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SUMÁRIO
Plenário
Cancelamento de título de eleitor: revisão eleitoral e biometria
Fundo Partidário e recursos destinados às candidaturas de mulheres – 2
ECA e competências da Justiça do Trabalho - 3
Repercussão Geral
Responsabilidade civil do Estado e dever de fiscalizar
1ª Turma
Audiência de custódia e trancamento da ação penal
Cerceamento de defesa e nulidade de intimação
Reparação econômica a anistiado: MS e valores retroativos - 2
2ª Turma
Competência legislativa municipal: interesse local e defesa do consumidor
Clipping da Repercussão Geral
Inovações Legislativas
Outras Informações
PLENÁRIO
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A revisão eleitoral se destina a manter a integridade e a atualização do alistamento. Ambos
possuem idêntico propósito e geram as mesmas limitações constitucionais. Se é válido condicionar o
exercício do voto ao alistamento, é válido condicioná-lo à apresentação do título à revisão.
De acordo com normas do TSE, a regulamentar a legislação em vigor, é atribuído ao Tribunal
Regional Eleitoral (TRE) o encargo de definir os locais que passarão pela revisão, que é precedida de
ampla divulgação e da publicação de edital, dando ciência à população da necessidade de
comparecimento. Ela pode ocorrer em virtude de denúncia fundamentada de fraude ou, de ofício, com
fulcro em dados estatísticos, desde que preenchidos certos requisitos [Lei das Eleições (Lei 9.504/1997),
art. 92 (3)].
O procedimento de revisão e de cadastramento biométrico obrigatório é acompanhado pelo
Ministério Público e pelos partidos políticos. O fato de alguém não comparecer à biometria não resulta
automaticamente na perda do título.
O funcionamento da revisão e a possibilidade de se cancelar o título baseiam-se em lei. Eventuais
cancelamentos são objetos de sentença eleitoral, comportam recurso e permitem a regularização do eleitor
a tempo de participar da eleição. Desse modo, a legislação e o tratamento normativo secundário dado à
matéria, em abstrato, são regras razoáveis, proporcionais e necessárias, compatíveis com a Constituição.
As dificuldades enfrentadas pelo cidadão para o alistamento são semelhantes aos obstáculos para a
apresentação de títulos à revisão. Inexiste qualquer elemento que sugira ter havido direcionamento, quer
na revisão eleitoral, quer no cancelamento de inscrições, muito menos que tenha gerado supressão
desproporcional de títulos e/ou de eleitores, ou prejuízo à eleição de determinados candidatos ou partidos.
Com lastro constitucional e legal e sem existir vício na sua concretização, não há ofensa à
democracia, à soberania popular, à cidadania ou ao direito de voto em decorrência do cancelamento do
título do eleitor que não comparece à revisão.
Ademais, não é legítimo o argumento de violação à igualdade. Tal como o alistamento, a revisão
eleitoral é exigida de todos, sem exceção nem discriminação.
O relator ponderou inexistir ofensa à proporcionalidade. A medida é adequada e necessária, não
havendo meio substitutivo com eficácia equivalente, tampouco fundamento para se afirmar que o
benefício de se evitarem fraudes e outros comprometimentos à regularidade do voto é menos importante
do que a participação dos que não atenderam ao chamado da Justiça Eleitoral.
Demais disso, a Lei 7.444/1985 está em vigor há mais de trinta anos. A biometria tem sido
implementada há quase onze anos. Múltiplas eleições se processaram sob a vigência de tais normas.
Milhões de títulos foram cancelados sem que se tivesse demonstrado o comprometimento do devido
processo democrático ou da higidez dos pleitos. O ajuizamento tardio da ação, às vésperas da eleição e
após tantos anos, compromete a alegação de urgência.
Presente, contudo, gravíssimo periculum in mora inverso. O restabelecimento dos títulos
cancelados para o primeiro ou segundo turno do sufrágio de 2018, comprometeria o calendário eleitoral,
consoante informações da presidência do TSE, colocaria em risco a higidez das eleições e poderia
interferir sobre o seu resultado final.
O ministro Alexandre de Moraes aduziu que a Lei de 1985 não fala em biometria, e sim em
recadastramento. Os recadastramentos sempre foram realizados, a diferença agora é o método, a
biometria.
Vencido o ministro Edson Fachin, no tocante à conversão, e os ministros Ricardo Lewandowski e
Marco Aurélio, que concederam a medida liminar e converteram o julgamento em definitivo para assentar
a procedência da ADPF.
