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DOCUMENTOS

RESUMO
AVALIAÇÃO DO ESTADO DA
ARTE DA FORMAÇÃO EM Descrição e comentários sobre a estrutura da
formação em Biblioteconomia no Brasil, focalizando
BIBLIOTECONOMIA E sobretudo o nível de graduação, que é o único
canal legalmente aceito para ingresso na profissão.
CIÊNCIA DA INFORMAÇÃO* Identifica as principais mudanças ocorridas no
currículo mínimo em 1982, determinadas pelo
Conselho Federal de Educação, e implantadas nos
cursos a partir de 1985, mediante os novos currículos
plenos. Tece considerações sobre as causas
determinantes dessas mudanças e fatores que
influenciaram a escolha das novas matérias dos
currículos mínimos, e identifica algumas dificuldades
na implementação dos novos currículos plenos.
Os cursos de mestrado existentes no Brasil nas
áreas de Biblioteconomia e Ciência da Informação,
que têm sido na prática também um canal de
entrada na profissão, ainda que não aceito
Suzana Machado Pinheiro Mueller legalmente, são identificados e descritos em suas
Departamento de Biblioteconomia linhas gerais. A influência exercida por esses cursos
Universidade de Brasília sobre os cursos de graduação e sobre a c/asse
70910 Brasília, DF profissional em geral, também é comentada.

1 - INTRODUÇÃO um novo currículo mínimo para os cursos de


Biblioteconomia, fixando o ano de 1985 como prazo
A formação de bibliotecários no Brasil, à semelhança máximo para início de implantação dos
da formação para qualquer outra profissão novos currículos plenos.
liberal, é feita mediante os cursos de graduação
oferecidos por universidades ou escolas Currículo mínimo é a denominação
isoladas, cujos currículos são regulados e devem ser dada a uma relação de matérias
aprovados pelo Ministério da Educação (assuntos) descritas mediante ementas,
(MEC). Os programas de ensino devem obedecer aos cujos conteúdos devem constituir o cerne dos
requisitos de duração e conteúdo programas de formação profissional.
estabelecidos pelo Conselho Federal de Educação Esses conteúdos são adaptados por curso, segundo
(CFE), órgão subordinado ao MEC. suas necessidades e possibilidades, dando
origem às disciplinas que formarão
parte significativa dos programas de ensino de cada
Os cursos de graduação em Biblioteconomia escola, denominados currículo pleno.
reconhecidos pelo CFE, que são hoje 30, espalhados
por todo o País, formam bacharéis em Todos os conteúdos contidos nas matérias do
Biblioteconomia e esses bacharéis são os únicos currículo mínimo devem estar presentes,
bibliotecários legalmente reconhecidos obrigatoriamente, no currículo pleno, que será
como habilitados para o exercício profissional, (ver complementado com tantos outros assuntos,
Quadro 1) quer como disciplinas ou parte de disciplinas, quando
for julgado necessário ou interessante por
Em 1982, o MEC/CFE determinou a mudança dos curso.
currículos então vigentes, ao estabelecer
A duração mínima em número de horas/aula
também é determinada pelo MEC/CFE,
* Documento elaborado através do Programa de Apoio ao
Desenvolvimento Científico e Tecnológico (PADCT),
mas as escolas têm liberdade para atribuir as cargas
Subprograma de Informação em Ciência e Tecnologia. horárias que acharem conveniente para

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matéria ou assunto. A ênfase do currículo pleno é, não são esses cursos os únicos formadores
pois, determinada pela escola, que compõe de pessoal profissional para a área. Há cursos de nível
seu currículo pleno com disciplinas derivadas das médio e pós-graduado. Especialmente estes,
matérias obrigatórias do currículo mínimo oferecidos a pessoas formadas em qualquer área do
e disciplinas que representam interesse saber, vêm aumentando sua influência e importância
da própria escola, respeitando apenas o número na formação da classe profissional.
mínimo total de horas/aula. Existem hoje cinco curso formais, regularmente
oferecidos por universidades, com programas
de ensino reconhecidos pelo MEC, que levam à
Embora sejam os cursos de graduação em obtenção do grau de Mestre em Biblioteconomia ou
Biblioteconomia o único canal para obtenção do Ciência da Informação e um curso
diploma legal que habilita à profissão de bibliotecário, em Comunicação, também devidamente reconhecido.

Quadro 1 - Instituições que mantêm curso de graduação em Biblioteconomia, por região geográfica, e data de
início dos cursos (dados de 1987)

Instituição Data Instituição Data

REGIÃO NORTE 17. Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras


1. Fundação Universidade do Amazonas. de Catanduva (SP). Curso de Biblioteco-
Departamento de Biblioteconomia 1967 nomia 1977
2. Fundação Universidade do Pará. Depar- 18. Faculdade de Biblioteconomia e Docu-
tamento de Biblioteconomia 1963 mentação Teresa D'Ávila (Lorena, SP) 1975
3. Fundação Universidade do Maranhão. 19. Universidade Estadual de São Paulo Júlio
Curso de Biblioteconomia 1969 de Mesquita Filho (Marília, SP). Curso de
REGIÃO NORDESTE Biblioteconomia e Documentação 1977
4. Universidade Federal do Ceará. Curso de 20. Instituto de Ensino Superior de Mococa
Biblioteconomia 1965 (SP). Curso de Biblioteconomia 1970
5. Universidade Federal da Paraíba. Curso de 21. Faculdades Integradas Teresa D'Ávila (S.
Biblioteconomia 1969 André, SP). Curso de Biblioteconomia 1976
6. Universidade Federal de Pernambuco. 22. Escola de Biblioteconomia e Documenta-
Departamento de Biblioteconomia 1950 ção de São Carlos (SP) 1 959
7. Universidade Federal da Bahia. Depar- 23. Faculdade de Biblioteconomia Teresa Mar-
tamento de Biblioteconomia 1942 tin (SP, SP)*

