Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
http://www.quadernsdepsicologia.cat/article/view/1137
Resumo
Este estudo procura compreender as relações entre fatores humanos, tecnologia e socieda-
de a partir de uma avaliação da gestão do conhecimento no ambiente de trabalho offshore.
Nesse sentido tem como foco a Petrobras, importante empresa brasileira de exploração de
petróleo, e procura discutir as formas como essa empresa desenvolve seu programa de ge-
renciamento de stress, a partir de uma metodologia qualitativa. Tendo como base o pensa-
mento de Habermas, os resultados obtidos sugerem a necessidade de apresentar perspecti-
vas críticas quanto às condições de trabalho e suas relações com a saúde mental de traba-
lhadores offshore no Brasil.
Palavras-Chave: Psicologia do Trabalho; Indústria offshore; Gestão do conhecimento; Fa-
tores humanos
Abstract
This study seeks to understand the relationship between human factors, technology and so-
ciety, and presents an evaluation of knowledge management in the offshore working envi-
ronment. It is focused on Petrobras, a brazilian offshore oil industry, and discusses the
ways that company develops stress management program, from a qualitative methodology.
Based on the thought of Habermas, the results suggest the need to present critical per-
spectives on working conditions and their relationships with mental health of offshore
workers in Brazil.
Keywords: Work psychology; Offshore oil industry; Knowledge management; Human
factors
http://quadernsdepsicologia.cat
Atividades laborais em plataformas marítimas no Brasil 3
Tal opção pela terminologia privilegiada pela grupais. Essa escola de pensamento, inega-
organização estudada para tratar de questões velmente, exerceu grande influência também
relativas à saúde dos trabalhadores (ou seja, na área de Gestão de Recursos Humanos (Ne-
a denominação de ―stress‖), é um dado im- ves e Gonçalves, 2009).
portante. Pois o uso do conceito, a despeito
De acordo com essa perspectiva, portanto, a
de ser oriundo de uma vertente biologizante,
grande questão passa a ser a concepção do
implica uma forma de manifestação dos crité-
conhecimento enquanto constructo teórico.
rios de designação da Gestão de Conhecimen-
Constructo esse ora entendido como ―conhe-
to.
cimento tácito‖ (que demanda necessaria-
Convém ressaltar, contudo, que a concepção mente, em seu compartilhamento organizaci-
de Gestão do Conhecimento apropriada nesta onal, de contactos pessoais), ora concebido
pesquisa não resulta numa adopção acrítica como ―conhecimento explícito‖ (tido como
de padrões funcionalistas desenvolvidos espe- mais próprio para documentar e armazenar).
cificamente a partir de aspectos financeiros e Contudo, em que pese a diferenciação entre
econômicos. Em outras palavras, a idéia que tais constructos (Nonaka e Takeuchi, 1995), a
pauta este artigo é que o conhecimento não tendência dos teóricos é a de integrar as duas
é, exclusivamente, uma ferramenta ou con- abordagens na implementação organizacional
ceito-guia para atingir eficiência, factor pre- da Gestão do Conhecimento (Rubenstein-
ponderante em algumas abordagens que cir- Montano et al., 2001), tanto pelo desenvolvi-
cunscrevem o conhecimento no âmbito da mento de redes pessoais para a troca de ex-
performance e do desempenho. Pois, uma vez periências, quanto pela efetivação da docu-
tratado com trivialidade, o conhecimento or- mentação centrada na Tecnologia da Informa-
ganizacional acaba desembocando em um re- ção.
ducionismo epistemológico (Alvesson, 1994).
Esse tipo de abordagem da questão — carac-
Nesse sentido, uma vez que a questão da Ges- terizada por alguns autores como perspectiva
tão do Conhecimento está, então, no cerne cognitivista (Davel e Souza-Silva, 2007) — par-
deste artigo, é necessário indicar claramente te da premissa que o conhecimento se proces-
alguns elementos teóricos balizadores desta sa a partir de construções cognitivas, e confe-
discussão a fim de que não fique a impressão re significativa ênfase aos recursos digitais,
de que a articulação teórica desenvolvida de tidos como fundamentais para construir ban-
alguma maneira se desvia da temática até cos de dados cuja função é, virtualmente, es-
aqui apresentada. tocar, gerenciar e distribuir o conhecimento
da organização.
