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TRABALHO
IMATERIAL
E TEORIA DO V A L O R EM MA R X
TRABALHO IMATERIAL E TEORIA DO VALOR EM MARX
express^0
POPULAR
E ste livro tra z um e stu d o te ó ric o so b re a
q u e s t ã o do tr a b a lh o im a te ria l a p a rtir de
c a t e g o r ia s m a rx ia n a s, p r e s e n te s s o b re tu d o
em O capital e no Capítulo VI in éd ito de O
capital. O autor mantém aqui uma polêmica
com os te ó r ic o s do tra b a lh o im aterial que
q u e stio n a m a v a lid a d e da te o ria do va lo r
d e se n vo lvid a por K. Marx, seja pelo e x c e s
sivo conteúdo objetivista das obras m encio
nadas, seja pela suposta superação das c a
te g o ria s ce n tra is ali p resen tes (valor, mais-
-valia, entre o u tra s ) devido ao s e le m en to s
im pulsionados pelo aumento da presença do
trabalho im aterial na produção.
9788577432264
E s t e l i v r o é um d o s m a i s
q u a l i f i c a d o s e s t u d o s s o b r e as
f o r m u l a ç õ e s o f e r e c i d a s por
Mar x a c e r c a do c h a m a d o t r a
bal ho imaterial.
P a r t i m o s da h i p ó t e s e de
que, ao contrário da tão d iv ul
gada ( quanto e q u i v o c a d a ) t es e
da f i n i t u d e da lei do v a lo r, o
c a p i t a l i s m o de f at o vem a p r e
s e n t a n d o um p r o c e s s o m u l t i -
f o r m e , no qual i n f o r m a l i d a d e ,
precarização, m aterialidade e
imaterialidade são mecanismos
vi tais t ant o para a p r es er v ação
quanto para a ampl i ação da lei
do valor.
Assim, ao mesmo tempo que
a i n f o r ma l i d ad e dei xa de ser a
exceção para ( te nd en ci al me nt e)
t o r n a r - s e a r egra, a c o nh e ci d a
am p liaç ão das a t iv id a d e s d o
t a d a s de maior d i m e n s ã o i m a
t e r i al , e s p e c i a l m e n t e na s mais
in fo rm a tiza d a s, nas c h a m a
das t e c n o l o g i a s de i n f o r m a ç ã o
e c o m u n i c a ç ã o p r e s e n t e s de
mo d o c r e s c e n t e n o s s e r v i ç o s
p r i v a t i z a d o s e mer c a d o r i za d o s ,
c o nf i g u r a- s e como um elemento
novo e c e n t r a l par a uma real
c o m p r e e n s ã o dos n o v os m e c a
n i s m o s do v a l o r h o j e . M e n o s
do que perda de r el e vâ n ci a da
t e o r i a do va lor, e s t a m o s , e n
tão, pr es enc iando novas formas
de s u a v i g ê n c i a , c o n f i g u r a n d o
m e c a n i s m o s c o m p l e x o s de e x
t r a ç ã o da m a i s - v a l i a t a m b é m
na s e s f e r a s da p r o d u ç ã o não
m a t e r i a l , par a u s a r uma c o n -
c e i t u a l i z a ç ã o s emi na l o fe r e ci d a
por Marx.
Se p a r e c e e v i d e n t e q u e o
t r a b a l ho i mat er i al não se c o n
verteu em el emento dominante,
ele a s s u m e papel c r e s c e n t e na »
c o n f or m aç ã o do valor, uma vez
que é p a r t e da a r t i c u l a ç ã o re-
lacional entr e d is t i n t a s m o d a l i
d ad e s de t r a b a l h o vivo em i n
t er aç ão com o t rabal ho morto,
par tícipe p o r t a n t o do p r o c es s o
de v a l o r i z a ç ã o do v a lo r. S ão
" ó r g ã o s do c é r e b r o h u m a n o
logrado p el as mãos humanas"
( c on for me a c a r a c t e r i z a ç ã o de
Marx nos Crundri sse), o b r i g a n
d o - n o s a c o m p r e e n d e r as n o
vas d i m e n s õ e s e c o n f i g u r a ç õ e s
da lei do valor.
Aqui r e s i d e o mér ito m a i o r
d e s t e livro. Ao c a m i n h a r p el o s
d i f í c e i s a t a l h o s o f e r e c i d o s por
Marx, o a u t o r e n f r e n t a t e m a s
complexos, d os qu ai s p o d e m o s
mencionar: os limites das t es e s
que def e nde m a i n ta ngi bi l id a de
do t r a b a l h o i m a t e r i a l e, p o r
i s s o , a i n c a p a c i d a d e de c o n
c e b ê - l o c o m o p a r t e do v a l o r ;
o p s e u d o p r o b l e m a da q u a n t i
f i c a ç ã o do v a l o r em O capital:
as c o n e x õ e s e x i s t e n t e s e n t r e
trabalho produtivo, m a te ria li
dade e i mat er i al i dad e t anto em
Marx como no p e n s a m e n t o da
economia política p r é- ma rx i an a ;
a expl or açã o da c a p a ci d a de de
t r a b a l ho s o c i a l m e n t e c o m b i n a
da: a p r o d u ç ã o de v a l o r p a r a
a l é m da f á b r i c a , p r e s e n t e na
n o ç ã o a m p l i a d a de i n d ú s t r i a
o f e r e c i d a por Marx; a q u e s t ã o
da circulação e o caso p a r t i c u
lar da indústria de t ra ns por t es,
d en tr e o ut ro s.
P or c e r t o , s e m u i t o a i n d a
há que se f a z e r par a a c o m
pree nsão d e s te tema vita l,
e s t e livro é p on to de p a r t i d a
de primeira q u al id a de .
Ricardo Antunes
Copyright © 2013, by Editora Expressão Popular
CDU 331
____________________________________________________________________ CDD 331
Catalogação na Publicação: Eliane M. S. Jovanovich C R B 9/1 2 5 0
Introdução.........................................................................................................11
Referências bibliográficas.............................................................................163
AGRADECIMENTOS
1 Este relatório é emitido regularmente pela Organização das Nações Unidas, o Fundo
Monetário Internacional e a Organização Mundial do Comércio, em conjunto.
2 Os usos contemporâneos do conceito de serviço têm um sentido geral: dizem respe:'
a todo bem intangível que pode ser vendido no mercado. Veremos que, em M
conceito serviço assume um conteúdo diferente.
11
T r a b a l h o i m a t e r i a l e t e o r i a do v a l o r em marx
12
V in íc iu s O liveira S antos
“O conjunto dessas teorias difundiu-se dentro de um eixo teórico orientado pelas novas
formas de exploração do trabalho na indústria e pela sua expansão no setor de serviços.
No entanto, nessas novas análises existia e continua a existir uma contradição funda
mental: ao mesmo tempo em que se impõe a necessidade de negar a teoria marxista,
entendida como teoria restrita ao industrialismo, recorre-se aos Grundrisse com o objetivo
de orientar suas teses centrais” (Amorim, 2006, p. 26).
“(•••) a ampliação de formas de trabalho imaterial torna-se, portanto, outra tendência
do sistema de produção contemporâneo, uma vez que ele carece crescentemente de
atividades de pesquisa, comunicação e m arketing (...) (Antunes, 2007, p. 126).