REGIÃO SUDESTE REGIÃO SUL


8. Universidade Federal do Espírito Santo. 24. Universidade Federal do Paraná. Curso de
Curso de Biblioteconomia e Documentação 1947 Biblioteconomia 1952
9. Universidade Federal de Minas Gerais. 25. Fundação Universidade Estadual de Lon-
Escola de Biblioteconomia 1950 drina (PR). Departamento de Biblioteco-
10. Fundação Universidade do Oeste de Mi- nomia 1972
nas (Formiga, MG). Escola de Bibliote- 26. Universidade para o Desenvolvimento do
conomia 1968 Estado de Santa Catarina (Florianópolis,
11. Universidades Integradas do Rio de Ja- SC). Curso de Biblioteconomia 1974
neiro, UNIRIO. Curso de Biblioteconomia 27. Universidade Federal de Santa Catarina,
e Documentação 1915 Curso de Biblioteconomia e Documentação 1973
12. Universidade de Santa Úrsula(RJ). Depar- 28. Universidade Federal do Rio Grande do
tamento de Biblioteconomia e Ciência da Sul. Departamento de Biblioteconomia 1974
Informação 1957 29. Fundação Universidade do Rio Grande
13. Universidade Federal Fluminense (Niterói, (RS). Curso de Biblioteconomia 1978
RJ). Curso de Biblioteconomia e Do-
cumentação 1963 REGIÃO CENTRO-OESTE
14. Universidade de São Paulo. Departamento 30. Universidade de Brasília. Departamento
de Biblioteconomia e Documentação 1968 de Biblioteconomia 1963
15. Fundação Escola de Sociologia e Política 31. Universidade Federal de Goiás. Departa-
de São Paulo. Escola de Biblioteconomia 1940 mento de Biblioteconomia 1980
16. Pontifícia Universidade Católica de Cam-
pinas. Faculdade de Biblioteconomia 1945 " Ainda não reconhecido pelo CFE.

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que concede graus de Mestre e Doutor em 6. identificar o impacto que esses cursos vêm
Comunicação opção Biblioteconomia *. exercendo no desempenho profissional e no ensino
da profissão.
Todos os cursos de graduação incluem em seu
nome a expressão Biblioteconomia, 2 - CURSOS DE GRADUAÇÃO EM BIBLIOTECONOMIA
segundo o requisito legal para a concessão do diploma.
2.1 -CARACTERÍSTICAS DO NOVO CURRÍCULO
No nível pós-graduado, a expressão Ciência MÍNIMO
da Informação aparece apenas no nome do antigo
curso do CNPq/IBICT, oferecido pela Os cursos de graduação em Biblioteconomia foram
Universidade Federal do Rio de Janeiro. Segundo seu introduzidos nas universidades brasileiras
coordenador, o programa oferecido por em 1962, quando a profissão foi elevada à
esse curso é mais amplo que aqueles das demais condição de "nível superior". Nesta época, e por causa
escolas, pois inclui a geração e a comunicação da disto, foi estabelecido o primeiro currículo
informação, além do seu tratamento, mínimo para os cursos, que vigorou até
que seria o objeto mais próprio da Biblioteconomia. 1 982, marcando por duas décadas, toda a formação
Na prática, no entanto, tal diferença entre profissional para Biblioteconomia no País.
vários cursos de mestrado não parece assim tão clara. Esse currículo de 1 962 se constituía de uma lista de
13 matérias, sem descrição ou comentários;
Ao contrário dos cursos de graduação, que o currículo prescrevia, também, a duração mínima de
devem conformar seus planos de ensino três anos letivos para os cursos, a qual, em
aos conteúdos estabelecidos em um currículo 1968, foi expressa em 2050 horas/aula.
mínimo, pelo MEC/CFE, os cursos de mestrado não Examinando-se a natureza dos assuntos incluídos
estão obrigados a normas tão rígidas nas matérias desse currículo mínimo,
e podem construir seus currículos com mais liberdade, é possível distinguir dois
escolhendo áreas de concentração e linhas grandes grupos, um de assuntos técnicos
de pesquisas de acordo com sua vocação e outro com conteúdo cultural e humanístico.
ou necessidade, mas devem submeter seus programas Os currículos plenos decorrentes desse mínimo
à Coordenadoria de Aperfeiçoamento seguiam muito de perto o modelo
de Pessoal de Nível Superior (Capes), órgão do MEC, proposto. Em geral, enfatizaram técnicas específicas
para aprovação. A Capes controla a qualidade como a classificação, a catalogação e a
dos cursos de pós-graduação mediante avaliações notação bibliográfica. As disciplinas culturais,
periódicas, feitas por consultores externos, muito amplas em seus programas e curtas no
geralmente docentes ou especialistas na área. tempo disponível, levaram em geral a um conhecimento
superficial e pouco significativo, frustrando
Neste documento pretende-se: a intenção da formação humanística.
1. identificar em linhas gerais as principais
caraterísticas das mudanças A insatisfação com os programas de estudo, que
ocorridas nos currículos de graduação inchavam à medida que se introduziam
em Biblioteconomia, aprovadas e determinadas novas disciplinas, numa tentativa de atualização, sem
pelo MEC/CFE em 1982; que, no entanto, algo fosse cortado, levou as
escolas a pleiteara reformulação do currículo mínimo.
2. tecer considerações sobre as razões que possam
Este movimento, que se fortaleceu nos
ter influenciado a decisão de se promover
últimos anos da década de 70, envolveu várias
tal mudança, e sobre as expectativas entre os escolas que produziram, com a aprovação das demais,
professores dos cursos de graduação uma proposta apresentada ao MEC/CFE no início
acerca do impacto que o novo currículo possa
de 1981. Quase dois anos depois, o CFE aprovou o
ter na formação profissional do bibliotecário currículo proposto, com várias modificações
brasileiro; introduzidas por um dos seus conselheiros, relator do
processo.
3. identificar e comentar alguns problemas que vêm
ocorrendo, ou que são esperados, no Ao aprovar o novo currículo, o CFE estabeleceu
processo de implantação; o prazo de dois anos para adaptações necessárias
pelas escolas, e determinou que em 1985 os novos
4. caracterizar em linhas gerais os cursos de mestrado; currículos começariam a vigorar. As escolas
optaram por uma implantação gradual, ano a ano,
5. identificar tendências no desenvolvimento avançando junto com os alunos que
dos cursos de mestrado; ingressaram no curso em 1985.

