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21/08/2018 XIX Congresso de Ciências da Comunicação na Região Nordeste

INSCRIÇÃO: 00698

CATEGORIA: RP

MODALIDADE: RP02

Reforma da Previdência Social: uma pesquisa de opinião sobre a percepção da


TÍTULO:
comunidade acadêmica da Ufal sobre a PEC 287/2016

Alexsandra Cabral Silva (Universidade Federal de Alagoas); Geovana Santana


Souza (Universidade Federal de Alagoas); Thainá Evellyn Martiniano
AUTORES: Alexandre (Universidade Federal de Alagoas); Wilson Belarmino Santos da
Silva (Universidade Federal de Alagoas); Emanuelle Gonçalves Brandão
Rodrigues (Universidade Federal de Alagoas)

PALAVRAS- Pesquisa de Opinião, Pesquisa em Relações Públicas, Reforma da Previdência


CHAVE: Social, PEC 287/2016,

RESUMO
A proposta deste trabalho é apresentar algumas inferências a partir dos resultados de uma pesquisa
de opinião sobre a percepção da comunidade acadêmica da Universidade Federal de Alagoas (Ufal)
a respeito da PEC 287/2016 ou projeto de Reforma da Previdência Social. A pesquisa foi realizada
no primeiro semestre de 2017, no âmbito da disciplina Teoria e Pesquisa de Opinião Pública, do
curso de Relações Públicas da Ufal, mesmo período em que o assunto se tornou uma das principais
pautas das agendas política, pública e midiática. De natureza quantitativa, teve como instrumento
de coleta de dados questionários estruturados com perguntas fechadas que foram aplicados a 377
pessoas a partir de entrevistadas face a face. Os resultados apontam para algumas contradições na
construção da opinião acadêmica sobre o tema e seu posicionamento no espaço público.

INTRODUÇÃO
Conhecida popularmente como Reforma da Previdência Social, a Proposta de Emenda à
Constituição (PEC) 287/2016 foi escolhido como objeto desta pesquisa de opinião tanto por sua
relevância – por se tratar de uma questão de interesse público – como pela visibilidade que o tema
alcançou na época de sua realização, tomando espaço considerável nas agendas pública, midiática e
política. Caso fosse aprovada, a reforma, apresentada pelo governo ao congresso em 6 de dezembro
de 2016, atingiria todos os brasileiros ativos que tivessem idade inferior a 50 (homens) ou 45 anos
(mulheres), devendo ser submetidos às novas regras. A proposta alteraria oito artigos da
constituição brasileira, fixando a idade mínima de 65 anos para dar entrada na aposentadoria e
elevando o tempo mínimo de contribuição para 25 anos. Fruto de um projeto realizado na disciplina
Teoria e Pesquisa de Opinião Pública do curso de Relações Públicas da Universidade Federal de
Alagoas (Ufal), sob orientação da professora Ms. Emanuelle Rodrigues. O estudo teve como
objetivo principal compreender a percepção da comunidade acadêmica da Ufal sobre a PEC
287/2016. Trata-se de uma pesquisa quantitativa realizada presencialmente com 377 pessoas, entre
discentes e servidores (docentes e técnicos). A seleção do público a ser investigado seguiu alguns
critérios que, para melhor abrangência, serão abordados em tópicos posteriores. A investigação,
realizada através de questionário (método face a face), possibilitou a compreensão de diversos
fatores ligados ao tema, como o nível de conhecimento da comunidade sobre a Previdência Social e
sua reforma, os principais meios utilizados para obtenção de informações sobre o tema; o nível de
concordância do público em relação a proposta de igualar a idade mínima para ambos os sexos; a
consideração do nível de importância das manifestações sociais e a relação desse público com as
mesmas; entre outros.

OBJETIVO

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GERAL: Compreender a percepção da comunidade acadêmica da Ufal sobre o projeto de reforma


da Previdência Social no Brasil (PEC 287/2016). ESPECÍFICOS: (1) Conhecer o nível de
conhecimento do público sobre a Previdência Social e a proposta de reforma; (2) Identificar os
principais meios utilizados para obtenção de informações sobre o tema; (3) Entender o nível de
concordância da comunidade em relação a proposta de igualar a idade mínima para ambos os sexos;
(4) Compreender o atual nível de importância, para esse público, das manifestações sociais e a
relação com as mesmas.

