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AUTISMO
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3 INTRODUÇÃO
6 UNIDADE 1 - Autismo
6 1.1 Primeiro uso da palavra e evolução dos estudos

9 1.2 Epidemiologia

11 1.3 Sinais do autismo

13 1.4 Características

15 1.5 Diagnóstico

17 UNIDADE 2 - A classificação cid-10 – transtornos globais do desenvolvimento e a preparação para CID-11

SUMÁRIO
21 UNIDADE 3 - A classificação no DSM-5 – transtorno do espectro autista
23 3.1 Os critérios diagnósticos do DSM-5 para o autismo

28 UNIDADE 4 - Avaliação diagnóstica


28 4.1 Desafios familiares

29 4.2 A equipe interdisciplinar

33 UNIDADE 5 - Direitos das pessoas com autismo


37 REFERÊNCIAS
40 ANEXOS
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INTRODUÇÃO

Eu, autista Nosso país não me cuida


Criaram para mim Com devida atenção
Um mundo paralelo Negligencia minha existência
Obscuro, ilusório Porém, tudo em vão
Um mundo que não quero
Sou alpinista
Olham-me, poucos Escalando muros de preconceito
Acolhem-me, menos Sou o autista
Entendem-me em sopros Humano e possuo direitos
De palavras ao vento
Um país carente de olhar
O chão que piso De informação
Também é teu Habitamos esse mar
É do teu mundo esse escuro De diferenças e confusão
Esse breu
Sou tantos Pedros,
Olho e percebo tudo ao redor Júlias e Marias
Deste mundo disforme Sou dois milhões
Inexato e abafador De aflições e alegrias

Nem só de verbo Existo e peço


se comunica o ser Que olhem mais para mim
Não são só palavras E meu endereço
É o corpo a dizer É o mesmo mundo sim!

(Gonçalves, 2011)

Uma forma diferente de ver e expe- Segundo Di Nubila e Buchalla (2008), a


rienciar o mundo! Uma maneira diferente Organização Mundial de Saúde tem hoje
de interpretar as coisas e os sentimentos! duas classificações de referência para a
Dificuldade em expressar-se através das descrição dos estados de saúde: a Clas-
palavras... a vivência em um mundo isola- sificação Estatística Internacional de Do-
do, particular... reações diferentes ao que enças e Problemas Relacionados à Saú-
se passa ao seu redor... ser tocado por ou- de, que corresponde à décima revisão da
tro, ah! Como é difícil! Mas não é por mal. Classificação Internacional de Doenças
(CID-10) e a Classificação Internacional
Essa é uma maneira poética de expres-
de Funcionalidade, Incapacidade e Saúde
sarmos o Autismo. Veremos muito mais,
(CIF).
num viés mais científico e acadêmico.
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Uma classificação de doenças pode ser neurológico com três características fun-
definida como um sistema de categorias damentais, que podem manifestar-se em
atribuídas a entidades mórbidas segun- conjunto ou isoladamente. São elas:
do algum critério estabelecido. Existem
1) Dificuldade de comunicação por
vários eixos possíveis de classificação e
deficiência no domínio da linguagem e no
aquele que vier a ser selecionado depen-
uso da imaginação para lidar com jogos
derá do uso das estatísticas elaboradas.
simbólicos.
Uma classificação estatística de doenças
precisa incluir todas as entidades mórbi- 2) Dificuldade de socialização.
das dentro de um número manuseável de
3) Padrão de comportamento restriti-
categorias (DATASUS, 2008).
vo e repetitivo (VARELA, 2014).
De imediato, deixemos claro que segun-
Também chamado de Desordens do Es-
do a CLASSIFICAÇÃO INTERNACIONAL DE
pectro Autista (DEA ou ASD, em inglês), re-
DOENÇAS, mais conhecida como CID-10,
cebe o nome de espectro (spectrum), por-
ainda prevalece a nomenclatura Transtor-
que envolve situações e apresentações
nos Globais do Desenvolvimento – TGD.
muito diferentes umas das outras, numa
Mas, ressalte-se que está para entrar em
gradação que vai da mais leve a mais gra-
vigor uma nova revisão em 2017/18.
ve. Todas, porém, em menor ou maior grau
Por outro lado, no MANUAL DIAGNÓS- estão relacionadas com as dificuldades de
TICO E ESTATÍSTICO DE TRANSTORNOS comunicação e relacionamento social.
MENTAIS que tem a pouco tempo a ver-
Também vale a pena ressaltar que Es-
são 5, para os TGDs agora existe apenas
tudos demonstram que a identificação
um diagnóstico chamado de transtornos
precoce dos sinais e dos sintomas de risco
do espectro do autismo – TEA, que englo-
para o desenvolvimento do TEA é funda-
ba o que antes eram consideradas quatro
mental, pois, quanto antes o tratamento
doenças diferentes: autismo, síndrome de
for iniciado, melhores são os resultados
Asperger, transtorno desintegrativo da
em termos de desenvolvimento cogniti-
infância (ou síndrome de Heller) e trans-
vo, linguagem e habilidades sociais (DAW-
torno invasivo do desenvolvimento sem
SON et al., 2010; HOWLIN et al., 2009; REI-
outra especificação, só que ainda há con-
CHOW, 2012 apud FONSECA, 2015).
trovérsias. Em inglês, a sigla seria ASD –
Autism Spectrum Disorder. De todo modo, sinais, características,
diagnóstico são importantes sempre, por-
As mudanças são muitas e nessa nova
tanto, veremos inicialmente, o primeiro
edição, por exemplo, a comunicação e os
uso da palavra e a evolução dos estudos;
domínios de interação social serão com-
os sinais do autismo, um pouco de epide-
binados em um só, intitulado “Déficits so-
miologia, características, diagnóstico, tra-
ciais / Comunicação”.
tamento e intervenções terapêuticas.
O Transtorno do Espectro Autista (TEA)
Não deixaremos passar em branco algu-
engloba diferentes síndromes marcadas
mas reflexões acerca dos direitos dessas
por perturbações do desenvolvimento
pessoas, as dificuldades dos familiares no
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cotidiano e o trabalho interdisciplinar.

Ressaltamos em primeiro lugar que em-


bora a escrita acadêmica tenha como pre-
missa ser científica, baseada em normas
e padrões da academia, fugiremos um
pouco às regras para nos aproximarmos
de vocês e para que os temas abordados
cheguem de maneira clara e objetiva, mas
não menos científicos. Em segundo lugar,
deixamos claro que este módulo é uma
compilação das ideias de vários autores,
incluindo aqueles que consideramos clás-
sicos, não se tratando, portanto, de uma
redação original e tendo em vista o cará-
ter didático da obra, não serão expressas
opiniões pessoais.

Ao final do módulo, além da lista de re-


ferências básicas, encontram-se muitas
outras que foram ora utilizadas, ora so-
mente consultadas e que podem servir
para sanar lacunas que por ventura surgi-
rem ao longo dos estudos.
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UNIDADE 1 - Autismo

1.1 Primeiro uso da palavra renciação do quadro de autismo de outros


como esquizofrenia e psicoses infantis.
e evolução dos estudos
O trabalho de Kanner foi de fundamen-
A expressão autismo foi utilizada pela tal importância para formar as bases da
primeira vez por Bleuler em 1911, para de- Psiquiatria da Infância nos EUA e também
signar a perda do contato com a realidade, mundialmente (NEUMÄKER, 2003 apud
o que acarretava uma grande dificuldade BRASIL, 2014).
ou impossibilidade de comunicação (GA-
DIA; TUCHMAN; ROTTA, 2004). As 11 crianças descritas por Kanner
tinham em comum comportamento bas-
A primeira definição de autismo como tante original, assim ele sugeriu que se
um quadro clínico ocorreu em 1943, quan- tratava de uma inabilidade inata para es-
do o médico austríaco Leo Kanner, que na tabelecer contato afetivo e interpessoal e
época trabalhava no Hospital Johns Ho- que era uma síndrome bastante rara, mas,
pkins (em Baltimore, nos EUA), sistemati- provavelmente, mais frequente do que o
zou a cuidadosa observação de um grupo esperado, pelo pequeno número de casos
de crianças com idades que variavam en- diagnosticados.
tre 2 e 8 anos, cujo transtorno ele deno-
minou de ‘distúrbio autístico de contato Nesses 11 primeiros casos, havia uma
afetivo’. “incapacidade de relacionar-se” de formas
usuais com as pessoas desde o início da
Embora o termo “autismo” já houvesse vida. Kanner também observou respos-
sido introduzido na psiquiatria por Ploul- tas incomuns ao ambiente, que incluíam
ler, em 1906, como item descritivo do si- maneirismos motores estereotipados, re-
nal clínico de isolamento (CAMARGOS et sistência à mudança ou insistência na mo-
al., 2005), a criteriosa descrição de tais notonia, bem como aspectos não usuais
anormalidades por Kanner permitiu a dife- das habilidades de comunicação da crian-
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ça, tais como a inversão dos pronomes e nível de desenvolvimento intelectual da