13
T r a b a l h o i m a t e r i a l e t e o r i a do valor em marx
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V in íc iu s O liveira S antos
“(■••) o trabalho imaterial diz respeito à produção que não resulta em bens materiais ou
duráveis” (Cocco; Vilarim, 2009, p. 176).
15
T rabalho imaterial e teoria do valor em marx
17
T r abalho i materi al e t e o ri a do valor em marx
9 Com a apresentação de nosso trabalho, não pretendemos realizar uma discussão aprofun
dada dos temas que talvez sejam os mais polêmicos dentro das interpretações da teoria
marxiana do valor. Aqui, esses temas só constituem objeto de investigação na medida
em que suscitam questões diretamente importantes para a análise do trabalho imaterial.
Sob este ponto de vista, os problemas enfrentados por Rubin (1987), Sweezy (1976) e
Rosdolsky (2001) pouco aparecem aqui enquanto parte constituinte da exposição, pois
sempre que possível apresentamos como as questões estão postas no proprio Marx. No
18
V i n í c i u s O liveira S antos
entanto, estes aurores foram fundamentais por indicarem uma leitura ampla e atenta
da teoria do valor de Marx.
19
CAPÍTULO 1
TEORIA DO VALOR E O PROBLEMA DA
QUANTIFICAÇÃO
21
T r abalho i material e t e o ri a do valor em marx
22
V i ní c i us O liveira S antos
23
T r abalho i materi al e t e o ri a do valor em marx
12 As teorias de Smith e Ricardo podem ser consideradas como casos nos quais é possível
encontrar determinado teor de quantitativismo do valor. Assim, o trabalho imaterial é
excluído da análise principal.
13 O problema da quantificação do valor também foi abordado por Prado (2005), princi
palmente no artigo C rítica à Economia Política do imaterial-, e por Amorim (2009).
24
V in íc iu s O liveira S antos
14 Aqui vale ressaltar que, mesmo quando o trabalho imaterial está relacionado à esfera
produtiva, ele é considerado um serviço: “a atividade fabril é vista como serviço” (Hardt;
Negri, 2002, p. 314).
25
T R A I I M . n o I MA T E R I A L E T E O R I A DO VALOR EM MARX
26
V in íc iu s O liveira S antos
27
T rabalho imaterial e teoria do valor em marx
28
V i n íc iu s O liveira S antos
29
T ramai, h o i m a t e r i a l e t e o r i a d o v a l o r em mar x
30
V in í c i u s O liveira S an tos
22 O termo suprassunção é aqui utilizado para expressar a superação que preserva determ inados
elem entos do m om ento anterior.
31
T f t A » M . H O I M A T E R I A L E T E O R I A D O V A L O R E M M A RX
to da riqueza geral, assim como o não trabalho dos poucos deixa de ser
condição do desenvolvimento das forças gerais do cérebro humano. Com
isso, desmorona a produção baseada no valor de troca, e o próprio processo
de produção material imediato é despido da forma da precariedade e
contradição (Mane, 2011, p. 588 - destaques nossos).
Segundo os teóricos do trabalho imaterial, o sistema produtivo
atual, em que regería a supremacia do trabalho imaterial,23 a partir
dessa desmedida do valor,24 teria chegado ao ponto descrito por
M arx: se libertado do trabalho imediato. A criação da riqueza, nestes
moldes sociais, não depende do tempo de trabalho e da quantidade
de trabalho empregado para produzi-la, mas “de sua produtividade
geral (...) enquanto corpo social” (Lazzarato; Negri, 2001, p. 28). A
produção imaterial seria a expressão da libertação do valor.25
Lazzarato e N egri veem, utilizando trechos d a passagem de
M arx antes citada, que no modelo produtivo atual as condições
para a superação do capitalism o já estão dadas. Por meio das
modalidades de trabalho imaterial, a relação do indivíduo com a
produção se dá “em termos de independência com relação ao tempo
de trabalho imposto pelo capital (...) e em termos de autonom ia
com relação à exploração” (Lazzarato; Negri, 2001, p . 30). Em
outro momento, Lazzarato (2001a) qualifica essa relação como
sendo de uma radical autonomia.
Em contraposição aos teóricos do trabalho im aterial, Amo-
rim (2009) demonstra como as pressuposições referentes àquela
passagem dos Grundrisse (a superação do valor) remetem a dife
rentes interpretações. Uma delas é a de Lazzarato e Negri: havería
um a crise na m edida do valor, relacionada à im possibilidade de
quantificação do trabalho imaterial e, portanto, intensificada pelo
32
V i n íc iu s O liveira S antos
2,‘ O autor apresenta a análise dos G rundrisse como fonte teórica do trabalho imaterial
(Amorim, 2009).
27 Sobre a constituição deste “novo modo de produção” (Negri, 1991, p. 167), ver os
delineamentos em Negri (1991) e Negri & Hardt (2004).
33
T l » Alt Al H O I M A T E RI AL E T E O R I A D O V A L O R EM M A R X
:s “Para Smith, a história é lugar de realização desses princípios, não fonte de sua consti
tuição” (Teixeira, 2004, p. 32).
34
V i ní c i us O liveira S antos
35
T r AHAI I I O 1MATERI AL E T E O RI A DO VALOR EM MARX
30 “(...) a teoria do valor apresentada em A riqueza das nações iluminou sob vários ângulos
o fenômeno da formação de preços” (Fritsch, 1996, p. 11).
31 “Na obra de Smith, na verdade, a teoria do valor não cumpre sua promessa de determinar
simultaneamente o valor das mercadorias e a participação dos agentes produtivos no
valor criado” (Belluzzo, 1980, p. 28). Conforme veremos, a teoria do valor de Marx tem
outras preocupações e enfoques: a categoria valor é tratada principalmente como form a
sem a exclusão da categoria valor de uso, e as duas são vistas como unidade complexa
da célula da sociedade capitalista, a mercadoria; e o aspecto qualitativo d a forma-valor
assumirá centralidade em detrimento do quantitativismo.
36
V in íciu s O liveira S antos
37
T 11 A H A I 11 O I M A T I U U A L E T E O R I A D O V A L O R EM M A R X
35 “Algumas mercadorias têm seu valor determinado somente pela escassez. Nenhum
trabalho pode aumentar a quantidade de tais bens, e, portanto, seu valor não pode
ser reduzido pelo aumento da oferta. Algumas estátuas e quadros famosos, livros e
moedas raras, vinhos de qualidade peculiar, que só podem ser feitos com uvas cultivadas
em terras especiais das quais existe uma quantidade muito limitada, são todos desta
espécie. Seu valor é totalmente independente da quantidade de trabalho originalmente
necessária para produzi-los e oscila com a modificação da riqueza e das preferências
daqueles que desejam possuí-los” (Ricardo, 1996, p. 24).
38
V in íciu s O liveira S antos
3f> “Não só o trabalho aplicado diretamente às mercadorias afeta o seu valor, mas também
o trabalho gasto em implementos, ferra m en ta s e edifícios que contribuem para sua
execução” (ibid.> p. 30).
