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Na "HISTÓRIA SECRETA DO BRASIL", propõe o Sr.

Gustavo Barroso desprender


da complexidade das forças que trabalharam na preparação dos acontecimentos
políticos do BrasiL aquela que lhe parece predominante, senão decisiva, e, portanto,
suficiente para nos dar, desses fatos, uma perfeita compreensão. E uma sondagem
profunda a que procede, a procura da verdade histórica ou melhor da "história
subterrânea dos acontecimentos". Terá o ilustre escritor encontrado o fio da meada?
Terá o mergulhador conseguido trazer suas sondagens, a pérola da verdade história
ou uma parcela da verdade? Nos dramas, representados por personagens conhecidos,
nos largos cenários das agitações públicas, ou nos palcos dos teatros políticos, terá
seu olhar penetrado os bastidores? A todas essas perguntas que se reduzem, afinal, a
uma só, responderão os seus leitores, que serão muitos e os seus críticos que serão
bastante competentes para julgar da imparcialidade, segurança e penetração do
historiador brasileiro.
É certo que, como diz Disraeli, citado pelo próprio autor, "o mundo é governado
por personagens muito diferentes dos que imaginam os indivíduos cujo olhar não
penetra os bastidores". Mas, quantas vezes esses "personagens diferentes" longe de
serem "causa", não passam de "instrumentos" das forças reais e profundas que
governam os acontecimentos políticos? E quantas vezes, dada a com plexidade dos
fenômenos sociais, e, daí a dificuldade de ver claro, o que se aponta como bastidores
reais, não é mais do que a armadura de cenários fabricada pela parcialidade ou
erguida pela imaginação? Em todo caso, este livro que representa um grande esforço
de pesquisa, é realmente digno de exame e de reflexão, pela documentação
abundante que nele se recolheu; e das discussões e divergências que suscitar a sua
leitura, poderá saltar um pouco de luz sobre as "zonas de mistério" de nossa história.

A presente é a 1ª de uma série de 6 (seis) volumes que compõe a obra


completa da HISTÓRIA SECRETA DO BRASIL.

O CONCEITO DA HISTÓRIA

A história não é propriamente urna ciência; é antes uma arte. Muitos espíritos
avançados do século XIX se esforçaram para dar à história esse conceito científico.
Havia a mais generalizada do cientificismo. Seus esforços, porém, como que se
anularam ante a concepção atual da história. O espírito do século XX é outro e não
admite mais esses exageros do cientificismo generalizado, querendo impor a todos os
departamentos e categorias do pensamento humano seus canones empíricos ou
pragmáticos.
A investigação dos fatos, a fixação das datas, a interpretação das dúvidas, o
confronto e a análise dos documentos, devem certamente obedecer a princípios
rigorosamente científicos. Mas a narração dos acontecimentos e sua fixação precisa
no tempo e no espaço, não são a verdadeira história, não formam completamente a
história. Além disso, há coisa mais importante, substancial, a projeção dos homens e
dos acontecimentos no espelho das épocas, como as idéias de cada século, seu
espírito, seu gênio próprio. São as mudanças dos aspectos intelectuais do mundo que
transformam os critérios dos homens.
Para que a história deixe de ser uma cronologia seca, um rol de fórmulas
mnemônicas, é necessário iluminá-la com o esplendor solar das idéias, com a luz
maravilhoda da vida espiritual. Assim, a história se reflete melhor na obra dos
pensadores, escritores, poetas, dramaturgos e críticos do que na enumeração dos
governantes, na série das batalhas ou nos salões dos congressos diplomáticos. Por
isso, em geral, o que se aprende na história são movimentos dos corpos sociais,
ignorando-se a ação e a vida das almas sociais, das almas dos povos. A verdadeira
história seria a revelação da vida espiritual dos homens.
"A história é obra representativa - escreve um mestre- e, portanto, deve ser
uma obra de arte. Não nego os méritos da investigação científica no campo da
história. Sobre essa investigação se identificaram os mais belos monumentos da arte,
no gênero mais difícil entre os gêneros literários. Entre a obra de arte histórica e a
investigação que lhe serve de base, há a mesma diferença que entre a anatomia e a
escultura estatuária. O escultor precisa conhecer a fundo, cientificamente, a anatomia
do corpo humano; entretanto, isso não é o bastante para que sua obra seja
considerada científica. Nas formas humanas representadas no mármore, revela-se um
espírito, na emoção e nos sentimentos expressos pelas atitudes e gestos da estátua".
Esta página do magnífico livro "La Guerre Occult de Emanuel Malynski e Léon
de Poncins termina com essas palavras profundas, que resumem a história da
humanidade nos últimos tempos; "Ainda se tem em vista toda a hierarquia humana,
quando o mundo começa a se afastar de Cristo, no Renascimento. Ainda se têm em
vista os Príncipes e os Reis, quando se afasta do Papa e do Imperador, na reforma.
Ainda se têm em vista a burguesia quando se tiram a nobreza Reis e Príncipes, que
são os seus pontos culminantes, na Revolução Francesa. Ainda se têm em vista o
Povo, quando se ultrapassa o plano da Burguesia de 1848 à 1917. E não se têm mais
em vista senão a borra social guiada pelo judeu, quando se vai além das massas em
1917".
Todo esse plano, em todas as nações, foi cuidadosamente elaborado e
lentamente executado pelo judaísmo, raramente descoberto e sempre embuçado nas
sociedades secretas. Judaísmo e maçonarias criaram um meio social propício à guerra
do que está embaixo contra o que se acha em cima, desmoralizando e materializando
a humanidade pelo capitalismo mamônico, dividindo-a e enfraquecendo intimamente
pela democracia, separando-a e tornando-a agressiva pelo exagero dos
nacionalismos, dissolvendo-a e descaracterizando-a pelo cosmopolitismo,
encolerizando-a pelas crises econômicas e enlouquecendo-a com o comunismo.
Conhecendo isso, é que se pode dar seu verdadeiro caráter aos acontecimentos
históricos e mostrar a verdadeira fisionomia das revoluções.
Até hoje se têm escrito histórias políticas do Brasil. Empreendo, neste ensaio, a
história da ação deletéria e dissolvente dessas forças ocultas. Até hoje se escreveu a
história do que se via a olho nu, sem esforço. Esta será a história daquilo que
somente se descobre com certos instrumentos de ótica e não pequeno esforço. É a
primeira tentativa no gênero e, oxalá possa servir de ensinamento à gente moça, a
quem pertence o futuro.

GUSTAVO BARROSO

“Há duas histórias, a oficial, mentirosa, Ad Usum Delphini, e a secreta, em que


estão as verdadeiras causas dos acontecimentos, história vergonhosa”.
(Balzac, Les Illusions Perdues – t.III)
CAPÍTULO I

O Monopólio do Pau-de-Tinta

Amanhecera o dia 25 de setembro do ano da graça de 1498 e o que ia


acontecer teria repercussão mais tarde nos destinos do Brasil, que ainda não fora
descoberto. A armada portuguesa de Vasco da Gama ancorara diante da costa baixa e
emoldurada de palmeiras da ilha de Anchediva, a doze léguas de Goa. Das longas
vergas e das inclinadas antenas das naus se desdobravam, secando lenta mente ao
sol matutino, as lonas das velas em que a salsugem dos mares nunca dantes
navegados esmaecera a cor vermelha das cruzes da Ordem de Cristo.
Sobre o castelo de popa, lavrado de douraduras e eriçado de falconetes1 de
bronze, fundidos nos arsenais de Gênova, o almirante conversava com os capitães,
olhando a faina de limpeza a que se procedia em alguns navios. No seu, a capitânea
"S. Gabriel", contra-mestre e maruja preparavam as espias que deviam puxá-lo até a
praia lisa onde morriam, sorrindo em espumas, as ondas do Oceano Indico, a fim de
ser raspada a carena crostada de mariscos e algas na longa travessia dos mares
tenebrosos.
O vigia do "S. Gabriel" assinalou um barco ao longe que se aproximou, arfando
sobre a toalha azul das águas debaixo da concha muito azul do céu. Era um parau
que vinha de Goa, tangido pela sua vela pardusca de esteira. Encostou a nau. Um
homem galgou o portaló e saltou no convés. Vestia-se de maneira hindu: mundaçó à
cabeça, terçado à cinta, brincos nas orelhas. O nariz adunco se encurvava para os
beiços úmidos e sensuais.
Queria falar ao almirante a quem abraçou, como se usa no Oriente, com
expansões. Curvando-se em salamaleques, disse em péssimo italiano que era cristão
levantisco, viera muito criança para as terras do mouro Sabayo, senhor da ilha e da
cidade de Gôa. Enquanto falava, seus olhos, miúdos e vivos, como os de um
camundongo, espreitavam todo o navio, detendo-se, sobretudo, na artilharia, como a
computar-lhe o número de peças e a força de cada uma.

Vasco da Gama sorria na sua barba açoitada pelo vento. De repente:

- Mestre!

Um português moreno e seminu, de farta bigodeira, de braços peludos e atléticos,


levantou a cabeça dentre us marujos que desenrolavam os cabos de cânhamo. E o
almirante deu-lhe esta ordem:

- Amarre este espião ao mastro e meta-lhe o calabrote!

Num abrir e fechar de olhos, o levantino estava nu da cintura para cima, amarrado ao
mastro grande, e um chicote de cabo alcatroado cantava-lhe nas carnes que se
tingiam de sangue.

- Eu digo toda a verdade! uivou o supliciado na sua algaravia.

Os açoites pararam, o almirante aproximou-se e o homem disse a verdade: não era


cristão nem levantisco; era judeu e natural da Polônia. Os azares de sua vida
aventureira e errante haviam-no trazido à índia. O Sabayo mandara-o como espião,

1
Pequenas peças de artilharia.
mas preferia servir aos portugueses. A armada do Sabayo era grande e poderosa,
bem tripulada de rumens2 e bem provida de canhões venezianos...

No dia 26 de setembro, a frota aos Lusíadas fazia-se de vela para Portugal e levava a
bordo o astuto e inescrupuloso judeu polaco, "por ser de grande experiência e muito
conhecedor das coisas da índia, o qual foi, mais tarde, batizado e recebeu o nome de
Gaspar da Gama, sendo vulgarmente conhecido por Gaspar das índias. Este judeu
conversava muitas vezes com El Rei D. Manuel, que folgava de lhe ouvir falar sobre
as coisas da índia, e lhe fez muitas dádivas e mercês. A Vasco da Gama e outros
almirantes portugueses, Gaspar das índias prestou inestimáveis serviços3”.

Dois anos depois, vestida de luto, como era de praxe na época, quando as
armadas iam em busca de terras desconhecidas, a corte manuelina assistia do eirado
da torre de Belém a partida dos navios de Pedro Alvares Cabral. O judeu Gaspar
embarcara na nau do capitão-mor como língua e conselheiro, hoje diríamos intérprete
e técnico, em coisas e negócios das índias. Seus olhos vivos e espertos, olhos de rato
fugido dos ghetos da Polônia, viram o nosso Brasil no primeiro dia de seu amanhecer.
Ao lado de Pedro Alvares Cabral, "de quem não se apartava", avistou o vulto azul do
Monte Pascoal nos longes do horizonte, contemplou a terra virgem e dadivosa, a
indiada nua e emplumada de cocares, assistiu a primeira missa celebrada por frei
Henrique de Coimbra e ouviu a leitura da carta de Pero Vaz de Caminha.
O judeu Gaspar da Gama fez toda a viagem de PedroÁl vares Cabral:
Moçambique, Melinde, Cananor, Calecut, Cochim; tornou às índias em 1502 e 1505
com seu padrinho, Vasco da Gama. Na última dessas expedições, encontramo-lo com
o nome de Gaspar de Almeida, "por amor de Viso-Rei, de quem era estimadíssimo",
declara um panegirista dos judeus4. Por adulação e baixeza, afirmamos diante dos
fatos. Batizado por Vasco da Gama, o israelita tomou, de acordo com o costume em
má hora instituído por D. Manuel e que estragou, na judiaria, os grandes apelidos da
nobreza lusa, o nome de família do seu padrinho; mas, quando a estrela do
navegador se foi empanando ante a glória de Dom Francisco de Almeida, o poderoso
Vice-Rei do Ultramar, o hebreu mesquinho abandonou o nome de Gama e adotou o
de Almeida, sem cerimônia...
Ao tempo do governo de D. Francisco de Almeida, o judeu Gaspar da Gama, de
Almeida ou, simplesmente, das índias, casou-se com uma judia, "grande letrada na
lei". Veja bem como os Gama, os Cabral e os Almeida, não seriam ilaqueados na sua
boa fé de navegadores rudes e heroicos batalhadores pela lábia e a solércia do judeu
polonês! Batizado, sua conversão era tão sincera que se unia, não a uma cristã, mas
a uma israelita ferrenha, talmudista praticante. Foi ela quem fez com que os judeus
das sinagogas hindus comprassem as bíblias hebraicas que vendia Francisco Pinheiro,
filho do Corregedor da corte de D. Manuel, o doutor Martim Pinheiro, por mando
deste, decerto cristão-novo ou cristão judaizante. O episódio mostra como os judeus
secretamente, influenciavam as decisões dos grandes navegadores5, manobravam
nos bastidores da governação das Indias e até faziam proselitismo e propaganda
religiosa através do próprio Corregedor da Corte magistrado cuja maior atribuição era

2
Soldados muçulmanos da India, mercenários leva_n tipos ou turcos, Cf. Alberto 0. de castro, "A cinza dos myrtos",
pág. 193; Dalgado, "Glossário, Luso-Asiático, t. II, págs. 264 e segs.
3
Solidônio Leite Filho, "Os judeus do Brasil" ed J. Leite & Cia., 1923, pág. 24 e 25. A documentação do resto do
capítulo está em Gaspar Corrêa, "Lendas da India", tomo I. Entre as mercês, segundo Damião de Góis, "Crônica d'E1
Rei D. Manoel", pág. 32. fê-lo cavalheiro de sua casa, deu-lhe tenças, ordenados e ofícios.
4
Solidônio Leite Filho, op. cit., pág. 27.
5
C. Solidônio Leite Filho, op. cit. pág. 25. "A sua voz (do judeu Gaspar) foi sempre acatada nos conselhos dos
capitães". Na índia, até o grande Afonso de Albuquerque, conforme depõe Gaspar Corrêa, "Lendas da India", tomo II.
pág. 177, muito se aconselhava com seu intérprete o judeu Hucefe. A tola confiança do cristão no judeu é que permite a
este dar os seus botes...
perseguir ao judaísmo. A história, referida pelos cronistas, da arca de biblias, EM
HEBRAICO, enviadas de Lisboa para a India, é um tanto escura. Não há, infelizmente,
documentação que faça suficiente luz sobre o interessante assunto.
A vinda do judeu Gaspar ao Brasil está iniludivelmente comprovada pelas
instruções dadas ao capitão-mor Pedro Álvares Cabral, conservadas entre os
documentos da Torre do Templo, que se referem pessoalmente a ele. Fugido às
perseguições que, do meado do século XV ao começo do XVI, se desencadearam na
Polonia contra os israeli tas, cortara as gadelhas reveladoras de sua procedência e
afundara-se no Oriente, tendo alcançado às Índias, depois de viver em, Jerusalém e
Alexandria. Segundo o autor das "Lendas da índia", Gaspar Corrêa, o rei Dom Manuel
noel recomendou que ele servisse com Pedro Alvares Cabral, porque lhe havia dado
"muita informação das coisas da India".
Em Porto Seguro, quando as naus portuguesas lançaram ferros, no ano da
Graça de 1500, o judeu procurou entender-se com os silvícolas, recorrendo às línguas
e dialetos que aprendera no Oriente. Não se fez entender nem entendeu patavina.
Mas compreendeu o que poderia valer a nova terra, na qual, se quisesse plantar,
daria tudo, como anunciava o escrivão da feitoria de Calecut embarcado na Real
Armada.
Para não sermos taxados de fantasista ou parcial, da mos a palavra ao
panegirista dos judeus, Sr. Solidônio Leite Filho, grifando suas afirmações mais
importantes:
"Talvez por seu intermédio tivessem os israelitas percebido, desde logo, a
importância do novo descobrimento, que pouco impressionara o ambicioso espírito do
Afortunado monarca português, cujas atenções estavam inclinadas para as riquezas
da India. Aproveitando-se desta opinião conseguiram alguns cristãos-novos, a cuja
frente se achava Fernando de Noronha, arrendar a terra havia pouco descoberta.
Sabiam eles PERFEITAMENTE que o comércio do pau Brasil, por si só, os indenizaria
das despesas6.
Estes grifos auxiliam a clara visão do primeiro capítulo da história do Brasil, tão
diferente do que nós aprendemos nas escolas. Aos meninos e rapazes somente se
mostra o palco e ninguém se lembra de levá-los aos bastidores, onde os atores
mudam de vestimenta e estão à vontade. Aprende-se unicamente a aparência da
história, que é o melhor meio de ocultar a sua essência. Na verdade, um judeu
aventureiro da Polônia, apanhado por Vasco da Gama em flagrante delito de
espionagem, adere aos lusos que o chicoteiam, batiza-se, toma nome fidalgo, casa
com uma judia talmudista e vem, com Cabral, ao Brasil que examina em primeira
mão. Os portugueses estão hipnotizados pela India, sonham epopéias e conquistas.
Ele não sonha nada, olha praticamente a vida, calcula todas as vantagens materiais.
Que lhe importam os açoites amarrado ao mastro do "S. Gabriel" e a água lustral do
batismo? Por esse preço pagou o direito de assoprar informações ao ouvido de D.
Manuel o Venturoso e de dar hábeis pareceres, logo aceitos, nos "conselhos dos
capitães". Sua raça continuará a hipnotizar os lusos na conquista, navegação e
comércio da Etiópia, Arábia, Pérsia e India, a fim de que se possa enriquecer com os
produtos que afloram por toda a vasta extensão da Terra de Santa Cruz, que um

6
Op. Cit., págs 36 e 37. Vejamos como sabiam perfeitamente. A 28 de abril de 1500, as equipagens de Pedro Álvares
Cabral descem à terra para cortar lenha e pela primeira vez o machado dos civilizados retumba nos troncos das virgens
florestas do Brasil. Cf. J. M. de Macedo, "Efeméride Histórica do Brasil", Tip. do Globo, Rio. 1877, pág. 261. Nesse
corte de madeira, com certeza, o judeu Gaspar descobriu o pau-brasil, pois conhecia, como prático das coisas do
Oriente, o verzino colombino de Ceilão. Nada disse à Cabral nem ao Rei; mas informou os cristãos-novos, seus
irmãos. Não é claro como água?...
esforçozinho de cartógrafos e cosmógrafos judeus, ou inspirados por judeus mais
adiante mudará a Terra do Brasil7 (7).
Compulsemos Capistrano de Abreu em suas notas a Varnhagen e este
em suas notas ao "Diário de Navegação" de Pero Lopes de Souza. O cristão-novo
Fernando de Noronha, que tomara este nome fidalgo com a mesma desfaçatez com
que o judeu polônio tomara os de Gama e Almeida, em 1503 associado a outros
cristãos-novos, equipara uma frota e saíra do Tejo, no mês de maio, rumo ao oeste.
Navegação feliz. A 24 de junho, dia de São João, pôs a capa sobre uma ilha
penhascosa, de praias brancas, aqui e ali vestida de vegetação luxuriante. Os marujos
deram-lhe o nomé de São João devido à data do descobrimento. Os israelitas
mudaram-no, mais tarde, para o do próprio armador e comandante da frota,
Fernando de Noronha.
Como e por que vinham tão cedo, mal findara a viagem redonda de
Cabral e com eles conversara seu irmão Gaspar das Indias sobre as riquezas da nova
terra? O judeu Fernando de Noronha e seus sócios haviam arrendado o Brasil a D.
Manuel, que continuava dentro do sortilégio, "deslumbrado com as maravilhas da
Ásia". Pelo contrato de arrendamento, os judeus deviam mandar todos os anos seis
navios ao Brasil, para explorar ou descobrir trezentas léguas de costa para além dos
pontos já conhecidos, fincando um forte no extremo em que tocassem. Esses navios
poderiam levar qualquer produto para a metrópole sem pagar o menor imposto,
tributo ou finta, no primeiro ano; pagando um sexto do valor, no segundo, e um
quarto no terceiro. O prazo de arrendamento, como se vê, era de três anos8.
No dia 24 de janeiro de 1504, D. Manuel fez doação da ilha de S. João a
Fernando de Noronha, a qual foi confirmada por D. João III em 3 de março de 1522.
Desta sorte, antes de dividindo.o Brasil em capitanias hereditárias muito antes das
primeiras concessões de sesmarias, origem dos primitivos latifúndios, a coroa
portuguesa alienava uma parte do Brasil, dando-a de mão beijada a um judeu
traficante do pau-de-tinta, que era a anilina daquele tempo.
Terminou o prazo de arrendamento da costa brasileira em 1506.
Fernando de Noronha agenciou, na corte, sua renovação ou prorrogação, obtendo-a
por dez anos, em troca do pagamento anual de quatro mil ducados, o que deixa ver
que os lucros auferidos no comércio da madeira de tinturaria, único no amanhecer da
vida brasileira, não tinham sido de desprezar. Além da prorrogação, os judeus
obtinham o monopólio do negócio, pois que o rei se obrigava a não permitir mais o
"trato do pau-brasil com a India". Era, com efeito, do Oriente que vinha o pau-de-tin
ta, berzi, ou verzino, segundo Muratori e Marco Polo. O descobrimento do nosso País,
em verdade, graças às informações levadas pelo astuto judeu que Vasco da Gama
açoitara e conduzira à pia batismal, tivera como resultado a formação, para empregar
a linguagem moderna. de um TRUSTE DAS ANILINAS. Naturalmente, que era o
monopólio do comércio da madeira tintória, desde que o sapang de Java é Ceilão fora
corrido dos mercados europeus, senão isso? tan to assim que os navios do consórcio
Fernando de Noronha carregavam por ano de nossas matas litorâneas a bagatela de
"vinte mil quintais da preciosa madeira"! 9. 0 primeiro carregamento foi levado logo
em 1503, dois anos após o descobrimento10. A famosa nau "bretôa", que em 1511

7
Simão de Vasconcelos. Mônica da Companhia de Jesus do Estado do Brasil". ed. A. J. F. Lopes, Lisboa, 1765, pág.
XXXII, 9: "...Terra de Santa Cruza título que depois converteu a cobiça dos homens em Brasil,contentes do nome de
nutro pau bem diferente do da cruz e de efeitos bem diversos",
8
Piero Rondinelli, "Raccolta Colombiana", 3Q pa. te, vol. II, pág. 121.
9
Solidonio Leite Filho, op. cit. pag. 37: Leona_r do de Chade Messer in "Livro comemorativo do Descobrimento da
América", ed. da Academia de ciência de Lisboa.
10
Melo morais, Mônica do Império do Brasil", 1879, pág. 19.
veio ao Brasil carregar o pau, batendo a costa até o Cabo Frio, foi armada e
despachada por Fernando de No ronha e seus amigos11.
Neste primeiro capítulo da nossa história, encarada por um método novo
e verdadeiro, se vêem o palco e os bastidores. No palco: a armada de Cabral com as
velas pendentes em que o sol empurpurava as cruzes heráldicas; a cruz erguida na
praia, diante da qual um frade diz a primeira missa; um padrão cravado no solo
virgem da terra descoberta em forma de cruz, a cruz nos punhos das espadas
linheiras que retiniam de encontro aos coxotes de aço fosco; a cruz nas bandeiras
alçadas, os nomes de Vera Cruz e Santa Cruz impostos a toda a nova região
americana: o idealismo cristão, o heroísmo cristão, o sentidõ cristão da vida, a
propagação da Fé e a dilatação do Império que a gesta dos Lusíadas cantaria com o
ritmo do rolar das ondas.
Nos bastidores, manobrando os cenários e arranjando as vestiduras, o
judeuzinho de Goa, o cristão-novo Fernando de Noronha, os Cristãos-novos e
israelitas do seu consórcio comercial, inspirados pela sinagoga e pelo kahal,
realizando o lucro à sombra do idealismo alheio; ganhando o ouro à custa do esforço
e do sangue dos outros, apagando o nome da Cruz com o nome do pau-brasil, o que
indignou a João de Barros 12; usando a epopéia da navegação e o poema do
descobrimento para a fundação trivial de um monopólio de anilinas...

11
Solidonio Leite Filho, idem, idem. Capristano de Abreu, "0 descobrimento do Brasil", pág. 267, Varnhagen,
"História Geral do Brasil°, 1ê ed., I, págs. 427432 "Diário do Pero Lopes", Rio de Janeiro, 1867.
12
"Décadas"... como que importava mais o nome de um pau que tinge panos que daquele pau que deu tintura a todos os
sacramentos por que somos salvos...
CAPÍTULO II

O Empório do Açúcar

Passaram-se muitos anos antes que a coroa portuguesa desse fé do Brasil.


Monarca e povo "tinham os olhos ofuscados pelos resplendores das predirias do
Oriente13".
Esse pensamento repete-se de tal modo nos historiadores filo-judaicos que
somos forçados a admitir o propósito por parte dos judeus em conservar as atenções
voltadas para outro lado, afim de poderem, à vontade, não só tirar, sem grande
trabalho, à custa de bugigangas dadas ao índio, milhares e milhares de quintais de
pau-brasil, produtor de tintura, ou de canafístula produtora de mirra14, como de
preparar uma espécie de refugio para a sua raça deste lado do Atlântico. "Aconteceu
que os judeus foram obrigados a emigrar, açoitados por uma perseguição feroz
(1506). Seu instinto mercantil adivinhara15 as riquezas naturais do Novo Mundo.
Teriam aqui tranqüilidade e segurança, o Santo Ofício não os inquietaria16". Tanto
assim que a ordem dos Dominicanos, à qual estava quase sempre afeto este tribunal,
nunca logrou estabelecer-se no Brasil.Em todo o nosso vastïssimo país, não existe um
único convento de S. Domingos. O número e a influência dos cristãos novos
impediram o funcionamento da Inquisição entre nós. Houve somente visitações e
quem lê seus processos fica assombrado da persistência do judaísmo nos marranos
convertidos e que viviam dentro da religião católica com o simples fito de auferir
vantagens. Aliás, esse sistema vem do fundo dos séculos: em Roma, já havia os
cripto-judeus ou judeus ocultos17 .
Citemos dois exemplos elucidativos dessa persistência: o cristão-novo Jorge
Fernandes, que veio para cá no tempo do segundo Governador-Geral, D. Duarte da
Costa, e faleceu em 1567, antes de morrer pediu que lavassem e sepultassem o
cadáver segundo os ritos da sinagoga; o cristão-novo Afonso Mendes, vindo com Mem
de Sá, costumava, às escondidas, açoitar o crucifixo... Até freiras claustradas
judaizavam...18.
No Reino, as Ordenações puniam com rigor os cristãos -novos judaizantes.
Num país bárbaro em vias de colonização, as leis eram, naturalmente, interpretadas
com maior benevolência e liberalidade, permitindo o próprio meio, melhor defesa para
os acusados, até mesmo a facilidade da fuga e da ocultação. Fechavam-se os olhos
sobre muita coisa19 (7). "Não admira, pois, que as famílias hebréias tivessem
emigrado para a América Portuguesa, onde, livres dos tribunais do Santo Ofício,
viviam na mais absoluta tranqüilidade, guardando a lei de Moisés20". Vieram, assim,
para o Brasil, nos primeiros tempos, os Guilhens, os Castros Boticários, os Mendes, os
Rabelos, os Antunes, os Valadares, os Bravos, os Nunes, os Sanches, os Diques, os
Cardosos, os Coutinhos, os Montearroios, os Cirnes, os Ximenes, os Peres, os Calaças,
os Teixeiras, os Rodrigues, os Barros, os Siqueiras. Anos e anos deslizaram sobre mui
tos deles sem lhes abrandar a impenitência talmudista. Continuaram, como rezam os
documentos coevos, convictos, fictos, falsos, simulados, variantes, revoltantes,

13
Solidonio Leite Filho op. cit. pag. 39.
14
"Livro de Centenário", I, 42 carta de Américo Vespúcio a Pedro Soderini.
15
O grifo é nosso. 0 historiador diz adivinhara, porque não se lembrou do espião Gaspar da Gama, que veio reconhecer
a terra e levou, em 1501, informações à sinagoga lisboeta. Em 1503, o pau-de-tinta já estava sendo carregado!
16
Pedro Calmon, "História da civilização Brasilei ra", ed. da Cia. Editora Nacional, S. Paulo, 1933, pág. 12.
17
Chamberlain,"Die Grundlagen desneunzehnten Iahrhunderts".
18
Rodolfo Garcia, "Os Judeus no Brasil Colonial" in "Os judeus na História do Brasil", págs. 13, 14 e 41, ed. do
vendedor de livros judeu Uri Zwerling. Este isra_e lita fez o livro como propaganda judaica, mas, muito ignorante,
coitado! aceitou o que lhe quiseram dar ea obra é um repositório de documentação anti-judaica.
19
Cf. João Ribeiro, "História do Brasil", pág. 78.
20
Solidônio Leite Filho, op. cit. pág. 46.
impenitentes, profluentes, diminutos, confluentes, negativos e pertinazes",
merecendo as penas inquisitoriais21. Rodolfo Garcia22, acha que "O Caramuru", João
Ramalho, Francisco de Chaves, o próprio misterioso Bacharel de Cananéia aquele
castelhano que vivia no Rio Grande do Norte, entre os Potiguaras, com os beiços
furados como os deles, e tantos outros desconhecidos - seriam, quem sabe, desse
número de judeus, colonizadores espontâneos das terras de Santa Cruz".
Com efeito, "os navios que, enviados pela coroa portuguesa, aportavam às
nossas plagas duas vezes por ano traziam somente judeus e degredados, com os
quais se formou o primeiro núcleo de população23". Isto confirma a suposição de
Rodolfo Garcia, da qual só discordamos quanto a Caramuru. A religiosidade de
Paraguassu, sua mulher, como que demonstra o espírito profundamente católico do
marido, o que não se dá com os cristãos-novos. Vede como João Ramalho, por
exemplo, se obstina em não praticar o culto católico e entra em luta contra os padres
da Companhia de Jesus.
O monopólio da madeira de tinturaria, habilmente con seguido por Fernando de
Noronha e seu grupo, vivia de alimentar a desatenção do rei D. Manuel quanto ao
Brasil, levando-o a só dar tento aos negócios da Índia. Enquanto isso, por via da
proibição do comércio do pau-de-tinta com o Oriente, o consórcio judaico ia se
enchendo de ouro. Cada quintal de madeira posto em Lisboa, ficava com todas as
despesas, por meio ducado. Era vendido em Flandres por dois e meio a três ducados
24
. Lucro formidável! Esse lucro atraiu, naturalmente, "a cobiça dos corsários
europeus", sobretudo diepeses e maloínos. Seus barcos percorreram a costa,
arribaram as abras e enseadas, comercializando com o gentio e carregando o Brasil.
Não era mais unicamente o judeu luso que exercia a função comercial de brasileiro.
Outros a disputavam: franceses, alemães, espa nhóis, ingleses, e, entre eles, muitos
judeus dessas procedências.
Aí, os sócios de Fernando de Noronha e ele mesmo, de certo, compreenderam
que era necessário reagir contra os piratas audazes, que vinham de Honfleur, Dieppe,
Saint-Ma lô, San Lucar, Corunha e outros portos para a Terra dos Papagaios,
considerada res nullius. Para comerciar e lucrar, os judeus do grupo Noronha estavam
sempre prontos; mas, para trocar tiros mortíferos de bombarda e arcabuz de navio
Onavio, no balanço das ondas, ou saltar de terçado em punho nas abordagens
furiosas a bordo do barco inimigo, eles absolutamente não tinham sido feitos. Povo
eleito para tudo, menos para a luta armada, o judeu segue o preceito do ïalmud, que
diz: "Na guerra sê o último a partir e o primeiro a voltar"... Todavia, como expelir aos
piratas que prejudicavam o futuroso negócio da tinturaria? Era preciso apelar para o
rei Afortunado, que perseguia o judaísmo, mas se deixava influenciar pelos
conselheiros hebreus, entre os quais o sabido Gaspar da Gama. Ele, sem dar por isso,
ia servir para defender os ino Gentes cristãos-novos que ganhavam o mínimo de dois
ducados em cada quintal de pau-brasil. Era chegada a hora de entrar em cena o
cristão-velho -a fim de derramar seu sangue, batendo-se contra os corsários que
estavam prejudicando, grandemente, os lucros opimos do kahal...
Eis porque, logo, o soberano voltou sua atenção para o Brasil. Os hebreus a
desviaram, quando assira, era preciso; agora, a solicitavam."Foi graças aos israelitas
- escreve seu panegirista25 - que Portugal começou já nos últimos tempos de D.
Manuel, a perceber a importância da Terra de Santa Cruz". 0 rei observou também
"os esplêndidos resultados colhidos pelos hebreus em prejuízo do erário (14); e
decidiu a colonização do novo país. Desde mais ou menos 1516, começou a tomar

