir para que a objetivos em termos de produção de prova (Pro3). Ilus-
criança consiga “fornecer elementos” (Psi1), para o trando a importância do método para os dois objetivos,

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um juiz afirma: “o profissional deve ter, ao mesmo Alguns participantes foram mais enfáticos ao afirmar
tempo, essa preocupação de proteger a criança, mas que equipamento velho, estragado e falta de assistência
também no aspecto processual, o que se espera daquele técnica prejudicam o andamento da proposta: “Eu não
depoimento é colher uma prova adequada” (J1). vi nenhum dia que o equipamento funcionasse assim a
No aspecto protetivo, as psicólogas judiciárias pleno” (D3). “Eu acho que não pode ter uma câmera
enfatizam que o DE contribui para diminuir a neces- apontada para a criança, ela não pode segurar um micro-
sidade de inúmeras entrevistas com a criança vítima. fone para falar, entendeu? Eu acho que tu não pode
Além disso, o DE é conduzido por profissionais capa- colocar o ponto no ouvido da pessoa que vai ouvir, de
citados em acolher e entrevistar esse público específico, forma que o troço tá sempre caindo” (D4). Outros são
evitando assim a exposição da criança a pessoas que menos enfáticos, mas consideram que um aperfeiçoa-
não teriam preparo suficiente. Ainda mais importante, mento tecnológico poderia trazer benefícios ao sistema.
é o fato de que as vítimas são “poupadas do momento Além de queixas claras e consistentes quanto aos pro-
da audiência” (Psi1). Numa audiência tradicional, elas blemas com o equipamento, sugestões de melhorias
ficariam expostas às perguntas de defensores e promo- foram apresentadas pelos operadores, como a utiliza-
tores, ainda que estas perguntas fossem indeferidas pelo ção de várias câmeras em pontos estratégicos da sala,
juiz. Por estarem no mesmo ambiente, ainda que o juiz de forma a possibilitar a movimentação da criança,
considere inadequada ou desnecessária uma questão, bem como o uso de microfones espalhados pela sala
o defensor, por exemplo, já proferiu a sua questão e a (ambiental). Um defensor sugeriu que os microfones
criança já a escutou, sentindo seus efeitos. As psicólo- fossem escondidos da criança/adolescente entrevis-
gas, consideram a escuta da criança como indispensável tada: “o ideal seria que a gente conseguisse colocar esse
e acreditam que é necessário o depoimento da vítima microfone num lugar oculto pra criança não perceber
neste contexto. Nesse sentido, o DE protege por bus- que está sendo ouvida por outras pessoas em uma outra
car preservar a criança de situações como entrevistas sala” (D1), opinião essa sustentada por outros profis-