a tendência ao eco na linguagem (ecolalia) criança; e,
(GADIA; TUCHMAN; ROTTA, 2004).
c) repertório restrito e repetitivo de
Kanner foi cuidadoso ao fornecer um comportamentos e interesses, o que in-
contexto de desenvolvimento para suas clui alterações nos padrões dos movimen-
observações, enfatizando a predominân- tos (RUTTER, 1978 apud BRASIL, 2014).
cia dos déficits de relacionamento social,
Em 1944, Asperger descreveu casos
assim como dos comportamentos inco-
em que havia algumas características se-
muns na definição da condição. Durante
melhantes ao autismo em relação às difi-
os anos 50 e 60 do século passado, houve
culdades de comunicação social em crian-
muita confusão sobre a natureza do au-
ças com inteligência normal (KLIN, 2006).
tismo e sua etiologia, e a crença mais co-
mum era a de que o autismo era causado E no início dos anos 1980, seu trabalho
por pais não emocionalmente responsivos recebeu bastante atenção, cujo foco de
a seus filhos (a hipótese da “mãe geladei- investigação se trata dos indivíduos “de
ra”). Na maior parte do mundo, tais noções alto funcionamento”, o que impulsionou o
foram abandonadas, ainda que possam campo para o conceito de espectro do au-
ser encontradas em partes da Europa e da tismo, que se mostrou útil tanto no cam-
América Latina. No início dos anos 60, um po clínico quanto no âmbito das pesquisas
crescente corpo de evidências começou a genéticas (WOLFF, 2004 apud BRASIL,
acumular-se, sugerindo que o autismo era 2014).
um transtorno cerebral presente desde a
Segundo Bordin (2006), o que dá a
infância e encontrado em todos os países
Kanner a notoriedade de o “descobridor”
e grupos socioeconômicos e étnico-raciais
do autismo é a sua originalidade em des-
investigados (KLIN, 2006).
crever e reunir os sinais deste distúrbio
Devido a uma necessidade de dife- sistematizando-os segundo o paradigma
renciação entre o autismo e a esqui- descritivo e classificatório das doenças
zofrenia de início precoce, prevaleceu adotado pela Medicina no início do século
então o conceito de que os sinais e XIX.
sintomas devem surgir antes dos 30 Kanner, na sequência dos seus estu-
meses de idade. Além disso, desta- dos sobre o autismo infantil, reformulou
cam-se em seu quadro clínico: alguns princípios, dentre eles, aquele que
a) problemas no desenvolvimento so- trata da causa do autismo infantil. Inicial-
cial que são peculiares e se manifestam mente, esse autor considerava para o au-
de inúmeras formas e não condizem com tismo uma causa biológica, depois (1954)
o nível de desenvolvimento intelectual da essa causa passa a ser psicológica e, pos-
criança; teriormente (1956), de cunho biológico e
genético. Em 1956, também reformulou
b) atraso e padrão alterado no desen- a idade do surgimento da patologia ad-
volvimento de linguagem com caracterís- mitindo como indicador desta a idade de
ticas peculiares que não condizem com o até 30 meses reclassificando o autismo
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em dois tipos: Primário, presente desde ram a definição da síndrome autista, que
o nascimento (inato, com tendência ao passou a ser considerada como uma ina-
isolamento extremo), e Secundário, ma- dequação de desenvolvimento que surge
nifestado depois de um período normal nos primeiros três anos de vida da criança
de desenvolvimento (quando começa a e permanece por toda a vida, sendo mais
apresentar, então, dificuldade no campo comum em meninos do que em meninas.
social) (BORDIN, 2006). Os autores acrescentaram ainda que o
autismo possa ser uma consequência de
A Psicologia também demonstrou inte-
afecções cerebrais decorrentes de infec-
resse para entender o autismo e, em 1956,
ções virais e problemas metabólicos em
Bender, para diferenciar o autismo do re-
tenra idade e frequentemente é acompa-
tardo mental, denominando o primeiro de
nhado de epilepsia. Os diagnósticos dife-
“pseudo retardo” ou “pseudo deficiência”,
renciais ficaram mais abrangentes e inclu-
porque achava que o retardo do autista
íram a deficiência mental, esquizofrenia,
era só aparente. Para Mahler (1968), psi-
alterações sensoriais (dentre estas, a sur-
cóloga e psicanalista americana, o autis-
dez) e as afasias receptivas ou expressi-
mo seria caracterizado, então, por uma
vas (BORDIN, 2006).
regressão ou fixação em uma fase inicial
do desenvolvimento infantil, tendo como Essa definição da síndrome autista foi
sintoma principal a dificuldade em inte- adotada pela National Society for Autis-
grar sensações vindas do meio interno e tic Children e, no ano de 1979, ela passou
externo. Para essa análise psicológica, o também a fazer parte da Classificação
autismo seria um subgrupo das psicoses Internacional das Doenças (CID) de ori-
infantis (BORDIN, 2006). gem francesa, tornando o autismo inde-
pendente da esquizofrenia com a qual se
Na França, nos anos cinquenta, o termo
mantinha associado. Sua definição estava
“psicose infantil” foi diferenciado de “es-
agora vinculada aos “Transtornos Psicóti-
quizofrenia infantil” tomando como base
cos da Infância” (BORDIN, 2006).
a época da instalação da doença, já que
“psicose” destinava-se ao que surgia na Em 1980, na Revisão do Manual Diag-
primeira infância (e por esse motivo o au- nóstico e Estatístico dos Distúrbios Men-
tismo foi incluído nessa classe), enquanto tais (DSM), realizado pela Associação
que o termo “esquizofrenia” empregava- Americana de Psiquiatria, o autismo re-
-se para a patologia que ocorria mais tar- cebeu um sistema de classificação mul-
diamente, depois de um período normal tifatorial que obedece à tríade clássica:
de desenvolvimento (BORDIN, 2006). isolamento social, distúrbio de comuni-
cação verbal e não verbal e repetição de
Na Inglaterra, o autismo se manteve
movimentos e de fala com início na pri-
associado à esquizofrenia por muito mais
meira infância, sendo a idade máxima de
tempo embora se registrasse o fato de
manifestação de 36 meses de idade. A ca-
que todo caso de autismo não se revertia,
racterística dessa revisão é o balizamento
necessariamente, para a esquizofrenia.
mais orgânico do que psiquiátrico que foi
Ritvo e Freedman, em 1978, elabora- também acatado pela Classificação Inter-
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nacional de Doença. Portanto, os manuais diagnóstico diferencial. A primeira se re-


de diagnóstico do autismo infantil nasce- fere à necessidade de uma intervenção, o
ram na área da Psiquiatria, mantendo uma que aumenta a chance de maior eficácia no
relação inicial entre autismo e esquizo- cuidado dispensado. A segunda questão
frenia, depois com a psicose, caminhando se refere à construção de procedimentos
para uma consideração cognitiva e orga- que devem ser utilizados pela equipe mul-
nicista (BORDIN, 2006). tiprofissional responsável para o estabe-
lecimento do diagnóstico e a identificação
Em 1981, Wing formulou uma expres-
de comorbidades.
são mais abrangente para o quadro de
autismo infantil – Espectro autístico, ou Nesses manuais, o autismo infantil é um
Espectro de desordens autísticas – su- dos transtornos que compõem um quadro
gerindo uma variação gradual da patolo- maior designado por Transtornos globais
gia incluindo tanto a descrição de kanner ou Transtornos invasivos do desenvol-
como a de Asperger. vimento. Assim temos, praticamente, as
mesmas patologias vistas pelos mesmos
Na atualidade, mundialmente continu-
critérios sob rótulos diferentes (BORDIN,
am sendo usados pelos profissionais da
2006).
Medicina para o diagnóstico no autismo e
encontram-se revisados na CID-10 e DSM-
5.
1.2 Epidemiologia
Enfim, o conceito de autismo infantil
(AI), portanto, modificou-se desde a sua Segundo Klin (2006), o primeiro estudo
descrição inicial, passando a ser agrupa- epidemiológico sobre o autismo foi reali-
do em um contínuo de condições com as zado por Victor Lotter, em 1966. Nesse
quais guarda várias similaridades, que estudo, ele relatou um índice de prevalên-
passaram a ser denominadas de transtor- cia de 4,5 em 10.000 crianças em toda a
nos globais (ou invasivos) do desenvolvi- população de crianças de 8 a 10 anos de
mento (TGD). Middlesex, um condado ao noroeste de
Londres. Desde então, mais de 20 estu-
Mais recentemente, denominaram-
dos epidemiológicos foram relatados na
-se os transtornos do espectro do autis-
literatura e milhões de crianças foram
mo (TEA) para se referir a uma parte dos
pesquisadas pelo mundo todo.
TGD: o autismo, a síndrome de Asperger e
o transtorno global do desenvolvimento Os índices de prevalência resultantes,
sem outra especificação (portanto, não particularmente nos estudos mais recen-
incluindo a síndrome de Rett e o trans- tes, apontam para um índice conservador
torno desintegrativo da infância). Assim, de um indivíduo com autismo (prototípi-
duas questões tornaram-se fundamen- co) em cada 1.000 nascimentos; cerca de
tais: a importância da detecção de sinais mais quatro indivíduos com transtorno do
iniciais de problema de desenvolvimento espectro do autismo a cada 1.000 nasci-
em bebês que podem estar futuramente mentos; e índices muito menores para a
associados aos TEA e a necessidade do síndrome de Rett e menores ainda para o
10

transtorno desintegrativo infantil. um desfecho positivo (estimulando assim


o diagnóstico de crianças jovens e enco-
Conforme pesquisa do governo dos
rajando a comunidade a não “perder” uma
Estados Unidos, os casos de autismo su-
criança com autismo, que de outra forma
biram para 1 em cada 68 crianças com 8
não poderia obter os serviços necessá-
anos de idade — o equivalente a 1,47%. O
rios).
número foi aferido pelo CDC (Center of Di-
seases Control and Prevention), do gover- 6. A investigação com base popula-
no estadunidense — órgão próximo do que cional (que expandiu amostras clínicas re-
representa, no Brasil, o Ministério da Saú- feridas por meio do sistemático “pente-fi-
de. Os dados são referentes a 2010 e fo- no” na comunidade em geral à procura de
ram divulgados em 27 de março de 2014. crianças com autismo que de outra forma
poderiam não ser identificadas). É impor-
Houve aumento de quase 30% em re-
tante enfatizar que o aumento nos índices
lação aos dados anteriores, de 2008, em
de prevalência do autismo significa que
que apontava para 1 caso a cada 88 crian-
mais indivíduos são identificados como
ças. Quase 60% para 2006, que era de 1
tendo esta ou outras condições similares.
para 110. Mesmo o autismo podendo ser
Isso não significa que a incidência geral do
detectado a partir dos 2 anos de idade,
autismo esteja aumentando (KLIN, 2006).
a maioria das crianças foi diagnosticada
após os 4 anos (PAIVA JUNIOR, 2014). Em 2000, a Associação Brasileira de
Autismo estimou em 600 mil pessoas com
As possíveis razões para o grande a síndrome (BOSA; CALLIAS, 2000), sem
aumento na prevalência estimada do contar aqueles que não se enquadram em
autismo e das condições relaciona- sua forma típica. Já dados mais recentes
das são: de pesquisas de Mello et al. (2013), as pro-
1. A adoção de definições mais amplas jeções giram em torno de 1,2 milhões de
de autismo (como resultado do reconheci- pessoas conforme tabela abaixo.
mento do autismo como um espectro de
condições).

2. Maior conscientização entre os clí-


nicos e na comunidade mais ampla sobre
as diferentes manifestações de autismo.

3. Melhor detecção de casos sem re-


tardo mental.

4. O incentivo para que se determi-


ne um diagnóstico devido à elegibilidade
para os serviços proporcionada por esse
diagnóstico.

5. A compreensão de que a identifica-


ção precoce (e a intervenção) maximizam
11

Estimativa da população com autismo com base na população de cada região


brasileira (destaque para São Paulo).

Região População em 2010 População com autismo


(0,62%)

CO 14.050.340 87.112
N 15.865.678 98.367
NE 53.078.137 329.084
S 27.384.815 169.786
SE 80.353.724 498.193
Totais 190.732.694 1.182.643
SP 41.252.160 255.763
Fonte: Mello et al. (2013, p. 44).

O autismo pode ocorrer em qualquer modo bizarro (KLIN, 2006). De qualquer


classe social, raça ou cultura, sendo que modo, destaca-se que a noção de uma
cerca de 65 a 90% dos casos estão asso- criança não comunicativa, isolada e inca-
ciados à deficiência mental (GADIA; TU- paz de mostrar afeto não corresponde às
CHMAN; ROTTA, 2004). observações atualmente realizadas.

Essa incidência vem contra a noção es- De acordo com Bosa (2002), a ausência
tereotipada, derivada das descrições clás- de respostas das crianças autistas deve-
sicas, de que crianças autistas possuem -se, muitas vezes, à falta de compreensão
uma inteligência secreta e superior. Crian- do que está sendo exigido dela, ao invés
ças com autismo de alto funcionamento de uma atitude de isolamento e recusa
(perfil cognitivo diferenciado em algumas proposital. Nesse sentido, julgar que a
das áreas de testes padronizados) repre- criança é alheia ao que acontece ao seu
sentam apenas 30% dos casos diagnosti- redor restringe a motivação para investir
cados (BOSA, 2002). na sua potencialidade para interagir.