21
Vide "Primeira visitação do Santo Ofício às par tes do Brasil" pelo licenciado Heitor Furtado de Mendonça, ed. de
Paulo Prado, 1922, 1925, 1929.
22
Loc. cit. pág. 10.
23
Solidônio Leite Filho, op. cit. pág. 40. cf.W. Sombart "Oie Juden in des Wirtchafts'eben, pág. 34.
24
Peragalo, "Memória do Centenário", pags 83-84.
25
Solidonio Leite Filho, op. cit. pág. 40. (14) Idem.
medidas nesse sentido, bem como assecuratórias do comércio do pau-brasil. Naquele
ano, Cristovam Jaques vem com dois navios policiar a costa e fundar uma feitoria em
Pernambuco, a qual floresce. Nela se faz a primeira experiência do plantio da cana-
deaçúcar, riqueza que, em breve, vai suceder à da extração da madeira de tinturaria.
O ciclo da indústria extrativa vai desaparecer e será substituído pelo da indústria
açucareira, cujo empório enriquecia aos judeus e marcava o segundo período da
história colonial. Em 1530, Martim Afonso de Souza dá caça aos corsários franceses,
reaviva o vestígio do domínio de Portugal, distribui povoadores, ba te a costa até o
Prata e traça o primeiro contorno políti co da colônia26. Em cananëia, encontra
servindo de li gua ou intérprete, o judeu Francisco de Chaves; em São Vicente, no
meio dos goianases, o judeu João Ramalho. Aí se lançam os fundamentos de uma
verdadeira colônia, a primeira que se construiu à boa maneira portuguesa27".
A coroa dava licença a quem quisesse tentar fortuna no Brasil, com a condição
de pagar-lhe o quinto dos produtos; a Casa da Índia fornecia instrumentos de lavoura
a quem desejasse ir povoar a nova terra; favorecia-se com os meios necessários a
quem fosse capaz de dar prin cípio a engenharia de açúcar28.
No século XVI, o açúcar era raro e caro. Até o achado do caminho das índias,
pelos portugueses, o pouco açúcar que chegava à Europa vinha do Oriente, trazido e
distribuído pelos venezianos. As populações européias, na sua maioria, contentavam-
se com o mel das abelhas para suas comidas e bebidas. Só os ricos conheciam o
açúcar oriental. Imagine-se a revolução econômica produzida pela entrada à larga do
açúcar nos mercados em que antes não aparecia.
Já nas ilhas de S. Tomé, Cabo Verde e da Madeira se cultivava cana; porém, na
mão dos judeus, o Brasil iria ser o verdadeiro instrumento dessa revolução, cujas
últimas cenas ainda estão se desenrolando em Cuba.
Morto D. Manuel, D. João III prossegue no intuito de povoar é colonizar o
Brasil. Além de fazer várias doações de latifúndios a fidalgos ilustres e de confirmar
outras, do seu antecessor, como a ilha de S. João ao cristão-novo Fernando de
Noronha, dividiu o imenso território em doze capitanias hereditárias. Esses feudos de
cinqüenta a cem léguas de litoral foram concedidos e escolhidos capitães cobertos de
serviços, como Duarte Coelho, Martin Afonso, Pero Lopes, Aires da Cunha, Pero de
Góis e Vasco Fernandes Coutinho; a homens ricos, como Pero de Campos Tourinho; a
altos funcionários do Reino e outros, como Jorge de Figueiredo Correa, Fernando
Álvares de Andrade, Antônio de Barros Cardoso e João de Barros.
A cargo dos donatários das capitanias, deixou o governo real povoação e
defesa das novas terras e dos estabelecimentos que montassem, o que não era coisa
fácil pois os piratas costumavam destruir o que podiam. Em 1530, um galeão francês
não arrasou o primeiro engenho de açúcar da América, o do capitão Pero Capico, em
Pernambuco, fundado em 151629? A fazenda real não se podia consumir nesse serviço
e por isso largava em mãos dos concessionários todo o peso da colonização. Dois
deles meteram ombros à empresa e suas capitanias progrediram: Pernambuco e S.
Vicente. Outros abandonaram as doações. Ainda outros apelaram para os judeus ou
lhes venderam suas terras.
"Não podendo recusar trabalhadores, os capitães-mores estenderam às
pessoas de origem hebraica, os favores concedidos às demais. Fundados nos
privilégios excepcionais que lhes davam doações e forais, trouxeram algumas famílias
israelitas30, tendo um dos donatários contra tado com judeus laboriosos a montagem
de engenhos em Pernambuco... Quando os capitães-mores chegaram às suas terras,
aí encontraram, exercendo grande influência sobre o gentio, vários cristãos-novos,
26
Pedro Calmon, op cit págs 13-15.
27
Idem pag. 14.
28
Varnhagen, "História Geral do brasil", pág. 145. Solidônio Leite Filho op. cit. pág 41.
29
Pedro Calmon, op. cit. pág. 13.
30
Varnhagen, "Antonio José da Silva" in "Revista do Instituto Histórico", vol. IX pág. 114.
vindo durante os trinta anos em que o governo português as deixara em quase
completo abandono. Qualquer perseguição contra eles provocaria o ódio dos índios, o
que tornaria dificultosíssima, senão impossível, toda tentativa de estabelecimento.
Para a colonização das capitanias, seu auxílio era, portan to, precioso e necessário31".
O exemplo de João Ramalho é, desse ponto de vista, o mais concludente
possível. "Bastaria para demonstrá-lo o ódio que sempre teve pelos jesuítas,
mantendo contra eles uma luta incessante, o que naquela época de fanatismo e
submissão ao clero era de estranhar". O mesmo autor destas linhas, que é judeu32,
acrescenta: "Mas o que confirma incontestavelmente a origem judaica de João
Ramalho deu origem a inúmeras controvérsias. Grande número de historiadores
negava-lhe todo valor, achando que se tratava de um traço sem sentido; outros
afirmavam o contrário, sem apresentar, porém, argumentos convincentes. No
princípio deste século foi publicado um trabalho em que o Kaf de João Ramalho era
apresentado como um signo esotérico, cabalístico, o que, apesar de não se prender
bem ao caso, viria indicar que João Ramalho era um estudioso da Cabala, como a
maioria dos judeus daquela época (!). Hoje, porém, com os recentes estudos do Sr.
Ben Israel, diretor deste almanaque 33, podemos afirmar que a questão se acha ple
namente esclarecida e pela afirmativa. Trata-se de um Kaf, um verdadeiro Kaf sem
sentido cabalístico e esse Kaf demonstra que João Ramalho era judeu, do mais puro
sangue.
O Sr. Ben Israel demonstra que todo judeu pertencente a estirpe dos
"cohannin", plural de "cohen" (descendentes de Aarão, sacerdotes hereditários do
povo judeu), acrescentam; ainda hoje, à sua assinatura duas letras hebraicas, um Kaf
e um Tzedek, iniciais das duas palavras:
"cohen tzedek", isto é, cohen puro. Destas duas letras formou-se até um nome: Katz,
que é hoje o sobrenome de muitas famílias israelitas. O cohen que por qualquer modo
infringe a religião não pode ser considerado puro e não tem direito a usar o Tzedek.
Deve, portanto, limitar-se a assinar com o kaf, simplesmente. Ora, João Ramalho,
que tinha casado com uma gentia, a filha de Tibiriçá, infringira as regras da proibição
(que racismo!) e tinha deixado de ser um cohen puro,"cohen tzedek", tornando-se,
um "cohen" simples, que só tinha direito a assinar com o Kaf. O sr. Israel demonstra,
pois, cabalmente, que João Ramalho era um judeu, tão consciente de seu judaísmo
que, apesar de isolado num mundo distante, não deixa de cumprir, na medida do
possível, os preceitos de sua religião Com isso fica afirmado que o movimento inicial
para a formação da grande metrópole, que é a São Paulo de hoje, foi um movimento
promovido por um judeu. Ele não foi, porém, o único. Tangidos pela inquisição, que
então era rigorosa em Portugal, inúmeras famílias judaicas ou cristãs-novas, como
então se chamavam, vieram estabelecer-se na Paulicéia. São de origem judaica os
Pintos, Costas, Silvas, Pereiras, Castros, Salgados, Buenos, Mesquitas, etc.".
A citação é um tanto longa, mas preciosa, não pelo estilo, que é horrível, sim
pelo documento que representa. Vemos por ela a infiltração judaica no Sul, através
de S. Vicente, subindo ao planalto piratiningano, do mesmo modo que a vimos no
Norte, em Pernambuco. As duas capitanias que prosperavam, chamavam logo a
judiaria. Mostra ainda essa página judaica seu racismo até em relação ao gentio, a
persistência dos ritos e dos estudos cabalísticos, o ódio ao missionário jesuíta
catequizador do indígena, que o judeu queria tão somente escravizar para explorar-
lhe o trabalho.

31
Solidonio Leite Filho, op. cit. págs. 41-42.
32
Dr. Isaque Izeckson; "A contribuição judaica na formação da nacionalidade brasileira", in "Almanaque Israelita do
Brasil", 5695-96, 1935 pág. 5.
33
"Almanaque Israelita do Brasil": O trabalho sobre o Kaf de João Ramalho a que o autor se refere com essa fingida
displicência é o erudito volume de Horácio de Carvalho "0 Kaf de João Ramaïho" tip. do "Diário Oficial", S. Paulo,
1903, com prefácio de Teodoro Sampaio . É uma obra admirável que revela os segredos da cabala judaica.
A América meridional era um ótimo refúgio para os judeus convictos e para os
disfarçados. Vinham aos milhares Lendo a obra de Argeu Guimarães, verifica-se o
perigo social que representavam; infiltrados no próprio cerne do catolicismo. No ano
de 1581, a Inquisição queimou em Lima dois padres portugueses idos do brasil,
porque os mesmos praticavam o judaísmo: frei Alvaro Rodrigues e frei Antonio Osório
da Fonseca. Nos primeiros séculos da nossa história, houve um grande comércio de
ouro e prata, por terra, com o Peru. Os homens que se ocupavam dessa espécie de
contrabando de metais preciosos, na maioria judeus eram até denominados
peruleiros34. Muitos peruleiros judeus ou judaizantes foram pilhados pela rigorosa
inquisição espanhola, em Lima, e levados à fogueira. Entre outros, Baltazar Rodrigues
de Lucena e Duarte Nunes, em 1600; Gregório Dias, Diogo Lopes de Vargas e Duarte
Henriques, em 1605; Diogo de Andrade, João Noronha e Manuel de Almeida, em
1625; Manuel Batista Pires em 1639.
Não se vá pensar que o judeu entrou com entusiasmo na indústria do açúcar
que nascia. Do mesmo modo que veio na sombra dos descobridores, examinar a terra
e ver o que nela havia de mais facilmente aproveitável - o pau-brasil esperou que o
negócio do açúcar fosse desbravado por outros até chegar a um bom ponto. Eis como
se explica a falência dos primeiros edificadores de engenhos. Perdido o capital inicial,
o judeu adquiriu os engenhos abandonados e, como neles não invertera as somas que
os cristãos haviam perdido, seus lucros teriam de ser muito grandes. Assim, agiria,
mais tarde, com o ouro: o bandeirante audaz descobriria, após mil tormentos, as
lavras; eles se apoderariam delas, depois, pela traição. Toda a história do Brasil é
assim: uma aparência - o idealismo construtor do português, do mameluco e do
brasileiro, dos cristãos; uma realidade - o utilitarismo oculto do judeu, explorando as
obras do idealismo alheio. Os agricultores e os guerreiros, diz o imparcial João Lúcio
de Azevedo, são os elementos produtores e construtores das pátrias. O judeu não é
nem agricultor nem guerreiro.
Vejam o quadro dos desbravadores, dos bandeirantes do açúcar, pintado por
Pedro Calmon35: " ..fracassaram todas as empresas de grandes cabedais, - início do
desenvol vimento mundial do comércio - que se aplicaram a explorá-los: ou porque
os portugueses só sabiam trabalhar para si não para capitalistas, que, à moda da
Holanda, esperavam em Lisboa o seu provento, ou porque não se antecipara aos
trabalhos um reconhecimento da terra e sua efetiva ocupação. Assim, em Ilhéus,
Lucas Giraldes, que comprou a capitania ao seu donatário, fez edificar oito engenhos,
e tan to foi roubado pelo feitor (que depois se estabeleceu no Recôncavo com
engenho próprio) como pelos Aimorés, que tudo perdeu ... Em Porto Seguro, o duque
de Aveiro, que adquiriu a capitania ao seu dono, igualmente mandou construir vários
engenhos que pereceram. Vasco Fernandes Coutinho donatário do Espírito Santo e
homem opulento, inverteu a riqueza qrangeada na India em engenhos poderosos, e
de tal forma lhes atacou o gentio, que morreu sem lençol para mortalha. Desgraça
maior ocorreu ao capitão da Bahia, que gastou numa boa frota sua fortuna, começou
dois engenhos, teve-os demolidos pelos Tupinambás e acabou trucidado por eles".

34
A obra de Argeu Guimarães intitula-se: "Os cristãos-novos portugueses na América Espanhola". Sobre os peruleiros
e o tráfico da prata, vide "Diálogos da Grandeza ", ed. da Academia Brasileira, pág. 37 e 144;
35
Pedro Taques, "Nobiliarquia Paulistana", ed. de Escragnolle Taunay, I, 245; Pedro Calmon, "História da Civilização
Brasileira", cap. o caminho do perú, págs. 76 e 77. De acordo com a documentação reunida por Alcibíades Furtado em
"Os Schetz da Capitania de S. Vicente", Rio de janeiro, 1914 creio que há um certo feitor judaico nessa dinastia de
homens de negócios. Tinham casa bancária em Antuérpia sob a firma Erasmus ende Sonen, Erasmo & Filhos, Erasmo
comprou as partes da capitania de 5, Vicente de Martin Afonso e do piloto Francisco Lobo. Os Schetz estavam ligados
ao banqueiro João Venistre ou Wenix de Lisboa. Um filho de Erasmo, Gaspar Schetz foi tesoureiro de Felipe II nos
Paises Baixos. O Rei o enobrecera com títulos e senhorios, o que os reis costumavam fazer com seus ecônomos judeus.
Os filhos de Gaspar manejavam cabedais em Bruxelas.
A indústria do açúcar, porém, progrediu admiravelmente em duas capitanias:
Pernambuco e S. Vicente. Os engenhos eram movidos por água ou por bois. A lavoura
da cana era feita, primeiramente, pelos índios escravizados, depois
pela escravaria africana. Maquinário simples, de fácil montagem, de mais fácil reparo
e de custo relativamente baixo. Mão-de-obra abundante e barata. O açúcar começou
a criar para o judaísmo negócio novo e lucrativo: o tráfico dos negros.
O açúcar era negociado com os mercados das Flandres desde 1532, quando
Martim Afonso de Souza se associara ao holandês Erasmo Schetz, cujo engenho
sessenta anos mais tarde valeria quatorze mil ducados36. D. João III via com bons
olhos essa nova fonte de riqueza ultramarina e mandava passar ao Brasil vários
lavradores de cana das ilhas da Madeira e Cabo Verde37.
O fidalgo-agricultor, o gentilhomme-compagnard, o hobereau, riqueza social de
todos os países, ligado profundamente à terra pela tradição, pela alma e pelo
interesse é encontrado sempre, no Brasil colonial, encabeçando todas as iniciativas
com sua coragem e seu idealismo. A sua sombra caminha agachado o judeu,
negaceando, buscando o proveito de suas conquistas com o maior e menor risco
possíveis. Duarte Coelho é quem manda, em 1549, buscar homens práticos, isto é,
técnicos, no Reino, nas canárias e na Galiza à sua custa, para montar os engenhos38.
São homens de prol os que iniciam o plantio de cana na Bahia,vencendo todas as
dificuldades 39. É o nome usual de senhor de engenho, transmitido até nossos dias,
tem um sabor de titulo nobiliárquico.
Diz o "Diálogo das grandezas" que o soberano o dava em cartas e provisões40.
Assim se formou a nossa primeira aristocracia rural. A esse novo feudalismo não
faltou até uma das mais comuns e interessantes instituições de caráter socialista da
Idade Média: a banalidade. Havia os "engenhos reais", idênticos ao lagar do príncipe"
em Portugal ou ao "moulin banal" da França, destinados a moer a cana da gente
pobre, que plantava sem ter engenho41.
O açúcar espalhava-se por toda a Europa que o consumia com avidez, tantos e
tantos séculos fora privada de coisa tão deliciosa, dependendo a sua pastelaria do mel
das abelhas! Que estupendo país esta Terra dos Papagaios, ou do Brasil, surgida do
seio do Mar Tenebroso! Dali vinha a madeira corante que tingia os panos flandrenses.
Dali vinha mais o doce, coisa rara, cujo preço dobrava, triplicava nos mercados
flandrinos, onde pontificavam, depois dos judeus do pau-brasil, os judeus do açúcar
brasileiro. Os Paises-Baixos, como Nova York hoje, eram a Judéia da época. Pinta o
quadro um historiador que ninguém poderá taxar de anti-semita, mas que conhece a
documentação em que alicerça suas afirmativas: Os judeus que vendiam açúcar
enriqueciam a termos de estender-se a cultura pelos Açores e Canárias, febrilmente
fomentada, a ocupar grandes organizações financeiras que teciam, entre as várias
praças européias, a rede de crédito42. Duarte Coelho contou em Pernambuco com o
auxilio daqueles capitalistas comissários43; Subrogavam-se nas responsabilidades do
governo para intensificar, criar uma economia, que lhes devolveu em altos juros os
cruzados do empréstimo44. Não houve melhor negócio na época e aos impulsos

36
"Publicações do Arquivo NacionaV, vol. xiv, 200; Ferrind Donnet. "Notes à Llhistoire des emigrations des
anversois".
37
Pedro Calmon, "História da Civilização Brasileira", pág. 18.
38
Capistrano de Abreu, nota a Porto Seguro, i, 230-1.
39
Pedro Calmon, op. cit. 19. Valia a pena vencê-las. Os lucros eram convidativos. Em 1699, um quilo de açúcar valia 2
mil réis no porto da Bahia, "preço fabuloso para época". Cf. Escragnolle Taunay, "Na Bahia Colonial", separata da
"Revista do Instituto Histórico Brasileiro", Imprensa Nacional, Rio de janeiro, 1925, pags. 303.
40
Edição da Academia Brasileira, pág. 33.
41
Frei Gaspar da Madre de Deus, "Memória para a História da Capitania de S. Vicente", ed.-Taunay, pág171
42
Data de longe o internacionalismo do capital judaico ...
43
É bem claro, manifesto, o papel do judeu como intermediário. os grifos em toda citação são nossos.
44
Velha e conhecidíssima técnica. A história precisa ser lida às vezes, nas entrelinhas. Quanto segredo
escondido! "Fundemo-nos todos em haver dinheiro, porque, quer seja nosso, quer seja alheio, é Deus verdadeiro".
dessas cobiças resolveu João III dar ao Brasil um governo regular. Em 1549, depois
de ter comprado aos herdeiros de Francisco Pereira Coutinho a capitania da Bahia,
mandou Tomé de Souza fundar a capital da colônia.45
Desta sorte, a primeira cidade e o primeiro governo resultam do comércio
açucareiro, que os judeus internacionais manobram das Flandres por meio de uma
rede de crédito.
A emigração israelita, que fugia à Inquisição peninsular, bifurcava-se para as
Indias e para o Brasil. Estabelecido o Santo Oficio em Goa, a corrente veio toda para
nós. A esse sangue judaico, que inúmeras vezes se misturou ao sangue cristão, deve
quiçá a maioria dos brasileiros os defeitos que lhes são apontados: falta de fixidez no
caráter, inclinação a não levar nada a sério, capacida de de deformar todas as idéias,
indisciplina inata e pri-zer do despistamento. Muitos judeus permaneceram puros até
nossos dias, fingindo-se mesmo de cristãos, mas conservando às ocultas a fé
talmúdica, praticando os ritos, judaizando, como diriam os inquisitores46. Outros se
fundiram na consciência e na raça, exemplo raro, talvez único no mundo inteiro. O
Brasil absorveu-os completamente. Tantos milhares de hebreus se encaminharam
para nossa terra que, em 1532, D. João III proibiu a saída dos cristãos novos do
Reino com mudança de casa e venda de propriedades, sob graves penas. Eles porém,
continuaram a fugir para cá, forçando o governo real a novos alvarás de mais
rigorosa proibição, em 1567. Dez anos mais tarde, premido pelas necessidades de
dinheiro para a infeliz jornada de Africa, D. Sebastião revogou as proibições por
duzentos e vinte cinco mil cruzados que lhe pagou o Kahal de Lisboa, o que motivou
uma representação da Inquisição ao poder real, em 1578. O cardeal D. Henrique
revalidou os atos de D. João III47.
A enxurrada judaica encheu o Brasil que amanhecia, atirando-se aos negócios
de mascate, de açúcar e de escravos. Dia a dia, o número de israelitas crescia nos
primitivos núcleos da população. Suas sinagogas, que o povo denominava esnogas,
multiplicavam-se. Havia-as em casas particulares, como a de Matuim, na Bahia, na
residência do cristão-novo muito conhecido Heitor Antunes. Havia-as nos próprios
engenhos, como a do cristão-novo Bento Dias de Santiago, em Camaragibe, onde,
nas luas novas de agosto, em carros enramados, os judeus da terra iam celebrar o
YOM KIPPUR e outras cerimônias do rito judaico"48. As qrandezas do Brasil servem
aos diálogos judaicos. O Brandônio dos "Diálogos das Grandezas do Brasil" era o
judeu Ambrósio Fernandes Brandão, ex-feitor do engenho sinagogal de Bento Dias de
Santiago, onde também fora empregado o cristão-novo Nuno Alvares, "por ventura o
interlocutor Alviano dos referidos diálogos"49, como feitor dos dízimos reais que o seu
patrão arrematava, consoante o velho hábito dos publicanos hebreus.
Essa judiaria do primeiro século do ciclo de negócio do açúcar, adorava
trancãilamente, apesar de batizada, o Deus de Israel50. Eram todos como aquele
Diogo Fernandes, natural de Viana, a quem se referem os documentos, o qual, na
agonia, quando lhe diziam que chamasse por Jesus Oirava sempre o focinho e nunca
o quis nomear51.

Gil vicente "Obras", ed. Mendes dos Remédios, tomo I pág. 182.
45
Pedro Calmon, op. cit. pág. 19.
46
As visitações do Santo Ofício citadas e o livro de Mário Sáa. "A invasão dos judeus", demostram a permanência do
judaísmo e do judeu dentro das populações de Portugal e do Brasil. Em 1714, o viajante Frezler observa que a devoção
religiosa na Bahia servia "para capear o judaísmo," pois estava a Bahia repleta de judeus. "Havia bem pouco, depois de
longos anos"de falsa devoção exterior, fugira subitamente para a Holanda um vigário carregando as alfaias de sua igreja
e, uma vez ali, chegado, mostrara o que era, correndo à sinagoga". Taunay. "Na Bahia Colonial", pág. 345.
47
Solidonio Leite Filho, op. cit. pags. 47-48.
48
Rodolfo Garcia, loc. cit. pág. 49
49
Idem pág. 20.
50
Solidonio Leite Filho, op. cit. pág. 48.
51
Rodolfo Garcia, loc. cit. pág. 18
Depois de caído Portugal sob o dominio Espanhol, o número de familias
judaicas no Brasil não cessou de aumentar52. No reinado de Filipe III, o alvará de 4 de
abril de 1601, conseguido pelo Kahal a peso de ouro, e a bula papal de 23 de agosto
de 1604, que custou à judiaria um milhão e seiscentos mil cruzados, permitiram aos
cristãos-novos deixar as terras peninsulares e sair dos cárceres inquisitoriais. Mal se
apanharam soltos, foram vendendo o que tinham e fugindo. Assim, quando veio a
cobrança do que haviam prometido dar pelo alvará e pela bula, o rei não conseguiu
receber nem a metade. Indignado, o soberano revogou a licença de salda e
estabeleceu a obrigatorieda os dos engenhos brasileiros. Da Holanda se mandavam
por ano, para o Brasil, 3 a 4 mil Biblias em hebraico, como já vimos que eram
mandadas para a India, o que documentam as denunciações do Santo Oficio.
Para o Brasil e para a Europa, o século XVI fora o do pau-de-tinta, das anilinas,
por assim dizer; o séculoXVII
foi o do açúcar. Nas primeiras décadas do centenário, o desenvolvimento da indústria
açucareira se tornou impetuoso53. Em 1610, segundo um viajante observador, era o
único meio de vida54. Os preços subiam ao ponto de criar nos senhores de engenho
esse delirio de gastos, grandezas e luxo, que vimos contemporaneamente nos donos
de seringais da Amazônia e nos fazendeiros de café ...
É o que dizem os cronistas: Cardim, Soares, Barlaeus, Frei Vicente. Segundo os
estudos de J. Lúcio de Azevedo55 , em 1610, a produção de açúcar foi de 735 mil
arrobas, no valor de 1500 contos, soma respeitável para a época.
O trabalho braçal do escravo, a fortuna dos fidalgos e sua iniciativa, bem como
as de outros portugueses cristãos, criaram no Brasil o Empário do Açúcar56. Nas
trevas, unidos os de Portugal, os da colonia nascente e os da Holanda pelos seus
Kahals, os judeus exploram essa riqueza como intermediários, armadores,
especuladores, fornecedores de capitais, onzeneiros cruéis57. Mas isso ainda não é
bastante para eles:precisam apoderar-se do empório, dominá-lo completamente,
fazer pesar sua mão-de-ferro sobre os ricos e senhores de engenho, orgulhosos de
sua linhagem e de sua crença, e tirar vingança dos soberanos peninsulares,
arrancando precioso florão de sua coroa. Os Estados Gerais da Holanda, regorgitando
de ouro judaico58, podiam iniciar a desagregação do império colonial luso-espanhol,
conquistando o Brasil, terra do açúcar, e Angola, terra do escravo que plantava a
cana, aquém e além Atlântico. Que têm sido sempre o judeu senão o fermento
desagregador dos impérios e das civilizações? Ele faltaria ao chamamento do seu
destino, se não tentasse abocanhar o empório do açúcar, com expedições pagas e
companhias organizadas com o dinheiro ganho com o próprio açúcar...

52
Solidonio leite Filho, op. cit. pág. 49. Os portugueses da Bahia eram geralmente de raça judia, observou o viajante
Froger, no fim do século XVII. Cf. Taunay, "Na Bahia Colonial, pág. 291. Por isso, antes dele, diz outro viajante,
Pyrard de Laval, eram na maioria, criminosos ou falidos. Como a indústria judaica de falência é antiga! Cf. op. cit.
págs. 251.
53
Pedro Calmon, op. cit. pág. 79.
54
Pyrard de Laval, "Voyages", Paris, 1615, pág580.
55
"Épocas de portugal Economica, pág. 271
56
Vide as acusações do judeu João Nunes: Largo de consciencia", me matéria de usura, in Rodolfo Garcia, loc. cit pág.
17.
57
Pedro Calmon, op. cit. pág. 52.
58
"A influência dos negociantes israelitas estendia-se ao engenho produtor, à firma embarcadora, ao
intermediário de Lisboa a quem era consignada a mercadoria, às praças consumidoras do centro e do sul da Europa.
Quando a Espanha se colocou de permeio entre os engenhos do Brasil e os compradores flamengos, estes imaginaram a
organização de uma companhia-mercantil de conquista e empreendem a guerra de 1624-1654". Pedro Calmon,
"Espirito da Sociedade Colonial Companhia Editora Nacional São Paulo, 1935, pág. 36. Cf. Frei Vicente do Salvador,
História do Brasil, 3ª ed. pág. 404.
CAPÍTULO III

O Tráfico de Carne Humana

DEPOIS de haver sido a terra do pau-de-tinta, o Brasil era o açúcar e o açúcar


era o negro, afirma documentado historiador de nossos dias1. Está de acordo com o
velho cronista Antonil que assegura serem os escravos pés e mãos dos senhores de
engenho2. É a mesma opinião que se encontra no Breve discurso sobre o estado daí
quatro capitanias conquistadas": sem escravos,os engenhos não podiam moer.
Monocultura latifundiária, a da cana de açúcar, exigia enorme massa de escravos3.
Florescia, pois, o comércio de carne humana à medida que prosperava a Indústria
açucareira. O suor do negro cimentava a riqueza do segundo ciclo da colonização.
Ligados, o comércio de escravos e a produção do açúcar, acabariam caracterizando
toda a economia ultramarina4.
A escravização do indio, tupi ou gé, realizada a principio brutalmente; depois,
legalizada pelas famosas cartas-régias, pelos alvarás e provisões das guerras de corso
e pelas condenações ao cativeiro5, não satisfez as exigências de mão-de-obra para o
plantio e moagem da cana.
O indio furtava-se pela fuga, pela resistência, pela selvatiqueza e pela própria
morte ao trabalho braçal, ao papel forçado de coolie a que o colonizador o queria
submeter. Era inadaptável e indomável. Morria aos montões, de clara o padre
Antônio Vieira. E sua captura custava maior desperdicio de gente e de esforços do
que a obtenção do transporte dos negros da Africa6.
Demais, o catequizador, alçando a cruz, defendia o indigena e o aldeava.
Por isso, segundo Gilberto Freyre, os jesuitas eram "inimigos terriveis dos senhores
de engenho7". A luta entre padres e escravizadores foi longa e áspera. Começou em
Piratininga com o judeu cohen João Ramalho e terminou, infelizmente, com a vitória
dos escravizadores. Foi mais acesa em São Paulo, porque ali o sitio merecia melhor
acolhida à imigração judia8. No Norte, os senhores de engenho viviam endividados9,
presos à usura judaica. O judaismo os manobrava e forçava a lançar mão do operário
africano, que os negreiros, também enfeudados a Israel, iam buscar do outro lado do
oceano Atlântico.
Assim, desde os albores do ciclo do açúcar, começou o emprego da mão-de-
obra negra. O horror à atividade manual e a instituição do trabalho escravo, ambos
caracterizadores das colonizações peninsulares, tiveram como primeiros
impulsionadores os judeus de Portugal10.
A metrópole estava sob o dominio judaico, que se exercia através de uma rede
de créditos, do giro de fundos, das alianças de sangue, do exercicio dos cargos
técnicos, da usura, da agiotagem, da corrupção, da própria influência dos médicos, na
quase totalidade hebreus, no seio das familias, influência que contrastava até a dos
capelões, curas e confessores11. Ali, desde o recuado tempo das monarquias

1
Gilberto Freyre, Vasa Grande e Senzala", 22 ed Schimidt, Rio, 1936, pág. 196.
2
André João Antonil. Vultura da Opulência do Brasil por sua drogas e mina V, ed. Taunay, S. Paulo - Rio, 1923.
3
Gilberto Freyre, op. cit. prefácio, pág. XII.
4
Pedro Calmon, "História da Civilização Brasileiro, pág. 29.
5
Gustavo Barroso, Méias e Palavras", Rio, 1917, cap. Cartas Régias Alvarás e Provisnes, D. Domingos do Loreto
Couto, Mesagravos do Brasil e Glórias de Pernambuco, ed. da Biblioteca Nacional, Rio, 1904 pág. 69.
6
João Lúcio de Azevedo, "Os jesuítas no Grão-Pará
7
Op. cit. prefácio, pág. XVIII, e pág. 135. No seu livro "O templo Maçônico, o maçon Dario Veloso tem a desfaçatez
de dizer que eram os jesuítas que escravizavam os índios ...
8
Paulo Prado, "Paulística".
9
Gilberto Freyre, op. cit. pág. 39.
10
Idem, idem pág. 165.
11
Varnhagen, "História Geral do Brasil".
visigóticas, os judeus haviam se especializado no comércio de escravos12. O que
estava de pleno acordo com o código judaico CHOSCHEN HAMISCHPOT, em 227,26:
"É permitido explorar um não-judeu, porque está escrito que não é
permitido explorar seu irmão13. Como negar ainda a intromissão judaica no tráfico de
carne humana, quando um judeu de nota declara textualmente que:
Não há exagero em afirmar que não há quase fato histórico de importância nos
quatrocentos anos de vida nacional, no qual não tenham influido ou colaborado, ás
vezes proeminentemente, elementos de raça hebraica14. Ora, que fato de maior
importância histórica para nós do que a escravidão? O comércio de escravos é tão
fundamentalmente semita que sempre foi denominado tráfico fenicio".
Visando os lucros fáceis do comércio de escravaria, por si e pelos seus
prepostos, a judiaria de Espanha e Portugal se entregou ao tráfico. Toda a Europa,
depois seguiu o horrivel exemplo15. O açúcar exigia braços negros para enriquecer o
judaismo sem entranhas, que manobrava a sua produção e seu comércio, tanto nas
praças da metrópole lusitana como nas bolsas das cidades flamengas.
Os judeus portugueses, na quase totalidade, possuiam cabedais nas
companhias mercantis dos Paises-Baixos16. Uma simbiose de interesses e finalidades
unia as sinagogas de Lisboa e do Porto às de Roterdam, Amsterdam, e Antuérpia. As
Flandres protestantes e revés à casa de Austria eram o refúgio natural do ouro
judaico e das pessoas judaícas, as quais tinham suspenso sobre a cabeça,
cqntínuamente, na Peninsula, o gládio vingador do Santo Oficio. Há uma
correspondência constante entre o judaismo que age no Mar do Norte e o judaismo
que age no estuário do Tejo. Dentro da história dos tempos coloniais, é impossivel
tratar de um sem ter o outro em conta. Ambos se articulam no sentido vingativo de
destruir a riqueza, de abater o prestigio e de minar a força dos reis católicos. Um dia,
quando as circunstâncias se mostrarem favoráveis, com as armas dos mercenários
holandeses, os judeus se lançarão sobre a presa cobiçada. Amsterdam, declara o
escritor judeu E. Eberlin, era uma Nova Jerusalém, onde se haviam acolhido os
israelitas expulsos da Espanha em 1492, de Portugal em 1497 e 1498, de Nápoles em
1519, de Gênova e Veneza em 155017. A sua sinagoga chamava-se Casa de Jacob e
foi célebre.
O negócio de escravos se torna o mais lucrativo e amplo da terra"18. Régulos e
sobas de Dahomey, de Angola, da Serra Leoa, do Congo e da Guiné vendiam os
prisioneiros capturados em suas razzias bestiais ou os próprios compatriotas
condenados, por certos crimes, à escravidão. Vendiam-nos por búzios que serviam de
moeda, por fumo em corda, por um galão de aguardente. Três rolos de fumo
bastavam para pagar um negro forçudo. Com essa massa negra se atulhavam os
infectos porões dos horrendos navios negreiros. E cada escravo custava no Brasil, nos
primeiros tempos, 150 a 200 mil réis. Na segunda metade o século XVI, começou o
infame negócio, que durou três séculos. Trouxeram negros da Guiné, do Congo, de
Angola, doSenegal, do Sudão, da Hotentócia e de Moçambique. O grande entreposto

12
Chamberlain, "Die Grundlagen des neuenzehnten Iahrhunderts".
13
Werner Sombart, "Le Bourgeois", pág. 323.
14
Dr. Isaque Izecksom. "A contribuição judaica na formação da nacionalidade brasileira" in "Almanaque Israelita do
Brasil, ed. Samuel Weiner, Rio 1935.
15
A. Cochin, Mabolition de llesclavege", Paris, 1851, vol. II pág 281
16
João Lúcio de Azevedo, "História dos cristãos novos portugueses, pág 183 e 186.
17
E. Eberlin. Nes juifs dlaujourdhui", ed. Rieder, Paris, 1932, pág. 36.
18
Pedro Calmon, op. cit. pág. 26. Os judeus não podiam deixar de lado negócio tão amplo e lucrativo. E não o
deixaram. Leiam-se estes trechos de um Memorial de 1602 citado de Mário Sáa, "A invasão dos judeus", pág. 75:
"Haverão os da maçam (os judeus) mais o contrato dos negros da Guiné ... feitores cristãos-novos que têm arrendado o
comércio da provincia da Guiné, Santo Domingo, Rio Grande; e estão por senhores destas partes, aonde contratam com
os negros, e haverá nestes dois pontos e terra, de gente perto de mil vizinhos que resgatam negros para mandarem
às Antilhas ...
era a baía de Cabinda19. De 1575 a 1591, somente de Angola vieram 52.053,
favorecidos por uma redução de direitos20. Barbinnais calcula as entradas de escravos
em 15 mil anualmente21.
Segundo o alvará de D. João III, de 29 de março de 1549, cada senhor de
engenho "montado e em estado de funcionar" podia receber 120 negros da Guiné e
São Tomé22. Para mostrar a quantidade de negros introduzida no Brasil, basta dizer
que a população total do pais em1798, era computada em 3.250.000 habitantes,
sendo escravos 1.361.000; em 1818, em 3.817.000, sendo escravos 1.728.000!
O comércio judaico de carne africana corre parelho com o comércio judaico do
açúcar. Pero de Magalhães Gandavo calcula, no seu tempo, a produção açucareira
anual de 6 a 10 mil arrobas23. No século XVII, o mascavo valia
20 shillings a arroba24. Um negocio da China, obtido pelo braço negro com a direção e
iniciativa do reinol ou do ilhéu agricola, que encheu de ouro a judiaria luso-flamenga!
Desde que o judeuzinho de Goa, o inconstante e ladino Gaspar da Gama,
desceu no primeiro bote da armada de Cabral em Porto Seguro e foi, talvez, o
primeiro a desembarcar25 reconhecendo a nossa terra antes de todos - E com
certeza, verificando a existência do lenho que os naturais chamavam ibirapitanga, o
pau-vermelho, já encontrado pelos castelanos nas suas conquistas26; desde o
alvorecer do Brasil, o judaismo o explorava. Primeiramente, tomou conta da indústria
extrativa do pau-de-tinta; depois dominou a do acúcar e o negócio de escravos, do
qual ela dependia. Com este, além de se engorgitar de ouro, ainda conseguiu a
formação de uma sociedade fácil de ser dominada através da depravação social que
fatalmente decorre da passividade da escravidão. Quantos proveitos num saco?
Na sua ânsia de tirar desforra dos reinos católicos da Península, onde eram, de
certa maneira vigiados e, uma vez por outra, perseguidos, os judeus procuraram
firmarse bem nos países protestantes do Norte e, com suas armadas e soldados,
desferir golpes mortais no poderio colonial peninsular. As rivalidades entre Inglaterra
e Castela, Holanda e Portugal, foram criadas, desenvolvidas e exploradas pelo
judaísmo. Enquistados, primeiramente, nos Paises-Baixos, procuraram, depois,
penetrar na Inglaterra, de onde outrora haviam sido expulsos por exigência dos po
vos cansados de suas traficâncias. Haviam participado dá revolução de Cromwell por
portas travessas, como sempre, tirando a sardinha com a mão do gato. Aliás, na
opinião de grande publicista judeu, foi o espírito judaico que triunfou com o
protestantismo27. As colônias judaicas, de Hamburgo e da Holanda, compostas de
"marranos escapos à Inquisição espanhola", como escreve Bernard Lazare, acharam
meios de se entenderem com o governo do Protetor, a fim de poderem os judeus
voltarem à Inglaterra, de onde, há séculos, tinham sido banidos28.
Encontraram facilidades no caminho. Em primeiro lugar, existiam
"incontestáveis afinidades" entre o espírito mercantil do judeu e o espírito positivo do
inglês,"cujo caráter, diz Emerson, pode ser reduzido a um dualismo irredutível, que
fez desse povo o mais sonhador e o mais prático do mundo, o que igualmente se
pode dizer dos judeus29". Depois, que é o puritanismo, no apogeu do poder de

19
Visconde de.paiva Manso. "História do CongU, Lisboa, 1877, pág.04.
20
Idem, págs. 84 e 140.
21
"Nouveau voyage autor du monde", Paris, 1728, págs. 111 e 181.
22
Perdigão Malheiros. "A escravidão no BrasiV, tomo III, págs. 6-7.
23
"História da Província de Santa Cruz", Rio, 1924.
24
William Dampier, "Voyage aux Terres Australes, a la Nouvelle Hollande, etc., en 1699", Amsterdam,
1705.
25
Dr. Izaque Izeckson, loc. cit. pag. 4.
26
Varnhagen, "História Geral do Brasil", vol. I, pág. 21. Os orientais chamavam ao Brasil sapang segundo diz Marco
Polo, V. na ed. Yule.
27
Bernard Lazare, "L'Antisémitisme", ed. Crés, Paris, 1934, tomo I, pág. 225.
28
Idem, idem pág. 240.
29
) Idem, idem, idem.
Cromwell? Sombart diz que é o mesmo que o judaísmo30. Macaulay considera os
puritanos judaizantes fanáticos que se encerravam nas doutrinas e práticas do Antigo
Testamento, única fonte, para eles, da vida religiosa, civil e política31. Taine sente
neles o farizaísmo estreito32, embora lhes reconheça a grave e rude energia semi-
bárbara dos nórdicos. Aliado ao judaismo, o puritanismo setentrional, na opinião de
Vermeil, construirá o mundo moderno. No seu pensamento dogmático, os bens
materiais são um dom de Deus e é a própria reliqião que inspira e encoraja o espírito
empreendedor aventureiro33. E, afinal, Cromwell ia se tornar o protetor dos judeus e
do judaísmo na Inglaterra.
"Nenhum homem no mundo, entre os não-judeus, estava mais imbuído de
judaismo do que Cromwell; nenhum terá, tal vez, contribuído mais para a judaização
da civilização mo derna no mundo inteiro. Cromwell é o profeta no sentido hebraico
da palavra, o profeta que não hesita em se pôr à testa dos descontentes e a dirigir a
revolução, buscando suas inspirações e justificações na bíblia, profundamente
convencido de ser o eleito de Deus, o instrumento da Divina Providência34".
O maior instrumento de aproximação entre os judeus holandeses e hamburgueses,
quase todos de origem lusa, e Cromwell foi o célebre Manassé-ben-Israel, que se
serviu dos bons ofícios do cristão Edward Nicolas. Os sentimentos nacionais eram
vivamente contrários à entrada dos judeus no país, apesar do puritanismo das hostes
do Protetor e das inclinações pessoais deste. O parlamento opôs-se. Depois de
dissolvido, Manassé voltou a insistir. Enfim, os judeus "fixados à margem do rio
Tâmisa, tinham amigos, parentes e espiões em todas as comunidades (Kahals) do
continente. Demais, havia-os nas colônias e por toda parte.
Por meio dessas mil inteligências, toda a diáspora estava a serviço de
Cromwell. E, sobretudo, dispunha do poder do ouro35".
Outro judeu que muito serviu nas negociações para a entrada dos israelitas na
Inglaterra foi aquele circuncidado natural da terra portuguesa de nome Manuel
Martins Dormido, que emigrara para as Flandres e lá passara a chamar-se Avid
Abravanel. Ele "fez penetrar no convencimento de Cromwell as vantagens em aceitar
os judeus naquele pais, dando-lhes todas as liberdades de culto... O judeu errante
achou acolhimento na Grã-Bretanha. E é hoje a Sinagoga de Londres que exerce
hegemonia em todo o mundo sobre o povo de Israel36". Seu descendente, Salomão
Dormido, foi o primeiro corretor da Bolsa de Londres.
O ouro judaico, obtido em maior parte nos comércios, e indústrias resultantes
dos descobrimentos e conquistas dos peninsulares, mudava de pouso ao sabor dos
intereses da gente sem pátria, criando e desfazendo hegemonias. O século XVII é o
grande século do comércio negreiro. Os judeus vão exercê-lo manobrando habilmente
por trás do governo inglês conquistado desde Cromwell, de cujas boas graças
dispusera à vontade o riquíssimo Antônio Fernandes Carvalhal, o Rotschild da época.
Em 1560, escreve Gina Lombroso, de raça judaica, baseando-se em fontes inglesas, a
Inglaterra toma à Espanha "o comércio que mais lucros lhe iria dar", o dos escravos37!

