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Tópico II
Diz o artigo 297 do CPC que o réu poderá oferecer, no prazo de 15 dias, em
petição escrita, dirigida ao juiz da causa, contestação, exceção e reconvenção.
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Há duas possibilidades de defesa: direta e indireta. Na defesa direta, o réu
responde e nega a pretensão exercida pelo autor no seu núcleo: “não contratei ou
peguei dinheiro emprestado com a parte autora”, isto é, ele nega o motivo da
demanda, hostiliza a causa de pedir remota e a próxima, ou nega a qualificação que
foi dada pelo autor na petição inicial. A qualificação em tela é a respeito da
compreensão jurídica do fato supostamente ocorrido, ou de como enquadrar o fato
no mundo jurídico. Em outras palavras, o fato simples, em si, pode ter ocorrido,
mas a configuração dada a ele pelo autor não se ajusta ao direito porque a
premissa maior que deve incidir é outra, não aquela eleita pelo pretenso
legitimado ativo. Por exemplo, o réu pode requalificar a entrega material dos
valores pecuniários; não há discussão sobre o fato de que houve a entrega de
dinheiro do autor ao réu. O autor alega haver emprestado e o réu alega ter h avido
doação. O mesmo fato, entrega de numerário, pode ser qualificado de mais de uma
forma, gerando diversas consequências.
Na defesa indireta, o réu admite o fato alegado pelo autor, mas opõe outro
fato capaz de impedir a consequência pretendida pelo adversário. Por exemplo,
alega que a dívida não está vencida, que ela foi novada, que o réu possui recibo de
quitação, que a pretensão está prescrita, etc. Essas são defesas direta e indireta de
mérito.
Além das defesas diretas e indiretas a respeito do mérito 1, há outras que são
de natureza meramente processual. A respeito dessas, a doutrina costuma dizer
1
Misael Montenegro Filho, por exemplo, separa as defesas em direta, que são as exercidas contra o mérito,
e indiretas, que são as de índole meramente processual. Cf. FILHO, Misael Montenegro. Curso de Direito
Processual Civil. 4. ed. São Paulo: Atlas, 2008. p. 330.
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que se trata de defesa indireta. Cabe ressaltar que as defesas contra o processo são
lançadas na própria contestação, em forma de preliminar, se aparecem no rol do
artigo 301 do CPC. As que lá não se encontram são as chamadas exceções
instrumentais, necessitam de instrumento próprio, e podem ser: exceção de
impedimento, de suspensão e de incompetência relativa.
2.2 Contestação
se (i) essas alegações forem pertinentes a direito superveniente 3, (ii) delas pude
conhecer o juiz de ofício, como nas hipóteses dos artigos 267, § 3º 4; (iii) por
2
CALMON DE PASSOS, op. cit., 1989, p. 290.
3
Art. 462. Se, depois da propositura da ação, algum fato constitutivo, modificativo ou extintivo do direito
influir no julgamento da lide, caberá ao juiz tomá-lo em consideração, de ofício ou a requerimento da parte,
no momento de proferir a sentença.
4
Art. 267. Extingue-se o processo, sem resolução de mérito:
[...]
IV – quando se verificar a ausência de pressupostos de constituição e de desenvolvimento válido e regular
do processo;
V – quando o juiz acolher a alegação de perempção, litispendência ou de coisa julgada;
Vl – quando não concorrer qualquer das condições da ação, como a possibilidade jurídica, a legitimidade
das partes e o interesse processual;
[...]
3
expressa disposição legal puderem ser formuladas em qualquer tempo e juízo,
como, por exemplo, a matéria prescricional de que trata o artigo 193 do Código
Civil brasileiro 5; ou (iv) a parte demonstrar que não pôde realizar essas alegações
por motivo de força maior, caso em que poderá fazê-lo até em grau de apelação,
§ 3o O juiz conhecerá de ofício, em qualquer tempo e grau de jurisdição, enquanto não proferida a sentença
de mérito, da matéria constante dos n. IV, V e VI; todavia, o réu que a não alegar, na primeira oportunidade
em que lhe caiba falar nos autos, responderá pelas custas de retardamento.
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Art. 193. A prescrição pode ser alegada em qualquer grau de jurisdição, pela parte a quem aproveita.
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Art. 517. As questões de fato, não propostas no juízo inferior, poderão ser suscitadas na apelação, se a
parte provar que deixou de fazê-lo por motivo de força maior.
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Art. 302. Cabe também ao réu manifestar-se precisamente sobre os fatos narrados na petição inicial.
Presumem-se verdadeiros os fatos não impugnados, salvo:
I – se não for admissível, a seu respeito, a confissão;
II – se a petição inicial não estiver acompanhada do instrumento público que a lei considerar da substância
do ato;
III – se estiverem em contradição com a defesa, considerada em seu conjunto.