Assim sendo, há de se destacar que a literatu-
ra acadêmica que alude a tais questões consi- Há, contudo, outra abordagem muito distinta,
dera como convergentes os conceitos de or- diametralmente oposta, que concebe a
ganização que aprende, aprendizagem organi- aprendizagem organizacional como um pro-
zacional, gestão do conhecimento, e tecnolo- cesso indissociável das práticas sociais e pro-
gia da informação (Fell, Rodrigues Filho e Oli- fissionais, não estando, conseqüentemente,
veira, 2008). Principalmente porque, no con- circunscrita ao mero domínio cognitivo, por-
texto da gestão organizacional, a forma de que também vinculada a circunstâncias, pro-
gerir o conhecimento (valor intangível) — ou cedimentos e acordos coletivos e políticos.
seja, a gestão social do conhecimento — passa Essa perspectiva mais social e menos cogniti-
a ser um importante elemento. vista teve a sua consolidação a partir dos anos
1990, no contexto anglo-saxônico, com a cria-
A razão de ser deste esclarecimento se deve
ção e o desenvolvimento do movimento inti-
ao facto de que muitos estudos tendem a
tulado Critical Management Studies — princi-
abordar a Gestão do Conhecimento a partir do
palmente por conta de Mats Alvesson e Hugh
funcionamento organizacional. Dessa forma,
Willmott (1992) — e vem ganhando cada vez
esses teóricos sugerem que para se poder
mais densidade como alternativa analítica pa-
analisar o impacto das práticas de Gestão do
ra os estudos organizacionais (Fell et al.,
Conhecimento no desempenho organizacional,
2008). Com o aporte teórico construído a par-
se deve adoptar uma perspectiva sistêmica
tir de Jürgen Habermas, essa linha crítica se
dada a forma conjunta e simultânea de in-
opõe fortemente às lógicas cognitivistas e
fluência dos comportamentos individuais e
funcionalistas, sobretudo porque a Gestão do
http://quadernsdepsicologia.cat
Atividades laborais em plataformas marítimas no Brasil 5
mente ferir alguma possível norma de divul- da saúde dos trabalhadores, ao ser substituída
gação da empresa (Castro e Nunes, 2008a). pela entrevista (realizada com os gerentes e
funcionários), traz à tona um dado relevante
Toda essa descrição dos obstáculos no percur-
para a articulação teórica: a manifestação de
so metodológico pode, à primeira vista, pare-
conflitos de interesses relativos aos processos
cer irrelevante para o artigo, mas não é o ca-
organizacionais. Tais conflitos e interesses,
so de se desconsiderar os entraves organizaci-
contudo, não são de modo algum um elemen-
onais porque eles possibilitam trazer à tona
to indesejável e desprezível, posto que cons-
justamente os aspectos referidos no referen-
tituem o aspecto a ser efetivamente investi-
cial teórico. Ou seja, o facto de que no âmbi-
gado.
to da racionalidade administrativa, a busca do
conhecimento nunca se estabelece como um Sujeitos da pesquisa
processo desinteressado, pois o que persiste,
Em uma pesquisa qualitativa, diferentemente
recorrentemente, são os conflitantes interes-
das abordagens quantitativas, o número da
ses dentro dos processos organizacionais.