30
"Le BourgeoM, cap. XI e VO, pág. 292-295.
31
Lord Macaulay, Mstoire D'Angleterre depuis l'avénement de Jacques II", trad. Montégut, cap. I.
32
"Histoire de la littérature anglaise", tomo 14 pág. 7.
33
E. Vermeil, "Etudes sur la Reforme", pág. 907.
34
Georges Batault, °Le probléme juiV, ed. Nourrit Paris, pág. 189.
35
L. Hennebicq. "Genése de I'imperialisme anglais", Paris, 1913, pág. 118.
36
Mario Sáa, "A invasão dos judeus°, 1935 pág. 47.
37
Gina Lombroso, "La rançon du machinisme", ed Pavot, Paris, 1931, pág. 136. A respeito do judeu luso Antonio
Fernandes Carvalhal, o Rotschild do tempo de Cromwell, citado um pouco antes, V. João Lúcio de Azevedo, "História
dos cristãos-novos portugueses", pág. 422. Em 1696, Carlos II de Espanha assinou contrato com a companhia judaico-
portuguesa da Guiné para o fornecimento de escravos à América Espanhola, o qual foi rompido em 1701 por abusos.
Os armadores judaico-franceses organizaram a Compagnie Royale de Guiné e contrataram o tráfico com a Espanha. O
testa-de-ferro dos judeus era Bubasse, governador de S. Domingos. Deviam fornecer 4.800 peças por ano. Adiantaram
ao Tesouro 200 mil escudos para fornecer mais 800. Em 1712, o negócio foi feito com o próprio Governo Britânico.
"Os navios ingleses são os navios negreiros por excelência e enxameiam a receber a
carga infame nas abras e enseadas da costa da Guiné. A moeda inglesa Guinéu
guarda a memória do tráfico de carne preta38. 0 governo britânico recompensa com
títulos nobiliárquicos os grandes negreiros. João Hawkins, por exemplo, é elevado a
baronete pelo impulso dado ao comércio de escravos39.
Os cuidados da judiaria inglesa, alarpadada à sombra do governo real, pelo vil
e rendoso negócio, se manifestam a cada passo, durante séculos, nos tratados
diplomáticos.
Pelo tratado de Utrecht, em 1713, a Inglaterra consegue o monopólio do
comércio de escravos por trinta anos.
Pelo tratado de Paris, seguido da Paz de Quebec, em 1763, a Inglaterra obtém
o direito de ancorar navios em Porto Franco e Porto Belo, nas Antilhas, bases de
contrabando e do "monopólio do tráfico para América do Sul40" Em 1799, o ministro
Cannig declara, sem pejo, ao parlamento, com todas as letras, que efetivamente, a
Grã-Bretanha "exercia o monopólio do tráfico". Mais tarde, a confissão de Benjamin
Disraeli, primeiro ministro, nos dará a conhecer que não era a Inglaterra, mas os
judeus governando-a e servindo-se dela...
No século XIX, mal o Brasil se tornou independente de Portugal, a Inglaterra
esqueceu que havia exercido o infamante monopólio do comércio de carne humana,
que o havia advogado e defendido com unhas e dentes, que o havia consagrado nos
tratados internacionais e nas discussões do parlamento, e começou a fazer da sua
supressão, em nome da humanidade,"uma questão de honra". Contra o Brasil fraco,
desarmado, ameaçou até empregar a força41. É que ao judaísmo do Kahal londrino,
dominador do mundo, não convinha se desenvolvesse na América do Sul um grande
império, sendo necessário, para entravar-lhe o progresso desde logo, diminuir-lhe a
mão-de-obra e desmantelar-lhe a economia.
Nos bons tempos do século XVII, a Inglaterra não fora tão humanitária. O
judaísmo anglo-holandês enchia-se com o ouro do açúcar produzido pelo suor do
escravo e com o ouro do preço do escravo. O açúcar vinha de Pernambuco. O negro
que o produzia vinha de Angola. Um e outro lado do Atlântico tropical davam o
mesmo resultado: ouro! Não seria melhor, ao invés de continuar ganhando como
intermediário e fornecedor de mão-de-obra, tornar-se o dono incontestado das duas
fontes de riqueza? Os ganhos se multiplicariam. A esse pensamento, a cobiça do
judaísmo se alvoroçou. Os estados-maiores das sinagogas estudaram a questão e,
ajudados da política européia em que influíam, lançando protestantes contra católicos
e vice-versa, decidiram o golpe. A conquista do Nordeste brasileiro e de Angola e
Luanda pela companhia das Indias Ocidentais revela um plano judaico de grande
envergadura. A documentação histórica mostra-o na sua limpidez. O conde de
Nassau, fidalgo alemão a serviço do Kahal, quando toma o lugar de preposto ou

Como, depois, a Espanha o não quisesse renovar, diz o "Grande Dicionário universal do Século XX", a Inglaterra
acendeu a guerra na Europa, obrigando Portugal a entrar nela contra a Espanha, a fim de prejudicar o tráfico franco-
espanhol. Cf.Taunay "Na Bahia Colonial", págs. 321-322.
38
Cf. Cunnigham, "The growth of english industry and commerce in modern times", Cambridge University
Press, pág 25. Sobre o comércio de escravos exercido pela Grã-Bretanha é conveniente ler o cap. I da obra de Anton
Zishka, "Der Kampf mundie Welmacht Baumwoll". Os ingleses chegaram a organizar fazendas de reprodução de
escravos na Virgínia, verdadeiros Haras de negros! De 1680 a 1700, em vinte anos, tiraram da Africa 300 mil pretos
nos três primeiros decênios do século XVIII, 150 mil. Dizia-se que "Liverpool era calçada com crânios de negros". Era
o monopólio da força motriz, então muscular.
39
Nina Rodrigues, "Os africanos no Brasil", pág. 13.
40
Gina Lombroso, op. cit. pág. 163.
41
Armitage, "História do Brasil", págs. 189-191. Todas as misérias, infâmias e violências praticadas pelo governo
judaico da Inglaterra em matéria de tráfico negreiro, que ela explorava, se encontram descritas no panfleto "A liberdade
dos mares ou o governo inglês descoberto", traduzido livremente do espanhol, sem nome de autor, tipografia Miranda e
Carneiro, Rio, 1833.
procônsul da colônia judaica de Pernambuco, traz com escopo principal, tornar o
Recife "o centro distribuidor da escravaria42".
Logo em 1640 ou 41, uma expedição mandada do Brasil holandês se apoderava
de São Paulo de Luanda43. Então, o tal centro distribuidor de escravos pode funcionar
do seguinte modo: as urcas holandesas saíam dos portos da Zelândia ou do Texel em
demanda da África, enchiam os infectos porões de escravos e vinham de rota batida
para Pernambuco, de onde voltavam à Holanda, carregadas de açúcar44. Cada viagem
redonda, ida e volta, era, assim, admiravelmente aproveitada para os lucros judaicos.
O negócio de escravos rendia por ano aos judeus holandeses a respeitável soma de 6
milhões de florins!
Em 1703, o tráfico judaico de escravos para o Brasil era de tal importância que,
entre a Bahia e a África, retomada aos holandeses, mais de 200 brigues ou bergantins
nele eram empregados45

42
Hermann Watjen, "das Iudentum und die Aufgang der moderno Kolonisation", apud "Der Hollandische Kolonisation
in Brasilien", Gotha, 1921.
43
Barlaeus, "Res Gestae".
44
Dapper, "Description de 1'Afrique°, pags. 370-371; David B. Warden, "Histoire de 1'Empire du Bresil", Paris, 1832,
pág. 425. Cf. Constâncio, "História do Brasil", decalcada da de Warden.
45
Taunay, "Na Bahia Colonial", pág. 327.
CAPÍTULO IV

A Pirataria e a Conquista

A DINASTIA de Ávis sossobrou, morrendo devagar e matando, heroicamente,


nos fulvos areais de Alcácer- Quibir. A poderosa mão de Filipe II, o grande rei
católico, o asceta do Escorial, se estendeu sobre o reino lusitano, e o Brasil passou,
em 1580, para o domínio espanhol. Espanha significava a luta aberta contra a heresia
protestante e o judaísmo. Todos os portos brasileiros foram logo fechados ao
comércio das Províncias Unidas. As sinagogas, estremeceram de pavor, encarando os
prejuízos que disso adviriam. Apresentava-se a ocasião de conquistar, usando a
valentia flamenga, os empórios cobiçados do açúcar e do negro.
Já as ambições européias vinham corvejando sobre o vasto Brasil. As tentativas
huguenotes da criação de uma França-Antártica e de uma colônia no Maranhão
haviam fracassado diante dos esforços de Mem de Sá e Jerônimo de Albuquerque. A
pequena nobreza provinciana calvinista da França ensaiara o corso marítimo contra o
comércio e as feitorias de Portugal e Espanha1. Das suas pretensões, a
estabelecimentos definitivos, somente ficaram os nomes de uma ilha na Guanabara e
da capital maranhense. O espírito emprendedor pré-capitalista europeu se projetava,
nos séculos XVI e XVII, no corso e na pirataria, sem que fosse possível traçar uma
linha nítida de demarcação entre essas atividades. A pirataria protestante, insuflada
pelo judaísmo, se exercia incessantemente contra os reinos católicos. Na Inglaterra,
houve uma verdadeira idade áurea de piratas: sir Walter Raleigh, o grande
Frobisher,os irmãos William e John Hawkins, o último dos quais foi feito baronete,
como já vimos, pelos serviços prestados ao comércio negreiro, sendo chamado pelos
seus contemporâneos: "a wonderful hater of spaniards"2. Entre eles, estavam os que
salteavam nos mares e costas do Brasil: Lancaster, "agente de uma companhia de
Londres" (?), que tomou o Recife em 1595, Drake, Me noble pirate" e Cavendish,
príncipe dos ladrões do mar, o qual, de volta das suas frutuosas expedições, subira o
Tâmisa com mastros dourados e velas de damasco nos seus galeões3!
No começo do século XVII, durante o governo de Dom Luiz de Souza, entre
1616 e 1621,os piratas ingleses pretenderam estabelecer-se no Espírito Santo e Rio
de Janeiro, desistindo do intento, porque, avisado a tempo, o governador tomara
providências adequadas.
A pirataria, eminentemente protestante, serve como reconhecimento das
possessões do adversário católico e para a obtenção de recursos para o assalto
definitivo. É a técnica judaica da desapropriação forçada em que foram mestres os
judeus bolchevistas. A luta que, então, se travava tinha um que de religioso. Vêde
bem os fatos. Os entrelopos huguenotes franceses durante longo tempo percorrem às
costas abandonadas do Brasil que acordava, pilhando as naves abarrotadas de pau-
de-tinta, até que se estabelecem nas ilhas de S. Luiz e de Villegaignon. Os corsários
puritanos ingleses atacam as povoações litorâneas e também pretendem fixar-se.
Afinal, os piratas calvinistas holandeses tomam a frota espanhola da Prata, na baía de
Matanzas, a qual lhes fornece meios pecuniários para o equipamento de grandes
expedições, e vêem saltear nossas cidades, como fez Paulo Van Ceulen, repelido da
Bahia de Todos os Santos em 1604. Os próprios bucaneiros e flibusteiros das Antilhas
andam de longada até Santa Catarina.
Tudo isso preludia a conquista das prósperas capitanias do Norte.

1
H. Pigeonneau, "Histoire du commerce de &rance'' Paris, 1889, tomo II, pág. 170. A pirataria sempre foi
eminentemente protestante.
2
Formidável abominador de espanhóis. W. Sombart, Me Bourgeois", payot, Paris, 1926, pág. 93. J. M. de ma cedo.
Meméride Histórica do Brasil°, typ. do Globo, Rio de Janeiro, 1877, pág. 188.
3
Douglas Campbell, Me Puritans in Holland. England and América°, 1892, tomo II, pág. 120. Cf. Hakluyt, "Histoire
des Voyages".
Conforme depõe Gabriel Soares, os moradores do extenso litoral brasílico
viviam tão aterrorizados com a pira taria que traziam sempre "a roupa entrouxada",
para se fazerem ao mato, mal avistavam o velame de qualquer nau grande. A
acometida de Van Ceulen foi a quarta sofrida pela Bahia, assegura o autor da "Razão
do Estado do Brasil". Os resultados dessas pilhagens são quase sempre magníficos.
Na frota da prata, por exemplo, os holandeses se apoderaram de quinze
milhões de torneses, por certas libras tornesas ou escudos torneses, que valiam
muito mais do que os simples escudos ou libras parisis, nos velhos sistemas
monetários.
O historiador Pedro Calmon andou bem inspirado, quando escreveu: "Por
detrás dos marinheiros flamengos, estava o judeu português de Amsterdam e Haia4".
Adivinhou um pedaço da verdade, mas não a verdade toda. Por detrás de todos os
piratas herejes, anticatólicos, estava o judeu internacional, o homem sem pátria, o
mamonista adorador do Bezerro de Ouro. Não houve expedição de corso ao Brasil que
não contasse com as informações dos judeus residentes no seio da população
brasileira. Esses espiões informavam os navios piratas das condições de defesa oas
praças, permitindo-lhes dar os golpes com toda a segurança. O maior defensor dos
judeus na nossa literatura histó rica, Sr. Solidônio Leite Filho, glorifica-os por esse
papel infame: os israelitas foram os mais poderosos auxiliares dos corsários
estrangeiros e se aliaram aos ingleses que pretendiam estabelecer-se entre nós5.
A pirataria foi o prefácio da conquista. O judeu, que tão poderosamente
colaborara no prefácio, melhor ainda colaborou na obra.
Há um fundo religioso e racial nessa luta de heréticos assolados e ajudados por
judeus, contra católicos, papistas, como se dizia, os quais haviam expulso os
israelitas da Peninsula, para não se afogarem na sua invasão. O rancor judaico não
conhecia limites contra as coroas de Castela e Portugal, unidas na cabeça dos Filipes.
Confessa-o, quase sem ambages, o judeu Mendes dos Remédios: "A prosperidade dos
judeus lusos na Holanda vingou-os do desprezo do monarca peninsular que os
expulsara6". Em Capítulo anterior, documentadamente, mostramos como a Holan da
estava abarrotada de judeus e de capitais judaicos. Segundo escrevia, em 1644, o
embaixador Souza Coutinho ao conde de Vidigueira, Holanda era a mãe dos cristãos-
novos que dali se derramavam para o Brasil. Era ainda a fonte da trindade invisível do
aforisma alemão vulgarizado por Goethe: Krieg, Handel und Piraterie, dreienig sind
sie; nicht zu trenen7. O judeu explorava essa trindade invisível, valendo-se das
disposições guerreiras e aventureiras que o comércio despertaria nos pacatos
holandeses, os quais, já agora, ávidos de pecúnia, quando não tiravam grandes lucros
de uma atividade ou região, se voltavam para outras8.
Na insuspeita opinião de Oshlow Burrish9, as grandes companhias de comércio
dos séculos XVI e XVII não passavam de companhias de conquistas, providas de
privilégios e poderes políticos, que fundavam fortalezas e estabeleciam governos,
verdadeiras organizações permanentes de pirataria, a qual, segundo Sombart,
formava um ramo de comércio regular dessas associações. A das Indias Ocidentais,
idealizada por Wilhelm Usselimex, que conquistou o Brasil para os judeus, entre 1623
e 1636, despendeu 4 milhões e meio de florins, armando 800 navios; mas capturou
540, cuja carga somente valia 6 milhões, ganhando ainda 3 milhões como que

4
Pedro Calmon, op. cit. pág. 60.
5
Solidonio Leite Filho. op. cit. pág. 60.
6
"Os judeus em Portugal", pQ. 342.
7
Guerra, comércio e pirataria formam uma trindade invisível...
8
E. Laspeyres, "Geschichte der Volkswirthschaftlichen Anschauungen der Niederlander", 1863, pág. 60.
9
"Batavia ilustrada or a wiew of the Policy and Commerce of the United Provinces", 1728, pág. 333.
pirateou mares afora aos portugueses10. A espoliação dos engenhos dos
pernambucanos que se opuseram à conquista rendeu mais de 500 mil florins!
Formaram-se duas companhias de comércio e pirataria na Holanda, com
capitais israelitas. A primeira, das Indias Orientais, nasceu em 1602 e deu tais lucros
que inspirou a segunda, das Indias Ocidentais, em 1621, com privilégio exclusivo do
tráfico e navegação na América e na costa da África, isto é, o domínio dos empórios
do açúcar e do negro. Os judeus peninsulares forneceram para essa última companhia
a soma redonda de 18 milhões de florins11. De posse a companhia de suas patentes
de exclusividade, seus diretores "movidos pelos hebreus", determinaram fosse o
Brasil o alvo da conquista12.
No Capítulo antecedente, fizemos notar como o regime da escravidão, além de
proporcionar grandes lucros aos judeus, permitia o amolecimento da sociedade,
facilitando-lhes dominá-la mais adiante. A decadência moral do Brasil do século XVII
chegara ao mais alto ponto. O judeu e o flamengo aproveitaram-se disso. O
panorama da corrupção, da venalidade, do escândalo, da desmoralização, está
pintado em muitos autores. Calado resume-o admiravelmente nesta frase: "os ricaços
não estavam acostumados a morrer". Foi o que contribuiu para favorecer a
conquista13.
Judeus impeliram e custearam, de fora, a empresa conquistadora; judeus
esperavam, aqui dentro, os conquistadores, prestes a desempenhar todos os papéis,
de modo a aligeirar-lhes a tarefa. Esperavam melhor sorte receosos da inquisição,
declara Solidônio Leite Filho, que vinha assentar casa naquela capitania14". Do mesmo
modo que haviam sido os melhores auxiliares de corsários e piratas, foram os
melhores auxiliares dos conquistadores que lhes sucediam15. O grave Southey
confirma que, ou faziam causa comum com o batavo ou fraca resistência lhe
opunham16.
Os judeus e cristãos-novos do Brasil deram dinheiro', segundo Frei Manuel
Calado para "os gastos da conquista de Pernambuco". Ministraram todas as
informações destinadas a permitir os ataques, desembarques e marchas dos
conquistadores. A invasão ainda se aprestava nos portos zelandeses e já, aqui.,
informada dos preparativos, a judiaria se entregava à mais terrível espionagem.
"Largas informações sobre as coisas do Brasil" recebia, "por intermédio dos hebreus
brasileiros", o almirante holandês17.
A primeira expedição holandesa visou a Bahia, capital da colônia, em 1624.
Portas adentro, os judeus, muito numerosos, espionavam por conta dos generais
batavos18.
Em menos de dois dias, os inimigos se apoderaram da cidade. Segundo
documentos do Instituto Histórico, a esquadra vinha pejada de judeus e judias. A
população israelita da Bahia delirou de contentamento e envidou todos os esforços, o
que repetiria em outros lugares e oportunidades, para induzir os não-judeus a se
submeterem ao jugo estrangeiro19. Escrevendo a sua "Ânua do Estado da Bahia",
datada de 30 de setembro de 1626, o padre Antônio Vieira conta que a cidade foi

10
Werner Sombart, op. cit. pág. 94. A companhia idealizada por Usselimex, foi proposta aos Estados Gerais da
Holanda por Jans Andres Moerthecan, que Frei Rafael de Jesus, no "Castrioto Lusitano, pág. 14, denomina "holandês
de capacidade e esperteza". Substitua-se holandês por judeu e dá no vinte...
11
João Lúcio de Azevedo, "História de Antonio Vieira", tomo I, pág. 135
12
Solidonio Leite Filho, op. cit. pág. 58.
13
Rebelo da silva, "História de portugal", nos sé culos XVII e XVIII, tomo II pág. 338. Solidonio Leite Filho, op. cit.
pág. 59. Manuel Calado, "Valeroso Lucideno".
14
Rodolfo Garcia, loc. cit. pág. 33.
15
Solidonio leite Filho, op. cit. pág. 61.
16
Roberto Southey, "História do Brasil", tomo II, pág. 146.
17
Solidonio leite Filho, op. cit. pág. 60.
18
Idem, idem, idem.
19
Roberto Southey, op. cit. tomo II, pág. 156.
toda saqueada. Na sua maioria, os cristãos-velhos baianos, temendo não poder
resistir ao ímpeto do agressor, devido à grande quantidade de judeus que existiam na
cidade e nos quais ninguém devia confiar, retiraram-se para os matos e, sob a
direção do bispo D. Marcos Teixeira, prepararam a reação. Atormentaram os intrusos
com guerrilhas e emboscadas continuas, até que vieram os reforços e auxílios da
Espanha, na famosa esquadra de D. Fradique de Toledo, composta de naus lusas,
castelhanas e napolitanas. A judiaria deu dinheiro a rodo para a resistência flamenga.
Tudo em vão, porque, dentro da praça, fermentavam dissensões judaicas20, como na
jerusalém sitiada de Flávio Josefo. Batidos no mar e sem poder manter-se em terra,
os ocupantes da Bahia capitularam no curto espaço de um mês, espanhois,
napolitanos e lusos tomaram novamente conta da capital da colônia e sua reação em
contra dos judeus traidores não foi além da condenação à morte de alguns dos mais
comprometidos.
Como os da Bahia, os judeus de Pernambuco incitaram a invasão
flamenga e contribuíram para ela com fundos21. Reconhece João Lúcio de Azevedo
que eles "cooperaram grau demente para facilitar a conquista22". Seria de espantar
que, useiros e vezeiros nisso, assim não procedessem. A guerra da Restauração
Pernambucana durou nove anos, em alternativas de derrotas e vitórias, e durante
esse período em que se afirmou um verdadeiro espírito de brasilidade, anterior à
nossa independência política, os judeus, empenharam contra nós "vida e fazenda"23.
A expedição para a conquista de Pernambuco veio quatro anos depois da Bahia,
em 1630. Não se atrevendo a atacar o Recife, diretamente, desembarcou as tropas
que trazia, além de Olinda, na praia do Pau-Amarelo, sob o comando do "coronel-de-
guerra", Teodorico Weerdenburg, que desconhecia completamente a região por onde
pisava pela primeira vez. Guiou-o pela costa, pelos mangues e alagadiços, dos quais
era prático, o judeu Antônio Dias Paparobálos, o qual vivera muito tempo em
Pernambuco e fora, depois, para a Holanda 24. Outros judeus serviram constan
temente de guias e intérpretes fiéis aos invasores, entre os quais Samuel Cochim,
que guiou a primeira expedição ao Rio Grande do Norte25.
As tropas que a Companhia das índias Ocidentais pôs em campo durante todo o
período da conquista e ocupação não eram propriamente do que se poderia chamar o
exército holandês e sim compostas de mercenários de toda categoria e procedência.
Nem os próprios comandantes eram todos flamengos. Havia poloneses, como o
famigerado Arcizewski; os franceses, como Picard, Tourlon e La Motte; alguns judeus
como Simão Slecht e o cruel Jacob Rabbi; muitos escoceses, como o Sandalim de
João Francisco Lisbôa, quando descreve o combate do Outeiro da Cruz, no Maranhão,
segundo provam as numerosas espadas de highlander, as conhecidas e tradicionais
claymores, da coleção de armas da época da guerra holandesa no Museu Histórico.
Nos poucos canhões de bronze que ainda restam dessa epopéia, bem como nas
moedas obsidionais de cobre, prata e ouro, nunca figura o brasão heráldico das
Províncias Unidas, porém o monograma da companhia judaica: um G, um W e um C
entrelaçados, iniciais da Geoctroyeerde Westindische Compagnie, - Companhia

20
Barnhagen, "História das lutas com os holandeses no Brasil, Lisboa, 1872, pág. 38.
21
Frei Manoel calado, "Veleroso Lucideno", pág. 10.
22
"os judeus portugueses na dispersão". in "Revista de História", tomo IV, pág. 214.
23
Solidonio Leite Filho, op. cit. pág. 63. A guerra durou nove anos no seu período final; a luta, desde o início, durou
24! A conquista começa em 1630 e termina em 1637; a posse vai de 1637 a 1642; a restauração, de 1642-1654. Cf.
Oliveira Lima, "História de Pernambuxo", pág. 63
24
Varnhagen, op. cit. pág. 51. Solidônio Leite Filho, op. cit. pág. 62. Sobre o nome do "coronel de guerra" há
divergências. Uns escrevem Teodoro; outros Frederico. Netscher, em "Les hollandais au Brésil" pág. 45, grafa
Diederich. Por isso, traduzimos Teodorico.
25
Solidonio Leite Filho, op. cit. pág. 63. Tavares de Lira, "0 domínio holandês no Brasil", tip.do "Jornal do Comércio",
1915, pág. 305.
Privilegiada das Indias Ocidentais. Somente em 1647, segundo diz Netscher, os
Estados Gerais resolveram oficializar a guerra.
Os holandeses desembarcados no Pau-Amarelo apoderaram se com relativa
facilidade de Olinda e Recife. Sem recursos suficientes para resistir-lhes, Matias de
Albuquerque viu-se obrigado a retirar-se, estabelecendo-se no arraial do Bom Jesus,
onde foram juntar-se aos homens do campo, mais próprios para a grande luta que se
desenhava, e na qual mantiveram acesa com impavidez a chama da liberdade, do que
os da cidade, desacostumados de morrer, como notava Frei Calado. Vieram mais
tarde os socorros trazidos pelo almirante Oquendo, os batavos abandonaram Olinda,
incendiando-a, e se encurralaram no Recife durante um lapso de dois anos26. Foi a
deserção de Calabar,(1632) que lhes permitiu pôr a cabeça de fora, atacar Afogados,
Iguarassu, Rio Formoso, expelir os luso-brasileiros do arraial do Bom Jesus e obrigá-
los ao êxodo para Alagoas.
Nessa retirada de um povo, como que se plasmou a futura nacionalidade, na
consciência nativista formada pela fraternização guerreira de brancos, índios e negros
trazidos pelo heróico Henrique Dias, "governador dos pretos".
A tomada de Porto Calvo pelos retirantes entregou Calabar, que foi enforcado.
Parece que o desertor era a alma das vitórias dos conquistadores, pois
que, após a execução, se encolheram e começaram a perder suas energias em
dissensões íntimas e estéreis. Sendo imprescindivel por-lhes um paradeiro, a
Companhia lançou mão de um fidalgo aparentado ao Estatuder de Orange, o conde
João Maurício de Nassau-Siegen, contratado por cinco anos para a governação da
Nova Holanda, pago a mil e duzentos florins por ano e nomeado "governador,
capitão-general e almirante de terra e mar". Como a conquista não passava de um
prolongamento da pirataria, deram-lhe mais 2% sobre as presas que se fizessem.
Entrando na posse do governo, o conde deu logo toda a liberdade aos
israelitas. Pernambuco e as outras capitanias conquistadas, pouco a pouco se
tornaram "o paraíso dos judeus"27. O "amigo do peito" do governador, o"homem de
maior valia" enquanto esteve à testa do Brasil-holandês foi o judeu lisboeta Gaspar
Dias Ferreira, que vivia no Recife desde 1618 e se tornara possuidor de "respeitável
fortuna 28". Ao retirar-se do Brasil, o conde levou-o consigo. A cada ano do governo
de Nassau mais aumentava a imigração judaica. Só em 1642, quase ao fim, vieram
de uma sentada 600, que se faziam acompanhar dos seus rabinos29.
Antes da conquista flamenga, os judeus pernambucanos e os de fora viviam
"paliados com a capa de católicos30", inveterado hábito dos cripto-judeus de todos os
tempos e países. "Conquistada a capitania, declararam-se publicamente por judeus e
com os correligionários, adventícios de outras nações, fizeram sinagogas, e de tal
modo se van gloriavam de suas crenças que principiaram a denominar-se Santa
Comunidade, KAHAL KADOSH31". Quem conhece os segredos do judaísmo sabe que
isto quer dizer que organizaram um Kahal ou governo oculto para explorar a
sociedade cristã com a hazaka, o meropie e outras formas de espoliação disfarçada,
já proficiente e documentadamente estudada por Brafmann no seu "Livro do Kahal" e
Wolski em Ma Russie Juive". Do Recife, a judiaria se esparramou pra Itamaracá, onde
os chefiava o haham Jacob Lagarto32
Segundo D. Domingos do Loreto Couto, na sua obra "Desagravos do Brasil e
Glórias de Pernambuco", ed. da Biblioteca Nacional, Rio, 1904, às páginas 234-236,

26
Varnhagen, op. cit. pág. 63.
27
Rodolfo Garcia, loc. cit. pág. 33.
28
Idem, idem, idem.
29
João Lúcio de Azevedo, "História dos cristãos novos portugueses", pág. 431.
30
Solidonio Leite Filho, op. cit. pág. 71.
31
Idem, idem, idem Solidonio Leite Filho tirou isso de João Lúcio de Azevedo, "História dos cristãos-no vos
portugueses e este de Graetz "Volkst. Gesch. der ju den", C. III, pág. 331.
32
Idem, idem, idem.
durante o domínio holandês os sacramentos foram proibidos no Recife e os católicos
sofreram torturas de arrepiar. Frei Rafael de Jesus documenta exaustivamente as
perseguições judaicas, sob o pseudônimo de holandesas, contra os naturais: roubos,
morticinios, injustiças, forçamento de cons ciências, sacrilégios, torturas e até o
estabelecimento da chekita, do açougue judaico, proibindo-se a matança de qualquer
rês em qualquer lugar e para qualquer fim. Ninguém podendo abater uma rês, como
relata o "Castrioto Lusitano" (págs. 171-172), toda a gente era obrigada a recorrer ao
matadouro judaico e pagar o tributo denominado imposto da caixa" com que se
sustentam as escolas judias é se completam os impostos devidos ao governo pelos
israelitas, segundo informa Brafmann no "Livro do Kahal".
Graças a essa proteção, dominaram completamente a co lônia, tornando-se
logo, como narra Varnhagen, grandes proprietários urbanos e rurais, donos dos
cargos público notários, escrivães, e procuradores no fórum, corretores dos subornos
das venais autoridades flamengas. Os judeus que vieram com os holandeses "não
trazendo mais do que um vestido roto sobre si, em breves dias se fizeram ricos33".
Acresceram-lhes a empáfia, o luxo, a ostentação e o desprezo pela moral pública e o
decoro particular ao ponto de se unirem contra seus desmandos os calvinistas e
católicos irreconciliáveis. As próprias autoridades eclesiásticas protestantes
comungaram com o povo em uma tentativa de reação. O conde de Nassau, porém,
não deu ouvidos a ninguém. Quando se retirou, para fazer uma sinagoga de seu
palácio, afirma João Lúcio de Azevedo, a Santa Comunidade ofereceu por ele seis
tonéis de ouro, isto é, 300 mil cruzados!
Lavrava a maior corrupção entre os invasores, devido ao judaísmo que os
empeçonhava. Atingiram a mais de sete e meio milhões de florins, quase o dobro do
que custara a expedição conquistadora, os contratos lesivos e as negociatas obtidos
pelos judeus. O dinheiro dos próprios acionistas da Companhia das índias Ocidentais
foi roubado de todos os modos. Os documentos da época rezam assim: "Os senhores
deste governo, desde o principio até hoje, não procuraram outra coisa senão encher
sua bolsa, empregando para isso todos os meios e, em particular, o auxilio dos judeus
e de outros homems inconvenientes e ávidos de lucro torpe... zombando da
simplicidade dos holandeses e do mau governo deste estado, cujos segredos todos
eram melhor conhecidos a eles (os judeus) do que a nós, e, possivelmente, melhor do
que aos próprios senhores, que eles diziam predispôr, por honrarias e presentes, para
todas as suas intenções, e até para as coisas mais torpes e inconvenientes34".