JUSTIFICATIVA
A complexa estrutura social (Bourdieu, 2012) e a organização dos agentes em torno deles são
fatores que interferem no modo como as sociedades de cada época pensam seus problemas sociais,
o que requer toda uma instrumentalização para o conhecimento de suas percepções. Afinal, são
estas que não apenas impulsionam como validam suas ações em relação aos assuntos de interesse
público de um dado contexto. O humor de um público se reflete nos discursos que circulam na
sociedade, implicando diretamente nas ações dos agentes sociais. Isso porque, mais precisamente, o
discurso, segundo Fairclough (2001, p.91) “é uma prática, não apenas de representação do mundo,
mas de significação do mundo, constituindo e construindo o mundo em significado”. Assim, aquilo
que acreditamos ser uma opinião nossa nada mais é, para Charaudeau (2016), que um reflexo da
concepção dos grupos sociais que transitamos. Conhecer o ânimo de um público, portanto, permite
aos pesquisadores entender cenários e prever tendências de comportamento. A PEC 287/2016
proposta pelo governo do presidente Michel Temer, do então Partido Movimento Democrático
Brasileiro (PMDB) , apresentou-se como uma questão de grande relevância para o interesse público
no período de realização da disciplina Teoria e Pesquisa de Opinião Pública, levando-nos a escolhê-
lo como tema central do projeto de pesquisa. Em Maceió, capital de Alagoas, eclodiu uma série de
manifestações sociais contra o projeto de Reforma, tomando as principais ruas e avenidas da
cidade, sendo protagonizadas sobretudo pelos movimentos sociais em parceria com estudantes e
professores das redes públicas de ensino nos âmbitos municipal, estadual e federal. Na mesma
linha, o tema se tornou pauta em diversas discussões na Ufal, alcançando públicos distintos. Por
outro lado, os enquadramentos dados pelos veículos tradicionais de mídia não contribuíam muito
para a expansão do debate. Dessa forma, aquele parecia ser um momento ideal para a emergência
de um discursão qualificada no espaço público, agenciada especialmente pela universidade, o que
nos motivou realizar uma pesquisa para entender, no âmbito da Ufal, qual a percepção da
comunidade acadêmica sobre o projeto de Reforma. Considerando a amplitude do tema e as
múltiplas possibilidades de abordagem e seleção do público a ser estudado, a escolha da população
se deu sobretudo por dois motivos: o primeiro diz respeito ao território em que ela estava
circunscrita, possibilitando certo controle para inserção dos pesquisadores em campo; o segundo se
refere à relevância do público acadêmico para o desenvolvimento e ampliação de um debate
qualificado na esfera pública, não apenas pelo assunto ser objeto de estudo de diversas áreas, mas
também por este ser um público historicamente conhecido pelas lutas sociais. Logo, conhecer a
percepção desse público sobre o tema nos permitiria, a nosso ver, inferir sobre o potencial irruptivo
da discussão sobre os direitos sociais e trabalhistas, ensejados pelo projeto de Reforma da
Previdência Social, na sociedade alagoana; e, então, quem sabe desenvolver algumas inferências
sobre o cenário político-econômico que se desenhava naquela época.

MÉTODOS E TÉCNICAS UTILIZADOS


O trabalho foi organizado em quatro fases: (1) pesquisa exploratória sobre o tema da Reforma da
Previdência Social; (2) construção do projeto de pesquisa descritiva sobre a percepção da
comunidade acadêmica a respeito da PEC 287/2016; (3) execução da pesquisa; e (4) apresentação
de resultados. Embora nosso foco aqui não recaia sobre a primeira, é preciso pontuar sua
importância para o desenvolvimento das subsequentes, afinal, foi nesta fase que pudemos conhecer
o “estado da arte” do objeto estudado. Com o intuito de nos aprofundarmos sobre a PEC 287/2016,
buscamos ampliar nosso escopo de análise para o próprio entendimento sobre o significado da
Previdência Social no Brasil e o contexto em que se inseria esse projeto de reforma. A pesquisa
exploratória foi realizada com base em procedimentos qualitativos, tais como: revisões
bibliográficas e entrevista face a face com roteiro semiestruturado de perguntas abertas com uma
pesquisadora especialista no tema, a professora do curso de Ciência Política da Ufal, Luciana
Santana. Com os subsídios necessários para progredir com as outras três fases, pudemos dar início
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ao desenvolvimento do desenho metodológico da investigação, visando “estabelecer as técnicas


