Você está na página 1de 14

Paidéia, 2004, 14 (28), 139 -152

139
DA FALA DO OUTRO AO TEXTO NEGOCIADO:
DISCUSSÕES SOBRE A ENTREVISTA NA PESQUISA QUALITATIVA1

Márcia Tourinho Dantas Fraser2


Sônia Maria Guedes Gondim
Universidade Federal da Bahia

Resumo: O artigo discute a entrevista como técnica qualitativa de apreensão da percepção e da vivência
pessoal das situações e eventos do mundo. A relação intersubjetiva, entrevistador e entrevistado, é de funda-
mental importância para permitir o acesso aos significados atribuídos pelas pessoas aos eventos do mundo,
cujo produto é fruto das mútuas influências no processo de interação na entrevista. A primeira seção discute a
abordagem qualitativa de pesquisa e aponta suas principais diferenças em relação à abordagem quantitativa,
bem como as implicações da escolha teórico-metodológica para o uso da entrevista como técnica de pesquisa.
A segunda seção caracteriza as entrevistas qualitativas quanto à estrutura, tipos, objetivos, papel dos partici-
pantes e discute ainda critérios de seleção dos entrevistados, representatividade, validade e fidedignidade das
interpretações dos resultados. A última seção apresenta algumas considerações sobre os limites e possibilida-
des de uso da técnica.

Palavras-chave: entrevista; abordagem qualitativa; técnicas de pesquisa.

FROM THE SPEECH OF THE OTHER TO THE NEGOTIATED TEXT: DISCUSSIONS ABOUT
THE INTERVIEW IN THE QUALITATIVE RESEARCH

Abstract: The article discusses the interview as a qualitative technique in the apprehension of perception
and personal experience of world situations and events. The intersubjective relation, interviewer and interviewee,
is of fundamental importance for allowing the access to the signs attributed by persons to the world events, as
such product is the result of mutual influences in the interacting process in interview. The first section discusses
the qualitative approach of the research and points the main differences towards the quantitative approach, as
well as the theorical-methodological implications for using the interview as a technique for research. The
second characterizes the qualitative interviews within the structure, types, participants role, and also discusses
criteria in selecting the interviewees, representativity, validity, and trustworthiness in the results of the
interpretations. The last section presents some considerations about the limits and possibilities in using the
technique.

Key-words: interview; qualitative approaches; research techiniques.

A entrevista é considerada uma modalidade de de outro modo, a entrevista é uma forma de interação
interação entre duas ou mais pessoas. Trata-se de uma social que valoriza o uso da palavra, símbolo e signo
conversação dirigida a um propósito definido que não privilegiados das relações humanas, por meio da qual
é a satisfação da conversação em si, pois esta última os atores sociais constroem e procuram dar sentido à
é mantida pelo próprio prazer de estabelecer contato realidade que os cerca (Flick, 2002; Jovechlovitch &
sem ter o objetivo final de trocar informações, ou Bauer, 2002).
seja, diminuir as incertezas acerca do que o O uso desta técnica parece estar localizado no
interlocutor diz (Haguete, 2001; Lodi, 1991). Dito campo da medicina, dado o interesse nesta área em
1
Artigo recebido para publicação em 03/11/2003; aceito em 08/05/2004. se obter informações pormenorizadas do paciente
2
Endereço para correspondência: Rua Aristides Novis, 105, Edifício
Bosque Suisso, Apto. 1102B, Federação Salvador, Bahia, Cep 40210- para dar subsídios ao diagnóstico das doenças. Mais
630, E-mail: mtd-fraser@uol.com.br tarde, sua aplicação foi estendida para outros domí-
140 Márcia Tourinho Dantas Fraser
nios, com objetivos diversos conforme cada área de & Frey, 2000).
aplicação. Atualmente é empregada principalmente Em princípio, as variadas abordagens de pes-
na clínica em geral, na seleção de pessoas e na inves- quisa adotam pontos de vistas diferentes sobre a prá-
tigação científica. Na clínica, a entrevista constitui tica, orientam-se por pressupostos ontológicos e
uma técnica fundamental não só para o diagnóstico, epistemológicos diversos e focalizam distintos aspec-
como também para a intervenção terapêutica. Na tos na sua investigação (Kemmis & Mctaggart, 2000;
seleção de pessoas, o foco é na avaliação comparati- Rey, 2002). A sua diversidade está alicerçada em di-
va do candidato para fundamentar prognósticos de vergências metodológicas que repercutem no uso da
desempenho futuro no trabalho, e, por último, na própria técnica de entrevista, na sua estrutura, na
pesquisa científica, a entrevista é utilizada principal- definição de seus objetivos, no papel do entrevistador
mente como fonte de coleta de dados. e do entrevistado, e nas formas de validação de seus
Embora se reconheça que as abordagens e as resultados.
discussões que circunscrevem o uso da entrevista Compartilha-se, neste artigo, a opinião de que
sejam amplas, o objetivo deste artigo é o de discutir a multiplicidade de abordagens de pesquisa pode ser
algumas de suas vantagens como técnica de pesquisa enriquecedora para o conhecimento científico (Hollis,
na perspectiva qualitativa. Uma delas é a de favore- 2002), entendendo-se que a questão central deva
cer a relação intersubjetiva do entrevistador com o localizar-se nas opções teórico-metodológicas que
entrevistado, e, por meio das trocas verbais e não- repercutem na decisão dos níveis de análise da ação
verbais que se estabelecem neste contexto de social circunscritos a um paradigma3 .
interação, permitir uma melhor compreensão dos sig- A entrevista na pesquisa qualitativa, ao privi-
nificados, dos valores e das opiniões dos atores soci- legiar a fala dos atores sociais, permite atingir um
ais a respeito de situações e vivências pessoais. Ou- nível de compreensão da realidade humana que se
tra vantagem é a flexibilização na condução do pro- torna acessível por meio de discursos, sendo apro-
cesso de pesquisa e na avaliação de seus resultados, priada para investigações cujo objetivo é conhecer
visto que o entrevistado tem um papel ativo na cons- como as pessoas percebem o mundo. Em outras pa-
trução da interpretação do pesquisador. Esta seria uma lavras, a forma específica de conversação que se es-
modalidade de triangulação (confiabilidade), pois, ao tabelece em uma entrevista para fins de pesquisa
invés de o pesquisador sustentar suas conclusões ape- favorece o acesso direto ou indireto às opiniões, às
nas na interpretação que faz do que o entrevistado crenças, aos valores e aos significados que as pesso-
diz, ele concede a este último a oportunidade de as atribuem a si, aos outros e ao mundo circundante.
legitimá-la. Este é um dos aspectos que caracteriza o Deste modo, a entrevista dá voz ao interlocutor para
produto da entrevista qualitativa como um texto ne- que ele fale do que está acessível a sua mente no
gociado. momento da interação com o entrevistador e em um
Acredita-se que a entrevista como técnica de processo de influência mútua produz um discurso
pesquisa social associada às observações etnográficas compartilhado pelos dois atores: pesquisador e par-
tenha sido usada inicialmente por Booth, em 1886, ticipante. Ao contrário, quando o foco de investiga-
em estudo sobre as condições sociais e econômicas ção é o comportamento humano, ou seja, a forma
dos habitantes de Londres. A entrevista como técni- como as pessoas agem no cotidiano e não somente
ca de investigação científica foi gradativamente di- falam sobre ele, existem outras técnicas, tais como a
fundida nas pesquisas qualitativas e nas pesquisas observação participante e a observação sistemática
quantitativas (Fontana & Frey, 1994). As pesquisas que permitem melhor atender a estes objetivos.
de opinião, de tradição quantitativa, por exemplo, A observação participante é uma modalidade
também passaram a fazer uso mais sistemático de 3
Masterman (1979) identifica três principais sentidos da noção de
entrevistas, impulsionadas, principalmente, pela cri- paradigma na obra de Kuhn: o metafísico, que consiste em um princí-
ação do Instituto Americano de Opinião Pública por pio organizador da percepção da realidade, o sociológico, que é uma
forma padronizada compartilhada pelos cientistas de conceber o que é
Gallup, em 1935, e pelos estudos das atitudes na ciência e, por último, o metodológico, que funciona como um aparato
psicologia social de Thomas e Znaniecki (Fontana técnico para orientar o fazer científico do pesquisador.
Da fala do outro 141