Bandeira do Brasil Holandês. Na faixa branca da tricolor flamenga, o monograma da


33 Companhia Judaica ou de Nassau (?), encimado por uma corôa aberta. Nada, como se vê, além das
Frei Manuel Calado, “valeroso Luciden pags 53 e 207
34 cores, da nação holandesa. Ao lago, a marca registrada da Geortroyed Westindische Compagnie,
Do panfleto: "Brasilsche Gett Sack waer in dat Klaerlijck Vertoon wort-waer dat de Participanten van de West
conforme
Indische aparece
Compagnie haer nas
Geldtmoedas
ghebleven obsidionais,
is. Gedrucktnas chancelas
in Brasilien e nas inde
op't Reciff culatras ou nas
Bree-Bijil. Ano boladas dos
1647, "in Revista
canhões de bronze da conqui_s ta que ainda nos restam.
da sociedade Geográfica do Rio de Janeiro", tomo XXXVII, 1933 págs. 36 e segs. Em português: "A Bolsa do Brasil e
do roubo dos Adinheiros
tricolordos
flamenga é adamais
acionistas antiga de
Companhia dastodas:
Indias vermelho, azul e branco.
ocidentais, impresso Vermelho
no Recife, é o sangue
no Machado Largo, no
ano que se têm
de 1647". de derramar
O exemplar para atingir
em holandês ao azul-branco,
se encontra custodiado no cores de Israel.Veremos
Arquivo isso, claramente,
Nacional. Foi publicado em 1647, amsna
simbologia
escrito em 1643, das
aindabandeiras
no governorevolucionárias
judaico de Nassau.do Traduziu-o
Brasil, em para
1794, 1817 e 1824.
o vernáculo o padre Geraldo Pauwels. Portanto,
não somente os conquistados reclamavam contra o judaísmo; os conquistadores também!
O conde chegara ao Recife em 23 de janeiro de 1637, mostrara-se
tolerante, procurava apaziguar os ânimos, promovia melhoramentos e protegia
ciências e letras. Era o seu feitio pessoal. No governo, porém, consentia de bom
grado ou forçado pelos amos judaicos na grande corrupção. Também não se distraiu
de seu papel de realizador da conquista dos empórios do açúcar e do escravo por
conta de quem lhe pagava mil e duzentos florins anuais. Seu nome ilustre já fora
dado, como anúncio de expansão conquistadora, a uma feitoria fortificada que os
flamengos tinham encravado na costa da Mina. Em 1637, ele mandou o coronel João
Koen apoderar-se do resto da colônia africana, o que foi feito com a tomada do
castelo de São Jorge35. Há um certo sabor judaico no nome do chefe da expedição,
que a tradução alemã, de Barlaeus, chama de kühn Netscher grafa kokin36. Todos os
entendidos na onomástica israelita sabem de fonte limpa que essas formas
correspondem ao hebraico Cohen.
No Brasil, Nassau levou por diante a conquista de Alagoas, do Ceará e de
Sergipe, tentando mesmo a da Bahia, que redundou em verdadeiro desastre. O
Maranhão seria ocupado mais tarde pelo referido Koin, Koen ou Cohen, que fora à
África. Fm 1644, Antônio Moniz Barreiros ali levantou os povos, expulsando o invasor.
A posse do Ceará foi sempre precária. A da Paraíba, obtida antes da vinda de Nassau,
durou o mesmo tempo que a de Pernambuco. A do Rio Grande do Norte se assinalou
indelevelmente pelas atrocidades judaicas, à maneira das de Bela Kun, na Hungria, e
de Jagoda na Rússia. O judeu de origem alemã Jacob Rabbi, que Solidônio Leite Filho
glorifica com o titulo incomparável de "feroz israelita" e que Varnhagen apelida
"furibundo", capitão de um troço de soldados e levando sob sua ordem os índios
aliados do chefe Antônio Paraopeba ou Paraupaba, entre suas façanhas conta a
tomada do engenho Cunhau, em julho de 1646. Traindo as condições estipuladas; na
capitulação; pelos luso-brasileiros refugiados ali, levou os prisioneiros para Uruassu e
os entregou à selvageria dos indígenas, deliciando-se em presenciar as torturas que
lhes foram infligidas. A uns ataram em postes, na frente dos filhos pequenos,
cortando-os em miúdos pedaços; a outros arrancaram o coração pelas costas; muitos
desses infelizes, a fim de escapar ao suplício em que viam sucumbir os companheiros,
mataram-se com as facas de ponta que ainda traziam37!
O castigo desse monstro, felizmente, não se fez esperar. Numa noite escura do
mesmo ano, Joris Gastrmann, que governara o Ceará e lá sofrera avanias da parte
dos selvícolas que o capitão Jacob Rabbi protegia, o mandou matar, à traição, por
dois soldados do alferes Jaques Boulan, perto de Natal, quando saía da casa de Johan
Miller. Foi por isso preso e recambiado para Holanda. Deus lhe tenha em conta o
grande serviço que prestou aos brasileiros!
O monstro judaico deixava grande fortuna adquirida em morticínios e
rapinagens, documenta Tavares de Lira.
Entrementes, preparava-se a grande insurreição dos naturais contra os
abomináveis invasores protestantes-judeus. Da conjura sairia a guerra da
independência, talvez a mais bela página da nossa história, em que um pupilo de
heróis apagaria com os altos feitos das Tabocas e dos Guararapes a derrota da Mata
Redonda e o incêndio de Olinda. A espionagem judaica pressentiu-a e acompanhou-
lhe os passos. O opulento cristão-novo da Paraíba, Jorge Homem Pinto, quis peitar
Fernandes Vieira por 200 mil cruzados. Tentaram depois, assassiná-lo! O judeu

35
Varnhagen, op. cit. pág. 179.
36
Netscher, "Les hollandais au Brésil", Haya, 18:3, pág. 123.
37
Idem, idem, pás. 303 a 306. Solidonio Leite Filho, op. cit. pág. 64. As horrendas crueldades do judeu Jacob Rabbi
estão contadas com o maior luxo de pormenores por D. Domingos de Loreto Couto, op. cit. págs. 238 e 243. Houve
cenas somente iguais às da Tcheka judaica-comunista. São tão revoltantes que não quisemos sobrecarregar o texto com
essas monstruosidades daquele sadismo judaico a que se reportam os irmãos Tharaud, descrevendo a ação de Bela Kun
e seus acólitos na Hungria, em "Causerie sur Israel". Cf. Lopes Machado, "História da Paraíba"; Rafael Galanti,
"História do Brasil", tomo II, págs. 307 e segs.
Gaspar Francisco da Cunha denunciou Vidal de Negreiros ao Supremo Conselho dos
holandeses em outubro de 164438. Outros judeus apresentaram outras denúncias,
como a de Abraão Mercado, como exemplo. O Conselho não lhes deu importância.
Enfim, a 24 de junho de 1645, a revolução estalou em Ipojuca, num conflito
sangrento, entre cristãos e, judeus, rapidamente, se estendendo à Itamaracá e à
Paraíba.
Nassau já se retirara para a Holanda com seu valido, o judeu Gaspar Dias
Ferreira, intermediário de seus negócios. Em 1647, quando a companhia judaica
cogitou de mandá-lo novamente, com muita tropa, dominar os insurretos
pernambucanos, alarmado, o embaixador Souza Coutinho, "por intermédio de Gaspar
Dias Ferreira, conseguiu ter com o conde uma conferência secreta no Bosque de Haia,
às dez horas da noite, chovendo à cântaros, e, depois, pelo mesmo intermédio,
mandou prometer-lhe um milhão de florins, se negociasse um acordo com a inclusão
de Portugal em trépua larga, e, sem ela, quatrocentos mil florins. A promessa
derrubou Nassau, que, para conseguir o objetivo de Souza Coutinho, não se escusou
de aceitar a proposta da Companhia e dos Estados, mas pediu tanto, que logo se
entendeu que se escusava"39. Assim, o conde de Nassau se vendeu ao governo
português!
Mal Nassau dera as costas, vendo o descalabro em que ia a Nova Holanda, os
judeus foram se raspando do Brasil, em busca de melhor guarida: a própria Holanda,
Suriname, as Antilhas, Nova Amsterdam, que hoje se chama New York e alguns
dizem Jew-York! Os que ficaram, à medida que a sorte das armas sorria aos luso-
brasileiros, iam desertando, dos arraiais holandeses e passando para o outro lado40,
como os ratos abandonam o navio que sentem prestes a naufragar.
Não foram poucos, todavia, os que, por isto ou por aquilo, se viram obrigados a
permanecer. Quando da rendição do Recife, última etapa da Restauração de
Pernambuco, lá dentro ainda havia mais de cinco mil41! No texto da capitulação, os
flamengos condicionaram sua anistia. Não obstante, pouco depois, o Santo Oficio foi
sobre os de origem portuguesa, mas encontrou a impedir-lhe a ação o padre Antônio
Vieira, que o panegirista Solidõnio Leite Filho considera "o maior defensor que jamais
tiveram os filhos de Israel em Portugal". Os rudes batalhadores dos Guararapes, é
que nunca se fiaram neles, lembrados das traições com que haviam entregue a terra
brasileira ao hereje invasor.
A perda do Brasil holandês obrigou os filhos de Israel a uma diáspora na
América. Medrosos da volta do Santo Oficio, fugiram para as Guianas, Curaçáu,
Barbados, Jamaica, Martinica e Guadalupe, levando consigo a indústria do rendoso
açúcar42 e continuando a explorar, por ali, indignamente, o braço dos escravos que
carregaram, sem ao menos dar alimento aos pobres pretos, como costumavam fazer
no Brasil, onde o sistema judaico era entregar-lhes apenas um pedaço de terra, para
que dele tirassem seu sustento, cultivando-o com "notável escândalo" nos poucos
momentos de repouso ou nos domingos43. Houve judeus, como Benjamin da Costa
que chegaram à Martinica, conduzindo 1.100 negros44.
Uma expedição ida do Brasil sob às ordens de Salvador Corrêa de Sá e
Benevides recuperou Angola, expelindo, de lá os batavos. Desta sorte, de novo, as
duas margens fronteiras do Atlântico voltaram à coroa de Portugal. Desde 1640, o
velho reino se libertara da tutela castelhana, aclamando o duque de Bragança, D.

38
Varnhagen, op. cit. pág. 261. Frei Rafael de Jesus, "Castrioto Lusitano", Aillaud, Paris, 1844, pág. 231.
39
Rodolfo Garcia, loc. AO pág. 34.
40
Varnhagen, op. cit. pág. 219. Frei Manoel Cala lado, op. cit. pág. 302.
41
D. Francisco Manuel de Melo, "Epanáforas", pág. 524.
42
Dr. izaque Izeckson, loc. cit. pág. 7. M. Sidney, "Históire de la Martinique", Fort Royal, págs. 46, 118 e segs.
43
Solidonio Leite Filho, "Dispersão dos judeus brasileiros in "Os judeus na história do Brasil", pág. 57. D.Domingos
do Loreto.
44
Dr. Izaque Izeckson, loc. cit. pág. 7.
João IV. Ainda combalido pelos "sessenta anos de letargo" cantados pelo poeta, em
guerra com o vizinho e herdando-lhe as inimizades na política européia, não podia
acudir, como se fazia preciso, às suas terras do Brasil. Foi a energia indomável dos
vencedores dos Guararapes que as conservou libertas do he reje e do judeu, mau
grado às fraquezas da metrópole, à qual a paz custaria três milhões de cruzados. Do
campo de batalha, a luta passou para os biombos da diplomacia, onde continuaram a
silvar as serpes dos interesses judaicos. No fastígio do poder, Cromwell, o grande e
dedicado amigo do judaismo, arranjava pretextos seguidos contra os direitos de
Portugal. Os judeus se intrometeram em todas as negociações. O tal Gaspar Dias
Ferreira, que se naturalizara holandês e fora metido na cadeia por se corresponder
com os insurretos de Pernambuco, evadira-se do presídio e escrevia cartas aos chefes
pernambucanos, pretendendo ser seu procurador junto a D. João IV em Lisboa45.
Entre os procuradores enviados do Recife à Holanda, em 1652 figurava o judeu
Abraão Azevedo. E no meio de todas essas manobras aparentes e ocultas, vê-se, às
vezes, o perpassar da roupeta negra do padre Antônio Vieira, defensor dos judeus e
organizador de uma companhia de comércio com capitais judaicos e privilégio do
tráfico... Cura-se a dentada do cão com o pelo do próprio cão; mas o padre errou em
forma crassa, pensando que os males do ouro judaico se curam com o próprio ouro
judaico... "Celui qui mango du juif em meurt", diz o adágio francês...
O próprio Antônio Vieira tudo conta em carta ao conde da Ericeira, historiando
sua missão à França e à Holanda: "O primeiro negócio que propus à Sua Majestade,
pouco depois de sua feliz aclamação e restauração, foi: que em Portugal, à imitação
da Holanda, se levantassem duas companhias mercantis, uma oriental e uma
ocidental, para que, sem empenho algum da real fazenda, por meio da primeira se
conservasse o comercio da índia, e por meio da segunda o do Brasil46, trazendo
ambas em suas armadas, defendido dos holandeses, o que eles nos tomavam, e
bastaria a sustentar a guerra contra castela. A visto se juntava que, como as nossas
companhias ficavam mais perto de uma e outra conquista, seriam menores os gastos
seus e maiores os lucros, os quais, naturalmente, chamariam e trariam a Portugal o
dinheiro mercantil47 de todas as nações, e muito particularmente dos portugueses48,
que em Holanda estavam interessados nas Companhias e em Castela tinham todos os
assentos. E, porque na dita proposta se dizia que o dinheiro aplicado às Companhias
de Portugal estivesse isento do fisco (por quanto de outra maneira nem os
mercadores estrangeiros nem os do mesmo reino, que o trazem divertido por outras
partes, o queriam meter nas nossas companhias sem a dita condição ou segurança),
esta condição foi causa de que o Santo Ofício proibisse o papel da proposta, posto
que sem nome49 e que ela por então não fosse aceita. Depois que os apertos da
guerra50 mostraram que não havia outro meio igualmente efetivo, não só foi abraçada
com a mesma condição, senão com outras muito mais largas, consultadas e
aprovadas pelos letrados mais doutos do reino... Quanto fosse a utilidade e eficácia
dele, bem o mostrou a Companhia Ocidental, a qual foi trazendo sempre do Brasil o
que bastou para sustentar a Guerra de Castela, conservar o reino, restaurar
Pernambuco, e ainda hoje acudir com prontos e grandes cabedais às ocorrências de
maior importância".

45
Rodolfo Garcia, loc. cit. pág. 36.
46
Equivalia entregar outra vez o Brasil ao judaísmo, que com seus capitais iria dirigir em Portuga as mesmas
companhias que dirigia na Holanda.
47
"Dinheiro mercantil°, isto é, capital de especulação; de "todas as nações°, isto é, internacional.
48
Melhor diria: judeus portugueses, o que é bem diferente...
49
A proposta era anónima, como a companhia ou sociedade, mas o Santo Ofício cheirou-lhe de longe o judaísmo, que
transparecia das cláusulas.
50
Mais uma vez se tem que reconhecer que Werner Sombart tem carradas de razão, quando afirma: " La guerre est la
moisson du juif!
Vai por diante o padre e narra que, depois da tomada de Dunquerque,
Jerônimo Nunes da Costa, judeu e agente do governo luso (!), homem mui poderoso,
oferecia quinze fragatas a Portugal por 20 mil cruzados cada uma. Quando os
holandeses ameaçaram novamente a Bahia, fora ele, o padre, que, com sua "roupeta
remendada", arranjara com o cristão -novo Duarte da Silva 300 mil cruzados, e mais
um fulano, Rodrigues Marcos, a troco de seis vinténs cobrados sobre cada arroba de
açúcar. Negócio grande!51.
Passaram-se todas essas e outras tranquibérnias e,en fim, no ano da Graça de
1654, o Brasil se viu definitivamente livre do judaísmo holandês mas recaiu nas
unhas do judaísmo lusitano, o que, no fundo, dava na mesma. Politicamente, porém,
a Restauração de Pernambuco e Angola completava a Restauração de Portuqal, que
somente respira mais desafogado, quando o protetorado de Cromwell desaba na
Restauração dos Stuarts.
A companhia de comércio defendida pelo padre Vieira e as que lhe sucederam
até o tempo de D. José I, tinham como símbolo a estrela judaica de cinco pontas, e
daí ela passou para a heráldica brasileira, designando as Províncias e, mais tarde, os
Estados. Hoje, é brazão da República... 52

51
"Cartas do Padre Antonio Vieira", coordenadas e anotadas por João Lúcio de Azevedo Coimbra, Imprensa da
Universidade, 1928, tomo III, págs. 556 e segs.
52
Varnhagen, "História Geral do Brasil", tomo II, pág. 235. Demonstraremos quando tratarmos da República, as
origens maçônicas de seus símbolos, que o dístico ordem e progresso camufla de maneira a se pensar que vieram do
Templo da Humanidade, quando saíram do Templo de Hiram. Aliás, contra a igreja de Cristo, esses Templos se
equivalem...
CAPÍTULO V

A Ladroeira do Estanco

O ESTADO do Maranhão, composto por esta capitania e pela do Grão Pará,


imensa região ubérrima que produzia grandes riquezas e ficava mais próxima da
metrópole, tentara os conquistadores franceses e flamengos, que nela não haviam
conseguido permanecer. O judaísmo decidiu-se a tomar conta dela por outros meios
mais eficazes e menos custosos do que a guerra. Como toda sua economia
repousasse no trabalho do índio escravizado, era necessário desorganizá-la, a fim de
enfraquecer-lhe as resistências.
Não sei que influências secretas assopraram ao gover no pie Lisboa
providências proibitivas da escravização dos índios, mas estas logo encontraram o
bem intencionado apoio dos jesuítas, que catequizavam, aldeavam e defendiam o
gentio. Aquelas providências, de fundamento humanitário e verdadeiramente cristãs,
chocavam-se, entretanto, com as cruas realidades da vida colonial e, além de
minguarem a mão-de-obra a fazendas e engenhos, criavam violento dissídio entre
agricultores e padres, o qual, com o tempo, cada vez mais se agravaria.
Tal divisão entrava, seguramente, nos planos subterrâneos do kahal de Lisboa,
cujo fim era privar primeiro de união e força, às sociedades que pretendia explorar.
Os Senados da Câmara de Belém e S. Luiz desfrutavam de "imenso poder
político", podendo taxar salários e gêneros, regular o curso das moedas, prover cobre
a agricultura, a navegação e o comércio, decidir dos tributos, normear ou suspender
as autoridades1. Os cargos da governação municipal eram exercidos privativamente
pela gente nobre e deles se excluíam os "peões-mercadores"2, meio esse de evitar a
infiltração de cristãos-novos ou de quem quer que tivesse sangue de "infecta-nação",
como rezavam as velhas cartas de brazão de armas.
Essa autonomia municipal fora o apanágio da grande liberdade comunal da
idade-média. o absolutismo real, depois do século XIV, a corrompera ou dominara. No
Brasil vasto e desprovido, ela novamente florescia no grupo natural do município,
criado em luta aberta contra o meio, o silvícola e o pirata.
No estado do Maranhão, a coroa procurara estabelecer um estanco, isto é,
como define o dicionarista Morais, um monopólio organizado de qualquer ramo de
comércio. Esse devia fornecer aos maranhenses objetos de ferro e aço produtos
manufaturados do reino, especiarias do Oriente, a troco de gêneros da terra, que
seriam vendidos na Europa, em proveito do erário. Como o negócio não parecesse dar
resultado em mãos do governo, formou-se em Lisboa uma companhia por ações, a
fim de arrendá-lo. Os acionistas ou assentistas, como então se dizia, eram aqueles
mesmos cristãos-novos com cujos cabedais o padre Antônio Vieira contara para a
fundação da companhia de Pernambuco.
Mário Sáa enumera-lhes os nomes: Serrão, Botelho, Carvalho, Silveira... O
contrato foi passado em 1682 bastando ver-lhe as cláusulas principais para se ficar
inteirado da obra judaica: privilégio por vinte anos; isenção de impostos; juízo
privativo para reclamações e demandas;3 exclusividade do tráfico, devendo importar

1
João Francisco Lisboa, "Obras°, tip. Matos, Moreira & Pinheiro. Lisboa, 1901, tomo 0, pág. 46. Em 1551, o Senado
da Câmara de Belém representava ao padre Antonio Vieira contra a "falta de braços" por estarem desviando os índios à
serviço da ordem; em 1670, o de S. Luiz tratou da "falta e carestia" de escravos índios, porque o negócio era
"monopolizado por homens poderosos". Cf. J.M. de Macedo, "Efeméride", págs. 30 e 31.
2
Op. cit. t. II págs. 51-53.
3
O juízo privativo é uma eterna ambição judaica. Está no livro de Ester. Em Roma, ao tempo de Augusto,
funcionava o seu tribunal particular, o Bet-Dine. A legislação justiniana reservou-lhe no Codex o capítulo De
Judoeis. Em muitas das monarquias bárbaras havia o chamado Foro Judaico. Hoje, ele tem Bet-Dines em muitas
cidades norte-americanas, ucranianas e lituanas, e registram sempre suas companhias nos Estados ianques de leis
favoráveis a seus interesses.
dez mil negros, sendo as entradas de 500 por ano4. Diante das notícias desse novo
estanco, certamente pior que o outro, os brasileiros do Maranhão e do Pará ficaram
de sobre-aviso, pois que algumas cartas do reino informavam que El Rei somente o
consentiria com "aprazimento dos povos". A condicional do soberano lhes dava
alguma esperança de salvação.
Quando veio tomar conta de seu cargo o novo governador nomeado, Sá e
Menezes, trouxe em sua companhia o cristão-novo Pascoal Pereira Jansen, grande
assentista e administrador do estanco. Ambos encontraram os povos com pouco
aprazimento para engolir a pílula, sendo obrigados a recorrer a manobras, disfarçes,
peitas e ameaças. Dizia o judeu Jansen que, do seu próprio bolso, tivera que gastar
em gorjetas mais de um conto de réis5, quantia apreciável para o tempo. Antônio de
Souza Soeiro, procurador da Câmara, "suspeito de cristão-novo", vendeu seu
assentimento por uma patente de capitão de infantaria com soldo; o vereador Jorge
de São Payo prometeu o seu em troca de fazendas e gêneros.
Segundo todos os documentos contemporâneos e os resultados das devassas
ou inquéritos procedidos, o estanco foi estabelecido em São Luiz pelos recursos da
"fraude, terror e corrupção". O governador Sá e Menezes envolveu-se, em todos
esses "vergonhosos manejos". Já viera de Portugal mancomunado com os judeus. A
devassa procedida mais tarde, depois da sublevação dos maranhenses, revelou
"escândalos incríveis". Havia mesmo sociedade entre o governador, o judeu Jansen,
um tal de André Pinheiro e outros.
Os oficiais da câmara chamados à presença de Sá e Menezes e de Jansen, em Belém,
para onde ambos se haviam transportado, após o estabelecimento do estanco no
Maranhão, ouviram do primeiro que Sua Majestade ordenava a introdução do mesmo
estanco "sem dependência de consulta ao povo", não admitindo a menor réplica ou a
mais leve objeção6. O rei era, assim, enganado no seu propósito, porque cuidaria que
o povo a tudo assentiria de boa vonta de, consoante o silêncio deste pelos seus
procuradores naturais e os informes que receberia; o povo também era enganado,
julgando que o soberano houvesse dado ordens tão terminantes e despóticas. De
parceria com o governador venal, os cristãos-novos desenrolariam seu plano de
assalto às riquezas do Maranhão e do Pará.
Certos da impunidade, pintaram o sete. Como houvesse crise de mão-de-obra e
as entradas de negros que se destinavam a atendê-la estivessem ao seu alvédrio,
pois possuíam exclusivamente do tráfico, vendiam os escravos por preço muito acima
do comum, obrigando o pagamento à vista, quando anteriormente as vendas eram
feitas à prazo, para facilitar a aquisição aos agricultores sempre baldos de cabedais.
As mercadorias de que tinham o monopólio e que ninguém poderia obter noutra
parte, eram de péssima quali dade e alto preço. Usavam, além disso, pesos e
medidas falsificadas. O escrupuloso e eminente João Francisco Lisboa assim descreve
a grande roubalheira judaica: "Impedia-se ou dificultava-se aos moradores a remessa
de suas drogas para o reino, ou o retorno do que elas lá produziam7, se alcançavam
mandar algumas. O estanco só recebia em pagamento cravo e pano8, recusando o
açúcar, cacau, tabacos e couros9; e daí resultava que não podendo os moradores dar
outras saídas a estes produtos, viam-se obrigados, para não os perderem de todo, à
sacrificá-los por baixos preços a mal disfarçados agentes do mesmo estanco, dos
seus administradores, ou de outros-potentados, que os compravam a poder de

4
João Francisco Lisboa, op. cit. tomo II, págs. 84-85.
5
Idem, idem pag. 87. Em geral os historiadores, que só vêem as aparências políticas, insistem em apontar a questão da
escravidão dos índios como a causa principal da revolução; mas o exame dos fatos documentados nos mostra que essa
causa foi o estanco judaico.
6
Op. cit. tomo II, pág. 88.
7
Isto é : congelavam os créditos na Europa...
8
) Isto é : a produção menor...
9
Isto é : a produção maior...
barato. Os navios não vinham ao Estado com a regularidade afiançada10; e, para que
nenhum gênero de vexação faltasse naquela geral opressão, tinham os
administradores uma grande aldeia de índios, ocupados em lavrar farinhas e outros
gêneros que, postos à venda em grande escala no estanco, faziam ruinosa
concorrência, aos demais lavradores já extenuadas"11. Chama-se a isso, em boa
linguagem, um verdadeiro saque organizado!
Levantou-se, pois, o "clamor universal" dos explorados por aqueles conversos,
os mesmos que, em Portugal, séculos afora, costumavam tomar os produtos para os
vender, depois, a preços exorbitantes12. O governador permanecia em Belém e regia
o Maranhão em seu lugar um tarimbeiro irresoluto e pusilânime, Baltasar Fernandes.
Começaram a aparecer pasquins pregados pelas esquinas, ameaçando de morte ao
rapinante Jansen13. Quando em qualquer roda se falava daquelas vilanias e
ladroagens descaradas, os punhos crispavam-se ameaçadores e odientos. A revolução
andava no ar. Bastava aparecer um homem que polarizasse o descontentamento e a
cólera para ela explodir com todas as suas imprevisíveis conseqüências.
Esse homem ia ser um senhor de engenho que já se insurgira antes contra o
miserável governo de Inácio Coelhos antecessor de Sá e Menezes e tão bom como tão
bom. Por isso, estivera deportado dois longos anos na fortaleza de Gurupá. Da
devassa a que fora submetido, não resultara sua culpabilidade e E1 Rei o mandara
pôr em liberdade14.
Chamava-se Manuel Bekman e aportuguesara seu nome na forma de Bequimão.
Filho de pai alemão e mãe lusa, "seus detratores, afirma João Francisco Lisboa15,
para o macular, diziam ser de raça judaica". Isso é hábito dos judeus contra seus
inimigos. Não têm o desplante de dizer até que Hitler é judeu? A vida de Bekman, sua
franqueza, seu destemor, seu espírito de sacrifício, sua atitude em presença da
morte, por si só, desmentem a calúnia. O judeu Isaque Izeckson, à cata de glórias
judaicas na história do Brasil, não se atreve a tal afirmação e se limita a dizer: "Se
bem que não tenhamos bases exatas para afirmar que os irmãos Bekman,
promotores da revolta do Maranhão, fossem judeus, essa hipótese não seria
descabida, especialmente se nos guiássemos pelo nome, que lembra bem o de judeus
holandeses ou alemães. Sobre isso não insistimos"16.
É conveniente não insistir, porque a hipótese é descabidíssima. Tudo a põe por
terra. Bekman é o herói de uma reação nativista contra o disfarçado ,judaísmo dos
assentistas da maldita companhia de comércio, que infelicitou, como vimos, o
extremo Norte do Brasil. Entretanto, no "Almanaque Israelita" de 193517, os judeus
têm o topete de afirmar com todas as letras que o Norte foi, por muito tempo, a parte
principal do Brasil, graças ao trabalho, a iniciativa e a inteligência judaica.
Felizmente, João Francisco Lisboa nos deixou pintada com a mão de mestre a
espantosa realidade da ladroeira e da espoliação.
Manuel Bequimão viera moço para o nosso país e chegara a uma certa
abastança pelo seu trabalho honrado de agricultor. Nunca se metera em negócios
nem com negocistas. Ligara-se à nobreza da terra, aos cristãos-velhos e ao clero. Não
gostava dos jesuítas por causa da questão do trabalho servil dos índios. De volta do
seu desterro, viu-se quase arruinado pelo desamparo em que deixava seus teres e
haveres. O estanco garroteava-lhe as possibilidades de refazer-se, como a todos seus
contemporâneos. O estanco judaico estancava todas as fontes de produção. Era

10
isto é : transportes e fretes estavam em suas mãos...
11
Op. cit. tomo II, pág. 89.
12
João Lúcio de Azevedo, "História dos cristãos novos portugueses", pág. 39.
13
Ofício de Sá e Menezes à Corte, de 26 de agosto de 1683.
14
Carta-régia de 24 de janeiro de 1680.
15
Op. cit. tomo II, pág. 92.
16
Dr. Izaque Izeckson, loc. cit. pág. 20.
17
Pág. 16.
natural que a revolta lhe lavrasse no íntimo contra os opressores; aliás, ela lavrava
no coração de toda a gente.
Teixeira de Morais, cronista parcial da revolução e que nela tomou parte,
debuxa-lhe o retrato em cores negras, dizendo-o "inspirado pelo ódio e pela
baixeza"18. Cúmplice na rebeldia, não se pejou de ultrajar covardemente o sacrificado,
não só para fazer olvidar sua participação como para vingar-se das adulações servis
com que o cercara, quando estivera no poder. O venerável João Francisco Lisboa
refuta-o, defendendo aquele "vulto nobre e grandioso"19. Os documentos oficiais
desfazem todos os aleives e protérvias dos inimigos de Bequimão.
Seu irmão mais moço, Tomás, era um tanto turbulento, poeta repentista de veia
satírica. Os principais cabeças da revolta, depois de Manuel Bekman, eram o velho
vereador Jorge de São Payo, homem ativo, inquieto, inconstante, pouco seguro de
língua e atitudes, que já recebera pre sentes do judeu Jansen, e um veterano na
defesa do povo contra os despotismos e prevaricações das autoridades e dos
mercadores, Francisco Dias Deiró.
Requimão articulou a conjura com sessenta companheiros, que se reuniam à
socapa no convento dos capuchinhos. Desde tempos que seu irmão vinha colando
pasquins em prosa e verso pelas paredes, pois não havia jornais e essa era a
imprensa da época os quais pasquins concitavam o povo à revolta e criticavam a
gente do estanco e do governo que o sustentava. Mais violentos e desabusados a-
taques faziam os frades capuchinhos e carmelitas nos seus sermões. Todo o clero
"aderiu à revolta", menos os jesuítas, por causa das turras com a nobreza rural desde
o caso da escravização dos índios. O próprio bispo não foi estranho ao sucesso e
como que até o favoreceu20.
A incúria do governo do inepto Baltasar Fernandes, que substituía Sá de
Menezes, ausente no Pará e preocupado com seus ganhos, permitiu ao movimento
avançar sem encontrar óbices.
Na noite de 23 de fevereiro de 1684, véspera de sexta-feira de Passos, houve a
derradeira reunião dos conjurados na cerca dos capuchos, lugar ermo e retirado.
Bequimão falou com eloqüência, expondo o que pretendia fazer: expelir os
assentistas, acabar com o estanco, expulsar os jesuítas e depor às autoridades. Tudo
foi aplaudido, menos a última parte que a todos surpreendeu e em todos despertou
receios. O prestígio do poder real e o medo da grande responsabilidade que iam
assumir assustaram e dividiram aqueles homens. Travaram-se discussões, muitos
ameaçaram retirar-se e parecia ir tudo por águas abaixo. Foi quando o forçudo e
decidido ilhéu Manuel Serrão de Castro arrancou da espada e gritou que o seguissem.
O arrojo da atitude destemerosa entusiasmou os maranhenses, que o acompanharam
pelas sombras da noite rumo ao casario adormecido de São Luiz. Pelo caminho, os
moradores despertados iam se armando e engrossando a turba, que, ao amanhecer,
tomou conta da capital, prendendo as autoridades. Não se derramou uma gota de
sangue. O corpo da infantaria paga e os próprios meninos das escolas fraternizaram
com os rebeldes. Era uma grande aspiração popular que se realizava.
Bequimão nada tinha de cesariano e convocou imediatamente a Junta Geral,
composta do clero, da nobreza e do povo, à qual deu conta de todos os sucessos,
sendo muito vitoriado.-Não houve a menor desordem. Aclamou-se novo governo
constituído pela câmara, três adjuntos e dois Procuradores do Povo: Bequimão e
Eugênio Ribeiro Maranhão. Nomearam-se novos oficiais e criou-se uma Guarda Cívica.
Malgrado a grande exasperação popular, não sé consentiu no saque dos bens dos
espoliadores. Fechou-se o estanco e se arrecadou em boa forma o que tinha em de-

18
"Relação histórica dos tumultos do Maranhão", parte 2a caps. 3° e 4°.
19
Op. cit. tomo II, págs. 94-95
20
Padre Bettendorf, "Crônica da Companhia de Jesus", cap. 1.
pósito. Nenhuma pessoa foi morta ou perseguida21. A multidão encheu as ruas e
largos em regozijo, com músicas, cantos e danças. Bequimão falava-lhe
constantemente da janela do Senado, com eloqüencia natural, entusiasmando-a e
dando-lhe pormenorizada conta de todas as providências governamentais.
A revolução triunfante não podia ficar circunscrita a São Luiz. Precisava
alastrar-se para se tornar mais forte e impor a libertação dos povos explorados.
Bequimão procurou adesões em Tapuitapera22 e Belém. Seus enviados encontraram
apoio de palavras quanto a extirpação do estanco, mas a maior frieza quanto à
deposição das autoridades reais, ato audacioso que alarmava toda a gente. Foi esse o
primeiro desânimo que turvou a fé do revolucionário maranhense.
Enquanto passava o tempo, elementos internos, inimigos íntimos, solapavam
disfarçada e lentamente a obra da revolução. Os padres da Companhia, a bom recado
no seu colégio, manobravam as inteligências com que contavam lá fora. Só algum
tempo mais tarde foram embarcados para o reino. O povo, fatigado do serviço da
milïcia,era hábilmente levado a reclamar contra o abandono em que estavam ficando
engenhos e roças. Os vianenses, bastante numerosos em São Luiz, conversos de
Viana, em Portugal espalha vam boatos e semeavam confusões em surdina,
desanimando a uns e outros. Foi quando Hilário de Souza, provavelmente
cristão-novo, veio de Belém avistar-se com Bequimão, a quem prometeu dar parte
de Sá e Menezes, que não queria complicações e escândalos para a corte, 4 mil
cruzados e o indulto com honras e postos, caso submetesse a ele e ao estanco. O
nobre procurador do povo repeliu dignamente a proposta e deu-lhe publicidade23.
Basta este gesto para tornar descabidíssima a hipótese de Isaque Iseckson. Nenhum
judeu até hoje recusou dinheiro.
A retidão observada por Bequimão na venda e repartimento dos escravos antes
pertencentes ao estanco desgostou a muitos que haviam entrado na rebeldia, não por
amor ao povo, mas com a mira na satisfação de interesses imediatos. Estes
começaram a falar mal do novo estado de coisas. Os atos do governo contra o luxo
que ostentavam as mulheres mamelucas fizeram com que elas saíssem pelas ruas
alvoroçando a população. Os vianenses murmuravam maliciosamente que Tomás
Bequimão, nomeado para ir ao reino tratar das reclamações maranhenses junto ao
soberano, muito de indústria demorava a viagem, à espera que rompessem corsários
do rei de França a quem seu irmão desejava entregar a capitania. Pouco a pouco,
tudo isso ia minando o prestígio do governo revolucionário.
Como o povo refugasse o serviço da Guarda Cívica, tomou-se a desastrada
resolução de dissolver essa milícia, que era a única garantia da revolução,
reorganizando-se o corpo de infantaria paga, cujo comando foi entregue, - erro ainda
mais grave, ao sargento-mor Costa Belo recém vindo da metrópole, para onde, enfim,
partira Tomás Bequimão.
Desgostoso com o rumo que as coisas levavam, Manuel Bequimão retraiu-se em
casa até a chegada do navio que trazia, com alguma tropa, novo governador, Gomes
Freire de Andrade. Em um latacho que se atrasara, voltava o irmão como prisioneiro
de Estado. Chegava também um juiz ou ministro da Alçada que devia julgar os
rebeldes. Antes do governador pisar em terra, desembarcou por sua ordem o
cristão-novo Jacinto de Moraes Rego que logo foi enten der-se com seus patrícios
vianenses. Somente depois dos entendimentos desse enviado com os que
trabalhavam para o mesmo fim dentro da praça, é que Gomes Freire decidiu sua
ação.