* Curso oferecido pela Universidade de São Paulo. O processo O novo currículo está, pois, em processo de
de credenciamento do doutorado está em tramitação. implantação, fato que impede uma avaliação dos seus

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resultados. Mas, uma exposição da — disseminação de informação;


composição do novo mínimo poderá contribuir para o -administração de bibliotecas.
entendimento das mudanças ocorridas.
Com exceção da primeira matéria, cujo título é
O currículo mínimo, aprovado em 1982, apresenta extremamente confuso - na proposta
suas matérias divididas em três grupos: chamava-se Informação, Biblioteca e Usuário — e
— Matérias de Fundamentação Geral; cujo conteúdo representa uma inovação
— Matérias Instrumentais; com relação ao currículo antigo, pois propõe o estudo
— Matérias de Formação Profissional.
do ambiente externo à biblioteca e
2.1.1 -Matérias de Fundamentação Geral suas relações com ela, as demais matérias propostas
não apresentam grandes novidades. Houve,
Fazem parte desse primeiro grupo três matérias, isto sim, um esforço no sentido de mudar o enfoque
cujos objetivos ou justificativas para sua inclusão no do processo de ensino e formação,
currículo seriam a de fornecer embasamento em abandonando-se a ênfase na aquisição de habilidades
áreas as quais, embora não fazendo parte da em técnicas específicas, para reforçar o
disciplina Biblioteconomia, seriam necessárias entendimento dos objetivos que tais técnicas teriam.
para a formação de profissionais competentes. Foram Assim, em vez de matérias que designam as
incluídos conhecimentos na área de técnicas a serem estudadas, como Classificação e
Comunicação porque, nela se insere a Biblioteconomia; Catalogação, ou Bibliografia e Referência, têm-se
conhecimento de aspectos sociais, políticos e Controle Bibliográfico dos Registros do Conhecimento
econômicos do Brasil contemporânea, porque e Disseminação da Informação. Pretende-se,
estão se permitiria a consciência do ambiente onde também, com a designação mais ampla,
se deverá dar a atuação profissional. Foi, permitir a atualização dos assuntos e inclusão, ao
ainda, incluída, por iniciativa do relator do processo longo do tempo, daquilo que fosse julgado conveniente.
no CFE, uma matéria denominada História da Cultura,
ambiciosa em seu conteúdo, com a justificativa de Outro traço visível nas ementas e nos objetivos das
que o conhecimento assim adquirido seria matérias de formação profissional é a
indispensável ao bom exercício da profissão. preocupação com o usuário, mencionada em três das
suas matérias.
Foi suprimida da proposta a matéria Psicologia Social,
que, na visão dos autores, daria oportunidades De maneira geral, o novo currículo mínimo parece ser
aos alunos de adquirirem conhecimentos que mais abrangente que mínimo. Preocupa-se em
os capacitassem a um melhor entendimento das garantir que as escolas incluam, em seus currículos
comunidades com quem deveriam trabalhar. plenos, desde matérias básicas de conhecimento geral
até as próprias da Biblioteconomia, e, assim
2.1.2 -Matérias Instrumentais
fazendo, tornou-se longo e pouco flexível.
As matérias instrumentais, que formam o segundo A duração mínima estabelecida foi de quatro anos
grupo, teriam a finalidade de fornecer letivos, 2 500 horas/aulas, às quais se
conhecimento e habilidades não biblioteconômicos,
deve acrescentar 10% da duração do currículo pleno
tais como línguas ou estatística, considerados adotado pela escola, que serão destinados
indispensáveis para o bom desempenho das
a um estágio. Assim, a duração mínima, de fato, é de
tarefas profissionais. Fazem parte deste grupo a 2 750 horas, que poderão ser cumpridas em
Lógica, a Língua Portuguesa e Literatura da Língua
quatro anos ou mais.
Portuguesa, Língua Estrangeira Moderna - as
escolas têm a liberdade de escolher qual a língua Tentando identificar pontos significativos de
contemporânea que incluirão no currículo pleno ou mudança ou semelhança entre os dois mínimos,
dar aos alunos o poder de escolha - e Métodos e de 1962 a 1982, percebe-se que há talvez
Técnicas de Pesquisas. A presença da Literatura da mais semelhanças que diferenças. Com exceção da
Língua Portuguesa no currículo mínimo foi matéria Paleografia, presente no documento
iniciativa do relator do processo, membro do CFE. de 1962, todas as demais matérias,
com maior ou menor destaque, cabem na lista
2.1.3 - Matérias de Formação Profissional estabelecida em 1982, (ver Quadro 2)

As matérias de formação profissional são seis, e E àquelas, o novo currículo adicionou pelo menos
mais uma vez, neste grupo, houve alteração mais cinco novas, principalmente nos grupos de
da proposta inicial. Foram estabelecidas as seguintes: formação geral e instrumentais.
— informação aplicada à Biblioteconomia;
-produção dos registros do conhecimento; A duração mínima, naturalmente, é outra diferença
- formação e desenvolvimento de coleções; evidente. Houve uma expansão de 34% em
— controle bibliográfico de registro do conhecimento; relação à duração mínima exigida anteriormente.