recorrentes, com profissionais despreparados e na “ten- sionais entrevistados. Outra defensora tem a mesma
sionante” (Psi1) situação da audiência tradicional. Além opinião (D4): “o equipamento teria que ser imperceptí-
disso, outros aspectos protetivos envolvem orientação vel pra criança, ela não poderia se dar conta que ela está
de familiares e responsáveis da/pela vítima, escuta des- sendo filmada e que o que ela está dizendo está sendo
ses familiares, os momentos de acolhimento inicial e gravado”. Entretanto, a defensora (D4) entende que
final com a vítima e encaminhamentos necessários para a vítima tem direito de saber que está sendo gravada,
a rede de atendimento. mas que este equipamento não precisa ser “ostensivo”,
“pra que efetivamente a criança se sinta mais adaptada,
c) Condições Técnicas mesmo que superficialmente”. Uma promotora diz que
Essa categoria aborda as condições do DE, como não é a questão de a criança saber, mas sim de ela ter
aspectos do ambiente físico (equipamento e espaço “mais espontaneidade” durante a entrevista (Pro1).
físico) e também questões relacionadas à experiência O espaço físico da sala foi criticado por uma
prática das equipes. Subjacente às necessidades que defensora: “teria que ter uma sala, praticamente uma
serão apresentadas nessa categoria, está a opinião de brinquedoteca. Não é uma sala, um escritório com
que existe um projeto interessante e apropriado, mas tapetinho e meia dúzia de brinquedinhos jogados ali
a execução ainda não contempla aspectos necessários: no chão. Teria que ser um espaço com que a criança
o DE “não tem surtido o efeito desejado” (D4) e pre- tivesse contato anteriormente ao dia da audiência” (D4)
cisa ser aperfeiçoado. Porém, de um modo geral, parece e um juiz: “mais equipamentos, mais recursos lúdicos
que o DE “quando bem orientado e bem conduzido (J1). Para um promotor, “a ideia é deixar a criança ou
é excelente para todas as partes” (D3) e que “a ideia é o adolescente mais à vontade, então, quanto mais aco-
excelente, é muito melhor do que a forma antiga, tra- lhedor for o ambiente, melhor” (Pro2). Dessa forma,
dicional (D4)”. Essas opiniões indicam a necessidade fica claro que as condições tecnológicas, na opinião dos
de um aperfeiçoamento do DE para que seja garantido participantes, podem contribuir ou não para uma natu-
o objetivo central do projeto, que é a real proteção e ralidade, espontaneidade e para o real acolhimento da
garantia dos direitos dos envolvidos. vítima.
A necessidade de aperfeiçoamento, no que diz Quanto à experiência prática das equipes com a
respeito a equipamentos e espaço físico, é premente. metodologia do DE, os participantes relatam que essa