de observação bastante empregada em estudos de necessárias e constantes. Caberia às ciências sociais,


natureza antropológica e sociológica e se distingue então, descobrir as leis gerais do comportamento e
da observação sistemática pelo fato de esta última das ações humanas por meio da adoção dos procedi-
defender o distanciamento entre o observador e o mentos metodológicos das ciências naturais.
fenômeno a ser observado, assim como a objetivida- O ponto de vista da abordagem qualitativa e
de da observação, garantida pela adoção de procedi- compreensiva, no entanto, é o de que os modelos ci-
mentos rigorosos de registros. De maneira distinta, entíficos das duas ciências são diferenciados, dada a
a observação participante parte da premissa de que a natureza distinta de seus objetos. A ação humana é
apreensão de um contexto social específico só pode intencional e reflexiva, cujo significado é apreendi-
ser concretizada se o observador puder imergir e se do a partir das razões e motivos dos atores sociais
tornar um membro do grupo social investigado. Só inseridos no contexto da ocorrência do fenômeno, o
então, poderá compreender a relação entre o cotidia- que não acontece com os objetos físicos, foco de aná-
no e os significados atribuídos por este grupo. lise das ciências naturais. Conhecer as razões e os
Toda técnica de pesquisa tem alcances e limi- motivos que dão sentido às aspirações, às crenças,
tes demarcados e, para que seus resultados sejam aos valores e às atitudes dos homens em suas
confiáveis, são necessários, além da coerência com interações sociais é o mais importante para as ciênci-
o paradigma escolhido e com o objeto de estudo, o as sociais. Dilthey, autor de abordagem compreensi-
conhecimento e o domínio da técnica pelo pesquisa- va, defendeu o método histórico-antropológico ao
dor, o que é perfeitamente aplicável no caso da en- afirmar que os fenômenos humanos são apreendidos
trevista. ao se integrar a representação, o sentimento e a von-
O presente texto foi redigido com o objetivo tade e inseri-los em uma perspectiva histórica
de discorrer sobre alguns aspectos metodológicos do (Amaral, 1987). Weber, outro representante desta
uso de entrevista na perspectiva qualitativa e para tal abordagem, diferenciou a compreensão direta (obje-
está dividido em três seções: a primeira delas cir- tiva) da compreensão indireta (subjetiva) e influen-
cunscreve a abordagem qualitativa de pesquisa nas ciou significativamente a fenomenologia do mundo
ciências sociais e destaca as suas principais diferen- social elaborada por Schütz (1972)4 . Em resumo, a
ças em relação à abordagem quantitativa. A segunda abordagem qualitativa ou idiográfica parte da pre-
seção define e caracteriza metodologicamente as en- missa de que a ação humana tem sempre um signifi-
trevistas qualitativas no que se refere a sua estrutura, cado (subjetivo ou intersubjetivo) que não pode ser
aos seus objetivos e ao papel dos participantes, as- apreendido somente do ponto de vista quantitativo e
sim como discute os critérios de seleção dos entre- objetivo (aqui entendido como independente do
vistados, a representatividade da amostra e as moda- percebedor e do contexto da percepção). O significa-
lidades de entrevistas, individual e grupal. A do subjetivo diz respeito ao que se passa na mente
finalização é feita com comentários sobre o uso e os consciente ou inconsciente da pessoa (individualis-
limites desta técnica. mo metodológico – o nível de análise é a pessoa) e o
significado intersubjetivo se refere ao conjunto de
A abordagem qualitativa de pesquisa regras e normas que favorecem o compartilhamento

A abordagem qualitativa ou idiográfica surge 4


A rigor, embora não seja objeto de consideração adicional neste artigo,
como contraponto à abordagem monotética que de- a abordagem compreensiva de Weber inclui duas dimensões de signifi-
cado: subjetivo e objetivo. O subjetivo diz respeito àquele significado
fende a quantificação e o controle das variáveis para que está atrelado à intencionalidade do agente dirigida a um futuro –
que o conhecimento objetivo do mundo seja alcan- “motivos para”, e o objetivo se refere àquele significado que pode ser
çado. O fundamento da abordagem nomotética está apreendido por meio da observação e da análise de fatos passados –
“motivos porque” . Exemplo: pode-se compreender que duas amigas,
na crença de que o modelo das ciências naturais é Mariana e Flora, tenham rompido seus laços de amizade “porque”
pertinente para as ciências sociais e, em sendo as- Mariana foi extremamente indelicada com Flora que a havia acusado de
desonestidade. A intenção de Mariana (motivo para) foi causar cons-
sim, estas deveriam aderir à proposição de que as trangimento e ferir a amiga, deixando em evidência sua mágoa (Schütz,
