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PROCESSO Nº TST-AIRR-81340-91.2008.5.03.

0093

A C Ó R D Ã O
(Ac. 8ª Turma)
GMDMC/Ar/rv/sm

AGRAVO DE INSTRUMENTO EM RECURSO DE


REVISTA. 1. INDENIZAÇÃO POR DANOS
MORAIS. ASSÉDIO MORAL. O Regional
manteve o deferimento da indenização
por danos morais, fulcrando-se no
conjunto fático-probatório, o qual
evidenciou que a reclamada utilizava-
se da prática de assédio moral,
ofendendo verbalmente a reclamante
com palavras de baixo calão dentro
das dependências da empresa e na
frente de outros empregados. Dessa
forma, qualquer rediscussão acerca do
tema, para adoção de entendimento
contrário, implicaria,
inevitavelmente, reexame dos fatos e
da prova produzida nos autos, o que é
vedado nesta fase recursal, a teor da
Súmula 126 desta Corte. 2. DA
VIOLAÇÃO DO ARTIGO 118 DA LEI Nº
8.213/91. O citado artigo não se acha
aviltado, porquanto não traz
discussão acerca do tipo de doença
profissional equiparada a acidente de
trabalho. Incólume o artigo 118 da
Lei nº 8.213/91. Agravo de
instrumento conhecido e não provido.

Vistos, relatados e discutidos estes autos de


Agravo de Instrumento em Recurso de Revista n° TST-AIRR-81340-
91.2008.5.03.0093, em que é Agravante HYPOFARMA INSTITUTO DE
HYPODERMIA E FARMÁCIA LTDA. e Agravada ELIZABETE CRISTINA DE
OLIVEIRA SADDI.
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PROCESSO Nº TST-AIRR-81340-91.2008.5.03.0093

O Presidente do Tribunal Regional do Trabalho da


3ª Região, pela decisão de fls. 107/108, denegou seguimento ao
recurso de revista interposto pela reclamada, por não constatar
violação dos dispositivos de lei apontados, na forma exigida pelo
artigo 896, alíneas “a” e “c”, da CLT.
A reclamada interpõe agravo de instrumento, às
fls. 2/10, insistindo na admissibilidade do recurso de revista.
A reclamante apresenta contraminuta às fls.
115/118 e contrarrazões às fls. 110/114.
Desnecessária a remessa dos autos ao Ministério
Público do Trabalho (art. 83 do Regimento Interno do TST).
É o relatório.

V O T O

I – CONHECIMENTO

O agravo de instrumento é tempestivo (fls. 2 e


108), tem representação regular (fl. 17) e se encontra devidamente
instrumentado, com o traslado das peças essenciais exigidas pela
Instrução Normativa nº 16/99 do TST, razões pelas quais dele
conheço.

II – MÉRITO

1. INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS. ASSÉDIO MORAL.

Sobre tal questão, assim decidiu o Regional:

“ASSÉDIO MORAL – FIXAÇÃO DA INDENIZAÇÃO


Não se conforma a reclamada com a sentença que acolheu a pretensão
de danos morais, por assédio moral, fixando a indenização em R$
15.000,00. Nega os fatos narrados na exordial, alegando que o tratamento
conferido à reclamante pela sua diretora jamais foi reiterado, configurando
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ato isolado. Diz que autora sempre foi tratada com zelo e respeito,
acrescentando que a autora desempenhava cargo de alta relevância na
empresa. Afirma que a reclamante tenta vincular os problemas de saúde que
resultaram em seu afastamento ao trabalho às alegações de agressões
verbais e humilhações. Indica ser inadmissível a condenação baseada em
declarações das testemunhas que não presenciaram os fatos, mas apenas por
“ouviu dizer”. Sucessivamente, requer a redução do valor arbitrado a este
título, bem como a declaração da rescisão do contrato de trabalho por
abandono de emprego e que seja julgado improcedente o pedido de
indenização substitutiva decorrente de estabilidade provisória.
Por seu turno, a autora pretende a ampliação do valor da condenação,
alegando, em síntese, que a indenização deve ter duplo caráter:
sancionatório e compensatório.
Incensurável a decisão originária.
Caracteriza-se o assédio moral, ensejador do direito à indenização, a
conduta desmedida e prejudicial do empregador ou seus prepostos que,
ultrapassando os limites do exercício do poder diretivo em relação aos
empregados, por meio de atitudes vexatórias e outros artifícios censuráveis
que atingem a personalidade do empregado, ofende um bem jurídico que
extrapola os limites do objeto do contrato de emprego.
Examinando a prova oral produzida, não resta dúvida de que os
atos praticados pela diretora da reclamada, Sra. Maria Auxiliadora,
causaram constrangimento, humilhação, atingindo a honra subjetiva
da reclamante, gerando a obrigação de indenizar.
A reclamante, em seu depoimento pessoal, confirmou que “nos
últimos dois anos de trabalho passou a sofrer maus tratos da sra.
Maria Auxiliadora que a xingava de puta, piranha, vagabunda; que
nunca foi advertida, nunca faltou ao serviço”; que “foi humilhada por
diversas vezes pela Maria Auxiliadora; que certa vez foi impedida de
almoçar pela Maria Auxiliadora ao argumento de que a reclamante não
havia mostrado o crachá do PAT, sendo que já o tinha feito no dia anterior,
ressaltando ainda que se tratavam de vinte e dois anos de trabalho”; que (...)
foi proibida pela Maria Auxiliadora de almoçar que proferiu as seguintes
palavras “essa puta não almoça hoje”; que “em uma ocasião na qual a
reclamante se dirigia à entrada da empresa, esta cruzou com a Maria
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Auxiliadora que cuspiu em seu rosto; que nessa ocasião a reclamante


passou mal e foi socorrida pela médica da empresa; que fez tratamento
psicológico e ainda o faz sendo que atualmente ainda toma remédios
anti-depressivos e remédios para dormir”; que “em todas as ocasiões de
maus tratos houve a presença de terceiros ou o conhecimento de tais
humilhações por terceiros” (f. 166).
O preposto da reclamada asseverou que “a reclamante é ótima
funcionária, educada, tanto que foi promovida” (f. 167).
Declarou a primeira testemunha da autora, ouvida mediante carta
precatória, como informante, que “trabalhou na reclamada de 2001 a 2006;
que já presenciou a diretora Maria Auxiliadora chamar a reclamante
de “puta” e “cachorra”, “vadia”, e esse tipo de coisa”, que geralmente
sempre existiam pessoas por perto”; que “comentários sempre tinha”;
que “ouviu falar que a Maria Auxiliadora cuspiu na cara da reclamante; que
as faxineiras viram e contaram para o depoente o episódio; que as
faxineiras falaram que as duas se cruzaram na escada e a reclamante
recebeu o cuspe no rosto da Sra. Maria Auxiliadora, que lhe chamou de
“puta”, dizendo ainda que cuspiu e cuspiria de volta” (f. 122).
A testemunha Meire Elizabete Gomes Costa, indicada pela autora,
que presta serviços para a ré como representante comercial, ouvida por
carta precatória, disse que “conhece a recte; que ela era a gerente da
depoente”; que “a depoente presenciou o fato ocorrido no refeitório da
empresa; que naquele dia a recte não apresentou o seu crachá para
receber a sua refeição e a Sra. Maria Auxiliadora disse naquela
ocasião: ‘hoje esta puta não almoça’; que logo após um outro rapaz se
apresentou também no refeitório sem o crachá e almoçou normalmente; que
o fato foi vexatório”; que “a depoente também ouviu através dos colegas o
comentário de que a Sra. Maria Auxiliadora teria cuspido na recte, porém a
depoente não presenciou este fato; que após o fato do refeitório, a recte
deixou o ambiente, chorou muito e nem almoçou naquele dia; que no dia
deste fato no refeitório havia outros empregados que presenciaram o
ocorrido” (f. 159).
A testemunha trazida pela reclamante, Aparecida Abreu da Silva,
ouvida como informante, afirmou que “a reclamante é pessoa educada,
cortês e de bom relacionamento com os demais funcionários; que a
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Maria Auxiliadora xinga os funcionários e profere palavras de baixo