Parágrafo único. Esta regra, quanto ao ônus da impugnação especificada dos fatos, não se aplica ao
advogado dativo, ao curador especial e ao órgão do Ministério Público.
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lançadas no artigo 302: (i) a respeito dos fatos não for possível a confissão, como,
por exemplo, quando a ação versar sobre direitos indisponíveis, em obediência ao
disposto no artigo 351 do CPC 8; (ii) quando o autor não houver juntado à petição
inicial documento que seja da substância do ato (nesse sentido, por exemplo,
artigo 108 do CCB, sobre a essencialidade da escritura pública); (iii) quando da
estrutura da defesa o magistrado perceber que os fatos narrados na inicial estão
em posição de contradição.
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Art. 351. Não vale como confissão a admissão, em juízo, de fatos relativos a direitos indisponíveis
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Art. 301. Compete-lhe, porém, antes de discutir o mérito, alegar:
I – inexistência ou nulidade da citação;
II – incompetência absoluta;
III – inépcia da petição inicial;
IV – perempção;
V – litispendência;
Vl – coisa julgada;
VII – conexão;
Vlll – incapacidade da parte, defeito de representação ou falta de autorização;
IX – convenção de arbitragem;
X – carência de ação;
Xl – falta de caução ou de outra prestação, que a lei exige como preliminar.
§ 1o Verifica-se a litispendência ou a coisa julgada, quando se reproduz ação anteriormente ajuizada.
§ 2o Uma ação é idêntica à outra quando tem as mesmas partes, a mesma causa de pedir e o mesmo pedido.
§ 3o Há litispendência, quando se repete ação, que está em curso; há coisa julgada, quando se repete ação
que já foi decidida por sentença, de que não caiba recurso.
§ 4o Com exceção do compromisso arbitral, o juiz conhecerá de ofício da matéria enumerada neste artigo.
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tende a extinguir o processo. Outras, de natureza dilatória, não têm essa
virtualidade; apenas visam à correção do rumo processual. Exemplo da primeira é
alegação de litispendência e de coisa julgada. Exemplo da segunda é a alegação de
conexão de causas e de incompetência absoluta do juízo.
Do exame do artigo 301, não parece haver uma ordem que obrigatoriamente
deva ser seguida, na apresentação das preliminares. Sem embargo disso, a bem da
clareza, e da lógica, é possível estabelecer algumas regras. Deve ser apresentada
em primeiro lugar a preliminar indicada no inciso II, do artigo 301 (isso,
obviamente, se o réu tiver razões para crer que a ação foi aviada perante juízo
absolutamente incompetente, de acordo com as regras de divisão de competência).
É de consignar, entretanto, que, se o réu não alegou em preliminar em contestação
a incompetência absoluta, poderá fazê-lo posteriormente – até porque a admissão
desse tipo de incompetência é ato que o magistrado pode praticar de ofício –,
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Art. 113. A incompetência absoluta deve ser declarada de ofício e pode ser alegada, em qualquer tempo e
grau de jurisdição, independentemente de exceção.
§ 1o Não sendo, porém, deduzida no prazo da contestação, ou na primeira oportunidade em que lhe couber
falar nos autos, a parte responderá integralmente pelas custas.
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Art. 113. A incompetência absoluta deve ser declarada de ofício e pode ser alegada, em qualquer tempo e
grau de jurisdição, independentemente de exceção.
[...]
§ 2o Declarada a incompetência absoluta, somente os atos decisórios serão nulos, remetendo-se os autos ao
juiz competente.
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Citação inexistente é a que falta, a que não foi realizada, ou não foi realizada
por quem não detinha poderes para realizá-la (o filho de um juiz, por exemplo, que
não seja agente do Estado), ou feita a pessoa diversa daquela indicada para
recebê-la, ou que indique processo de conteúdo diverso daquele de onde se
extraiu a ordem, etc.
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Art. 214.
[...]
§ 2o Comparecendo o réu apenas para argüir a nulidade e sendo esta decretada, considerar-se-á feita a
citação na data em que ele ou seu advogado for intimado da decisão.
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perempção, pressupostos processuais litisingresso impedientes 13, na escorreita
definição adotada pelo professor Celso Neves, são defesas preliminares que
encontram definição no próprio Código de Processo Civil: (i) quanto à perempção,
diz o artigo 268, em seu parágrafo único: Se o autor der causa, por três vezes, à
extinção do processo pelo fundamento previsto no n. III do artigo anterior, não
poderá intentar nova ação contra o réu com o mesmo objeto, ficando -lhe
ressalvada, entretanto, a possibilidade de alegar em defesa o seu direit o. A
perempção, assim, é a sanção processual que decorre do abandono da causa pelo
autor, por mais de 30 dias, quando esse tipo de conduta omissiva, tiver ensejado,
por três vezes anteriores, a extinção do processo sem julgamento de mérito; (ii)
quanto à litispendência e à coisa julgada, o próprio artigo 301 traz os elementos
necessários à conceituação. O § 1 o desse dispositivo identifica a ocorrência de
litispendência ou de coisa julgada, quando se reproduz ação anteriormente
ajuizada, esclarecendo que uma ação será idêntica à outra quando possuir as
mesmas partes, a mesma causa de pedir e o mesmo pedido.