leis gerais que regem os fenômenos do universo são 1972).
142 Márcia Tourinho Dantas Fraser
de crenças por grupos de pessoas inseridas em deter- interesse for o de alcançar um status próximo ao das
minado contexto sóciocultural (holismo ciências naturais, o que de modo algum é objeto de
metodológico – o nível de análise é a estrutura e os consenso entre os teóricos das ciências sociais
sistemas). (Minayo, M.C. de S., Deslandes, S.F.; Neto, O.C. &
Se o pesquisador concorda com os princípios Gomes, R. (2000).
da abordagem nomotética seus esforços de investi- A tradição idiográfica, em contrapartida, de-
gação empírica, incluindo a escolha e uso de técni- fende o ponto de vista de que as ciências sociais têm
cas, serão congruentes com a crença de que os fenô- como objetivo central a compreensão da realidade
menos psicológicos devem ser estudados do mesmo humana vivida socialmente. O essencial não é
modo que os fenômenos físicos, com repercussões quantificar e mensurar e sim captar os significados.
para os procedimentos de pesquisa a serem adotados: O que se busca não é explicar a relação antecedente
padronização, controle de variáveis e grau de e conseqüente (nexos causais) e sim compreender
distanciamento do pesquisador de seu objeto de es- uma realidade particular na sua complexidade (in-
tudo. A entrevista, neste caso, obedecerá a um rotei- fluência mútua dos atores sociais na construção de
ro estruturado, os entrevistadores se submeterão a um sua realidade). Sendo assim, as ciências sociais não
treinamento para neutralizar as diferenças individu- deveriam aproximar-se do modelo das ciências na-
ais e a análise dos resultados estará focada apenas turais, pois tal modelo não atenderia às necessidades
nas respostas do entrevistado, ignorando que elas são, e especificidades de seu objeto de estudo.
em grande parte, produto da interação que se estabe- Esta dicotomia entre qualitativo e quantitativo
lece entre entrevistador e entrevistado. é palco de inúmeras controvérsias teóricas que pro-
A diferença entre qualitativo e quantitativo curam definir qual é o melhor método de pesquisa e
encontra apoio na escolha de abordagens que são quais os critérios de validade científica. O positivismo
sustentadas por pressupostos filosóficos distintos. é criticado, principalmente, por reduzir o conheci-
Mais afinados com a abordagem nomotética encon- mento da realidade social àquilo que pode ser obser-
tram-se o positivismo e o pós-positivismo e, mais vado, mensurado e quantificado; sobre a abordagem
identificados com a abordagem idiográfica destacam- compreensiva, recaem críticas ao subjetivismo do
se a teoria crítica social, o construtivismo e o pesquisador no processo de investigação e a ausên-
participacionismo. Os dois primeiros aportes teóri- cia de controle na coleta de dados e na sua interpre-
cos defendem o ponto de vista de que a realidade é tação (Minayo, & Cols., 2000).
externa ao sujeito e passível de ser apreendida de A crise das abordagens concorrentes teve um
modo objetivo e invariável; e os três subseqüentes o de seus pontos altos na década de 60, do século pas-
de que a realidade é dinâmica, histórica e socialmen- sado, influenciada também pelos questionamentos de
te construída pelo sujeito na interação subjetivo-ob- Kuhn (1975) sobre a objetividade e a racionalidade
jetivo (Alves-Mazzotti & Gewandsznajder, 1994; da ciência, e pelas críticas da Escola da Teoria Críti-
Gondim, 2002a; Lincoln & Guba, 2000; Radnitzky, ca Social (denominada por alguns de Escola de Frank-
1970; Smith, Harré & Langenhove, 1995). furt) sobre aspectos ideológicos e atitudes da ciência
Para os positivistas, a questão central é a obje- dominante. A crítica mais recorrente ao positivismo
tividade. A análise social para ser objetiva (indepen- é a de que este considera o conhecimento científico
dente do sujeito percebedor) necessita ser como uma fotografia fiel, objetiva e neutra da reali-
quantificada ou mensurada a partir de instrumentos dade (Alves-Mazzotti & Gewandsznajder, 1994).
padronizados que assegurem a neutralidade e que Entre os oponentes do positivismo, há aque-
possibilitem fazer generalizações com precisão, em les que buscam posição conciliatória, como, por
conformidade com o modelo das ciências naturais. exemplo, Kemmis e Mctaggart (2000), para quem o
As ciências sociais, por sua vez, mesmo que lidem debate constante entre as abordagens quantitativas e
com um objeto de estudo que, distintamente de um qualitativas sobre a validade e a adequação de suas
objeto físico e passivo, reage diante de seu pesquisa- técnicas é um equívoco, pois não existe abordagem
dor, deveriam seguir este mesmo modelo se o seu capaz de garantir a verdade sobre um objeto. As di-
Da fala do outro 143