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Quadro 2 - Equivalência entre matérias do Currículo Mínimo - 1962 e Currículo Mínimo - 1982

CM 1962 CM 1982

Matérias de Formação Geral


1. Comunicação

1. Introdução aos estudos históricos e sociais 2. Aspectos sociais, políticos e econômicos do


Brasil contemporâneo

2. História da arte
3. Evolução do pensamento filosófico e científico 3. História da cultura
4. História da literatura

Matérias Instrumentais

4. Lógica
5. Língua portuguesa e literatura da língua
portuguesa
6. Língua estrangeira moderna
7. Métodos e técnicas de pesquisa

Matérias de Formação Profissional

5. Documentação 8. Informação aplicada à Biblioteconomia


6. História do livro e das bibliotecas 9. Produção dos registros do conhecimento
10. Formação e desenvolvimento de coleções
7. Catalogação e classificação 11. Controle bibliográfico dos registros do
conhecimento

8. Bibliografia e referência 12. Disseminação de informações

9. Organização e administração de bibliotecas 13. Administração de bibliotecas

10. Paleografia
Estágio

2.2 - RAZÕES DA MUDANÇA DE CURRÍCULO Esta intenção fica clara na frase "prover o acesso
MÍNIMO E EXPECTATíVAS SOBRE O IMPACTO eficiente à informação é a tarefa do bibliotecário"
DAS MUDANÇAS PROPOSTAS citada na página três da Proposta de Currículo
Mínimo de Biblioteconomia1. Fala-se,
também, do "descompasso entre o processo
Na exposição de motivos apresentada ao MEC/CFE de formação profissional e as expectativas
para mudança de currículo mínimo para os pela sua atuação, face às necessidades
cursos de Biblioteconomia, em documento datado de de informação no País"1.
1981 1 , que continha a proposta elaborada
.por uma comissão de professores, transparecem as
O currículo então vigente,
restrições no currículo vigente e as na opinião dos autores da proposta,
expectativas depositadas naquela proposta. representava uma barreira, especialmente, para as
escolas de menores recursos. Sentia-se a
Percebe-se, por exemplo, que o esforço foi dirigido necessidade de incluir matérias que permitissem ao
para provocar uma reorientação da "organização bibliotecário adquirir conhecimentos que o
para preservação" para "organização preparassem para o trabalho com o usuário"como os
para a difusão e uso". de Comunicação e Psicologia Social"1.

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As matérias de cunho profissional do antigo que lhe caberia como administrador de


currículo são criticadas porque "superenfatizaram informação, participante dos acontecimentos e líder
certos aspectos tradicionais em detrimento das transformações que se fariam necessárias
de outros aspectos, particularmente os surgidos face na sua área de atuação. Esse novo bibliotecário teria
aos progressos tecnológicos"1. Da ainda bem desenvolvidos a capacidade
reformulação do currículo vigente, que permitiria gerencial e o interesse pela atuação dos meios para o
dar "ênfase relativa a todos os aspectos"1, desempenho profissional. Seria criativo,
esperava-se que surgissem currículos não temeria mudanças.
plenos adaptados às características de trabalho
da região de cada escola. 2.3 -DIFICULDADES E PROBLEMAS SURGIDOS E
PREVISTOS NA IMPLANTAÇÃO DOS NOVOS
As diretrizes para o novo currículo foram baseadas CURRÍCULOS
na visão de um bibliotecário preparado para
selecionar, reunir, organizar e disseminar Evidentemente, as expectativas percebidas a
o conhecimento registrado em materiais bibliográficos respeito do novo currículo têm muito de utopia. Será
e audiovisuais, objetivando facilitar o acesso necessário muito tempo, muito amadurecimento
do usuário à informação adequada às profissional e mesmo modificação na sociedade e
suas necessidades 1 . Para tanto, segundo a no ensino para que se consiga vê-las
proposta dos professores, o bibliotecário precisaria realizadas. De qualquer forma, neste momento, ainda
de um repertório amplo de conhecimento e seria prematura qualquer avaliação, pois,
sensibilidade às condições do meio social. A relação sequer houve tempo para que se completasse a
entre o indivíduo, o conhecimento e os mudança; as escolas mais adiantadas estão no seu
suportes materiais, que registram o conhecimento, é sexto semestre, ou terceiro ano, de um total
identificada como objeto de estudo da de, no mínimo, oito semestres ou quatro anos. Mas,
Biblioteconomia e,assim sendo, por esta relação vários problemas e dificuldades têm
dinâmica e mutável, deveria o ensino da profissão sido enfrentados ou previstos e alguns deles
orientar-se em torno de princípios gerais1. serão comentados a seguir.
Previa, ainda, a proposta, a necessidade de
firmar a formação profissional do bibliotecário em A maioria das escolas convive com dois currículos:
conhecimentos fundamentais para solução o antigo, de 1 962, que vigorará até que
de problemas relativos à "produção, organização e se forme o último aluno que ingressou no curso antes
ao consumo de informação a nível institucional de 1 985, o que, legalmente, pode ocorrer
e local, com suas implicações a nível nacional" 1 . até 1 990, e o novo, de 1982, que rege os estudos dos
alunos que ingressaram no curso a partir de 1985.
As expectativas em relação ao currículo novo
incluíam estímulo para integração do bibliotecário A vigência concomitante de dois currículos tem
ao meio em que trabalha. Esta expectativa se trazido problemas operacionais que afetam também
percebe na inclusão da matéria Aspectos Sociais os objetivos propostos. Para fins administrativos, foram
Políticos e Econômicos do Brasil Contemporâneo e estabelecidas equivalências entre disciplinas
emerge também em ementas diversas dos dois currículos, e alunos pré e pós
onde o conhecimento das necessidades e hábitos 1985 podem sentar-se lado a lado, uma vez que os
dos usuários é prescrito. cursos não são seriados.