Desse modo, é possível perceber a no-


tável variação na expressão de “sintomas”
do autismo. Crianças com funcionamento 1.3 Sinais do autismo
cognitivo mais baixo geralmente tendem
Conforme Brasil (2014), de acordo com
a ser mudas e isoladas.
as Diretrizes de Atenção a Reabilitação da
Em outro nível, a criança pode aceitar Pessoa com TEA, a identificação de sinais
passivamente a interação, mas raramen- iniciais de problemas possibilita a instau-
te a procura, enquanto em um funciona- ração imediata de intervenções extrema-
mento mais alto, é possível que a criança mente importantes, uma vez que os re-
se interesse pela interação, mas o faz de sultados positivos em resposta a terapias
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são tão mais significativos quanto mais te associados aos TEA podem ter maior
precocemente instituídos. A maior plasti- eficácia, devendo ser privilegiadas pelos
cidade das estruturas anátomo-fisiológi- profissionais. Sabe-se que, para fins de
cas do cérebro nos primeiros anos de vida diagnóstico, manifestações do quadro
e o papel fundamental das experiências sintomatológico devem estar presentes
de vida de um bebê, para o funcionamen- até os 3 anos de idade.
to das conexões neuronais e para a cons-
Nas ações de assistência materno-in-
tituição psicossocial, tornam este período
fantil da Atenção Básica, por exemplo, as
um momento sensível e privilegiado para
equipes profissionais são importantes na
intervenções.
tarefa de identificação de sinais iniciais de
Assim, as intervenções em casos de problemas de desenvolvimento.
sinais iniciais de problemas de desenvol-
vimento que podem estar futuramen-
13

Portanto, inventários de desenvolvi- 1.4 Características


mento geral e de sinais de alerta para pro-
blemas são um importante material para
instrumentalizar as equipes de saúde na
tarefa de identificação desses casos. En-
tretanto, quanto mais nova for a criança,
mais inespecíficos são os sinais de proble-
mas de desenvolvimento, o que significa
ser difícil a previsão do diagnóstico que a
criança poderá receber. Não se deve fazer
diagnóstico precipitado sob o risco de que
a natureza da condição do bebê seja ofus-
cada pela suposta possibilidade de prever
seu quadro de TEA. As consequências de
diagnóstico precipitado podem vir a ser
Comportamentos incomuns não são
ruins para a família e para o desenvolvi-
bons preditores de TEA, porque várias
mento do bebê (BRASIL, 2014).
crianças com TEA não os apresentam e,
Desde a detecção dos sinais até o diag- quando os têm, costumam demonstrá-
nóstico propriamente dito, são necessá- los mais tardiamente. Em alguns casos,
rios o acompanhamento e a intervenção. são observados comportamentos
Existe um rol de sinais de problemas de atípicos, repetitivos e estereotipados
desenvolvimento (BAIR et al., 2006 apud severos, o que indica a necessidade
BRASIL, 2014) e um rol de características de encaminhamento para avaliação
sugestivas de TEA que são encontrados diagnóstica de TEA, como descrito a
com frequência no histórico clínico e nas seguir pelo Manual de Diretrizes (BRASIL,
pesquisas com pacientes diagnostica- 2014, p.32-5):
dos com TEA (BARBARO; RIDGWAY; DIS-
a) Motores:
SNAYAKE, 2011 apud BRASIL, 2014) que
está disponível em http://bvsms.saude. movimentos motores
gov.br/bvs/publicacoes/diretrizes_aten- estereotipados – flapping de mãos,
cao_reabilitacao_pessoa_autismo.pdf “espremer-se”, correr de um lado para o
outro, entre outros movimentos;
Isso não quer dizer que todas as crian-
ças que os apresentarem necessariamen- ações atípicas repetitivas – alinhar/
te receberão tal diagnóstico. O local e o empilhar brinquedos de forma rígida;
âmbito (serviço de atenção primária ou de observar objetos aproximando-se muito
atenção especializada) de detecção e in- deles; prestar atenção exagerada a certos
tervenção serão decididos em função da detalhes de um brinquedo; demonstrar
especificidade do caso e da sua disponibi- obsessão por determinados objetos em
lidade no território onde a família vive. movimento (ventiladores, máquinas de
lavar roupas, entre outros);

dissimetrias na motricidade, tais


14

como: maior movimentação dos membros lugar. Qualquer mudança de sua rotina
de um lado do corpo; dificuldades pode desencadear acentuadas crises de
de rolamento na idade esperada; choro, grito ou intensa manifestação de
movimentos corporais em bloco e não desagrado.
suaves e distribuídos pelo eixo corporal;
d) Fala:
dificuldade, assimetria ou exagero em
retornar os membros superiores à linha algumas crianças com TEA repetem
média; dificuldade de virar o pescoço e palavras que acabaram de ouvir (ecolalia
a cabeça na direção de quem chama a imediata). Outras podem emitir falas
criança. ou slogans e vinhetas que ouviram na
televisão sem sentido contextual (ecolalia
b) Sensoriais:
tardia). Pela repetição da fala do outro,
hábito de cheirar e/ou lamber não operam a modificação no uso de
objetos; pronomes;

sensibilidade exagerada a podem apresentar características


determinados sons (como os do peculiares na entonação e no volume da
liquidificador, do secador de cabelos, voz;
entre outros), reagindo a eles de forma
a perda de habilidades previamente
exacerbada;
adquiridas deve ser sempre encarada como
insistência visual em objetos sinal de importância. Algumas crianças
que têm luzes que piscam e/ou emitem com TEA deixam de falar e perdem certas
barulhos, bem como nas partes que giram habilidades sociais já adquiridas por volta
(ventiladores, máquinas, entre outros); dos 12 aos 24 meses. A perda pode ser
gradual ou aparentemente súbita. Caso
insistência tátil – as crianças podem
isso seja observado em uma criança, ao
permanecer por muito tempo passando a
lado de outros possíveis sinais, a hipótese
mão sobre uma determinada textura.
de um TEA deve ser aventada, sem, no
c) Rotinas: entanto, excluir outras possibilidades
diagnósticas (por exemplo: doenças
tendência a rotinas ritualizadas e
progressivas).
rígidas;
e) Aspecto emocional:
 dificuldade importante na
modificação da alimentação. Algumas expressividade emocional menos
crianças, por exemplo, só bebem algo se frequente e mais limitada;
utilizarem sempre o mesmo copo. Outras,
dificuldade de se aninhar no colo
para se alimentarem, exigem que os
dos cuidadores;
alimentos estejam dispostos no prato
sempre da mesma forma. Certas crianças extrema passividade no contato
com TEA se sentam sempre no mesmo corporal;
lugar, assistem apenas a um mesmo DVD
extrema sensibilidade em
e colocam as coisas sempre no mesmo
momentos de desconforto (por exemplo:
15

dor); Esta segunda condição, conhecida


como “resiliência familiar”, tem como
dificuldade de encontrar formas
premissa básica a noção de que a família
de expressar as diferentes preferências
pode se desenvolver mesmo na presença
e vontades e de responder às tentativas
de um contexto estressante, como no
dos adultos de compreendê-las (quando a
caso dos problemas de saúde e/ou de
busca de compreensão está presente na
desenvolvimento dos filhos (YUNES, 2003
atitude dos adultos).
apud BRASIL, 2014).

O desenvolvimento familiar depende


da qualidade dos serviços de saúde, da
1.5 Diagnóstico rede de apoio, dos recursos econômicos,
O diagnóstico de TEA é essencialmente das características da própria família e do
clínico, feito a partir das observações evento “estressor”, entre outros fatores.
da criança, entrevistas com os pais e Há evidências sobre alguns dos focos de
aplicação de instrumentos específicos. trabalho, na área da Saúde Mental, que
Os critérios usados para diagnosticar o podem acarretar o desenvolvimento dos
TEA são descritos no Manual Diagnóstico processos de resiliência em famílias de
e Estatístico da Associação Americana pessoas com TEA (SEMENSATO; SCHMIDT;
de Psiquiatria, o DSM (GADIA, TUCHMAN, BOSA, 2010; SEMENSATO; BOSA 2013 apud
ROTTA, 2004). BRASIL, 2014) e que podem subsidiar, por
exemplo, os serviços voltados a grupos de
Esses critérios têm evoluído com
pais com ênfase na percepção da família
o passar dos anos. O DSM-5, lançado
sobre as capacidades da pessoa com
em maio de 2013, compõe o mais novo
TEA e não somente sobre os déficits nas
instrumento para guiar o diagnóstico
diferentes etapas do desenvolvimento da
médico dos indivíduos portadores de
pessoa com TEA.
TEA. Além do DSM-5, há outros testes
de rastreamento para o TEA, como, por Isso equivale a dizer que a organização
exemplo, a Escala de Classificação de de serviços com foco na família deve ser
Autismo na Infância e Indicadores Clínicos realizada de acordo com as necessidades
de Risco para o Desenvolvimento Infantil. das diferentes etapas do ciclo vital familiar
e com base em ações que promovam a
O diagnóstico de TEA, ainda que
resiliência.
constitua um estressor para a família,
pode também ser uma experiência que Nesse sentido, o enfoque multi e
potencializa os recursos familiares, tais interdisciplinar, integrando diferentes
como flexibilidade na mudança de seus serviços (por exemplo: Psicologia e Serviço
valores, suas expectativas, prioridades Social), tende a ser o mais efetivo (BRASIL,
na vida e na qualidade das relações entre 2014), ou seja, a interdisciplinaridade,
os membros da família (MARQUES; DIXE, aqui entendida como uma superação da
2011; SCHMIDT; BOSA, 2007; SCHMIDT; fragmentação do conhecimento, isto
DELL’AGLIO; BOSA, 2007 apud BRASIL, é, um trabalho conjunto que envolve
2014). as novas tecnologias de diagnóstico e
16

intervenção, profissionais e estudiosos


de várias áreas como Educação, Saúde,
Psicologia é o caminho para compreender
essas etiologias e tratá-las levando em
conta o indivíduo cidadão.
17
UNIDADE 2 - A classificação cid-10 – transtornos glo-
bais do desenvolvimento e a preparação para CID-11
A Classificação Internacional de Do- serviços de saúde e epidemiologia (OMS,
enças (CID) veio sendo estruturada, por 1996; LAURENTI, 1991).
mais de um século, primeiro como forma
Lembrando: uma classificação de do-
de responder à necessidade de conhecer
enças é uma sistematização das doenças,
as causas de morte. Passou a ser alvo de
sintomas, sinais e motivos de consultas
crescente interesse e seu uso foi amplia-
que são agrupados segundo caracterís-
do para codificar situações de pacientes
ticas comuns e basicamente serve para
hospitalizados, depois consultas de am-
finalidade estatística de descrição e aná-
bulatório e atenção primária, sendo seu
lise quanto à distribuição das doenças em
uso sedimentado também para morbida-
uma população definida.
de.
Conforme anunciado recentemente
A sua Décima Revisão, denominada
pela mídia, a CID-11 que está sendo pre-
“Classificação Estatística Internacional
parada e deverá ser submetida à Assem-
de Doenças e Problemas Relacionados à
bleia Mundial da Saúde, em 2018, já vem
Saúde”, ou de forma abreviada “CID-10”,
provocando polêmica ao propor mudan-
é a mais recente revisão da “Classificação
ças em uma das esferas que ainda hoje é
de Bertillon” de 1893, e apenas a partir
considerada como tabu para uma parcela
da Sexta Revisão, em 1948, passou a ser
significativa da população: a sexualidade,
uma classificação que incluiu todas as do-
mas não adentraremos à questão por não
enças e motivos de consultas, possibili-
ser foco do nosso estudo.
tando seu uso em morbidade (DI NUBILA;
BUCHALLA, 2008). No Brasil, a discussão e coordenação
das pesquisas e análises sobre as novas
O conceito de uma “família” de classifi-
propostas para a CID estão a cargo da Uni-
cações foi surgindo na medida da percep-
versidade Federal de São Paulo (UNIFESP).
ção dos usuários de que uma classifica-
ção de doenças não seria suficiente para Segundo o Centro Brasileiro de Classi-
todas as questões relacionadas à saúde. ficação de Doenças (CBCD), a CID-10 tem
Segundo esse conceito, a CID atenderia as um cronograma de atualização no qual
necessidades de informação diagnóstica são corrigidos erros, alterados códigos e
para finalidades gerais, enquanto outras incluídas novas doenças. Por dificuldades
classificações seriam usadas em conjunto relacionadas ao processo de edição de no-
com ela, tratando com diferentes enfo- vos livros a cada 3 anos, as atualizações
ques informações sobre procedimentos da edição em Português foram incorpora-
médicos e cirúrgicos e as incapacidades, das até 2008.
entre outros. Assim, a partir da Décima
Para ver o andamento da revisão, suge-
Revisão foi aprovada a ideia de desenvol-
rimos o site: http://apps.who.int/classifi-
ver uma “família” de classificações para os
cations/icd11/browse/l-m/en.
mais diversos usos em administração de
18

Vamos falar um pouco mais sobre a CID- apresentadas quando se preparava a


10! Nona Revisão da Classificação, pois havia
sugestões de que uma estrutura básica
O trabalho para a Décima Revisão da
diferente poderia atender melhor às ne-
CID iniciou-se em 1983, a partir de várias
cessidades de muitos, assim como os mais
reuniões dos diversos centros colabora-
variados tipos de usuários. Ficou claro,
dores da Organização Mundial de Saúde
porém, que o modelo tradicional de eixo
(OMS) para classificação de doenças. Es-
com variável única da classificação, assim
tabeleceram planos de ação, inclusive de
como outros aspectos de sua estrutura
comitês de peritos em Classificação Inter-
que davam ênfase a afecções que eram
nacional de Doenças, entre 1984 e 1987.
frequentes, que representavam altos
Além das contribuições técnicas ofere- custos ou, por outro lado, eram de impor-
cidas por vários grupos de especialistas, tância em saúde pública, resistiu ao tem-
bem como de peritos individuais, muitos po e que muitos usuários não se satisfa-
comentários e sugestões provieram dos ziam com os modelos apresentados como
Países Membros da OMS e dos Escritórios possíveis substitutos.
Regionais da OMS; esses comentários e
Consequentemente, foi mantida a tra-
sugestões resultaram na circulação, pe-
dicional estrutura da CID, porém um es-
los países, dos rascunhos das propostas
quema de código alfanumérico substituiu
da Revisão em 1984 e 1986. Ficou claro,
o anterior que era apenas numérico. Isso
pelos comentários recebidos, que muitos
levou a um sistema com muito maior nú-
usuários desejariam que a CID incluísse
mero de códigos deixando espaços para
outros tipos de dados além da “informa-
que em futuras revisões não haja rompi-
ção diagnóstica” (no sentido mais amplo
mento da ordenação, como ocorria nas re-
do termo) que sempre havia incluído. Vi-
visões anteriores.
sando atender às necessidades desses
usuários, surgiu o conceito de uma “famí- Esses códigos são importantes no mo-
lia” de classificações tendo como núcleo mento do diagnóstico, servindo como
central a tradicional CID com sua forma e uma chave para abrir várias portas e sanar
estrutura já conhecidas. dúvidas.