O ministro Ricardo Lewandowski considerou que a providência adotada pelo TSE pode restringir
de maneira drástica o princípio da soberania popular previsto no art. 14 da CF. A seu ver, o número
significativo de títulos cancelados pode influir de forma decisiva no resultado do pleito.
O ministro Marco Aurélio salientou que a ausência de identificação biométrica não impede a
identificação dos eleitores, segundo o caderno da seção e o documento que apresentem. Para ele, há
descumprimento de preceito fundamental quando se adota resolução do TSE em detrimento do sufrágio
(CF, art. 14). A Lei das Eleições previu a biometria, sem cogitar qualquer sanção.
(1) CF: “Art. 14. A soberania popular será exercida pelo sufrágio universal e pelo voto direto e secreto, com valor igual
para todos, e, nos termos da lei, mediante: (...) § 1º O alistamento eleitoral e o voto são: I - obrigatórios para os maiores de dezoito
anos; II - facultativos para: a) os analfabetos; b) os maiores de setenta anos; c) os maiores de dezesseis e menores de dezoito anos.”
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(2) Lei 7.444/1985: “Art. 3º - A revisão do eleitorado prevista no art. 2º desta Lei far-se-á, de conformidade com instruções
baixadas pelo Tribunal Superior Eleitoral, mediante a apresentação do título eleitoral pelos eleitores inscritos na Zona e
preenchimento do formulário adotado para o alistamento de que trata o art. 1º. (...) § 4º - Em cada Zona, vencido o prazo de que trata
o § 1º deste artigo, cancelar-se-ão as inscrições correspondentes aos títulos que não forem apresentados à revisão.”
(3) Lei 9.504/1997: “Art. 92. O Tribunal Superior Eleitoral, ao conduzir o processamento dos títulos eleitorais, determinará
de ofício a revisão ou correição das Zonas Eleitorais sempre que: I - o total de transferências de eleitores ocorridas no ano em curso
seja dez por cento superior ao do ano anterior; II - o eleitorado for superior ao dobro da população entre dez e quinze anos, somada à
de idade superior a setenta anos do território daquele Município; III - o eleitorado for superior a sessenta e cinco por cento da
população projetada para aquele ano pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística - IBGE.”
ADPF 541 MC/DF, rel. Min. Roberto Barroso, julgamento em 26.9.2018. (ADPF-541)
Parte 1: Parte 1:
Parte 2: Parte 2:
O Plenário iniciou julgamento de embargos de declaração opostos pela Mesa da Câmara dos
Deputados contra acórdão que julgou procedente ação direta em que se discutiu a distribuição de recursos
do Fundo Partidário destinados ao financiamento das campanhas eleitorais voltadas a candidaturas de
mulheres para: a) declarar a inconstitucionalidade da expressão “três”, contida no art. 9º da Lei
13.165/2015 (1), eliminando o limite temporal até agora fixado; b) dar interpretação conforme a
Constituição ao art. 9º da Lei 13.165/2015 de modo a equiparar o patamar legal mínimo de candidaturas
femininas (hoje o do art. 10, § 3º, da Lei 9.504/1997, isto é, ao menos 30% de cidadãs), ao mínimo de
recursos do Fundo Partidário a lhes serem destinados, que deve ser interpretado como também de 30% do
montante do Fundo alocado a cada partido, para as eleições majoritárias e proporcionais, e fixar que,
havendo percentual mais elevado de candidaturas femininas, o mínimo de recursos globais do partido
destinados a campanhas lhe seja alocado na mesma proporção; e c) declarar a inconstitucionalidade, por
arrastamento, do § 5º-A e do § 7º do art. 44 da Lei 9.096/1995 (2). (Informativo 894).
A parte embargante postula a modulação dos efeitos da decisão na parte relativa à declaração de
inconstitucionalidade dos §§ 5º-A e 7º do art. 44 da Lei 9.096/1995. Questiona se o julgado efetivamente
produzirá os efeitos pretendidos às candidatas mulheres. Aduz que a declaração de nulidade com efeitos
ex tunc contraria a teleologia do decisum, porquanto até então era legítimo que o partido reservasse
valores do fundo inicialmente destinados às atividades de fomento à participação das mulheres para que
fossem posteriormente utilizados para as campanhas eleitorais. Caso mantida a decisão, os partidos não
poderiam fazer uso dos recursos do fundo partidário para as campanhas femininas. Esse prognóstico
contraria o escopo do próprio julgamento, pois as mulheres podem ver suas candidaturas inviabilizadas
devido ao desabastecimento financeiro.