amostra não deve ser muito elevado a fim de
Os reveses da pesquisa, por conseguinte, lon- permitir ao pesquisador um conhecimento
ge de constituírem um fracasso na obtenção profundo acerca dos sujeitos pesquisados
de dados fidedignos, viabilizam a emergência (Deslandes, 2002). Em consonância com essa
das relações de poder no escopo da Gestão do proposição, a amostra desta pesquisa foi de
Conhecimento, pois a própria explicitação de 12 (doze) sujeitos, todos gerentes e/ou funci-
interditos institucionais permite desnaturali- onários da área de SMS (Segurança, Meio Am-
zar a idéia de conhecimentos neutros e desin- biente e Saúde) da Petrobras. Tal número,
teressados. entretanto, não foi definido a priori, mas de-
pendeu da qualidade das informações colhidas
De qualquer forma, diante da impossibilidade
em cada depoimento, segundo o pensamento
de se materializar informações colhidas em
de que a quantidade de pessoas entrevistadas
algumas bases de dados relacionados ao tema
dependeria de uma circunstancial reincidên-
da pesquisa, a investigação teve de seguir um
cia de informações ou saturação dos dados, o
novo direcionamento, buscando na realização
que efetivamente começou a ocorrer após a
de entrevistas semi-estruturadas com funcio-
nona entrevista. Uma maior discriminação de
nários e gerentes da área de SMS (Segurança,
cada sujeito, no entanto, não será referida
Meio Ambiente e Saúde), a construção de um
neste artigo, a fim de preservar a identidade
dispositivo de análise e investigação. Essa
dos entrevistados, pois alusões a característi-
contingência metodológica, obviamente, não
cas profissionais, ainda que mínimas, poderi-
indica uma aceitação tácita dos depoimentos
am permitir identificações individuais. De
como portadores de um discurso unívoco. Ao
igual modo, uma vez que a concordância dos
contrário, o que há de ser ressaltado é que os
sujeitos em participar da pesquisa ocorreu
entrevistados, ao discorrerem sobre o pro-
mediante garantia de anonimato, as citações
grama de gerenciamento de ―stress‖, aludem
incorporadas neste texto serão referidas de
às relações de trabalho estabelecidas entre
modo genérico, apenas indicadas por aspas,
atores sociais no interior das actividades pro-
em termos de ―depoimento de funcionário da
dutivas. O que significa dizer que as entrevis-
área de Segurança, Meio Ambiente e Saúde‖.
tas explicitam o quanto a Gestão do Conheci-
mento cria condições para que a actividade Instrumento de pesquisa
produtiva ocorra de um dado modo, conforme
A técnica utilizada para a coleta de dados,
detalhado planejamento operacional, razão
aliás típica de pesquisas qualitativas, foi a en-
pela qual operacionaliza uma série de meca-
trevista semi-estruturada. Os itens do roteiro
nismos de controle sobre os trabalhadores.
visavam atender os objectivos da investigação
De qualquer forma, deve ficar bem claro que aludindo, portanto: (1) ao modo como a Pe-
há um motivo pelo qual se enfatiza, neste ar- trobras gerencia informações sobre a saúde
tigo, o giro metodológico que foi empreendi- mental do trabalhador embarcado em plata-
do em função da inviabilidade inicial do le- formas marítimas; (2) ao processo de implan-
vantamento de dados. É necessário perceber tação e desenvolvimento do ―Programa de
que a proposta inicial de obter junto às fontes Gerenciamento de Stress‖; (3) ao sistema
primárias o material relativo às informações através do qual a empresa classifica e organi-
http://quadernsdepsicologia.cat
Atividades laborais em plataformas marítimas no Brasil 7
que não haja exposição de dados sigilosos da mo naturais. Mas, de facto, são socialmente
saúde do trabalhador para pessoas leigas. En- construídos e suscetíveis às mudanças. Assim,
tretanto, se for diagnosticado um caso de mesmo autores com enfoque funcionalista re-
―stress‖ em plataforma, por exemplo, o tra- conhecem que, dentro de uma organização,
balhador será acompanhado, além do médico, os que possuem dado conhecimento somente
por um assistente social, ou psicólogo — ―de- estarão inclinados a compartilhá-lo caso ob-
pende de como o caso exige‖. tenham para si algum benefício. O que signi-
fica dizer, em outras palavras, que as organi-
Tal procedimento frente ao SD 2000 tem co-
zações com resultados positivos no comparti-
mo base as normas do Ministério do Trabalho
lhamento e disseminação do conhecimento,
do Brasil que impõe critérios de monitora-
além de possuírem uma infra-estrutura tecno-
mento periódico da saúde (como, por exem-
lógica, têm uma cultura positiva em relação
plo, o exame psicológico admissional e demis-
às práticas de gestão do conhecimento (Grot-
sional), de acordo com o cargo e idade, etc.