mais apropriadas, definir um plano amostral, determinar as fontes de dados, os prazos estimados
para execução do projeto, a quantidade de recursos materiais e humanos e os custos para sua
realização” (LIMA, 2017, p.125). A escolha da pesquisa descritiva se deu em virtude de sua função,
que consiste, segundo Franceschini (2011) em descrever características de uma população,
retratando aspectos tanto gerais como específicos de seu comportamento. A autora afirma que este
tipo de pesquisa pode ser desenvolvido através de “observação direta ou pela coleta de dados
primários, por meio de entrevistas estruturadas em questionário aplicado à amostra definida no
estudo” (Idem, p.59), sendo este último o método escolhido por nós. Nossa opção pelo método
quantitativo acabou sendo “natural”, sendo frequentemente aplicado às pesquisas descritivas,
segundo Richardson (1989, p.29) em virtude da possibilidade de “descobrir e classificar a relação
entre variáveis”, o que implicou um modo próprio de construção do projeto, do planejamento e
interpretação dos resultados. Como o próprio nome indica, explica o autor, “caracteriza-se pelo
emprego da quantificação tanto nas modalidades de coleta de informações, quanto no tratamento
dessas através de técnicas estatísticas”, cujo intuito é “garantir a precisão dos trabalhos, evitar
distorções de análise e interpretação, possibilitando, consequentemente, uma margem de segurança
quanto às inferências” (RICHARDSON, 1989, p.29). Considerando a amplitude do tema e a nossa
limitação de tempo e pessoal, decidimos restringir a pesquisa a uma população-alvo delimitada, a
comunidade acadêmica da Universidade Federal de Alagoas (Ufal), circunscrita no Campus A. C.
Simões, compreendendo um universo de 21.387 pessoas, entre servidores e estudantes, cada um
representando, respectivamente, 10,3% (2.207u) e 89,7% (19.180u) da população. Dessa forma,
optamos pela seleção de uma amostra, isto é, um conjunto de elementos que podem representar, de
algum modo, características da população. Para tanto, escolhemos como unidade amostral o
indivíduo. A princípio, acreditando ser possível ter acesso a todas as unidades amostrais por meio
de e-mail ou telefone, realizamos o cálculo da amostragem aleatória simples, que, pressupondo
“que todos os membros tenham a característica procurada na pesquisa [...], tenham igual chance de
serem selecionados e/ou indagados” (VIRGILLITO et. al., 2010, p.90). Assim, através do seguinte
cálculo < n=N.p.q.Z²/[E². (N-1) + (p.q.Z²) ] >, em que “n” (o número que buscávamos descobrir)
representa a amostra, “N” o total da população (21.387), “Z” o nível de confiança (1,96 ou 95%),
“E” o erro amostral (0,05 ou 5%), e as proporções “p” e “q” (0,5 ou 50% cada), chegamos a uma
amostra de 377 indivíduos. Antes de alcançarmos esse número, havíamos realizado o cálculo por
grupo (servidores e estudantes), mas as amostras eram demasiadamente grandes para o curto
período de tempo e a quantidade de pesquisadores de campo que dispúnhamos. Assim, decidimos
por uma forma mais arriscada de recorte, que consistia na definição do número de entrevistados, em
cada grupo, a partir do que representavam proporcionalmente na população: 338 estudantes e 39
servidores. Um problema que encontramos, contudo, foi não ter acesso aos nomes e contados das
unidades amostrais, o que nos impediu de fazer qualquer tipo de sorteio. Com isso, tivemos que
operar mudanças na metodologia, selecionando aleatoriamente blocos da universidade, assim como
períodos do dia, para que os integrantes da equipe fossem a campo. Mesmo assim mantivemos os
números da amostra. Seguindo o que propõe Richardson (1989), uma questão indispensável para o
planejamento da pesquisa descritiva quantitativa é identificar as variáveis que parecem mais
importantes para explicar características complexas de um comportamento. Logo, definimos as
variáveis que poderiam, a nosso ver, ajudar a entender atitudes e até apontar para algumas
tendências comportamentais. Foram elas: cargo ocupado na universidade; classificação
socioeconômica; curso; conhecimento sobre a Previdência Social; satisfação com atual modelo da
previdência; conhecimento sobre a PEC 287/2016; satisfação com o modelo de reforma; meios
pelos quais obteve informação sobre o tema; e participação nas manifestações sociais referentes ao
projeto. Em linhas gerais, variáveis são classes de objetos que, segundo Richardson (1989),
possuem duas características básicas: (1) são aspectos observáveis de um objeto; e (2) devem
apresentar variações em relação ao mesmo ou a outros fenômenos. O passo seguinte consiste na
escolha dos métodos de abordagem e coleta de dados (LIMA, 2017), especificamente o
procedimento de pesquisa, o instrumento de coleta, a equipe e a metodologia de abordagem.
Optamos pelo levantamento de dados do tipo Survey, “frequentemente realizados para permitir
enunciados descritivos sobre alguma população, isto é, descobrir a distribuição de certos traços e
atributos” (BABBIE, 2003, p.96). O questionário foi escolhido como nosso instrumento de coleta
de dados, que, segundo Günter (2003), contém um conjunto de perguntas que busca medir opinião,
interesses, aspectos da personalidade e informações biográficas. Este foi: aplicado através de
entrevistas face a face por uma equipe de oito integrantes com a utilização de folhas de perguntas e
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respostas para cada entrevistado; elaborado a partir dos objetivos elencados no projeto de pesquisa;
e estruturado com perguntas fechadas e três categorias de questões, como indica Babbie (2003): (1)
questões-filtro, que servem para filtrar os respondentes de outras perguntas; (2) contingentes,
realizadas após questões-filtro; e (3) matriciais, elaboradas com o mesmo conjunto de respostas,
como é o caso da Escala Likert. Além dos objetivos, foram listadas as variáveis mais importantes
para esta pesquisa (já citadas), o que nos permitiu elaborar as questões de forma estratégica para
que pudéssemos alcançar os resultados almejados. A estrutura seguiu as recomendações propostas
por Babbie (2003): das perguntas mais gerais às mais específicas; uma ordem lógica entre elas;
alternativas exaustivas; perguntas e respostas claras; sem questões negativas; e não ser tendencioso.
Por fim, antes de partir para campo, realizamos uma pesquisa piloto com cerca de 20 pessoas para
testar o questionário. A investigação foi realizada durante o mês de abril de 2017. O processamento
de dados foi realizado pela equipe no programa Excel, visto que havia carência de softwares mais
adequados naquele momento, através da ferramenta Tabela Dinâmica.

