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Resenha - A Natureza Do Espaço
Resenha - A Natureza Do Espaço
A obra é produzida pela necessidade da contribuição da geografia à uma teoria social, que se
destaca pelo papel da técnica na relação da produção e do estudo sobre o espaço, onde o autor
destaca que a principal forma de relação entre o homem e o meio, é dada pela técnica. A partir
de então, o primeiro capítulo discorre sobre todo um inventário realizado sobre os estudos
desenvolvidos sobre a técnica como parte integrante do território. São utilizados os conceitos e
estudos desenvolvidos por diversos pesquisadores, dentre eles historiadores e geógrafos, que, de
início, não atribuem o devido valor a técnica na produção e no estudo do espaço.
A obra é dividida em quatro partes, cuja primeira se debruça, prioritariamente ao conceito do
espaço e os objetos que delem fazem parte, compreendendo-o como um sistema de ações e
objetos influenciados pelas técnicas. Na segunda parte o autor discorre sobre as partes e o todo
que compõem o espaço, discorrendo sobre o conceito de totalidade, além da divisão
internacional do trabalho que influencia diretamente na produção do espaço. A terceira parte o
autor relata sobre os sistemas técnicos, a unicidade técnica, o tempo na produção do espaço e os
objetos e ações que influenciam na produção desse espaço. A quarta e última parte é focada
apenas no conceito de lugar relacionado ao cotidiano, assim como a influência do processo de
globalização na produção do espaço.
O autor aproxima tal ideia ao conceito utilizado por Simondon sobre a naturalização do objeto
concreto, ou seja, “sua completa imisção no meio que o acolheu, o que ele chama de processo
de adaptação-concretização” (p. 41)
A técnica como espaço e como geografia, “[...] a técnica é também geografia. Se esta não se
alçou às condições de considerar a técnica como um dado explicativo maior, podemos, no
entanto, dizer que técnica é, também, necessariamente espaço”. (p.47)
“Toda situação é uma construção real que admite uma construção lógica, cujo entendimento
passa pela história da sua produção. O recurso à técnica deve permitir identificar e classificar os
elementos que constroem tais situações”. (p.48)
O espaço formado por objetos técnicos. “O espaço do trabalho contém técnicas que nele
permanecem como autorizações para fazer isto ou aquilo, desta ou daquela forma, neste ou
naquele ritmo, segundo esta ou outra sucessão”. (p.55)
O autor procura conceituar o espaço geográfico, construído por uma junção de fixos e fluxos,
onde os “elementos fixos fixados em cada lugar, permitem ações que modificam o próprio
lugar, fluxos novos ou renovados que recriam as condições ambientais e as condições sociais, e
redefinem cada lugar”. (p.61)
Defende que o espaço é formado por “um conjunto indissociável, solidário e também
contraditório, de sistemas de objetos e sistemas de ações, não considerados isoladamente, mas
como o quadro único no qual a história se dá”. (p.63)
O sistema de objetos e ações interagem, uma vez que os primeiros condicionam a forma como
ocorrem as ações, e o segundo leva a criação de novos objetos ou se realiza sobre objetos
preexistentes. Parafraseando Marx, “teríamos um sistema de objetos sinônimo de um conjunto
de forças produtivas e um sistema de ações que nos dariam um conjunto das relações sociais de
produção”. (p.63)
Questiona-se sobre a existência de um objeto geográfico, que seria todos os objetos existentes
na superfície terrestre, sendo obrigatoriamente contínuos. “O enfoque geográfico supõe a
existência dos objetos como sistemas e não apenas como coleções: sua utilidade atual, passada,
ou futura vem, exatamente, do seu uso combinado pelos grupos humanos que os criaram ou que
os herdaram das gerações anteriores”. (p.73)
Homens como seres de ação, “ a ação é um processo, mas um processo dotado de propósito e no
qual um agente, mudando alguma coisa, muda a si mesmo”.(p.78) A partir do momento que o
homem pratica uma ação, mudando a natureza, ele muda a si mesmo.
Ação humana não exclusivamente como ação racional, que de acorodo com Weber, se dividem
em quatro formas básicas: ações racionais por via do instrumento, racionais pelo valor,
tradicionais e efetivas. (p.81)
Hottois (1994, p.79) distingue as ações entre ações técnicas e ações simbólicas, servindo as
primeiras como transformação à natureza e as últimas se fazem sobre o ser humano.