to, 2002).
Esse controle, inclusive, pode ser acompa-
nhado pelos próprios funcionários através de Os depoimentos dados pelos funcionários da
consulta às suas "fichas" pessoais online na Petrobras, todavia, deixam transparecer uma
rede interna da companhia. Existem, no en- série de conflitos que influenciam os proces-
tanto, outros indicadores internos que tam- sos de compartilhamento de conhecimento:
bém são caracterizados como relevantes para A empresa tem 50 mil empregados, e essa trans-
a empresa: satisfação, absenteísmo, rotativi- missão de conhecimento não dá da noite pro dia.
dade, número de afastamentos (TFCA – Taxa Tem de ter um período de maturação, e com a
de Freqüência por Afastamento), número de vinda de novos empregados, começa a haver um
choque, um conflito de conhecimento, e um con-
doenças, número de mortes, etc. flito de gerações. (Silvana Motta Santos, entrevis-
ta pessoal, 11 de março de 2008).
De modo a complementar esses Programas de
Controle Médico de Saúde Ocupacional (PCM- Esses conflitos de interesse no interior da or-
SO), o departamento de SMS também realiza ganização mostram a relevância dessa análise
―Encontros de Qualidade de Vida‖, no intuito no contexto da Gestão do Conhecimento. En-
de promover melhores condições de relacio- tretanto, também exemplificam a distinção
namento e ambientes mais humanizados em entre duas possibilidades de ação humana,
cada segmento da empresa. Assim, todas es- aspecto que é fundamental no sistema teórico
sas ações e exames periódicos, feitos também habermasiano: O agir instrumental e o agir
quando o empregado troca de função, geram comunicativo (Siebeneichler, 1989).
informações importantes sobre os factores
humanos no trabalho, pois a empresa pode O agir instrumental decorre de uma escolha
efetivamente verificar elementos críticos racional de meios apropriados para determi-
acerca da saúde dos trabalhadores e gerar nados fins. Relaciona-se, portanto, com um
importantes indicadores estatísticos. Sendo tipo de razão instrumental, que instrumenta-
que, no caso específico da Petrobras, o aten- liza recursos tecnológicos. O agir comunicati-
dimento de certas metas e o acompanhamen- vo, por sua vez, fundamenta-se exclusivamen-
to relativo ao SMS entram até na avaliação de te na intersubjetividade do entendimento, na
desempenho de algumas gerências. interação que estabelece expectativas recí-
procas de comportamento.
No entanto, uma questão que precisa ser des-
tacada, no âmbito da análise desses resulta- Com efeito, a distinção habermasiana dos in-
dos obtidos, é que a objetividade da tecnolo- teresses evidencia formas bem variadas de
gia, e do recurso aos sistemas de informação racionalização. Há um tipo de racionalização
como meio de compartilhar conhecimentos que se articula em torno de um eixo de ins-
obtidos, não dá conta daquilo que Jürgen Ha- trumentalização pragmática. Outra forma de
bermas (1968/1982) apontou como sendo os racionalização, por sua vez, se dá no plano da
limites da razão instrumental, voltada exclu- interação social e gira ao redor dos obstáculos
sivamente para o tecnicismo. culturais à comunicação, procurando viabili-
zar a adesão dos homens a valores fundamen-
Algumas idéias, valores e pressupostos de tais para a convivência em sociedade.