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prática tem sido enriquecedora, tendo em vista que o mais natural das questões, deixando o ponto eletrônico
aperfeiçoamento da técnica com o tempo tem sido visí- com menor importância. Para um defensor, “o desco-
vel para todos os operadores do Direito. A fala desta nhecimento das necessidades dos questionamentos da
defensora pública ilustra o processo que tem ocorrido defensoria e promotoria” é um aspecto negativo per-
nestes cinco municípios: “nós já melhoramos muito, cebido em sua prática (D1) e essa maior comunicação
porque no primeiro momento a psicóloga ficava só pode contribuir nesse sentido. Também foi citada a
como intermediária e ficava uma coisa muito artificial... questão do tempo entre a revelação e a coleta do depoi-
agora não, está melhor porque ela já sabe e vai introdu- mento: “o depoimento especial tem que ser feito no
zindo na conversa as perguntas necessárias” (D1). Com momento mais próximo possível da notícia da ocor-
o tempo, o ponto eletrônico que permite a comunicação rência do delito, num ambiente de menor exposição da
entre as salas de audiência e a do DE passou a ficar em criança a um dano maior” (J3).
segundo plano, para perguntas específicas do caso, após Quanto às experiências das psicólogas judiciárias
uma entrevista mais fluida da psicóloga com a vítima. no DE, as participantes indicam, em primeiro lugar,
Durante um espaço de tempo em que operadores do que a prática da entrevista, a interação com os opera-
Direito e psicóloga judiciária vão desempenhando suas dores e o trabalho no contexto judiciário possibilitam
atividades no DE, uma “construção coletiva” (Pro5) vai um processo mais dinâmico e mais fluido. Ocorre um
sendo realizada. A experiência, enquanto algo que per- processo de “construção coletiva” que permite um
passa o conjunto de servidores da Justiça e não apenas fluxo mais fácil entre estes trabalhadores e a troca de
o entrevistador, é expressada na seguinte fala: “a gente conhecimentos, num movimento interdisciplinar: Para
leu bastante, se preparou...agora, todo mundo mais ou o aperfeiçoamento do método, também foram destaca-
menos sabe o que vai acontecer” (Pro5). dos os treinamentos realizados tanto com palestrantes
Entretanto, existem questionamentos que surgi- internacionais quanto com as técnicas mais experientes,
ram a partir dessas experiências. Uma questão crucial que trazem subsídios empiricamente comprovados para
levantada mais fortemente pelos defensores públicos as práticas das psicólogas. Uma das participantes cos-
diz respeito à imparcialidade no DE. Para estes profis- tuma, além de participar dos treinamentos, assistir aos
sionais, a imparcialidade ainda é algo a ser conquistado. vídeos gravados de suas entrevistas com as vítimas e
A defensora afirma: “aqui, sempre o réu é culpado” e monitorar seu desempenho, corrigindo aquilo que não
é preciso uma atuação que não transforme o réu “em estaria adequado (Psi3). Essa oportunidade de autoava-
um monstro antes de se averiguar o que de fato é. E liação teve um impacto positivo em seu trabalho diário,
nem mesmo depois, pois a pessoa pode ter um pro- segundo ela.
blema psiquiátrico” (D3). Uma segunda defensora Ainda que tenham conseguido um importante
(D4) também percebe uma dificuldade importante progresso, as psicólogas judiciárias percebem neces-
nestes termos: para ela, quando a vítima se cala ou “se sidades nesse trabalho. Uma delas destaca que há
tranca, começa a indução”. Segundo esta profissional, necessidade de treinamento para os profissionais do
em seguida ao comportamento de calar-se da criança/ Direito, com informações sobre a atuação diferenciada
adolescente, a entrevistadora começa a fazer pergun- da Psicologia e sobre questões desenvolvimentais que
tas mais diretas, muitas vezes induzindo as respostas. determinam a intervenção psicológica: “às vezes a gente
Nesta mesma direção, a defensora de outro município tem que parar um pouco, dar tempo pra criança, ten-
complementa (D5): “o que a gente nota é uma insistên- tar entender porque uma criança não para quieta...uma
cia desnecessária em certas perguntas, o que já é uma adolescente é mais fácil, tem mais capacidade de poder
indução”. Os profissionais de outras categorias não se compreender...a pergunta é diferente de uma criança
referiram a esse problema. menor” (Psi5). Para esta psicóloga, o treinamento dos
Outras questões levantadas pelos profissionais operadores contribuiria para uma melhor compreensão
indicaram necessidades percebidas em suas práticas. das ações durante o DE. A outra participante completa:
Um defensor e um juiz apontaram a necessidade de “a gente está acostumada a ter o tempo psicológico, o
contato prévio com a criança para a construção de tempo da pessoa... às vezes há uma tendência a ser um
um vínculo de confiança, de forma a facilitar o depoi- pouquinho mais rápido, por exemplo, os operadores
mento no momento da audiência. O contato prévio do direito têm certa dificuldade com as pausas, com o
entre operadores do Direito e o entrevistador também silêncio... de poder conseguir manter isso e ficam ansio-
foi indicado como sendo necessário para a elaboração sos de querer logo saber a resposta” (Psi2).