21
Compare-se com o que fizeram os judeus mascates e emboabas, triunfantes em Pernambuco e em Minas, e que vem
descrito nos capítulos seguintes.
22
Alcântara.
23
João Francisco Lisboa, op. cit. tomo II, pág. 110. Sobre a gente de Viana e seu judaísmo, chamamos a atenção do
leitor para o que se diz, no capítulo imediato, acerca do chefe emboaba Manuel Nunes, natural de Viana, e gente desse
lugar.
Era no mês de maio. Nas noites lindas, o céu se cravejava de estrelas
faulhantes. Numa dessas noites, Bequimão convocou seus partidários à cerca deserta
dos capuchos. Não vieram mais os sessenta patriotas animosos que a espada do ilhéu
destemido conduzira à vitória. Apareceram pouco mais de vinte, irresolutos,
medrosos, assustados. As palavras de fogo do procurador do povo não os
galvanizaram mais como outrora, quando lhes arengava da janela do Senado.
Todavia, não desanimou de todo. Fez outro convite para a noite seguinte. Não veio
ninguém. Somente então se desenganou.
Gomes Freire de Andrade apoderou-se facilmente de São Luiz com o apoio da
infantaria paga de Costa Belo e os vianenses; mas Bequimão continuou a mostrar-se
em público, como quem anda com a consciência tranqüila, até que o governador
mandou prender o bravo Manuel Serrão e o trêfego São Payo, que levara o cinismo ao
ponto de ir beijar-lhe a mão24.
Todos os funcionários presos foram postos em liberdade e estabelecidos em suas
funções; reabriu-se o estan co. Os vianenses, "introduzindo-se com os rebeldes, ras-
treavam os seus mais ocultos intentos" e disso davam avi so ao governador.
Reinaram, assim, a espionagem e a dela ção. Por esses e outros inestimáveis
serviços, foi Jacin to de Morais Rego nomeado provedor-mor da fazenda. Os
cristãos-novos, ensina o erudito Mário Sáa, têm artes de "preterir todos os
concorrentes" e são "particularmente inventivos" nesta matéria de impostos25.
Apavorada por tudo isso e pelos rumores que corriam de graves punições, a gente da
povoação começou a evadir-se e ocultar-se pelos matos. As ruas desertas pareciam
um cemitério. Gomes Freire de Andrade alarmou-se com o êxodo e publicou um
bando de perdão geral, uma anistia, diríamos hoje, excetuando, porém, os cabeças.
Prometia, além dis so, recompensas a quem entregasse Manuel Bequimão e castigos
a quem o asilasse.
Abandonado ao seu destino, o chefe da reação contra o estanco judaico vagou
pela ilha de São Luiz, "repelido de uns, esquivado de outros, e mal recebido por toda
parte; até que uma viúva26 , condoída de sua desgraça, lhe forneceu uma canoa bem
remada, na qual se transportou ao seu engenho do Mearim27".
Não faltou, contudo, um Judas para entregá-lo ao sinédrio do estanco.
Encarregou-se do infâme papel Lázaro de Melo, seu amigo íntimo e que lhe devia
benefícios, seguindo para o Mearim, que conhecia bem, com gente armada, numa
canoa. Ao avistar a embarcação, Bequimão meteu-se num esconderijo seguro; porém
desde que soube tratar-se do amigo, voltou confiante e apresentou-se na ânsia de
saber notícias. O malvado entreteve-o de maneira que um dos sequazes pudesse
aproximar-se e amarrá-lo pelas costas. Os escravos do engenho acudiram em armas
para de fender o amo benquisto, mas foram intimados a nada fazer em nome de El
Rei. Garantido pelo respeito dos pobres negros à autoridade real, Lázaro de Melo
levou o infeliz ajoujado para a canoa, onde ainda lhe meteu grilhões. De entrada,
Bequimão exprobou a infâmia; depois solicitou que o aliviassem dos ferros e nós,
dando palavra de honra que não tentaria fugir, Tal era o prestígio de sua lealdade e
honradez, que o outro o atendeu28.
O processo contra o chefe revolucionário foi fulminante, "mais do que
sumário", diz Teixeira de Morais, insuspeito no caso. Acrescenta que Gomes Freire de
Andrade assinou a sentença cheio de mágoa e com mão tão trêmula que a firma nem
parecia sua. Mas o Kahal mandava e as ordens secretas do Kahal tinham de ser
cumpridas.

24
Bettendorf, op. cit cap 13
25
"A invasão dos judeus", pág. 78.
26
Sempre o generoso óbulo da Viúva... Outra Viúva esconderia Tiradentes...
27
João Francisco Lisboa, op. cit. tomo II, pág 120.
28
Op. cit, tomo II, pág. 121-122.
A página da obra de João Francisco Lisboa que narra circunstanciadamente o fato, o
grande Odorico Mendes ofereceu esta apostila que obriga a meditar: "Gomes Freire
de Andrade mandou injustamente executar Manuel Bek man como inconfidente; e
passado século e meio, a 18 de outubro de 1817, um descendente do governador do
mesmo nome, isto é, o general Gomes Freire de Andrade, foi fuzilado (?) na
esplanada da torre de São Julião, em Lisboa, como inconfidente, também
injustamente29. Será verdade que a culpa dos pais recai sobre os filhos até a quarta
geração?".
Com Bequimão, foram condenados também à morte Jorge de São Payo e
Francisco Dias Deiró, que conseguiu fugir e foi executado em efígie. Muitos outros
revoltosos receberam penas de multas, sequestro de bens, açoites e degredo. A forca
se ergueu na praça do Armazém, hoje da Trindade, no dia de finados do ano de 1685.
Manuel Bequimão "recebeu a morte catolicamente animoso", pronunciando estas
derradeiras palavras: - Morro satisfeito em dar a vida pelo povo do Maranhão30.
Deixava viúva e duas filhas na maior miséria, porque seus bens haviam sido
confiscados. Conta-se que Gomes Freire de Andrade praticou o ato generoso de
mandar arrematá-los em segredo por pessoa segura, doando-os às infelizes. Muito
lhe devia doer a consciência! O Judas-Lázaro recebeu a paga de sua felônia: uma
mísera patente de capitão. Também em vida recebeu a paga da Justiça Divina: conta
o velho Barredo que, uma feita, consertando seu engenho, teve, de repente, o
pescoço envolvido por cordas e morreu enforcado...
Há quem pense no Brasil, em comemorar o centenário do desembarque de
Maurício de Nassau, preposto de companhia de judeus-portugueses da Holanda; não
houve ainda quem se lembrasse de promover a ereção de uma estátua ao nobre e
abnegado Manuel Bequimão, vítima dos judeus-portugueses da ladroeira do estanco!
Os verdadeiros heróis nacionais ainda esquecidos; os heróis judaico-maçônicos são
sempre lembrados...
A mocidade, devidamente esclarecida, compete reagir contra isso.

29
Op. cit. tomo II, pág. 122, nota. Injustamente também não. Gomes Freire, grão mestre da maçonaria, era chefe de
uma conjura contra o regime em vigor. Morreu enforcado e não fuzilado.
30
Op. cit. tomo II, pág. 123. Cf. Teixeira de Morais, op. cit. parte 22, cap. 13; Bettendorf, op. cit.
CAPÍTULO VI

A Tragédia do Ouro

A DISPUTA entre as coroas da Castela e Portugal sobre a posse das novas terras
descobertas na América do Sul forçou ambas a se submeterem ao juízo de Salomão
do Papado. O pontífice traçou na carta do continente o meridiano de Tordesilhas, linha
de limites do campo de ação dos litigantes, destinada a ser o eixo geográfico em tor
no do qual giraria a história do Brasil. Ela corria dá embocadura do Amazonas à
Laguna em Santa Catarina. Além, tudo era de Espanha; aquém, tudo de Portugal.
Quando se olha hoje para o mapa do nosso país é que se vê quanto foi recuado o
meridiano papal pela energia dos bandeirantes, construtores da Grande Pátria, e
quando o consagrou a doutrina do uti posidetis, habilmente invocada e defendida
por Alexandre de Gusmão.
A penetração bandeirante foi realizada aos poucos, aproveitando de início os
caminhos dos índios, segundo ensina Capistrano de Abreu; depois, os sertanistas
internaram-se mais, na caça do índio que escravizavam; afinal o ouro e a pedraria
incendiaram-lhes a cobiça. Ao princípio, as instruções reais, pelo receio de invasão
das possessões espanholas que o desconhecimento do território fazia pressupor mais
próximas, peavam os avanços para o interior1. Era inteiramente desconhecido aquilo
que Pero de Magalhães Gandavo chama, com grande propriedade, a "largura" do
Brasil para o sertão. Dos índios que a enchiam vinha uma tradição da existência de
metais e esmeraldas, um sonho amarelo e um sonho verde, que a nos sa bandeira
perpetua e que aqueceriam a mente de muitos homems intrépidos pelo tempo além.
Circulavam "notícias vagas, mas insistentes" de "grandes riquezas naturais jacentes
no sertão "serras de ouro e prata"2. Por lhes dar crédito, já no meado do século XVI,
em 1553, conforme narra Aspicuelta Navarro, o castelhano peruleiro Francisco
Bruza Espinosa se internou até o rio Jequitinhonha.
Os primeiros impulsos bandeirantes partem da Bahia. Daí saíra Bruza Espinosa;
daí sai o vereador Dom Vasco Rodrigues Caldas, nas suas pegadas, o qual é
desbaratado pelo gentio bravo. Ao mesmo tempo, por todos os lados os jesuítas iam
entrando na catequese, aldeando a indiada confiante na sua palavra evangelizadora.
Narra Gandavo que, em 1570, Martim de Carvalho, penetrou 200 léguas na
largura do sertão e colheu amostras de metais e pedras, que foram perdidas no
naufrágio de uma canoa. Em 1572 e 1573, Sebastião Fernandes Tourinho, subiu o rio
Doce e apanhou pedrarias e pepitas. Entrada mais digna de nota foi a de Antônio Dias
Adorno, neto de Caramuru e Paraguassu por sua mãe, filho de italiano, que se meteu
pelo rio das Caravelas, fez ampla colheita de esmeraldas e turmalinas, adoecendo no
Jequiriçá, em casa de Gaspar Soares. O cunhado deste, João Coelho de Souza,
sabendo dos achados de Adorno, encheu-se de desmesurada ambição, seguiu-lhe a
trilha e encontrou "preciosas amostras". De volta, salteado pela morte, entregou seu
roteiro ao sobrinho Gabriel Soares, filho do cunhado3.
Do episódio nasce a lenda histórica das famosas Minas de Prata. Gabriel Soares foi à
Espanha e, depois de muitas delongas, conseguiu falar com Filipe II, em 1586.
Obteve provisões e mercês, regressando em 1591 com mais de 300 pessoas.

1
Diogo de Vasconcelos, "História antiga de Mina Gerais". Imprensa oficial, Belo Horizonte, 1904, pág. 6
2
Op. e pág, cit. Domingos de Loreto Couto, "Desagravos do Brasil e Glória de Pernambuco". Diogo de Vasconcelos
não é um historiador que mereça inteira fé; por isso, somente o citamos quando comprovadas em fontes mais seguras
as suas informações.
3
) Diogo de Vasconcelos, op. cit. pág. 15. Urbino Viana, "Bandeirantes e Sertanistas Baianos", ed. da Cia.
Editora Nacional, S. Paulo, 1935, págs. 17 e 133. Gabriel Soares foi o autor do "Tratado Descritivo" e teve o título de
capitão-mor e governador da conquista e descobrimento do rio de São Francisco".
Naufragou na costa do Vasa-Barris, perdendo tudo, menos a gente. Não desesperou
por isso e fez a sua entrada, morrendo das fadigas que ela lhe custou. Depois,
Belchior Dias Moreia, também descendente do Caramuru, "faz ao sertão baiano,
abrangendo vasta área franciscana, a sua notável viagem de oito anos, a começar em
1595", diz Urbino Viana. Afinal, aparece o herdeiro do roteiro célebre, Roberto Dias,
que quer o título de Mar quês das Minas, que vai à corte, que volta em companhia de
D. Francisco de Souza, que o extravia pelas veredas invias do sertão largo e leva para
o túmulo o seu segredo...
Para se ter uma idéia nítida do valor desses homens que entravam pelos
sertões hostis, sem fazer literatura recorro a um historiador circunspecto e
documentado. Leiamo-lo: "Eram homens ousados e intrépidos que se embrenhavam
pelos sertões das Minas em busca de ouro; de vontade firme, pertinaz, inabalável.
Cegos pela ambição, arrostavam os maiores perigos; não temiam o tempo, as
estações, a chuva, a seca, o calor, os animais ferozes, répteis que davam a morte
quase instantânea, e mais do que todo o indômito e vingativo índio antropófago, que
lhes devorava os prisioneiros e lhes disputava o terreno palmo a palmo, em guerra
renhida e encarniçada. Muitas vezes viajavam por esses desertos, descuidados e
imprevidentes como se nada devessem recear. Para eles, não havia bosques
impenetráveis, serras alcantiladas, rios caudilosos, abismos insondáveis. Se não
tinham o que comer, roíam as raízes das árvores; serviam-lhes de alimento os
lagartos, as cobras, os sapos, que encontravam pelo caminho, quando não podiam
obter outra alimentação pela caça e pesca; se não tinham o que beber, sugavam o
sangue dos animais que matavam, mascavam folhas silvestres, ou as frutas acres dos
campos4". O retrato, em largas pinceladas, do conquistador sertanejo deve ser
guardado de memória para o compararmos mais adiante com o do mercador
interesseiro e hipócrita, que lhe vai tirar das mãos minas, depois de conquistadas pela
sua bravura. Esse foi o grande drama brasileiro das Minas,- a tragédia do ouro.
Os sertanistas alcançaram a chamada serra das Vertentes no fim do século XVI, em
1579, descobrindo as minas de Jaguamimbaba e denominando àquela região, de acor
do com o falar do índio, Amantikira, que se corrompeu em Mantiqueira. Começava o
século XVII, quando Marcos de Azevedo Coutinho, partindo do Espírito Santo, subira o
rio doce, achando o primeiro diamante e penetrando no chamado sertão das
Esmeraldas5. Depois dele, João Correa de Sá e Benevides faz uma tentativa de
bandeira, quese malogra ao choque dos índios bravios.
Pelo lado de São Paulo, a penetração começara desde os albores do século XVI,
quando a gente de São Vicente principiou a se estender pelo litoral até Laguna e a es-
calar os primeiros pendores da Serra do Mar. Transposta a montanha, iriam pelo Tietê
aos sertões do Paraná e do Paraguai; por Sorocaba, aos campos da Vacaria e do
Prata; por Taubaté, à Mantiqueira e aos Cataguases. Os rumos estavam
traçados,esperando a energia bárbara dos bandeirantes paulistas, que só se vai
afirmar de fato com a volta do Brasil à coroa portuguesa pela aclamação de D. João
IV. O século XVII é o grande século das bandeiras.
São Paulo estava fundado no planalto piratiningano e seus sertanistas batiam os
matos e serranias, escravizando a indiada. A progênie dos cristãos-novos, sangue de
cohens como João Ramalho e outros, vivia sempre em luta aberta, por causa dessa
escravização, com os jesuítas. Em 1645, um de seus opulentos moradores, Felix
Jaques, procurador da condessa de Vimieiro6, funda o arraial de Taubaté e entra pelo
sertão de Cataguases até o rio Verde, debandando os índios e abrindo o caminho para

4
Joaquim Felício dos Santos, "Memória do distrito diamantino", Tipografia Americana, Rio de Janeiro, 186,8, págs. 8
e 9.
5
"Diogo de Vasconcelos", op. cit. págs. 22-23.
6
0 nome, a opulência a procuradoria permitem certa suspeita de cristão-novo... Aliás,"na psique coletiva das tribos de
Israel e do povo paulista há aspectos de uma impressionante semelhança", depõe Paulo Prado, "Cristãos-Novos em
Piratininga" in "os judeus na história do Brasil", pág. 77
o interior de Minas Gerais. Agostinho Barbalho, que era pernambucano7, para
seguir-lhe o exemplo uns vinte anos depois, traz cartas-régias de D. Affonso VI, mas
morre no Espírito Santo, antes de lograr o seu intento.
As cartas-régias demonstram que já E1 Rei esquecera os escrúpulos acerca do
meridiano e estava resolvido a impelir a avançada para Oeste. É o sexagenário
morador paulista, mistura de sangue brabanção e luso, Fernão Dias Pais Leme, quem
toma aos ombros, com oposição de todos os de sua casa, a tarefa cometida a
Barbalho, conseguindo na primeira investida vencer e aldear os goianenses. Recebeu
as cartas-patentes em 1792, preparou a bandeira em 16748, levando consigo o genro
Borba Gato e o filho natural José Dias Pais. Longa foi a trajetória da gloriosa bandeira
Mantiqueira acima, sertões de Cataguases adentro, toda ela "crivada de sepulturas,
cortada de combates e misérias", até às margens do Paraopeba, onde se viu, no fim
de dois anos de jornada, abandonada e sem recursos. Era grande humilhação tornar
de tão longe a São Paulo de mãos vazias. Fernão Dias preferiu ficar pesquisando a
prata e o ouro pelos ribeirões e córregos da região de Sabarabussu, fundando o
arraial do Sumidouro. Mas os seus companheiros murmuravam descontentes e o seu
próprio filho participou de uma conjuração contra ele. Mandou executá-lo
sumariamente.
Quando voltaram os portadores que mandara a São Paulo buscar recursos, fazia
já três anos que ele andava pelo sertão. O que veio custar as jóias da sua mulher. A
miragem, porém, do metal precioso que ele adivinhara naquelas brenhas o aguentava
nas marchas penosas pelos ermos e socavões. No fundo longínquo do horizonte, o
cume azul do Itambé balizava sua rota em busca da lagoa Vupabussu, onde dormia o
velho segredo das esmeraldas. Descobriu-a, mas apanhou a palustre e foi morrer de
regresso, tristemente, à vista do arraial do Sumidouro. Os restos da bandeira,
guiados por Garcia Rodrigues, foram encontrar, em 1681, D. Rodrigo de Castelo
Branco, governador ou administrador das Minas, no velho arraial de Santa Ana do
Paraopeba. Garcia Rodrigues entregou-lhe a metade das esmeraldas trazidas por
Fernão Dias.
D. Rodrigo, castelhano e cheio de empáfia de seu cargo, já embriagado pela
ambição das minas lendárias, ainda não achadas, dirigiu-se ao Sumidouro, a fim de
entender-se com Borba Gato, que lá ficara com um troço de gente. Da discórdia e
intriga que houve entre ambos, resultou a morte do fidalgo castelhano a tiros, por
dois pajens do bandeirante, numa entrevista com este. A gente que acompanhava o
administrador voltou temerosa para São Paulo. Os paulistas dispersaram-se por
aquela imensidão de terras, estabelecendo-se as primeiras fazendas de gado. E Borba
Gato, receando a justiça de El Rei, afundou-se no sertão.
No ano da Graça de 1640, quando Amador Bueno fora aclamado rei de São
Paulo, se escondeu no mosteiro de São Bento e mandou chamar Lourenço Castanho
Taques, sangue dos Taccen do Brabante, a quem pediu que dissuadisse o povo
daquela aclamação. Lourenço Castanho Taques era homem opulento, maioral da vila
e peruleiro9. Sustentava como bom cristão-velho, os padres da Companhia de Jesus
contra os escravagistas e cristãos-novos. Em 1675, entrou pelo sertão e foi até o
Araxá, aniquilando o gentio cataguás e descobrindo o ouro de Goiás, de que se falava
já e Antônio Pedroso buscara até o Paraopeba.
Guiando-se pelos picos azuis que emergem do oceano coagulado das cordilheiras,
pelo Itambé ou pelo Itacolomi, os buscadores de ouro e pedras descortinavam o ser
tão imenso e foram os primeiros a ter a inolvidável sensação de grandeza do interior
do Brasil. Uns foram sucedendo aos outros no mesmo anseio de conquista, na mes-
ma ambição do metal precioso e, por que não dizê-lo, na mesma emulação de glória.

7
Pedro Taques, "Nobiliarquia Paulistana", ed Taunay.
8
Diogo de Vasconcelos, op. cit. pág. 34.
9
Pedro Taques, op. cit. pág. 245
Vede a sua incomparável teoria na "História Geral dos Bandeiras Paulistas" de
Taunav. Alinham-se em série os Souza, os Gomes, os Arzão, os Bueno, os Garcia,
Um Furtado de Mendonça que atinge o Ribeirão do Carmo e um Antônio Dias, que, no
fim do século XVII, em 1698, funda Ouro Preto. O século termina com o
reaparecimento de Borba Gato, que é indultado e nomeado tenente-general. O velho
sertanista assenta no Sabarabussu o arraial do Rio das Velhas. Então, pára o vaivém
das bandeiras e começam os estabelecimentos definidos e definitivos das lavras. As
minas haviam sido encontradas. Borba Gato apanhara as primeiras pepitas de ouro
às margens do Rio das Velhas 10. Agora, era fruir os resultados daquilo que custara
tanta canseira, tanta luta e tanta privação.
Mas, consoante o dizer do povo, o bolo não é para quem o faz e sim para quem
o come. Devasso o sertão, localizadas às catas, o bandeirante não recebe o prêmio do
esforço heróico, porque o judaísmo dos emboabas ou pintos-calçudos, com sua
organização e, sobretudo, seu dinheiro, vai expulsá-los pela força. Esse conflito entre
paulistas e emboabas, simboliza na opinião de Pedro Calmon, no "espírito da
sociedade colonial", a luta pela apropriação do eldorado interior travada pelo ádvena
contra o brasileiro. A carta-régia de 18 de março de 1694, dava aos descobridores a
plena propriedade dos achados, mas os que se queriam aproveitar das conquistas de
seu heroísmo lhes roubariam o fruto de mil sacrifícios. Os guerreiros odiavam os
mercadores ou mascates, acrescenta o mesmo historiador, porque com o seu dinheiro
se enobreceriam, vencendo-os, realizando "a idéia brutal de lançarem pela violência
fora das Minas seus adversários'11.
Desde 6 de fevereiro de 1648, quando foi baixado em Portugal o alvará isentando de
confiscação a fazenda dos cristãos-novos que emigrassem, o qual resultava daquele
contrato da Companhia do Brasil. organizado com capitais judaicos, contrato ao
principio condenado pelo Santo Ofício, que o padre Antônio Vieira agenciara e
defendera crescera para cá a emigração de índividuos ativos, na maioria judeus,
ansiosos de se enriquecerem nas minas de ouro de que já muito se falava. Certos
autores até a isso atribuem o início da decadência de Portugal12. Esses forasteiros e
mais os da Bahia - ninho de cristãos novos, correram em aluvião para as minas
entrando os últimos, sobretudo, pelo Espírito Santo, caminho desembaraçado, porque
os de São Paulo e Rio eram de algum modo vigiados pelas autoridades. A árdua
conquista bandeirante do Oeste ia, assim, servir às ambições inescrupulosas do
cosmopolitismo litorâneo. "Das cidades e lugares marítimos, diz Simão Pereira
Machado, sobreveio inumerável multidão... Viu-se em breve tempo transplantado
meio Portugal a este empório já célebre por todo mundo13...Assegura Taunay que os
moradores "despejavam as vilas, afundando-se no sertão"14. Emigração colossal15!
A afluência dessa gente às catas e garimpos determinou, como sempre em
casos análogos, a desordem social: vinganças, roubos, furtos, vexações, especulação,
jogo, luxo e gastos desenfreados. As Minas tornaram-se o paraíso de aventureiros de

10
W. L. Fschwege, "Pluto Bras iliense" de 1833. - Dissertação sobre as riquezas do Brasil em ouro, diamantes e outros
metais". Tradução do judeu Rodolfo Jacob in "Coletânea de Cientistas Estrangeiros". Belo Horizonte, 1922. Na opinião
de Joaquim Felício dos Santos, op. cit. pág. 13, a descoberta do ouro das Minas data de 1695, quando António
Rodrigues Arzão, de Taubaté, que a_n dava à caça de escravos, apresentou três oitavas, que e_x traíra ao capitão-mor
do Espírito Santo. Todavia, o alvará que estabeleceu a cobrança dos quintos data de 18 de agosto de 1618. Essa
cobrança, segundo o mesmo Joaquim Felício dos Santos, loc. cit., somente começou nas Gerais em 1700.
11
Diogo de Vasconcelos, op. cit. págs. 200-207.
12
Eschwege, op. cit. pág. 401
13
Simão Pereira Machado, "Triunfo Eucarístico".
14
Escragnolle Taunay, "Na era das bandeiras", pág. 89.
15
José Pedro Xavier da Veiga, "Efemérides Mineiras" - 1664 - 1897, imprensa oficial, Ouro Preto, 1897, tomo I, pág.
231. Cf. Rocha Pita, "História da América Portuguesa", Imprensa Econômica, Bahia, 1878, pág. 358; "Memória sobre o
Estado da Bahia", publicação oficial, 1896.
toda casta e de toda parte, vadios que extorquiam de todos os meios e modos o ouro
aos que o bateavam nos córregos e rios.
Quem eram os principais desses adventícios baianos ou reinóis? Diz a História
que as Minas se encheram de mercadores, sobretudo mascates ambulantes,
exploradores de vícios e luxúria. A mascateação e a exploração de mulheres são até
hoje profissões eminentemente judaicas. Desses e outros motivos a profunda ojeriza
do paulista guerreiro contra essas homens de negócio a que se aludem todos os
historiadores dos acontecimentos. A acepção atual da palavra tratante trai, na
linguagem usual,o vestígio desse rancor antigo. Sente-se o judaísmo emboaba na
descrição de Diogo de Vasconcelos, e em que vão grifados os pontos essenciais:
"Acima dos paulistas gozavam da vantagem de ser conhecidos e amparados pelos
compatriotas das praças marítimas que lhes forneciam à crédito instrumentos e
escravos africanos16, obreiros estes únicos que podiam suportar as fadigas medonhas
de tal indústria desumana e cruel como foi a das minas. Em tais condições, e em
breve tempo, as terras mais ricas, as regiões mais férteis, ficaram pertencendo aos
reinóis; e algumas outras também aos baianos que dispunham de tais elementos"17.
Azevedo Marques revela o que eles pretendiam: a fortuna das minas sós e sem
partilha18. Tomavam judaicamente o resultado do heroísmo alheio!
Espoliados e decadentes, os paulistas lançaram-se à procura de novos lavradios
de ouro ou se refugiaram nas roças, vendo, com a mais justa indignação,"o domínio
do país passar ao poder dos seus competidores". Naturalmente, os partidos se
extremaram e a luta que se ia travar assumiria um caráter nitidamente nativista. Mais
uma vez, do mesmo modo que na guerra holandesa a consciência brasileira se
insurgira contra a inominável espoliação judaica, que se consumou, porque, como o
faz notar Pedro Calmou, na "História da Civilização Brasileira", o emboaba,
enriquecido pelo negócio, possuía a "superioridade da cooperação" e com o dinheiro
podia pagar mais escravos para o trabalho das lavras e os exércitos mercenários de
mamelucos e índios.
Rebentara na Europa a Guerra de Sucessão da Espanha em que Portugal se
envolveria contra a França, não podendo, por isso, dispor de tropas para impor ordem
na colônia sul-americana, que os corsários de Luiz XIV atacavam. Os judeus eram
amigos destes, tanto que houve no Rio de Janeiro cristãos-novos que se
abraçaram à bandeira de Duguay-Trouin e foram embora nas suas naus19.
A nomeação de um paulista, Pedro Morais Raposo, para capitão-mor das Minas
pareceu dar, por um instante, ganho de causa aos brasileiros.
Estalaram os primeiros conflitos entre as duas facções em Caetê, onde o
principal dos reinóis ou emboabas era o potentado Manuel Nunes Viana, filho de
Antônio Nunes Viegas, natural de Viana, em Portugal, antigo caixeiro na Bahia,
mercador e monopolista, possuidor de 50 arrobas de ouro. Dizem os historiadores
que era insinuante, amável, mesmo amaneirado com a freguesia e que procurou fugir
da luta, "que não lhe convinha", procurando apaziguar os ânimos 20.
Em uma história secreta, nem sempre é possivel achar a documentação
concludente do que se afirma, sobretudo porque os historiadores estavam
desprevenidos em relação à questão judaica; por essa razão, muitas vezes é
necessário recorrer às provas circunstanciais de ler ,ias entrelinhas, em busca do
mistério. 0 caso de Manuel Nunes obriga a esse recurso. Todas as circunstâncias
levam a crer que se tratava de homem de sangue judaico, embora cristianizado,
senão sinceramente, pelo menos na aparência: o oficio de mercador, que o trouxera
do balcão à riqueza e florescia num monopólio, como veremos adiante; o apelido
16
A eterna "rede de crédito" a que aludiu Pedro Calmon quando os judeus do açúcar pernambucano...
17
Diogo de Vasconcelos, op. cit. pág. 120. 0 pro cesso é do judaísmo de todos os tempos...
18
Azevedo Marques, "Apontamentos Históricos", pág. 243.
19
Monsenhor Pizarro, "Memória do Rio de Janeiro".
20
Diogo de Vasconcelos, op. cit. págs. 215-217. Cf. Xavier da Veiga, op. cit. págs 229 e segs.
Nunes, muito comum aos cristãos-novos; o acréscimo do nome da localidade de
nascimento, hábito inveterado nos judeus de todos os países; o amameiramento e o
jeito insinuante; a hesitação em face da luta armada; a procedência de Viana, cidade
de onde veio grande número de judeus para o Brasil. Os do Maranhão eram os
vianenses. Diz Urbino Viana, na pág. 51 do livro "Bandeirantes e sertanistas baianos"
que, para Capistrano de Abreu, Manuel Nunes era una interrogação. O homem já fora
preso na Bahia e enviado a Portugal, de onde voltou feito alcaide-mor de Maragogipe.
Que força! Houve na Bahia tradição de que até matara uma das filhas...
Manuel Nunes Viana participava do odioso contrato das carnes, que dava "rios
de dinheiro". Esse monopólio de açougues, coisa em que, como sabem os entendidos,
são provectos os judeus e que detém onde quer que se encon trem em quantidade,
pois dele fazem rendosa especulação, tanto contra os cristãos, com a carne fret ou da
rês abatida de maneira comum, quanto contra os próprios israelitas, com a carne
kosher ou da rês sangrada de acordo com as prescrições talmúdicas, levantava a
indignação dos paulistas. É a checkita, que ainda agora está preocupando os
legisladores da Polônia e Dantzig. Eram sócios de Manuel Nunes o reinol Francisco do
Amaral Gurgel, cujos sobrenomes e cuja atuação o fazem suspeito de judaísmo,
também senhor do monopólio do fumo e da aguardente, e o frade goliardo e
aventureiro Francisco de Menezes, religioso da Santíssima Trindade, que Diogo de
Vasconcelos denomina "o maior dos apóstatas que então andavam nas Minas".
Já tinha havido grandes e vigorosos protestos contra o açambarcamento judaico
desses ramos de comércio. Uma rês que custava no sertão de 3 à 9 oitavas de ouro
(5$280 a 15$840) era vendida no Rio das Velhas, no Ribeirão do Carmo e Ouro Preto
de 70 a 90 mil réis! Os interessados não corriam perigo algum de prejuízo, porque
"tinham em mão a estabilidade e a segurança dos preços". Outro encarniçado
defensor do monopólio era frei Firpo, "tão bom como frei Francisco". Os monopolistas
tinham amigos e parceiros no Rio de Janeiro, que os defendiam perante o governo.
Toda essa trama é positivamente judaica. Não contentes com ela, ainda
atravessavam ou açambarcavam, como se diz hoje, todos os gêneros de primeira
necessidade21.
Isso ainda envenenava mais a situação, fazendo redobrar o furor dos paulistas,
vilmente explorados e despojados dos seus bens. Começou, de novembro para
dezembro de 1708, a atoarda de que eles preparavam a chacina de todos os
forasteiros que haviam invadido as minas. O eterno boato judaico para justificar as
violências posteriores! Os emboabas fingiram-se amedrontados, congregaram-se e
aclamaram Manuel Nunes Viana capitão – regente ou governador, com poderes
ditatoriais. "Este golpe audacioso, a imitação erudita que o sugeriu, a hipocrisia que o
traçou, e mais ainda a iniciação do governo de Manuel Nunes, calculada e
ardilosamente concebida, tudo nos leva a procurar a cabeça pensante, que dirigiu tal
obra e tão bem acabada, como o foi para o tempo e para o sertão. E logo nos
apresenta para tanto a figura maquiavélica de frei Francisco de venezes 22..." Pois em
sã consciência vemos aí um plano judaico, igual a todos os planos judaicos postos em
prática por toda a parte e em todas as épocas.
Manuel Nunes foi ajudado por outro homem opulento; Pascoal da Silva, cujos
meios de fortuna e nomes justificam suspeitas de cristandade nova, chefe dos
emboabas contrários aos paulistas de Cachoeira do Campo e Ribeirão do Carmo. Frei
Simão de Santa Teresa foi feito secretário do novo governador e o mestre de campo
Antônio Francisco da Silva, "aventureiro de primeira linha", como declara um cronista,
assumiu o comando militar.. Em geral, 'os historiadores elogiam Manuel Nunes, talvez
confundindo sua habilidade e disfarce com verdadeira boa intenção. O conde de