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São pressupostos processuais externos e negativos, no sentido de que sua presença obsta o andamento
do processo em direção a uma sentença de mérito.
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conexão, em tese, pode provocar o deslocamento da competência ao juiz prevento,
ou seja, (i) o que “despachou” (despacho positivo, bem entendido) em primeiro
lugar, se se tratar de juízos com a mesma competência territorial (por exemplo,
dois juízes da comarca da capital do Estado do Ceará); ou (ii) o juízo em que
primeiro se realizou a citação válida, se se tratar de dois juízos co m diferentes
competências territoriais (um juiz da comarca de Goiânia e outro de Palmas, por
exemplo).
Carência de ação para o CPC significa ausência de alguma das condições das
da ação: ausência de legitimidade, interesse e possibilidade jurídica do pedido.
Nesses casos – segundo a letra do Código – o juiz deve extinguir o processo sem
resolução de mérito, a teor do disposto no artigo 267, VI, do mes mo Código.
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Sobre a constitucionalidade dessa lei, ver SE 5.206, STF Pleno, RTJ 190/908.
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Falta de caução ou de outra prestação que a lei exige como preliminar. Aqui,
na conformidade do magistério de Calmon de Passos, se está diante de
impedimentos processuais de que cogitam, por exemplo, os artigos 835 e 28 do
Código de Processo Civil.
respeitado o artigo 835 do CPC 15 que impõe o dever de prestar caução suficiente
ao pagamento das custas e os honorários. No segundo caso, dispõe o artigo 28, que
quando, a requerimento do réu, o juiz declarar extinto o processo sem julgar o
mérito (artigo 267, § 2 o ), o autor não poderá intentar de novo a ação, sem pagar ou
depositar em cartório as despesas e os honorários, em que foi condenado.
15
Art. 835. O autor, nacional ou estrangeiro, que residir fora do Brasil ou dele se ausentar na pendência da
demanda, prestará, nas ações que intentar, caução suficiente às custas e honorários de advogado da parte
contrária, se não tiver no Brasil bens imóveis que Ihes assegurem o pagamento.
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material. Os prazos respectivos não são processuais. Referem-se ao direito
material. Bem por isso por isso não se enquadram entre as questões preliminares
do artigo 301. Coerente com o sistema que elegeu, o legislador dispõe no artigo
269, IV, do CPC, que há resolução de mérito quando o juiz pronuncia a decadência
ou a prescrição. Algumas coisas são claras a esse respeito: ambos os prazos são
previstos no Código Civil, lei material, e o Código de Processo Civil com toda a
evidência possível considerou essa matéria como pertinente ao mérito da causa.
Não é desprezível, entretanto, o entendimento daqueles que, como Dinam arco,
apelidam essas sentenças que examinam a decadência de falsas sentenças de
mérito, porque o prazo decadencial não seria de direito material.
Diferenciar prescrição e decadência não é tarefa das mais fáceis. Parece que
o critério mais seguro é aquele proposto por Agnelo de Amorim Filho, a respeito
da natureza dos direitos. Diante do exercício de pretensão, o que supõe uma
relação jurídica obrigacional (em decorrência da qual alguém tem o direito de
exigir de outrem que dê, faça ou deixe de fazer algo), a resposta estatal, se
positiva, terá evidente conteúdo patrimonial. Para esse tipo de atividade que,
envolve direitos dotados de pretensão, o direito material fixou prazo de exercício,
após o qual a pretensão ficará encoberta pela prescrição. Já nos direitos
formativos, potestativos, isto é, direitos desdotados de pretensão, a parte ré não
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§ 5o O juiz pronunciará, de ofício, a prescrição.
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Era usual dizer-se que a prescrição constituía exceção de direito material, enquanto que a decadência era
objeção de direito material, com fulcro no discrímen doutrinário segundo o qual objeções são cognoscíveis
de ofício enquanto que exceções são matérias de defesa que exigem provocação da parte e sem a qual o juiz
não pode manifestar-se. Agora, essa distinção não faz mais sentido.
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teria que fazer algo; somente sujeitar-se ao exercício do direito por parte do autor
(direito constitutivo ou constitutivo negativo). Exemplo clássico disso era a
anulação do casamento, na vigência do Código Civil de 1916, quando o marido
descobria que a mulher não era mais casta. Se ele propusesse a ação anulatória do
casamento, e fosse vitorioso, nada deveria ser feito pela mulher. Ela não seria
condenada a nenhum agir, justamente porque não o direito em jogo não tinha a
feição de uma relação obrigacional. A situação jurídica era simplesmente
desconstituída.