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Pelisoli, C. & Dell’Aglio, D. D. Depoimento Especial 417

Outra necessidade destacada é a de maior arti- conhecimentos que fazem parte da formação em Psi-
culação entre os setores, dispensando a coleta do cologia, como técnicas de entrevista, teorias sobre o
depoimento em vários locais e em várias vezes. Nesse desenvolvimento humano e personalidade, além de
sentido, é também muito importante que um esforço habilidades de acolhimento, conforme declarado pelos
seja feito para buscar a antecipação da prova, fazendo próprios participantes e destacados pelo CNJ em sua
com que o DE ocorra o mais próximo possível do recomendação (CNJ, 2010).
evento traumático. Numa articulação entre setores, a O Conselho Federal de Psicologia, em 2010, em
vítima não precisaria falar no Conselho Tutelar, nem resolução que buscou regulamentar a escuta de crian-
na delegacia, apenas com os peritos e com os técnicos ças e adolescentes vítimas de violência sexual, afirmou
do DE, que poderiam produzir o depoimento o mais a necessidade do psicólogo não se subordinar a outras
breve possível, evitando o fator do tempo e a exposi- profissões e de ter autonomia em seu trabalho (CFP,
ção da vítima: “aí tu reduz de cinco, seis lugares pra 2010). A iniciativa do CFP pode ser compreendida
três” (Psi5). como uma tentativa de observar e preservar a auto-
nomia do psicólogo na tarefa da escuta de crianças.
Discussão Entretanto, deve-se considerar o contexto judiciário no
qual o psicólogo está inserido, marcado por uma hie-
A partir do que foi observado neste estudo, é rarquia historicamente mantida. O Código de Processo
relevante observar a inserção de psicólogos no con- Penal indica que o juiz é o presidente da audiência,
texto de realização do DE. No momento de coleta de caracterizando o então chamado sistema presidencia-
dados, eram 24 os municípios que possuíam a sala e lista (Brasil, 1941). Em 2008, a Lei 11.690 altera este
os equipamentos para a execução do procedimento de sistema indicando que as partes poderiam se dirigir dire-
DE no Estado do Rio Grande do Sul e, desses, apenas tamente às testemunhas, sem a mediação do juiz (Brasil,
cinco contavam com profissionais de psicologia em sua 2008). Entretanto, essa alteração não modifica o esta-
equipe. Se comparado à inserção de assistentes sociais tuto presidencial, ou seja, ainda que as partes tenham
(38), observa-se que existe pouco espaço formal no maior liberdade, ainda há um presidente na audiência e,
Poder Judiciário para a Psicologia na tomada do DE. portanto, uma hierarquia clara e definida neste contexto
Atualmente, conforme dados do Conselho Nacional de (Brasil, 1941, 2008).
Justiça, existem 59 salas de DE em 16 Estados do Bra- As experiências dos participantes mostram que a
sil, com perspectiva de ampliação (Conselho Nacional autonomia do entrevistador é variável e parece depen-
de Justiça, 2013). der de características pessoais dos operadores com
De um modo geral, a tarefa de coleta de DE foi quem ele trabalha: operadores do Direito mais rígidos
considerada pelos participantes como não circuns- possibilitariam menos liberdade, enquanto operadores
crita a uma determinada área de formação, como a mais flexíveis possibilitariam mais liberdade ao entre-
Psicologia ou o Serviço Social. Para grande parte dos vistador. Quando se observa essa autonomia limitada,
participantes, o que mais importa é um treinamento, entende-se que seja limitada por uma hierarquia que
adequado às especificidades da tarefa, e não exatamente é própria, inerente ao Poder Judiciário (Brasil, 1941,
em que curso o profissional obteve a sua graduação. 2008), onde o entrevistador está inserido enquanto
Hoffmeister (2012) também obteve dados sobre a profissional auxiliar. Ainda que essa hierarquia não seja
importância dos treinamentos realizados. Alguns par- compreendida por outros setores da sociedade ou por
ticipantes consideram que os psicólogos seriam os profissionais que trabalham em áreas diferentes da Jus-
“mais indicados” para o trabalho. Ainda que o Conselho tiça, é conhecimento de senso comum a sua existência.
Federal de Psicologia (2010) tenha se posicionado dife- Dessa forma, uma hierarquia histórica e inegável existe
rentemente a este respeito e outros autores acreditem neste contexto, mas não, necessariamente, prejudica a
que não é tarefa ou papel do psicólogo (Brito, 2008), autonomia do profissional que atua em DE, como foi
os participantes deste estudo, em sua maioria, se mos- observado neste estudo.
tram favoráveis à participação de psicólogos no DE. Um aspecto primordial, que parece marcar essa
Alguns operadores manifestaram clara predileção pelo questão, é o quanto o profissional entrevistador pode
psicólogo, sem descartar, necessariamente, o trabalho modificar ou ainda não fazer uma pergunta que lhe foi
de outros profissionais. Ocorre que as bases da forma- direcionada pelo juiz. O que se depreende da ideia ori-
ção técnica específica para o trabalho no DE exigem ginal de uma escuta mais acolhedora é a de que seria

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418 Pelisoli, C. & Dell’Aglio, D. D. Depoimento Especial