A CID, em si mesma, atenderia as neces- Na CID-10, o capítulo V é dedicado aos


sidades de informação diagnóstica para transtornos mentais e comportamentais,
finalidades gerais, enquanto várias outras com código (F00-F99), incluindo os trans-
classificações seriam usadas em conjunto tornos do desenvolvimento psicológico e
com ela e tratariam com diferentes enfo- excluindo sintomas, sinais e outros acha-
ques a mesma informação ou tratariam dos clínicos e laboratoriais anormais não
de informação diferente (principalmente classificados em outra parte (R00-R99).
procedimentos médicos e cirúrgicos e in-
No agrupamento: Transtornos do
capacidades).
desenvolvimento psicológico – os trans-
Vários modelos alternativos de estru- tornos classificados em F80-F89 têm em
tura foram avaliados seguindo sugestões comum:
19

a) Início situado obrigatoriamente na doenças pode ser definida como um siste-


primeira ou segunda infância. ma de categorias atribuídas a entidades
mórbidas segundo algum critério estabe-
b) Comprometimento ou retardo do
lecido. Existem vários eixos possíveis de
desenvolvimento de funções estreita-
classificação e aquele que vier a ser se-
mente ligadas à maturação biológica do
lecionado dependerá do uso das estatís-
sistema nervoso central.
ticas elaboradas. Uma classificação esta-
c) Evolução contínua sem remissões tística de doenças precisa incluir todas as
nem recaídas. Na maioria dos casos, as entidades mórbidas dentro de um número
funções atingidas compreendem a lingua- manuseável de categorias.
gem, as habilidades espaço-visuais e a co-
Os Transtornos Globais do Desenvol-
ordenação motora. Habitualmente, o re-
vimento têm como unitermos: Distúrbios
tardo ou a deficiência já estava presente
Globais do Desenvolvimento (DSM-III-R,
mesmo antes de poder ser posta em evi-
1989); Transtornos Invasivos do Desen-
dência com certeza, diminuirá progressi-
volvimento (DSM-IV,1994); Transtornos
vamente com a idade; déficits mais leves
Abrangentes do Desenvolvimento (CID-
podem, contudo, persistir na idade adulta.
10,1993).
Este agrupamento contém as se- No Brasil, por uma questão de tradu-
guintes categorias: ção, utiliza-se o termo Transtornos Invasi-
F80 – Transtornos específicos do vos do Desenvolvimento (DMS-IV) com os
desenvolvimento da fala e da linguagem; critérios diagnósticos da CID-10.

F81 – Transtornos específicos do Segundo Menezes e Santos (2002), o


desenvolvimento das habilidades escola- termo é definido pela Secretaria de Edu-
res; cação Especial do Ministério da Educa-
ção (MEC) nas diretrizes curriculares do
F82 – Transtorno específico do de- ensino especial como manifestações de
senvolvimento motor; comportamento típicas de portadores de
F83 – Transtornos específicos mis- síndromes e quadros psicológicos, neu-
to do desenvolvimento; rológicos ou psiquiátricos que ocasionam
atrasos no desenvolvimento e prejuízos
F84 – Transtornos globais do de- no relacionamento social, em grau que re-
senvolvimento; queira atendimento educacional especia-
F88 – Outros transtornos do de- lizado. Está relacionado ao aluno especial
senvolvimento psicológico; que possui neuroses, psicoses, autismo,
esquizofrenia, entre outras manifesta-
F89 – Transtorno do desenvolvi- ções de comportamento.
mento psicológico não especificado (CID-
10, 2010). O agrupamento dos TGD fica assim (to-
dos explicados em anexo):
F84 – Transtornos globais do desen-
A CID-10 fala que uma classificação de volvimento;
20

F84.0 – Autismo infantil;

F84.1 – Autismo atípico;

F84.2 – Síndrome de Rett;

F84.3 – Outro transtorno desintegrati-


vo da infância;

F84.4 – Transtorno com hipercinesia


associada a retardo mental e a movimen-
tos estereotipados;

F84.5 – Síndrome de Asperger;

F84.8 – Outros transtornos globais do


desenvolvimento;

F84.9 – Transtornos globais não espe-


cificados do desenvolvimento.
21
UNIDADE 3 - A classificação no DSM-5 –
transtorno do espectro autista
O Manual de Diagnóstico e Estatística diagnósticos categorizados, com um glos-
das Perturbações Mentais é uma publica- sário que trazia a descrição clínica de cada
ção da American Psychiatric Association categoria diagnóstica (ARAÚJO; LOTUFO
(APA), Washington D.C., sendo a sua 4ª NETO, 2014).
edição conhecida pela designação “DSM-
Apesar de rudimentar, o manual serviu
-IV”.
para motivar uma série de revisões sobre
Em 1840, os EUA empreenderam um questões relacionadas às doenças men-
censo que contava com a categoria “idio- tais. O DSM-II, desenvolvido paralelamen-
tia/loucura”, procurando registrar a fre- te com a CID-8, foi publicado em 1968 e
quência de doenças mentais. Já no censo era bastante similar ao DSM-I, trazendo
de 1880, as doenças mentais eram dividi- discretas alterações na terminologia.
das em sete categorias distintas (mania,
Desde a publicação original da DSM-IV,
melancolia, monomania, paresia, demên-
em 1994, observaram-se já muitos avan-
cia, dipsomania e epilepsia). Observa-se
ços no conhecimento das perturbações
assim que as primeiras classificações nor-
mentais e das doenças do foro psiquiátri-
te-americanas de transtornos mentais
co. Neste sentido, existem já várias publi-
aplicadas em larga escala, tinham objetivo
cações que incorporam os resultados das
primordialmente estatístico (ARAÚJO; LO-
investigações mais recentes, com desta-
TUFO NETO, 2014).
que para a DSM-IV-TR.
No início do século XX, o Exército norte-
Este manual fornece critérios de diag-
-americano, juntamente com a Associação
nóstico para a generalidade das pertur-
de Veteranos, desenvolveu uma das mais
bações mentais, incluindo componentes
completas categorizações para aplicação
descritivas, de diagnóstico e de trata-
nos ambulatórios que prestavam atendi-
mento, constituindo um instrumento de
mento a ex-combatentes. Em 1948, sobre
trabalho de referência para os profissio-
forte influência desse instrumento, a Or-
nais da saúde mental.
ganização Mundial da Saúde (OMS) incluiu
pela primeira vez uma sessão destinada O DSM-IV-TR, que adota o termo “Trans-
aos Transtornos Mentais na sexta edição tornos Invasivos do Desenvolvimento”,
de seu sistema de Classificação Interna- apresenta como característica do quadro
cional de Doenças – CID-6. o prejuízo severo e invasivo em diversas
áreas do desenvolvimento, tais como: ha-
A primeira edição do Manual Diagnós-
bilidades de interação social recíproca, ha-
tico e Estatístico de Transtornos Men-
bilidades de comunicação, ou presença de
tais (DSM) foi publicada pela Associação
comportamento, interesses e atividades
Psiquiátrica Americana (APA), em 1953,
estereotipados. Os prejuízos qualitativos
sendo o primeiro manual de transtornos
que definem essas condições represen-
mentais focado na aplicação clínica. O DS-
tam um desvio acentuado em relação ao
M-I consistia basicamente em uma lista de
nível de desenvolvimento ou idade men-
22

tal do indivíduo. definidos pelo DSM-IV (o que significa que


eles são menos propensos a ter acesso ao
O quadro de transtornos globais do de-
tratamento).
senvolvimento abrange o autismo clássi-
co, a Síndrome de Asperger, a síndrome de Ressalte-se que o DSM-5 é um manual
Rett e o transtorno global do desenvolvi- para a avaliação e diagnóstico de trans-
mento sem outra especificação. tornos mentais e não inclui informações
ou orientações para o tratamento de
Mas, chegamos ao DSM-5 que foi atu-
qualquer doença. Dito isto, determinar
alizado em 2013 e segundo consta no
um diagnóstico preciso é o primeiro passo
site da American Psychiatric Association
para ser capaz de tratar adequadamente
(http://www.dsm5.org/about/Pages/faq.
qualquer condição médica, e transtornos
aspx), o manual é usado por profissionais
mentais não são exceção. Ele também
de saúde nos Estados Unidos e grande
será útil para medir a eficácia do trata-
parte do mundo como o guia oficial para o
mento, como avaliações dimensionais e
diagnóstico de transtornos mentais.
irá auxiliar os médicos na avaliação de mu-
O DSM contém descrições, sintomas danças nos níveis de gravidade como uma
e outros critérios para o diagnóstico de resposta ao tratamento.
Transtornos Mentais, Desordem Mental.
Uma mudança bem sentida foi a ex-
Ele fornece uma linguagem comum para
clusão do numeral romano tradicional
os médicos para se comunicar com seus
(V para 5) que reflete a intenção da APA
pacientes e estabelece diagnósticos con-
para tornar os processos de revisão futu-
sistentes e confiáveis que podem ser usa-
ros mais sensível aos avanços na pesqui-
dos na pesquisa de transtornos mentais.
sa com atualizações incrementais até que
Ele também fornece uma linguagem co-
seja necessária uma nova edição. Como a
mum para os investigadores que buscam
base de transtornos mentais, a investi-
estudar os critérios para potenciais futu-
gação tende a evoluir a taxas diferentes
ras revisões e para auxiliar no desenvol-
para diferentes doenças, as diretrizes de
vimento de medicamentos e outras inter-
diagnóstico não serão vinculadas a uma
venções.
data de publicação estática, mas sim para
O DSM tem sido periodicamente ana- os avanços científicos. Essas atualizações
lisado e revisto desde que foi publicado incrementais serão identificadas com de-
pela primeira vez em 1952. A versão an- cimais, ou seja, DSM-5.1, DSM-5.2, entre
terior do DSM foi concluída há quase duas outros, até que é necessária uma nova
décadas; desde essa altura, tem havido edição.
uma riqueza de novas pesquisas e conhe-
Frise-se ainda que DSM-5 e a CID deve
cimentos sobre os transtornos mentais.
ser pensados como publicações de com-
Muitas das mudanças no DSM-5 foram panhia. DSM-5 contém a maioria dos cri-
feitas para melhor caracterizar os sinto- térios de up-to-date para o diagnóstico
mas e comportamentos dos grupos de de transtornos mentais, juntamente com
pessoas que atualmente procuram ajuda extenso texto descritivo, fornece uma
clínica, mas cujos sintomas não são bem linguagem comum para os médicos para
23