normas e procedimentos sociais, são geral-
mente assumidos, dentro da organização, co- Para Jürgen Habermas (1982), a racionalidade
técnica, no decorrer da história humana, tem
se deslocado e passado a dominar também o que ir lá? — Então, quando você fala de Gerenci-
amento do ―stress‖ fica mais simples. (Sandro
plano da interação social. Ora, já que o pro-
Moura Souza, entrevista pessoal, 12 de março de
pósito do interesse instrumental se vincula 2008).
com o domínio, a racionalidade aplicada à in-
teração humana também assume tal caracte- Todo esse cenário organizacional, enfim,
rística instrumental, implicando o controle do apresenta interessantes contrastes. A empre-
homem pelo homem. Daí depreende-se então sa, enquanto organização produtiva, desen-
a crítica habermasiana ao tecnicismo que volve dispositivos a fim de gerenciar o
controla e domina até as decisões humanas. ―stress‖ do ponto de vista de uma Gestão do
Conhecimento. O que implica dizer que a sis-
Nesta pesquisa, no âmbito do programa de tematização das informações corporativas so-
gerenciamento de ―stress‖ no trabalho bre ―stress‖ é tida como um componente in-
offshore, constatou-se um foco privilegiado dispensável para a eficiência do trabalho rea-
em sistemas de informação como meio de lizado. Sobretudo porque o conhecimento ad-
compartilhar conhecimentos. Tal procedimen- quirido anteriormente pode servir de base pa-
to, porém, não atende a necessidade daquilo ra avanços futuros.
que Habermas definiu em termos de agir co-
municativo. Os problemas, então, são clara- Nesse sentido, o conhecimento se torna fun-
mente percebidos pelos próprios funcionários: cional e pronto para o uso através da media-
ção do prontuário eletrônico SD 2000. A idéia
Na Petrobras, hoje, cerca de 40% dos empregados
são novos, quase metade da força de trabalho.
é que a Tecnologia da Informação possui os
Então a empresa está num momento de transição recursos que permitirão a classificação dos
(...) Aí você tem o processo de ambientação, de eventos de forma otimizada, assim como a
como receber os novos empregados, tem o pro- produção de índices precisos em tempo bem
blema de gestão do conhecimento, pois se houver
reduzido.
atrito, o antigo não passa a informação ao novo,
ficando ambos de nariz em pé, sem conversar. A O problema, contudo, é que nesse tipo de
gestão do conhecimento é convivência. Como é
que vou passar conhecimento se a convivência Gestão do Conhecimento marcada predomi-
pode não estar boa? (Samantha Melchior Sarden- nantemente por essa vertente da razão ins-
berg, entrevista pessoal, 12 de fevereiro de trumental não há a clara percepção das lacu-
2008). nas deixadas pela intersubjetividade. O que
Esse depoimento mostra que a opção pela ra- facilmente se depreende das entrevistas e
zão instrumental — reificada no prontuário depoimentos é que há problemas na interação
eletrônico 2000 — além de não dar conta do entre funcionários, fator que mascara o cená-
―stress‖, em si, ainda corre o risco de ter rio de compartilhamento de informações (―A
efeitos perversos. Pois o próprio mecanismo gestão do conhecimento é convivência. Como
tido como uma solução gerencial pode ser é que vou passar conhecimento se a convi-
causa de mais desgaste: ―a convivência pode vência pode não estar boa?‖). No entanto,
não estar boa‖. além de mascarar as informações, as relações
interpessoais podem ser, em alguns contex-
Ademais, como já foi esclarecido anterior- tos, a própria razão do ―stress‖ na organiza-
mente, o uso do termo ―stress‖, neste artigo, ção.