21
Cf. Diogo de Vasconcelos, op. cit. págs. 220 e segs.
22
Diogo de Vasconcelos, op. cit. pág. 218.
Assumar, porém, chama-o em carta ao marquês de Angeja, categoricamente
"facinoroso".
Diante do rumo que as coisas tomavam, os paulistas fortificaram-se em Sabará.
O ditador mandou incendiar o arraial pelos índios ao seu serviço. Na confusão
causada pelo fogo, os emboabas deram o ataque, pondo os brasileiros em fuga. E lá
se foram eles, vencidos, sertões afora, alarmando os moradores inseguros diante
daqueles novos conquistadores albergados em suas terras e que delas de repente se
apoderavam, visando unicamente o ouro!
Inferiores na proporção de um para dez, os paulistas de Cachoeira do Campo, se
entrincheiravam e esperavam o choque de seus inimigos. Mas vieram os emboabas
de Ouro Preto em auxilio dos outros e forçaram a entrada do arraial pelo lado menos
defendido. Ferido, Manuel Nunes passou o comando ao apóstata frei Frahcisco.
Sobrevindo a noite, cessou a luta. Pela madrugada, quando os paulistas exaustos
estavam mergulhados em profundo sono, o frade lançou sobre eles mamelucos e
índios mercenários, obtendo completa vitória23. Na própria igreja do arraial
conquistado, Manuel Nunes foi sagrado ditador, com as insígnias do governo.
Aboletou-se em ouro Preto e mandou atacar o Ribeirão do Carmo, hoje Mariana, mas
a indiada ao seu serviço fugiu ao primeiro contato com os descendentes dos
bandeirantes.
Ainda não estava de todo quebrada, como se vê do episódio a resistência
destes. Valentim Pedroso de Barros juntou os fugitivos de Sabará e Cachoeira no Rio
das Mortes. Muitos eram veteranos das epopéias sertanistas e dá conquista de
Palmares, dispostos a uma resistência tenaz. Amaral Gurgel mandou ataca-los pelo
capitão Gonçalo Ribeiro Corço, nome de cristão-novo, que mal os avistou se pôs em
fuga. Então, Amaral Gurgel avançou com mais gente e cercou-os em um capão,
obrigando-os a se renderem pela fome e pela sede. Prometeu-lhes a vida salva, mas
violou a capitulação, como seu êmulo do Nordeste, o feroz judeu Jacob Rabbi,
fazendo matar friamente trezentos deles. Chamou-se àquele local de Capão da
Traição em lembrança dessa façanha judaica.
Por esse tempo, já o poder de Manuel Nunes vinha sendo minado pelas
dissensões entre os forasteiros reinóis e baianos. Foi quando o governador D.
Fernando de Mascarenhas resolveu ir do Rio de Janeiro às Minas para pôr cobro ao
que lá ocorria. De muito longe, avinda da autoridade foi anunciada a Manuel Nunes
pelas fogueiras que os espiões índios acendiam nas quebradas dos montes e se
reproduziam pelas serranias silenciosas. Os emboabas estavam, pois, prevenidos para
recebê-la, de maneira que, quando chegou ao arraial de Congonhas, encontrou um e-
xército de 4 mil homens a dar-lhe "morras". O pusilânime" D. Fernando, como o
qualifica Xavier da Veiga24, voltou para o Rio, de onde escreveu a E1 Rei, dando-lhe
conta de tudo. Pela primeira vez no Brasil, a autoridade capitulava diante da sedição.
E da sedição judaica!!!
O esperto Manuel Nunes queria que sua gente se apoderasse das lavras dos paulistas,
mas não lhe convinha desafiar as iras do rei, contra cujas forças não se poderia
manter. Por isso, quis mostrar-se fiel à coroa, arrecadando escrupulosamente os
quintos de ouro extraído e mandando frei Francisco de Menezes a Lisboa, pela Bahia,
carregado de dinheiro, presentes e protestos de submissão, a fim de obter seu
indulto.
Em junho de 1709, a capitania de Minas Gerais foi desanexada da de São Paulo,
e para ela veio como capitão-mor Antônio de Albuquerque, homem cheio de serviços
a Portugal. Chegando a Caetê, avistou-se com Manuel Nunes, que lhe submeteu com

23
Claudio Manoel, "memória Histórica da Capitania de minas". Cf. Diogo de Vasconcelos e Xavier da Veiga, ops.
cits.
24
Op. cit. pág. 238.
abjeto servilismo e vileza, diz o historiador baiano Borqes dos Reis, próprios de um
judeu e exilou-se voluntariamente na sua fazenda de Jequitaí, em pleno sertão. Sua
obra de expropriação forçada dos paulistas estava finda e só lhe restava esperar
sossegado a ação de frei Francisco na capital da metrópole.
O frade apóstata não perdera tempo. Ajudado pela burguesia opulenta da Bahia,
toda ela composta de cristãos-novos25 e que dispunha de "todo prestigio na corte"26,
despejando ouro e angariando empenhos, conseguiu do soberano, em novembro de
1709, um alvará de indulto geral. Com ele, o poder real sancionou a espoliacão dos
sertanistas pelo judaismo dos emboabas.
Os últimos paulistas expulsos das Minas foram recebidos em São Paulo como
covardes. Suas mães, mulheres e filhas nem os quiseram ver. Então, de novo se
apresentaram para a guerra sob o comando de Amador Bueno da Veiga, neto daquele
outro Amador Bueno que não quisera ser rei. Em número de mil e duzentos sitiaram
os emboabas no arraial da Ponta do Morro; mas, cheios de desânimo e apoquentados
de dissensões, ao saberem que contra eles marchavam do Rio de Janeiro as tropas
realengas, retiraram-se precipitadamente. Desta sorte terminou a guerra civil e os
únicos que com ela ganharam foram aqueles forasteiros, mascates27, tratantes e
açambarcadores chamados emboabas. Dê-se a palavra a Werner Sombart: "A guerra
é a seara do judeu!"
O sacrificio sangrento dos paulistas produziu quase um milhão de quilos de
28
ouro , que se escoaram para Portugal, de onde fugiram para a Índia, nos gastos que
lá se faziam, e para Inglaterra pelas mãos do judaísmo. Até 1820, do Brasil se
extraíra em ouro o valor de 974.324. 040 cruzados29! O ouro confiscado aos
contrabandistas se elevou a 1.136.093.900 cruzados! Avalie-se o que passou sem ser
confiscado, sobretudo ali por 1750, quando atingiu sua maior florescência a extração
do precioso metal30, feita em Goiás, Mato Grosso, Bahia, Minas, São Paulo e até no
Ceará! A produção aurífera do Brasil até a independência foi de 45.700 arrobas e seu
rendimento até 1801, de cinco milhões de contos31. João Lúcio de Azevedo calcula em
100 milhões esterlinos a "totalidade ou ouro exportado para a metrópole no espaço
de um século!" 32.
Toda essa esplêndida riqueza que o judaísmo emboaba queria a "sós e sem
partilha", custou as dores da grande tragédia dos paulistas mortos à traição na defesa
do que haviam conquistado!
Não contente com isso, a judiaria ainda retirava o ouro em circulação como
costumava fazer desde o tempo dos romanos33, em "farta colheita", exportando-o, do
que resultou o "empobrecimento geral". A criação, pelo governo português, em 1694,
antes da vitória emboaba, da moeda provincial, exclusiva para o Brasil, mais fraca do
que a do reino e proibida de ser exportada, obedeceu à necessidade da defesa contra
esse golpe judaico34. E esse ouro arrancado do Brasil mais tarde, veio a ser em-

25
Cf. "Denunciações da Bahia", ed. Capristano de Abreu, pág. 216; Pyrard de Laval, "Voyage, etc.", pág. 5-39;
Escragnolle Taunay, "Na Bahia Colonial", pág. 291; Paulo Prado , "Paulística" pág. 18
26
Diogo de Vasconcelos, op. cit. pág. 250.
27
A mascateação era privativa dos judeus. Cf. Jorge guerreiro "Os judeus no Rio de Janeiro" in "A Universal", "o 11°-,
n° 53, pág. 311.
28
Eschwege, op. cit. pdgs. 401-402: ao certo, 931.446 quilos!
29
Eschwege, op. cit. loc. cit.
30
Idem, idem, idem.
31
Pandiá Calógeras, "Formação Histórica do Brasil, pág. 75.
32
(32) João Lúcio de Azevedo, "Épocas de Portugal Econômico"; págs. 377 e segs.Pedro Calmon, op. Cit pág. 94 in
nota
33
Cícero, Mo Flacco".
34
Padre Antonio Vieira, "Cartas°, ed. De 1885, tomo I, pág. 350; Pedro Calmon, op. cit. págs. 95-96.
prestado ao mesmo Brasil, com avultado lucro35, escravizando-o desde a sua
independência política à burra dos prestamistas judaicos do Kahal de Londres...

35
General Abreu de Lima. "História do Brasil" ed. Làemmert, Rio de Janeiro, 1861, pág. 155; G. Barroso. "Brasil
Colônia de Banqueiros". "0 ouro da América arruinou a Espanha, o ouro do Brasil produziu o mesmo efeito em
Portugal", diz a "Memória analítica acerca do comércio de escravos" de F. L. C. B., ed. da Tip. Comercial Fluminense,
Rio de Janeiro, 1837.
CAPÍTULO VII

O Drama dos Diamantes

ALÉM DE conquistar e definir o amplo território, o heroísmo bandeirante achara


o ouro das Gerais, de Goiás e Cuiabá; além de achar o ouro, encontrara os
diamantes. Adiante da Vupabussu de Fernão Dias, o sertão se estendia vestido de
cerrados e matas, e, muito longe, o pico solitário do Itambé desafiava a curiosidade
dos aventureiros reinóis, mamelucos e paulistas. Eles batiam aquelas solidões
povoadas de feras e de miasmas, lavando a cangíca dos ribeirões à cata das pepitas
de ouro. A cada descoberto, como se dizia, avançavam mais, pelo Rio Grande, pelo
Piruruca, pelo Jequitinhonha, fundando os arraiais do Tijuco e do Burgalhau. Na
última década do século XVII, a fama das riquezas auríferas atraiam naquela remota
região "grande número de aventureiros"1. Foram até a serra do Ibiturni, às
montanhas frias, varridas ia ventos gélidos, onde estabeleceram o arraial de Nossa
Senhora da Conceição do Serro Frio, depois vila do Príncipe e hoje cidade do Serro.
As brenhas inóspitas povoaram-se de colmados de minuradores, que se
derramavam sobretudo pelas devesas do ribeirão do Inferno, bateando nos
caldeirões. As lavras de Tijuco foram auríferas até 1729 e não se conhece, ao certo, o
lugar onde foi achado o primeiro diamante. Mas, nessa época, os cristais começam a
dar que falar de si e a portaria de D. Lourenço de Almeida, em 1729, se reouve a
"pedrinhas brancas que se entende ser diamantes"2. Em 1731, ainda a busca do ouro
alterna com a das pedras, como um contra-choque da tragédia do ouro tomado pelos
emboabas, os mineiros são despejados pela violência de suas lavras.
Como a região longínqua a hostil começasse a se despovoar, o comércio de
diamantes tornou a ser franqueado, somente se proibindo aos escravos participar
dele. Os negros trabalhavam nas catas com mordaças de ferro, a fim de não furtar as
pedras engolindo-as. O Museu Histórico Nacional possui um exemplar dessas
mordaças. Só na mina de Mandanga se empregaram 1.200 escravos. Em 1735, o
governo, decerto tangido por influências ocultas, resolveu que a mineração
diamantífera passasse a ser feita "por meio de contrato com alguma companhia"3. É o
primeiro passo do judaísmo para se apoderar dos diamantes como se apoderou do
ouro.
Solidônio Leite Filho diz que os judeus "contribuíram para a florescência da
indústria das pedras preciosas" no Brasil4. Veremos qual foi a verdadeira natureza
dessa contribuição. A descoberta das minas brasileiras, trazendo ao mercado pedras
mais belas do que as do Oriente, fez correr risco ao comércio das mesmas, cujo
monopólio os judeus detinham desde as mais antigos tempos. Então, organizaram em
Londres é Amsterdam, "um conluio, a fim de aniquilar toda concorrência, continuando
na posse exclusiva do monopólio"5. Um negociante londrino de diamantes, técnico no
assunto, João Mawe, pinta claramente a ação dos monopolistas judeus, que fizeram
extensas especulações na Europa com os diamantes brasileiros. Espalharam o boato
proposital de que o diamante do Brasil era em tudo inferior ao oriental, mantendo nas
bolsas a sua depreciação, a fim de comprá-lo por baixo preço. Negaram a procedência
dos que apareciam e apresentaram os mais ordinários,afirmando que eram refugo dos
da India. Compravam barato os que caíam em mãos de pessoas que não entendiam
do negócio, remetiam-nos para Goa e, ao recebê-los de torna-viagem, garantiam que
eram hindus e os vendiam pela mais alta cotação6.
1
Joaquim Felício dos Santos, op. cit. pág. 7. (2) Op. cit. pág. 21.
2
Op. cit. pag 21
3
Idem, pág. 39.
4
"Os judeus no Brasil", pág. 102.
5
João Lúcio de Azevedo, "O marquês do Pombal" pág.130.
6
John Mawe, "Travels in the interior of Brazil".
O distrito diamantino, como as Gerais auríferas, se encheu de adventícios de
todo quilate, denominados traficantes, os mascates judeus de sempre; de indivíduos
que se diziam munidos de licenças vocais para a compra das pedras preciosas7.
Foram tantos os tais traficantes judeus que acorreram ao Tijuco, que a vila tomou
uma fisionomia absolutamente oriental. Em 1799, essa povoação, "a mais linda, em
outro tempo, de Minas", parecia "o retrato de um pequeno bairro de Constantinopla"8
Em 1729, Bernardo da Fonseca Lobo achou as grandes lavras do Serro Frio. O
primeiro contrato dos diamantes foi celebrado em 1739, dez anos depois, entre a
Fazenda Real, o desembargador João Fernandes de Oliveira e Francisco da Silva, que
formaram uma sociedade com o nome de Companhia dos Diamantes, pelo prazo de 4
anos. Se fosse possível encontrar a escrita da mesma, se poderia ver a origem dos
capitais que nela entraram. O segundo contrato foi dado ao mesmo contratador,
em prorrogação. O terceiro e o quarto couberam aos irmãos Caldeira Brant. Ao tempo
do Marquês de Pombal, o mais notável deles, vítima de intrigas, foi dar com os ossos
na prisão do Limoeiro. É bom não esquecer que, no tempo do marquês, judeus e
maçons dominavam em Portugal. O quinto e o sexto contratos tornaram a ser de João
Fernandes de Oliveira, que parecia protegido da sombra pelas influências poderosas
que talvez houvessem afastado os Caldeira Brant.
O desembargador João Fernandes de Oliveira era um verdadeiro príncipe, que
se tornou célebre pelos seus esbanjamentos e pela influência que sobre ele exercia
sua amante, a famigerada Xica da Silva, "Dominadora do Tijuco", ex-escrava de José
da Silva Rolim, sem beleza, sem espírito e sem educação. Ele satisfazia-lhe todos os
caprichos, deslumbrando a toda a gente com o fausto de jantares e representações,
chegando a mandar construir grande tanque com um navio em miniatura, para que
ela gozasse a sensação de embarcar9.
O último contrato expirou em 1771. Antes, porém, já o contratador João
Fernandes de Oliveira, cheio de dividas para com os judeus, abandonado de seus
deuses tutelares, morrera louco em Lisboa10.
Findo o prazo do contrato, a extração dos diamantes passou a ser feita pelo
governo real, que contratou a venda das pedras diretamente com os judeus. Ao
terminar o século XVIII, o contrato de venda foi passado com os irmãos Benjamin e
Abraão Cohen, de Amsterdam, os quais, em virtude das crises políticas oriundas da
Revolução Francesa, produtoras do desemprego e paralização dos negócios na
Europa, baixaram os preços ao seu talante11, certos de ganho liquido e vultoso,
quando voltasse o bom tempo. Apesar dos pesares, Portugal apurou da venda de
diamantes, até o começo do século XIX, 16 milhões de cruzados12. Nove milhões de
esterlinos é o cálculo de João Lúcio de Azevedo para a exportação diamantífera no
período de um centenario13.Isso produziu para a coroa portuguesa um lucro real de
5.040 contos de réis14. Os controladores do contrabando de diamantes do Brasil eram
os judeus de Amsterdam; até o começo do século XIX, os Hoppe15, que compravam
por 45 francos o quilate de diamante bruto e vendiam por 197 lapidado16.
Enquanto Portugal, até o começo do século XIX, apurava 16 milhões de
cruzados nos diamantes do Brasil, os judeus, segundo cálculos de 1858, apuravam

7
Joaquim Felicio, op. cit. pág. 71.
8
Dr. José Vieira do Couto, "Memória da Capitania de Minas Gerais", 1799.
9
Joaquim Felício dos Santos, op. cit. pág. 143.
10
Op. cit. pag. 135. Cf. Xavier da Veiga, op. cit.
11
Idem, idem, págs. 229-230.
12
Eschwege, op. cit. pág. 402.
13
"Épocas de Portugal Econômico", pags. 377 e segs.
14
Idem, idem.
15
D'Orbigny, "Voyage pittoresque dans deaus Amériques", Paris, 1936, pág. 180.
16
Charles Sarbot, MAS complet des pierres précieuses", ed. E. Lacroix, Paris, 1858, pág. 221.
anualmente, incluindo o contrabando, 25 milhões de francos17. Imagine-se o lucro nos
20 primeiros anos em que a produção diamantifera fora de 3 milhões de quilates, isto
é, cerca de 15 quilos anuais18.
O judeu apoderou-se, como vimos, dos resultados das lavras de diamantes
achadas pelos sertanistas. Essa expropriação não custou o sangue dos brasileiros,
como a conquista do açúcar pelos flamengos, seus sócios de empreitada, ou a das
minas de ouro pelos emboabas, seus mercenários traiçoeiros; nem as dores de uma
raça infeliz, como o infame comércio de escravos pelos ingleses, seus parceiros no
tráfico. Saiu mais barato: custou somente o drama oculto que levou à miséria e à
loucura o faustoso contratador João Fernandes de Oliveira...

17
Charles Barbot opa cit. pág. 222.
18
Op. cit. pág. 220.
CAPÍTULO VIII

A Guerra Judaica

NA PRIMEIRA década do século XVIII, o judaismo atacou, ao mesmo tempo, os


possuidores da riqueza no Brasil, a fim de se apoderar dela, no Sul e no Norte. Atacou
os paulistas, donos das minas de ouro, e os pernambucanos, donos dos engenhos de
açúcar. Emboabas em Minas Gerais, mascates no Recife, esses inimigos dos
brasileiros não eram mais do que judeus portugueses disfarçados, na grande maioria
provenientes do Minho. A voz geral denominava os forasteiros e os historiadores,
todos eles cegos em relação à questão judaica, rotulam-nos como europeus. Todos
esses israelitas ou cristãos-novos se ocultavam sob a capa de católicos e usavam
velhos nomes portugueses, como o gangster judeu Abraão Finckelstein se orna com o
antigo nome russo de Máximo LITVINOF. Tambem desfiguravam os nomes judaicos;
por exemplo: Misael se mudava em Miguel, Hisneque em Henriques, Fungeca em
Fonseca, Jacob em Diogo, Barrosch em Barros. Mas os processos de que lançaram
mão, as artimanhas de que usaram e a força oculta de que dispuseram os revelam à
distância. Tanto emboabas como mascates eram meros aventureiros, mercadores
enriquecidos sem escrúpulo, açambarcadores de gêneros, gente corrompida e
corruptora.
"O assalto à riqueza, escreve Mário Sáa1, é a primeira condição de todos os
assaltos; daí descendem naturalmente os outros: assalto ao Estado, assalto à
Religião, assalto à Vida mental". Já vimos na guerra dos emboabas como o judaísmo
procedeu ao assalto à riqueza, a fim de preparar os outros; veremos o desenrolar de
idêntico plano na guerra dos mascates. Esta é a réplica daquela. O que se passou em
Pernambuco reproduziu ponto por ponto, exatamente, o que se passou nas Minas.
Uma guerra é a cópia perfeita da outra. Tem-se até a impressão de que estão em
cena os mesmos personagens.
À guerra desoladora dos mascates, "que infelicitou tantos pernambucanos”, o
documentado e seguro historiador Fernandes Cama denomina: “movimento sedicioso
dos europeus portugueses”2. Ora, nesse tempo, “os portugueses dividiam-se política e
nitidamente em duas facções: cristãos-novos de um lado e cristãos-ve1hos do outro.
Não havia dóvidas, toda a gente o sabim; o próprio Pombal o confirmou no decreto
que abolia as distinções, afirmando que na família portuguesa não havia maior
divergência do que aquela. Nem era possivel havê-la: os hebreus judaizantes ou
católicos, olvidados ou agarrados às tradições, tinham entre si uma enorme coesão3;
desta maneira, em Portugal, não havia oportunidade para mais apartações sociais ou
políticas: cristãos-novos de um lado, cristãos-velhos do outro. O livro “Sentinela
contra judeus”4, em referência à conhecida coesão entre cristãos-novos, define um
vocábulo: “porque entre os marranos ou marrões [que em Portugal quer dizer
porcos], quando se queixa algum deles todos os demais acudem a seu grunhido, e
como assim são os judeus, que ao lamento de um acudem todos, por isso lhes deram
título e nome
de marranos”5.
Consultemos a história para saber se, com efeito, eram cristãos-novos, isto é,
judeus, ou cristãos-velhos, os tais europeus portugueses que acenderam essa guerra
injusta. Pernambuco fora restaurado do domínio judeu-herético dos holandeses pelo
próprio esforço de seus filhos, que se cobriram de glória numa luta heróica. Seus

1
A invasão dos judeus, pag 70
2
José Bernardo Fernandes Cama, “Memórias históricas da província de Pernambuco”, tip. Faria, Recife, 1848, tomo iv,
pags. 54-55.
3
Aquela cooperação que lhes deu a vitória na guerra dos emboabas, como anota Pedro calmor.
4
Ed. de 1732, cap. IX.
5
Mário Sáa, op. cit. pags. 110—111.
homens de prol, sua nobreza rural, que defenderam e retomaram o terra ao invasor,
que a aravam e fecundavam, entendiam manter seus foros e privilégio. Havia
portugueses limpos, honrados e bem educados, assegura o admirável Fernandes
Cama, que comprendiam isso e tratavam
fraternalmente os pernambucanos. Mas - acrescenta - “o turbilhão de aventureiros
auri-sedentos que, todos os anos, aportavam a Pernambuco”, que “viviam de vender
pelas ruas e freguesias do interior, arvorados em mascates”, “tornavam-se
capitalistas” e se julgavam “superiores à nobreza do país”6. Aqui está excelentemente
situada a diferença entre o português sério, decente, cristão-velho, amigo dos
pernambucanos, e o português aventureiro, inescrupuloso, cristão-novo, explorador e
inimigo da terra.
Essa cainçalha avançava sobre as posições e distinções com a conhecida avidez
judaica pelas honrarias e pelo mando, avidez de quem longamente foi privado desses
gozos. Chegavam até a arranjar hábitos de Cristo e comendas, “com juramentos
falsos, justificando-se parentes (sem o serem ) daqueles pernambucanos, que por
terem caído em pobreza por pouco mais de nada lhes cederam seus serviços”. Não
contentes ainda com isso, “tentaram abater e aniquilar a nobreza do país, para só
eles7 gozarem das honras e isenções adquiridas com o sangue pernambucano”8.
Recorro à pintura feita por Fernandes Gama9 da ação nefasta desses novos
invasores de Pernambuco, tão vorazes como os da Holanda e mais perigosos por se
infiltrarem com avenças de paz. Ninguém viu melhor nem melhor
reproduziu o quadro judaico da mascatearia, conjurada para empobrecer a nobreza
rural pernambucana, “fosse por que meios fossem”. Todo o comercio residia “em
poder desses forasteiros ou mascates10, que supriam os senhores de engenho,
adiantando-lhes dinheiro ou vendendo-lhes a prazo mercadorias. Eram, além disso,
os intermediários, os comissários de todas as vendas de açúcar. “No fim das safras,
cada senhor de engenho devia uma soma considerável ao mascate que o tinha
suprido, e então este inflexível credor instantaneamente o apertava, dando-lhe a
escolher, ou pagar-lhe no ano seguinte o duplo do que devia, ou entregar-lhe o
açúcar a 400 réis cada arroba, açúcar este que ele remetia aos seus correspondentes
na Europa, à razão de 1$400. Qualquer destes dois negócios arruinaria infalivelmente
o miserável agricultor; mas, tendo os mascates monopolizado a compra dos açúcares,
outro remédio não tinham os tristes pernambucanos que se sujeitarem à vontade do
opressor europeu!” Substitua-se esta última palavra europeu pelo termo
verdadeiramente justo diante dessa caraterizada usura, o termo judeu, e se
verificará que vai como uma luva.
Esses tubarões dos negócios do açúcar, “que só do comércio cuidavam”,
reza o documento, resolveram intrometer-se nos negócios públicos. Assaltada a
riqueza particular, queriam assaltar a riqueza pública. Essa é a eterna marcha do
judaísmo em todas as épocas e em toda a parte. Vede a reprodução exatíssima do
que ai está em um autor sério e fundamentado como Heman: “A riqueza móvel da
Península Hispânica residia toda nas suas mãos; os bens de raiz pouco a pouco
passaram para as mesmas mãos pela usura e compra das propriedades da nobreza
endividada. Desde o lugar de secretário de Estado e de ministro das Finanças, todas
as funções que se relacionavam com impostos ou negócios de dinheiro estavam na
posse dos judeus”11. Aconteceu, assim, na Espanha medieval; assim aconteceu em

6
Fernandes Cama, op. cit. tomo Iv, pag. 57.
7
“A sós e sem partilha”, disse Azevedo Marques que os emboabas queriam as minas dos paulistas”; “só eles”, os
mascates, queriam gozar fortuna e honras dos pernambucanos. É bom comparar...
8
Fernandes Cama op. cit. tomo Iv, pág. 58.
9
Idem, idem, pógs. 57-58.
10
Forasteiros ou mascates, além de emboabas, em Minas. E bom comparar... Os dicionários definem mascate como
vendedor ambulante. É o que hoje chamamos vendedor a prestação, ofício inteiramente judaico.
11
“Die Historiche Weltstellung der ludem”, 1882, pags. 24 e segs.
Portugal desde os primórdios do reino, depõe Mário Sáa; precisamente a mesma coisa
teria de acontecer em Pernambuco nos anos que já anunciavam o advento de Pombal,
o grande amigo dos pedreiros-livres e dos judeus. O empobrecimento dos nobres
pernambucanos, senhores de engenho, era de tal modo visível, motivado pela usura
judaica, que os próprios mascates lhes puseram uma alcunha depreciativa e
simbolizadora de sua triste decadência: pés-rapados12.
O governador da capitania de Pernambuco, Sebastião de Castro Caídas,
“homem despótico, imoral e sem religião”, privava com os capitalistas e onzeneiros
judeus, que o cumulavam de presentes e lhe davam gordas propinas nas
arrematações dos contratos reais, os quais eram principalmente os de fornecimentos
e cobrança de dízimos, cizas e outros impostos. Desde o tempo dos romanos que os
israelitas se haviam especializado nesses negócios, com os quais escorchavam as
populações e construíam fortunas colossais. Em França, ao tempo da guerra dos
mascates, por exemplo, o judeu Cerfber monopolizara os fornecimentos dos exércitos
de Luiz XIV e uma récua de judeus sem escrúpulos se apoderara da ferme ou
arrematação dos tributos e fintas. Tiveram fama terrível esses fermers-genéraux!
Conta-se que em Ferney, na casa de Voltaire, uma noite, anos mais tarde, os
visitantes contavam histórias de ladrões e roubalheiras. Instado para que também
contasse a sua, Voltaire pronunciou somente estas palavras: “Era uma vez um
arrematante de impostos. .
Para terem, sozinhos, sem partilha e com segurança, essas arrematações, seria
preciso que se realizassem no Recife e não em Olinda, capital da capitania. Nesta vila
antiga e tradicional, as famílias nobres, os cristãos - velhos, dominavam de modo
incontestável. Ciosos de seus foros, os fidalgos olindenses haviam pela provisão de 8
de março de 1705 conseguido impedir que do Senado da Câmara participassem
mercadores de “loja aberta”13. No Recife, povoação mais nova, cheia de judeus,
cabeça do herético e judaico domínio holandês, os cristãos-novos formavam talvez a
maioria e poderiam constituir o Senado da Câmara a seu talante. Erigido o Recife em
vila, a arrematação dos contratos seria logo para ali transferida e isso era o que
sobretudo importava. Composto o Senado da Câmara de mascates ou de criaturas
suas, e sendo mascates os arrematadores, os judeus seriam juizes e parentes ao
mesmo tempo em esplêndidas negociatas. Demais, aos almotacéis, nos antigos
municípios, competia taxar ou tabelar, como se diz hoje, o preço dos gêneros
alimentícios. Senhores da Câmara, o almotacé seria indicado pelos judeus e,
magistrado obediente e seus senhores ocultos, taxaria a preço baixo os gêneros que
os matutos agricultores apresentassem nas feiras e a preço alto os das vendas dos
cristãos-novos 14. O plano era, em verdade, mascatal, como diria Videant, o
panfletário da epoca...
“Desde a época dos holandeses, nota Varnhagen, Olinda - havia decaído, à
medida que levantava o Recife, crescendo muito em pupu1ação”15. Nassau dera
grande prestígio e impulso à capital da Nova Holanda com as obras que ali fez e com
o movimento cultural que gerou. A própria posição do povoado, que gozava de
ancoradouro abrigado e seguro, o número de fortalezas que o defendiam, tudo isso
contribuía para essa predominância crescente. A mudança da capital tornara-se
questão de vida e morte para a mascatearia. Despejaram ouro às mancheias,
mobilizaram todos os empenhos possíveis e usaram à sua vontade o governador
Sebastião de Castro Caídas até conseguirem a execução do seu intento. O Recife foi
erigido em vila, com direito ao pelourinho simbólico. A gente de Olinda sapateou, e
não era para menos, enquanto os judeus se tornavam insuportáveis” e levavam a
12
Varnhagen, “História Geral do Brasil”, 3a ed. integral, Cia. Melhoramentos de S. Paulo, tomo III, pag.
400.
13
Idem, idem, pag. 393.
14
Fernandes da Gama, op cli. tomo iv, pag. 60.
15
Varnhagen op. cli. tomo III pag. 393.
ousadia16 ao ponto de quererem excluir todos os nobres, os pés-rapados, das funçães
da governança17.
Naturalmente, os ânimos pernambucanos começaram a fermentar e não se
faria esperar a reação nativista. Apressou-a a repartição dos termos das vilas de
Recife e Olinda, demarcados no território que antes pertencera unicamente à última.
O governador começou a influir para que, nessa divisão, Olinda fosse grandemente
prejudicada 18. Pouco a pouco, os ódios foram se exacerbando até que se formaram
dois partidos: o dos mascates, tendo à frente o governador, e o dos pés-rapados, a
cujo lado se pusera o ouvidor José Inácio de Arouche. Então, Sebastião de Castro
Caldas irritou-se e começou a vexar os povos
para favorecer aos forasteiros. Mandou agarrar por qualquer pretexto e meter na
cadeia homens das mais nobres famílias de Pernambuco: Barbalhos e Cavalcantis.
Outros nobres fugiram para evitar os desacatos.
Foi quando o braço da vingança se estendeu da sombra e o governador se viu
ferido a tiro, de surpresa, na rua da Agua-Verde, sem que fosse possível identificar os
autores do atentado19. Mas as suspeitas começaram a valer como provas e as grades
das prisões se fecharam sobre homens conceituados e dignos como o capitão—mor
Lourenço Cavalcanti Uchôa e o capitão André Dias de Figueredo. Aproveitando a raiva
e o medo do governador, a audácia dos mascates levou-os a acusar o próprio
ouvidor, que correu a refugiar-se na Paraíba.
Sebastião de Castro Caldas e os judeus mascatais tinham, contudo, íntimo
pavor de um motim popular que vingasse tantas violências e afrontas. Resolveram
desarmar o povo, como hoje se fecham as organizações patrióticas e as ligas fascistas
antes de dar certos golpes. Reconhece Fernandes Gama que tirar as armas daquele
brioso povo nordestino equivalia a “entregá-lo ao domínio estrangeiro”20. Cansados de
insolências e insultos, os pernambucanos sublevaram-se a 5 de novembro de 1710. O
capitão-mor Pedro Ribeiro não se quis sujeitar a prisão que lhe era imposta pelo
parcial governador e aprisionou o capitão João da Mota, encarregado de prendê-lo21.
Cerca de dois mil homens bateram a infantaria de linha do governo e a fizeram recuar
para o Recife. Os terços de Auxiliares e Ordenanças, milícia territorial do país, na sua
maioria fraternizaram com os seus patrícios em armas22. Os defensores dos mascates
foram impotentes para deter o avanço dos rebeldes, que tomaram a vila. Sebastião
de Castro Caldas fugiu por mar para a Bahia, levando em sua companhia os principais
cabeças dos forasteiros, entre os quais talvez o pior deles, que pelo nome se não
perca, Simão Ribeiro Ribas. De posse do Recife, com a nobreza comum aos cristãos-
velhos, os pernambucanos não praticaram a menor violência contra seus adversários,
limitando-se a arrancar as insígnias de cargos e postos aos judeus que as ostentavam
com alarde e empáfia23. O sargento-mor Bernardo Vieira de Melo propôs que
Pernambuco se declarasse em república, “semelhante à de Veneza”; mas a idéia não
foi aceita24.
Entre os documentos de Sebastião de Castro Caldas, encontrados em uma
secretaria, havia uma carta-régia provendo sobre a vacância do governo. Vinha
nomeado nela em primeiro lugar o mestre-de-campo João de Freitas Cunha, já

16
A isolentia jodoenrum a que se referia o bispo Aqobard em plena Idade-Média...
17
Fernandes Gama, op. cli. tomo IV, p~g. 59.
18
Felipe Lopes Neto. ‘Guerra civil ou Sedições de pernambuco” in “Revista do Instituto Histórico e Geográfico do
Brasil”. Imp. Nac. Rio, 1894, tomo XVI, pag. 8
19
Idem, idem, pag. 9.
20
Op. cit. tomo iv, pag. 64. Ao domínio estrangeiro! Não é o domínio da metrópole, natural no tempo da colônia. É
outra coisa. O conceituado historiador sentiu o mesmo perigo que sentinos hoje sob a ameaça do comunismo judaico
21
Varnhagen, op. cli. tomo III, pàg. 396.
22
Idem, idem, idem.
23
Fernandes Gama, op. cit. pág. 68.
24
Rio Branco, “Efemérides Brasileira” Imprensa Nacional, Rio de Janeiro, 1918, pag. 526.
falecido, e, em segundo, o bispo D. Manuel Alvares da Costa. Para demonstrar
categoricamente que não estava em rebeldia contra o poder real e sim contra o bando
de mascates, o kahal judaico, conluiado com o injusto e cruel governador, a gente de
Pernambuco deu posse ao bispo no dia 18 de novembro. D. Manuel restabeleceu a
ordem e publicou um perdão, em nome de El Rei, indultando todos quantos tinham
participado da justa rebelião25.
Os mascates judeus não se deram por vencidos. Eles não largariam sem mais
aquela cobiçada presa. Consertaram a desforra, prevenindo-se cuidadosamente! Dos
que foram para a Bahia, com seu testa-de-ferro um governador, Joaquim de Almeida,
seguiu para Parelha, em missão especial, os outros ficaram maquinando planos.
Urdiram uma conspiração nitidamente judaica pelo que narra Fernandes Gama:
“Apenas chegaram aos seus destinos, estes conspiradores começaram sob o título de
especulação mercantil, a comprar a todo preço mantimentos, principalmente farinha,
servindo-se nestas compras de seus agentes no interior; e posto que os comprassem
por maior quantia, nem com tudo perdiam, porque as fazendas que davam em troco
eram também vendidas por preço elevado; assim se foram preparando os
conspiradores, enquanto os pernambucanos descansados em suas consciências se
entregavam às suas privadas ocupações”26. O plano até parece decalcado dos
famosos “PROTOCOLOS DOS SABIOS DE SIAO”...
Caso típico de açambarcamento judaico para perturbar a normalidade da vida e
irritar o povo, a fim de provocar desordens e levá-lo onde se quer. Na opinião de
Mario Sáa, “foram sempre os cristãos-novos os únicos açambarcadores de funções e
coisas, que têm havido em Portugal” 27. Segundo João Lúcio de Azevedo, as matanças
ou pogroms de judeus em Lisboa, foram precedidas de “enormes carestias da vida”
que os açambarcamentos causavam e que faziam o povo estourar de raiva. O
atravessamento de gêneros de primeira necessidade por parte de tal gente, para criar
dificuldades, fomentar revoltas e empobrecer os inimigos, está documentado por
historiadores dignos de respeito28 e por si só é suficiente para denunciar o espírito
judaico dos mascates.
Com vagarosa tenacidade, levaram seis meses açambarcando os víveres,
despendendo com esse fito o dinheiro “com mão larga” e passando os gêneros
escondidos dentro de caixas de açúcar, a fim de evitar qualquer suspeita. Mostraram-
se, dessa maneira, premeditados, fementidos e cautelosos. Compraram, também,
infamemente todos quantos se curvaram ao ouro judaico, traindo a causa sagrada
dos seus irmãos: o capitão João da Mota por 6 mil cruzados; o negro Domingos
Ribeiro Carneiro, mestre-de-campo do terço de Henriques29, por 400 mil réis; o
Governa dor dos índios, D. Sebastião Pinheiro Camarão, descendente do herói da
guerra holandesa30, por 3 mil cruzados; o capitão-mor do Cabo, pelo perdão do que
devia aos usurários; Atanásio Gomes e mais alguns fuões de Goiana, por 14 mil
cruzados; o capitão-mor da Paraíba, João da Maia31 da Gama, que usava este último
nome sem direito à ele, como solam fazer os cristãos-novos, tanto que o historiador