ferentes tradições teóricas focalizam distintos aspec- Estrutura e objetivos


tos nas suas investigações - as perspectivas objetiva
e subjetiva, o enfoque social, grupal ou individual - Há duas modalidades mais gerais de entrevis-
, assim como diversificados métodos e técnicas de ta: a face a face e a mediada. A primeira se refere
investigação são utilizados em função dos aspectos àquela modalidade em que entrevistador e entrevis-
práticos que se pretende enfatizar. tado se encontram um diante do outro e estão sujei-
A discussão apresentada nesta seção teve tos às influências verbais (o que é dito ou pergunta-
como objetivo considerar criticamente alguns aspec- do), às não-verbais (comunicação cronêmica – pau-
tos que permitissem entender que a entrevista pode sas e silêncios -, cinésica – movimentos corporais -,
ser uma técnica utilizada tanto em pesquisas quali- e paralinguística – volume e tom de voz), e às decor-
tativas quanto quantitativas, a depender da aborda- rentes da visualização das reações faciais do
gem metodológica escolhida pelo pesquisador. Caso interlocutor. A segunda modalidade inclui as entre-
ele opte pela abordagem quantitativa e nomotética, vistas feitas por telefone, por computador e por ques-
os seus esforços serão dirigidos para garantir a neu- tionários, que também estão sujeitas às mesmas in-
tralidade e a objetividade das informações obtidas, fluências verbais e não-verbais, mas de modo dife-
principalmente pela padronização das perguntas e da renciado, em especial quando não permitem a
postura do entrevistador, assim como pela escolha visualização das reações faciais do interlocutor.
aleatória ou estratificada dos entrevistados. Se, ao Em relação a sua estruturação, por sua vez, as
contrário, a escolha for pela abordagem qualitativa, entrevistas podem ser estruturadas, semi-estruturadas
os esforços serão dirigidos: 1) para garantir a ou não estruturadas. As entrevistas estruturadas ou
representatividade dos significados, passível de ser fechadas são utilizadas, freqüentemente, em pesqui-
obtida ao entrevistar aqueles que conhecem e com- sas quantitativas e experimentais. A preocupação é
preendem profundamente a realidade a ser estudada, com o ajuste do roteiro às hipóteses previamente de-
2) para permitir que o entrevistado sinta-se mais li- finidas, a padronização da apresentação de pergun-
vre para construir seu discurso e apresentar seu pon- tas e a limitação das opções de respostas para facili-
to de vista, o que faz com que o roteiro seja o mais tar o planejamento das condições experimentais e do
flexível possível, e, por último, 3) para submeter as tratamento estatístico dos dados.
interpretações do pesquisador à avaliação crítica dos Em outras palavras, esta modalidade de entre-
próprios participantes da pesquisa (legitimidade). vista se caracteriza por uma estruturação rígida do
roteiro e oferece pouco espaço para a fala espontâ-
Enfim, esta breve explicitação pretendeu dis-
nea do entrevistado. O roteiro da entrevista é pré-
correr sobre o paradigma de pesquisa qualitativo e as
elaborado e testado, assim como as questões obede-
principais diferenças entre essa abordagem e a pers-
cem a uma seqüência rigorosa com pouca flexibili-
pectiva quantitativa, já que essas diferenças reper-
dade para a formulação das perguntas e para o subse-
cutem, também, no uso da própria técnica. Agora o
qüente aproveitamento de comentários adicionais dos
foco recairá no uso da técnica de entrevista.
entrevistados. A posição esperada do entrevistador é
a mais neutra possível, devendo evitar esboçar qual-
A técnica da entrevista
quer opinião que possa sugerir a sua visão pessoal e,
diante de qualquer dúvida do entrevistado a respeito
Esta seção caracteriza a técnica da entrevista
do conteúdo da pergunta formulada, o entrevistador
e focaliza suas especificidades e sua utilização nas
deve apenas repetir o enunciado, sem oferecer expli-
investigações qualitativas. A seção está dividida em cações complementares que não tenham sido previs-
quatro partes, a saber: 1) estrutura e objetivos, 2) o tas pelo roteiro inicial. Desta forma, os procedimen-
papel do entrevistador e dos entrevistados, 3) sele- tos se uniformizam para todos os entrevistados e
ção dos entrevistados e representatividade da amos- entrevistadores (Fontana & Frey, 2000).
tra e 4) entrevistas individuais e grupais. As entrevistas estruturadas, em grande parte,
se fundamentam na existência de um conhecimento
exterior que pode ser apreendido pelo pesquisador,
144 Márcia Tourinho Dantas Fraser
desde que todos os procedimentos metodológicos restritas ao seu valor individual para a pessoa e po-
recomendados tenham sido seguidos. Elas podem dem levar o pesquisador a concluir apenas que o
apoiar-se em um questionário, com perguntas e res- entrevistado A se preocupa com a quantidade e não
postas de múltipla escolha, ou em um roteiro fixo com a qualidade, sendo que o que está em jogo é o
contendo perguntas objetivas que permitam respos- fato de que a quantidade de alimento disponível na
tas abertas a serem posteriormente submetidas a téc- mesa é fundamental para demonstrar a alegria em
nicas de análise de conteúdo, com ênfase quantitati- receber os familiares, não importando o consumo
va (Bardin, 1977; Smith, 2000). O excesso de integral do alimento disponível.
estruturação, entretanto, inibe a livre manifestação Em geral, na pesquisa quantitativa ou experi-
da opinião do entrevistado, o que é fundamental para mental, o enfoque que se pretende dar ao tema já é
a compreensão de sistemas de valores e significados definido desde o planejamento do roteiro da entre-
de um grupo social. Por exemplo, uma entrevista vista (hipóteses a serem testadas), determinando o
estruturada e apoiada em questionário de múltipla número e o conteúdo das perguntas. No caso de pes-
escolha sobre nutrição poderia conter uma pergunta quisas qualitativas, o enfoque é mais vago (tema mais
do seguinte tipo: amplo) e é comum que ele se defina no próprio pro-
O que você mais valoriza na alimentação? cesso da entrevista, ou seja, à medida que o entre-
a) nutrientes do alimento vistado vai expressando suas opiniões e significados,
b) sabor do alimento novos aspectos sobre o tema vão emergindo e o
c) quantidade de alimento disponível. entrevistador pode redefinir seu roteiro para obter
Se o entrevistado A escolher a letra c, o informações que permitam ampliar sua compreensão
entrevistador poderá inferir que a quantidade de ali- do tema.
mento tem mais valor para o entrevistado do que os As entrevistas mais comumente utilizadas nas
outros fatores (sabor e nutrientes), mas esta informa- pesquisas qualitativas são as semi-estruturadas e as
ção será insuficiente para compreender por que o não-estruturadas. A opção por uma delas está relaci-
entrevistado dá importância mais a este aspecto que onada com o nível de diretividade que o pesquisa-
aos demais, ou seja, quais as motivações e os valo- dor pretende seguir, variando desde a entrevista na
res que estariam sustentando a escolha do entrevis- qual o entrevistador introduz o tema da pesquisa e
tado. deixa o entrevistado livre para discorrer sobre o mes-
Uma pesquisa qualitativa sobre o mesmo tema mo, fazendo apenas interferências pontuais (por
poderia mais facilmente optar por uma estrutura de exemplo: história oral), até a entrevista um pouco
entrevista que privilegiasse questões abertas, tais mais estruturada, que segue um roteiro de tópicos
como: O que você valoriza na sua alimentação? Este ou perguntas gerais (Bartholomew, Henderson &
tipo de questão permitiria ao entrevistado, por exem- Márcia, 2000).
plo, dizer que valoriza uma mesa farta porque é des- Talvez a forma mais representativa de entre-
cendente de italiano e isto lhe faz lembrar a sua in- vista não estruturada seja a da clínica psicoterápica,
fância e os almoços dominicais na casa da avó, uma como é o caso da entrevista psicanalítica. Neste con-
típica mama italiana que valorizava os encontros fa- texto, é o paciente (entrevistado) que solicita a entre-
miliares e via na diversidade e quantidade disponí- vista, e sua fala e seu discurso dirigem todo o pro-
vel de alimentação uma maneira de demonstrar feli- cesso. Ao psicanalista (entrevistador), cabe oferecer
cidade com a chegada dos convidados. uma “escuta” diferenciada, restringindo suas inter-
Uma resposta desse tipo oferece informações venções ao mínimo, apenas para facilitar a livre as-
ricas sobre a importância do processo de socializa- sociação do paciente e possibilitar que o processo
ção na formação de hábitos alimentares e os aspec- analítico aconteça.
tos culturais envolvidos na nutrição, que poderiam Se uma pessoa marca uma entrevista inicial
ser ignorados em uma entrevista fechada. Em outras com um psicanalista porque se sente deprimida e pede
palavras, as opções nutrientes do alimento, sabor do para que ele lhe indique um caminho por onde come-
alimento e quantidade de alimento disponível estão çar ou lhe diga o que é o mais importante falar (não é
Da fala do outro 145