não deriva de uma concepção mecanicista dos
processos psíquicos. Na verdade, a palavra é O contraste organizacional no âmbito do ge-
aqui aludida, única e exclusivamente, porque renciamento do ―stress‖ na Petrobras, por-
a própria Petrobras optou por denominar seu tanto, tem um perfil bastante nítido, a partir
procedimento nesses termos. Alguns profissi- do viés habermasiano. Pois, se por um lado há
onais entrevistados preferem descrever sua amplo investimento no agir instrumental, por
atuação no âmbito da saúde mental, mas ad- outro há uma lacuna quanto ao agir comuni-
mitem que a empresa escolheu denominar o cativo.
programa como Gerenciamento do ―stress‖, Conclusão
―porque doença mental ia ser muito pesado‖:
Optou-se por chamar de Gerenciamento do
Detentora de reservas provadas que estão em
―stress‖ porque se eu falar de doença mental torno de 14 bilhões de barris de petróleo, a
ninguém vai querer ser enquadrado. Então, dizer Petrobras é a maior empresa do Brasil. Como
— Pessoal vamos ter uma palestra sobre saúde mais de 90% dessas reservas estão em águas
mental, estão todos convidados! — levaria o em-
pregado a pensar — Não sou doido, por que tenho
profundas e ultraprofundas, inegavelmente o
http://quadernsdepsicologia.cat
Atividades laborais em plataformas marítimas no Brasil 9
Castro, Alexandre de Carvalho; Ignacio, Aline Gua- mation Systems and Technology Management,
rany; Leao, Luis Henrique da Costa e Pinto, Vivi- 5(2), 251-268.
ane Nunes (2008, maio). Psicologia do Trabalho e
Furtado, Andre Tosi e Freitas, Adriana Gomes de
Estresse do trabalhador. Trabalho apresentado
no Anais do Seminário de SMS da Bacia de Cam- (2004). Nacionalismo e aprendizagem no progra-
ma de Águas profundas da Petrobras. Revista
pos/PETROBRÁS, Macaé, Brasil.
Brasileira de Inovação, 3(1), 55–86.
Castro, Alexandre de Carvalho; Ignacio, Aline Gua-
rany e Pinto, Viviane Nunes (2006, outubro). Grotto, Daniela (2002). O compartilhamento do
Com Sartre na Petrobrás: Fragmentos existen- Conhecimento nas organizações. In Maria Ange-
ciais do petroleiro off-shore. Trabalho apresen- loni (Coord.), Organizações do conhecimento: In-
tado no Anais do VIII Congresso Brasileiro de Psi- fra-Estrutura, Pessoas e Tecnologias (pp. 72-86).
coterapia Existencial, São Paulo, Brasil. São Paulo: Saraiva.
Guareschi, Pedrinho Arcides e Grisci, Carmem Ligia
Castro, Alexandre de Carvalho; Ignacio, Aline Gua-
rany; Pinto, Viviane Nunes e Souza, Samantha (1993). A Fala do Trabalhado. Petropólis: Vozes.
Mendonça (2007, agosto). Psicologia do Trabalho Habermas, Jürgen. (1968/1982). Conhecimento e
e Subjetividade do Trabalhador Offshore. Traba- Interesse. Rio de Janeiro: Zahar.
lho apresentado no Anais do XIV Simpósio de En-
genharia de Produção/SIMPEP, Bauru, Brasil. Neves, José e Goncalves, Sônia (2009). A investiga-
ção em Gestão de Recursos Humanos em Portu-
Castro, Alexandre de Carvalho e Nunes, Dayana gal: Resultados e tendências. Revista Portuguesa
Karla de Paula (2008a, julho). Ações e relações e Brasileira de Gestão, 8(4), 66-83.
entre Gestão do Conhecimento e estresse do pe-
troleiro offshore. Trabalho apresentado no Anais Nonaka, Ikujiru e Takeuchi, Hirotaka (1995). The
do IV Congresso Nacional de Excelência em Ges- Knowledge creating company: How Japanese
tão/CNEG, Niterói, Brasil. companies create the dynamics of innovation.
New York: Oxford University Press.