Preliminar será sempre processual, nunca de mérito, razão por que não é
correto alinhar, na contestação, a matéria relativa à prescrição sob o título
“preliminar de mérito”. Também não é feliz a expressão prejudicial de mérito para
qualificar a matéria prescricional. A prescrição não prejudica o mérito!
Prejudicial vem de juízo prévio (praejudicium) buscando significar a matéria que
deve ser analisada antes de outra, e sem a qual a outra não pode ser examinada.
Questões prejudiciais sempre podem constituir objeto autônomo de determinado
processo sem vínculo nenhum com a matéria, cuja cognição é por ela limitada.
Ora, ninguém vai a juízo para pedir prescrição extintiva de direito, embora
possa ir a juízo para alegar prescrição aquisitiva de direitos, como ocorre nas
ações de usucapião. A prescrição aquisitiva, entretanto, figura em outro rol. As
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duas formas de prescrição dependem do curso do tempo (de prazos 18, portanto),
mas esta, aquisitiva, não é direito obrigacional. A sentença a ela relativa é de
natureza meramente declaratória.
sumário, por exemplo, o artigo 278 §1º 19, prevê que o réu pode formular pedido
em seu favor desde que fundado nos mesmos fatos referidos na inicial. É o
chamado pedido contraposto. Assim também se dá na Lei n. 9.099/1995 (Lei dos
Juizados Especiais) e nas ações possessórias, em que ao réu é permitido formular
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Se fosse possível adotar a classificação dos prazos processuais para a prescrição e a decadência, poder-
se-ia dizer, adotando a teoria clássica (e não a adotada pelo CPC), que o prazo prescricional é peremptório,
no sentido de que a pretensão há de ser exercida dentro dele; já o prazo decadencial é dilatório (prazo de
afastamento), significando que ele há de fluir antes que a ação possa ser proposta.
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Art. 278.
[...]
§ 1º É lícito ao réu, na contestação, formular pedido em seu favor, desde que fundado nos mesmos fatos
referidos na inicial.
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pedido de proteção possessória contra o autor. Aliás, isso é característica das
chamadas actiones duplex.
2.3 Exceções
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Para o Código de 1939, as exceções eram de incompetência, suspeição, litispendência e coisa julgada.
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O Código de Processo Penal, de sua vez, prevê no artigo 95 as exceções de suspeição, incompetência de
juízo, litispendência, ilegitimidade de parte, e coisa julgada.
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Examinadas essas três modalidades, não se percebe qual critério o
legislador escolheu para determinar que essas defesas processuais fossem
realizadas por via de exceção e não por via de alegação em preliminar de
contestação como todas as outras de que trata o artigo 301 do CPC. Num primeiro
momento, poder-se-ia pensar que as defesas por via exceção teriam relação com os
pressupostos processuais subjetivos concernentes à figura do juiz (e do juízo!),
dado que as três modalidades têm esse perfil. Se, entretanto, tivesse sido esse o
critério, a incompetência absoluta também teria de ser arguída por meio de
exceção, o que não ocorre, como deflui da redação do artigo 301, e da redação do
artigo 34 22, que faz expressa remissão ao artigo 112, do Código de Processo Civil
que diz: artigo 112. Argui-se, por meio de exceção, a incompetência relativa, isto é,
Para arrematar o ponto, o critério eleito pelo legislador para designar o que
é e o que não é exceção é desconhecido; ou, o pior, não há critério lógico.
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Art. 304. É lícito a qualquer das partes argüir, por meio de exceção, a incompetência (art. 112), o
impedimento (art. 134) ou a suspeição (art. 135).
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Ressalvadas algumas hipóteses, como, v.g., a competência territorial da justiça federal, estabelecida no
texto constitucional.
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guarda a necessária compatibilidade, por atrair a incidência de uma das hipóteses
previstas no artigo 134 (impedimento) ou 135 (suspeição) do CPC.
artigo 112 do CPC 24. Justamente porque não é parte na disputa, quem decide a
exceção de incompetência relativa é o próprio juiz.
24
Art. 112. Argúi-se, por meio de exceção, a incompetência relativa.
Parágrafo único. A nulidade da cláusula de eleição de foro, em contrato de adesão, pode ser declarada de
ofício pelo juiz, que declinará de competência para o juízo de domicílio do réu.
16
jurisdição, no prazo de quinze dias contado do fato que ocasionou a
incompetência, o impedimento ou a suspeição. Ora, se o juiz f or relativamente
incompetente, e a parte não oferecer a exceção, sua competência é prolongada. Se
se trata de suspeição, e a parte não oferece a exceção, preclui o direito de fazê -lo
(embora o magistrado, sempre possa, mesmo sem declinar as razões, dar -se por
suspeito). Isso quer dizer que, com relação a essas duas modalidades, o prazo
fixado no artigo 305 faz sentido, tem pertinência.