se comunicar com seus pacientes. A CID res que descrevem os sintomas autistas
contém os números de código utilizados (idade da primeira preocupação; com ou
no DSM-5 e toda a medicina, necessários sem perda de habilidades estabelecidas;
para o reembolso do seguro e para o mo- gravidade).
nitoramento de estatísticas de morbida-
Tais especificadores oportunizam aos
de e mortalidade por agências nacionais
clínicos a individualização do diagnóstico
e internacionais de saúde. A APA trabalha
e a comunicação de uma descrição clíni-
em estreita colaboração com o pessoal da
ca mais rica dos indivíduos afetados. Por
OMS, CMS, e CDC-NCHS para garantir que
exemplo, muitos indivíduos anteriormen-
os dois sistemas são maximamente com-
te diagnosticados com transtorno de As-
patível.
perger, atualmente receberiam um diag-
nóstico de transtorno do espectro autista
sem comprometimento linguístico ou in-
3.1 Os critérios diagnósticos telectual.
do DSM-5 para o autismo Igualmente para um diagnóstico dife-
Segundo o DSM-5, houve fusão de rencial, uma investigação adequada da
transtorno autista, transtorno de Asper- função intelectual no transtorno do es-
ger e transtorno global do desenvolvi- pectro autista é fundamental, com rea-
mento no transtorno do espectro autista, valiação ao longo do período do desen-
porque os sintomas desses transtornos volvimento, uma vez que escores do QI no
representam um continuum único de pre- transtorno do espectro autista podem ser
juízos com intensidades que vão de leve a instáveis, particularmente na primeira in-
grave nos domínios de comunicação social fância.
e de comportamentos restritivos e repe- No espectro, o grau de gravidade varia
titivos em vez de constituir transtornos de pessoas que apresentam um quadro
distintos. Essa mudança foi implementa- leve, e com total independência e discre-
da para melhorar a sensibilidade e a espe- tas dificuldades de adaptação, até aque-
cificidade dos critérios para o diagnóstico las pessoas que serão dependentes para
de transtorno do espectro autista e para as atividades de vida diárias, ao longo de
identificar alvos mais focados de trata- toda sua vida.
mento para os prejuízos específicos ob-
servados. Os TEAs apresentam uma ampla gama
de severidade e prejuízos, sendo frequen-
No diagnóstico do transtorno do espec- temente a causa de deficiência grave,
tro autista, as características clínicas indi- representando um grande problema de
viduais são registradas por meio do uso de saúde pública. Há uma grande heteroge-
especificadores (com ou sem comprome- neidade na apresentação fenotípica do
timento intelectual concomitante; com TEA, tanto com relação à configuração e
ou sem comprometimento da linguagem severidade dos sintomas comportamen-
concomitante; associado a alguma con- tais (GESCHWIND, 2009 apud FONSECA,
dição médica ou genética conhecida ou a 2015).
fator ambiental), bem como especificado-
24

Na comunicação:
25

Os critérios diagnósticos do DSM-V, em mandas sociais excedam o limite de suas


sua versão original pode ser acessado no capacidades.
link em inglês: http://www.dsm5.org/Do-
cuments/Autism%20Spectrum%20Di-
Segundo Fonseca (2015), são justifi-
sorder%20Fact%20Sheet.pdf cativas para essa mudança:
1. Novo nome para a categoria: a dife-
renciação entre Transtorno do Espectro
DSM-5: Transtorno do Espectro do Au- do Autismo, desenvolvimento típico/nor-
tismo mal e de outros Transtornos “fora do Es-
pectro” é feita com segurança e com vali-
Deve preencher os critérios 1, 2 e 3
dade. As distinções entre os Transtornos
abaixo:
têm se mostrado inconsistentes com o
1. Déficits clinicamente significativos e passar do tempo. Variáveis dependentes
persistentes na comunicação social e nas do ambiente e frequentemente associa-
interações sociais, manifestadas de todas das à gravidade, nível de linguagem ou
as seguintes maneiras: inteligência, parecem contribuir mais do
que as características do Transtorno.
a) déficits expressivos na comunicação
não verbal e verbal usadas para a intera- 2. Como o Autismo é definido por um
ção social; conjunto comum de sintomas, admite que
seja melhor representado por uma única
b) falta de reciprocidade social;
categoria diagnóstica, adaptável confor-
c) incapacidade para desenvolver e me a apresentação individual, que per-
manter relacionamentos de amizade mite incluir especificidades clínicas como
apropriados para o estágio de desenvolvi- Transtornos Genéticos, Epilepsia, Defici-
mento. ência Intelectual, entre muitos outros.

2. Padrões restritos e repetitivos de 3. Um Transtorno na forma de espectro


comportamento, interesses e atividades, único reflete melhor o estágio de conhe-
manifestados por, pelo menos, duas das cimento sobre a patologia e sua apresen-
maneiras abaixo: tação clínica.

a) comportamentos motores ou verbais 4. Três domínios se tornam dois: defi-


estereotipados, ou comportamentos sen- ciências sociais e de comunicação e os in-
soriais incomuns; teresses restritos, fixos e intensos e com-
portamentos repetitivos.
b) excessiva adesão/aderência a roti-
nas e padrões ritualísticos de comporta- Fonseca (2015) ainda completa suas
mento; justificativas afirmando que não tem
como separarmos os déficits na comuni-
c) interesses restritos, fixos e intensos. cação e os comportamentos sociais. Eles
3. Os sintomas devem estar presentes são observados como um único conjunto
no início da infância, mas podem não se de sintomas com especificidades contex-
manifestar completamente até que as de- tuais e ambientais.
26

Os Transtornos de Linguagem também a sintomas não específicos do TEA, tais


não são características únicas dos Trans- como habilidade cognitiva, habilidade de
tornos do Espectro do Autismo. São fato- linguagem expressiva, padrões de início,
res que influenciam nos sintomas clínicos e comorbidades psicopatológicas. Estas
dos Transtornos do Espectro do Autismo. distinções podem proporcionar meios al-
ternativos para identificação de subtipos
Exigir que ambos os critérios sejam
dentro do TEA.
preenchidos, melhora a especificidade
do diagnóstico do Autismo sem prejudi- Assim, visando aumentar a especifi-
car sua sensibilidade. Fornece exemplos cidade do diagnóstico de TEA, o DSM-5
a serem incluídos em subdomínios para identifica tanto os sintomas diagnósticos
uma série de idades cronológicas e níveis principais como características não espe-
de linguagem, aumenta a sensibilidade ao cíficas do TEA que variam dentro desta
longo dos níveis de gravidade e, ao mes- população.
mo tempo mantém a especificidade que
Apesar dos avanços genéticos em rela-
temos quando usamos apenas dois domí-
ção ao TEA, as bases genéticas associadas
nios.
aos fenótipos ainda permanecem desco-
A decisão desta mudança foi feita em nhecidas devido à grande heterogeneida-
cima de revisão de literatura, consultas de genética e fenotípica da doença, pois o
a especialistas e reuniões/discussões de TEA não é visto como uma doença atrela-
grupos de estudos. Foi confirmada pelos da a um único gene, mas sim uma doença
resultados de análises secundárias dos complexa resultado de variações genéti-
dados feitas pelo CPEA (Collaborative Pro- cas simultâneas em múltiplos genes jun-
grams of Excellence in Autism) e pelo STA- to com uma complexa interação genética,
ART (Studies to Advance Autism Research epigenética e fatores ambientais (PERSI-
and Treatment) da Universidade de Mi- CO; BOURGERON 2006, EAPEN 2011 apud
chigan, e pelas bases de dados da SSC (Si- FONSECA, 2015).
mons Simplex Collection-Foundation Au-
Como há uma enorme variabilidade em
tism Research Initiative), da Universidade
termos de comportamento (gravidade dos
de Washington.
sintomas), cognição e mecanismos bioló-
O Transtorno do Espectro do Autismo é gicos, construindo-se a ideia de que o TEA
um Transtorno do Desenvolvimento Neu- é um grupo heterogêneo, com etiologias
rológico e deve estar presente desde o distintas, eles se beneficiam de avaliação
nascimento da criança ou no começo da individualizada para propor a melhor com-
sua infância, porém pode não ser obser- posição de acompanhamento para o caso.
vado antes por conta das demandas so-
Aproximadamente 60-70% têm algum
ciais mínimas, na mais tenra infância, e do
nível de deficiência intelectual, enquanto
intenso apoio dos pais e/ou responsáveis
que os indivíduos com autismo leve apre-
nos primeiros anos de vida.
sentam faixa normal de inteligência e cer-
O DSM-5 também reconhece que in- ca de 10% dos indivíduos com autismo
divíduos afetados variam com relação têm excelentes habilidades intelectuais
27

para a sua idade (BRENTANI, et al. 2013


apud FONSECA, 2015).
28

UNIDADE 4 - Avaliação diagnóstica

4.1 Desafios familiares A condição especial da criança requer


que os pais encarem a perda do filho idea-
Segundo estudos de Braga e Ávila lizado e desenvolvam estratégias de ajus-
(2004) citados por Gomes et al. (2015), tes à nova realidade. O convívio dos pais
os pais da criança com diagnóstico de TEA com as manifestações específicas do TEA
são confrontados por uma nova situação em seus filhos pode culminar, muitas ve-
que exige ajuste familiar. O desejo fanta- zes, com o próprio afastamento familiar
siado da gestação precisa de uma adequa- em relação à vida social (BRAGA e ÁVILA,
ção àquele que nasce e que tem caracte- 2004 apud GOMES et al., 2015).
rísticas próprias.
As autoras acima buscaram descrever
As crianças diagnosticadas com TEA os desafios encontrados pelas famílias na
frequentemente apresentam maior grau convivência com crianças portadoras de
de incapacidade cognitiva e dificuldade transtorno do espectro autista (TEA) no
no relacionamento interpessoal. Conse- Brasil e as estratégias de superação em-
quentemente, exigem cuidado diferen- pregadas, utilizando como fonte de da-
ciado, incluindo adaptações na educação dos, revisão sistemática da literatura com
formal e na criação como um todo. Essas inclusão de artigos publicados até setem-
peculiaridades levam à alteração da dinâ- bro de 2013, sem restrições de idioma.
mica familiar, que exige um cuidado pro- Os artigos incluídos foram submetidos à
longado e atento por parte de todos os avaliação de qualidade metodológica por
parentes que convivem com uma criança meio do Amstar e Casp/Oxford.
com TEA. Logo, são relatados com fre-
quência níveis de estresse aumentado, o Em síntese, o trabalho incluiu estudos
que pode impactar na qualidade de vida provenientes de São Paulo e Rio Gran-
de todos os membros da família (FAVERO- de do Sul com alta e moderada qualidade
-NUNES; SANTOS, 2010; BAGAROLLO; PA- metodológica. A literatura mostrou so-
NHOCA, 2010). brecarga emocional dos pais como um dos
principais desafios encontrados pelas fa-
mílias, inclusive com grande tensão sobre
as mães. Dentre os fatores relacionados
ao estresse estão: postergação diagnós-
tica, dificuldade de lidar com o diagnósti-
co e com os sintomas associados, acesso
precário ao serviço de saúde e apoio so-
cial. Dentre as estratégias de superação
destacaram-se: troca de informações en-
tre as famílias afetadas e assistência inte-
gralizada da rede de saúde no atendimen-
to do paciente e suporte à família.
29

