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Miguel Vitale
C onsiderações
Este texto se propõe a problematizar conceitos
Por se tratar de pesquisas com marcado enfoque
culturalista, o leitor deve compreender que
recorramos necessariamente a uma síntese nos
derivados de projetos de pesquisa inseridos nos
campos disciplinares que percorremos, para dar
programas CAI+D da Universidad Nacional de Litoral
conta de elementos e deslocamentos físicos -
de Santa Fé, Argentina, sobre problemáticas urbanas
simbólicos da paisagem e da imagem urbana - na
contemporâneas e nucleia desenvolvimentos de
observação dos processos de transformações da
disciplinas em relação a filo-epistemologia
cidade média.
contemporânea e sua influência na atividade
projetual dos dias de hoje.
Confiamos que o modo de aproximação do texto
a outros, nutrientes de epístemes disciplinares, abrirá
Alguns segmentos de seus conteúdos foram
possibilidades de leituras interpretativas entre
ampliados e expostos na forma de propostas
cultura - cidade - paisagem.
projetuais por ocasião dos Seminarios
Internacionales da Red Hipótesis de Paisagem, nos
Abre-se agora uma nova oportunidade, dada pelo
encontros ENIAD da Universidad de La Plata, e
convenio acadêmico celebrado entre a EESC, através
colocados em prática em cursos à distância na Red
de seu Departamento de Arquitetura e Urbanismo
Multicampus da UML.
e a Facultad de Arquitectura, Diseño y Urbanismo
de a Universidad Nacional do Litoral, a possibilidade
Finalmente, no Laboratorio de Exploraciones
de pesquisas e atividades acadêmicas conjuntas
Formales, atividade extracurricular atualmente
sobre problemáticas das cidades medias, hoje em
desenvolvida pelo autor na FADU-UNL, colocam-
dia, o que provavelmente permitirá outras
se em prática, em caráter experimental, os mapas
contribuições e visões críticas.
conceituais extraídos das pesquisas. Certamente,
não faltarão oportunidades para o desenvolvimento
específico desta atividade, que constituiu o cerne Enfoques
da palestra “Grafologías Urbanas y Exploraciones
“Al hacer um balance, ¿qué es um pliegue? Un
Formales” ditada na recente visita à Escola de
germen de forma. Pero, ¿qué es um germen sino
Engenharia de São Carlos, USP. Aproveito a
um conjumto de pliegues? O pliegue es el elemento
oportunidade para agradecer a atenção recebida
de la forma, o átomo de a forma, sí, su clinamen.
na instituição.
r sco 3 2[2006 revista de pesquisa em arquitetura e urbanismo programa de pós-graduação do departamento de arquitetura e urbanismo eesc-usp 135
Paisagem e Imagem Paisagística - Contribuições para um enfoque contemporâneo
Figura 1: No lado esquerdo, Pero, ¿qué es una forma? Respuesta: algo liso con Neste sentido, percebem-se, entre outros
a paisagem urbana da
centralidade da cidade de
pliegues.“ (Michel Serres, Atas, 2 -Espacio Local) indicadores, na deslocalização dos espaços públicos,
Santa Fe, à direita a paisa- deslocamentos nos consensos sociais do valor,
gem dos corredores interur-
banos.
A contemporaneidade abre interrogações sobre processos de desmaterialização e de virtualização
as interpretações simbólicas, modos de uso e da cultura material, presença de áreas urbanas
apropriações físicas dos espaços urbanos, exibindo emergentes e de vacâncias em estados de
novas textualidades morfológicas procedentes dos indeterminação, fatores que incidem nas formas
signos culturais. de pensar e de propor categorias para a ação
projetual paisagística em nossos entornos urbanos.