DESCRIÇÃO DO PRODUTO OU PROCESSO


Visando facilitar a coleta de dados, assim como sua compreensão após a realização da pesquisa,
optamos por delimitar o desenvolvimento do trabalho em quatro etapas: (1) Caracterização do perfil
demográfico e socioeconômico, na qual foram analisadas variáveis como sexo, cargo, faixa etária,
classificação socioeconômica e rendas familiar e individual; (2) Níveis de conhecimento e
satisfação com o modelo atual da Previdência Social e o projeto de Reforma, etapa que se refere à
percepção de fato sobre o objeto de estudo; (3) Acesso a informação, cujo objetivo era conhecer os
principais meios utilizados pelos entrevistados para coleta de dados acerca da PEC 287/2016; e, por
fim, (4) Participação e percepção das manifestações sociais, incluindo aquelas ligadas ao projeto de
reforma, na qual os entrevistados foram questionados sobre a importância das mesmas e sua
atuação dentro delas. A pesquisa foi executada por uma equipe de oito membros, na qual cada um
ficou responsável por uma parcela dos questionários, compondo, ao total, a amostra da pesquisa.
Cada entrevistador aplicou 47 questionários face a face (43 estudantes e 4 servidores), excerto um
dos membros da equipe, que aplicou 48 questionários (43 estudantes e 5 servidores). As entrevistas
foram realizadas em 25 blocos diferentes, escolhidos aleatoriamente, além de locais de grande
circulação de membros da comunidade acadêmica, como a Biblioteca Central, cantinas, praças e
Restaurante Universitário, todos em diferentes dias e horários. Utilizamos como método o
Intercept, que consiste na abordagem de pessoas que aparecem no local onde o entrevistador se
encontra. O perfil demográfico dos entrevistados se estrutura da seguinte forma: 53,6% de mulheres
e 46,4% de homens. Quanto à idade, os estudantes se concentram principalmente na faixa etária de
16 a 24 anos, com 77,8%, enquanto os servidores nas faixas de 25 a 35 anos, com 48,6%, seguida
da 36 a 50 anos com 28,6%. Com predominância nas classes B e C, 40,7% dos entrevistados
pertenciam à primeira e 38,6% à segunda, sendo complementas por 12,9% da classe A e 7,8% das
classes DE. Quanto à renda familiar, há também uma diferença significativa por cargo. Enquanto os
estudantes se concentram 44,4% na categoria de 1 a 3 salários mínimos (R$ 938,00 a R$ 2.822,00)
e 30,5% de 3 a 6 (R$ 2.812,00 a R$ 5.622,00), 54,3% dos servidores recebem mais que 9 salários
mínimos e 28,6% de 3 a 6 (R$ 2.812,00 a R$ 5.622,00). Quando questionados se saberiam informar
o que era Previdência social, 78,6% dos entrevistados disseram que sim. Entre os servidores, o
percentual de indivíduos que responderam sim equivaleu a 97,1%. Destes, 64,7% ainda afirmaram
estarem pouco ou não satisfeitos em relação ao atual modelo, enquanto que 35,3% afirmaram
estarem satisfeitos ou muito satisfeitos. Já entre os discentes, o percentual de entrevistados que
sabiam o significado citado foi significativamente inferior ao de servidores, totalizando 76,6% de
indivíduos. Entretanto, mesmo o conhecimento sobre a Previdência sendo menor que o dos
servidores, foi possível notar um maior nível de insatisfação entre os estudantes com o atual
modelo, com 77,1% de discentes não satisfeitos ou poucos satisfeitos, em detrimento de 22,9%
satisfeitos ou muito satisfeitos. Ao analisar os níveis de satisfação por classificação
socioeconômica, observamos a existência de uma ligação entre as variáveis. O número de
indivíduos satisfeitos ou muito satisfeitos se apresentou maior na classe A, com 38,1%. Já quando
nos referimos ao percentual de pouco ou não satisfeitos, a classe B é predominante entre as demais,
com 74,3%. Em relação às demais classes, não existe diferença significativa entre os níveis de
satisfação. Já em relação ao nível de conhecimento sobre o projeto de reforma da Previdência
Social. Os servidores se destacam por apresentarem maior conhecimento sobre o tema, com 17,1%
que conhecem muito e 57,1% que conhecem algum aspecto do projeto. Ao contrário destes, os