25
Felipe Lopes Neto, op. cit. pag. 14.
26
Op. cit. tomo Iv, pag. 69
27
Idem pag. 76. “Embora encareças o pão e uma medida de trigo custe uma moeda, tudo é boa condição para a
revolução”, Henri Rarbusse (judeu), “jesus”, in fine,
28
Felipe Lopes Neto, op. cit. pag. 15.
29
Nas nossas antigas milícias territoriais, até 1831, se guardou religiosamente a brilhante tradição dos
soldados pretos de Henrique Dias, nos terços e regimentos de Henriques. Houve Henrique e, depois, caçadores-
Henriques em Pernambuco, Bahia e Rio de Janeiro, cf Gustavo Barroso e 3. Wasth Rodrigues, “uniformes dp
Exército”, ed. of. Ferroud, Paris, 1922.
30
D. Sebastião era filho de D. Diogo Pinheiro Camarão, primo e sucessor do grande Camarão. Cf. Rodolfo Garcia,
nota 19 a pág. 398 do tomo III da 3a ed. da "História Geral do Brasil" de Varnhagen.
31
Maia é nome comuníssimo entre os judeus portugueses. Foi ele que deu, na dispersão dos sefardim pela Europa, os
Mayer e os Meyer.
Fernandes Gama repele qualquer parentesco com o vilão, por alguns milhares de
cruzados32.
A reconquista de Pernambuco pelos mascates estava preparada para quando
rompesse a frota que anualmente vinha de Portugal. Os infames forasteiros temiam a
valentia pernambucana e queriam todas as seguranças. A fim de preparar os ânimos
para o que ia acontecer, de acordo com a velha técnica dos golpes judaicos, já
aplicados com êxito pelos emboabas com a atoarda da pretensa matança de seus
comparsas, espalharam o boato de pretenderem os brasileiros impedir a tomada de
posse do novo governador esperando na frota, caso não trouxesse confirmação real
do indulto concedido pelo bispo. Para isso, - diziam que se apoderariam de quartéis e
fortalezas, entregando a capitania aos corsários do rei da França, com quem Portugal
se achava em guerra 33. O fim disto era causar indignação à tropa e às pessoas fiéis à
coroa.
Como a frota tardava aparecer e temessem que fosse descoberta a conjura,
decidiram dar o golpe de surpresa assegurando-se pela traição do bispo-governador.
Seus cúmplices convidaram-no para uma visita ao forte do Mar, onde seria
aprisionado; mas, como as ondas se encapelassem no dia marcado, D. Manuel
desistiu do embarque, escapando por felicidade à cilada.
Urgia, porém, uma resolução e, a 18 de junho do ano de 1711, os conjurados
saíram pelas ruas, à frente de soldados amotinados, gritando cinicamente: - Viva E1
Rei D. João V! Morram os traidores! com o fito de fazer crer à população que os
pernambucanos queriam atraiçoar o governo34. O bispo e o ouvidor Arouche tentaram
apaziguá-los, prendendo até o sargento-mor do terço dos Palmares, Bernardo Vieira
de Melo, homem prestigioso, não só para salvá-lo de suas garras como para "tirar
qualquer pretexto" de sublevação. Mas os chefes militares vendidos guarneceram logo
os fortes com oficiais e soldados europeus, suspenderam o bispo das funções do
governo, custodiando-o em companhia do ouvidor, e nomearam "um governo intruso
e monstruoso", verdadeiro soviete, composto do negro mestre-de-campo e do capitão
Mota, que se pôs a expedir ordens. Depois, forçaram o bispo prisioneiro a assinar
cartas, que enviavam para o interior, dizendo que tudo se estava passando com sua
anuência, de modo a evitar o revide da gente da terra35. Afinal, proclamaram
novamente governador a Sebastião de Castro Caldas, ainda na Bahia, e declararam o
Recife cidade. A artilharia abocada para as ruas impedia qualquer reação. Esse
"pronunciamento" custou aos judeus 70 mil cruzados36.
Todavia, a 21 de junho, o bispo conseguiu fugir num escaler para Olinda,
avisando a gente dos engenhos e do sertão do que em verdade ocorria. Os
capitães-mores mobilizaram seus terços de Auxiliares e Ordenanças marchan do
contra o Recife a vingar o agravo. O bispo organizou os comandos militares e sitiou a
cidade judaica. O Senado da Câmara de Olinda intimou os mascates à rendição.
Repetia-se, embora em menor escala, a luta travada contra o domínio
judaico-flamengo.
A guerra desenrolou-se no meio de traições, reveses e vitórias. Camarão
sublevou os índios e João da Maia levantou os paraibanos em favor dos que lhes
pagavam.
"Confusa e revolta andava toda a terra; os homems inquietos e arruinados". A
"falsa fé" dos mascates espalhava desconfianças por toda a parte, mesmo dentro dos
seus muros, onde estalaram motins de soldados. As sortidas dos sitiados e as
ameaças dos índios e do lado à Paraíba obrigaram à convocação do clero e dos
proprietários de fazendas e engenhos, que se apresentaram com seus escravos e
32
Fernandes Gama, op. cit. tomo IV, pág. 70; Felipe Lopes Neto, op. cit. pág. 16.
33
Fernandes Gama, op. loc. cit. O mesmo disseram os vianenses de Bequimão.
34
Idem, idem, pág. 71.
35
Idem, Idem, págs. 72-73.
36
Varnhagen, "História Geral do Brasil", tomo IV, pág. 123.
acostados em armas. Após a derrota do Cabo, Camarão foi aprisionado em um
combate, entre Garapu e São José. Mais tarde, logrou fugir. Felizmente, o
governador-geral do Brasil, D. Lourenço de Almada, prendeu na Bahia, Sebastião de
Castro Caldas, quando se preparava para vir a Pernambuco, remetendo-o para Lis-
boa. Essa GUERRA JUDAICA, como todas as que se tinham travado no nosso pais,
menos a expulsão dos franceses e a destruição de Palmares, resultara, conforme diz o
autor de uma carta anônima ou panfleto, escrito contra os mascates do Recife, em
1711, da "cavilação mais odiosa que pode inventar a maldade humana!". Será preciso
mais alguma coisa para caracterizá-la?
Enfim, um dia avistaram-se em alto mar as treze velas da frota de Portugal!
Trazia novo governador, Félix José Machado de Mendonça Eça e Castro de
Vasconcelos. Há uma esperança de justiça e paz! Por uma jangada, recebeu fora da
barra, longa missiva do bispo, expondo tudo que acontecera e estava acontecendo.
Também recebeu a visita do João da Mota, enviado dos forasteiros. Fingindo-se cioso
do prestigio da autoridade, mas querendo, realmente, tomar as rédeas do poder sem
oposição dos pernambucanos em armas, mandou que as fortalezas fossem entregues
ao bispo, de quem desejava receber regularmente o governo. Os mascates
submeteram-se. Então desembarcou e foi empossado do cargo na Sé de Olinda.
Mandou recolher a artilharia e desmanchar as trincheiras: porém não impos o menor
castigo aos provocadores judaicos da luta, nem mesmo quando tentaram novo
tumulto em novembro.
No dia 18 desse mês, foi erigido o pelourinho, símbolo municipal de Recife, com
grandes festas e regozijos por parte dos mascates. Os chefes militares vendidos aos
seus cruzados, como Camarão e outros, voltaram sem ser incomodados e viram-se
recebidos sob ovações e flores. O novo governador, apesar de seus nomes ilustres e
nu merosos, não soube resistir ao ouro israelita, familiarizou-se logo com os
mercadores, concedeu-lhes privança em sua casa e aquele que mais lhe pagava o
tinha do seu lado37. Vieram com ele, outros dois flagelos para os "tristes
pernambucanos": o ouvidor João Marques Bacalhau nome de cristão-novo, e o juiz de
fora Paulo Carvalho, também, os quais puseram "a justiça em almoeda", decla-
rando-se "inteiramente pelos mascates".
Estes peitaram mais em seu favor grandes trunfos e empenhos em Lisboa, tal
qual os emboabas, por mediação de um êmulo do apóstata frei Francisco de Menezes,
frei Jacomé, franciscano intrigante, que satisfazia aos judeus pelo que com ele
despendiam "para à larga viver escandalosamente fora do seu convento"38.
Sob a égide dos três flagelos - governador, ouvidor e juiz, fez-se uma devassa,
que concluiu como era de se esperar que concluísse, declarando ter sido JUSTO o pro-
cedimento dos mascates, o qual merecia prêmio e não castigo! Os patriotas
começaram a ser vilmente perseguidos. André Dias de Figueiredo, Bernardo Vieira de
Melo e ou tros mais foram humilhados e presos. Alguns fugiram, amedrontados
daquela justiça parcialíssima. A intrigalhada judaica cindiu Pernambuco em
"parcialidades rivais". A solta, campearam abusos, traições, delações e crimes.
Reinou o terror judaico. A própria frota retornou ao reino, levando abundante
documentação forjada contra os pernambucanos; mas, por castigo divino, naufragou
nas costas de Galiza e os espanhóis despojaram de tudo os mascates judeus que nela
iam intrigar em Lisboa!
A "confusão geral" provocada por esses sucessos durou até 1714. Encadearam-se
ininterruptamente devassas e prisões. O bispo foi afastado para os sertões do São
Francisco. Houve muitas deportações, inclusive para Angola. Bernardo Vieira de Melo,
levado a ferros, em 1713, para Lisboa, lá morreu nos calabouços da torre de São

37
Fernandes Gama, op. cit. tomo IV, pág. 177.
38
Idem, idem, pág. 179.
João39. Os pernambucanos, vencedores leais pelas ar mas, foram vencidos
deslealmente pela insidia judaica e pela corrupção do ouro de Israel. Os hebreus, que
haviam explorado o empõrio do açúcar e o tráfico negreiro, que tinham entregue
traiçoeiramente a terra pernambucana aos piratas flamengos, iam desfrutar ainda
suas riquezas, como almejavam, "a sós e sem partilha". Como temos visto e
continuaremos a ver, essa desapropriação, segundo observa João Lúcio de Azevedo40,
não se realiza de um momento para outro e sem encarniçada luta. Começa pelas res-
trições legais, pelas coligações ocultas, pela força do poder monetário e vão "em
derradeira instância à violência contra pessoas e propriedades". Verificamos todas a
essas fases na guerra judaica dos mascates.
Por causa dela, mau grado a heróica restauração do século XVII, feita com
lágrimas e sangue, Pernambuco, coberto de glórias recaia outra vez, no século XVIII,
nas garras do kahal! O povo ia gemer no ecúleo das extorsões. Ficava muito pior do
que na época mais despótica do domínio holandês41. El Rei ordenou pelo Conselho
Ultramarino nova devassa pelos fatos posteriores ao motim contra o governador e
seus comparsas mascates, pois para esse confirmara já a anistia dada pelo bispo. As
súplicas das vitimas haviam penetrado na corte, apesar das "intrigas dos mascates",
cujo corifeu em Lisboa era o cristão-novo desembargador Cristovam Reimão42.
A Câmara de Olinda festejou naturalmente com estrondo a resolução de El Rei.
A judiaria mascatal aproveitou se disto para, adulterando os fatos de acordo com as
normas da Sinagoga, dizer que era uma afronta aos moradores do Recife43! A afronta
dos vadios e pés-rapados senhores de engenho aos esforçados, honrados e ativos co-
merciantes da praça...

39
Varnhagen, ed. integral, tomo IV, pág. 405: Borges dos Reis "História do Brasil", Bahia, 1915, págs. 155-156.
40
"História dos cristãos-novos portugueses", pág. 33.
41
Varnhagen, op. cit., ed. primitiva, tomo II, pág. 181.
42
Borges dos Reis, op. cit. pág. 155.
43
Varnhagen op. cit. ed. primitiva, tomo li, pág. 132.
CAPÍTULO IX

O Ninho do Contrabando

O meridiano de Tordesilhas foi recuado para o Oeste graças à audácia sem par
dos bandeirantes. Como tocava na Laguna, naturalmente no extremo
meridional do território brasileiro se travaria uma luta tenaz que durou séculos e
permitiu a flutuação das fronteiras até que as circunstâncias históricas trouxeram sua
fixação definitiva.
A oeste do meridiano se extendia a enormidade dos sertões que iam esbarrar
na muralha dos Andes, onde ficava o vice-reinado espanhol do Peru, estourando de
prata1. Ao sul da Laguna se alongava o pampa com seus gados alçados, aberto ao
corso dos predadores de rebanhos, cuja cobiça era despertada pela aventura pastoril
e que logo se transformavam em criadores. O predador de gado fixava-se ao solo
como estancieiro2.
A rota do poente fora procurada antes da do meio-dia. Desde 1550 se falava,
nos incipientes núcleos de população do Brasil, nos famosos peruleiros ou homens
que faziam o Peru. Eram, em grande maioria, judeus aventureiros que iam buscar a
prata das minas do Potosí, a qual, fundida e lavrada na metrópole e devidamente
contrastada, passava a chamar-se prata do Porto. A quantidade de prata
contrabandeada nessas viagens clandestinas foi colossal. Em 1622, só Antônio
Castanho Taques trouxe 40 arrobas, isto é, 600 quilos3! Até as moedas espanholas
eram trazidas por essa gente e corriam, recunhadas, no Brasil, dando um lucro
formidável pela diferença de valor. Deviam ser muito grandes os ganhos para os
cristãos-novos se arriscarem a freqüentar o vice-reinado porque a Inquisição de Lima
era por demais rigorosa para a judiaria de origem portuguesa4, que penetrava à cata
de metais preciosos até no México5, desafiando os familiares do Santo Ofício, as
delações e a fogueira, com aquela perseverança passiva, "teimosia de mosca do
judeu" a que alude Mario Sáa6. Do Peru, os judeus se espalharam pela audiência de
Charcas, a província de Tucumã e o estuário do Prata, desaguadouro natural das ri-
quezas do Potosi7. Em 1754, já residiam em Buenos Aires de 5 a 6 mil judeus
portugueses8, dando pleno curso à sua jeiteira para os bons negócios, que "pode não
revelar inteligência alguma, mas apenas a índole gananciosa"9.
A Inquisição de Lima começou a funcionar em 1579 e já em 1581 levava ao
auto da fé dois religiosos lusos judaizantes, os freires Álvaro Rodrigues e Antônio
Osório. Daí por diante, o número de cristãos-novos portugueses que figuram
nos mesmos autos, para abjurações leves ou veementes, para serem relaxados,
açoitados ou queimados por heresia, falso testemunho, latrocínio, bigamia e até por
dizerem missa sem o poderem, mostra a força da corrente peruleira encaminhada
em busca da prata. Em 1595, são condenados os judeus judaizantes João Fernandes
das Heras, Francisco Rodrigues, Jorge Nunes e Pedro Contreiras. Em 1605, Gregório
Dias, Diogo Lopes de Vargas e Duarte Henrique. Narrando esses e outros fatos, o

1
A prata era a riqueza quase exclusiva do Peru. Cf. Carlos Correa Luna, "Ensaios da HIstória Colonial - D. Baltasar de
Aranda". Buenos Aires, 1914, pág. 109; A Antonio de Ulloa, "Noticias Americanas", Madrid, 1792, pág. 225.
2
Pedro Calmon, "História da civilização Brasileira", pág. 72.
3
Pedro Taques, "Nobiliarquia Paulistana", ed.Taunay, pág. 245.
4
Argeu Guimarães. "Os judeus portugueses e brasileiros na América espanhola" in "Journal de La Societé des
Americanistes", XVIII, pág. 302.
5
Op. cit. loc. cit. João Lúcio de Azevedo, "História dos cristãos-novos portugueses", pág. 439
6
"A invasão dos judeus", págs. 60-61.
7
Carlos Correa Luna, op. cit. pág. 109. Em 1700, segundo Izaque Izeckson, loc. cit. havia 6 mil judeus refugiados no
Prata!
8
"A invasão dos judeus", pág. 50.
9
Op. cit. pág. 91.
grande escritor peruano Ricardo Palma chega a exclamar: "Mala suerte tenian los
portugueses con la Inquisisión de Lima10!". Em 1625, Diogo de Andrade, João da
Cunha Noronha e Manuel Nunes de Almeida. Esse tal Diogo de Andrade era o que
hoje se chama um elemento perigoso; já fora agarrado e punido pela Inquisição do
México por vários delitos; seu verdadeiro nome era David e dizia-se descendente de
Abraão. Dessa vez, foi queimado como relapso11.
No ano de 1639, quando ainda o Brasil continuava com Portugal ligado à
Espanha, conta o cronista Pelliza y Tovar que as autoridades espanholas se
apoderaram de vasta correspondência cifrada dirigida aos judeus portugueses, pela
qual se descobriu que as sinagogas da América estavam em íntima ligação com as da
Holanda12. O fito era a destruição do império colonial luso-castelhano pela conquista e
desagregação, sendo os agentes diretos da obra os países marítimos protestantes:
Inglaterra e Holanda. Os Kahals forneceriam subsídios e fomentariam as traições e
espionagens. Naturalmente, a Inquisição teve de proceder com o maior rigor contra a
judiaria portuguesa que se irradiava pela América Espanhola, seguindo o caminho dos
peruleiros, contrabandistas de prata. As redes inquisitoriais colheram nessa grande
conspiração de caráter internacional avultado numero de cris tãos-novos e judeus
lusos: João Rodrigues da Silva, Diogõ Lopes da Fonseca, João Azevedo, Luiz de Lima,
Rodrigo Vaz Pereira, Sebastião Duarte, Tomás Quaresma, Domingos Montesid, Simão
Osório, Francisco Vasques, Luiz Valência, Pedro Farias, Rodrigo de Ávila "o .Moço",
Manuel Gonçalves, Antonio Cordeiro, Antonio Balseira da Costa, Amaro Diniz,
Bartolomeu Leão, Henrique Nunes de Espinhosa, Henrique Lourenço, Francisco
Mendes, Francisco Luiz Árias, Francisco Montesinos, Francisco Fernandes, Fernando
Espinhosa, Fernando Esteves, Jerônimo Azevedo, Gaspar Fernandes Coutinho, Jorge
Silva, Gaspar Nunes Duarte, Luiz Veiga, Manuel da Rosa, Manuel Álvares, Melquíades
dos Reis, Manuel Matos, Mateus Henriques, Pascoal Dias, Mateus da Cruz , Pascoal
Nunes, Paulo Rodrigues e Tomás de Lima. A enumeração destes quarenta réus é
fastidiosa, mas serve para mostrar, além da importância da trama sinagogal
descoberta nas cartas em chave, que a legislação manuelina, permitindo aos
conversos o uso de nomes dos cristãos-velhos lusitanos, fez com que a rafaméia
judaica se embiocasse neles afim de passar desapercebida.
Além desses quarenta, figuravam ainda um tal João da Costa, judeu que, diz o
processo, já nascera no Brasil; o cirurgião Francisco Maldonado da Silva, filho de
judeus-portugueses, nascido em Tucumã, que Ricardo Palma classifica "o maior judeu
que já houve no Peru13"; "e o chefe de todos, chamado o Capitão Grande, verdadeiro
oráculo da religião hebréia", Manuel Batista Peres, velho negocista e contrabandista,
possuidor de várias minas de prata, cuja fortuna era calculada em meio milhão de
pesos, que morava em Lima no famoso paço até hoje conhecido pelo nome de Casa
de Pilatos, e que podia, com justiça, ser chamado o Rei dos Peruleiros.
Perseguidos pela Inquisição limenha, os judeus-portugueses desceram para o
Rio da Prata e daí seu afluxo a Tucumã, centro da vida interior daquela região, e a
Buenos Aires, núcleo da vida exterior. Vimos qual foi sua invasão pelo avultado
número deles que, já no meado do século XVIII, existia nessa última cidade. Na
linguagem colonial platina se conservou a memória dos castelhanos de velho tronco
racial, descendentes dos conquistadores germânicos da Península, chamando-os
godos, em contraposição aos crioulos, que eram os nascidos na terra, e aos
marranos, que eram quem nós sabemos14.Nessa designação çoreja a diferenciação

10
Ricardo palma, "Anales de la Inquisición de Lima", 39 ed. Madrid, 1897, pág. 24.
11
Op. cit. págs. 113-114.
12
Cf. D. Fernando de Montesinos, "el castigo de los portugueses"; Ricardo Palma, op. cit. págs. 34 e segs.
13
Op. cit. pág. 39.
14
Pe. Luiz Gonçalves dos Santos, "Memória do Reino do Brasil" Imprensa Régia, Lisboa, 1825, tomo 1, pag.
étnica do ariano e do judeu, que o hitlerismo agora põe em foco. O problema é muito
mais velho e mais profundo do que pensam os ignorantes e os mal-avisados.
Os bandeirantes paulistas também haviam continuado a buscar o Oeste em
novas e audazes entradas pelos sertões ignotos, mesmo depois da traição dos
judeus-emboabas. Lançaram-se ainda para o Norte, fundando as primeiras fazendas
de gado do Piauí e os primeiros estabelecimentos agrícolas do Maranhão. Na segunda
década do século XVIII, Bartolomeu Bueno, o Anhanguera, achou as minas de ouro
de Goiás e Pascoal Moreira Cabral, as de Cuiabá, cujas riquezas, "arruinando o
Estado, iam pejar os cofres estrangeiros"15.Depois do Oeste e do Norte, desceram
para o Sul, onde, no fundo dos vastíssimos pampas verdes, as reduções jesuíticas
erguiam faustosas igrejas e colégios de pedra. Para lá chegar, era necessário trans
por os campos de Vacaria, onde vagueavam índios cavaleiros Areando gados bravios.
Era o caminho dos conventos de que fala Cristovam Pereira, por onde já se arriscara
o paulista Manuel Mendes, em trato com os indígenas e os castelhanos.
Os jesuítas procuravam ganhar terras, estendendo-se para o Norte, pelo
interior; os paulistas pelo Sul, avançando ao seu encontro e também tomando o
caminho do litoral. O núcleo da Laguna, fundação dos Brito Peixoto, era um foco de
irradiação bandeirante; a feira de gado de Sorocaba, outro. O choque entre
bandeirantes e padres repercutiria, depois, nas órbitas oficiais, traria guerras e viria
até nossos dias com o litígio das Missões, em um dos pontos nevrálgicos da política
do continente. Os dois avanços determinaram uma série enorme de acontecimentos
históricos. No meio dos quais os judeus refugiados do Peru viriam meter-se com o
único fito de ganhar dinheiro.
Segundo as "noticias utilíssimas à coroa de Portugal e suas conquistas", todo o
território compreendido entre o Rio Grande e o Paraguai chamava-se, nas últimas
décadas do século XVII, "país dos paulistas"16. Eles haviam penetrado nele desde
161417. De 1620 a 1640, as bandeiras ferozes rodopiaram pelas regiões do Guaíra, de
Xerez e de Vila Rica, dentro do próprio Paraguai, arruinando 22 missões guaranis18!
No subconsciente dos conquistadores piratininganos, palpitava o sentido da ne
cessidade de pôr uma barreira natural de permeio às possessões das coroas rivais:
grande serra ou grande rio. Daí o anseio de atingir a cordilheira do Maracaju e o Apa,
por dentro, o estuário do Prata, por fora. A posse do Rio Grande, reconhece um
jovem sociólogo de talento, é uma questão de vida ou morte para a conquista lusa19".
Essa necessidade dita o pedido da Câmara da Laguna para a vinda de casais
açorianos, a fim de ser povoado o território. Vieram 160, agricultores e católicos,
gente sedentária, trabalhadora e profílica que vai permitir a existência de uma base
povoada na constante flutuação das fronteiras, a qual acaba sendo a linha do Rio
Pardo, eixo de sustentamento da possessão do Rio Grande. Ainda a mesma
necessidade leva os portugueses à fundação de um estabelecimento à margem
esquerda do Prata, um tanto esquecida dos espanhóis, a fim de garantir futuramente
sua posse.
Esse marco avançado para o extremo sul será a colônia do Sacramento,
destinada ao controle da embocadura do Prata e a concorrer com Buenos Aires,
fundada por Garay na margem fronteira20. A importância daquela foz era muito
grande. Servia de entrada para todo o comércio das possessões espanholas

XXXV, in nota: "Espanhóis, franceses e ingleses tratam os filhos dos europeus, porém, nascidos na América, de
crioulos; somente os portugueses é que souberam aplicar devidamente o nome de crioulo, que em Latim se diz verna;
isto é, escravo nascido na casa de seu senhor ou nela criado de pequeno".
15
General Abreu de Lima, "História do Brasil", pág. 155.
16
"Anais da Biblioteca Nacional'°, doc. Nº 1.981.
17
Escragnolle Taunay, "Na era das bandeiras", pág. 91.
18
Alfred de Brossard, "Considérations sur les Républiques de Ia Plata", Guillaumin, Paris, 1850, pág. 34
19
Jorge Salis Goulart, "A formação do Rio Grande do Sul", Livraria do Globo, Porto Alegre, 22 ed., 1935, pág. 161.
20
Alfred de Brossard, op, cit, págs. 34-35.
meridionais e centrais, e de escoadoro para os seus produtos. Ali se poderia erguer
um magnífico empório, no futuro. Se a coroa portuguesa houvesse cuidado de povoar
com certa rapidez as terras compreendidas entre a linha riograndense e a margem
orien tal platina, o Brasil hoje se debruçaria sobre as águas turvas do grande rio.
"Fundada a Colônia do Sacramento em 1680, nota-se uma faina desusada no sentido
de se abrirem caminhos terrestres do Norte para o Sul. Entretanto, estabelecido o
presídio do Rio Grande, em 1737, o caminho marítimo toma uma predominância
enorme sobre o terrestre21". Foi isso, sem dúvida, o que mais contribuiu para que,
com o tempo, perdêssemos toda a região em que o elemento povoador luso-brasileiro
não penetrara com força. Todavia, não é possível deixar de compartilhar a insuspeita
opinião de Bermejo, de que Portugal "foi sempre uma sentinela vigilante, que esperou
sua hora com paciência e cautela"22.
Em 1676, o Papa Inocêncio XI criou o bispado do Rio de Janeiro e lhe deu
jurisdição até o Prata23. Dois anos depois, em 1678, o governador do Rio de Janeiro,
D.Manuel Lobo, recebia instruções de E1 Rei para fundar um estabelecimento no
estuário platino. Passaram-se mais dois anos e, em janeiro de 1680, eram lançados
os alicerces do ousado baluarte que "deu origem a tantas guerras, a tantos cuidados,
a tantas intrigas, a tantas negociações feitas e desfeitas, e a tantos gastos", como
diz Varnhagen. Fora destinado a "palestra das armas", de clara um cronista coberto
de razões24.
A fundação da Colônia despertou os zelos do governador de Buenos Aires, D.
José de Garro, que pediu reforços ao Vice-Rei do Peru e mandou sitiá-la por D. An-
tônio de Vera Mujica, o qual a atacou depois de renhida luta25. A metrópole, porém,
não quis assumir a respon sabilidade do feito e mandou restituir a praça aos por-
tugueses em 1683. Nesse ínterim, D. Manuel Lobo morrera prisioneiro em Buenos
Aires. Um dos seus principais com panheiros, Jorge Soares de Macedo, fora levado
para Lima, onde ainda se achava em 162826. Vê-se que as relações entre o Prata e o
Peru eram seguidas. De lá vinham as ordens e auxílios para a guerra; para lá se
mandavam os prisioneiros de marca.
Foi este o prólogo de uma grande tragédia política, nascida desse pomo de
discórdia plantado no limite que a natureza como que traçara para o Brasil. Durante o
drama secular, veremos como foi infatigável a obstinação portuguesa em conservar a
conquista. Aliás, fomos já nós, os brasileiros, que a perdemos de vez.
Reconstruída e abaluartada em 1683, a Colônia prospera e começa a inquietar
ao governo de Buenos Aires27, cujo cabildo pedia ao rei de Espanha o castigo da
ousadia portuguesa. O rei não o atendeu e, em 1701, Felipe V, querendo obter as
simpatias da corte lisboeta, cedeu os direitos que porventura tivesse sobre o território
e a praça da Colônia. O mestre-de-campo, D. Alonso Juan de Valdez Inclán, capitão-
general das Províncias do Rio da Prata, quando a política mudou a obtenção de
simpatias em guerra aberta, recebeu em 1703 ordem para acometer a fortaleza
lusitana. Os judeus manobravam os países protestantes, sobretudo a Inglaterra,
contra os países católicos, e a Inglaterra instigava Portugal e Espanha28, ateando a
guerra entre ambos, na Europa e nas Colônias, para ir recolhendo os despojos. Nas
colônias transatlânticas que "buscavam estender-se uma a custa das outras", como
era o caso do Brasil versus Prata, a luta se tornou mais violenta, depois que "o

21
Jorge Salis Goulart, op. pág. 161 in nota.
22
Antonio Bermejo de la rica, "La Colonia del Sacramento", Madrid, 1920.
23
Fernando Nobre, "As fronteiras do Sul", S. Paulo, 1922.
24
Simão Pereira de Sá, "Nova Colônia do Sacramento" Lisboa, 1737.
25
Francisco Bauzá, "História de la dominación espanhol en el Uruguay".
26
"Anais da Biblioteca Nacional", doc. n° 1.485.
27
Fernando Capurro, "La Colonia del Sacramento", Montevidéo, 1928, pág. 19; Pedro Calmon, "História da
Civilização Brasileira", pág 77.
28
Fernando Nobre, op. cit. pág. 29.
comércio se apoderou quase exclusivamente da política, multiplicou e engrandeceu to
das as combinações29", isto é, todas as intrigas e conchavos. Isto equivale dizer que
os interesses comerciais judaicos, porque são esses, efetivamente, os que manobram
a política, intervinham na luta, em torno do pomo de discórdia de Colônia. Veremos
oportunamente as razões.
Não podendo resistir por falta de munições e recursos à investida inimiga, o
governador da colônia, o valente Sebastião da Veiga Cabral, depois de "formidables y
bravos combates30'', viu-se obrigado a incendiar e abandonar a praça. As armas
espanholas conquistaram ruínas que a diplomacia espanhola iria perder em breve
prazo. O Tratado de Utrecht, em 1715, restituiu-as, de pleno direito, aos lusitanos. A
11 de novembro de 1716, de novo, sob os baluartes refeitos, tremulou ao vento a
bandeira de Portugal. Outro período de prosperidade logo começou para aquela
feitoria comercial e posto militar, em 1722, chegando sua gente a querer apoderar-se
do sítio de Montevidéu, no ano de 1724.
Em derredor da cidadela, desenvolvia-se a futura cidade, que enriquecia pelo
comércio e sobretudo pelo contrabando31, aumentando mais sua população em
"viandeiros" do que em agricultores32. Os "viandeiros" são os mesmos mercadores,
mascates, forasteiros, que vimos em ação em Minas, Bahia, Recife e Maranhão,
enchendo-se de ouro "fosse como fosse". O contrabando principiara na Colônia logo
que crescera a população com os judeus refugiados de Lima, vindos de Tucuman e da
outra banda do Prata, em ligação constante e oculta com os milhares deles que iam
infestando a nascente Buenos Aires. Ele arruinava o comércio dos estabelecimentos
espanhóis, penetrando com suas mercadorias até o Chile e o Peru33. É o que diz,
explicitamente, O. Araújo: "o contrabando se fazia em grande escala com gente
pouco escrupulosa de Buenos Aires. Enviavam para ali tabaco, açúcar, bebidas e
escravos negros, recebendo em troca farinha, carne seca, pão e outros artigos de que
os intrusos tinham falta. A importância desse comércio ilícito se manifestou em
Buenos Aires pela diminuição das rendas públicas e pelo luxo que ostentavam
algumas famílias que faziam praça de fortunas de origem absolutamente
desconhecida"34. Como se vê, com o comércio ilícito, nem ganhava a futura capital da
Argentina, nem a própria Colônia do Sacramento, mas os eternos intermediários
judaicos com sua jeiteira para os bons negócios.
Todos os historiadores estão de acordo em proclamar o contrabando da
Colônia, desde os primeiros tempos até sua entrega definitiva aos espanhóis, com
Oliveira Lima à frente 35. Aquilo era, em verdade, segundo um deles, "o ninho do
contrabando"36. O conde de Moncloa, Vice-Rei do Perú, julgava oficialmente "muito
lesivos ao monopólio peruano" o comércio e o contrabando que ali se desenvolviam37.
O governo de Buenos Aires declarava aquele "gran canal predispuesto por la
naturaleza para el comercio de contrabando". Além do contrabando, os judeus
praticavam os maiores abusos no tráfico de negros, por trás dos ingleses, a quem
uma cédula real de Filipe V o permitia no estuário, em virtude de uma cláusula
imposta pela liberal e judaica Inglaterra no tratado de Utrecht38. Para o mister de
contrabandista, que o judeu praticava, dirigindo e estipendiando, raramente toman do

29
Visconde de São Leopoldo, "Anais da Provincia de São pedro", 1839.
30
Fernando Capurro op. cit."pág. 25.
31
Op. cit. págs. 27-28.
32
Ferreira da silva, "Terceira povoação da Colônia do Sacramento", ed. de 1722.
33
G. Keith, "A voyage to South America and the cape of good Hope". Londres, 1810.
34
0. Araujo, "Resumen de Ia Historia del Uruguay".
35
"D. João VI no Brasí0, tomo I, pág. 112. "admirável ponto de contrabando".
36
Alfred de Brossard, op. cit. pág. 36.
37
Fernando Nobre, op. cit. pág. 31.
38
Eduardo Azevedo, "Manual de História Uruguaya", Montevidéo, tomo I, pág. 33.
parte direta por causa do perigo, eram empregados aventureiros capazes de recorrer
às armas em caso extremo39.
O contrabando que ainda hoje se pratica nas fronteiras meridionais mergulha
suas raizes nessa época e nas dinas tias de contrabandistas fronteiriços ainda se
podem achar alguns nomes de judeus que travaram conhecimento com a Inquisição
de Lima...
Somente os interesses do contrabando explicam as vitórias da diplomacia
portuguesa, obtendo as restituições da Colônia tomada pelas armas castelhanas. Para
haver o rendoso contrabando, era necessário que fosse uma cunha portuguesa
enfiada na porta de entrada das possessões espanholas. Nas mãos da Espanha, para
que serviria? O comércio de Mato Grosso não existia e era o único lugar do Brasil para
onde se poderia ir por aquele canal. Assim, as forças ocultas manejavam sempre de
maneira a Colônia tornar ao poder de Portugal. Uma pequena reflexão sobre esse
ponto permite compreender claramente as razões secretas dos fatos ocorridos na
nossa corrida para o Prata.
No comércio ilícito da Colônia, que se irradiava ,pelo interior das audiências
espanholas e era exercido pelos antigos peruleiros e seus descendentes, tangidos de
Lima pela Inquisição, entrava continuamente muita prata, como já o declarava em
1694 o governador português Dom Francisco Naper de Lencastre.40. Era também
grande o comércio de couros, pelos quais se cobravam fortes dízimos41, o que fazia a
judiaria fugir por meio do contrabando ao seu pagamento; contrabando de tal modo
generalizado e corruptor que, no ano de 1700, até os próprios governadores da
Colônia dele participavam42. Acontecia mais ou menos a mesma coisa no comércio de
madeiras43. Outra fonte de rendas ilícitas deviam ser as famosas verbas secretas
destinadas a comprar amizades e inteligências entre os castelhanos44...
O governador espanhol D. Bruno de Zabala combatia com todas as forças o
contrabando que lhe minguava as rendas da administração para a engorda de
cristãos-novos. De 1724 a 1725, ele expulsou os portugueses que queriam
estabelecer-se no local onde hoje está Montevidéu e fundou Maldonado, pondo,
assim, um anteparo entre a Colônia e o Rio Grande, isolando-a no estuário platino de
tal modo que chegou a ficar sem um palmo de terreno além dos fossos da
circunvalação, o que, com o tempo, motivou sua perda definitiva. Dai em diante, não
passou mais de um navio de pedra ancorado na praia platina. Expansão Lusa pelo
interior das terras estava "burlada"45.
Em 1735, rompidas as relações entre os dois reinos rivais da Península Ibérica,
D. Alvaro de Salcedo, governador de Buenos Aires, põe cerco à Colônia durante dois
anos, sem dela conseguir apoderar-se, graças à heróica resistência da guarnição. O
armistício de Paris, em 1737; pôs termo às hostilidades.
A questão, porém, só foi resolvida de vez em 1750 pelo Tratado de Madrid, no
reinado de Fernando VI, sucessor de Felipe V, cedendo Portugal a Colônia em troca
das Missões jesuíticas do Uruguai. A ordem de Santo Inácio entrava em decadência e
as sociedades secretas, de parceria com o judaísmo, lançavam contra ela todas as
suas forças. Publicavam-se o Anti-Cotton e as Monita Secreta, que excediam a tudo
quanto os protestantes haviam dito e escrito contra a Companhia de Jesus46. Porém a
execução do pacto suscitou tais dificuldades que teve de renunciar a ele e os pobres
índios vencidos de Caybaté e os jesuítas expulsos acabaram, embora tardiamente,