As disciplinas projetuais transitam na atualidade
por uma cidade que, por um lado, busca conservar Não se trata da negação do sentido da vida nas
as tradições da centralidade e do lugar urbano, cidades, mas da procura do sentido fundamentado
mas na qual se observam fenômenos de migração na re-interpretação conceitual dos espaços urbanos.
de seus paradigmas físicos e semânticos, dando Esta deve procurar pelos significados, antes que
lugar a uma paisagem inédita, cenário de na densidade dos significantes, na indagação
sobreposição de layers, continuidades dizimadas projetual e paisagística da intensidade e diversidade
e descontinuidades fragmentárias. Um puzzle de situações, imagens e eventos presentes na cidade.
sincrético e heterotópico, no qual desde um ponto
de vista filo-epistemológico, se entretecem a Estas espacialidades dão conta de marcas frágeis
glocalização sociológica, as antropologias da na construção do lugar urbano, mas ao mesmo
1
Dismétricas. O autor utiliza
o termo como sinônimo daqui- proximidade etnográfica, as estéticas dismétricas1 tempo são signos indiciais, parafraseando Peirce
lo que se desenvolve fora da
do final do século, as operações mediatizadas da “índice do sentido”, que podem assumir a
regulação da medida conhe-
cida. (N.T.) imagem e os situacionismos agenciantes2, sujeitos projetualidade em áreas e territorialidades difusas
2
O autor utiliza o termo na a quaisquer eventos de realização incerta ou da cidade atual. Na qual, o lugar não parece ser a
acepção de Deleuze, daquilo
que é adquirido na oportuni-
conjuntural, epístemes que atravessam o conceito chave interpretativa, mas sim o acontecimento.
dade. (N.T.) de paisagem. Dobras.
Espaços em trânsito, desde a estrutura física e imagem. Eis aqui o motivo de auscultar estas figuras
semântica para a condição de estruturalidade. textuais, “grafias silenciosas da paisagem”, através
de metodologias de pesquisa fenomenológica, que
As “formas urbanas”, tecidas no discurso social e requerem a análise de sua particular condição
na historicidade dos modos espaciais de habitar, heterotópica grafológica.
encontram, no conjunto de dilemas coetâneos, os
interstícios da narração transcursiva nas “figuras-
imagens da transurbância”.
As pesquisas anteriores
Pensar uma hipótese sobre a paisagem
3
Ecceidade, Deleuze, do ser. A ecceidade3 estabelece novos conceitos entre contemporânea é tão desafiador quanto interpretar
Um eis, indicialidade pura, a
ecceidade é tanto ponto ex-
cultura urbana, imagem e paisagem, produções a contemporaneidade como uma “paisagem
tremo, acontecimento singu- que tendem a uma cotidianeidade performativa. única”: panorama ou lugar de domínio.
lar do procceso de
individuação quanto é puro
Sem genes.
relato, relatividade afirmativa Construir hipóteses (teses argumentais) no discurso
em formação precisa.
Ecceidade, derivada, do latim
Não é novidade a relação entre figuração e conteúdo. da paisagem hoje exige aspectos críticos e sensíveis
haec-idade (Duns Escoto), É inédita, porém, a necessidade de atualizar o que podem ser inferidos como uma cartografia
atualizada de uma derivação
do latim ecce+idade, é eleva-
conhecimento e de explorar projetualmente estes das diferenças na cultura, cuja matriz se conceitua
da ao patamar do clamor do espaços sintomáticos que se fazem presentes na desde, entre outras, posições cognitivas, psicológicas,
ser (por Gilles Deleuze): es-
sencial singular, imanente e
imagem, “sinal débil” da linguagem, a cidade das estéticas, filosóficas presentes na diferença entre
unívoca: uma vida. (in http:/ diferenças, em trânsitos da estrutura à os diversos componentes da cultura atual.
/pt.conscienciopedia.org/
Debate:Ecceidade)
estruturalidade distópica.
Os constructos epistemológicos aqui lançados
A condição de paisagem se situa na própria natureza conformam uma trama de saberes transdisciplinares,
Figura 2: Enclaves, hiatos e
fragmentos na paisagem da de suas estruturas, como também na diferença de resultado de avanços obtidos nas pesquisas,
cidade emergente, onde se- sua desterritorialização, na desnaturalização, no sintetizados com a finalidade de oferecer uma
ria necessário repensar a es-
tética e o valor paisagístico. estado viscoso , fluidificado, dos expressáveis da orientação ao leitor.
Seus desenvolvimentos ocorreram nos seguintes urbana, são vistos em cenários atuais de
projetos de pesquisa, que contaram com a sobreposição de layers e condição de
participação do autor, durante o período 2000 / descontinuidade.