39
T l t A U A U I O I M A I i II 1 A . E T E O R I A D O V A L O R E M M A R X
40
V i n í c i u s O liveira S antos
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T h AI I A U I O I M A T E R I A L E T E O R I A D O V A L O R E M M A R X
42
Vi n íc iu s O liveira Santos
43
T r a b a l h o i m a t e r i a l e t e o r i a do val or em marx
44
V inícius O liveira Sant os
O trabalhador não trabalha duas vezes ao mesmo tempo, uma vez para
agregar, por meio de seu trabalho, valor ao algodão e outra vez para
conservar seu valor anterior, ou, o que é o mesmo, para transferir ao pro
duto, o fio, o valor do algodão que transforma e do fuso com o qual ele
trabalha. Antes, ao contrário, pelo mero acréscimo de novo valor conserva
o valor antigo. Mas como o acréscimo de novo valor ao objeto de trabalho e
a conservação dos valores antigos no produto são dois resultados totalmente
diferentes que o trabalhador alcança ao mesmo tempo, embora trabalhe uma
só vez durante esse tempo, essa dualidade do resultado só pode explicar-se,
evidentemente, pela dualidade de seu próprio trabalho. No mesmo instante,
o trabalho, em uma condição, tem de gerar valor, e em outra condição
deve conservar ou transferir valor (Marx, 1985, p. 165).
O duplo resultado do trabalho vivo no processo de produçáo de
valor é ilustrado por M arx a partir da metáfora da “transmigração
de almas”. Quando o trabalho vivo consome os meios de produção
para a confecção de um novo produto, “ele [o valor] transm igra
do corpo consumido ao corpo recém-estruturado” (M arx, 1985,
p. 169). 1Sendo assim, o trabalhador só pode produzir valor novo
conservando os antigos, os valores dos meios de produção. “É,
portanto, um dom natural da força de trabalho em ação, do tra
balho vivo, conservar valor ao agregar valor, um dom natural que
nada custa ao trabalhador, mas que rende muito ao capitalista”
(Marx, 1985, p. 170).
Quando M arx começa a considerar outros condicionamentos,
como o salário por peça, por exemplo, surgem novas questões refe
rentes à dificuldade de quantificação do resultado. Nesta forma de
assalariamento, o trabalhador direto é controlado a partir da quanti
dade do resultado, das peças produzidas. Para que seja quantificado 41
45
T r a b a l h o i m a t e r i al e t e o r i a do valor em marx
46
V inícius O liveira S antos
43 Uma das maiores contribuições à leitura do valor enquanto forma foi realizada por
Rubin (1987, p. 121-138).
47
T r a b a l h o i m a t e r i a l e t e o r i a d o v a l o r em mar x
48
V inícius O liveira S antos
45 “(...) o valor é uma forma social adquirida pelos produtos do trabalho no contexto de
determinadas relações de produção entre as pessoas. Deste ponto de vista, o valor é
uma forma social adquirida pelos produtos do trabalho no contexto de determinadas
relações sociais de produção entre as pessoas. Devemos passar do valor como magnitude
quantitativam ente determ inada para o valor abordado com o uma fo r m a social qualitati
vam ente determ inada. Em outras palavras, devemos passar da teoria da ‘magnitude do
valor para a teoria da forma de valor (Rubin, 1987, p. 83 —destaques nossos).
46 O aspecto quantitativo do valor também é percebido por Sweezy nos seguintes termos: “a
principal tarefa da teoria do valor quantitativo nasce dessa definição do valor como uma
grandeza. E nada mais nem menos que a investigação das leis que governam a distribuição
49
T r ab al ho i mate ri al e t e o r ia do valor em marx
50
Vinícius O liveira Santos
47 “Ricardo também sabia, é claro, que para se encontrar a base dos valores era necessário
reduzir o trabalho do indivíduo ao ‘trabalho socialmente necessário’ (ele destaca isso
na seção II do capítulo I de sua obra). Mas, para ele, isso só diz respeito ao aspecto
quantitativo do problema, e não ao qualitativo” (Rosdolsky, 2001, p. 114).
51
T r ab a l h o i materi al e t eo r i a do valor em marx
(...) o ‘valor’ (stoimost) náo caracteriza coisas, mas relações humanas sob
as quais as coisas são produzidas. Não é uma propriedade das coisas, mas
uma forma social adquirida pelas coisas, devido ao fato de as pessoas
manterem determinadas relações de produção umas com as outras através
das coisas (Rubin, 1987, p. 83).
Nestes termos, a teoria m arxiana do valor extrapola, e muito,
as limitações referentes ao quantitativismo encontrado nas contri
buições de Sm ith e Ricardo. M arx parte de outras preocupações
e tenta resolver outras questões. Am orim indica a questão da
seguinte forma:
As diferenças que informam a ruptura da teoria do valor da Economia
Política clássica com as de Marx podem ser pensadas com base em uma
hipótese: a teoria do valor de Marx, ao contrário de tentar solucionar os
problemas da Economia Política clássica, tem a intenção de caracterizá-los
como problemas sem solução (Amorim, 2006, p. 33).
Q uantificar uma produção significa estabelecer critérios quan
titativos de delimitação dos resultados, em determinado período de
tempo. Essa não nos parece ser uma das funções da teoria marxiana
do valor. O modo pelo qual o valor é concebido por Marx exclui
essa lim itação da teoria do valor enquanto unidade de medida,
pois ele é apreendido no fluxo de seu movimento.48
Captar e compreender adequadamente o movimento do valor,
na leitura que fazemos da teoria m arxiana, exclui a mensuração
empírica como critério de existência deste. Os movimentos reais
dos preços indicam a diferença entre valores e preços:
O economista vulgar não tem a mínima idéia de que a relação de troca real
de todo dia não precisa ser diretamente identificada com as magnitudes do
valor. (...) E assim o economista vulgar pensa que fez uma grande descoberta
quando, como se contrariamente à revelação da conexão interna, ele afirma
“Aqueles que acham que atribuir ao valor existência independente é mera abstração es
quecem que o movimento do capital industrial é essa abstração como realidade operante.
O valor p ercorre aqui diversas form as, efetua diversos m ovim entos em que se mantém e ao
mesmo tem po aum enta, cresce” (Marx, 2008a, p. 120 —destaques nossos).
52
V inícius O liveira Santos
com orgulho que na aparência das coisas parecem diferentes. De fato, ele
está jactando-se de agarrar-se à aparência e tomá-la pela última palavra. Qual
então a razão de ser de toda ciência? (Marx, 2002, p. 243-244).
Em Marx, o valor de uma mercadoria não é determinado pelo
trabalho objetivado, materializado nela, mas pela quantidade de
trabalho vivo socialmente necessário para produzi-la. Se fosse possível
identificar e quantificar em uma mercadoria individual aquilo que
o autor conceitua como valor, tal quantificação não correspondería
ao valor objetivado nesta mercadoria, mas seria um a expressão da
quantidade de trabalho social necessário para a sua produção em
condições normais. Aqui, consideram-se questões referentes à quan
tidade, mas não há espaço para um a interpretação quantitativista.
Esse argumento se fortalece quando consideramos a noção de
objetividade social do valor. Apesar de algumas indicações já terem
sido feitas, convém, a partir de agora, analisar de perto a questão.