Elas concluíram que o TEA exerce forte 10), levando-se em consideração diagnós-
influência na dinâmica familiar com sobre- ticos diferenciais; e,
carga dos cuidadores, geralmente da mãe
b) fornecer subsídios para o delinea-
e sugeriram que o Sistema Único de Saúde
mento do Projeto Terapêutico Singular
necessita prover cuidado integral, longi-
(PTS) e para o encaminhamento para as
tudinal e coordenado com vistas ao forta-
intervenções adequadas a cada caso.
lecimento do binômio paciente-família e o
pleno desenvolvimento e a plena inserção Ressalta-se que há casos em que não é
dessas crianças na sociedade. possível chegar a um diagnóstico preciso
e imediato de acordo com a CID-10; po-
Vale a pena ler na íntegra a pes-
rém, vale lembrar que sempre é possível
quisa que se encontra em: http://
avaliar o indivíduo como um todo em suas
w w w.s cielo.b r/s cielo.php?pi-
necessidades de saúde, reabilitação e tra-
d=S0021-75572015000200111&script=-
tamento.
sci_arttext&tlng=pt
O objetivo da avaliação não é apenas o
estabelecimento do diagnóstico por si só,
mas a identificação de potencialidades da
4.2 A equipe interdisciplinar
pessoa e de sua família. Isso pode ser al-
O Manual de Diretrizes de Atenção à cançado extraindo das equipes interdis-
Reabilitação da Pessoa com Transtornos ciplinares o que elas têm de expertise em
do Espectro do Autismo (BRASIL, 2014) seus respectivos campos de atuação, ao
tem dentre seus objetivos, oferecer mesmo tempo em que cada área interage
orientações às equipes multiprofissionais com a outra. Considerando-se:
dos pontos de atenção da Rede SUS para o
a) que o diagnóstico de TEA envolve a
cuidado à saúde da pessoa com transtor-
identificação de “desvios qualitativos” do
nos do espectro do autismo (TEA) e de sua
desenvolvimento (sobretudo no terreno
família nos diferentes pontos de atenção
da interação social e da linguagem);
da Rede de Cuidados à Pessoa com Defi-
ciência, no que passamos a alguns pontos b) a necessidade do diagnóstico dife-
de destaque. rencial; e,
Segundo o manual acima, as diretrizes c) a identificação de potencialidades
de atenção à reabilitação da pessoa com tanto quanto de comprometimentos, é
TEA se iniciam com a vigilância acerca dos importante que se possa contar com uma
sinais iniciais de problemas de desenvolvi- equipe de, no mínimo, psiquiatra e/ou
mento e estendem-se para o de avaliação neurologista e/ou pediatra, psicólogo e
diagnóstica. fonoaudiólogo.
O diagnóstico nosológico objetiva: A avaliação médica, independente-
mente da especialidade, inclui anamnese
a) examinar em que medida os com-
e exame físico e, se necessário, exames
portamentos observados são suficientes
laboratoriais e de imagem. Quando existi-
para a classificação diagnóstica (pela CID-
rem, por exemplo, alterações emocionais
30

e comportamentais muito importantes, O fonoaudiólogo é habilitado a avaliar


alterações de sono, apetite, consciência, aspectos linguísticos que diferenciam
marcha, excesso de agressividade e agi- os TEA de outras condições, sobretudo
tação psicomotora que necessitem de dos distúrbios de linguagem na presen-
avaliação mais precisa e de intervenções ça de deficiência auditiva ou de quadros
medicamentosas, geralmente é recomen- primários de linguagem. A avaliação fo-
dada a atuação dos especialistas das áre- noaudiológica visa à compreensão do
as de neurologia e/ou psiquiatra. A indica- funcionamento da linguagem da pessoa
ção é feita caso a caso. diagnosticada com transtorno do espec-
tro do autismo, o que permite eleger focos
A avaliação psiquiátrica classica- para o Projeto Terapêutico Singular (PTS)
mente inclui dois tipos de entrevista: e avaliar sua eficácia. Para tanto, deve-se
1) A subjetiva (avaliação direta do pa- atentar para os seguintes aspectos:
ciente). 1) A anamnese deve ser realizada pre-
2) A objetiva (avaliação do comporta- ferencialmente em entrevistas familiares
mento do indivíduo por meio do relato de voltadas para o levantamento do histórico
familiares, cuidadores ou outras pessoas geral (de nascimento e crescimento) e da
da convivência do indivíduo). história de alimentação e o detalhamento
da história de linguagem.
Na avaliação de indivíduos em idade
escolar ou em fase de desenvolvimento, 2) Os dados fornecidos por entrevistas
além da observação direta do comporta- complementares (com a escola e outros
mento, é necessário o relato de profes- profissionais).
sores e outros profissionais que atuam 3) O exame do paciente deve objetivar
na comunidade, pois é comum haver dife- a descrição das condutas verbais e/ou não
renças significativas no comportamento verbais e a identificação dos processos
de acordo com o ambiente. A avaliação simbólicos a elas subjacentes, bem como
neurológica objetiva avaliar os aspectos a identificação da disponibilidade inte-
funcionais do sistema nervoso central racional com diferentes interlocutores e
suscetíveis de análise pelo exame clíni- a descrição dos recursos comunicativos
co-neurológico. Como exemplos, temos o utilizados com a análise de sua extensão
sistema motor (força, coordenação, entre e eficácia enquanto iniciativa e responsi-
outros), o sistema sensorial (tato, percep- vidade.
ção de temperatura, entre outros) e os
sistemas integrativos (equilíbrio, refle- 4) O exame do paciente deve objetivar
xos, entre outros). a detecção de dificuldades e/ou idiossin-
crasias alimentares e a identificação de
Sobre as avaliações psicológicas e fo- condições orgânicas e/ou simbólicas a
noaudiológicas, tanto o psicólogo quanto elas subjacentes.
o fonoaudiólogo podem avaliar os desvios
qualitativos nas áreas de interação social 5) O exame do paciente deve esclarecer
e de linguagem, encontrados nos casos de as condições e qualidades vocais e identi-
TEA (BRASIL, 2014). ficar as condições orgânicas e/ou simbóli-
31

cas a elas subjacentes. nais informações sobre as formas de co-


municação da criança. Havendo pelo me-
Já a avaliação psicológica compreende
nos uma forma de comunicação utilizada
entrevistas de anamnese com os familia-
pela criança, outras podem ser desenvol-
res e a avaliação da interação social por
vidas (PETEERS, 1998).
meio de brincadeiras (no caso de crianças)
e de entrevistas (no caso de adolescen- A matrícula da criança portadora de au-
tes e adultos que apresentam linguagem tismo na escola pode trazer alterações no
oral). Envolve ainda a avaliação nas áreas seio familiar, na medida em que a criança
cognitiva e neuropsicológica (quesito im- está frequentando mais um grupo social e
portante tanto para o diagnóstico dife- tendo a oportunidade de conviver com ou-
rencial quanto para o PTS) e a entrevista tras crianças. Os pais, por sua vez, passam
de devolução dos resultados para os fami- a conviver com outros pais nesse novo
liares. As avaliações cognitiva e neuropsi- universo e a acreditar nas possibilidades
cológica auxiliam a avaliação psiquiátrica de desenvolvimento e aprendizagem sis-
e neurológica e a elaboração do PTS. Isso temática de seus filhos.
significa que as intervenções planejadas
A parceria entre família e escola é en-
para uma pessoa com deficiência mental
fatizada pela Declaração de Salamanca
e TEA, por exemplo, podem ser diferentes
(AIELLO, 2003), e o envolvimento entre as
daquelas formuladas para as pessoas com
duas partes asseguraria uma ativa parti-
funcionamento cognitivo esperado para a
cipação dos pais na tomada de decisão e
idade.
no planejamento educacional dos seus fi-
A avaliação psicológica identifica os al- lhos, com a adoção de uma comunicação
vos que farão parte do trabalho clínico no clara e aberta. De maneira geral, os pais
PTS, mais especificamente os aspectos têm críticas a fazer em relação às escolas,
emocionais, sociais e comportamentais. que não atendem de forma ampla às suas
Finalmente, atua avaliando e intervindo expectativas. No entanto, a maioria dos
no impacto emocional da comunicação do familiares considera que a escola é um ló-
diagnóstico e em intervenções mais espe- cus privilegiado para o desenvolvimento
cificamente voltadas para a família. global dos filhos (GLAT, 2003).

As intervenções psicológicas podem É muito importante que haja uma par-


constituir um espaço de escuta e de orien- ceria entre familiares e escola, pois os pais
tações que objetivem o empoderamento são portadores de informações preciosas
da família (BRASIL, 2014). que podem colaborar com o planejamento
das intervenções educacionais das crian-
ças autistas. A parceria entre família e
Vale guardar... escola pode se configurar especialmente
por meio dos serviços de aconselhamento
A família pode colaborar de maneira
para amenizar o estresse e garantir a mo-
muito especial para o desenvolvimento da
tivação para a continuidade do tratamen-
criança portadora de autismo na escola,
to do filho e das técnicas dentro de casa.
principalmente fornecendo aos profissio-
32

Diminuir os estressores familiares é im-


portante para evitar que os pais deixem
de manter um relacionamento afetivo
com seus filhos e isolem-se do ambien-
te social (SPROVIERI E ASSUMPÇÃO JR.,
2001; GOMES E BOSA, 2004 apud SERRA,
2010).

A escola também pode colaborar dando


sugestões aos familiares de como estes
podem agir em casa, de maneira que se
tornem coautores do processo de educa-
ção de seus filhos. Muitas vezes, as es-
tratégias educacionais desenvolvidas em
sala de aula não têm uma continuidade
dentro de casa, e isso só pode ser resol-
vido com um intenso processo de aconse-
lhamento dos pais.

Enfim, os programas educacionais para


crianças autistas envolvem também os
familiares, e, muitas vezes, o sucesso
dos mesmos depende da continuidade da
utilização das técnicas dentro de casa, e,
para isso, é muito importante que, após a
avaliação, o profissional conscientize os
pais sobre as dificuldades de seus filhos,
mas também ressalte quais são as poten-
cialidades, e que os familiares, por sua
vez, por meio de um constante acompa-
nhamento profissional, acreditem nessas
potencialidades e auxiliem nas interven-
ções (GLAT, 2002).
33

UNIDADE 5 - Direitos das pessoas com autismo

sendo prevista na Constituição Federal


de 1988 e regulamentada pela Lei
Orgânica da Assistência Social (LOAS – Lei
8.742/93).

Busca garantir o atendimento das


necessidades básicas dos indivíduos
e suas famílias, permitindo que todas
As pessoas com autismo têm os mesmos
as pessoas tenham seus direitos
direitos, previstos na Constituição Federal
asse¬gurados no que diz respeito ao
de 1988 e outras leis do país, que são
acolhimento, renda, convivência familiar
garantidos a todas pessoas.
e comunitária, desenvolvimento da
Também tem todos os direitos previstos autonomia individual, familiar e social e
em leis específicas para pes¬soas com sobrevivência a riscos circunstanciais.
deficiência (Leis 7.853/89, 8.742/93,
As pessoas com autismo e sua família
8.899/94, 10.048/2000, 10.098/2000,
podem se beneficiar de tudo que a
entre outras), bem como em normas
Assistência Social tem a oferecer no
internacionais assinadas pelo Brasil, como
município onde residem. As informações
a Convenção das Nações Unidas sobre os
sobre os benefícios, programas, serviços
Direitos das Pessoas com Deficiência.
e projetos existentes e como acessá-los
Além disso, enquanto crianças e podem ser obtidas no CRAS na cidade
adolescentes também possuem todos os de sua residência, ou nas Secretarias de
direitos previstos no Estatuto da Criança Assistência Social das Prefeituras.
e Adolescente (Lei 8069/90) e quando
Também, a educação é direito de
idosos, ou seja, maiores de 60 anos, tem
toda criança e, conforme o art. 54 do
os direitos do Estatuto do Idoso (Lei
Estatuto da Criança e do Adolescente
10.741/2003).
(ECA), é obrigação do Estado garantir
Mais recentemente, temos a Lei 12.764, atendimento educacional especializado
de 27 de dezembro de 2012, que institui a (AEE) às pessoas com deficiência
Política Nacional de Proteção dos Direitos preferencialmente na rede regular de
da Pessoa com Transtorno do Espectro ensino, já que toda a criança e adolescente
Autista e altera o § 3º do art. 98 da Lei nº têm direito à educação para garantir seu
8.112/90. pleno desenvolvimento como pessoa,
preparo para o exercício da cidadania e
Segundo a Cartilha da Defensoria
qualificação para o trabalho.
Pública do Estado de São Paulo,
igualmente, a Assistência Social é um Nessa direção, a inclusão escolar
direito do cidadão e dever do Estado, enquanto política que busca perceber
prestada independente de contribuição, e atender às necessidades educativas
34