2004, no contexto dos programas de pesquisa
CAI+D da Secretaría de Ciencia y Técnica de la “Topología de la Discontinuidad. Santa Fé y el
Universidad Nacional del Litoral: Espacio Público”, pesquisa orientada a esclarecer
a tensão entre as mudanças nas formas de
“Morfogénesis y Transformación del Diseño en el apropriação dos espaços urbanos tradicionais e a
Ambiente Urbano”, âmbito de exploração da emergência de novos âmbitos cujo caráter público
imagem e analítica de sua condição de ecceidade, se afasta da noção convencional de público. Nela
desenvolvendo a semiótica indicial, a estética investiga-se um estado de situação que leva a
dismétrica, a heurística enunciativa e a imagem suspeitar de uma mudança no conceito, na imagem
urbana como agenciamiento exploratório de seus e na valorização do espaço público.
elementos visuais que a conformam, em seu sentido
4
O autor utiliza o termo na adviniente4 e performativo. Atualmente está sendo desenvolvido o projeto de
acepção de Deleuze: o tem-
po, passado, presente e fu-
pesquisa CAI+D 2005 “Grafologías Mórficas en la
turo, em uma só unidade. “La Textualidad de la Imagen Proyectual”, projeto Urbanidad Coetánea”, que conta com a colaboração
(N.T.)
que se ancora nas linhas do pensamento de Derrida de dois assessores estrangeiros, os professores
e Deleuze, a revisão dos pressupostos disciplinares arquitetos Manuel Rodrigues Alves, do
Figura 3: Oficina Projetual
em Morfología Urbana 2005. de método, axioma, repetição e semelhança. Nesta Departamento de Arquitetura da EESC-USP, e
Exploração do lugar e da to- perspectiva, textos, hipertextos, linguagem, Alberto Gurovich, da Universidade do Chile, que
pografia paisagística por meio
de modelações analógicas. discursos, meta-discursos e narrativas de interfase se encarregam da necessidade de intercambiar e
Figura 4: A proposta foi pen- aprofundar as problemáticas da paisagem urbana aqui e pertence ao mesmo tempo a um outro lugar
sada a partir de equipamen-
para além do caso de Santa Fé - com o qual iniciamos (lugar e desaparecimento do lugar), aos quais se
tos públicos dispostos na
vetorialidade da paisagem. nossas indagações, colocando-as em um contexto referirá como neo-fenomenologia e estética da
latino-americano. ausência.
Sucintamente, sob o conceito de espaço liso e difusa, expansiva, peri-urbana; cidade que apresenta
estriado, propõe-se uma interpretação da paisagem os efeitos de uma “metropolização não vivida”, e
da fertilidade e da aridez. na qual procuramos discernir seu acontecimento
na projetualidade e na imagem da paisagem, na
A questão dos limites e da legalidade do lugar- escala média de Santa Fé.
paisagem foi extrapolada em alguns casos,
atravessados por um impacto de saturação. Tempo A contemporaneidade é um importante agente
e lugar nos ultrapassam, enfraquecendo a modificador do conceito de paisagem, pois é “na”
monologia cronológica impossível de concentrar: e “pela” coetaneidade que se operaram as
a diversidade. transformações, transposições e efetivações. Este
fato nos leva a considerar a paisagem em estado
A visão certa e uma certa visão do paisagístico tornam enunciativo, seja por operações de re-atualização
necessário distinguir na noção de paisagem a trama conceitual, ou por novas formas territoriais físicas,
de diferentes paisagens: a mental, a textual, a nos processos de urbanização e de indeterminação
perceptual-representacional e a da apresentação. urbana.
Posso declarar minha incompetência sobre a
especificidade de cada uma delas; apontaria Derrida, As hipóteses da visão certa acontecem na passagem
que é simultaneamente uma declaração do estado entre a tradição paisagística, fundamentada na
de alerta de competência sobre as quatro. interpretação “linguoescriturária”, que introduziu
nas disciplinas projetivas o discurso sobre “a língua
Quem ler, aprecie a oportunidade do que codifica a paisagem” e a maneira pela qual,
intercruzamento de seus sentidos e epistemologias atualmente, podem ser analisadas as migrações
ou poderá permanecer na digna posição de um desde a linguagem da paisagem à imagem da
diagnóstico clínico. Este texto constitui uma re- paisagem: as narrações das “línguas que expressam
elaboração de trabalhos que o antecedem sobre a a paisagem”. Tais hipóteses se sustentam por meio
cultura urbana contemporânea e sobre a da re-interpretacão do sentido da projetualidade
textualidade da imagem projetual, trabalhos que e pelas inéditas relações entre arquitetura e os novos
deram origem a projetos de pesquisa em andamento. formantes urbanos, elementos que expressam a
imagem urbana.
