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INSCRIÇÃO: 00698
CATEGORIA: RP
MODALIDADE: RP02
RESUMO
A proposta deste trabalho é apresentar algumas inferências a partir dos resultados de uma pesquisa
de opinião sobre a percepção da comunidade acadêmica da Universidade Federal de Alagoas (Ufal)
a respeito da PEC 287/2016 ou projeto de Reforma da Previdência Social. A pesquisa foi realizada
no primeiro semestre de 2017, no âmbito da disciplina Teoria e Pesquisa de Opinião Pública, do
curso de Relações Públicas da Ufal, mesmo período em que o assunto se tornou uma das principais
pautas das agendas política, pública e midiática. De natureza quantitativa, teve como instrumento
de coleta de dados questionários estruturados com perguntas fechadas que foram aplicados a 377
pessoas a partir de entrevistadas face a face. Os resultados apontam para algumas contradições na
construção da opinião acadêmica sobre o tema e seu posicionamento no espaço público.
INTRODUÇÃO
Conhecida popularmente como Reforma da Previdência Social, a Proposta de Emenda à
Constituição (PEC) 287/2016 foi escolhido como objeto desta pesquisa de opinião tanto por sua
relevância – por se tratar de uma questão de interesse público – como pela visibilidade que o tema
alcançou na época de sua realização, tomando espaço considerável nas agendas pública, midiática e
política. Caso fosse aprovada, a reforma, apresentada pelo governo ao congresso em 6 de dezembro
de 2016, atingiria todos os brasileiros ativos que tivessem idade inferior a 50 (homens) ou 45 anos
(mulheres), devendo ser submetidos às novas regras. A proposta alteraria oito artigos da
constituição brasileira, fixando a idade mínima de 65 anos para dar entrada na aposentadoria e
elevando o tempo mínimo de contribuição para 25 anos. Fruto de um projeto realizado na disciplina
Teoria e Pesquisa de Opinião Pública do curso de Relações Públicas da Universidade Federal de
Alagoas (Ufal), sob orientação da professora Ms. Emanuelle Rodrigues. O estudo teve como
objetivo principal compreender a percepção da comunidade acadêmica da Ufal sobre a PEC
287/2016. Trata-se de uma pesquisa quantitativa realizada presencialmente com 377 pessoas, entre
discentes e servidores (docentes e técnicos). A seleção do público a ser investigado seguiu alguns
critérios que, para melhor abrangência, serão abordados em tópicos posteriores. A investigação,
realizada através de questionário (método face a face), possibilitou a compreensão de diversos
fatores ligados ao tema, como o nível de conhecimento da comunidade sobre a Previdência Social e
sua reforma, os principais meios utilizados para obtenção de informações sobre o tema; o nível de
concordância do público em relação a proposta de igualar a idade mínima para ambos os sexos; a
consideração do nível de importância das manifestações sociais e a relação desse público com as
mesmas; entre outros.
OBJETIVO
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JUSTIFICATIVA
A complexa estrutura social (Bourdieu, 2012) e a organização dos agentes em torno deles são
fatores que interferem no modo como as sociedades de cada época pensam seus problemas sociais,
o que requer toda uma instrumentalização para o conhecimento de suas percepções. Afinal, são
estas que não apenas impulsionam como validam suas ações em relação aos assuntos de interesse
público de um dado contexto. O humor de um público se reflete nos discursos que circulam na
sociedade, implicando diretamente nas ações dos agentes sociais. Isso porque, mais precisamente, o
discurso, segundo Fairclough (2001, p.91) “é uma prática, não apenas de representação do mundo,
mas de significação do mundo, constituindo e construindo o mundo em significado”. Assim, aquilo
que acreditamos ser uma opinião nossa nada mais é, para Charaudeau (2016), que um reflexo da
concepção dos grupos sociais que transitamos. Conhecer o ânimo de um público, portanto, permite
aos pesquisadores entender cenários e prever tendências de comportamento. A PEC 287/2016
proposta pelo governo do presidente Michel Temer, do então Partido Movimento Democrático
Brasileiro (PMDB) , apresentou-se como uma questão de grande relevância para o interesse público
no período de realização da disciplina Teoria e Pesquisa de Opinião Pública, levando-nos a escolhê-
lo como tema central do projeto de pesquisa. Em Maceió, capital de Alagoas, eclodiu uma série de
manifestações sociais contra o projeto de Reforma, tomando as principais ruas e avenidas da
cidade, sendo protagonizadas sobretudo pelos movimentos sociais em parceria com estudantes e
professores das redes públicas de ensino nos âmbitos municipal, estadual e federal. Na mesma
linha, o tema se tornou pauta em diversas discussões na Ufal, alcançando públicos distintos. Por
outro lado, os enquadramentos dados pelos veículos tradicionais de mídia não contribuíam muito
para a expansão do debate. Dessa forma, aquele parecia ser um momento ideal para a emergência
de um discursão qualificada no espaço público, agenciada especialmente pela universidade, o que
nos motivou realizar uma pesquisa para entender, no âmbito da Ufal, qual a percepção da
comunidade acadêmica sobre o projeto de Reforma. Considerando a amplitude do tema e as
múltiplas possibilidades de abordagem e seleção do público a ser estudado, a escolha da população
se deu sobretudo por dois motivos: o primeiro diz respeito ao território em que ela estava
circunscrita, possibilitando certo controle para inserção dos pesquisadores em campo; o segundo se
refere à relevância do público acadêmico para o desenvolvimento e ampliação de um debate
qualificado na esfera pública, não apenas pelo assunto ser objeto de estudo de diversas áreas, mas
também por este ser um público historicamente conhecido pelas lutas sociais. Logo, conhecer a
percepção desse público sobre o tema nos permitiria, a nosso ver, inferir sobre o potencial irruptivo
da discussão sobre os direitos sociais e trabalhistas, ensejados pelo projeto de Reforma da
Previdência Social, na sociedade alagoana; e, então, quem sabe desenvolver algumas inferências
sobre o cenário político-econômico que se desenhava naquela época.