especiais de todos os alunos, em salas O conceito de cidadania cultural significa


de aulas comuns, em um sistema também garantir que qualquer cidadão,
regular de ensino, de forma a promover inclusive crianças e adolescentes, tenha
a aprendizagem e o desenvolvimento a possibilidade de ser produtor de cultura.
pessoal de todos, só tem a contribuir para Para isso, devem existir espaços públicos
o desenvolvimento dessas pessoas. que possibilitem a manifestação cultural
dessa parcela da população nas diversas
Na proposta de educação inclusiva,
artes.
todos os alunos devem ter a possibilidade
de integrar-se ao ensino regular, mesmo O direito à saúde está previsto no art.
aqueles com deficiências ou transtornos 196 da Constituição Federal, sendo direito
de comportamento, de preferência sem de todos e dever do Estado.
defasagem idade-série.
As pessoas com autismo contam também
A escola, segundo essa proposta, com a proteção especial da Lei Federal
deverá adaptar-se para atender às 7.853/89, que garante o tratamento
necessidades destes alunos inseridos adequado em estabelecimentos de saúde
em classes regulares. Portanto, requer públicos e privados específicos para a
mudanças significativas na estrutura e no patologia que possuem.
funcionamento das escolas, na formação
O atendimento deve ser garantido em
dos professores e nas relações família-
todas as áreas necessárias para o bem-
escola.
estar e saúde da pessoa com autismo.
A principal importância da inclusão Deve ser feita uma avaliação inicial e
escolar é considerar as características específica de várias especialidades.
de cada criança, garantindo o convívio
Em geral os atendimentos terapêuticos
entre crianças e adolescentes com e sem
ocorrem de forma multidisciplinar com
deficiência, com aprendizado do respeito
equipe formada por diversos profissionais
e da tolerância às diferenças.
da área de saúde como médicos,
Evidentemente que os portadores fonoaudiólogos, fisioterapeutas,
de TEA também têm direito ao esporte, terapeutas ocupacionais, psicólogos e
cultura e lazer – saúde – trabalho e assistentes sociais. A equipe trabalha em
transporte. conjunto, estudando cada caso de forma
global.
A prática de esportes por crianças e
adolescentes com autismo contri¬bui Também lhes é garantido tratamento
no desenvolvimento social, psíquico e dentário, afinal significa efetivar o direito
motor e as pessoas com TEA têm direito à saúde em toda a sua amplitude. Assim,
à cultura e não se trata apenas do acesso o acompanhamento por parte de um
aos bens e espaços culturais, como, por dentista deve fazer parte da rotina das
exemplo, frequentar salas de cinema, pessoas com autismo, devendo o Estado
exposições de arte, espetáculos teatrais oferecer profissionais capacitados para
e apresentações musicais. este atendimento na rede pública de
saúde.
35

Quanto ao trabalho, o principal objetivo outros, as pessoas com autismo podem


da educação profissional é a criação de sofrer diversos tipos de discriminação
cursos, voltados ao acesso ao mercado de (como agressões verbais ou físicas), seja
trabalho, que busque ampliar qualificações em espaços públicos (escolas, postos de
de estudantes e profissionais. saúde, shoppings, ônibus) ou mesmo em
suas próprias casas.
Nos casos de autismo sem deficiência
intelectual ou com deficiência intelectual A discriminação ocorre quando, por
leve, há a possibilidade de inclusão do exemplo, em virtude da deficiência, o
indivíduo no mundo do trabalho, o que acesso à saúde, à educação ou ao mercado
pode ser realizado por meio de programas de trabalho é dificultado ou negado,
de capacitação direcionados às realidades ou quando a própria família impede a
mais emergentes do trabalho e também convivência comunitária da pessoa com
às potencialidades e interesses de cada autismo, isolando-a e impedindo seu
pessoa. contato com outras pessoas e o exercício
de sua cidadania.
Por fim, quanto ao transporte, se a
pessoa com autismo é comprovadamente A pessoa que foi discriminada ou seu
carente, segundo a Lei Fe¬deral nº responsável deve ir a uma Delegacia de
8.899/94, ela tem direito a passe livre no Polícia e fazer um Boletim de Ocorrência
transporte estadual interes¬tadual. (BO).

No caso de São Paulo, a Lei Estadual É importante relatar a situação de


10.419/91 também prevê o passe gratuito discriminação com o maior número
intermunicipal, concedido às pessoas com de informações possíveis, como data,
deficiência física, mental e visual. horário, local, nome completo do ofensor
e de testemunhas.
Os municípios também costumam ter
sua própria legislação para concessão Depois, com a cópia do BO, deve
de passe gratuito para deslocamentos contatar um advogado ou, se não tiver
dentro da cidade. Na capital de São Paulo, condições financeiras, a Defensoria
por exemplo, a concessão do bilhete único Pública para propositura das medidas
especial é realizada pela SPTRANS. judiciais cabíveis.

As pessoas com autismo também No caso de discriminação contra


podem se utilizar dos bancos reservados crianças e adolescentes, o Conselho
no transporte coletivo, já que são Tutelar também deve ser notificado
destinados às pessoas com deficiência. (DEFENSORIA PÚBLICA DO ESTADO DE
SÃO PAULO, 2011).
Por fim, quanto à discriminação
que é todo tipo de conduta que viola
os direitos das pessoas com base em
critérios injustificados e injustos como
cor, religião, orientação se¬xual, idade,
aparência, doenças e deficiências, entre
36

Guarde...

No DSM – IV, o autismo está inserido conjunto de condutas e deve ser caracte-
na categoria de Transtorno Global do De- rizado de acordo com a gravidade, leve,
senvolvimento, junto com Transtorno de moderada e severa.
Rett, Transtorno Desintegrativo da Infân-
Com essa mudança, alguns trans-
cia (síndrome de Heller, demência infantil
tornos como Síndrome de Asperger, por
ou psicose desintegrativa), Transtorno de
exemplo, passam a não ter mais uma clas-
Asperger, Transtorno Invasivo do Desen-
sificação separada do autismo, sendo as-
volvimento sem Outra Especificação.
sim, vistos como um Transtorno de Espec-
Na CID 10, o autismo também é tro do Autismo com níveis que variam.
classificado como um Transtorno Global
As mudanças na forma de enxer-
do desenvolvimento. Fazem parte des-
gar o autismo aconteceram por conta de
sa classificação: Autismo Infantil, Au-
todos os avanços nos estudos sobre o
tismo Atípico, Síndrome de Rett, Outro
transtorno e também pela forma como a
Transtorno Desintegrativo da Infância,
gente passou a ver a transtornos mentais.
Transtorno com Hipercinesia Associada a
Muita coisa ainda está por conhecer, como
Retardo Mental e a Movimentos Estere-
por exemplo, a causa do autismo, porém,
otipados, Síndrome de Asperger, Outros
é inegável o quanto buscamos saber so-
Transtornos Globais do Desenvolvimento,
bre o autismo em tão pouco tempo, e é o
Transtornos Globais não Especificados do
maior conhecimento sobre ele que fará
Desenvolvimento (TID SOE).
com que as pessoas diagnosticadas com o
Hoje o autismo é conhecido como transtorno tenham uma qualidade de vida
Transtorno do Espectro do Autismo, des- cada vez melhor.
crito assim na mais nova edição do Manual
Diagnóstico e Estatístico de Transtornos
Mentais, o DSM-5 (2013), da Associação
de Psiquiatria Americana. Nele, o autismo
passa a ser visto como um espectro, ou
seja, o transtorno passa a ser visto por um
37

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de Pública 1991; 25: 407-17.

MELLO, Ana Maria S de et al. Retratos


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de Direitos Humanos da Presidência da
República, 2013. Disponível em: http://
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MENEZES, Ebenezer Takuno de; SAN-


TOS, Thais Helena dos. Condutas típicas
(verbete). Dicionário Interativo da Educa-
ção Brasileira - EducaBrasil. São Paulo: Mi-
diamix Editora, 2002.

ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DA SAÚDE.


Classificação Estatística Internacional de
Doenças e Problemas Relacionados à Saú-
de: CID-10 Décima revisão. Trad. do Centro
Colaborador da OMS para a Classificação
de Doenças em Português. 3 ed. São Pau-
40

ANEXOS

ANEXO 1 Síndrome de Kanner.

ÍNTEGRA DA CLASSIFICAÇÃO DOS TGD, Transtorno autístico.

DE ACORDO COM A CID-10 Exclui:

F84 Transtornos globais do desen- Psicopatia autista (F84.5).


volvimento
Grupo de transtornos caracterizados F84.1 Autismo atípico
por alterações qualitativas das intera-
ções sociais recíprocas e modalidades de Transtorno global do desenvolvimen-
comunicação e por um repertório de inte- to, ocorrendo após a idade de três anos
resses e atividades restrito, estereotipa- ou que não responde a todos os três gru-
do e repetitivo. Estas anomalias qualitati- pos de critérios diagnósticos do autismo
vas constituem uma característica global infantil. Esta categoria deve ser utiliza-
do funcionamento do sujeito, em todas as da para classificar um desenvolvimento
ocasiões. anormal ou alterado, aparecendo após a
idade de três anos, e não apresentando
Usar código adicional, se necessário, manifestações patológicas suficientes
para identificar uma afecção médica as- em um ou dois dos três domínios psicopa-
sociada e o retardo mental. tológicos (interações sociais recíprocas,
comunicação, comportamentos limitados,
F84.0 Autismo infantil
estereotipados ou repetitivos) implicados
Transtorno global do desenvolvimento no autismo infantil; existem sempre ano-
caracterizado por a) um desenvolvimen- malias características em um ou em vários
to anormal ou alterado, manifestado an- destes domínios. O autismo atípico ocorre
tes da idade de três anos; e, b) apresen- habitualmente em crianças que apresen-
tando uma perturbação característica tam um retardo mental profundo ou um
do funcionamento em cada um dos três transtorno específico grave do desenvol-
domínios seguintes: interações sociais, vimento de linguagem do tipo receptivo.
comunicação, comportamento focalizado
Psicose infantil atípica
e repetitivo. Além disso, o transtorno se
acompanha comumente de numerosas Retardo mental com características au-
outras manifestações inespecíficas, por tísticas.
exemplo, fobias, perturbações de sono ou
da alimentação, crises de birra ou agressi- Usar código adicional (F70-F79), se ne-
vidade (autoagressividade). cessário, para identificar o retardo men-
tal.
Autismo infantil.