De início, o Tribunal, por maioria, não conheceu dos embargos de declaração, ao fundamento de
que ainda não houve a publicação do acórdão que julgou a ação direta de inconstitucionalidade, vencidos
os ministros Luiz Fux, Alexandre de Moraes, Ricardo Lewandowski e Marco Aurélio, que conheciam do
recurso. No entanto, o Colegiado admitiu, de ofício, a possibilidade de apreciação do pedido de
modulação de efeitos, vencido o ministro Marco Aurélio.
Em seguida, com relação exclusivamente aos efeitos temporais da declaração de
inconstitucionalidade por arrastamento dos §§ 5º-A e 7º do art. 44 da Lei 9.096/1995, o ministro Edson
Fachin (relator) propôs a sua modulação a fim de assegurar que, sem que haja a redução do percentual de
30% do montante do Fundo alocado a cada partido para as candidaturas femininas, os recursos
financeiros de anos anteriores acumulados nas contas específicas sejam adicionalmente transferidos para
as contas individuais das candidatas no financiamento de suas campanhas eleitorais no pleito geral de
2018. Essa proposta foi acompanhada pelos ministros Alexandre de Moraes, Roberto Barroso, Rosa
Weber, Luiz Fux, Cármen Lúcia e Dias Toffoli.
Por sua vez, o ministro Ricardo Lewandowski votou pela rejeição da modulação de efeitos, e o
ministro Marco Aurélio se manifestou contrário à deliberação da questão.
Em seguida, o julgamento foi suspenso para colher, em assentada posterior, os votos dos ministros
Celso de Mello e Gilmar Mendes.
(1) Lei 13.165/2015: “Art. 9º Nas três eleições que se seguirem à publicação desta Lei, os partidos reservarão, em contas
bancárias específicas para este fim, no mínimo 5% (cinco por cento) e no máximo 15% (quinze por cento) do montante do Fundo
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Partidário destinado ao financiamento das campanhas eleitorais para aplicação nas campanhas de suas candidatas, incluídos nesse
valor os recursos a que se refere o inciso V do art. 44 da Lei n. 9.096, de 19 de setembro de 1995.”
(2) Lei 9.096/1995: “Art. 44. Os recursos oriundos do Fundo Partidário serão aplicados: (...) V - na criação e manutenção de
programas de promoção e difusão da participação política das mulheres, criados e mantidos pela secretaria da mulher do respectivo
partido político ou, inexistindo a secretaria, pelo instituto ou fundação de pesquisa e de doutrinação e educação política de que trata
o inciso IV, conforme percentual que será fixado pelo órgão nacional de direção partidária, observado o mínimo de 5% (cinco por
cento) do total; (...) § 5º O partido político que não cumprir o disposto no inciso V do “caput” deverá transferir o saldo para conta
específica, sendo vedada sua aplicação para finalidade diversa, de modo que o saldo remanescente deverá ser aplicado dentro do
exercício financeiro subsequente, sob pena de acréscimo de 12,5% (doze inteiros e cinco décimos por cento) do valor previsto no
inciso V do “caput”, a ser aplicado na mesma finalidade. § 5º-A. A critério das agremiações partidárias, os recursos a que se refere o
inciso V poderão ser acumulados em diferentes exercícios financeiros, mantidos em contas bancárias específicas, para utilização
futura em campanhas eleitorais de candidatas do partido. § 6º No exercício financeiro em que a fundação ou instituto de pesquisa
não despender a totalidade dos recursos que lhe forem assinalados, a eventual sobra poderá ser revertida para outras atividades
partidárias, conforme previstas no “caput” deste artigo. § 7º A critério da secretaria da mulher ou, inexistindo a secretaria, a critério
da fundação de pesquisa e de doutrinação e educação política, os recursos a que se refere o inciso V do “caput” poderão ser
acumulados em diferentes exercícios financeiros, mantidos em contas bancárias específicas, para utilização futura em campanhas
eleitorais de candidatas do partido, não se aplicando, neste caso, o disposto no § 5º.”
ADI 5617 ED/DF, rel. Min. Edson Fachin, julgamento em 27.9.2018. (ADI-5617)
Parte 1:
Parte 2:
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dispositivo, evidenciam a inequívoca natureza cível da cognição desempenhada pelo magistrado, ausente
relação de trabalho a ser julgada. A análise se faz acerca das condições da representação artística. O juiz
deve investigar se essas condições atendem à exigência de proteção do melhor interesse do menor,
contida no art. 227 da CF.