O desenvolvimento de novas tecnologias parece ter


A mudança trazida pelo novo currículo é muitas vezes
sido outro impulsionador das mudanças
relacionada ao enfoque ou atitude, não
realizadas, mas o resultado ainda não pode ser
propriamente tópicos ou temas. Muitos professores
avaliado. As desigualdades existentes entre as escolas
possuem anos de experiência, às vezes lecionando
levam a prever um desenvolvimento também
as mesmas disciplinas, que continuam sob sua
bastante desigual, com algumas escolas
responsabilidade. Percebe-se que inovações, nesses
se modernizando bastante e outras caminhando a
casos, virão gradualmente, lentamente. O
passos bem mais lentos.
processo talvez se beneficiasse com um programa de
O desejo de capacitar os bibliotecários como renovação dedicado aos professores, orientado
administradores é fator perceptível na proposta do não por escolas, mas por assuntos.
currículo novo.
Nas disciplinas desenvolvidas a partir das
As esperanças depositadas no novo currículo foram Matérias de Formação Geral e Instrumentais, as
muitas e poderiam ser resumidas na visão de escolas de Biblioteconomia têm, em geral,
uma profissão voltada para a sociedade, consciente recorrido aos demais departamentos da universidade.
dos problemas do País e do papel profissional Esse procedimento, propiciando aos alunos

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de Biblioteconomia oportunidade de convivência com Tentando dar uma visão geral dos problemas e
alunos de outras áreas, deveria contribuir expectativas que o novo mínimo e sua
para sua integração ao meio acadêmico, adaptação em currículos plenos vêm causando,
em antecipação às exigências crescentes de seu talvez se pudesse dizer que os problemas ainda são
futuro trabalho profissional que cada vez mais requer muito ligados ao lado operacional e
a presença de equipes interdisciplinares. administrativo. Isto vem causando adaptação
Tem sido notada em segmentos da classe profissional das disciplinas antigas aos novos títulos, sem que
uma certa timidez em relação às outras haja modificações muito grandes nos conteúdos, As
profissões, especialmente quando lhe deveria caber expectativas de mudança, por outro lado,
a chefia ou responsabilidade principal por talvez tenham diminuído. Otimisticamente, essa
um trabalho ou projeto. fase inicial de implantação será sucedida pelas
transformações de filosofia que realmente se almejou
As disciplinas oriundas das Matérias de Formação na formação profissional, pois se percebe o
Geral demonstram que a maioria das escolas desejo de mudança. Parece faltar a oportunidade.
optou por abordagens relativamente breves de assuntos
que, numa primeira avaliação do currículo 3 - CURSOS DE PÓS-GRADUAÇÃO
mínimo aprovado, seriam bastante abrangentes.
Espera-se que os objetivos sejam, apesar 3.1 -CARACTERIZAÇÃO DOS CURSOS
disto, atingidos. A alternativa, ou seja, uma maior
porcentagem de horas do curso destinada às Matérias Funcionam hoje, no Brasil, seis cursos formais no
de Formação Geral, iria com certeza prejudicar nível de pós-graduação, nas áreas de Biblioteconomia
a parte dita "profissional" ou alongar o e Ciência da Informação, concedendo aos
curso em demasia. alunos que os complementam com sucesso o grau de
Mestre. Um desses cursos fez parte, como
As disciplinas oriundas das Matérias Instrumentais área de concentração, de um programa de Ciências
têm recebido cargas horárias razoáveis, talvez da Comunicação. É o curso instalado na Universidade
por se perceber, a curto prazo, sua utilidade. de São Paulo, onde também é oferecido um
programa de Doutorado nas mesmas condições. Os
As Matérias de Formação Profissional, como demais cursos funcionam nas universidades federais
explicitadas no novo currículo, permitem renovação, da Paraíba (UFPb), Rio de Janeiro (UFRJ) e
mas vêm apresentando alguns problemas. Minas Gerais (UFMG), na Universidade de Brasília
Os professores de algumas escolas não se sentem (UnB) e na Pontifícia Universidade Católica
muito preparados para efetuar mudanças de Campinas (PUCCAMP), SP. (Quadro 3)
a curto prazo. 0 1º Encontro Nacional de Ensino de
Biblioteconomia e Ciência da Informação (1º Todos os cursos de mestrado são reconhecidos e
ENEBCI), realizado em Recife, em fevereiro de 1986, regulados pelo MEC. O programa de doutorado
identificou alguns problemas que revelam uma certa está com seu processo de credenciamento
perplexidade em relação aos rumos que em tramitação.
a Biblioteconomia vem tomando.
O mais antigo desses cursos data de 1970.
Diz o documento: Foi criado pelo Conselho Nacional de
"O que se deve buscar hoje no ensino da Desenvolvimento Científico e Tecnológico
Biblioteconomia é a recuperação de definição da (CNPq) e mantido pelo então Instituto Brasileiro de
profissão de bibliotecário, definição já Bibliografia e Documentação (IBBD), hoje
reconhecida pela tradição e pela história, de que Instituto Brasileiro de Informação em Ciência e
Biblioteconomia é o ofício de organizar Tecnologia (IBICT). Funciona, atualmente,
coleções bibliográficas para seu uso e disseminação na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ),
e que isto implica numa biblioteca".2. integrado na estrutura curricular e acadêmica
da Escola de Comunicação daquela universidade, por
O documento enfatiza a necessidade de conhecimento forca de convênio firmado entre o CNPq e a
do mercado de trabalho de cada área e UFRJ, em 1983. Esse convênio deve expirar em
propõe às escolas que adaptem seus currículos à em 1988, fato que tem causado
necessidade percebida. inquietação quanto ao seu futuro. Os
Quanto aos problemas mais imediatos, o documento demais cursos foram iniciados entre 1976 e
identifica a necessidade de mudança nos 1978. O programa de Doutorado da USP
procedimentos didáticos, e recomenda vem sendo oferecido desde 1980.
que sejam organizados cursos,
seminários e palestras para atualização dos Objetivo expresso dos cursos de mestrado,
professores, mas de forma a não afastá-los por prazo segundo explicitado em seus programas, é a formação
muito longo de seus cursos. de professores, pesquisadores e profissionais

