Você está na página 1de 3

O BOM CORAÇÃO NA GESTÃO POR MANDALAS

"Esse aspecto do bom coração é um meio hábil essencial. Esse meio hábil surge
dependendo do bloco ou reino. Há reinos em que isso é possível e há outros em que isso
não é possível. No reino humano é super útil. Mas se as pessoas estão no bloco - 1, por
exemplo, isso é estranho, porque as pessoas estão focadas numa outra coisa. De modo
geral, elas consideram todo mundo que tem bom coração como alguém que está com
problema, porque a pessoa que tem bom coração entra num mundo agressivo, como o dos
infernos, e aparentemente a pessoa vai ser trucidada ali dentro. Ela não tem chance
nenhuma. Não que isso seja verdadeiro, mas as pessoas que estão focadas no reino dos
infernos imaginam que quem opera com bom coração não tem chance, porque lá é um
outro lugar. É um pouco assim.

Bom coração é um método para quem é forte. Para quem está em um ambiente favorável e
elevado o bom coração está bem. Na visão budista o bom coração é a essência dos
bodisatvas, eles vão se mover desse modo nos vários lugares e manifestar as quatro
formas de ação: ação de poder, ação pacificadora, ação incrementadora e ação irada. É
necessário saber as quatro formas de ação. Se não atuar com as quatro formas de ação,
sempre vai ter um problema. E, dependendo de onde a pessoa estiver, ela vai usar mais
uma ação ou mais outra. Quanto pior for o ambiente, mais dependente de meios hábeis.
Dependendo de como for, a pessoa vai ter que usar uma habilidade naquele caso que não
funcionou em um caso ao lado.

Em geral, no reino humano, nós podemos falar em bom coração, como Sua Santidade o
XIV Dalai Lama. Ele fala que o mundo não é regido pela economia, mas é regido pela
compaixão. Eu acho isso super importante entender, a gente gera um olho como se fosse o
de Chenrenzig. Começa a olhar em volta e vê as pessoas ultrapassarem o
autocentramento, fazendo coisas em benefício do outro, se alegrando com o que acontece
com o outro. Isso é a essência do bom coração. A pessoa vai ver isso, começa a olhar e ver
diferentes pessoas fazendo isso, tendo essa capacidade, vivendo bem e aquilo tudo
acontecendo. Essa é uma boa contemplação.

Se a pessoa não consegue fazer isso, não vê, pode começar fazendo a prática de
metabavana. Ainda que tenha tensões, ela vai descobrir que pode olhar para o outro e
aspirar que ele supere os obstáculos. Isso é uma forma de de bom coração também.
Dependendo de como for, a pessoa também pode atuar com as cinco sabedorias, praticar
as quatro qualidades incomensuráveis, as seis perfeições e ir treinando desse modo. Aí, a
mente da pessoa vai mudando, há muito modos de a mente adotar isso.

A pessoa pode entender também o que é carma, ação causal, como uma ação de um tipo
vai produzir problemas, como ações de outro tipo vão produzir vantagens e benefícios.
Como a pessoa está estruturada dentro dos elos da originação dependente, ela tem uma
visão condicionada mas entende que, se quiser alguma coisa favorável, é melhor agir com a
ação causal favorável. Ela vai descobrindo a causalidade em vários níveis, qual é o meio
hábil que pode ser útil em um caso ou em outro.

Seja como for, é necessário praticar as quatro formas de ação: não se perturbar pelas
aparências, pacificar, produzir uma ação incrementadora de irrigar as qualidades positivas
que a pessoa vê, advinha ou projeta sobre o outro e tentar obstaculizar que as ações
negativas frutifiquem. Sempre fazer isso, com diferentes quantidades de cada coisa e em
cada circunstância de um jeito um pouco diferente. Mas tudo isso fica dentro do âmbito das
terras puras, dos lugares, desse modo.

No início, não tem ainda a possibilidade da mandala, porque não tem ainda uma
intersubjetividade, não tem uma visão das cinco sabedorias. Então, as mandalas não
acontecem. As mandalas podem acontecer de um modo intuitivo, se alguém conduzir
aquilo. O processo onde as mandalas se estabelecem é assim, do mesmo modo também as
terras puras, é sempre um tipo de intersubjetividade. Ou seja, todos concordam com que a
realidade é de um certo tipo, mesmo que não tenham um pensamento discursivo a respeito,
simplesmente veem. Essa visão é a assinatura de que ali tem uma terra pura ou uma
mandala.

Se a visão inclui de uma forma explícita ou intuitiva as cinco sabedorias, aquilo se


transforma numa mandala. Se a pessoa não tiver essa visão das sabedorias, nem de forma
intuitiva nem explícita, a mandala provavelmente não vai acontecer. Vai surgir
eventualmente uma terra pura, mas provavelmente vai surgir uma bolha, porque a pessoa
não operando com essas visões, de modo geral, está operando com os doze elos da
originação dependente, com vedana, ou seja, ela olha e gosta ou não gosta das coisas. Ela
toma uma decisão, gosta/quer, é o apego essencialmente, desejo e apego. Ela passa a
operar a partir daquilo, a buscar aquilo, e se alegra porque conseguiu resultados, sente que
aquela sabedoria brota dela, sente que é aquilo. Ela se move no mundo com essa visão
condicionada que brota dos doze elos, manifestando aquele tipo de meio hábil. E aquilo se
esgota, mais adiante a pessoa sofre a impermanência e inevitavelmente passa mal por isso.

Isso é o que acontece com as bolhas de realidade. A pessoa está numa bolha e transmigra
para outra, depois para outra... Só que as bolhas têm uma intersubjetividade, mas essa
intersubjetividade não é preponderante, porque um pode estar com uma visão, outro pode
estar com uma outra visão, são pequenos núcleos de intersubjetividade. Às vezes são
núcleos familiares, núcleos profissionais, eles têm uma certa visão. Mas é natural que a
pessoa, especialmente nesses tempos em que estamos vivendo agora, vá ficando sozinha.
Ela vai gerando a sua bolhazinha pequena da realidade. Esse é o ponto.

E as mandalas são essencialmente visões que brotam da sabedoria dos budas, do contrário
não tem mandala. As mandalas espelham a sabedoria das deidades, de Sambogakaia. Aqui
a gente usa essa expressão das mandalas de forma mais ampla, essa gestão por mandalas
a gente não tem muito uma consciência dela, não opera desse modo. Mas, por exemplo,
quando as mandalas estão operando, tem um interesse na visão de Chenrenzig, aspiramos
produzir coisas positivas. Então, num certo sentido, é uma mandala de Chenrenzig, sim.
Mas a gente tem visões falhas, mistura as nossas visões de bolhas ali dentro. É não tanto
uma mandala como um resultado, é uma mandala como um resultado mas não está pronta,
ela caminha também. Isso é uma das características do vajrayana, que utiliza aquilo que é
resultado como um processo do caminho.

Então, a gente não tem a realização da mandala, mas ela como tal começa a operar e vai
produzindo ela mesma. Nós vamos fazendo a mandala de forma imperfeita, mas enquanto
isso, aquilo que não é mandala tranca, dói, arde, incomoda. Se a gente tiver essa clareza, a
gente vai purificando tudo e aperfeiçoando a mandala. É assim."

#palavrasdolama
Lama Padma Samten

Você também pode gostar