Em determ inada altura do prim eiro capítulo da seção sobre o
salário, M arx se questiona:
Mas o que é o valor de uma mercadoria? Forma objetiva do trabalho social
despendido em sua produção. E mediante o que medimos a grandeza de
seu valor? Mediante a grandeza do trabalho contido nela. Mediante o
que seria, pois, determinado o valor, por exemplo, de uma jornada de
trabalho de 12 horas? Mediante as 12 horas de trabalho contidas numa
jornada de trabalho de 12 horas, o que é uma insípida tautologia (Marx,
1988, p. 121).
Tratar os elementos desta tautologia está além dos objetivos do
nosso trabalho. Aqui, vamos nos deter ao argumento segundo o
qual, apesar de M arx abordar elementos de quantidade do valor,
ele não tem um a interpretação quantitativista deste; e o valor não
pode ser matematicamente definido : “valor de troca e valor de uso são
em si epara si grandezas incomensuráveis” (Marx, 1988, p. 125).49
O trabalho é a substância e a medida imanente dos valores, mas ele mesmo não tem
valor. Na expressão valor do trabalho, o conceito de valor não está apenas inteiramente
apagado, mas convertido em seu contrário. É uma expressão imaginária, assim como
53
T r a b a l h o i m a t e r i a l e t e o r i a do v a l o r em marx
54
Vinícius O liveira Santos
55
T r a b a l h o i m a t e r i a l e t e o r i a d o v a l o r em m a r x
relação de troca das mercadorias para chegar à pista de seu valor aí oculto
(Marx, 1985, p. 53-54 - destaques nossos).
Negri, Lazzarato e Gorz lim itam a abrangência explicativa da
teoria do valor considerando seus pressupostos quantitativistas.
Esta refutação é plausível quando direcionada a Sm ith e Ricardo,
e não a M arx. Em outros termos, refutar teorias quantitativistas
do valor a partir dos elementos presentes no trabalho imaterial não
consiste em invalidar a teoria do valor m arxiana; nesta, o valor
não se lim ita a fornecer a base quantitativa da troca, mas exprime
também relações sociais específicas. Para tomar de empréstimo a ex
pressão utilizada por Carcanholo e Teixeira, parece-nos que há na
teoria do trabalho imaterial um a “leitura ricardiana de Marx”.51
Essas características da concepção de Ricardo e de alguns de seus seguido
res, sem dúvida nenhuma, determinam o perfil da interpretação ricardiana
sobre a teoria marxista do valor que, nos dias de hoje, é muito generalizada
(...) (Carcanholo; Teixeira, 1992, p. 584).
Neste item, buscamos explicar que as críticas que supostamente
invalidariam a teoria m arxiana do valor a partir da apresentação
do problema da quantificação constituem, na nossa interpretação,
um pseudoproblema. Consideramos, portanto, que na teoria de
M arx não há incongruências entre produção de valor e trabalho
imaterial. A discussão realizada no capítulo seguinte dá sequência a
este postulado, ressaltando que a teoria marxiana levanta elementos
pertinentes para o estudo do trabalho imaterial a partir do conceito
de trabalho produtivo.
56
CAPÍTULO 2
58
V inícius O liveira S antos
59
T rabalho imaterial e teoria do valor em marx
60
V inícius O liveira S antos
61
T rabalho imaterial e teoria do valor em marx
62
V inícius O liveira S antos
58 O autor escocês viveu no período de 1723 a 1790. Considerado o grande nome do libe
ralismo, teorizou em um contexto marcado pelas acentuadas modificações capitalistas
no campo dos grandes centros de manufatura (Fusfeld, 2005).
O trabalho é a medida real do valor de troca de todas as mercadorias” (Smith, 1996b,
p. 87).
63
T rabalho imaterial e teoria do valor em marx
64
V inícius O liveira S antos
60 Seus serviços normalmente morrem no próprio instante em que são executados, e ra
ramente deixam atrás de si algum traço ou valor pelo qual igual quantidade de serviço
poderia, posteriormente, ser obtida” {id., 1996, p. 334).
65
T rabalho imaterial e teoria do valor em marx
66
V inícius O liveira S antos
’3 “O valor que os homens atribuem às coisas tem seu primeiro fundamento no uso que delas
podemfazer. Umas servem como alimento, outras como vestuário; algumas nos defendem
dos rigores do clima, como as casas; outras, como os ornamentos, os produtos de beleza,
satisfazem gostos que são uma especie de necessidade. Seja como for, permanece sempre
verdadeiro que os homens atribuem valoras coisas em virtude de seu uso: o que não serve
para nada não tem preço nenhum. A essafaculdade que possuem certas coisas de poderem
satisfazer as diferentes necessidades humanas, permitam-me chamá-la de utilidade. Direi
que criar objetos dotados de uma utilidade qualquer é criar riquezas, visto que a utilidade
desses objetos constitui oprimeirofundamento de seu valor, e que seu valor é riqueza ” (Say,
1983, p. 68 - destaques nossos).
67
T rabalho imaterial e teoria do valor em marx
68
V inícius O liveira S antos
Da natureza dos produtos imateriais resulta que náo seria possível acumulá-
los e que eles não servem para aumentar o capital nacional. Uma nação
em que encontrássemos uma multidão de músicos, de sacerdotes e de
empregados poderia ser uma nação muito divertida, bem doutrinada e ad
miravelmente bem administrada; mas seria tudo. Seu capital não recebería
nenhum acréscimo direto de todo o trabalho dos homens industriosos,
porque seus produtos seriam consumidos à medida que fossem criados
(Say, 1983, p. 126).
A relação de capital só poderia operar na produção imaterial
de forma exterior. Este tipo de produção, segundo a teoria de Say,
não corroboraria para a produção de lucro especificamente capi
talista. Seria im praticável qualquer dono de meios de produção
engendrar acumulação de capital a partir de um a produção de bens
imateriais. Para o autor, o resultado do trabalho imaterial contém
valor enquanto utilidade, mas não contém valor enquanto geração
de riqueza para acumulação de capital. A produção imaterial seria
capaz de circular quantidade de dinheiro suficiente para enriquecer
muitos indivíduos, m as incapaz de enriquecer um indivíduo que
empregue m uitos trabalhadores visando obter lucro neste tipo
específico de produção. Por tais razões, consideramos que, na teo
ria de Say, a inserção do trabalho imaterial no conceito de trabalho
produtivo é apenas parcial. Apesar disso, sua contribuição constitui
um avanço na questão da imaterialidade do trabalho em relação
à tradição da teoria econômica de sua época. Seus predecessores,
analisados neste item, excluem o trabalho imaterial do conceito
de trabalho produtivo.
C om a exposição dos pressupostos de Say, concluím os esta
breve apresentação de como a questão da imaterialidade do traba
lho aparece, mesmo que implicitamente, em alguns predecessores
de M arx. Ao tratar do trabalho produtivo, todos eles tocam na
questão da materialidade física do resultado. M as, antes de M arx,
a inserção do trabalho imaterial no âmbito do trabalho produtivo
só é abordada parcialmente. Restava analisar a parte m ais comple
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T rabalho imaterial e teoria do valor em marx
® “O que Marx promove - sem dúvida, a partir de um trabalho teórico fecundo oriundo
de Hegel —é o desenvolvimento de uma forma adequada de reprodução conceituai
(representação) do movimento do ser por intermédio de categorias do pensamento
(Ranieri, 2011, p. 131).