respostas para cada entrevistado; elaborado a partir dos objetivos elencados no projeto de pesquisa;
e estruturado com perguntas fechadas e três categorias de questões, como indica Babbie (2003): (1)
questões-filtro, que servem para filtrar os respondentes de outras perguntas; (2) contingentes,
realizadas após questões-filtro; e (3) matriciais, elaboradas com o mesmo conjunto de respostas,
como é o caso da Escala Likert. Além dos objetivos, foram listadas as variáveis mais importantes
para esta pesquisa (já citadas), o que nos permitiu elaborar as questões de forma estratégica para
que pudéssemos alcançar os resultados almejados. A estrutura seguiu as recomendações propostas
por Babbie (2003): das perguntas mais gerais às mais específicas; uma ordem lógica entre elas;
alternativas exaustivas; perguntas e respostas claras; sem questões negativas; e não ser tendencioso.
Por fim, antes de partir para campo, realizamos uma pesquisa piloto com cerca de 20 pessoas para
testar o questionário. A investigação foi realizada durante o mês de abril de 2017. O processamento
de dados foi realizado pela equipe no programa Excel, visto que havia carência de softwares mais
adequados naquele momento, através da ferramenta Tabela Dinâmica.
discentes possuem um menor nível de conhecimento sobre o mesmo projeto, com 53,3% que
conhecem pouco e 8,6% que desconhecem totalmente. O nível de insatisfação em relação ao
projeto também é maior entre os servidores, com 85,3% de entrevistados que afirmaram não
estarem satisfeitos, enquanto que entre os discentes esse número cai para 67%. Os entrevistados
também foram indagados sobre as principais mudanças propostas no projeto. Quando questionados
se concordavam ou não com um item em específico da proposta da PEC 287/2016, que se refere ao
aumento da idade mínima da aposentadoria de 55 (mulher) e 60 (homem) para 65 anos, ambos, e
pelo menos 25 anos de contribuição para obtenção de um percentual mínimo do benefício, 92,5%
dos entrevistados afirmaram que não. Em compensação, o percentual do nível de concordância cai
quando se trata da proposta de equiparação da idade mínima entre homens e mulheres (o projeto
propõe 65 anos como idade mínima para ambos os sexos), com 68,4% de entrevistados que
afirmaram discordarem ou discordarem totalmente desse ponto da proposta, enquanto que 12,6%
não concordam, nem discordam e 19,1% concordam ou concordam muito. Foi notável uma
oscilação entre os níveis de concordância entre as categorias da variável sexo, em que 40,5% das
mulheres discordam totalmente, em detrimento de apenas 26% de homens com a mesma opinião.