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Art. 485. A sentença de mérito, transitada em julgado, pode ser rescindida quando:
I – (omissis)
II – proferida por juiz impedido ou absolutamente incompetente.
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nos que o dispositivo somente tem correta aplicabilidade com relação à exceção de
incompetência relativa: depois de recebida essa exceção, o processo fica
suspenso, até porque uma das características das exceções instrumentais é
justamente o fato de serem dotadas de suspensividade.
A regência da matéria está contida nos artigos 134 e 135 do CPC 26, isso no
26
Art. 134. É defeso ao juiz exercer as suas funções no processo contencioso ou voluntário:
I – de que for parte;
II – em que interveio como mandatário da parte, oficiou como perito, funcionou como órgão do Ministério
Público, ou prestou depoimento como testemunha;
III – que conheceu em primeiro grau de jurisdição, tendo-lhe proferido sentença ou decisão;
IV – quando nele estiver postulando, como advogado da parte, o seu cônjuge ou qualquer parente seu,
consangüíneo ou afim, em linha reta; ou na linha colateral até o segundo grau;
V – quando cônjuge, parente, consangüíneo ou afim, de alguma das partes, em linha reta ou, na colateral,
até o terceiro grau;
VI – quando for órgão de direção ou de administração de pessoa jurídica, parte na causa.
Parágrafo único. No caso do n. IV, o impedimento só se verifica quando o advogado já estava exercendo o
patrocínio da causa; é, porém, vedado ao advogado pleitear no processo, a fim de criar o impedimento do
juiz.
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que concerne às hipóteses em que o magistrado é considerado impedido ou
suspeito. Nas hipóteses de impedimento, o legislador fixou a convicção absoluta de
que o magistrado será parcial; no caso do segundo, de suspeição, há apenas uma
presunção relativa de parcialidade. Portanto, como já visto alhures, se não for
agitada contra ele a exceção própria, a sentença que vier a proferir não será
viciada.
19
2.3.3 Procedimento da exceção de incompetência
27
RT 674/140
20
réu. Se não o exercer (dispôs de seu direito de não o fazer), ocorrerá a
prorrogação da competência do juiz a quem o feito foi originalmente distribuído,
que, daí em diante, terá total competência para dirigir o processo, sem que
nenhum vício possa ser arguído. Pois bem, sabido que incompetência relativa não
pode ser pronunciada de ofício (ressalvada exceção apontada em outro momento),
se ao magistrado for dado o direito de valer-se da provocação do excipiente para
indicar um terceiro juízo (por exemplo, o juízo de Cruzeiro do Sul, no Acre, quando
o excipiente, em Porto Alegre, indicara como competente o Juízo de Caxias do Sul,
no próprio Estado do Rio Grande do Sul) para conduzir o fe ito, em evidente
agravamento da situação daquele que suscitara o incidente. Muito mal
comparando, seria o caso de falar não em reformatio in pejus (em referência ao
princípio da proibição da reforma para pior que orna a teoria recursal dos povos
ocidentais), mas em mutatio in pejus, inconsentida pelo ordenamento jurídico.
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fundamento no artigo 558 c/c 527 do CPC 28.
2.4 Reconvenção
O réu que lança mão desse meio é chamado de reconvinte e o autor passa a
ser autor-reconvindo ou, simplesmente, reconvindo. A pretensão é exercida no
mesmo processo, mas há pressupostos que necessitam ser atendidos para que a
28
Art. 527. Recebido o agravo de instrumento no tribunal, e distribuído incontinenti, o relator:
[...]
III – poderá atribuir efeito suspensivo ao recurso (art. 558), ou deferir, em antecipação de tutela, total ou
parcialmente, a pretensão recursal, comunicando ao juiz sua decisão.
Art. 558. O relator poderá, a requerimento do agravante, nos casos de prisão civil, adjudicação, remição de
bens, levantamento de dinheiro sem caução idônea e em outros casos dos quais possa resultar lesão
grave e de difícil reparação, sendo relevante a fundamentação, suspender o cumprimento da decisão até
o pronunciamento definitivo da turma ou câmara.
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Art. 297. O réu poderá oferecer, no prazo de 15 (quinze) dias, em petição escrita, dirigida ao juiz da
causa, contestação, exceção e reconvenção.
Art. 299. A contestação e a reconvenção serão oferecidas simultaneamente, em peças autônomas; a
exceção será processada em apenso aos autos principais.
Art. 315. O réu pode reconvir ao autor no mesmo processo, toda vez que a reconvenção seja conexa com a
ação principal ou com o fundamento da defesa.
Parágrafo único. Não pode o réu, em seu próprio nome, reconvir ao autor, quando este demandar em nome
de outrem.