39
Fernando Nobre, op. cit. pág. 33.
40
"Anais da Biblioteca Nacional°, doc. nº 1.988
41
Idem, n° 2.063.
42
Idem, n° 2.363.
43
Idem, n° 2.630.
44
Idem n°s 4.494-4.495.
45
Fernando Capurro, op. cit. pág. 27.
46
H. Poehmer, "Les Jesuites", trad. de G. Monod, Paris, 1910, pág 265.
vencendo as combinações diplomáticas. Demais, enquanto os índios missioneiros se
rebelavam contra as autoridades empenhadas em realizar o combinado, os
portugueses não abandonaram a Colônia, onde o contrabando prosseguia
descaradamente. O resultado foi que o tratado não entrou em vigor e, em 12 de
fevereiro de 1761, celebrou-se novo pacto, o de Pardo, que anulou o de 1750 e fez
tudo retornar ao estado anterior47. A resistência dos padres vencera os esforços de
Gomes Freire de Andrade, conde de Bobadela, que se retirara descoroçoado para o
Rio de Janeiro. Ia reacender a luta travada pela posse da margem do Prata, que
começara em 1682.
Governava Portugal o pulso forte de Sebastião José de Carvalho, Marquês do
Pombal, que entendera usar dos judeus na sua politica dominadora, esquecendo-se
dos perigos que representa a sua simples aproximação, quanto mais a intromissão
desse fermento de decomposição em qualquer Estado. O padre Vieira acercara-se
deles e maus foram os resultados. Os jesuítas franceses associaramse a eles e disso
resultou aquele escandaloso processo Lavalette, que tão grandes danos causou à
ordem, afastando dela a gente culta no momento em que Pombal em Portugal,
Aranda na Espanha e Choiseul em França lhe vibravam os grandes golpes que a
enfraqueceriam para sempre48. Combate-se o judeu, não se usa do judeu; usá-lo
equivale a cair-lhe nas unhas mais hoje, mais amanhã. Por isso, Portugal se aviltou
sob o domínio do marquês. A judiaria portuguesa, tão ferrenha que, mal chegava a
terras estranhas de maior tolerância, voltava aos ritos ancestrais e impunha a
circuncisão à prole49, inundou as companhias de comércio por eles formadas, como
antes havia inundado todas as anteriores.
Em todos os capítulos desta história secreta, temos provado com
documentação abundante a verdade do que afirma Houston Chamberlain: "Quando os
judeus se acham em grande número em país estranho, julgam a ocasião propícia para
realizar as ameaçadoras promessas dos seus pro fetas e se dispõem, com a melhor
consciência deste mundo, a devorar as nações50". Pombal não tinha ainda recebido
essa lição da experiência e, em 1773, aboliu as últimas separações e distinções entre
cristãos-velhos e cristãos-novos. O judeu, triunfante em toda linha, cheio do ouro
conseguido no pau-brasil, no açúcar, no tráfico, na pirataria, na mineração e no
contrabando, entrava de cabeça erguida na vida pública da nação. Pombal, amigo dos
pedreiros-livres, protetor dos judeus, não poderia ver os resultados da sua política.
Teve todo o apoio secreto até o fim. Portugal, porém, no futuro, pagou na a narqula
judaica dos últimos tempos da Monarquia e dos atribulados tempos da República às
suas concessões.
No ano da Graça de 1763, para melhor atender à defesa do Sul do Brasil, o
marquês mandou transferir a capital da Bahia para o Rio de Janeiro. É que, em
setembro de 162, D. Pedro Ceballos, governador de Buenos Aires, depois de receber
uma "ordem secreta"51 para atacar os estabelecimentos portugueses, investira a
Colônia do Sacramento e dela se apoderara, invadira o nosso territOrio e ocupara a
vila do Rio Grande. Era com toda a cer teza sócio da judiaria portenha nessa pirataria,
porque vivia de fraudes e ladroagens no cargo, sendo o contrabando sua
especialidade52. Saqueou o quanto pôde na invasão.

47
Fernando Capurro, op. cit. pág. 31.
48
H. Boehmer op. cit. págs. 268-274.
49
João Lúcio de Azevedo, História dos cristãos-novos portugueses" pág. 358.
50
Houston Chamberlain, " La Genése du XIX Me. Siécle. Payot, Paris, 1913, tomo 1, pág. 346. Cedamos palavra a uma
observação atual, em 1936, do Dr. J. A. Pfister, no Inglaterra: " A Inglaterra vai se tornando dia a dia o paraíso dos
judeus. Chegam como mendigos perseguidos, catem hospitalidade e logo que tomam pé passam a comportar-se como
verdadeiros senhores!...
51
Carlos Correa Luna, op. cit. pág. 52.
52
Op. cit. págs. 55 e segs.
O Tratado de Paris, de 10 de fevereiro de 1763, mandou restituir novamente a
praça aos lusitanos e outra vez judeus e ingleses voltam a ganhar rios de dinheiro no
contrabando53. Carlos III, rei de Espanha, entendendo ser necessário arrancar de vez
aos vizinhos a margem esquerda do Prata, ordenou que o mesmo Ceballos se
preparasse o melhor possível para a reconquista. Com efeito, uma expedição
espanhola, formidável para o tempo e o lugar, conquistou em 1777 a nossa base da
ilha de Santa Catarina e retomou a disputada fortaleza do estuário. Seus bastiões e
revelins foram arrasados; os canais do porto, entupidos com os barcos cheios do
entulho das demolições)54. No território rio-grandense, a guerra durara mais ou
menos dez anos e só em 1776 os invasores haviam sido expulsos pelo esforço
conjugado de lusos e brasileiros sob o comando do grande general João Henrique
Bohm. O tratado de Santo Ildefonso entregou a plena posse da margem setentrional
do Prata e da Colônia do Sacramento à Espanha. O Rio Grande, evacuado, ficou em
nosso poder até o Chuí.
O Brasil-Reino conquistaria mais uma vez a Colônia, com toda a Banda
Oriental. O Brasil-Império a perderia para sempre numa guerra infeliz, manietado por
uma política interna, depois de dez anos de domínio. Todas essas tomadas e
retomadas haviam custado o esforço e o sangue dos homens de vulto ou ignorados
que constituíram nossa Pátria. Israel enriqueceu-se no contrabando sem derramar
uma gota de suor ou sangue...

53
D. Antonio Alcedo, "Dicionário Geográfico-Histórico de las índias Occidentales", 1778, art. "La Colonia del
Sacramento".
54
Pedro F. Xavier de Brito, "Memória sobre o assédio e rendição da Colônia do Santíssimo Sacramento".
CAPÍTULO X

A Entrada em Cena da Maçonaria

VIMOS até agora todos os meios postos em prática pelo judaísmo no Brasil, a
fim de se apoderar da riqueza e ter aquela pecúnia - nervo das guerras - a que se
referia Rabelais1. A acumulação da fortuna e o assalto às fortunas públicas e
particulares foram levados a efeito pelo monopólio do pau-brasil, a especulação sobre
os açúcares, o tráfico negreiro, a pirataria, a conquista, as companhias de comércio e
navegação, o açambarcamento de gêneros, o estanco de produtos, a desapropriação
forçada das minas, o contrato dos diamantes e o contrabando.Possuindo os meios
pecuniários, a força do ouro, o judaísmo atacara o segundo setor da sua luta, o
Estado. Aí já não se apresentará tão descoberto e se valerá das sociedades secretas,
que organizará em compartimentos es tanques e superpostos, tornando-as fontes de
iniciação nas doutrinas cabalistas-talmúdicas, as quais temo dom de transformar os
cristãos em "traidores da própria Pátria e da própria fé, em proveito do judeu
cabalista, cuja ambição é conquistar pela astúcia e pela traição o domínio universal2".
A mais importante de todas as sociedades secretas é, sem dúvida a maçonaria.
Seu verdadeiro papel é estu dar, investigar e dar curso às ordens recebidas, fazer
adeptos, realizar a propaganda, às vezes sutil, das idéias, enfim; procurar e preparar
a força de que carecem os judeus na grande massa do povo. Para isso, o envenenam
com idéias de aparência liberal e filantrópica, verdadeiras utopias na maior parte dos
casos, todas, sem ex ceção, destruidoras dos lineamentos da ordem social e gé
radora de ódios. Com tais ideologias, o Governo Oculto de Israel pretende dominar o
mundo. Os que servem a maçonaria, ignoram que, atingido esse desideratum, eles,
meros instrumentos e intermediários do judaísmo, desaparecerão na voragem3. Assim
aconteceu na Rússia bolchevista, onde a maçonaria foi terminantemente proibida logo
após o triunfo judaico, somente sendo permitida a abertura de lojas recentemente,
em virtude da pressão de novas necessidades políticas.
À sombra desse maravilhoso agente preparatório, a dominação judaica se
estabelece e vai passando despercebida do comum dos mortais4. O segredo maçônico
disfarça, esconde e protege o Poder Oculto Internacional, o que, por meio dele, vai
provocando em todos os organismos governamentais e sociais as divisões de que
devem resultar todas as suas fraquezas. Divide et imperas.
A conspiração judaica contra o mundo inteiro é antiquíssima e permanente.
Desde o cativeiro da Babilônia até o nascimento de Nosso Senhor Jesus Cristo,
durante cinco séculos, os judeus viveram numa "conspiração contínua5". Contra os
persas, contra os egípcios, contra os sírios, contra os romanos.. No seio da Igreja
Católica nascente, infiltraram as divisões e heresias6, multiplicando-as num "labirinto
diabólico". Toda a Gnose dos primeiros séculos do cristianismo proveio da cabala

1
"Les nerfs des batailles sont les pécunes", Fran çois Rabelais. "Oeuvres", Garnier, Paris pág. 89.
2
L. Dasté. "Les sociétes'sécréts et les juifs", ed. da Renassance Française, Paris, 1912, pág. 63. O fim social da
maçonaria é a reconstrução do Templo de Salomão; o Templo de Salomão é a Terra Gloriosa, e os homens reunidos em
uma única e só família, pela ciência, pela fraternização consciente. Extingue, pois, os preconceitos de raças, de classes",
diz o grande maçon Dario Veloso, em "O Templo Maçônico", Curitiba, 1924, pág, 223. Todo esse ideal utópico
esconde simplesmente a construção do Templo Salomônico do Talmudismo do judaísmo de hoje, a construção do
domínio judaico. É o mesmo grande maçon Dario Veloso quem o confessa na op.cit. pag. 44. "Delaunay provou que os
Mistérios Maçônicos eram originários do Egito e foram trazidos para Europa pelos judeus". A tolerância religiosa da
maçonaria não passa de disfarce do seu materialismo positivo. O próprio Dario Veloso nos assegura que o Templo
maçônico é meramente a terra (pág. 24), no qual se professa tão só o "dogma da humanidade" (pág. 39).
3
Duque de la Victoria, "Israel Manda", Madrid, 1935, Prólogo, pag. 10. Cf. "Os Protocólos dos Sábios de Sião", caps.
IV, X, XI e sobretudo XV.
4
Duque de la victoria. Op. cit. pág. 57.
5
L. Daste, op. cit. pág. 7. 1 46
6
Op. cit. págs. 9-10.
judaica; quase todos os grandes heresiarcas foram judeus; as sociedades secretas
gnósticas se espalharam pelo oriente e pelo Ocidente7, sobretudo as sociedades
secretas maniquéias a que a bula Humanum Genus de S. S. Leão XIII mui
acertadamente compara à maçonaria. Catáros, patarinos, brabantinos e albigenses
saem em plena IdadeMédia, dessa fonte maniquéia e cobrem a França com "uma
rede invisível de sociedades secretas"8.
"Por necessidade ou natureza, os judeus sempre procuraram, utilizaram e
amaram o mistério"; e, desde o tempo dos romanos, têm um governe oculto
organizado9. Diretamente,para os judeus, esse é o Kahal; para os cristãos judaizantes
ou judaizados, é a maçonaria, que usa o sistema dos cabalistas talmúdicos, o qual
data do exílio de Babilônia10. A cabala viveu e vive sempre no mais profundo seio dos
mistérios da maçonaria, destinada à propagação dos seus ensinamentos11. Michelet, o
historiador mais anti-católico deste mundo, confessa que a doutrina maçônica nada
mais é do que o judaísmo cabalista12.
A história afirma íntima ligação entre a célebre Ordem dos Templários e o
judaísmo. O fim secreto dessa ordem de cavalaria, fundada na Palestina em 1118, era
"a reconstituição do templo de Salomão, em Jerusalém, de acordo com o modelo da
profecia de Ezequiel"; seu exemplo os maçons guerreiros de Zorobabel; suas
tradições, as "judaicas do Talmud"; sua regra, "a cabala dos gnósticos; seu ideal,
"adquirir influência pela riqueza, intrigar e apoderar-se do mundo". Tinha duas
doutrinas: uma oculta, reservada aos mestres; outra pública, a católica-romana,
"enganando, desta sorte, aos adversários que pretendiam suplantar". Obedecia a esta
palavra de ordem: "enriquecer para comprar o mundo13". Queria, assim, derrubar a
autoridade do Papado e o poder da Realeza. Havia traído São Luiz nas cruzadas e
preparava vasta conspiração em toda a Europa14, quando Felipe, o Belo, e Clemente V
a dissolveram de surpresa. "Os sectários de toda espécie têm, desde muito tempo,
acumulado mentiras sobre mentiras, tentando inocentar a Ordem do Templo,
destruída pelo Papa e pelo rei da França. Todavia, quanto mais se aprofunda a
questão, mais aparece a culpabilidade dos Templários. que, em toda a cristandade,
sofrem condenações infamantes, depois de longos e minucïosos processos, segundo
as confissões pormenorizadas idênticas todas elas nos países mais diversos.
É aos Templários, cujos ritos são os mesmos da maçonaria, que esta se liga em
primeira mão15. Outra corrente formadora da maçonaria, foi a dos ocultistas Rosa-
Cruzes do século XVII, derivados diretamente da cabala judaica16. No século seguinte,
eles se infiltraram nas antigas corporações de pedreiros-livres, muito poderosas pelas
franquias que gozavam como construtoras dos edifícios públicos e das catedrais
góticas. Delas veio o nome de pedreiros-livres ou franco-maçons. Na Inglaterra,
destinada a ser, no século XVIII, a mãe da maçonaria, a infiltração dos pedreiros-
livres ocorreu em 170317.
A maçonaria surgiu em França no reinado de Luiz XV, em 1737, com grande
aceitação por parte dos fidalgos fúteis e cortesãos. Relata um cronista coevo que
mantinha "inviolável segredo" quanto às suas "assembléias ocultas e perigosas para o

7
Adolf Frank (judeu) Ma Kabballe°, Hachette Paris, 1843, págs. 341-353; Dasté, op. cit. págs. 11-12; Amelineau,
"Essais sur le Gnosticisme", pag. 323.
8
L. Dasté, op. cit. pág. 42.
9
Matter (protestante), "Histoire critique du Gnosticisme", Paris, 1843, tomo I, pág. 154.
10
Ad. Frank, op. cit. pág. 1.
11
"Histoire de France", tomo II, pág. 393.
12
Eliphas Lévi (autor insuspeitíssimo: ocultista apóstata e maçom). "Dogme et rituel de la Haute magie". Bailliére,
Paris, 1861, tomo II págs. 222 e segs. Lembre-se o que disse Dario Veloso sobre a construção ao Templo de Salomão.
13
Henri Robert Petit, "Le drame maçonnique", Nouvelles Editions Latines, Paris, 1936, págs. 35-55.
14
L. Dasté,op. cit. pág. 54. n
15
Pe. Barbier. "Infiltrations maçonniques dans 1'Eglise"; L. Desté; op. cit. pags. 61-63; C. Jannet, op. cit. pags. 22-23.
16
C. Jannet, op. cit. pág. 47; L. Dasté, op. cit págs. 58.
17
Pretton, "Illustration of Masonry", Londres, 1712.
Estado18". Vinha importada da Inglaterra e o cardeal de Fleury, primeiro-ministro,
mandou fechá-la manu militari19. Imputavam-lhe, como se vê, o mesmo propósito
dos Templários: destruir a Religião e o Trono, destruindo o Estado20. Iniciava a
preparação do terremoto social de 1793. Porque nenhuma revolução, confessa o
maior dos técnicos revoluçionários modernos, pode triunfar sem haver antes
destruido os fundamentos do Estado21.
Três lustros depois, com o Marquês de Pombal, principiava no reino lusitano a
era dos maçons, que não passavam de cristãos-novos, "tanto que as duas palavras
eram sinônimos e, no campo, pedreiro-livre era sinônimo de judeu22. No Brasil, as
lojas maçônicas datam dos últimos tempos do regime colonial. Precederam de um
quarto de século a transladação da corte. Umas foram instaladas sob os auspícios do
Grande Oriente português; algumas sob os da França; outras, independentes deles.
Todas do rito adonhiramita. Fundaram-se no Rio de Janeiro, na Bahia e em
Pernambuco23.
Embora não tendo à mão o documento maçônico de que extraímos estes
dados, o consciencioso historiador Joaquim Felicio dos Santos declara não saber, ao
certo, como se introduziu a maçonaria no nosso pais; mas, afirma, com razão, que,
no meado do século XVIII, "já funcionava na Bahia o Grande Oriente", começando
seu "trabalho lento, oculto, persistente, para a nossa independência24. Essa
independência dos países sul-americanos, na opinião de um dos homens que melhor
estudaram a questão nas suas causas e efeitos, não era propriamente um fim para a
maçonaria, porém um meio de enfraquecer Espanha e Portugal que eram os dois
maiores inimigos do judaísmo: latinidade e catolicidade 25.
Os próprios judeus abertamente cofessam, que, "em todas as grandes
revoluções do pensamento, se encontra a ação judaica, ora visível e retumbante, ora
muda e latente, de modo que a história judaica corre paralela à história universal e a
penetra por mil tramas26".
Até aqui, verificamos na nossa história pública os traços inconfundíveis dessa
história secreta. Vamos avivá-los nas conspirações que primeiro tentaram
movimentos de independência, em Minas e na Bahia, regionais e, portanto,
separatistas, com o fim visível e retumbante da libertação dos brasileiros das garras
da metrópole, mas com o fim mudo e latente do esfacelamento do império colonial
português, o mesmo fim da conquista flamenga, e do esfacelamento do novo império
que, de certo, com o tempo, se constituiria na América Latina.
Na capitania de Minas, desde a guerra dos emboabas, haviam ficado a "arder
às surdas" as chamas revolucionárias. Certo nativismo orgulhoso se misturava ao
regulismo dos descendentes dos cristãos-novos mascates e forasteiros que se haviam
apoderado pela força e pela traição das lavras de ouro, os quais detestavam o fisco
minguador de seus proventos. A cobrança dos impostos reais e as repressões do
contrabando determinavam contínuas agitações. A extração do ouro aumentava sem
que aumentassem os quintos de El Rei27. O estado via-se ali pobre e fraco diante dos
particulares fortes e ricos. Por isso, se estabeleceram as casas de fundição às quais
deveria ser levado todo o metal precioso, o que prejudicava grandemente os

18
Barbier, "Chronique de la Régence et du régne de Louis XV, 1718-1763", Paris, 1885, tomo III, pág. 65.
19
Albert Lantoine, "Histoire de la Franc-Maçonn_e rie.française", Nourry, Paris, 1935, Tomo II, pag. 4.
20
Larudan, "Les francs-maçons ecrasés", Amsterdam, 1746, pag. 63.
21
Albert Sorel, "L'Europe et la Révolution", tomo II, pag. 3.
22
Mario Sáa, "A invasão dos judeus", pag. 12. Cf Mario Sáa "Portugal-cristão-nevo".
23
Manoel Joaquim de Menezes Drummond, "Exposição História da Maçonaria no Brasil" in "Arquivo Maçônico", ano
29, nº 13 e segs, Recife, setembro, 1907.
24
"Memória do distrito diamantino", pág. 253.
25
Marius André, Na fin 1'empire espagnol d'Amerique". Nouvelle Libraire Nationale, Paris, 1822, pág. 81.
26
"Univers Israelite", 26 de julho de 1907, pág. 585.
27
Pedro Calmon, "História da Civilização Brasileira", pág. 142.
magnatas da mineração. Daí o levante trágico de 1720, chefiado por Pascoal da Silva
Guimarães, Manuel Musqueira da Rosa e Felipe dos Santos28, que o Conde de
Assumar reprimiu duramente com o incêndio e o cadafalso29.
O restolho, porém, ficara a "arder às surdas". Oportunamente, a maçonaria se
encarregaria de habilmente soprar o borralho, para de novo atiçar as labaredas30. Os
exemplos de outras obras maçônicas, lá fora, contribuíram para êxito da empresa. A
repercussão do grito da independência dos Estados Unidos deveria ecoar no sul do
continente. Em Portugal, se sentia isso e se temiam mais os inimigos internos do que
os externos, das colorias, que eram, como o reconhecia o próprio Conselho
Ultramarino, "tesouros mal guardados"31. Os moços brasileiros que estudavam na
Europa, sobretudo nas universidades de Montpellier e Paris, regressavam aos lares
cheios de entusiasmo pela grandeza da terra brasileira comparada com a exigüidade
européia e cheios de maior entusiasmo ainda pelo exemplo norte-americano e pela
figura do grande maçom Benjamin. Franklin, que fora ao Velho Mundo levar o
angustiado pedido de socorro dos Filhos da Viúva de sua Pátria às lojas adonhiramitas
ou do rito francês, escocesas e iluminadas. Cá dentro do Brasil, afirmavam-se já
alguns vislumbres de consciência nacional, embora ainda adstrita a localismos, no
descontentamento dos brasileiros mais cultos vendo o seu paraíso, tão gabado
judaicamente desde os "Diálogos das Grandezas", conforme o notava, de passagem,
o francês Parny, preso à coroa de Portugal. Na França, começava a lavrar aquela
febril agitação, assoprada pelas forças ocultas, prenunciadora da Grande Revolução, a
qual ia incendiando os nossos patrícios em contato com a juventude revolta das
escolas francesas.
Levados por essas idéias e entusiasmos, houve estudantes brasileiros na
França que procuraram entabolar negociações para a nossa independência com
potências estrangeiras, como José Joaquim da Maia, Domingos Vidal Barbosa, José
Mariano Leal e José Pereira Ribeiro32. Maia, de nome certamente herdado dos
forasteiros de 1709, escreveu, em 1786, a respeito de seus propósitos libertadores, a
Tomas Jefferson, embaixador dos Estados Unidos, o qual lhe concedeu uma entrevista
romântica nas arenas de Arles33. Foi bem um quadro em puro estilo do século XVIII:
os conspiradores da liberdade no meio das ruínas clássicas! Jefferson recusou-se
polidamente a entrar na combinação, alegando que seu país não estava ainda em
condições de arcar com as responsabilidades de complicações com outras nações.
Maia morreu mais tarde em Lisboa, sem nada haver conseguido.
A opressão metropolitana fazia-se sentir duramente em Minas, com a
venalidade da magistratura, os vexames do fisco, o monopólio do sal e a proibição
dos teares para favorecer a indústria do reino. A idéia da independência andava,
como se diz, no ar. As idéias que andam no ar nunca nasceram por si. Alguém as
sopra de qualquer parte. Não há geração espontânea na natureza e também não há
na vida das sociedades. Corriam boatos desencontrados, como costuma acontecer
sempre, quando as atmosferas sociais estão sobrecarregadas pelas toxinas que agem
à socapa. As esperanças de libertação polarizavam-se em torno da figura prestigiosa
do tenente-coronel Francisco Freire de Andrade, não pelo seu valor intelectual ou
pelas suas convicções políticas, mas porque era o segundo comandante dos famosos
Dragões das Minas e os poderia arrastar a um pronunciamento. Em Vila Rica, sede do
governo da capitania, havia uma roda de homens cultos, participantes duma Arcádia

28
Há sabor de cristão-novo no nome de Musqueira da Rosa...
29
Rio Branco, "Efemérdes Brasileiras", Imp. Nacional, Rio de Janeiro. 198, págs. 346-347.
30
Joaquim Felício dos Santos, op. cit. pag. 253.
31
Antonio Rodrigues, da Costa, "Consulta do Conselho Ultramarino à Sua Majestade no ano de 1732" in
"Re vista do Instituto Histórico e geográfico do Brasil", tomo VII, pág. 489.
32
J. Norberto de Souza e Silva, "História da Cor) juração Mineira", Garnier, Rio de Janeiro, págs. 39-4G.
33
"Extratos da correspondência de Tomás Jefferson" in "Revista do Instituto Histórico e Geográfico do Brasil", tomo
pág. 289.
Literária, a qual facilmente se tornaria o centro diretor de qualquer movimento de
idéias a se objetivar em ação. Tornou-se, com efeito, e "envolto em tanto mistério
que mal sabiam os conjurados do que nele se tratava nem ao certo, as pessoas de
que se compunha34".
Filtra-se o segredo maçônico nesta revelação histórica, que vem comprovar de
modo incontestável o que afirma o probo Joaquim Felício: "A inconfidência de Minas
tinha sido dirigida pela maçonaria 35". Um autor judeu assegura que os judeus
"tiveram muita influência no preparo material e espiritual" da conspiração36. Nessa
primeira tentativa republicana no Brasil, "o esforço judaico é inegável37". Vimos,
anteriormente, que o Grande Oriente se estabelecera na Bahia. Pois bem, num
Capítulo das "Memórias do distrito diamantino", escrito, segundo confessa, em grande
parte com informações hauridas do Senador Teófilo Ottoni, Joaquim Felício declara,
textualmente: "Tiradentes e quase todos os conjurados eram pedreiros-livres.
Quando Tiradentes foi removido da Ahia (?), trazia instruções secretas da maçonaria
para os patriotas de Minas. Em Tijuco, o primeiro que se iniciou foi o padre Rolim,
depois o cadete José Vieira Couto e seus irmãos38".
O referido cadete faleceu no Tijuco, hoje Diamantina, em conseqüência de
enfermidade contraída na cadeia de Vila Rica. Em 1868, ainda viviam pessoas que
tinham assistido ao seu enterro e o viram, no caixão mortuário, fardado e revestido
das insígnias maçônicas de mestre39.
Da roda arcadiana de conjurados faziam parte o ouvidor Tomás Antonio
Gonzaga, já promovido a desembargador; o velho Cláudio Manoel da Costa, que
possuía muitas obras proibidas, que estudara e comentara a "Riqueza das Nações" de
Adam Smith40 e que se encarregara de preparar os "códigos fundamentais" da futura
república; o poeta Inácio José de Alvarenga Peixoto; Diogo Pereira de Vasconcelos; o
intendente Francisco Gregário Pires Monteiro Bandeira; os padres Miguel Eugênio da
Silva Mascarenhas e Carlos Correa de Toledo, que liam versos e propagavam a idéia
do republicanismo separatista, porque sua atenção não estava voltada para o todo
brasileiro e sim para o torrão natal. As influências judaico-maçônicas manobravam
seu idealismo patriótico.
O anúncio de uma derrama, finta geral do fisco cobrando tributos atrasados,
certamente descontentaria muita gente e aumentaria o número dos prosélitos. A
revolução deveria estalar nesse momento e entre seus planos figurava a queima dos
cartórios41, para fazer desaparecer os títulos de propriedade. Disso, todas as rebeldias
assopradas da sombra têm cuidado com o maior empeno: circun célios, albigenses,
jaques, campônios de Maria da Fonte, em Portugal, balaios e quebra-quilos do Norte,
comunistas russos. Outros revolucionários, como os de 1930, se apoderam dos
cartórios, onde põem gente sua.
José Joaquim da Silva Xavier, alcunhado o Tiradentes por exercer a profissão
de dentista, que se tornaria a figura principal da Inconfidência por todos os títulos,
nascera em São João Del Rei e principiara a vida como mascate nas Minas Novas,
onde estivera preso e ficara "sem crédito". Era filho do boticário Domingos da Silva
Santos e de Antônia da Encarnação Xavier. Em lugar do nome paterno, usava o
materno. Tinha dois irmãos, ambos sacerdotes, que traziam nomes diferentes:
Francisco Ferreira da Cunha e Daniel Armo Ferreira. Entrara, como recurso de vida,

34
J. Norberto, op. cit. pág. 60.
35
"Memórias do distrito diamantino", pag. 253.
36
Isaque Izeckson, "os judeus na Independência" In "Almanaque Israelita, 1935, pág. 20 Cf. Bartolomeu de Almeida,
artigos no jornal católico °A Ordem".
37
Izaque Izeckson, loc. cit.
38
Op. cit. loc. cit. A revelação é notável, devi do ao alto conceito de quem a faz.
39
Januario da Cunha Barbosa. "Parnaso Brasileiro", tomo II.
40
J. Norberto, op. cit. pág. 70.
41
Op- cit. pág. 71.
para a carreira das armas e, sem proteção, estacionara no posto de alferes da 62ª
Companhia dos Dragões das Minas. As preterições lhe amargavam a alma. Tentara a
mineração, sem proveito, e fizera a campanha do Sul, contra os invasores
castelhanos. No Rio de Janeiro, procurara obter da indiferença do Vice-Rei D. Luiz de
Vasconcelos a concessão do abastecimento de água e dos trapiches42. Fazia o que se
chama biscates em medições de terras. Era pouco ou nada simpático de aparência
"feio e espantado", disse dele Alvarenga Peixoto. Quando no Rio, o populacho o
vaiava por causa do físico incomum e por viver perguntando a esmo o que faria Minas
feliz, depôs na devassa o sargento-mor José Joaquim da Rocha.
Diz Isaque Iseckson que era possivelmente judeu, por que entre seus nomes
há o de Silva, "preferido pelos judeus-portugueses, como o de Costa e Pinto43".
Indicio vago. Maiores se encontram na versatilidade de sua vida, na leviandade
fanfarrona de seu temperamento, na inquietação constante de seu caráter, nas
tentativas desatinadas de ganhos e concessões, na onomástica mutável de sua
família, na profissão do pai (46) e no seu primeiro meio de existência como mascate.
Nada disso, porém, é bastante para se fazer em sã consciência a afirmação de que
fosse de raça judaica. O papel que assumiu na derradeira etapa da malfadada
conspirata demonstra, pelo contrário, um espírito de sacrifício, um amor da
responsabilidade e uma resignação altamente cristã, sem nada de comum com as
atitudes dos judeus nessas ocasiões. Se o sangue de Israel porventura lhe corria nas
veias, de tal modo o meio o purificara através das gerações que pôde praticar atos
que o imortalizaram, tornando-o uma figura simbólica.
No Rio de Janeiro, Tiradentes pusera-se em contato com um moço mineiro que
regressava formado da Europa, o Dr. José Alves Maciel, o qual, segundo o
depoimento de Domingos Vidal, estivera na Inglaterra, buscando apoio para o levante
de Minas Gerais. Durante a ausência do alferes, a 11 de junho de 1788, tomara
posse, em Vila Rica, do governo da capitania, o Visconde de Barbacena, munido de
autorização real para a cobrança da derrama, que os conspiradores esperavam
ansiosamente para se manifestarem.
De torna viagem, Tiradentes passou na fazenda do opulento José Aires Gomes,
coronel da cavalaria auxiliar na Borda do Campo, em companhia do ouvidor que ia
substituir Tomás Antonio Gonzaga, Pedro José de Araújo Saldanha Em conversa,
expandiu-se sobre as novas idéias. Fez o mesmo na fazenda do Registro Velho, com o
padre Manoel Rodrigues da Costa. O Dr. Maciel, que fora antes dele para Vila Rica,
iniciara-o no mistério da conjura, afirma Joaquim Norberto44, o que vai ao encontro
da referência de Joaquim Felício sobre as instruções secretas ou a prancha trazida da
Bahia. E impossível deslindar o segredo maçônico das origens da conspiração sem
consultar os arquivos secretos da maçonaria. Por onde andarão os papéis desse
tempo, se é que houve alguma coisa escrita?
O primeiro pensamento de Aires Gomes, medroso de complicações, porque as
leis ordenavam a delação, foi levar o que ouvira ao conhecimento das autoridades.
Tentou, sem resultado, por intermédio do desembargador Luis Beltrão. Por causa de

42
Loc. cit.
43
É sabida a predileção dos judeus pela arte de curar e sua derivada, a farmácia. Mendes dos Remédios, Castro
Boticário e muitos outros são cognómes que denunciam ainda hoje, pela profissão ancestral a origem judaica de seus
portadores" - Rodolfo Garcia, "Os judeus no Brasil colonial in -Os judeus na história do Brasil", pág. 12.
44
Op. cit. pag. 12. É preciso respigar nos historiadores, todos eles desavisados da questão judaico-maçônica, os
vestígios das atuações das forças ocultas. Sobre o Dr. José Álvares Maciel, lê-se o seguinte em Antônio Augusto de
Aguiar, "Vida do Marquês de Baroacena", Imprensa Nacional, Rio de Janeiro, 1896, pag. 7:"... Organizou sociedades
em Minas, Rio de Janeiro e S. Paulo com o intuito de, por meio delas,fazer a propaganda das idéias e preparar
elementos, que na hora oportuna fizessem a revolução°. Esse informe foi dado ao Marquês de Barbacena na sua
mocidade, quando serviu em Angola, por um dos inconfidentes ali desterrados, que ele conheceu.
seu involuntário silêncio, posteriormente se viu envolvido nas teias do processo.
Tiradentes continuou a falar no assunto. Falou ao próprio tenente coronel Freire de
Andrade, seu comandante, que não gostou disso, e ao capitão Maximiano de Oliveira
Leite, seu superior hierárquico, que o repeliu.

Bandeira da Inconfidência proposta por Tiradentes, com o Triângulo,


do qual a Linguagem Maçônica, no "Livro Maçônico do Centenário", pág. 161,
diz unicamente o seguinte: "Emblema da Divindade. Em sentido literal -
chapéu". Em certas reproduções da Bandeira dos Inconfidentes, o Triângulo
aparece encarnado. Clóvis Ribeiro, na sua obra sobre bandeiras e brasões do
Brasil pinta-o verde.
O triângulo na posição em que aí está, pode ser visto na pág 112 da obra
"Compass der Weisen° de Ketmia Vere, o Barão Proeck, Berlim e Leipzig,
1779.

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