A ação é o próprio homem e só pode ser realizada pelo mesmo, uma vez que só ele possui
objetivo, finalidade. Resultam das necessidades, sejam elas naturais ou criadas. “Essas
necessidades: materiais, imateriais, econômicas, sociais, culturais, morais, afetivas, é que
conduzem os homens a agir e levam a funções”. (p.82)
A geografia como ciência da ação, sendo a teoria geográfica assim definida por Werlen (1993),
a geografia não deve ser considerada como uma ciência do espaço, mas como uma ciência da
ação; a ação subjetiva deve ser destacada numa pesquisa geográfica; a dimensão espacial deve
ser considerada, mas ela não é causa dos eventos, nem da ação.
Capítulo 3- O espaço geográfico, um híbrido
Pela relação sujeito-objeto e, por não ser qualquer objeto, e sim um sujeito que se relaciona com
o seu entorno, o homem é definido por sua intencionalidade. (p.92)
Ação e objeto são inseparáveis. A geografia os analisa em conjunto. “Ação é tanto mais eficaz
quanto os objetos são mais adequados [...]A intencionalidade da ação se conjuga a
intencionalidade dos objetos e ambas são, hoje, dependentes da respectiva carga de ciência e de
técnica presente no território”. (p.94)
Sociedade como continente e conteúdo dos objetos, que ganham significado quando estão a
serviço da sociedade. Assim, “os objetos são duplamente mediadores, porque se colocam entre o
homem e a sociedade e entre o homem e sua situação material”. (p.98)
“Todo e qualquer período histórico se afirma com um elenco correspondente de técnicas que o
caracterizam e com uma família correspondente de objetos. Ao longo do tempo, um novo
sistema de objetos responde ao surgimento de cada novo sistema de técnicas. Em cada período,
há, também, um novo arranjo de objetos”. (p.96)
“Todo sistema e toda estrutura devem ser abordadas como realidades mistas e contraditórias de
objetos e de relações que não podem existir separadamente”. (p.102) Compreendendo-se os
mistos como uma junção de objetos e normas.
Para que um evento se realize, é necessário encaixar-se a forma disponível de maneira que
realizem as funções de que é portador, ao ponto que a forma-conteúdo não seja apenas forma ou
apenas conteúdo, uma vez que “um não pode ser entendido sem o outro, e, de fato, um não
existe sem o outro. Não há como vê-los separadamente”. (p. 103)
Utiliza-se o termo paisagem como sinônimo de configuração territorial, porém, este último é “o
conjunto de elementos naturais e artificiais que fisicamente caracterizam uma área. A rigor, a
paisagem é apenas a porção da configuração territorial que é possível abarcar com a visão”.
(p.103)
“A paisagem é história congelada, mas participa da história viva. São as suas formas que
realizam, no espaço, as funções sociais”. (p.107)
Capítulo 4- O espaço e a noção de totalidade
Todas as coisas formam uma unidade e estão inseridas numa totalidade, sendo as partes
explicadas por esta última. “A totalidade é a realidade em sua integridade [...] a realidade é a
totalidade dos estados de coisas existentes, a totalidade das situações. A totalidade é o conjunto
de todas as coisas e de todos os homens, em sua realidade, isto é, em suas relações, e em seu
movimento”. (p.117)
[...] as condições, as circunstâncias, o meio histórico, que é também meio geográfico, devem
paralelamente ser considerados, pois “não podem ser reduzidos à lógica universal”. P.125
Capítulo 5- Da diversidade da natureza à divisão territorial do trabalho
Os países se distinguem pela tipologia dos instrumentos financeiros, criando uma hierarquia
entre os lugares, “segundo sua distribuição espacial, redefine a capacidade de agir das pessoas,
firmas e instituições”. (p.135)
Lugar como depositário final do evento que, por sua vez, são todos, Presente. Não se repetem.
“São simultaneamente, a matriz do tempo e do espaço”. (p.145)
Diferença entre eventos naturais e eventos sociais ou históricos. “Os primeiros resultam do
próprio movimento da natureza, isto é, da manifestação diversificada da energia natural. [...] os
eventos sociais resultam da ação humana, da interação entre s homens, dos seus efeitos sobre os
dados naturais”. (p.147)
Evento como sinônimo de ação, uma vez que os eventos históricos supõem ações humanas.
Os eventos não são presentes instantâneos e não acontecem isoladamente, mas em conjuntos
sistêmicos, “que são cada vez mais objetos de organização: na sua instalação, no seu
funcionamento e no respectivo controle e regulação”. (p.149)
Existem diversas forças que atuam simultaneamente e são capazes de produzir eventos que
incidam no mesmo momento, sobre áreas extensas. “A primeira delas é o Estado, pelo seu “uso
legítimo da força”, encarnado ou não no direito. [...] As autoridades “intermediárias”
(províncias, regiões, áreas metropolitanas) exercem seu papel de produtoras “oficiais” de
eventos, mas sobre superfícies menores que o território nacional”. (p.152)
“A ideia de tempo é inseparável da ideia dos objetos e de seu valor”. (p.158) Os objetos
coexistem através dos eventos, e é o instante que valoriza de maneira diferente cada objeto.