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Quadro 3 - Identificação dos cursos de mestrado e doutorado

Nome do curso instituição Áreas de concentração Objetivos expressos Títulos que concede

Mestrado em Ciência da Informação UFRJ 1970 1 . Processamento de Informação Formar investigadores, profes- Mestre em Ciência da
2. Estrutura e Fluxo de Informação sores e especializados' Informação
3. Informação, Cultura e Sociedade

Mestrado em Comunicação com USP 1972 1. Geração e Uso da Informação Formar pesquisadores e profes- Mestre em Comunicação
área de concentração em Biblio- 2. Análise Documentária sores com área de concentração
em Biblioteconomia e
teconomia e Documentação 3. Ação Cultural e Biblioteca Documentação

Curso de pós-graduação em UFMG 1976 1. Biblioteca e Educação Formar professores, administra- Mestre em Biblioteconomia
Biblioteconomia (Administração 2. Biblioteca e Informação Especia- dores de alto nível e pesquisado-
de Bibliotecas) lizada res

Mestrado em Biblioteconomia UFPB 1977 Biblioteca e Sociedade Formar pesquisadores, docentes Mestre em Biblioteconomia
e profissionais

Mestrado em Biblioteconomia PUCCAMP 1977 1. Planejamento e Administração Formar profissionais, pesquisa- Mestre em Biblioteconomia
de Sistemas dores e docentes

Mestrado em Biblioteconomia UnB 1973 1 . Planejamento, Organização e Formar professores, gestores e Mestre em Biblioteconomia
e Documentação Administração de Sistemas de planejadores de sistemas de e Documentação
Informação Científica bibliotecas e pesquisadores

Doutorado em Comunicação com USP 1980 Doutor em Comunicação


área de concentração em Biblio- com área de concentração
teconomia e Documentação em Biblioteconomia e
Documentação

especialistas nas áreas de concentração A estrutura curricular dos cursos de mestrado não
que oferecem. A escolha das áreas de concentração precisa seguir um modelo, como no caso dos
por um determinado curso é geralmente o cursos de graduação. Os cursos, no entanto, mantêm
resultado da soma de vários fatores que agem sobre mais ou menos o mesmo formato: estabelecem
ele, tais como as características da região um número de créditos a serem obtidos
onde funcionam, tanto em termos econômicos como pelo aluno em disciplinas e exigem uma tese.
políticos, e o perfil do professorado. As áreas
de concentração norteiam os temas e assuntos mais Os programas de estudo variam um pouco quanto
pesquisados e a composição curricular. à duração. Os alunos devem obter de 30
a 36 créditos em disciplinas, para o que dispõem de
Apesar de serem cursos relativamente recentes, essas um ano e meio a dois anos. Dispõem, ainda,
áreas de concentração escolhidas têm de mais um ano e meio a três anos para concluir a tese
evoluído, mudando, ao longo do tempo. Nota-se, elaborada sob orientação de um professor e
atualmente, um interesse emergente pelo defendida perante uma banca.
papel que caberia às bibliotecas, principalmente às
bibliotecas públicas, no desenvolvimento Com exceção do curso oferecido pela USP, todos os
de comunidades. currículos contêm um grupo de disciplinas
obrigatórias, as quais são, na sua quase totalidade,
No documento Avaliação & Perspectivas3, responsabilidade de professores da própria
datado de 1 982, que registrou as áreas de concentração escola ou departamento de Biblioteconomia. Os
dos cursos e as linhas de pesquisa, foi notado créditos restantes devem ser obtidos com disciplinas
interesse nas áreas de planejamento e administração, optativas oferecidas pela própria escola
informação especializada em biblioteca e ou por departamentos diversos da universidade. A
educação. No Quadro 3, nota-se o reforço que foi integração dos cursos de mestrado em
atribuído ao último tema, com a emergência da área Biblioteconomia e Ciência da Informação com os
Informação, Cultura e Sociedade no curso da UFRJ, demais cursos oferecidos pelas universidades parece
Biblioteca e Sociedade no curso da UFPB e, ainda. boa em todos os casos, pois, é evidente a
Ação Cultural e Biblioteca no curso da USP. participação de professores de outras áreas, quer

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através do oferecimento de disciplinas e palestras quer Veja-se, por exemplo, as novas áreas adotadas
através de orientação de teses. pela UFRJ, UFPB e USP.