O Juízo da Infância e da Juventude é a autoridade que reúne os predicados e as capacidades
institucionais necessárias para a realização de exame de tamanha relevância e responsabilidade.
Dessa forma, o art. 114, I (6) e IX, da CF, na redação dada pela Emenda Constitucional (EC)
45/2004, que estabelece a competência da Justiça do Trabalho, não alcança os casos de pedido de
autorização para participação de crianças e adolescentes em eventos artísticos, ante a ausência de conflito
atinente a relação de trabalho.
Vencida a ministra Rosa Weber que denegou a medida liminar, por não vislumbrar a presença do
requisito do fumus boni iuris a amparar a suspensão da eficácia da expressão “inclusive artístico”. A
ministra não constatou inconstitucionalidades formal ou material nos atos impugnados.
Segundo ela, as normas em questão visam somente promover a implementação de requisitos
operacionais imprescindíveis ao exercício da competência prevista, em razão da matéria, no art. 114 da
CF. Não implicam, absolutamente, alteração da organização ou da divisão judiciária, estas
inequivocamente dependentes de lei, não criam órgão judicial, nem inovam quanto às atribuições da
justiça do trabalho, e, muito menos, instituem novas regras de competência judiciária.
A ministra Rosa Weber, depois de apontar a diferença entre o pedido de autorização para trabalho
infantil e o de autorização para participação de crianças e adolescentes em eventos artísticos, concluiu,
também, que as normas impugnadas se referem à primeira hipótese, e, por isso, a competência para sua
análise é da justiça do trabalho.
Esclareceu que os pedidos de autorização, em regra, são formulados por empresas de comunicação
com vistas à autorização para o trabalho de crianças e adolescentes, as quais, nessa ocasião, apresentam a
minuta do contrato de trabalho que regulará a relação de trabalho. A finalidade da ordem judicial se
insere, invariavelmente, em uma relação de trabalho. Não se cuida de pedido de autorização para a
criança se apresentar em eventos artísticos, como, por exemplo, um festival de música, de dança, ou um
concurso de beleza, esse sim de competência da justiça comum.
Ressaltou que essa relação de trabalho artístico infanto-juvenil, portanto, não se refere às relações
estabelecidas no art. 149 do ECA, mas à relação de trabalho com um tomador de serviços ou entre
empregado e empregador, na qual a criança ou o adolescente laboram mediante contraprestação, em
contexto de alteridade, que se inclui na previsão do art. 114, da CF, com a redação dada pela EC 45/2004.
(1) CF: “Art. 22. Compete privativamente à União legislar sobre: I - direito civil, comercial, penal, processual, eleitoral,
agrário, marítimo, aeronáutico, espacial e do trabalho;
(2) CF: “Art. 113. A lei disporá sobre a constituição, investidura, jurisdição, competência, garantias e condições de
exercício dos órgãos da Justiça do Trabalho.”
(3) CF: “Art. 114. Compete à Justiça do Trabalho processar e julgar: (...) IX - outras controvérsias decorrentes da relação de
trabalho, na forma da lei.”
(4) CF: “Art. 227. É dever da família, da sociedade e do Estado assegurar à criança, ao adolescente e ao jovem, com
absoluta prioridade, o direito à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao
respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária, além de colocá-los a salvo de toda forma de negligência, discriminação,
exploração, violência, crueldade e opressão. (...) § 8º A lei estabelecerá: I - o estatuto da juventude, destinado a regular os direitos
dos jovens;”
(5) ECA: “Art. 149. Compete à autoridade judiciária disciplinar, através de portaria, ou autorizar, mediante alvará: (...) II - a
participação de criança e adolescente em: a) espetáculos públicos e seus ensaios; b) certames de beleza.”
(6) CF: “Art. 114. Compete à Justiça do Trabalho processar e julgar: I - as ações oriundas da relação de trabalho,
abrangidos os entes de direito público externo e da administração pública direta e indireta da União, dos Estados, do Distrito Federal
e dos Municípios;”
REPERCUSSÃO GERAL
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Responsabilidade civil do Estado e dever de fiscalizar
O Plenário iniciou julgamento de recurso extraordinário (Tema 366 da repercussão geral) em que
se discute a existência de responsabilidade civil do Estado por danos decorrentes de omissão do dever de
fiscalizar comércio de fogos de artifício em residência.
Após a leitura dos relatórios e a realização de sustentação oral, o julgamento foi suspenso.
PRIMEIRA TURMA
(1) CP: “Art. 288. Associarem-se 3 (três) ou mais pessoas, para o fim específico de cometer crimes: Pena - reclusão, de 1
(um) a 3 (três) anos.”