66 A exposição marxiana, marcada pela construção conceituai gradual, é muito bem ex
plicitada por Marcos Müller. Referindo-se ao capital enquanto capital em geral, diz
o autor: “A dialética enquanto método caracteriza um procedimento que pretende
expor construtivamente o ‘desenvolvimento conceituai do capital’ enquanto ‘capital
em geral’, o ‘capital enquanto tal, isto é, o capital social total’ a partir de sua forma
elementar’, a mercadoria (enquanto objeto imediato da circulação e forma econômica
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72 “Fome é fome, mas a fome que se sacia com carne cozida, comida com garfo e faca, é uma
fome diversa da fome que devora carne crua com mão, unha e dente. Por essa razão, não
é somente o objeto do consumo que é produzido pela produção, mas também o modo do
consumo, não apenas objetiva, mas também subjetivamente” (Marx, 2011, p. 47).
73 Na mesma obra, os autores afirmam: “pode-se distinguir os homens dos animais pela
consciência, pela religião ou por tudo que se queira. Mas eles próprios começam a se
diferenciar dos animais tão logo começam a produzir seus meios de vida (...)” (Marx;
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V inícius O liveira S antos
Engels, 1991, p. 39). Sobre a frase citada no texto, Marx e Engels prosseguem a análise
dizendo que o simples ato de criar meios para satisfazer as necessidades gera novas
necessidades. E preciso ressaltar que, conforme aponta Jesus Ranieri: “neste sentido, e
é esta uma das principais intuiçóes de Marx, não somente o seu objeto, mas o próprio
trabalho enquanto mediador é responsável não somente pela satisfação de necessidades,
mas, igualmente, pela sua criação” (Ranieri, 2000 p. 34); “o trabalho satisfaz, mas
também cria necessidades; a produção é realização e incorporação social da necessidade
tornada consciente, uma apropriação originada na atividade” (id., 2011, p. 130).
74 “Não se trata aqui das primeiras formas instintivas, animais, de trabalho. O estado em
que o trabalhador se apresenta no mercado como vendedor de sua própria força de tra
balho deixou para o fundo dos tempos primitivos o estado em que o trabalho humano
não se desfez ainda de sua primeira forma instintiva” (Marx, 149, p. 149).
75
T rabalho imaterial e teoria do valor em marx
75 Conforme explicita Lukács, a práxis do ser social possui como elemento específico o
agir/ser consciente: o trabalho é a primeira atividade que distingue o homem dos demais
animais e, além disso, é a atividade que efetiva a transição, o salto qualitativo do ser
orgânico para o ser social: “as formas de objetividade do ser social se desenvolvem, à
medida que surge e se explicita a práxis social, a partir do ser natural, para depois se
tornarem cada vez mais declaradamente sociais. Esse desenvolvimento, porém, é um
processo dialético, que começa com um salto, com a posição teleológica do trabalho,
algo que não pode ter analogias com a natureza” (Lukács, 1981, p. 93).
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76 “Tanto no trabalho material, físico, quanto no imaterial, o trabalhador faz uso de ou
tras faculdades além de sua energia física. Faz uso de sua inteligência, de sua capacidade
de concepção, de criação, de análise, de lógica. (...) Utiliza as experiências adquiridas
anteriormente no trabalho, sejam em termos relacionais e grupais, sejam em termos de
habilidades individuais herdadas gerações após gerações ou aprendidas nos processos
educativos. Toda definição de trabalho passa por um certo componente de reflexão intelectual
ou envolvimento efetivo do trabalhador que não seja apenas exercício deforça física, ainda
que esse trabalho possa ser o do escravo que lida na lavoura de café, do assalariado que
carrega sacos de cimento ou do funcionário público que separa correspondências sem
cessar. Em qualquer desses exemplospodem ser identificadas a participação da inteligência,
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T rabalho imaterial e teoria do valor em marx
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a espécie e o modo de sua atividade e ao qual tem de subordinar sua vontade. E essa
subordinação não é um ato isolado. Além do esforço dos órgãos que trabalham, é exigida
a vontade orientada a um fim, que se manifesta como atenção durante todo o tempo
de trabalho, e isso tanto mais quanto menos esse trabalho, pelo próprio conteúdo e
pela espécie e modo de sua execução, atrai o trabalhador, portanto, quanto menos ele
o aproveita, como jogo de suas próprias forças físicas e espirituais” (id., 1985, p. 150).
” De acordo com o que apontamos, o trabalho em geral, abstraído de qualquer estrutura
social determinada, é condição eterna da vida humana. Apesar de estarmos salien
tando que outras determinações se mostram ao trabalho quando analisamos o modo
de produção capitalista, é fundamental ter em mente que o trabalho em geral e suas
determinações tratam de “determinações igualmente válidas para todas as formas em
que este [o trabalho] possa desenvolver, de condições naturais invariáveis do trabalho
humano. (...) De fato, passam a ser, portanto, determinações absolutas do trabalho
humano em geral, logo que este consegue desprender-se do caráter puramente animal”
(id., 2004, p. 90). Em outras passagens, reforçando a ideia, diz Marx: “o processo de
trabalho capitalista não anula as determinações gerais do processo de trabalho” (ibíd.,
p. 109) ou ‘a produção de valores de uso ou bens não muda sua natureza geral por se
realizar para o capitalista e sob seu controle” (id., 1985, p. 149).
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51 Nas palavras de Marx: “É isto que denomino subsunção formal do trabalho no capital. E
a forma geral de qualquer processo capitalista de produção; é, porém, simultaneamente,
uma forma particular em relação ao modo de produção especificamente capitalista desen-
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volvido, já que o último inclui a primeira, porém a primeira não inclui necessariamente
o segundo” (ibid., p. 87 - destaques do autor).
89
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92 “(...) náoéporo trabalho se tornar mais intenso ou por se prolongar a duração do processo
de trabalho; nem é por o trabalho ganhar maior continuidade e, sob o olhar interessado
do capitalista, mais ordem etc., que se altera em si e para si o caráter do processo real
de trabalho, do modo real de trabalho” {ibid., p. 89). Na subsunção formal, “processos
de produção socialmente determinados de outro modo se transformam no processo de
produção do capital” {ibid., p. 88).
93 Referindo-se ao caso específico da manufatura, Marx demonstra o porquê de a manufa
tura ser um processo de subsunção formal do trabalho ao capital: “Composta ou simples,
a execução continua artesanal e portanto dependente da força, habilidade, rapidez e
segurança do trabalhador individual no manejo de seu instrumento. (...) Precisamente
por continuar sendo a habilidade manual a base do processo de produção é que cada
trabalhador é apropriado exclusivamente para uma função parcial, e sua força de tra
balho é transformada por toda vida em órgão dessa função parcial” {id., 1985, p. 269).
Veremos que a subsunção formal atinge outros casos e outras formas de trabalho.
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95 Como vimos no primeiro item deste capítulo, Smith, de antemão, pressupõe que o
trabalho da cantora é improdutivo por não gerar nenhum resultado físico-material.
Marx, ao contrário, percebe que há possibilidade da extração de mais-valia a partir do
mesmo tipo de trabalho.
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vai em direção da ampliação do conceito de trabalho produtivo por causa da força social
de trabalho engendrada pelo capitalismo.