Como na paisagem de Enric Miralles, que tanto
apreciava escrever sobre seus próprios desenhos, Seria necessário cartografar, como em um mapa
re-configurar as próprias anamorfoses de seus de intensidades, os estados indiciais culturais que
gráficos, buscando o momento da ruptura repercutem na urbanidade. Tal cartografia é
cronológica e o encontro do tempo das diferenças complexa, multirreferencial e multidiferencial. A
que o decalque de si mesmo outorgou à sua paisagem do fim do milênio, com perdão da
diacronia subjetiva, à sua subjetividade plástica homofonia, conforma uma passagem de uma viagem
estetizante, tão objetiva. Não vem ao caso discutir que não é definida ponto a ponto, em algumas
se o olhar sobre a paisagem deve ser objetivo ou paradas do percurso não se poderá descer, em
subjetivo ou se seria melhor pensa-la como outras, descobriremos o inesperado, simplesmente
ecceidade, acontecendo e se constituindo no próprio ao passar. A percepção mnemônica se sobrepõe à
momento da visão criativa, no discurso e no percepção paisagística adviniente.
transcorrer dos acontecimentos. Buscando a
freqüência em que os hertzs igualam a medida da
sintonia, mas, ao mesmo tempo, a intensidade
Indicadores para a analítica do
estado de situação da paisagem
daquilo que foi escutado introduz diferenças na
sonoridade. Os seguintes tópicos e entrecruzamentos
epistemológicos são indagações presentes nas
As imagens em questão são produto de experiências pesquisas como determinantes culturais, vestígios
exploratórias acadêmicas e de propostas projetuais de deslocamentos nos constructos disciplinares e
relacionadas à condição e à contingência da cidade na fenomenologia paisagística. Detectados como
emergentes da cultura do fim do século, tais tópicos O texto construir-habitar-pensar, conferência que
aparecem contextualizados em Santa Fé, exemplo Heidegger dedicou ao espaço, concentra sua atenção
de cidade média: na escuta da linguagem, na posição do quadrante,
na relação homens-mortais-deuses. A linguagem
1-A paisagem da cidade histórica coaguladora de do espaço é grega e a Grécia é a origem do primeiro
constantes perceptivas, formas e significados deslocamento: da phisis à filosofia (das coisas ao
transpõe a paisagem paradigmática, passando a saber), das colônias a Polis.
um estado de situação da diferença paisagística
5
O autor utiliza o termo no (vacâncias ou territórios exolimitados5) Instituiu-se a relação ser-tempo-habitar. Estes
sentido de territórios que exis-
tem além da cidade consoli-
princípios ontológicos foram retomados por
2-O campo de atuação das operações paisagísticas
dada, via de regra em áreas Norberg-Schulz em suas obras “Existência, Espaço
de expansão urbana como a em áreas semanticamente degradadas e perante a
Cidade Universitária de San-
e Arquitetura” e “Intenções em Arquitetura”, textos
carência de referencialidade se desloca em direção
ta Fé. (N.T.) paradigmáticos para a fundamentação teórica que
a elementos tensionais de agenciamentos, sob a
instaurou um duplo cruzamento de epístemes: o
forma das intuições pensáveis (conforme Husserl).
ser existencial e a fenomenologia, isto é, entre as
3-A paisagem mudou seu paradigma estético nos percepções da paisagem urbana (na linha psico-
espaços da cidade difusa. perceptualista de Lynch e Cullen) e as bases da
filosofia do existencialismo.
4-O conceito de percepção/significação se sobrepõe
e se complementa com o de neo-percepção / Desde um enfoque marxista, Aldo Rossi em “A
intensidades. Arquitetura da Cidade” define como expressão do
genius locci ou locus, assimilável ao lugar-topos,
5-O discurso textual que fundamenta a maneira
ficando marcados pontos de coincidência, desde
certa da paisagem pode ser pensado como uma
perspectivas sócio-ideológicas diferentes.
certa maneira de narração para-textual
multidisciplinar.