necessário um “intérprete” (Dobke, 2001). Ora, dessa não há como lhe negar esse direito, sendo, portanto,
forma, pode-se entender que um mero reprodutor das necessária a realização de uma audiência, seja na forma
questões do juiz é diferente de um intérprete. Enquanto de DE ou audiência tradicional (Brasil, 1941). Assim,
o primeiro age como alguém que somente executa as parece mais protetivo pensar que a presença de um pro-
ordens, com as mesmas palavras e no mesmo momento fissional preparado, qualificado e treinado na condução
que o juiz decide questionar, o segundo deve refazer de uma entrevista fidedigna e cuidadosa pode trazer
a questão, adequando-a ao grau de desenvolvimento, benefícios, em relação à forma de audiência tradicional
habilidade e condições da criança ou adolescente que realizada antes dos anos 2000 no Rio Grande do Sul e
ali se apresenta. No projeto original do depoimento ainda hoje em diferentes locais do país.
sem dano, Daltoé Cezar (2007) indica que o técnico res- Um juiz de direito, ainda que lotado numa vara
ponsável pela entrevista irá atuar como um facilitador, especializada, atende e toma decisões a respeito de
realizando as questões de maneira mais compreensí- casos diferentes todos os dias. O abuso sexual é ape-
vel para a criança vítima. Isso significa, portanto, que nas um tema, dentre vários outros, que são objetos de
a pergunta pode e deve ser modificada para ser aces- trabalho e investigação desses profissionais. Não é cabí-
sada, compreendida e respondida pelo entrevistado. Tal vel pensar que esse profissional, com tantas demandas
autonomia foi investigada na categoria das assistentes diferentes de trabalho, possa ser um “especialista” em
sociais que trabalham com DE no Brasil, que indica- todas essas questões. Por certo, cabe pensar que o juiz
ram ser o entrevistador o responsável por “dar curso ao pode contar com outros profissionais especializados,
depoimento” (Hoffmeister, 2012, p.110). Pela experiência com conhecimentos diversos dos dele, que o auxilie em
dos participantes do presente estudo, o trabalho “em questões tão delicadas como o abuso sexual. Para o DE,
equipe”, como uma “construção coletiva”, contribuiu é necessário um trabalho interdisciplinar efetivo, além
para o mútuo entendimento entre as diferentes áreas, de uma escuta sensível e empática. Para isso, o profis-
em que Psicologia compreende a hierarquia e os papéis sional da saúde pode ser um parceiro importante do
estabelecidos no sistema de justiça e, por sua vez, o judiciário nesta questão (Froner & Ramires, 2008).
Direito entende as necessidades da flexibilidade na
formulação de questões, no tempo, do silêncio, entre Considerações Finais
outros aspectos de ordem subjetiva que estão envolvi-
dos na escuta investigativa que caracteriza o DE. Os Esta pesquisa investigou como os profissio-
resultados de Hoffmeister (2012) também indicam que, nais que trabalham com o Depoimento Especial no
com o tempo, a interação entre entrevistador e juiz faz Estado do Rio Grande do Sul percebem esse método
com que o relato da vítima se torne “mais livre” (p.110). de escuta de crianças e adolescentes vítimas de abuso
A autoridade competente deve ouvir a criança, sexual. Ressaltando diferentes aspectos, os profissio-
considerando seu direito à privacidade, intervenção nais indicaram a importância do treinamento para a
precoce, proteção integral, entre outras (Brasil, 1990a, execução da tarefa, em detrimento da formação em
1990b, 2009). Neste trabalho, observou-se que, salvo nível de graduação, e a autonomia como dependente
exceções, os participantes indicaram que o DE possi- dos operadores do direito com quem o entrevista-
bilita tanto a produção da prova, por possibilitar essa dor trabalha. O DE, com função tanto de produção
oitiva que é direito da criança, quanto a proteção da de prova quanto de proteção da vítima, é percebido
vítima, assegurando a compreensão de sua condição como uma experiência construída coletivamente por
peculiar de desenvolvimento. Apesar de serem aspec- um conjunto de profissionais, com necessidade de
tos jurídicos diferentes, situados em especialidades mudança em seus aspectos tecnológicos e também
diversas (vara criminal e vara da infância e juventude), técnicos. A partir dos dados coletados neste estudo,
as duas funções do DE andam juntas. Além dos direi- pode-se inferir que a estratégia do DE é um processo
tos da criança e do adolescente previstos no ECA em construção, que busca a humanização da coleta
(Brasil, 1990a), a produção da prova deve ser efetuada do depoimento de crianças e adolescentes vítimas. A
garantindo-se ao acusado o direito constitucional do construção de um método que possa contribuir para
contraditório e da ampla defesa (Brasil, 1988), que não as necessidades da Justiça e para as necessidades do
pode ser negado tendo em vista a nulidade do processo usuário é ainda um desafio para os profissionais que
(Brasil, 1941). Isso significa que se o réu ou o seu repre- atuam nessa área. Humanizar o sistema de justiça e
sentante indicarem a necessidade da ouvida da vítima, transformar suas práticas a partir da ética do cuidado

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Pelisoli, C. & Dell’Aglio, D. D. Depoimento Especial 419