calão com puta, retardado e dentre outros (...)”, que “a Maria
Auxiliadora não podia ver a reclamante que a provocava e a ofendia,
xingando a de puta”; que “a Maria Auxiliadora lhe disse certa vez
que “iria cuspir de novo na cara daquela puta”, referindo-se à
reclamante; que a Maria Auxiliadora impediu a reclamante de almoçar, por
não estar com o crachá do PAT, não obstante ter permitido outro
funcionário que também estava sem o crachá almoçar” (f. 167).
Por outro lado, veja-se que a própria testemunha da reclamada, Jairo
Rodrigues da Cruz, disse que “a Maria Auxiliadora e o Sr. João são
pessoas difíceis” (f. 167).
Nos termos dos depoimentos ora transcritos, verifica-se que a autora
recebia tratamento agressivo da diretoria da reclamada, Maria Auxiliadora,
mediante palavras e expressões de baixo calão, sendo ocioso repetir tais
termos, pois ofensivos ao senso comum. Não bastasse o vilipêndio à pessoa
da empregada, restou provado, pelo depoimento da testemunha Meire
Elizabete, que a Sra. Maria Auxiliadora impediu a reclamante de almoçar
em determinada ocasião, tendo tal fato sido presenciado por outros
empregados da empresa. Ademais, relataram as testemunhas obreiras que
tiveram conhecimento de que a Sra. Maria Auxiliadora havia cuspido no
rosto da reclamante, xingando-a, fazendo uso de linguajar inadequado para
tanto.
Ora, inegavelmente que tais ofensas pessoais, que se tornaram
comuns nos dois últimos anos do pacto laboral, configura-se como assédio
moral, que, indene de dúvidas, atingiu a dignidade da obreira.
Além da robustez da prova oral, tem-se que os documentos de f.
21/26 atestam que a obreira necessitou submeter-se a tratamento
psiquiátrico em decorrência da prática patronal, tendo afastado, inclusive,
do trabalho, por incapacidade laborativa. As atitudes constrangedoras e
ofensivas por parte de superior hierárquico, se não desencadearam o dano,
como alega a reclamada, agravaram a enfermidade da reclamante, se esta
existisse, de fato, o que leva, também, à condenação por danos morais.
É reprovável a tese da empresa de que a autora “provocou
deliberadamente” a Sra. Maria Auxiliadora, porquanto a empregada labora
para a ré há vinte e dois anos, sem qualquer mácula profissional, como
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propriamente reconhece o preposto da ré. Ao revés, a Sra. Maria


Auxiliadora era considerada como sendo pessoa difícil, conforme se extrai
do depoimento da preposta da empresa, que é corroborado, inclusive, pelos
termos designados à sócia, nas razões recursais (f. 248, 3º§), que ora
transcrevo: “(...) Sra. Maria Auxiliadora, realmente é uma pessoa pouco
tolerante e enérgica (...).
Por essas razões, conclui-se que a sócia e diretora da reclamada ao
assim agir, extrapolou os limites de seu poder diretivo, agindo de forma
abusiva, atentando contra a integridade física e psíquica da empregada,
culminando com a condenação ao pagamento da indenização por assédio
moral, nos termos dos artigos 186 e 927 do CCb.
Em relação ao quantum, não há parâmetro objetivo insculpido na lei,
pelo que o valor arbitrado pelo juízo, deve levar em consideração alguns
critérios, como a gravidade do ato danoso, a intensidade da sua repercussão
no ambiente de trabalho, o desgaste provocado na ofendida, a posição
socioeconômica da ofensora, mostrando-se razoável o montante
indenizatório fixado em R$ 15.000,00.
De outra parte, afasta-se a pretensão empresária de abandono de
empregado, já que comprovado o procedimento reiterado e prejudicial à
reclamante, configura-se o descumprimento apto a ensejar a rescisão
contratual, sendo certo que se torna inviável o prosseguimento da relação
laboral diante da justa causa de parte da empregada. Por mero corolário
lógico, são devidos os consectários daí decorrentes, nos moldes declarados
pela sentença recorrida.
(...)
Nega-se provimento” (fls. 67/70 – grifos apostos e no original).