Psicose.
41

F84.2 Síndrome de Rett uma encefalopatia; o diagnóstico, contu-


do, deve tomar por base as evidências de
Transtorno descrito até o momento
anomalias do comportamento.
unicamente em meninas, caracterizado
por um desenvolvimento inicial aparente- Demência infantil.
mente normal, seguido de uma perda par-
Psicose: desintegrativa; simbiótica.
cial ou completa de linguagem, da marcha
e do uso das mãos, associado a um retar- Síndrome de Heller.
do do desenvolvimento craniano e ocor-
Usar código adicional, se necessário,
rendo habitualmente entre 7 e 24 meses.
para identificar a afecção neurológica as-
A perda dos movimentos propositais das
sociada.
mãos, a torsão estereotipada das mãos e
a hiperventilação são características des- Exclui:
te transtorno. O desenvolvimento social
Síndrome de Rett (F84.2).
e o desenvolvimento lúdico estão deti-
dos enquanto o interesse social continua
em geral conservado. A partir da idade de
quatro anos manifesta-se uma ataxia do
F84.4 Transtorno com hipercinesia
associada a retardo mental e a movi-
tronco e uma apraxia, seguidas frequen-
mentos estereotipados
temente por movimentos coreoatetósi-
cos. O transtorno leva quase sempre a um Transtorno mal definido cuja validade
retardo mental grave. nosológica permanece incerta. Esta cate-
goria se relaciona a crianças com retardo
mental grave (QI abaixo de 34), associado
F84.3 Outro transtorno desintegrati- à hiperatividade importante, grande per-
vo da infância turbação da atenção e comportamentos
estereotipados. Os medicamentos esti-
Transtorno global do desenvolvimento
mulantes são habitualmente ineficazes
caracterizado pela presença de um perí-
(diferentemente daquelas com QI dentro
odo de desenvolvimento completamente
dos limites normais) e podem provocar
normal antes da ocorrência do transtorno,
uma reação disfórica grave (acompanha-
sendo que este período é seguido de uma
da por vezes de um retardo psicomotor).
perda manifesta das habilidades anterior-
Na adolescência, a hiperatividade dá lu-
mente adquiridas em vários domínios do
gar em geral a uma hipoatividade (o que
desenvolvimento no período de alguns
não é habitualmente o caso de crianças
meses. Estas manifestações são acompa-
hipercinéticas de inteligência normal).
nhadas tipicamente de uma perda global
Esta síndrome se acompanha, além disso,
do interesse com relação ao ambiente,
com frequência, de diversos retardos do
condutas motoras estereotipadas, repeti-
desenvolvimento, específicos ou globais.
tivas e maneirismos e de uma alteração do
Não se sabe em que medida a síndrome
tipo autístico da interação social e da co-
comportamental é a consequência do re-
municação. Em alguns casos, a ocorrência
tardo mental ou de uma lesão cerebral or-
do transtorno pode ser relacionada com
gânica.
42

F84.5 Síndrome de Asperger


Transtorno de validade nosológica in-
certa, caracterizado por uma alteração
qualitativa das interações sociais recípro-
cas, semelhante à observada no autismo,
com um repertório de interesses e ativi-
dades restrito, estereotipado e repetiti-
vo. Ele se diferencia do autismo essencial-
mente pelo fato de que não se acompanha
de um retardo ou de uma deficiência de
linguagem ou do desenvolvimento cog-
nitivo. Os sujeitos que apresentam este
transtorno são em geral muito desajei-
tados. As anomalias persistem frequen-
temente na adolescência e idade adulta.
O transtorno se acompanha por vezes
de episódios psicóticos no início da idade
adulta.

Psicopatia autística.

Transtorno esquizóide da infância.

F84.8 Outros transtornos globais do


desenvolvimento.
F84.9 Transtornos globais não espe-
cificados do desenvolvimento.
43

ANEXO 2
QUADRO COMPARATIVO CID-10, DSM-IV, DSM-V

CID-10 DSV-IV DSM-V


F84: TRANSTORNOS GLO- TRANSTORNOS GLOBAIS TRANSTORNOS DO ESPEC-
BAIS DO DESENVOLVIMEN- DO DESENVOLVIMENTO TRO AUTISTA (TEA)
TO Transtorno Autista Grau leve
F84.0 Autismo Infantil Transtorno de Rett Grau moderado
F84.1 Autismo Atípico Transtorno Desintegrativo Grau severo
F84.2 Síndrome de Rett da Infância
F84.3 Outro Transtorno (síndrome de Heller, de-
Desintegrativo da Infância mência infantil ou psicose
F84.4 Transtorno com desintegrativa)
Hipercinesia Associada a Transtorno de Asperger
Retardo Mental e a Movi- Transtorno Invasivo do De-
mentos Estereotipados senvolvimento Sem Outra
F84.5 Síndrome de Asper- Especificação.
ger
F84.8 Outros Transtornos
Globais do Desenvolvimen-
to
F84.9 Transtornos Globais
não Especificados do De-
senvolvimento (TID SOE).
44

ANEXO 3 4. Rain Man

SUGESTÃO DE FILMES PARA CO- Ano: 1988

NHECER O AUTISMO Duração: 132 min.

1. Autismo – O Musical Rapaz (Tom Cruise) viaja a asilo e des-


cobre que tem um irmão autista (Dustin
Ano: 2010
Hoffman) para quem o pai deixou toda sua
Duração: 165 min fortuna. Resolve então ‘raptar’ o irmão
para tentar forçar um ‘acordo’ financeiro
O filme acompanha os esforços de 11 com os tutores do irmão, porém em sua
crianças autistas que se preparam para viagem de volta, passa a conhecer as di-
montar um musical ao vivo em Los Ange- ficuldades e os ‘dons’ do irmão e surge um
les. sentimento de amor e carinho. Oscars de
2.Temple Grandin melhor filme, ator, direção e roteiro. Inspi-
rando em vários autistas adultos.
Ano: 2010
5. Meu Filho Meu mundo (Son-Rise, A
Duração: 120 min miracle of Love)
Cinebiografia da jovem autista Temple Ano: 1979
Grandin (Claire Danes) que tinha sua ma-
neira particular de ver o mundo, se dis- Duração: 98 min
tanciou dos humanos, mas chegou a con- Raun parecia um saudável bebê, mas
seguir, entre outras conquistas, defender com o passar do tempo, vai ficando claro o
seu doutorado. Com uma percepção de porquê de seu ar sempre ausente: ele so-
vida totalmente diferenciada, dedicou-se fre de autismo. Começa então o comoven-
aos animais e revolucionou os métodos de te e difícil trabalho dos pais para penetrar
manejo do gado com técnicas que surpre- no mundo particular de Raun. História au-
enderam experientes criadores e ajuda- tobiográfica da família que fundou o mé-
ram a indústria da pecuária americana. todo Son-rise.
3. Um Amigo Inesperado (After Tho- 6. Molly Experimentando a Vida
mas) (Molly)
Ano: 2006 Ano: 1999
Duração: 93 min Duração: 102 min
Kyle Gram é um menino frágil que sofre Molly McKay é uma mulher de 28 anos
de autismo. Seus pais fazem de tudo para que é intelectualmente “lenta”, pois sofre
tentar se comunicar com ele, até que um de autismo desde a infância. Ainda muito
cachorro chamado Thomas consegue criar jovem foi internada, mas agora, com o fe-
uma relação com o menino que o ajudará a chamento da instituição, Buck McKay, seu
escapar do seu silêncio. irmão, fica com sua guarda. Buck não a via
desde quando ela era criança, assim ape-
45

sar de irmãos eram dois estranhos. Além 9. Adam


disto, Buck está atravessando problemas
Ano: 2009
em sua vida profissional. Quando Buck
fica sabendo através dos médicos de uma Duração: 99 min
arriscada cirurgia experimental que pode
curar Molly, ele dá seu consentimento. A Adam (Hugh Dancy) é um jovem nasci-
operação é um sucesso e Molly deixa de do com Síndrome de Asperger que vivem
sofrer de autismo, sendo que paralela- em Manhattan. Seus pais morreram, mas
mente revela um genial intelecto. Mas a ele tem um amigo Harlan (Frankie Faison),
intensa concentração da sua personali- que está sempre lá para Adam. Ele tem di-
dade autista permanece e Buck constata ficuldades de comunicar com os outros e
que a nova Molly vai enfrentar outro gran- gosta de fugir para o seu amor pela explo-
de desafio. ração do espaço. Quando Beth (Rose Byr-
ne), uma professora da escola, se muda
7.Uma Família Especial (Magnifi- para o apartamento em cima dele, ele co-
cent 7) meça a construir o relacionamento pesso-
Ano: 1985 al com ela que ele tão desesperadamente
desejos.
Duração: 84 min.
10. Um certo olhar
Dos sete filhos de Maggi, quatro são
Ano: 2006
autistas em maior ou menor grau. Deter-
minada, Maggi empreende então uma Duração: 112 minutos
surpreendente luta, repleta de momen-
tos mágicos, alegres e tristes, para ajudar Quando Alex (Alan Rickman) relutante-
seus filhos especiais a ter uma vida feliz. mente decide dar boleia à jovem e ener-
Drama baseado na história de Jackie Jack- gética Vivienne (Emily Hampshire), mal
son. imagina que o mundo dele irá virar-se do
avesso. Durante a viagem, eles sofrem um
8. O Balão Preto (The Black Baloon) terrível acidente de automóvel e Vivienne
tem morte instantânea. Alex visita a mãe
Ano: 2008
de Vivienne, Linda (Sigourney Weaver), e
Duração: 97 min vem a descobrir que esta é autista; e mes-
mo compreendendo o sucedido, ela não
Quando Thomas e sua família mudam-
demonstra qualquer emoção. Aos poucos
-se para uma nova casa ele tem de come-
Alex começa a compreender e a sentir ca-
çar em uma nova vida, nova escola, tudo
rinho por Linda, mas à medida que o fune-
que ele quer é que continue a normalidade
ral de Vivienne se aproxima os segredos
de sua vida Quando sua mãe fica grávida,
obscuros do passado de Alex emergem.
seu pai Simon o coloca para cuidar de seu
Com a ajuda e compreensão de Maggie
irmão mais velho Charlie, que é autista
(Carrie-Anne Moss), e com a visão única de
Linda em relação ao mundo, ele consegue
reconciliar-se com o seu passado possibi-
litando-o de confrontar tanto a tristeza
46

como o rancor que foram crescendo nele. provocar uma situação com consequên-
cias nefastas.
11. O menino e o cavalo
13. Forrest Gump – O contador de
Ano: 2009
historias
Duração: 93 min.
Ano: 1994
Rupert Isaacson tinha sonhado o me-
Duração: 142 minutos
lhor para o filho, imaginava as brincadei-
ras, as conversas, os passeios… Depois Quarenta anos da história dos Estados
de Rowan nascer, porém, começou a per- Unidos, vistos pelos olhos de rapaz com
ceber que o seu sonho nunca se iria rea- QI abaixo da média que, por obra do aca-
lizar. O menino não falava, não reagia, re- so, consegue participar de momentos cru-
fugiava-se no seu mundo, fechado numa ciais, como a Guerra do Vietnã e Waterga-
concha invisível. Era autista. O Menino e te.
o Cavalo é a história real, extraordinária,
14. Documentário – Coragem de
de um pai que vai até aos confins do mun- mãe: falando sobre o autismo (A Mo-
do para curar o filho. É a aventura de uma ther’s Courage: Talking Back to Au-
família única, que arrisca tudo, movida por tism)
uma fé inabalável. E que, nas distantes
estepes da Mongólia, consegue finalmen- Ano: 2011
te o milagre de abrir a concha, e entrar no http://www.amotherscourage.org/
mundo misterioso de Rowan. the-film- ainda não lançado no Brasil.
12. Querido John (Dear John) 15. Ocean Heaven
Ano: 2010 Ano: 2010
Duração: 105 min. Duração: 96 minutos
Dirigido por Lasse Hallström e baseado A história do amor incansável de um
no romance do aclamado autor Nicholas pai pelo seu filho autista, Dafu, que pare-
Sparks, Dear John conta a história de John ce distraído, repete o que as pessoas lhe
Tyree (Channing Tatum), um jovem solda- dizem, nada com maestria, mantém tudo
do que foi para casa durante uma licença em casa em lugares determinados e tal-
e de Savannah Curtis (Amanda Seyfried), vez não esteja totalmente ciente da mor-
a jovem universitária idealista por quem te de sua mãe, ocorrida há alguns anos.
ele se apaixona durante as férias de fa- Disponível em: http://www.revistaautis-
culdade. Durante os próximos sete tu- mo.com.br/livros-e-filmes-sobre-autismo
multuosos anos, o casal é separado pelas
missões cada vez mais perigosas de John.
Apesar de se encontrarem apenas espo-
Alguns sites sugestivos para, além de
radicamente, o casal mantém o contato
informações, atividades sensoriais, es-
por meio de uma enxurrada de cartas de
truturadas, estratégias para serem usa-
amor. Essa correspondência acaba por
das e ferramentas de apoio:
47

https://nadjafavero.wordpress.com/
:atividades sensoriais e estruturadas que
servirão de apoio para o trabalho com TEA.

http://downloads.autismoerealidade.
org/estrategias-para-serem-usadas-em-
-casahttp://autismoerealidade.org/ferra-
mentas-de-apoio/downloads/

http://autismoerealidade.org/videos-
-sobre-autismo/

http://autismoerealidade.org/artigos-
-sobre-autismo/

http://autismoerealidade.org/filmes-
-sob
48

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