22
O artigo 315 fixa como pressuposto a matéria que pode ser discutida. A
reconvenção tem de ser conexa com a ação principal ou com o fundamento da
defesa. É necessário separar essas duas situações. É sabido de todos que, n a forma
do artigo 103, a conexão se dá ou pelo objeto ou pela causa de pedir. Assim,
logicamente, ação e reconvenção podem ser conexas quando tenham o mesmo
objeto ou a mesma causa petendi. Haverá, por exemplo, reconvenção conexa com a
causa principal pelo objeto quando, o autor formular pedido de separação judicial
fundado por grave violação dos deveres do casamento praticada pela mulher
(artigo 1572, caput, do Código Civil brasileiro), e esta oferece reconvenção,
pedindo a separação fundada em doença mental grave, de cura improvável (§ 2º
do artigo 1572, do mesmo codex).
23
reconvencional. Três questões interessantes se colocam: cabe reconvenção de
reconvenção? Cabe reconvenção no procedimento sumário de que cogita o artigo
275 e seguintes do Código de Processo Civil? Cabe reconvenção em ação
rescisória? Às três questões a resposta há de ser positiva, embora não haja
uniformidade de pensamento doutrinário. Com relação à primeira, não há vedação
legal. Assim, se presentes os pressupostos, não há por que indeferir a pretensão
exercida.
Com relação à terceira, também nos parece possível, desde que se trate de
uma reconvenção rescisória, e que a sentença ou acórdão que se busca rescindir
tenha imposto sucumbência recíproca. Autor e réu reconvinte têm interesse de
rescindir a mesma sentença, mas em diferentes partes ou capítulos. É possível até
que um tenha pedido a rescisão total da sentença (a que o réu se opõe) e o outro a
rescisão de pequeno capítulo.
2.4.1 Procedimento
24
peças autônomas. Se a parte ré apresentar somente a contestação ou somente a
reconvenção, não mais poderá, ainda que dentro dos quinze dias, apresentar a
outra resposta, porque terá ocorrido preclusão consumativa.
Reconvenção é ação, daí que deve ser proposta por meio de uma petição
inicial, com todos os requisitos do artigo 282 (ressalvada a necessidade de
qualificação das partes), mais a demonstração da existência dos pressupostos
específicos que foram aqui examinados. Justamente porque se trata de uma
petição inicial, cabe ao magistrado o mesmo dever de examiná -la e indeferi-la se
presente alguma das hipóteses de que trata o artigo 295, já examinado. A ideia é a
de que a reconvenção e a ação sejam julgadas na mesma sentença. Se, porém, o
magistrado decidir indeferir imediatamente o pedido reconvencional (esse ato é
sem dúvida nenhuma sentença, a teor do disposto no § 1º do artigo 162 do CPC), o
recurso cabível será o agravo de instrumento, porque o ordenamento jurídico
brasileiro não conhece uma apelação por instrumento.
25
2.4.2 Revelia
Sem embargo disso, que deflui da leitura dos artigos 319 e 320 do Código 30,
há de ser considerada, no mesmo Código, a redação do artigo 265 do CPC, §2º 31.
Nesse fragmento legal, revelia aparece com sentido diverso, já não significando da
contestação, mas sim ausência do réu, num dos sentidos que se atribuem à
expressão contumácia.
30
Art. 319. Se o réu não contestar a ação, reputar-se-ão verdadeiros os fatos afirmados pelo autor.
Art. 320. A revelia não induz, contudo, o efeito mencionado no artigo antecedente:
I – se, havendo pluralidade de réus, algum deles contestar a ação;
II – se o litígio versar sobre direitos indisponíveis;
III – se a petição inicial não estiver acompanhada do instrumento público, que a lei considere indispensável
à prova do ato.
31
Art. 265. Suspende-se o processo:
[...]
2o No caso de morte do procurador de qualquer das partes, ainda que iniciada a audiência de instrução e
julgamento, o juiz marcará, a fim de que a parte constitua novo mandatário, o prazo de 20 (vinte) dias,
findo o qual extinguirá o processo sem julgamento do mérito, se o autor não nomear novo mandatário, ou
mandará prosseguir no processo, à revelia do réu, tendo falecido o advogado deste.
26
à parte contrária, e os atos de um não prejudicam nem beneficiam os dema is.
Entretanto, se a contestação de um hostilizar algo comum aos litisconsortes, ou se
se tratar de litisconsórcio unitário, a ausência de contestação dos outros não induz
a ocorrência dos efeitos da revelia. Aliter, se a contestação se referir a aspectos
particulares da defesa do litisconsorte e que não aproveitem ao conjunto de
situações retratadas na demanda. Aí os efeitos da revelia far-se-ão sentir sobre
aqueles que não contestaram.
27
reportam os artigos 421, 425 e 435 do Código de Processo Civil.