(2) Lei 8.069/1990: “Art. 244-B. Corromper ou facilitar a corrupção de menor de 18 (dezoito) anos, com ele praticando
infração penal ou induzindo-o a praticá-la: Pena - reclusão, de 1 (um) a 4 (quatro) anos.”
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O impetrante sustenta a ocorrência de cerceamento de defesa e nulidade absoluta das intimações
feitas em nome de patrono já falecido.
O ministro Marco Aurélio (relator) concedeu a ordem. Reconheceu a existência de nulidade na
intimação realizada mediante publicação apenas com o nome de advogado falecido.
Em divergência, o ministro Roberto Barroso denegou a ordem, no que foi acompanhado pela
ministra Rosa Weber. Ambos rejeitaram as alegações do impetrante, tendo em conta a evolução
processual e a revisão ocorridas no presente caso, feitas em diferentes instâncias — recurso em sentido
estrito e embargos infringentes decididos por Tribunal de Justiça, além de recursos especial e
extraordinário também já julgados e com trânsito em julgado —, o que afasta a existência de teratologia.
Em seguida, com o pedido de vista do ministro Alexandre de Moraes, o julgamento foi suspenso.
SEGUNDA TURMA
A Segunda Turma, por maioria, negou provimento a agravo regimental em recurso extraordinário
em que se questionava a constitucionalidade da Lei municipal 4.845/2009, que proíbe a conferência de
produtos, após o cliente efetuar o pagamento nas caixas registradoras das empresas instaladas na cidade
de Campina Grande, e prevê sanções administrativas em caso de descumprimento.
O colegiado entendeu que a decisão agravada está de acordo com a jurisprudência do Supremo
Tribunal Federal no sentido de que os municípios detêm competência para legislar sobre assuntos de
interesse local, ainda que, de modo reflexo, tratem de direito comercial ou do consumidor.
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Ressaltou ser salutar que a interpretação constitucional de normas dessa natureza seja mais
favorável à autonomia legislativa dos municípios, haja vista ter sido essa a intenção do constituinte ao
elevá-los ao status de ente federativo em nossa Carta da República.
Essa autonomia revela-se primordialmente quando o município exerce, de forma plena, sua
competência legislativa em matéria de interesse da municipalidade, como previsto no art. 30, I (1), da
Constituição Federal (CF).
Por isso, toda interpretação que limite ou mesmo vede a atuação legislativa do município deve
considerar a primazia do interesse da matéria regulada, de modo a preservar a essencial autonomia desse
ente político no sistema federativo pátrio.
A norma local questionada se insere na competência legislativa municipal, porque diz respeito à
proteção das relações de consumo dos seus munícipes. Ela tem por objetivo evitar o constrangimento dos
particulares e de lhes proporcionar maior conforto, haja vista que impede a dupla conferência das
mercadorias e evita o enfrentamento de várias filas.
Ressaltou, ainda, que o bem-estar dos consumidores não tem relação com a atividade-fim das
instituições, razão pela qual não se constata a violação do art. 22, I, da CF (2).
Frisou inexistir, de fato, um critério objetivo que possa balizar de maneira absolutamente segura se
a matéria normatizada transcende o interesse local. Nessas circunstâncias, há de se prestigiar a vereança
local, que bem conhece a realidade e as necessidades da comunidade.
Vencidos os ministros Dias Toffoli e Gilmar Mendes, que deram provimento ao recurso.
Consideraram que a Lei municipal 4.845/2009, apesar de ter sido editada com o objetivo de resguardar
direito dos consumidores, extrapola esse escopo por tratar de matéria não qualificada pela predominância
do interesse local. Para eles, a norma resulta em restrição significativa da atividade comercial nos
estabelecimentos atacadistas, o que exige legislação de maior abrangência.
(1) CF: “Art. 30. Compete aos Municípios: I - legislar sobre assuntos de interesse local; ”
(2) CF: “Art. 22. Compete privativamente à União legislar sobre: I - direito civil, comercial, penal, processual, eleitoral,
agrário, marítimo, aeronáutico, espacial e do trabalho; ”
CLIPPING DA R E P E R C U S S Ã O G E R A L
DJe de 24 a 28 de setembro de 2018
Decisão Publicada: 1
8
INOVAÇÕES LEGISLATIVAS
24 A 28 DE SETEMBRO DE 2018
OUTRAS INFORMAÇÕES
24 A 28 DE SETEMBRO DE 2018