Castro, Alexandre de Carvalho e Nunes, Dayana
Karla de Paula (2008b, outubro). Análise crítica Ortiz Neto, José Benedito e Costa, Armando João
do Gerenciamento de Stress em plataformas ma- Dalla (2007). A Petrobrás e a exploração de pe-
rítimas. Trabalho apresentado no Anais do XXVIII tróleo offshore no Brasil: um approach evolucio-
ENEGEP, Rio de Janeiro, Brasil. nário. Revista Brasileira de Economia, 61(1), 95-
109.
Castro, Alexandre de Carvalho; Pinto, Viviane Nu-
nes e Ignacio, Aline Guarany (2005, maio). A Or- Pena, Anderson Córdova (2002). Relato de pesqui-
ganização do Trabalho e suas Implicações na Sa- sa: a influência do contexto ambiental nos traba-
úde Mental do Trabalhador. Trabalho apresenta- lhadores off-shore de uma plataforma petrolífe-
do nos Anais do XIII Encontro Nacional da Associ- ra. Psicologia, Ciência e Profissão, 22(1), 112-
ação Brasileira de Psicologia Social/ABRAPSO, 119.
Belo Horizonte, Brasil. Rubenstein-Montano, Bonnie; Liebowitz, Jay; Bu-
Corrêa, Rodrigo Valença dos Santos e Castanheira, chwalter, James Judah.; Mccaw, Doug; Newman,
Maurício (2005). O Papel da Gestão do Conheci- Butler e Rebeck, Ken. (2001). A systems thinking
mento nos processos de melhoria contínua. In framework for knowledge management. Journal
Maurício Castanheira e Márcia Medeiros (Co- Decision Support Systems, 31(1), 5-16.
ords.), Conhecimento e Competências (pp. 49- Sampaio, José Jackson Coelho (2001). Saúde men-
87). Rio de Janeiro: Publit. tal e trabalho petroleiro: gente em desconforto,
Davel, Eduardo e Souza-Silva, Jader Cristiano de mal estar e sofrimento. In Ana Teresa Acatauassú
(2007). Da ação à colaboração reflexiva em co- Venâncio e Maria Tavares Cavalcanti (Coords.),
munidades de prática. Revista de Administração Saúde mental - Campo, Saberes e Discursos (pp.
de Empresas, 47(3), 53-65. 19-35). Rio de Janeiro: Edições IPUB.
Deslandes, Suely Ferreira (2002). A construção do Serafim, Maurício e Bendassolli, Pedro (2009). A
projeto de pesquisa. In Maria Cecília de Souza redução da dimensão ética nas organizações. Re-
Minayo (Org.), Pesquisa social: teoria, método e vista Portuguesa e Brasileira de Gestão, 8(3), 46-
criatividade (pp. 31-50). Petrópolis, RJ: Vozes. 54.
Fell, André Felipe de Albuquerque; Rodrigues Fi- Siebeneichler, Flávio Beno (1989). Jürgen Haber-
lho, José e Oliveira, Rezilda Rodrigues (2008). mas: Razão Comunicativa e Emancipação. Rio de
Um estudo da produção acadêmica nacional so- Janeiro: Tempo Brasileiro.
bre gestão do conhecimento através da teoria do
conhecimento de Habermas. Journal of Infor-
http://quadernsdepsicologia.cat
Atividades laborais em plataformas marítimas no Brasil 11
AGRADECIMENTOS
CNPq
ENDEREÇO DE CONTATO
o.aken@uol.com.br
FORMATO DA CITAÇÃO
Castro, Alexandre de Carvalho (2012). Atividades laborais em plataformas marítimas no Brasil: A Ges-
tão do Conhecimento na perspectiva da Psicologia do Trabalho. Quaderns de Psicologia, 14(2), 55-65.
Acesso em [dia] do [mês] do [ano], de http://www.quadernsdepsicologia.cat/article/view/1137
HISTÓRIA EDITORIAL
Recebido: 28/09/12
Aceitado: 22/11/12