É bom lembrar, por derradeiro, que os efeitos da revelia são vários (por
exemplo, o previsto no artigo 322 que reza que se o réu for revel e não tiver
patrono constituído, os prazos correrão contra ele independentemente de
intimação, a partir da publicação de cada ato decisório), embora a presunção de
veracidade seja o efeito o principal.
3 Providências preliminares
demanda entre as partes, dada a disposição contida no artigo 469, III, do CPC 32,
que diz não fazer coisa julgada a apreciação de questão prejudicial decidida
32
Art. 469. Não fazem coisa julgada:
I – os motivos, ainda que importantes para determinar o alcance da parte dispositiva da sentença;
Il – a verdade dos fatos, estabelecida como fundamento da sentença;
III – a apreciação da questão prejudicial, decidida incidentemente no processo.
28
incidentemente no processo.
É de bom aviso, pois, que o autor lance mão do artigo 325 e requeira ao juiz
que sobre essa questão profira sentença incidente, para que sobre essa decisão se
derramem os efeitos da coisa julgada material, na forma do artigo 470 do CPC, que
soa, in verbis: “Faz, todavia, coisa julgada a resolução da questão prejudicial, se a
parte o requerer (artigos 5o e 325), o juiz for competente em razão da matéria e
constituir pressuposto necessário para o julgamento da lide”.
29
4 Julgamento conforme o estado do processo
33
Contra, Cândido Rangel Dinamarco. Instituições, passim.
30
O juiz conhecerá diretamente do pedido, proferindo sentença:
I – quando a questão de mérito for unicamente de direito, ou, sendo de
direito e de fato, não houver necessidade de produzir prova em
audiência;
II – quando ocorrer a revelia (artigo 319).
Art. 331. Se não ocorrer qualquer das hipóteses previstas nas seções
precedentes, e versar a causa sobre direitos que admitam transação, o
juiz designará audiência preliminar, a realizar-se no prazo de trinta dias,
para a qual serão as partes intimadas a comparecer, podendo fazer-se
representar por procurador ou preposto, com poderes para transigir.
§ 1º Obtida a conciliação, será reduzida a termo e homologada por
sentença.
§ 2º Se, por qualquer motivo, não for obtida a conciliação, o juiz fixará os
pontos controvertidos, decidirá as questões processuais pendentes e
determinará as provas a serem produzidas, designando audiência de
instrução e julgamento, se necessário.
31
há necessidade de produção de prova, determinando-as e designando audiência de
instrução e julgamento se houver necessidade de produção de prova oral.
Devemos provar somente os fatos relevantes. Temos que provar aquilo que
está no tronco do processo, o que é necessário para convencimento do juiz. As
32
partes têm de produzir prova sobre as alegações constantes da causa petendi e que
mereceram a contradita, a oposição da parte adversária, tornando-se, portanto,
questões. Daí se infere que não se prova tudo. Não precisamos provar o que já foi
admitido como verdade pelo adversário, que não impugnou o ponto na
contestação, que não contestou ou admitiu expressamente o fato na contestação.
Cabe aqui uma distinção entre fontes de prova e meios de prova. Fontes de
prova são os fatos e situações alegados pelas partes na fase postulatória, ou até em
momento posterior. São disponibilidade exclusiva das partes e sobre elas o juiz
não tem nenhuma ingerência. Meio de prova constituem o conjunto dos
instrumentos de que lança mão o magistrado para chegar à certeza jurídica. Assim,
a testemunha é fonte de prova. O depoimento pessoal é meio de prova. O
documento citado na petição inicial é fonte de prova. A perícia que sobre ele se
realiza é meio de prova.
33
aparece outro caso clássico de prova tarifada: se a transferência da propriedade
imobiliária não for comprovada com a certidão de transferência no cartório de
registro de imóveis, não pode ser comprovada de outra forma; (ii) sistema do livre
convencimento. Nesse sistema, não há necessidade de fundamentar a decisão,
como acontece, por exemplo, com os membros de um júri; (iii) sistema da
persuasão racional ou do livre convencimento motivado. Esse sistema que é,
preponderantemente, adotado no Brasil dá ensanchas ao julgador para firmar sua
convicção livremente, mas há de fazê-lo de forma fundamentada. É o que se
depreende do disposto nos arts. 93, IX, da Constituição, e 131 do CPC. Em outras
palavras (creditadas a Liebman), o juiz há de declarar qual o caminho lógico que
percorreu para chegar à conclusão a que chegou. Só assim a motivação será uma
garantia contra o arbítrio.
Todos os meios legais, bem como os moralmente legítimos, ainda que não
especificados neste Código, são hábeis para provar a verdade dos fatos, em que se
funda a ação ou a defesa. É vedada, por força de preceito constitucional, a
utilização da prova ilícita (não cabe, no direito brasileiro, qualquer distinção entre
prova ilícita e prova ilegítima).