Em Aldo Rossi são as taxonomias tipológicas das
6-Desde a perspectiva do pensamento formas urbanas, as que podem sintetizar o
contemporâneo, a paisagem também pode ser monumento urbano como articulador da paisagem
reinterpretada como uma disjunção entre o espaço da cidade. No caso de Norberg-Schulz é o sistema
liso da teoria e o espaço estriado empírico, agindo estrutural de canais e recintos que sinalizam as
sobre este último desde a oportunidade direções e metas constitutivas da materialização
performativa. da paisagem existencial da cidade. A modelação
física da paisagem sob este corpus teórico foi
7-A virtualização, aceleração e desmaterialização projetada por meio das coordenadas: estrutura,
que a cultura impõe ao mundo concreto, coloca identidade e significado. A estabilidade da imagem
em debate as correspondências biunívocas entre ambiental urbana é capaz de recuperar através de
idéias e formas físicas, superando a lógica da associações seriais perceptivas, cadeias de
oposição linear entre paisagem-natureza e cultura. simbolização em um espaço físico historicamente
simbolizado: a praça na malha urbana é centro e o
parque urbano periférico é limite.
A paisagem do espaço mnemônico:
A filosofia do lugar na cidade
A paisagem urbana disposta em limites e centros.
A matriz filosófica, fonte principal de influências, Poeticamente habita o homem, diz Heidegger,
nas correntes paisagísticas urbanas do século XX, estruturalmente, ordena a memória do lugar.
foi fornecida pela filosofia do dasein heideggeriano
(ser no tempo), expressão da recusa à anomia A paisagem, em sua dupla condição perspéctica,
proposta pelo funcionalismo do movimento “é”: idéia e empíria tocam-se no lugar, foco da
moderno, no qual o habitar humano é o ser-no- percepção física e centro da teorização,
mundo. emblematizando a paisagem da cidade. É então
Figura 5: Laboratorio de representação do ser social em sua correspondência Ponty situa sua discussão na trilha que conduz do
Exploraciones Formales 2004.
Investigação do lugar por
tempo-espaço e substrato, o ser que habita “desde situacionismo ao estruturalismo da psicologia
meio das impressões de suas sempre”. gestáltica; observou que os indivíduos captam o
imagens, percebe-se uma
paisagem de estímulos visu-
mundo exterior em “situação”, sob fatores externos
ais intensos, discontinua en Hans Gadamer, na década de 1950, refletia acerca que formam a consciência objetiva e que esta
suas variantes formais, acu-
mulação cinética de materia
da noção de “efetivo histórico”, como a história repercute na consciência subjetiva, incrementando
e de elementos que produz efetivamente o presente. Começa a a complexidade do mundo da reflexão. Deixou
arquitetônicos.
perceber as dificuldades na presentificação temporal aberta uma pequena fresta na relação corpo,
do -ser no tempo - de Heidegger, de quem retoma sentidos, consciência e mundo objetual, que,
algumas de suas posições filosóficas iniciais, embora retomada pelos situacionistas nos anos 1960 e
tomando distância do pensamento tautológico 70, conduzirá à revalorização fenomenológica da
grego do último Heidegger, introduzindo na paisagem.
fenomenologia “o presente” como condição para
o “desde sempre”. Esta questão reaparece hoje no neo-perceptualismo
e na fenomenologia das intensidades.
Por outra parte, Brentano, Husserl e posteriormente
Merleau-Ponty abriram na fenomenologia Os anos 80 marcam a emergência da pós-
interstícios de diferentes traçados. Husserl inaugurou modernidade, na qual, desde as linguagens da
a necessidade de um pensamento que superasse arquitetura e da paisagem urbana, proporciona-
o dualismo Platônico - Aristotélico ao se perguntar se uma visão quase turística, resultado de um
o “que dizem as coisas que vemos” e o que de sua historicismo eclético e de sentido decadente.
“expressão” se intui “nas” coisas.