incomum na prática clínica o paciente perguntar o inserção do indivíduo em um contexto social parti-
que interessa ao analista saber), a orientação do pro- cular e, em decorrência, os participantes são vistos
fissional será no sentido de estimular que o paciente como pessoas que constroem seus discursos e basei-
fale livremente, evitando fazer uma anamnese ou am suas ações nos significados derivados dos pro-
definir tópicos, pois, na clínica psicanalítica, o que a cessos de comunicação com os outros, com quem
pessoa prioriza para falar e a forma particular como compartilham opiniões, crenças e valores. Deste
organiza o seu próprio discurso são importantes da- modo o poder de ação e transformação das pessoas
dos clínicos. pode ser ampliado ao ser propiciado a cada uma de-
A entrevista não estruturada na pesquisa qua- las refletir sobre suas próprias concepções, crenças e
litativa possui características diferentes da entrevis- ações (Alves-Mazzotti & Gewandsznajder, 1994;
ta clínica. A rigor, considera-se que a entrevista Gergen & Gergen, 2000; Gondim, 2002a).
aberta e dirigida inteiramente pelo próprio entrevis- A entrevista qualitativa tem a finalidade de
tado seja difícil de ser realizada na pesquisa científi- atender aos objetivos da pesquisa, que podem ser di-
ca, pois, uma investigação desta natureza, mesmo que versos. Ela pode ser utilizada como a única técnica
não tenha definido uma hipótese a ser colocada à pro- de pesquisa, como técnica preliminar ou ainda asso-
va, é dirigida a um objeto específico (problema de ciada a outras técnicas. No primeiro caso, o propósi-
pesquisa) de investigação escolhido pelo pesquisa- to da pesquisa pode ser apenas o de compreender os
dor, o que, a princípio, impõe um limite à liberdade significados e as vivências dos entrevistados no que
da fala do entrevistado. tange a determinadas situações e eventos. Por exem-
Apesar de reconhecer essa limitação, a entre- plo, uma pesquisa define como objetivo central co-
vista em pesquisa qualitativa procura ampliar o pa- nhecer a representação social de um grupo de idosos
pel do entrevistado ao fazer com o que o pesquisador de um asilo X sobre o envelhecimento e elege a en-
mantenha uma postura de abertura no processo de trevista semi-estruturada como sua principal fonte de
interação, evitando restringir-se às perguntas pré-de- dados. Ao pesquisador deste estudo, interessa com-
finidas, de forma que a palavra do entrevistado pos- preender como esses idosos percebem e vivenciam
sa encontrar brechas para sua expressão. É prática seu próprio envelhecimento. Nada impede, entretan-
comum a elaboração de um roteiro apresentado sob to, que os resultados sejam utilizados para orientar o
a forma de tópicos (tópico-guia) que oriente a con- trabalho de profissionais do próprio asilo, para ofe-
dução da entrevista, mas que de modo algum impeça recer subsídios para o desenvolvimento de políticas
o aprofundamento de aspectos que possam ser rele- sociais mais amplas, bem como para servir de refe-
vantes ao entendimento do objeto ou do tema em es- rência à formulação de hipóteses e de teorias que
tudo. Para a elaboração dos tópicos, é importante que poderão vir a ser testadas no futuro.
o pesquisador avalie seus interesses de investigação O uso da entrevista qualitativa como técnica
e proceda a uma crítica da literatura sobre o tema preliminar pode ter como objetivo explorar infor-
(Gaskell, 2002). Além de ser um instrumento mações ou dados que permitam a construção de ou-
orientador para a entrevista, o tópico guia pode ser tros instrumentos de pesquisa. Uma investigação
útil para a elaboração e antecipação de categorias de sobre o significado do lazer para o público jovem
análise dos resultados. brasileiro, por exemplo, pode ser conduzida para sub-
Um outro aspecto que justifica a defesa da não sidiar a elaboração de uma escala. Na etapa inicial
estruturação ou semi-estruturação da entrevista na da pesquisa, poderiam ser feitas entrevistas qualita-
pesquisa qualitativa é que esta abordagem almeja tivas para conhecer as opiniões gerais de jovens bra-
compreender uma realidade particular e assume um sileiros (variando gênero, classe social, etnia, nível
forte compromisso com a transformação social, por de escolaridade e bairro de moradia) a respeito do
meio da auto-reflexão e da ação emancipatória que lazer e, a partir daí, proceder à categorização e à aná-
pretende desencadear nos próprios participantes da lise das respostas e comentários, de modo que infor-
pesquisa. Para os defensores da abordagem qualita- mações significativas sobre o assunto fossem reuni-
tiva, a realidade humana é construída no processo de das para compor a escala sobre o significado do lazer
146 Márcia Tourinho Dantas Fraser
e delimitar seus componentes ou fatores. Findo isto categorização de respostas e a generalização dos re-
o pesquisador validaria o instrumento por meio da sultados para a população investigada.
aplicação de questionários a uma amostra aleatória Na abordagem qualitativa, entretanto, o que se
da população brasileira. pretende, além de conhecer as opiniões das pessoas
Finalmente, a associação de entrevista quali- sobre determinado tema, é entender as motivações,
tativa com outras técnicas de pesquisa é muito fre- os significados e os valores que sustentam as opini-
qüente nos estudos etnográficos, que, por exemplo, ões e as visões de mundo. Em outras palavras é dar
costumam utilizá-la com as técnicas de observação. voz ao outro e compreender de que perspectiva ele
Isto se revela útil porque, ao se propor estudar carac- fala. Para atingir este objetivo, o entrevistador assu-
terísticas culturais de determinada comunidade, o me um papel menos diretivo para favorecer o diálo-
pesquisador pode estar interessado em conhecer as go mais aberto com o entrevistado e fazer emergir
crenças, os valores e as opiniões das pessoas, e, tam- novos aspectos significativos sobre o tema. A rela-
bém, em perceber de que modo estes valores e cren- ção intersubjetiva, então, é condição para o
ças se expressam no cotidiano das pessoas, ou seja, aprofundamento, visto que a abordagem qualitativa
na sua conduta ou comportamento diários, o que tor- advoga que a realidade social não tem existência ob-
na pertinente associar entrevistas à observação parti- jetiva independente dos atores sociais, mas ao con-
cipante. trário, é construída nos processos de interações so-
Em síntese, foram destacados, nesta parte da ciais. Dito de outro modo, mesmo que se reconheça,
seção, as modalidades, a variabilidade de estruturação por exemplo, que os livros sobre a mesa continuam a
e os objetivos da entrevista. No próximo item, será existir objetivamente independente de se estar olhan-
discutido o papel do entrevistador e do entrevistado do fixamente para eles, só adquirem sentido à medi-
na interação. da que se encontram representados na mente de cada
um e carregam consigo um conjunto de significados a
O papel do entrevistador e do entrevistado: da fala eles atribuídos nas interações sociais passíveis de se-
do outro ao texto negociado rem continuamente redefinidos. Na mente de cada
pessoa, o livro pode ser representado por descrições
Um ponto fundamental a ser considerado é o gerais – os livros são formados por um conjunto de
papel dos participantes nas entrevistas qualitativas. folhas impressas e encadernadas que contém registros
Mais de uma vez, foi mencionado neste artigo que a verbais; mas igualmente por avaliações – os livros
entrevista é essencialmente uma comunicação ver- contribuem para ajudar na difusão do conhecimento e
bal e consiste em um tipo de interação com objetivos oferecem informações para o crescimento humano.
específicos, que visa a compreensão de como os su- Ao adotar essa mesma perspectiva, Fontana e
jeitos percebem e vivenciam determinada situação Frey (2000) consideram que a entrevista qualitativa
ou evento que está sendo focalizado. Embora se re- é um “texto negociado” resultante de um processo
conheça que os papéis do pesquisador e do pesquisado interativo e cooperativo que envolve tanto o entre-
sejam diferenciados, a crença é a de que somente se vistado como o entrevistador na produção do conhe-
o entrevistador mantiver uma relação de maior pro- cimento. A expressão “texto negociado” deixa
ximidade com o entrevistado é que a compreensão transparecer que os resultados de pesquisas que se
do mundo pela sua perspectiva se tornará acessível. apóiam em entrevistas semi-estruturadas ou abertas
Na pesquisa experimental ou quantitativa, a são decorrentes de uma produção desencadeada pelo
preocupação é com a preservação da neutralidade da processo ativo de trocas verbais e não verbais entre o
influência do pesquisador no que o entrevistado irá participante e o pesquisador. Se de um lado, os pes-
dizer, o que repercute na acentuação da demarcação quisadores de abordagem experimental e quantitati-
de seus papéis. O papel do entrevistador é o de diri- va investem em pesquisas para orientar a adoção de
gir o processo e formular perguntas de modo padro- procedimentos metodológicos que venham a
nizado, enquanto ao entrevistado compete respon- minimizar os vieses e a influência do pesquisador
der de maneira objetiva, o que irá facilitar a no processo de coleta de dados (Darley & Gross,
Da fala do outro 147