,M “Com a produção da mais-valia relativa (...) se modifica toda a forma do modo de produ
ção (inclusive do ponto de vista tecnológico) e surge um modo deprodução especificamente
capitalista, sobre cuja base, e ao mesmo tempo que ele, se desenvolvem as relações de
produção - correspondentes ao processoprodutivo capitalista - entre os diversos agentes da
produção e, em particular, entre os capitalistas e assalariados” (Marx, 2004, p. 92).
105 A expressão “capacidade de trabalho” é tradução do alemão Arbeitsvermõgen. Difere do
termo Arbeitskraft, que significa “força de trabalho”. No Capítulo VI inédito, encontra-
se com muito mais frequência o termo correspondente a “capacidade de trabalho”. Os
editores do exemplar de 2004 (vide bibliografia) da tradução brasileira afirmam que
‘Arbeitsvermõgen, [é a] expressão que Marx utilizava na altura e à qual veio a preferir
força de trabalho (Arbeitskraft)”, podendo levar o leitor a julgar que o segundo termo é
mais adequado que o primeiro. No entanto, Marx os utiliza indistintamente, o que fica
claro no capítulo IV de O capital, ao tratar da compra e da venda da força de trabalho:
“(...) o possuidor do dinheiro encontra no mercado essa mercadoria especial: éa capa
cidade de trabalho ou a força de trabalho. Porforça de trabalho ou capacidade de trabalho
entendemos o conjunto das faculdades físicas e espirituais que existem na corporalidade,
na personalidade viva de um homem e que ele põe em movimento toda vez que produz
valores de uso de qualquer espécie” (id., 1985, p. 139). Do mesmo modo, neste trabalho,
não diferenciamos as duas expressões.
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106 “A maquinaria, com algumas exceções a serem aventadas posteriormente, só funciona com
base no trabalho imediatamente socializado ou coletivo” (id„ 1988, p. 15). A máquina é
uma das principais expressões técnicas do processo de subsunção real do trabalho ao capital.
Portanto, o primeiro elemento (máquina) está submetido ao segundo (subsunção real do
trabalho), e não o contrário. E importante mencionar isto para que nossos pontos de vista
não se confundam com a interpretação segundo a qual a subsunção real é tratada unicamente
sob o âmbito do uso da máquina no processo de trabalho. A subsunção real do trabalho
tem como um dos braços de ação a inserção da maquinaria, mas não se limita a isso. Neste
item, tentaremos explicitar vários elementos que subsidiam esta interpretação.
107 “A expropriação dos produtores diretos é realizada com o mais implacável vandalismo
e sob o impulso das paixões mais sujas, mais infames e mais mesquinhamente odiosas.
A propriedade privada obtida com trabalho próprio, baseada, por assim dizer, na fusão
do trabalhador individual isolado e independente com suas condições de trabalho, é
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m ais com as m ãos, outro m ais com a cabeça, este com o diretor,
engenheiro, técnico etc., aquele como capataz, aquele outro como
operário m anual ou até com o sim ples servente” (M arx, 2004,
p. 110). Todos são submetidos ao processo de valorização do capi
tal, de produção e extração da mais-valia. Aqui, como se vê, Marx
inclui outrasformas de trabalho imaterial." 3Em relação ao segundo
nível de abstração, o conceito de trabalho produtivo não tem a
essência alterada: o trabalhador produtivo ainda é aquele que gera
m ais-valia. A diferença é que, no terceiro nível de conceituação,
outra mediação é considerada explicitamente: para além do traba
lhador individual, o caráter da produção de valor no capitalismo
é eminentemente social.
Considerando o trabalhador coletivo e a decorrente atividade
combinada que eles executam tendo em vista um produto total, “é
absolutamente indiferente que a função deste ou daquele trabalha
dor, mero elo deste trabalhador coletivo, esteja mais próxim a ou
m ais distante do trabalho m anual direto” (Marx, 2 0 0 4 , p. 110).
Para configurar-se como trabalho produtivo, basta o trabalhador
estar subm etido a algum a célula produtiva do capital. E , para o
autor, a atividade desta capacidade social de trabalho é a produção
direta de mais-valia.
O trabalho imaterial é produtivo desde que submetido ao capi
tal. Ao contrário de Smith, na teoria marxiana, a imaterialidade do
trabalho não produz diferenças no conceito de trabalho produtivo.
E m sum a, esse terceiro nível de conceituação explicita três elemen
tos indissociáveis: 1. a relação entre atividade e efeito útil; 2. uma
relação de produção social específica de geração de mais-valia, que
supõe a propriedade privada dos meios de produção e o regime de
trabalho assalariado (e a necessidade de o trabalhador vender sua *10
113 “(•••) temos que são cada vez em maior número as funções da capacidade de trabalho in
cluídas no conceito imediato de trabalho produtivo, diretamente explorados pelo capital
e subordinados em geral ao seu processo de valorização e de produção” (i d 2004, p.
110 —destaques nossos).
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1,4 Marx se refere a essas atividades como “envoltas outrora por uma auréola e consideradas
como fins em si mesmas” (ibid., p. 112 - destaques nossos).
115 “Trabalho produtivo náo é mais do que uma expressão que designa a relação no seu
conjunto e o modo como se apresentam a força de trabalho e o trabalho no processo de
produção capitalista” (ibid., p. 114).
1,6 “O trabalho só é produtivo na medida em que produz seu próprio contrário” (id., 2011,
p. 238).
105
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117 “O mesmo trabalho - por exemplo, jardinagem, alfaiataria etc. - pode ser realizado pelo
mesmo trabalhador ao serviço de um capitalista industrial ou ao de um consumidor
direto. Em ambos os casos, estamos perante um assalariado ou um jornaleiro, porém num
caso trata-se de um trabalhador produtivo, e no outro de um trabalhador improdutivo,
porque no primeiro caso esse trabalhador produz capital e, no outro, não: porque num
caso o seu trabalho constitui um elemento do processo de autovalorização do capital,
e no outro não é assim” (id., 2004, p. 116).
1,8 “a classe do capitalista é a classe produtiva por excelência” (ibid., p. 120).
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CAPÍTULO 3
A PRODUÇÃO CAPITALISTA E
O TRABALHO IMATERIAL
122 Considerando o trabalhador coletivo, o conceito de trabalho produtivo “já não é válido
para cada um de seus membros, tomados isoladamente” (Marx, 1988, p. 101).
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123 “A indicação [feita pela teoria do trabalho imaterial] da superação da ‘sociedade indus
trial’ implica a superação de uma análise, de uma nova teorização sobre o capitalismo.
Essa superação social pressupõe a ineficácia do pensamento marxista. A análise de Marx
é atada somente à sociedade capitalista industrial” (Amorim, 2006, p. 162).
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124 Em outra obra, Hardt e Negri apontam: “a fábrica não pode mais ser concebida como o
lugar paradigmático da concentração do trabalho e da produção; processos de trabalho
se moveram para fora das paredes da fábrica para investirem toda a sociedade” (2004,
p. 9). A sociedade pós-industrial é vista como terreno de uma nova forma de trabalho
(Hardt; Negri, 2002), um novo modo de produção (Negri, 1991).
125 Tom ando como ponto de partida os autores da teoria do trabalho imaterial, em outra
ocasião, discutim os com maiores incursões críticas a questão da pós-modernização
econômica como o processo de constituição de uma sociedade pós-industrial. Sobre a
questão, ver o artigo “Crítica à teoria do trabalho imaterial a partir da crítica à divisão
dos três paradigmas produtivos” (2010).