O corpo docente dos cursos de mestrado é composto, Mas nota-se, também, interesse crescente pela
portanto, de professores lotados no próprio modernização dos meios e instrumentos
departamento ou escola e de professores de trabalho. Há, ainda, a preocupação pelo
de outros departamentos. desenvolvimento da capacidade gerencial. Este é um
tema que mereceria mais atenção, pois a
Segundo informações dos coordenadores, os tendência parece ser de demanda crescente e cada
professores lotados na própria escola ou departamento vez mais exigente de capacidade administrativa,
responsável pelos cursos de mestrado são, em que ainda é embaraçosamente deficiente na profissão.
sua grande maioria, titulados formalmente.
Aproximadamente, a metade deles Os cursos tiveram atuação marcante na formação de
obteve grau de Doutor, Ph.D ou equivalente em professores de Biblioteconomia em sua
universidades estrangeiras, e a outra metade possui fase inicial. Este objetivo foi mesmo uma das molas
o grau de Mestre ou equivalente, obtido no mestras de seu desenvolvimento. Nota-se
Brasil ou no exterior. A grande maioria hoje, entretanto, que já não figuram tantos
desses professores trabalha em regime de tempo professores entre o alunado. Tal fato
integral na universidade ou em atividades de ensino. suscita uma pergunta - teriam os corpos docentes
Neste momento, há pelo menos oito professores, de das escolas de graduação já formado seus professores,
quatro cursos, matriculados em cursos de e a demanda pelo mestrado diminuiu, ou teriam
doutorado, no Brasil e no exterior, e um cumprindo as possibilidades de obtenção de licença
programa de pós-doutoramento nos e o apoio para afastamento diminuído, impedindo a
Estados Unidos. renovação e atualização dos professores?
Tendo ficado clara, na reunião de professores havida em
A produção científica desses professores, juntamente Recife, -a necessidade de treinamento em
com as teses de seus alunos, se constitui na técnicas de ensino e necessidade de atualização dos
maior fonte de estudos na área de Biblioteconomia e professores para promover as mudanças
Ciência da Informação no País. desejadas, é de se estranhar, naquele documento, a
falta de recomendação para incremento
O ingresso de alunos nos cursos de mestrado de estímulos, tais como bolsas e substituição de
se dá mediante entrevistas e testes de professores que permitissem a freqüência
conhecimento. No ano de 1987, ao mestrado. O documento, ao contrário, critica esses
iniciaram seus estudos 46 alunos cursos como alienado das necessidades e
em cinco cursos. Ainda segundo informações dos realidades brasileiras.2.
coordenadores, já foram defendidas cerca de 200 teses,
desde o início dos cursos, as quais têm refletido, Outra tendência notada entre os cursos de mestrado
em seus temas, os interesses da época. Atualmente, é a introdução do computador corno
várias delas se ocupam da "questão meio normal de trabalho. Quase todas as escolas
social", mas há também estudos de usuários, possuem pelo menos um microcomputador e fazem
análise de citações, estudos sobre a própria profissão, uso regular das instalações disponíveis
sobre sistemas de bibliotecas e outros. nas suas universidades. O que se percebe é o desejo
de aumentar as experiências nessa área, tanto
3.2 - TENDÊNCIAS NOTADAS NO para ensino quanto para o trabalho,
DESENVOLVIMENTO DOS CURSOS DE mas ainda se ressentem da falta de pessoal qualificado.
PÓS-GRADUAÇÃO

Os cursos de pós-graduação em Biblioteconomia e No documento Avaliação & Perspectivas, já citado,


Ciências da Informação já venceram a fase foi feito um levantamento da situação, na época,
inicial de implantação e possuem agora um lastro de da pesquisa realizada nas áreas aqui tratadas. Parecia
experiência, ainda pequeno, em alguns claro, então, que os cursos de mestrado iriam
casos, mas firme, e com base nele vêm se reformulando expandir e que novos cursos de doutorado apareceriam
e adaptando às condições do País como um todo — tal tendência ainda é notável, os cursos
e de seu ambiente específico. já se consolidaram, e não há falta de pessoal docente,
embora o processo de qualificação para
As mudanças de áreas de concentração ou linhas pesquisa ainda esteja em andamento, ou talvez em
de pesquisa e os temas de estudo vêm amadurecimento. Projetos de implantação
demonstrando uma tendência do movimento em de cursos de doutorado vêm sendo discutidos em
direção ao papel social da biblioteca e pelo menos duas escolas e é provável que até o
à conscientização dos profissionais para o problema. fim da década um desses seja implantado.

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O interesse pela absorvendo o primeiro desses pontos. O entendimento


Arquivologia também é um ponto que do contexto já vem sendo objeto de disciplinas
vem sendo notado. Duas escolas estão e pesquisas.
preparando propostas que poderão, se concretizadas,
dar origem a cursos completos ou disciplinas Quanto ao segundo, a integração em uma só classe
de preparação profissional nessas áreas, no nível profissional de todos aqueles que trabalham com a
pós-graduado. informação, parece ser um problema ainda
de difícil solução.
Mas talvez a tendência mais visível seja a do
interesse mantido por cursos de pós-graduação formal 4 - RECOMENDAÇÕES
em oferecer cursos de curta duração a
profissionais de áreas específicas Considerando o que foi exposto, algumas ações
dentro da Biblioteconomia. As escolas da UnB e poderiam ser implementadas, com o concurso do IBICT,
UFRJ, por exemplo, vêm oferecendo, regularmente, como intermediário ou órgão de fomento.
cursos aos bibliotecários de bibliotecas universitárias, Essas recomendações, expressas aqui em termos
públicas, escolares, com grande aceitação. amplos, se referem a três pontos: cursos de graduação,
cursos de pós-graduação e atividades de pesquisa.
3.3 - IMPACTO DOS CURSOS DE MESTRADO NO
4.1 -CURSOS DE GRADUAÇÃO
DESENVOLVIMENTO DA CLASSE
BIBLIOTECÁRIA
Os problemas que se apresentam no ensino de
A influência dos cursos de mestrado no graduação de Biblioteconomia parecem ter origem em
desenvolvimento da classe bibliotecária e no seu uma insegurança ou despreparo dos
desempenho profissional é notável, principalmente, professores, segundo avaliação contida no documento
no meio acadêmico - bibliotecas universitárias, que relata o 1? ENEBCI. A organização
institutos de pesquisas e cursos de de seminários que reunissem professores de várias
Biblioteconomia. Mas em avaliação talvez superficial, escolas encarregadas de disciplinas
parece não se fazer presente em áreas tais semelhantes propiciaria oportunidade de troca de
como nos órgãos oficias de classe — idéias e experiências, tanto com relação a conteúdos
Conselhos Federais e Regionais e nas associações quanto aos métodos didáticos.
profissionais. Esses órgãos não aceitam os
cursos e têm criticado sua posição, alguns de seus Seria especialmente interessante compor os
temas de pesquisa e rumos que indicam. grupos com professores com graus diferentes de
experiência e com pontos de vista diversos. Desses
Por outro lado, nas bibliotecas acadêmicas e seminários, poderiam sair recomendações
naquelas ligadas a certos ministérios e órgãos do e diretrizes para o ensino. Seria interessante até
Governo Federal, a influência dos cursos mesmo a participação de professores dos cursos de
de mestrado vem se tornando bem visível. Também graduação e pós-graduação em um mesmo seminário.
nos cursos de graduação, nas mudanças introduzidas O estímulo à freqüência a congressos
em seus programas de estudo, por exemplo, e reuniões profissionais também é importante.
esta influência parece clara. Talvez seja uma questão
de tempo e amadurecimento da classe, que até
4.2-CUfíSOS DE PÓS-GRADUAÇÃO
agora vem resistindo considerar o título de Mestre como
documento de habilitação profissional.
Os cursos de pós-graduação devem tentar expandir
A questão da necessidade de formação e do sua influência para além da área acadêmica
oferecimento de serviços de informação no Brasil e alta administração. Isto talvez possa ser conseguido
apresenta aspectos complexos que demandam estudo através do oferecimento de cursos de
aprofundado. As características de uso da curta duração dirigidos a grupos de profissionais,
informação pelos vários segmentos da sociedade não como já vem sendo feito pela UFRJ e UnB.
podem ser entendidas, nem os serviços a O oferecimento de bolsas ou estímulo aos alunos
serem oferecidos podem ser planejados fora desses cursos é ponto importante. Da mesma forma,
do contexto político e econômico do País. Outro ponto os cursos de mestrado devem se esforçar
a considerar tem a ver com a natureza da em atrair pessoas com formação diversa, especialmente
demanda pela informação que, para ser satisfeita, deve aqueles que já trabalham com serviços de
envolver o concurso de vários profissionais, informação. A promoção de encontros
dentre os quais o bibliotecário. O espaço próprio desse entre profissionais com formação diversa, mas
profissional deve ser buscado e suas ações interessados ou envolvidos no trabalho de informação
precisam ser complementadas com o trabalho de outros. também contribuiria bastante para a integração
Os currículos de formação profissional estão entre esses profissionais.