2000), de outro, os pesquisadores qualitativos afir- Seleção dos entrevistados: a questão da


mam que não há como assegurar tal distanciamento, representatividade amostral
visto sermos seres sociais ativos e estarmos continu-
amente interferindo nos acontecimentos a nossa vol- Em pesquisas qualitativas, o fundamental é que
ta e sendo influenciados por eles. a seleção seja feita de forma que consiga ampliar a
A adesão à crença de que a realidade é apreen- compreensão do tema e explorar as variadas repre-
dida intersubjetivamente constitui, para os defenso- sentações sobre determinado objeto de estudo. O cri-
res da abordagem qualitativa, uma das razões que jus- tério mais importante a ser considerado neste pro-
tificam a escolha pela técnica de entrevista semi- cesso de escolha não é numérico, já que a finalidade
estruturada ou aberta em detrimento da entrevista não é apenas quantificar opiniões e sim explorar e
estruturada. É justamente pela adesão a esta crença compreender os diferentes pontos de vista que se
que muitas críticas são dirigidas a estas modalida- encontram demarcados em um contexto.
des de entrevista, em particular pela ausência de ob- Em um ambiente social específico, o espectro
jetividade, que permite que diferentes entrevistadores de opiniões é limitado, pois a partir de um determi-
possam interferir nas respostas do entrevistado e cons- nado número de entrevistas percebe-se o esgotamen-
truir interpretações diversas. to das respostas quando elas tendem a se repetir e
A esse respeito, é importante ter clareza de que novas entrevistas não oferecem ganho qualitativo
a entrevista em pesquisa qualitativa visa a compre- adicional para a compreensão do fenômeno estuda-
ensão parcial de uma realidade multifacetada do. Isto significa que já se torna possível identificar
concernente a tempo e contexto sócio-histórico es- a estrutura de sentido, ou seja, as representações com-
pecíficos. Isto não significa, no entanto, defender um partilhadas socialmente sobre determinado tema de
relativismo subjetivista, de acordo com o qual cada interesse comum (Gaskell, 2002; Gondim, 2002a).
um tem a sua ‘verdade’, mas reconhecer que as vi- Considera-se, então, que o número de entre-
sões de mundo de grupos humanos se sustentam nos vistas deve ser pensado levando-se em conta os ob-
níveis de compartilhamento vivenciados por eles: jetivos da pesquisa, os diferentes ambientes a serem
época, lugar, processos de socialização, nível de de- considerados e, principalmente, a possibilidade de
senvolvimento da ciência e da sociedade, hábitos e esgotamento do tema. Gaskell (2002) afirma, porém,
costumes culturais, língua, ambiente etc. Diferentes que o número de entrevistas para cada pesquisador
entrevistadores e entrevistados podem chegar a con- deve oscilar de 15 a 25 entrevistas individuais e de
clusões distintas sobre um mesmo tema investigado, seis a oito no caso de entrevistas grupais, a depender
o que torna defensável que o pesquisador, ao relatar do nível de aprofundamento da análise almejada e de
outras decisões metodológicas do pesquisador.
seus resultados, deixe bastante explícitas suas con-
A seleção dos entrevistados também deve es-
cepções e visões sobre o assunto, assim como ofere-
tar relacionada à segmentação do meio social a ser
ça informações detalhadas sobre os participantes da
pesquisado, que precisa ser pertinente ao problema
pesquisa. É isto que permitirá àquele que não parti-
da pesquisa. Os objetivos e o enfoque que se preten-
cipou da pesquisa refletir e criticar os resultados à
de dar ao tema, portanto, devem estar claros e bem
luz da compreensão do contexto em que as conclu-
definidos para que a escolha seja adequada. Um mes-
sões foram extraídas.
mo assunto pode ser de interesse de diversos grupos
Não se pode esquecer também que o esclareci-
e pode ser compreendido de diferentes maneiras em
mento dos critérios de escolha dos participantes a
função dos múltiplos enfoques possíveis e das carac-
serem entrevistados é muito importante, visto que a
terísticas próprias de cada grupo, o que torna difícil
aleatoriedade na abordagem qualitativa não é consi-
uma única pesquisa abarcar todas as possibilidades.
derada a melhor opção. O que importa não é quantos Se as entrevistas são grupais, a escolha de gru-
foram entrevistados, mas se os entrevistados foram pos naturais pode ser uma opção ao invés de grupos
capazes de trazer conteúdos significativos para a com- compostos por amostras estatísticas. Os grupos na-
preensão do tema em questão. turais têm a vantagem de interagirem em seu cotidia-
no e compartilharem interesses e valores semelhan-
148 Márcia Tourinho Dantas Fraser
tes. Por exemplo, podem-se entrevistar grupos ri- nados, de executivos de grandes empresas, cujo tra-
vais de adolescentes moradores de um bairro da pe- balho exija viagens constantes ou mesmo mudanças
riferia com o objetivo de investigar a violência entre freqüentes de local de moradia, ou de trabalhadores
jovens em centros urbanos. A intencionalidade na que exerçam funções de alto risco. Para a seleção
escolha dos grupos é importante na pesquisa qualita- dos entrevistados, portanto, vários fatores devem ser
tiva porque aproxima o pesquisador de uma realida- considerados conforme o enfoque dado ao tema e a
de concreta onde ocorre o fenômeno a ser investiga- abrangência pretendida no estudo.
do. Enfim, uma das principais finalidades da pes-
Ainda que a entrevista seja feita com cada in- quisa qualitativa é a de apresentar, de forma ampla e
divíduo em separado, a intencionalidade da escolha representativa, a diversidade de pontos de vistas de
persiste, pois se o objetivo é conhecer com mais pro- um determinado grupo e, para tal, é preciso avaliar
fundidade um tópico, é preciso que o entrevistado se as características de gênero, idade e instrução são
tenha o que falar sobre ele. É provável que qualquer relevantes e quais os benefícios de investigar alguns
cidadão tenha algo a dizer sobre os políticos, os pro- segmentos sociais específicos ao invés de outros. A
blemas de violência e de saúde da população nas gran- escolha criteriosa dos participantes é fundamental
des cidades, mas, se o foco do estudo for sobre as para os resultados da pesquisa, na medida em que
conseqüências sociais da discriminação racial, a es- afeta a qualidade das informações obtidas e a valida-
colha dos entrevistados deve recair sobre aqueles que de da própria pesquisa (Gaskell,2002).
estão diretamente implicados. Os critérios de seleção nas entrevistas quali-
A clareza dos caminhos que se pretende tri- tativas se inserem no debate sobre a
lhar na pesquisa é fundamental neste processo. Por representatividade amostral. Minayo (1998) discute
exemplo, se o objeto de investigação for o aborto, o esta questão com base nas proposições de Bourdieu
tema pode ser investigado a partir do ponto de vista de que as pessoas que vivem no mesmo ambiente
de um grupo de advogados, que enfatizam o aspecto social tendem a desenvolver e reproduzir disposições
legal, de psicólogos, que dão destaque às repercus- semelhantes e, em sendo assim, os significados indi-
sões psicológicas do aborto, de médicos que se pre- viduais podem estar representando significados
ocupam em descrever os efeitos do aborto na saúde grupais. Em outras palavras, a fala de alguns indiví-
física, ou ainda de adolescentes que passaram pela duos de um grupo é representativa de grande parte
experiência de um aborto. dos membros deste mesmo grupo inserido em um
Ao investigar a interface entre trabalho e fa- contexto específico.
mília, no entanto, seria importante definir a ampli- Até este ponto discorreu-se sobre a estrutura e
tude do estudo, assim como as características espe- os objetivos da entrevista, sendo discutido o papel
cíficas dos participantes escolhidos e as perspecti- dos participantes, os critérios de seleção dos entre-
vas a serem exploradas: é a perspectiva dos própri- vistados e a representatividade das entrevistas quali-
os trabalhadores que se quer abordar? É o ponto de tativas. Para finalizar esta seção, serão focalizadas
vista do empregador que se deseja apreender? Ou o as entrevistas individuais e grupais.
objetivo é compreender como os familiares dos tra-
balhadores percebem as interferências do trabalho Entrevistas individuais e grupais
na vida doméstica?
Para o estudo da interface entre trabalho e As entrevistas individuais e grupais são am-
família, pode-se optar também por investigar o tema plamente utilizadas nas investigações científicas. Pela
a partir da perspectiva de um grupo específico de tradição, a pesquisa acadêmica privilegia as entre-
profissionais. Os participantes podem ser escolhi- vistas individuais, ao passo que as pesquisas de mer-
dos pelas características inerentes ao próprio tipo cado preferem as entrevistas em grupos. A partir da
de trabalho, que sugiram haver dificuldades para última década, entretanto, o quadro tem-se modifi-
conciliar a vida pessoal e o trabalho. É o caso de cado com o crescimento considerável do emprego de
profissionais que estejam submetidos a turnos alter- entrevistas com grupos nas ciências sociais (Gondim,
Da fala do outro 149