“Se o evento esgota as suas próprias possibilidades, jamais ele esgota ou utiliza todas as
possibilidades oferecidas pelo mundo. O evento se inscreve se inscreve na totalidade
característica de um determinado momento, mas o faz como uma parte do todo”. (p.160)
Uma técnica nunca aparece só e jamais funciona isoladamente: “a vida das técnicas é sistêmica
e sua evolução também o é. Conjuntos de técnicas aparecem emum dado momento, mantêm-se
como hegemônicos durante um certo período, constituindo a base material da vida da sociedade,
até que outro sistema de técnicas tome o lugar”. (p. 176)
A rapidez da difusão do sistema atual, especialmente comparado aos sistemas anteriores, é o que
diferencia o primeiro desses últimos. “As inovações técnicas introduzidas nos vinte anos após a
segunda guerra mundial se espalharam duas vezes mais rapidamente do que aquelas
introduzidas depois da primeira guerra mundial e três vezes mais do que as introduzidas entre
1890 e 1919”. (p.178)
“Se os atuais sistemas técnicos são invasores, sua capacidade de invasão tem limites. Esses
limites são dados peladivisão do trabalho e pelas condições de criação de densidade. Quanto
mais forte, numa área, é a divisão do trabalho, tanto mais há tendência para que esses sistemas
técnicos hegemônicos se instalem”.(p.179)
Defende-se a ideia de unicidade técnica, “pelo fato de que os sistemas técnicos hegemônicos são
cada vez mais integrados, formando conjuntos de instrumentos que operam de forma conexa”.
(p.194)
“A grande distinção entre o hoje e o ontem é que antes os objetos eram poucos numerosos,
viviam em comunhão conosco e nos eram subordinados”. (p.214)
Correlata a diferença entre objetos científicos e objetos técnicos, “o objeto é científico graças à
natureza de sua concepção, é técnico por sua estrutura interna, é científico-técnico porque sua
produção e funcionamento não separam técnica e ciência”. (p.215) Pode ser também
informacional por produzir trabalho específico.
“Objetos criados deliberadamente e com intenção mercantil são movidos por uma informação
concebida cientificamente, através de um sistema de ações subordinado a uma mais-valia
mundial. Outros objetos têm, como motor, sistema de ações menos informadas e demandas
menos exigentes de mais-valia”. (p.216)
Sobre as relações entre a sociedade e natureza, “em todos os lugares habitados, a da substituição
de um meio natural, dado a uma determinada sociedade, por meio cada vez mais artificializado,
isto é, sucessivamente instrumentalizado por essa mesma sociedade”. (p.233)
A história do meio geográfico está dividida em três etapas: “o meio natural, o meio técnico, o
meio técnico- científico- informacional”. (p.234)
No contexto do período técnico há uma emergência do espaço mecanizado onde, “os objetos
que formam o meio não são, apenas, objetos culturais; eles são culturais e técnicos, ao mesmo
tempo”. (p.236)
A rede se define não só por suas definições como pelas suas conceituações. É, também, social e
política. “Em suas relações com o território, as redes podem ser examinadas segundo um
enfoque genético e segundo um enfoque atual. No primeiro caso são vistas como um processo e
no segundo como um dado da realidade atual”. (p.263)
As mudanças nas redes de cada localização acabam ocasionando o que se denomina como
guerra dos lugares, “na batalha para permanecer atrativos, os lugares se utilizam de recursos
materiais (como as estruturas e equipamentos), imateriais (como os serviços). E cada lugar
busca realçar suas virtudes por meio dos seus símbolos herdados ou recentemente elaborados,
de modo a utilizar a imagem do lugar como ímã”. (p.269)
Capítulo 12- Horizontalidades e Verticalidades
No estudo do espaço e seus segmentos, podemos observar dois recortes que são denominados
como horizontalidades e verticalidades. “De um lado, há extensões formadas de pontos que se
agregam sem descontinuidade, como na definição tradicional de região. São as horizontalidades.
De outro lado, há pontos no espaço que, separados uns dos outros, asseguram o funcionamento
global da sociedade e da economia. São as verticalidades’. (p.284)
Capítulo 13- Os espaços da racionalidade
Os espaços de racionalidade, por assim dizer, “funcionam como um mecanismo regulado, onde
cada peça convoca as demais a se pôr em movimento, a partir de um comando centralizado”. O
autor afirma ainda que essa é a lógica da natureza artificializada “em sua busca pela imitação e
superação da natureza natural”. (p.301)
Capítulo 14- O lugar e o cotidiano