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discentes possuem um menor nível de conhecimento sobre o mesmo projeto, com 53,3% que
conhecem pouco e 8,6% que desconhecem totalmente. O nível de insatisfação em relação ao
projeto também é maior entre os servidores, com 85,3% de entrevistados que afirmaram não
estarem satisfeitos, enquanto que entre os discentes esse número cai para 67%. Os entrevistados
também foram indagados sobre as principais mudanças propostas no projeto. Quando questionados
se concordavam ou não com um item em específico da proposta da PEC 287/2016, que se refere ao
aumento da idade mínima da aposentadoria de 55 (mulher) e 60 (homem) para 65 anos, ambos, e
pelo menos 25 anos de contribuição para obtenção de um percentual mínimo do benefício, 92,5%
dos entrevistados afirmaram que não. Em compensação, o percentual do nível de concordância cai
quando se trata da proposta de equiparação da idade mínima entre homens e mulheres (o projeto
propõe 65 anos como idade mínima para ambos os sexos), com 68,4% de entrevistados que
afirmaram discordarem ou discordarem totalmente desse ponto da proposta, enquanto que 12,6%
não concordam, nem discordam e 19,1% concordam ou concordam muito. Foi notável uma
oscilação entre os níveis de concordância entre as categorias da variável sexo, em que 40,5% das
mulheres discordam totalmente, em detrimento de apenas 26% de homens com a mesma opinião.
Na tentativa de entender mais profundamente o perfil comportamental dos entrevistados, criamos
uma série de frases atitudinais que visava identificar as motivações associadas às opiniões em
relação ao projeto de Reforma da Previdência Social. Assim, entre os que afirmaram concordar com
o ponto sobre a equiparação da idade mínima e tempo de contribuição entre homens e mulheres,
49,1% responderam que “somos todos iguais perante a lei”, 17,6% que “os homens também
desenvolvem atividades domésticas”, e 17,6% “a mulher tem uma maior expectativa de vida”. Em
contrapartida, entre aqueles que discordaram, 36,3% “porque a mulher tem dupla jornada de
trabalho”, 32,9% “porque a remuneração das mulheres é menor” e 18,8% em virtude de “fatores
fisiológicos”. Considerando que a opinião se constitui, em grande medida, a partir da relação entre
as agendas política, midiática e pública, buscamos contemplar algumas questões relativas aos meios
de acesso à informação, especialmente no que tange a PEC 287/2016. Para tanto, apresentamos
questões de múltiplas escolhas que visavam estabelecer um ranking de consumo de mídia. De
acordo com os dados, a mídia é o principal meio de acesso às informações sobre as medidas do
governo referentes a reforma, em que 91,2% dos entrevistados afirmaram utilizar esse recurso,
seguido de 36,2% que responderam amigos e/ou parentes, 14,7% colegas da faculdade e 8,8%
colegas de trabalho. Dentre os meios de comunicação mais acessados, os sites de notícia lideraram
o ranking com 71,5%, seguidos das redes sociais (70,3%) e da TV aberta ou paga (63,2%). Quando
correlacionada com outras variáveis, o consumo de mídia se apresentou de maneira relativamente
diferente entre os cargos, cujos meios mais tradicionais se destacaram entre os servidores. Enquanto
os servidores acessam mais os jornais (47,1%), as revistas (29,4%) e o rádio (20,6%), parte
considerável dos estudantes (71,6%) afirmaram fazer uso das redes sociais. Por fim, buscamos
entender um pouco sobre a percepção da comunidade acadêmica a respeito das manifestações
sociais no geral, e sua participação, visto que, como já foi mencionado em tópicos anteriores, a
atuação desse público nos movimentos sociais sempre foi uma característica própria e determinante
para as mudanças no país. Do total de entrevistados, 87,7% consideram essas manifestações
importantes ou muito importantes para a sociedade. Destes, 82,8% já participaram alguma vez na
vida, mas apenas 17,2% já participaram de alguma manifestação social referente a reforma da
Previdência Social.

