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O autor introduz seu texto demonstrando que uma abordagem teórica, como a que
ele pretende fazer, deve se pautar em aspectos práticos e que sejam nada mais do
que a construção histórica de fatos (sobretudo, das relações humanas/sociais) que
levaram o objeto de estudo da teoria crítica ao que ele é hoje, ouseja, que todo
processo historicamente construído deve ser analisado com suas peculiaridades,
não somente a realidade como um todo. Isso também se encaixa às Relações
Internacionais, que, segundo o autor, é uma área de estudo que envolve atores
estatais e não-estatais em constantes relações que, por sua vez, definirão a paz e
a guerra, em dados momentos. Cox também informa que a Teoria de Relações
Internacionais atual, ao contrário da tradicional, não mais separa a sociedade civil
do Estado em esferas distintas, as quais são fatores imprescindíveis para entender
o campo das RI. Porém, os conceitos abordados nessas duas esferas são
puramente analíticos e muito vagamente e imprecisamente indicativos de distintas
esferas de atividade. Nisso, infoma ainda, que um grupo liderado por Immanuel
Wallerstein e inspirado por Braudel propôs uma teoria dos sistemas-mundo
definida essencialmente em termos de relações sociais – a qual Cox passa a
analisar com foco nas relações de mudança de exploração entre um centro
desenvolvido e uma periferia subdesenvolvida, para a qual correspondem
diferentes formas de controle do trabalho.
Apesar da ênfase nesse sistema-mundo, Cox informa que tal teoria tem sido
criticada por duas razões: (i) sua tendência de subvalorizar o Estado, considerado-
o como meramente derivado de suaposição no sistema mundial; e (ii) sua alegada
preferência na preservação do sistema.
E com os eventos da década de 1970 (“fluidez e poder”), a teoria crítica teve uma
grande oportunidade para se introduzir nos debates. Feito isso, o autor, nas
seções Realismo, Marxismo e uma abordagem para uma teoria crítica da ordem
mundial, informa sobre a transformação do realismo para o neorrealismo e de
como este último se tornou uma teoria de resolver problema. Tal foto só foi
possível graças ao fato de que o neorrealismo procurou fornecer uma visão
naturalizada da realidade pela: natureza humana, natureza dos Estados e natureza
do sistema de Estado (balança de poder). Com isso, os neorrealistas não se
utilizam da História para fornecer alternativas, e sim meios para perpetuar a ordem
mundial (o anarquismo do sistema internacional), como visto também no debate
neo-neo. Já para o Marxismo, Cox visualiza perspectivas melhores para a teoria
crítica.
Para Cox, o marxismo estrutural está mais próximo do neorrealismo (como teoria
de resolver problema) por que compartilha algumas características como sua “não-
história” e epistemologia essencial que não levam a uma aplicabilidade prática
para problemas concretos. Já o primeiro (materialismo histórico), o autor informa
que é uma fonte melhor de teoria crítica e que ele corrige o neorrealismo em
quatro pontos específicos: i) dialético: vê no conflito o processo de uma refilmagem
contínua da natureza humana e a criação de novas maneiras de relações sociais
que mudam as regras do jogos; ii) foca o imperialismo: cuja dimensão é a
dominação e subordinação da metrópole sobre a colônia – centro sobre a periferia
– em uma economia política mundial; iii) relação entre Estado e sociedade civil:
que, de uma perspectiva gramsciana, considera sociedades e Estados complexos
como entidades constituídas de uma ordem mundial; e iv) materialismo histórico:
examina as relações entre poder na produção, no Estado e nas RI.
Feito isso, é possível vislumbrar algumas premissas para tal teoria crítica:
1. Ela começa com uma apreciação histórica da experiência humana (estrura) que
dá origem à necessidade de uma teoria;
2. Está consciente da sua própria relatividade e torna-se menos do que a
resolução de problemas relativos;
3. Na mudança de longa duração do quadro de ação, busca compreender essa
mudança;
4. Esse quadro tem a forma de uma estrutura histórica, uma combinação
específica de pensamento, material condicional humano e instituições. Essas
estruturas não determinam ações do povo, mas o contexto de hábito, expectativas
e constrangimentos dentro do qual se realiza a ação; e
5. O quadro ou estrutura dentro do(a) qual se realiza a ação é para ser visto(a) a
partir do exterior em termos de conflitos que surgem dentro dele, e abrir a
possibilidade da sua transformação.
Na penúltima parte (a última, Notas, como já falado, não será tratada nesta
resenha), Forças sociais, estruturas do Estado e perspectivas da ordem mundial, o
autor apresenta as forças sociais como fatores sinequa non para a concepção de
uma mudança na ordem mundial. Para isso, segundo ele, é preciso pensar no
futuro sob o ponto de vista de uma teoria crítica. Eis alguns desses pontos de
partida para a indagação crítica:
Tendo em vista essas perspectivas, a solução apresentada por Cox para que essa
mudança na ordem mundial seja alcançada dependerá mais da atuação dos
países periféricos do que dos centrais, uma vez que os últimos constituem a
hegemonia, a qual é sustentada por instituições e políticas comuns. Seguindo esse
raciocínio de Cox, creio que essa mudança só será possível via ação social (das
sociedades civis) e não de instituições internacionais. Logo, não estaria nas
relações sociais internacionais, mas sim nas relações sociais nacionais a chave
para compreender o processo histórico que levou a realidade a se constituir como
ela é (estrutura) e, por conseguinte, modificá-la. Uma visão parecida com a de
Marx, apesar do caráter internacionalista do comunismo.