Figura 6: Mirantes da pai- Éstética e ecceidade reflexões que evidenciam a procura empreendida
sagem, barras sobreelevadas
para atividades alternativas, por Kant por categorias de regulação estável, por
Nesta rápida exposição, aproximaram-se os
torres de densificação juízos a priori no plano estético, mediante sucessivas
habitacional. Paisagem fundamentos dos modos que a paisagem urbana
heterológico da diversidade. operações de síntese. A colocação da questão inicia
percorreu, discursiva e espacialmente em matrizes
o percurso da estética “métrica”. A paisagem
de pensamento e seus “empréstimos disciplinares”
navegará na lógica métrica da representação
no século XX: o conceito de lugar, qualidades de
simbólica.
próximo, limitado, perceptível e inteligível.
se fundem na idealidade de um sujeito universal se detendo nos tons cinzas que separam o branco
que interpreta os códigos da permanência do negro.
geométrica da idéia. Mondrian constitui a referência
da ideoestética. Nesta paisagem desestética não cabe o confronto
binômico. Pode-se pensá-la como a concretização
Em outra vertente estética do século XX, o real da desaparição ou como a desaparição concreta
surrealismo, a virtualização da realidade tomou do preexistente. Sua estética constitui desde já e
outras formas: em Magritte, “tomando vistas” da daqui um lugar “outro”; não requer a separação
instantaneidade do olhar; desfamiliarizando o objeto do eixo do cotidiano, pois esta paisagem não
cotidiano e deslocando sua intensidade contextual. representa a cotidianidade, é hit ed numc: aqui e
agora, neste presente, sob suas próprias
Em Dalí, a virtualização tem lugar durante a vigília circunstâncias, fazendo-se no mesmo instante em
freudiana do inconsciente, esperando o momento que se está esfumando o tempo discursivo; ela
do salto do consciente para o inconsciente, transcorre. É a elevação estética da ausência da
estendendo esse lapso fugaz em tempo pictórico. sincronia do vivido. Neste sentido a paisagem
Ambos, sem se submeterem à figuração abstrata, contemporânea é passível de conceituação como
reinterpretam outra linha, a fisioestética, herdeira presentização construtivista: energia na matéria e
Figura 8: Estética paisagística
de Aristóteles, que fundamentou suas bases em conceito na performatividade.
dismétrica, as balizas do par- suas reflexões sobre o empirismo, a matéria e o
que e os caminhos laterais
mundo concreto.
contrastam com o encontro
da ferrovia com a agua e a
Subjetividade e objetividade
vegetação existente. Nature-
A paisagem percorreu as oposições do par abstrato- A subjetividade foi colocada em termos científicos
za e artifício são textualidades
não convergentes. concreto, do idealismo ou do empirismo: raramente pela psicologia, paradigmaticamente por Freud e
pintorescas, situacionistas ou abstracionistas, para Navarro, M (2002). Del status de la imagen y la crítica
de la profundidad filosófica en el pensamiento
nomear os tipos culturais mais em evidência, não contemporáneo. En M. Vitale (Dir.), Actas de las
escapou a estas buscas e definições. Segundas Jornadas del Centro del País (pp. 13-
15). Santa Fe: Centro de Publicaciones UNL.
O certo é que aceitamos que é a “idéia” que incita Malachevsky, J (1992). Migraciones de sentido. Santa
Fe: Centro de Publicaciones UNL.
a pensar a “forma”, como em um caminho linear e
único. Da mesma maneira que na percepção da Derrida, J. (1999). No escribo sin luz artificial. Valladolid:
Cuatro edit.
paisagem, o mais próximo é, às vezes, surpreendente.
Permitam-me então uma proximidade, abrir o Deleuze, G. (1989). Lógica del sentido. Barcelona: Paidós.
dicionário de Filosofia para rastrear acepções
Vitale, M (2003). Paisaje heterológico de las nuevas
genealógicas e cronológicas da palavra “idéia”: formas indiciales urbanas. CD 51º Congreso
Americanistas 2003. Santiago de Chile: Universidad
de Chile.
1-aspecto, 2-aparência, 3-forma, 4-forma distintiva,
5-caráter, 6-índole, 7-modo de ser, 8-gênero, 9- Deladalle, G. (1996). Leer a Peirce hoy. Barcelona;
Gedisa.
espécie, 10-classe, 11-maneira, 12-meio, 13-
procedimento, 14-opinião, 15-idéia, 16-forma ideal Virilio, P. (1998). Estética de la desaparición. Barcelona:
Anagrama.
e 17-arquétipo.
Careri, F. (2002). El andar como práctica estética. Bar-
celona: G. Gili
Minha reflexão final é, em que lugar da idéia e
desde que aspectos da idéia constroem vocês suas Pabón y Suárez de Urbina, J. (1990). Diccionario de
noções de formas paisagísticas? Filosofía Griego-Español: Espasa Calpe edit.