CONSIDERAÇÕES
Embora se trate de uma pesquisa desenvolvida em Relações Públicas (KUNSCH, 2003), suas
origens remetem às Ciências Humanas e Sociais, o que nos levou a realizar algumas apropriações
de outras áreas. Os resultados alcançados reforçam a importância da opinião pública sobre os vários
temas em debate nas pautas das agendas política, pública e midiática, em particular, sobre aqueles
que serão afetados diretamente. Mesmo sendo uma pesquisa dentro de um pequeno recorte da
população, o trabalho parece explicar, em certa medida, a compreensão popular sobre a Previdência
Social, o conhecimento sobre a proposta de Emenda à Constituição (PEC) 287/2016 e a
participação popular nas manifestações sociais, em todos os casos ainda muito incipiente. Com base
nos resultados, podemos inferir sobre algumas questões gerais sobre esse comportamento, que é ao
mesmo tempo de indignação, desconhecimento e inércia. No caso específico da população
estudada, um público intelectualizado e com amplo acesso a informações não só da mídia, mas de
pesquisas nos mais variados âmbitos, o conhecimento sobre questões de interesse público é
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razoável e muda conforme analisamos dentro de algumas variáveis, como cargo e faixa etária. O
que nos parece ser contraditório é que os níveis de insatisfação são maiores que os de
conhecimento. A nosso ver, isso poderia explicar, caso os resultados se repetissem em uma
população mais ampla, a qualidade do debate na esfera pública, muitas vezes resumido a um efeito
do agendamento midiático e à existência “filtrada” de muitos indivíduos no contexto da Sociedade
em Rede (PARISER, 2012). Por fim, além de atender seu principal objetivo, a pesquisa revelou-se
como uma valiosa contribuição para o nosso aprendizado em termos de pesquisa, mas também
sobre a complexidade do contexto atual em que se encontra a sociedade brasileira, necessitando, de
igual modo, um olhar mais sensível sobre os temas que circulam e como os indivíduos constroem
sua opinião a respeito deles.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁICAS
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