2002a, 2002b; Morgan, 1997). focais, existem diferenças fundamentais entre estas
A entrevista individual é uma interação de técnicas que necessitam ser destacadas, principalmen-
díade, indicada quando o objetivo da pesquisa é co- te no que se refere ao papel do pesquisador, ao tipo
nhecer em profundidade os significados e a visão da de abordagem e aos objetivos da pesquisa.
pessoa. Esta modalidade de entrevista é muito utili- Nas entrevistas grupais, o que se visa é conhe-
zada em estudos de caso, história oral, histórias de cer as opiniões e o comportamento do indivíduo no
vida e biografias, que demandam um nível maior de grupo. O entrevistador estabelece uma relação
detalhamento. É preferida também quando a investi- diádica com cada membro do grupo. Ao contrário,
gação aborda assuntos delicados, difíceis de serem nos grupos focais, o que interessa são as opiniões
tratados em situação de grupo. A escolha da modali- que emergem a partir do momento em que as pesso-
dade individual de entrevista também pode decorrer as em grupo passam a estar sujeitas aos processos
das características ou condições do entrevistado, pois psicossociais que ocorrem neste contexto e influen-
oferece mais flexibilidade para o agendamento de ciam na formação de opiniões. No grupo focal, o
horário e de local de realização. É o caso de pessoas pesquisador tem um papel menos diretivo, ocupan-
mais idosas, doentes e crianças pequenas (Gaskell, do o lugar de facilitador do processo de discussão
2002). grupal. Sua relação é com o grupo, pois é ele que é
A entrevista grupal assim como a entrevista tomado como a unidade de análise, ao contrário da
individual pode ser estruturada, semi-estruturada ou entrevista grupal em que o pesquisador se dirige a
aberta, podendo ser utilizada como única técnica de cada indivíduo e o nível de análise que adota é o do
coleta de dados ou associada a outras técnicas, de- indivíduo no grupo (Gondim 2002a; Morgan, 1997).
pendendo dos propósitos do estudo. Esta modalida- A escolha entre entrevistas individuais, grupais
de de entrevista é indicada para pesquisas cuja e grupos focais é fundamental para os rumos da in-
temática seja de interesse público ou preocupação vestigação, uma vez que esta decisão orienta a ma-
comum, por exemplo, política, mídia, lazer, novas neira como os dados serão coletados e analisados.
tecnologias, e para assuntos e questões de natureza Morgan (1997) compara as entrevistas indivi-
relativamente não familiar, que não tenham o caráter duais e as entrevistas grupais, ao apresentar algu-
excessivamente íntimo e exijam muito mas de suas vantagens e desvantagens. Nas entrevis-
aprofundamento de cada pessoa. tas grupais, o autor supracitado afirma que a técnica
No campo das ciências sociais essa modali- oferece ao pesquisador a oportunidade de observar
dade de entrevista tem sido empregada em diversos in loco as semelhanças e diferenças entre opiniões e
tipos de investigações (Fontana & Frey, 1994), tais experiências dos participantes. Nas entrevistas indi-
como para construir e testar uma escala social viduais este mapeamento só poderia ser obtido pela
(Bogardus, 1926), para subsidiar projetos na área posterior análise comparativa de cada uma das en-
de saúde (Morgan & Spanish, 1984) e para avaliar trevistas transcritas. A entrevista individual, a seu
o impacto da propaganda (Merton, Fiske & Kendall, modo, é vantajosa quando o que está em jogo é o
1990). conhecimento em profundidade dos significados pes-
Uma modalidade de entrevista grupal, que é o soais de cada participante. Favorece também a maior
grupo focal ou de discussão, tem apresentado um proximidade de cada participante individualmente e,
crescimento expressivo nas últimas décadas, aten- em conseqüência, permite maior controle do inves-
dendo a interesses de acadêmicos, que a usam para tigador da própria situação da entrevista, visto que,
investigar as percepções e representações de grupos na situação de grupo, o risco de se desviar do tema é
específicos, e as de profissionais que a empregam maior.
como ferramenta de gerenciamento, de tomada de Em síntese, as entrevistas grupais e, mais es-
decisão e de apoio a programas de intervenção pecificamente os grupos focais permitem ampliar a
(Gondim, 2002a, 2002b). compreensão transversal de um tema, ou seja, mapear
Embora alguns autores não façam claramente os argumentos e contra-argumentos em relação a um
uma distinção entre as entrevistas grupais e grupos tópico específico, que emergem do contexto do pro-
150 Márcia Tourinho Dantas Fraser
cesso de interação grupal em um determinado tem- pregadas na pesquisa social, podendo ser de vários
po e lugar (jogo de influências mútuas no interior do tipos e responder a objetivos diversos. Uma de suas
grupo), enquanto as entrevistas individuais permitem finalidades é a de compreender um contexto particu-
ampliar a compreensão de um tópico específico de lar, assim como a de ajudar na construção de mode-
modo aprofundado para uma mesma pessoa, em seu los teóricos.
processo de interação diádica com o entrevistador. A relação intersubjetiva do entrevistador e do
entrevistado é vista como uma característica central
Considerações finais da entrevista qualitativa, por permitir a negociação
de visões da realidade resultantes da dinâmica social
Este artigo teve o propósito de abordar as en- onde os participantes constroem conhecimento e pro-
trevistas como técnica de pesquisa na abordagem curam dar sentido ao mundo que os cerca (Alves-
qualitativa. As entrevistas ocupam um lugar de des- Mazzotti & Gewandsznajder, 1994; Fontana & Frey,
taque no rol das técnicas de pesquisa em ciências 2000; Minayo, 1998).
sociais, principalmente por lidar com a palavra, veí- Como toda técnica de pesquisa, as entrevistas
culo privilegiado da comunicação humana. Por meio apresentam limites. Alguns são característicos da pró-
da interação verbal de entrevistado e entrevistador, é pria interação social que tem seu curso nas entrevis-
possível apreender significados, valores e opiniões e tas, outros são mais específicos da modalidade de
compreender a realidade social com uma profundi- entrevista grupal ou individual.
dade dificilmente alcançada por outras técnicas, como Enfim, todo e qualquer método deve procurar
questionários e entrevistas estruturadas. Isto porque, dar respostas (positivas ou negativas) a pelo menos
no caso das entrevistas qualitativas, a relação quatro exigências científicas: validade constructo,
estabelecida entre o entrevistador e o entrevistado validade externa, validade interna e confiabilidade
permite um diálogo amplo e aberto favorecendo não (Yin, 2001). A validade de constructo demanda que
apenas o acesso às opiniões e às percepções dos en- o pesquisador reconheça que a técnica de entrevista
trevistados a respeito de um tema, como também a seja a melhor forma de abordar (ou mensurar) o seu
compreensão das motivações e dos valores que dão objeto de estudo; a validade externa diz respeito ao
suporte à visão particular da pessoa em relação às poder de generalização, que, no caso da pesquisa
questões propostas. qualitativa, é limitado ao contexto de estudo; a vali-
Ressalta-se, entretanto, em concordância com dade interna se refere à consistência dos procedimen-
o que diz Silverman (2000) que, embora as entrevis- tos internos de pesquisa, que, no caso da pesquisa
tas sejam uma alternativa inegável para pesquisas cujo qualitativa, e da entrevista pode ser obtida pela cons-
objetivo é apreender como as pessoas “vêem as coi- trução de modelo teórico que expressa a estrutura de
sas”, existem outras técnicas mais adequadas quan- sentido dos significados declarados pelos participan-
do o foco da pesquisa é conhecer como as pessoas tes; e a confiabilidade, que se refere à capacidade de
“fazem as coisas”, como, por exemplo, a observação uma pesquisa repetir os mesmos procedimentos e
participante e sistemática. apresentar os mesmos resultados. Neste último caso,
Na primeira seção, procurou-se caracterizar a pesquisa qualitativa leva desvantagem em relação
sucintamente a abordagem qualitativa de pesquisa à pesquisa experimental e quantitativa, a não ser que
apresentando as principais diferenças entre esta abor- conceba que a confiabilidade pode vir a ser obtida
dagem metacientífica e a quantitativa ou monotética. caso o modelo teórico construído a partir dos resul-
Considerou-se importante fazer este percurso porque tados do contexto específico possam vir a ser perti-
as entrevistas são utilizadas por ambas as abordagens nentes a outros contextos similares (Alves-Mazzotti
e essas diferenças repercutem no manejo da própria & Gewandsznajder 1994).
técnica, como por exemplo, na estruturação de um Outras alternativas de obter confiabilidade são
roteiro, no papel do entrevistador e do entrevistado as avaliações críticas dos participantes e de outros
e na análise dos resultados. pesquisadores. A primeira consiste em averiguar se
As entrevistas qualitativas são largamente em- as interpretações do pesquisador fazem sentido para
Da fala do outro 151