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127 “O capital industrial é o único modo de existência do capital em que este tem por função
não só apropriar-se da mais-valia ou do produto excedente, mas também criá-la. Por
isso, determina o caráter capitalista da produção; sua existência implica a oposição entre a
classe capitalista e a classe trabalhadora’ (id„ 2008a, p. 65 —destaques nossos).
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128 M arx considera explicitamente a agricultura como um ramo industrial que, do ponto
de vista da produção social de valor e m ercadorias, se relaciona com outros ramos
industriais-fabris: “Por outro lado, o desenvolvimento da produtividade do trabalho
num ramo de produção, por exemplo, o de ferro, de carvão, máquinas, construção etc.
(...) patenteia-se condição para que se reduza o valor e, portanto, os custos dos meios de
produção noutros ramos industriais, por exemplo, a industria têxtil ou a agricultura”
(Marx, 2008b, p. 114 - destaques do autor).
118
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129 A respeito da telegrafia, diz M arx: “uma roda-d’água é necessária para explorar a força
motriz da água; uma m áquina a vapor, para explorar a elasticidade do vapor. O que
ocorre com as forças naturais ocorre com a ciência. Um a vez descobertas, a lei do desvio
da agulha magnética no campo de ação de uma corrente elétrica ou a lei da indução
de magnetismo no ferro em torno do qual circula uma corrente elétrica já não custam
um único centavo. Mas, para a exploração dessas leis pela telegrafia etc., é preciso uma
aparelhagem muito cara e extensa” (id., 1988, p. 15).
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130 “(...) a grande indústria teve, portanto, de apoderar-se de seu meio característico de pro
dução, a própria máquina, e produzir máquinas por meio de máquinas. Só assim ela criou
sua base técnica adequada e se firmou sobre seus próprios pés” (id., 1988, p. 14).
120
V in íciu s O liveira Santos
131 “N os ramos que ainda não conquistou, a grande indústria lança massas humanas ou
cria uma sobrepopulaçáo relativa em quantidade bastante para transformar em grande
indústria o artesanato ou a pequena empresa formalmente capitalista” (id., 2004, p. 106).
Ou ainda, “a empresa mecanizada leva a divisão social do trabalho incomparavelmente
mais avante do que a manufatura, pois amplia a força produtiva dos setores de que se
apodera em grau incomparavelmente mais elevado” {id., 1988, p. 57).
132 “(...) cresce, portanto, a diversidade dos ramos sociais de produção” (id., 1988, p. 57).
133 “O terreno da produção de mercadorias só pode sustentar a produção em larga escala na
forma capitalista. (...) A contínua retransformação de mais-valia em capital apresenta-se
como grandeza crescente do capital que entra no processo de produção. Este se torna,
por sua vez, fundam ento para uma escala ampliada de produção, dos métodos que o
acompanham para a elevação da força produtiva do trabalho e produção acelerada de
mais-valia. Se, portanto, certo grau de acumulação de capital aparece como condição
do modo de produção especificamente capitalista, este último ocasiona em reação uma
acumulação acelerada do capital. Com a acumulação do capital desenvolve-se, portanto,
o m odo de produção especificamente capitalista e, com o modo de produção especifi
camente capitalista, a acumulação do capital” (ibid ., p. 186-187 —destaques nossos).
134 “O refinamento e a diversificação dos produtos brotam igualmente das novas relações
de mercado mundial, criadas pela grande indústria” (ibid., p. 76).
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135 Por composição orgânica do capital, M arx está se referindo à proporção do capital que
se divide entre constante e variável, que remete à relação entre a massa dos meios de
produção empregados e a quantidade de força de trabalho para colocá-los em movimento.
A fórmula da composição do capital seria a relação entre capital constante e capital va-
riável:(—). “Entendemos por composição do capital (...) a relação entre seu componente
ativo e passivo, entre a parte variável e a constante” {id.y 2008b, p. 194).
136 “(...) o grau de produtividade social do trabalho se expressa no volume relativo dos meios
de produção que um trabalhador, durante um tempo dado, com o mesmo dispêndio de
força de trabalho, transforma em produto” (id., 1988, p. 185).
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137 “É própria da produção capitalista a variação contínua das condições de valor oriunda
notadamente da contínua variação da produtividade do trabalho, característica da
produção capitalista” (id., 2008a, p. 83).
138 Isto é, mesmo que aumente o capital variável, o capital constante sempre aumenta em
magnitude maior.
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142 “Considerado em sua permanente conexão e constante fluxo de sua renovação, todo
processo social de produção é, portanto, ao mesmo tempo, processo de reprodução”
(id„ 1988, p. 145).
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145 “O resultado a que chegamos não é que produção, distribuição, troca e consumo são
idênticos, mas que todos eles são membros de uma totalidade, diferenças dentro de
uma unidade. A produção estende-se tanto para além de si mesma na determinação
antitética da produção como se sobrepõe aos outros momentos. E a partir dela que o
processo sempre recomeça” (Marx, 2011, p. 53).
146 Em relação à expressão “ramos industriais”, adotamos a mesma noção ampliada que
apresentamos em relação ao “capital industrial”.
147 O capital passa a aparecer, portanto, como um processo social total e deixando de ser
mero meio para a produção de mais-valia. Produz mais-valia, mas também produz e
reproduz relações sociais.
148 O ciclo é visto como um processo no qual sua continuidade é sempre um pressuposto.
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149 O trabalh o vivo tem a capacidade de conservar o valor dos objetos de trabalho;
transferir o valor dos meios de trabalho gradualmente, na m edida em que as mer
cadorias vão sendo produzidas; e produzir valor novo. “(...)pelo mero acréscimo de
novo valor conserva o valor antigo. M as como o acréscimo de novo valor ao objeto
de trabalho e a conservação dos valores antigos no produto são dois resultados to
talmente diferentes que o trabalhador alcança ao mesmo tempo, embora trabalhe
uma só vez durante esse tem po, essa dualidade do resultado só pode explicar-se,
evidentemente, pela dualidade de seu próprio trabalho. N o mesmo instante, o tra
balho, em uma condição, tem de gerar valor e em outra condição deve conservar
ou transferir valor” (M arx, 1985, p. 165).
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150 Não estamos levando em conta o tipo de produção imaterial que necessita de um re
sultado material para se expressar enquanto objeto útil, como a produção artística. E
sabido que tal produção se expressa sob a forma de quadros, partituras, esculturas etc.,
elementos materiais necessários para o consumo dos respectivos valores de uso.
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151 “A compra e venda de escravos é também, na sua forma, compra e venda de mercadorias.
M as, se não existe a escravatura, o dinheiro não pode desempenhar essa função. Se a
escravatura existe, o dinheiro pode ser empregado na aquisição de escravos. Recipro
camente, o dinheiro nas mãos do comprador não basta para possibilitar a escravatura”
(Marx, 2008a, p. 46). D o mesmo modo, no capitalismo, ao contrário da escravatura,
o que é mercadoria é a força de trabalho, e não o indivíduo, M arx afirma: “na relação
entre capitalista e assalariado, a relação monetária passa a ser relação entre comprador e
vendedor, relação imanente à própria produção. Esta relação repousa fundamentalmente
sobre o caráter social da produção e não sobre o modo de troca\ este decorre daquele”
(ibid ., p. 130 - destaques nossos)
137
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152 “Produzem-se aqui valores de uso somente porque e na m edida em que sejam substrato
material, portadores do valor de troca. E, para nosso capitalista, trata-se de duas coisas.