é algo que somente pode ser realizado na interface de http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decre-


entre saberes, no diálogo constante e na sensibilização to/1990-1994/D99710.htm
de todos os atores desse processo. Pessoas e institui-
Brasil (2008). Lei 11.690 de 9 de junho de 2008 – Al-
ções têm à sua frente a missão de superar os embates tera o Decreto-Lei 3.689 – Código de Processo Penal.
teóricos e técnicos relativos ao DE e dirigir investi- Brasília: Presidência da República. Casa Civil. Sub-
mentos na investigação e aperfeiçoamento desse chefia para Assuntos Jurídicos. Recuperado de
método já reconhecido internacionalmente e reco- http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2007-
mendado nacionalmente. Por estar em construção, 2010/2008/lei/l11690.htm
desafios técnicos e tecnológicos se apresentam para
o aperfeiçoamento dessa estratégia que está plena de Brasil (2009). Lei 12.010 de 3 de agosto de 2009. Brasília:
possibilidades de mudança. Presidência da República. Casa Civil. Subchefia para
As limitações desse estudo incluem, especialmente, Assuntos Jurídicos. Recuperado de http://www.
a participação exclusiva de profissionais do Estado do planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2007-2010/2009/
Rio Grande do Sul, conhecido no Brasil por seu pio- Lei/L12010.htm#art2
neirismo nessa questão e pela própria propositura da Brasil. Conselho Nacional de Saúde (2012). Diretrizes e
prática (Daltoé César, 2007; Dobke, 2001), o que pode normas para pesquisa envolvendo seres humanos. RESO-
ter levado a vieses nos resultados encontrados. Novos LUÇÃO Nº 466, de 12 de dezembro de 2012. Brasília:
estudos investigando as experiências de profissionais, Diário Oficial da União; Poder Executivo, publica-
em nível nacional, incluindo diferentes Estados do do em 13 jun. 2013. Seção I, p.59-62.
país, são necessários para que se obtenha um panorama
Brito, L. M. T. d. (2008). Diga-me agora... O depoi-
ampliado de como o método vem sendo conduzido e
mento sem dano em análise. Psicologia Clínica, 20,
implementado, além de conhecer melhor suas poten-
113-125.
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de vítimas e familiares também devem ser objeto de Conselho Federal de Psicologia (2010). Resolução
estudo de futuras investigações, a fim de que se possa CFP 010/2010. Recuperado de http://site.cfp.
compreender o impacto do DE de forma mais ampla e org.br/wp-content/uploads/2010/07/resolu-
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10.1002/jip.122
Recebido em: 28/04/2015
Hoffmeister, M. V. (2012). Tomada de depoimento especial Reformulado em: 13/05/2015
de crianças e adolescentes em situação de abuso sexual: Aprovado em: 02/06/2015

Psico-USF, Bragança Paulista, v. 21, n. 2, p. 409-421, mai./ago. 2016


Pelisoli, C. & Dell’Aglio, D. D. Depoimento Especial 421

Nota das autoras:

As autoras agradecem ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Tecnológico e Científico – CNPq o apoio finan-
ceiro à pesquisa.

Sobre as autoras:

Cátula Pelisoli é Psicóloga é Especialista em Psicoterapia Cognitivo Comportamental, Mestre e Doutora em Psico-
logia, Psicóloga judiciária, membro da Associação Brasileira de Psicologia Jurídica e do Núcleo de Estudos e Pesquisas
em Adolescência – NEPA UFRGS.
E-mail: cpelisoli@tj.rs.gov.br

Débora Dalbosco Dell’Aglio é Psicóloga, Professora do Programa de Pós Graduação em Psicologia da Universidade
Federal do Rio Grande do Sul, Coordenadora do Núcleo de Estudos e Pesquisas em Adolescência – NEPA UFRGS.
E-mail: dddellaglio@gmail.com

Contato com as autoras:

Cátula Pelisoli
Núcleo de Estudos e Pesquisas em Adolescência – NEPA
Rua Ramiro Barcelos, 2600/115
CEP: 90035-003
Porto Alegre-RS, Brasil
Psico-USF, Bragança Paulista, v. 21, n. 2, p. 409-421, mai./ago. 2016

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