o próprio participante, o que pode ser feito, inclusi- Bauer & G. Gaskell. (orgs.), Pesquisa qualitati-
ve, no momento da entrevista, por meio de perguntas va com texto, imagem e som. Um manual práti-
que permitam ao entrevistador esclarecer pontos obs- co (pp. 114-126). Petrópolis: Vozes.
curos e entender mais claramente o que dizem os
Fontana, A. & Frey, J.H. (1994). Interviewing the art
entrevistados (texto negociado). O questionamento
of Science. Em N. Denzin & Y.S. Lincoln (orgs.),
dos pares, a segunda alternativa de confiabilidade,
Handbook of qualitative research (pp.361-376).
consiste em submeter os resultados à avaliação de
London: Sage Publications Inc.
outros colegas pesquisadores para que sejam apon-
tados e discutidos as falhas de procedimentos e os Fontana, A. & Frey, J.H. (2000). The Interview: from
equívocos de interpretação. structured questions to negotiated text. Em N.
Para finalizar, qualquer que seja a técnica ou o Denzin & Y.S. Lincoln (orgs.), Handbook of
método escolhido pelo pesquisador haverá limitações. qualitative research (pp. 645-672). London: Sage
Aliás, a própria escolha do objeto de estudo de pes- Publications Inc.
quisa já requer um recorte da realidade a ser Gaskell, G. (2002). Entrevistas individuais e de gru-
investigada. O importante é que tal escolha esteja cada pos. Em M.W. Bauer & G. Gaskell (orgs.), Pes-
vez mais respaldada em claras concepções do pes- quisa qualitativa com texto, imagem, e som. Um
quisador sobre a natureza do objeto de estudo e o manual prático (pp.64-89). Petrópolis: Vozes.
nível de análise e de descrição pretendidos.
Gergen, M. & Gergen, K (2000). Qualitative inquiry:
Referências Bibliográficas Tensions and transformations. Em N. Denzin &
Y.S. Lincoln (orgs.), Handbook of qualitative
Alves-Mazzotti, A.J. & Gewandsznajder (1994). research (pp. 1025-1046). London: Sage
Paradigmas qualitativos. Em R. Bogdan & Publications Inc.
S.K.Biklen (org.), Investigação qualitativa em Gondim, S.M. (2002a). Grupos focais como técnica
educação: Uma introdução a teoria e aos méto- de investigação qualitativa: Desafios
dos (pp.130-176 ). Porto, Portugal: Porto Edito- metodológicos. Paidéia. Cadernos de Psicolo-
ra. gia e Educação, 12(24), 149-161.
Amaral, M.C.P. (1987). Dilthey: Um conceito de vida Gondim, S.M. (2002b). Perfil profissional e merca-
e uma pedagogia. São Paulo: EDUSP. do de trabalho: relação com a formação acadê-
Bardin, L. (1977). Análise de conteúdo. Lisboa: Edi- mica pela perspectiva de estudantes universitá-
ções 70 rios. Estudos de Psicologia,7(2), 299-308.
Bartholomew, K., Henderson, A.J.Z. & Márcia, J.E. Haguette, T.M.F. (2001). Metodologias qualitativas
(2000). Coding semistructured interviews in so- na sociologia. Petrópolis: Vozes.
cial psychology research. Em H.T. Reis & C.M. Hollis, M. (2002). Filosofia das ciências sociais. Em
Judd (orgs.), Handbook of research methods in N. Bunnin & E.P. Tsui-James (orgs.), Compên-
social and personality psychology (pp.286-312). dio de filosofia (pp. 357-387). São Paulo: Edi-
UK: Cambridge University Press. ções Loyola.
Bogardus, E.S. (1926). The group interview. Journal Jovchelovitch, S & Bauer, M.W. (2002). Entrevista
of Applied Sociolog, 10, 372-382. narrativa. Em M.W. Bauer & G. Gaskell (orgs.),
Darley, J.M. & Gross, P.H. (2000). A hypothesis- Pesquisa qualitativa com texto, imagem, e som.
confirming bias in labeling effects. Em C. Um manual prático (pp.90-113). Petrópolis: Vo-
Stangor (org.), Stereotypes and prejudice (pp. zes.
212- 225). Philadelphia: Psychology Press. Kemmis, S. & Mctaggart, R. (2000). Participatory
Flick, U. (2002). Entrevista episódica. Em M.W. action research. Em N. Denzin & Y.S. Lincoln
152 Márcia Tourinho Dantas Fraser
(orgs.), Handbook of qualitative research (pp. Smith, C. (2000). Content analysis and narrative
567-606). London: Sage Publications Inc. analysis. Em H.T. Reis, & C.M. Judd (org.),
Handbook of research methods in social and
Khun, T. (1975) A estrutura das revoluções científi-
personality psychology (pp.313-38). UK:
cas. São Paulo: Perspectiva
Cambridge University Press.
Lincoln,Y.S. & Guba, E.G. (2000). Paradgmatic
Smith, J.A., Harré, R. & Langenhove, L.V. (1995).
controversis, contradictions, and confluences.
Rethinking psychology. London: Sage
Em N. Denzin & Y.S. Lincoln (orgs.), Handbook
Publications
of qualitative research (pp. 163- 188). London:
Sage Publications Inc. Yin, R.K. (2001). Estudo de caso. Planejamento e
método. Porto Alegre: Bookman.
Lodi, J.B. (1991). A entrevista: teoria e prática. São
Paulo: Pioneira.
Masterman, M. (1979). A natureza de um paradigma.
Em I. Lakatos & A. Musgrave (orgs), A crítica e
o desenvolvimento do conhecimento (pp. 72-
108). São Paulo: Cultrix, Edusp.
Merton, R.K., Fiske, M. & Kendall, P.L. (1990). The
focused interview. A manual of problems and
procedures. New York: The Free Press.
Minayo, M.C. de S. (1998). O desafio do conheci-
mento: Pesquisa Qualitativa em Saúde. São Pau-
lo: HUCITEC; Rio de Janeiro: ABRASCO.
Minayo, M.C. de S., Deslandes, S.F.; Neto, O.C. &
Gomes, R. (2000). Pesquisa social teoria méto-
do e criatividade. Petrópolis: Vozes.
Morgan, D. (1997). Focus group as qualitative
research. London: Sage Publications.
Morgan, D. & Spanish (1984). Focus Group: A new
tool for qualitative research. Qualitative
Sociology, 7, 253- 270.
Radnitzky, G. (1970). Escolas contemporâneas de
metaciência. Gottenburgo: Scandinavian Univ.
Books.
Rey, G. (2002) Pesquisa qualitativa em psicologia.
Caminhos e desafios. São Paulo: Thomson Pio-
neira.
Schütz, A. (1972). Fenomenologia del mundo soci-
al. Buenos Aires: Editorial Paidos.
Silverman, D. (2000). Analysis talk and text. . Em N.
Denzin & Y.S. Lincoln (orgs.), Handbook of
qualitative research (pp. 821-834). London:
Sage Publications Inc.

Você também pode gostar