Primeiro, ele quer produzir um valor de uso que tenha um valor de troca, um artigo
destinado à venda, uma mercadoria. Segundo, ele quer produzir uma mercadoria cujo
valor seja mais alto que a soma dos valores das mercadorias exigidas para produzi-la, os
meios de produção e a força de trabalho, para as quais adiantou seu bom dinheiro no
mercado” (Marx, 1985, p. 155).
153 “O processo de trabalho, em seu decurso enquanto processo de consumo da força de
trabalho pelo capitalista, mostra dois fenômenos peculiares. O trabalhador trabalha
sob o controle do capitalista a quem pertence seu trabalho. O capitalista cuida de que o
trabalho se realize em ordem e os meios de produção sejam empregados conforme seus
fins, portanto, que não seja desperdiçada matéria-prima e que o instrumento de trabalho
seja preservado, isto é, só seja destruído na medida em que seu uso no trabalho o exija.
Segundo, porém: o produto é propriedade do capitalista, e não do produtor direto, do
trabalhador. O capitalista paga, por exemplo, o valor de um dia da força de trabalho.
(...) O processo de trabalho é um processo entre coisas que o capitalista comprou, entre
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coisas que lhe pertencem. O produto desse processo lhe pertence de modo inteiramente
igual ao produto do processo de fermentação em sua adega” (Marx, 1985, p. 154).
154 Aqui, partilhamos dos avanços feitos por Rubin (1987), nos quais a análise da teoria do valor-
trabalho de Marx vai além dos aspectos quantitativos, e o valor é visto como uma forma.
155 “O capital, como valor que acresce, implica relações de classe, determinado caráter
social que se baseia na existência do trabalho como trabalho assalariado. Mas, além
disso, é movimento, processo com diferentes estágios (...). Só pode ser apreendido como
movimento, e não como algo estático” (Marx, 2008a, p. 119-120).
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'* “(•••) a interpretação marxista tradicional —de Hilferdíng, Sweezy e outros —não pode
ser correta. Inadvertidamente, esses autores não seguem seu mestre Marx, mas, sim,
Ricardo, a quem criticou” (Rosdolsky, 2001, p. 77).
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157 “Para mim, não são sujeitos nem o valor, nem o valor de troca, mas é somente a merca
doria’ (Marx, 1977, p. 171).
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158 “O tempo de circulação do capital constitui parte de seu tempo de reprodução” (id.,
2008a, p. 147).
159 “Quando se compra o trabalho para consumi-lo como valor de uso, como serviço, não
para colocar como fator vivo no lugar do valor do capital variável e incorporá-lo no
processo capitalista de produção, o trabalho não é produtivo, e o trabalhador assalariado
não é trabalhador produtivo” {id., 2004, p. 111).
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trabalho que foi pago para produzir determ inada utilidade que
não possui m ais-valia. M esm o assim , é tendência do m odo de
produção capitalista generalizar o regime de trabalho assalariado
para os trabalhadores improdutivos dos serviços.160 Serviço é um
termo usado por M arx para se referir ao trabalho comprado por
causa de seu valor de uso, e, consequentemente, ao “trabalhador
que apenas troca os seus serviços (quer dizer, o seu trabalho en
quanto valor de uso) por dinheiro” (M arx, 2 0 0 4 , p. 112). C o m
essa afirmação não queremos proferir que o trabalho inserido no que
hoje é largamente chamado “setor de serviços” é improdutivo segundo a
ótica m arxiana. E necessário distinguir, de um lado, o sentido que
M arx dá ao termo e, de outro, seus usos contemporâneos. H oje os
serviços são definidos como bens intangíveis vendidos no mercado,
conforme indica o M an u al on Statistics o f International Trade in
Services (O N U , 2010). A conceituação m arxiana concorda que o
trabalho inserido nesta área da produção executa função produtiva
de capital, m as não o cham a de serviço. “(...) um serviço é nada
mais que o efeito útil de um valor de uso, seja da mercadoria, seja
do trabalho” (M arx, 1985, p. 159).161
D eterm inados trabalhos im produtivos com resultados ima-
teriais, apesar de não gerararem sobretrabalho, exercem funções
necessárias ao capital. O trabalho executado na venda pura das
mercadorias é um a dessas atividades. Analisando a venda enquan
to m udança de form a do valor, processo no qual o valor salta de
capital-m ercadoria a capital-dinheiro, esse tipo de trabalho não
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162 “Este trabalho acrescido pelas intenções maliciosas das duas partes náo cria valor (do
mesmo modo que o trabalho empregado num processo judicial não aumenta a magnitude
do valor do objeto em litígio)” (id., 2008a, p. 148).
que fa z outros trabalharem para ele, compra e venda constituem função
163 “Para o capitalista,
fundam entar {ibid., p. 148 - destaques nossos).
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164 Aqui, Marx faz referência aos custos da circulação “pura”, que diz respeito apenas à mu
dança de forma do valor (M - D), a venda simples de mercadorias. H á dispêndio de força
de trabalho e gastos que o comerciante precisa arcar, mas não há criação de valor novo.
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165 Segundo M arx, até certo ponto, “(•••) a conservação e a distribuição das mercadorias
em forma adequada ao consumo podem ser consideradas processos de produção que se
prolongam no processo de circulação” (id„ 2008c, p. 361).
166 y er Paclilha e Congílio (2010): “Reestruturação produtiva: repercussões na qualificação
e formação profissional do trabalhador dos supermercados”.
167 Ver Riegel (2010): “O trabalho dentro da loja de M cDonald),: regimes de visibilidade
que revelam a imaterialidade da produção”.
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CONSIDERAÇÕES FINAIS
168 “A ampliação das formas de trabalho imaterial torna-se, portanto, outra tendência do
sistema de produção contemporâneo” (Antunes, 2007, p. 126).
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169 “Valor, abstraindo sua representação puramente simbólica no signo de valor, existe
apenas num valor de uso, numa coisa. (...) Portanto, se o valor de uso se perde, perde-se
também o valor” (Marx, 1985, p. 167).
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criatividade, conhecimento. Além disso, o consumo desse resultado útil se dá, por assim
dizer, imaterialmente.
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122 As críticas dos teóricos do trabalho imaterial mencionados neste trabalho podem ser
enquadradas na seguinte formulação de Coutinho: “a atitude de impugnar a atualidade
da economia m arxiana porque ‘o capitalismo mudou’, na verdade, faz pouco de uma
obra que, por se pretender uma teoria geral do capitalismo, calcada em noções tão gerais
como mercadoria, dinheiro e capital, possui um status supracircunstancial. Se um dos
propósitos do sistema de Marx é o de explicar as mudanças econômicas, vai implícita a
aptidão para descrever as transformações no capitalismo” (2000, p. 257).
173 N a frase a que nos referimos, em vez de diferenças exteriores, Gramsci indicava “semelhanças
exteriores”: “Porque é muito fácil se deixar levar pelas semelhanças exteriores e não ver as
semelhanças ocultas e os nexos necessários, mas camuflados” (Gramsci, 2007, p. 33).
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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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