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Os cursos precisam fortalecer seus programas REFERENCIAS BIBLIOGRÁFICAS


mediante o concurso de professores e conferencistas
visitantes, e seus próprios professores PROPOSTA de currículo mínimo de biblioteconomia. Brasília,
teriam muito a ganhar com programas de visitas a MEC/Secretaria de Ensino Superior, 1981. (Documento
outros centros. É preciso complementar equipamento produzido pelo Grupo de Trabalho reunido no período de
onde existe deficiência, mas é preciso de 24 a 28 de novembro de 1 980).
sobretudo atualizar constantemente o corpo docente.
2
ENCONTRO NACIONAL DO ENSINO DE BIBLIOTECONOMIA
E CIÊNCIA DA INFORMAÇÃO, 1., Recife, 24 a 28 de
Com relação ao curso da UFRJ, todo o esforço em fevereiro de 1986. Conclusões finais e recomendações.
manter o curso funcionando deve ser estimulado. Recife. ABEBD, 1986.

3
4.3 - O FOMENTO À PESQUISA É ABSOLUTAMENTE AVALIAÇÃO & Perspectivas 1982: ciência da informação,
NECESSÁRIO biblioteconomia e arquivologia brasileira. Brasília,
SEPLAN/CNPq, 1982. 124 p.

Uma idéia possível poderia ser o desenvolvimento de 4 MUELLER, Suzana Pinheiro Machado. O ensino de
um projeto amplo com objetivo de identificar biblioteconomia no Brasil. Ciência da Informação, Brasília,
e caracterizar o mercado de trabalho dos profissionais 14 (1): 3-15, jan./jun. 1985.
de informação, mediante o estudo de usuários 5
e suas necessidades em vários ambientes UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO, ESCOLA DE
COMUNICAÇÃO. PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIA
e níveis, tais como universidades e institutos de DA INFORMAÇÃO. A pós-graduação em Ciência da
pesquisa, área governamental, periferias urbanas, e Informação (Convênio CNPq-IBICT/UFRJ-ECQ). Rio
outros. de Janeiro, julho, 1987.

6
Esse projeto poderia ser coordenado pelo IBICT mas A PÓS-GRADUAÇÃO em Biblioteconomia e Documentação
realizado, em partes, por pesquisadores na ECA/USP. São Paulo, 1987.
das várias escolas. O resultado traria insumos muito
importantes e significativos para o desenvolvimento EDUCATION FOR LIBRARIANSHIP IN BRAZIL-
dos currículos de graduação e pós-graduação. AN APPRAISAL OF RECENT CHANCES.

Também seria de maior interesse investigações no


uso de tecnologias novas nos serviços ABSTRACT
tradicionais e no oferecimento de novos serviços. Os
resultados iriam certamente dar uma diretriz The structure of the courses leading to the
mais segura às disciplinas dos programas de ensino. professional degree in Librarianship in Brazil ís
presented. Special emphasis is given to the
Pesquisas objetivando o desenvolvimento de undergraduate course, which is the only legally
maneira integrada dos serviços de armazenamento e accepted entrance to the profession. The
recuperação da informação bibliográfica main changes which took, place at the curriculum
e não bibliográfica são também necessárias. A minimum levei in 1982, determined by the
informação não bibliográfica, cuja demanda tem em federal agency in charge of establishing such
geral a característica da urgência, vem sendo curricula, the Conselho Federal de Educação,
oferecida por serviços nem sempre and which were implemented by the schools in 1985
ligados a bibliotecas ou geridos por bibliotecários. are described. Possible reasons which led to
Parece evidente a necessidade de atenção these changes and problems which may
da escola ao problema, visando capacitação occur in the implementation are discussed. The
e integração. Não há, ainda, um volume perceptível existing courses at the graduate levei are
de estudo sobre o assunto, e os currículos identified and considerations are made about the
praticamente não tratam do assunto. influence they may have been having on the
undergraduate courses and on the profession in
Documento recebido em 22 de junho de 1988. general.

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