Na tentativa de entender mais profundamente o perfil comportamental dos entrevistados, criamos
uma série de frases atitudinais que visava identificar as motivações associadas às opiniões em
relação ao projeto de Reforma da Previdência Social. Assim, entre os que afirmaram concordar com
o ponto sobre a equiparação da idade mínima e tempo de contribuição entre homens e mulheres,
49,1% responderam que “somos todos iguais perante a lei”, 17,6% que “os homens também
desenvolvem atividades domésticas”, e 17,6% “a mulher tem uma maior expectativa de vida”. Em
contrapartida, entre aqueles que discordaram, 36,3% “porque a mulher tem dupla jornada de
trabalho”, 32,9% “porque a remuneração das mulheres é menor” e 18,8% em virtude de “fatores
fisiológicos”. Considerando que a opinião se constitui, em grande medida, a partir da relação entre
as agendas política, midiática e pública, buscamos contemplar algumas questões relativas aos meios
de acesso à informação, especialmente no que tange a PEC 287/2016. Para tanto, apresentamos
questões de múltiplas escolhas que visavam estabelecer um ranking de consumo de mídia. De
acordo com os dados, a mídia é o principal meio de acesso às informações sobre as medidas do
governo referentes a reforma, em que 91,2% dos entrevistados afirmaram utilizar esse recurso,
seguido de 36,2% que responderam amigos e/ou parentes, 14,7% colegas da faculdade e 8,8%
colegas de trabalho. Dentre os meios de comunicação mais acessados, os sites de notícia lideraram
o ranking com 71,5%, seguidos das redes sociais (70,3%) e da TV aberta ou paga (63,2%). Quando
correlacionada com outras variáveis, o consumo de mídia se apresentou de maneira relativamente
diferente entre os cargos, cujos meios mais tradicionais se destacaram entre os servidores. Enquanto
os servidores acessam mais os jornais (47,1%), as revistas (29,4%) e o rádio (20,6%), parte
considerável dos estudantes (71,6%) afirmaram fazer uso das redes sociais. Por fim, buscamos
entender um pouco sobre a percepção da comunidade acadêmica a respeito das manifestações
sociais no geral, e sua participação, visto que, como já foi mencionado em tópicos anteriores, a
atuação desse público nos movimentos sociais sempre foi uma característica própria e determinante
para as mudanças no país. Do total de entrevistados, 87,7% consideram essas manifestações
importantes ou muito importantes para a sociedade. Destes, 82,8% já participaram alguma vez na
vida, mas apenas 17,2% já participaram de alguma manifestação social referente a reforma da
Previdência Social.
CONSIDERAÇÕES
Embora se trate de uma pesquisa desenvolvida em Relações Públicas (KUNSCH, 2003), suas
origens remetem às Ciências Humanas e Sociais, o que nos levou a realizar algumas apropriações
de outras áreas. Os resultados alcançados reforçam a importância da opinião pública sobre os vários
temas em debate nas pautas das agendas política, pública e midiática, em particular, sobre aqueles
que serão afetados diretamente. Mesmo sendo uma pesquisa dentro de um pequeno recorte da
população, o trabalho parece explicar, em certa medida, a compreensão popular sobre a Previdência
Social, o conhecimento sobre a proposta de Emenda à Constituição (PEC) 287/2016 e a
participação popular nas manifestações sociais, em todos os casos ainda muito incipiente. Com base
nos resultados, podemos inferir sobre algumas questões gerais sobre esse comportamento, que é ao
mesmo tempo de indignação, desconhecimento e inércia. No caso específico da população
estudada, um público intelectualizado e com amplo acesso a informações não só da mídia, mas de
pesquisas nos mais variados âmbitos, o conhecimento sobre questões de interesse público é
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razoável e muda conforme analisamos dentro de algumas variáveis, como cargo e faixa etária. O
que nos parece ser contraditório é que os níveis de insatisfação são maiores que os de
conhecimento. A nosso ver, isso poderia explicar, caso os resultados se repetissem em uma
população mais ampla, a qualidade do debate na esfera pública, muitas vezes resumido a um efeito
do agendamento midiático e à existência “filtrada” de muitos indivíduos no contexto da Sociedade
em Rede (PARISER, 2012). Por fim, além de atender seu principal objetivo, a pesquisa revelou-se
como uma valiosa contribuição para o nosso aprendizado em termos de pesquisa, mas também
sobre a complexidade do contexto atual em que se encontra a sociedade brasileira, necessitando, de
igual modo, um olhar mais sensível sobre os temas que circulam e como os indivíduos constroem
sua opinião a respeito deles.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁICAS
BABBIE, E. R. Métodos de Pesquisa de Survey. Belo Horizonte, Editora UFMG, 2003.
BOURDIEU, Pierre. O poder simbólico. 16. Ed. Tradução: Fernando Tomaz. Rio de Janeiro:
Bertrand Brasil, 2012.
FRANCESHINI, Adélia. Os tipos de pesquisa. [et al]. Pesquisa de Mercado. Coordenação Sérgio
Roberto Dias. São Paulo: Saraiva, 2011. P.51-64.
LIMA, Alexandre Correa. Pesquisas de Opinião Pública: teoria, prática e estudos de caso. São
Paulo: Novatec, 2017.
PARISER, Eli. O filtro invisível: o que a internet está escondendo de você. Tradução Diego Alfaro.
São Paulo: Zahar,2012.
RICHARDSON, Roberto J. Pesquisa social: métodos e técnicas. São Paulo: Atlas, 1989.
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