A reclamada, às fls. 80/90, sustenta que o assédio


moral somente se verifica quando a conduta praticada pelo chefe
contra o empregado é reiterada e tem o intuito de denegrir a imagem
deste perante os demais funcionários da empresa. Assegura que, no
caso, não ocorreu tal situação e que jamais existiu qualquer
perseguição direta à reclamante. Afirma, ainda, que o que houve foi
uma discussão em determinado dia, ou seja, um fato isolado.
Finalmente, argumenta que não houve motivos para a caracterização da
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rescisão indireta. Indica violação dos artigos 186 e 927 do CCB e 2º


e 483 da CLT.
Não procede o inconformismo.
O Regional foi categórico ao afirmar que o dano
foi fartamente comprovado pela prova oral. Para tanto, assentou que
a reclamante, no ambiente de trabalho, estava submetida a constantes
agressões verbais, suportando palavras de baixo calão, realçando
que, em determinada oportunidade, a diretora e sócia da empresa
chegara a cuspir no rosto da reclamante.
Por pertinente, destaque-se o seguinte trecho
contido no julgado recorrido:

“É reprovável a tese da empresa de que a autora ‘provocou


deliberadamente’ a Sra. Maria Auxiliadora, porquanto a empregada labora
para a ré há vinte e dois anos, sem qualquer mácula profissional, como
propriamente reconhece o preposto da ré. Ao revés, a Sra. Maria
Auxiliadora era considerada como sendo pessoa difícil, conforme se extrai
do depoimento da preposta da empresa, que é corroborado, inclusive, pelos
termos designados à sócia, nas razões recursais.” (fl. 69)

Além do mais, assinalou o acórdão (fl. 69) que os


documentos acostados aos autos revelaram que a reclamante necessitou
submeter-se a tratamento psiquiátrico em decorrência da prática
patronal, tendo até se afastado do trabalho por incapacidade
laborativa.
Por óbvio, como bem pontuou o Regional, a conduta
grosseira e destituída de qualquer ética adotada pela empresa, por
meio de sua diretora e sócia, causou à reclamante ofensa à sua
dignidade e integridade psíquica.
Assim, constatando-se que o Regional concluiu pelo
deferimento da indenização por danos morais, fulcrando-se no
conjunto fático que evidenciou que a reclamada utilizava-se da
prática de assédio moral, qualquer rediscussão acerca do tema, para
adoção de entendimento contrário, implicaria, inevitavelmente,
reexame dos fatos e da prova produzida nos autos, o que é vedado
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nesta fase recursal, a teor da Súmula 126 desta Corte.


Incólume, pois, os artigos 186 e 927 do Código
Civil e 2º da CLT.
Por outro lado, diante do que ficou delineado no
acórdão regional, a rescisão indireta ficou evidente, não havendo
que se cogitar de abandono de emprego por parte da reclamante.
Incensurável o decisum. Intacto o artigo 483 da CLT.
Nego provimento.

2. DA VIOLAÇÃO DO ARTIGO 118 DA LEI Nº 8.213/91.

O Tribunal de origem consignou:

“Por derradeiro, uma vez protegida contra a dispensa arbitrária, não


poderá obreira ser dispensado enquanto perdurar o período da estabilidade,
12 meses que se seguem após cessar o auxílio previdenciário, cabendo à
empregadora a indenização substitutiva, porque, no caso, resta inviável a
reintegração da autora” (fl. 70).

A reclamada, às fls. 87/88, afirma que o artigo


118 da Lei nº 8.213/91 foi aviltado, porquanto a depressão não é
considerada doença equiparada a acidente de trabalho, ou seja,
doença profissional. No seu entender, o Regional conferiu uma
interpretação equivocada ao citado artigo. Aponta, pois, afronta ao
artigo 118 da Lei nº 8.213/91.
Sem razão.
O artigo 118 da Lei nº 8.213/91 não se encontra
afrontado, porquanto não traz nenhuma discussão acerca do tipo de
doença que poderia impulsionar a garantia no emprego. O citado
artigo trata, apenas, do lapso atinente à garantia da manutenção do
contrato de trabalho, nos casos em que ocorre acidente de trabalho.
Ademais, a Corte Regional não se debruçou sobre a
questão de que a depressão seria ou não considerada doença
equiparada a acidente de trabalho e não foi provocada por meio de
embargos de declaração. Incidência da Súmula nº 297 do TST.
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Ante o exposto, nego provimento ao agravo de


instrumento.

ISTO POSTO

ACORDAM os Ministros da Oitava Turma do Tribunal


Superior do Trabalho, por unanimidade, conhecer do agravo de
instrumento e, no mérito, negar-lhe provimento.
Brasília, 08 de setembro de 2010.

DORA MARIA DA COSTA


Ministra Relatora

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