34
ser feito na sentença. Ora, o raciocínio esbofeteia a lógica e o bom senso. Deveras,
o devido processo legal impõe que seja dado às partes o conhecimento das regras
do jogo, seus ônus, direitos e deveras. Demais disso, cumpre ser dito que a
inversão não pode conduzir a parte à produção de uma prova impossível.
6.1 Sentença
34
Lei n. 11.232, de 22 de dezembro de 2005.
35
realizar o que se tinha ganhado no processo anterior.
36
6.2 Formação do processo decisório
35
HABERMAS, Jürgen. Direito e democracia: entre a facticidade e validade 2. ed. Tradução de
Flávio Beno Siebeneichler. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, p. 244. I e II v.
36
Id e m, p . 24 5.
37 K EL S EN , Ha ns . T e or ia P ura do D ir e ito . T ra duç ã o d e J oã o Ba p tis ta Ma cha d o. Sã o
37
Aqui se coloca (?) uma questão preliminar sobre se na construção da norma
jurídica individual o magistrado cria direito ou revela o direito já existente no
ordenamento e aplicável ao caso concreto, numa espécie de antítese entre a
atividade de interpretação judiciária e a atividade criadora dos magistrados.
Esse parece ser um falso problema, o que pode ser demonstrado por mais de
uma vertente. Primeiro porque a questão aí não tem pertinência com o chamado
poder discricionário, que possui desenvolvimentos específicos com relação ao
Direito Administrativo cujos matizes não são encontrados na atividade
jurisdicional. Em outro dizer, é possível negar que um juiz possua poder
discricionário e, ao mesmo tempo, admitir que a atividade que exerce na prol ação
da sentença do caso concreto implica criação do direito, sem que isso implique
contradição.
Pa ul o: M a rt i ns F o nt e s, 199 6. p. 2 55 .
38
HAR T, H e r b er t L . A . O co n ce it o de D ir ei to . T ra du çã o d e A. R i b ei r o M e n d es, 2. ed .
L is boa : F un da ç ã o Ca l o u st e Gul b e nk ia n , 19 94 .
39
D WOR K IN , R o na l d . Le v a n d o os d i re it os a s ér i o . T ra d uçã o e n ota s d e N él s o n Bo e i ra .
Sã o Pa ul o: M a rt i ns F o n t es, 2 00 2, es p ecia l m e nt e p . 10 8, 109 e 1 27 .
38
estar (mas não necessariamente isso ocorrerá) legislando para casos futuros, de
igual natureza. No segundo caso, o juiz, ao decidir, estará julgando somente o caso
concreto submetido a seu exame, para ele estabelecendo a norma jurídica
individual.
magistrado. Mesmo aqueles que, como Eros Grau 40, negam ao juiz o exercício do
poder discricionário – no que estamos de acordo –, admitem que o juiz cria direito,
não lhe dando, porém, o poder de produzir normas livremente.Implica dizer, algum
grau de criação o magistrado possui. Aproveitando o mote, é certo que o legislador
cria o direito, aliás, é criador do direito por excelência, mas ele também não o faz
livremente, estando jungido ao espaço de liberdade criativa que lhe foi conformado
pelo poder constituinte originário, do qual não pode se afastar. Daí resulta que o
fato de o ente político não poder produzir normas livremente não implica que não
possa produzi-las e sim que tem – e deve ter, porque poder sem limites e sem
controle deixa de ser poder e se transmuda em arbítrio – de observar naturais
limitações no seu exercício.
40
GRAU, Eros Roberto. Ensaio e discurso sobre a interpretação – Aplicação do Direito. 3. ed. São Paulo:
Malheiros, 2005. p. 107.
41
CAPPELLETTI, Mauro. Juízes Legisladores. Tradução de Carlos Alberto Alvaro de Oliveira. Porto
Alegre: Sérgio Antônio Fabris Editor, 1993. p. 21.
39
legislado, concedida primazia ao Poder Legislativo, não resulta para esse poder
monopólio na formação do Direito, e arremata: “O juiz possui a este respeito, um
poder complementar indispensável que lhe permitirá adaptar a lei aos casos
específicos. Se não lhe reconhecessem tal poder, ele não poderia, sem recorrer a
ficções, desempenhar sua missão, que consiste no solucionamento dos conflitos: a
natureza das coisas obriga a conceder-lhe um poder criativo e normativo no
acabado, cuja produção já foi concluída” 43, com o que, coerentemente admite que o
ato sentencial que determina a norma que deve ser aplicada possui caráter
44
constitutivo .
Não obstante tudo o que foi afirmado, é conveniente ressaltar que o fato de
admitir que o magistrado crie direito supõe a necessidade de discutir os
coeficientes de legitimação de que os órgãos do Poder Judiciário possuem, o que
variará de acordo com cada ordenamento jurídico e de acordo com cada forma de
seleção e ingresso no Judiciário.
42
PER EL M AN , Cha ïm . Ló g ica j ur í d ic a : no va r et ór ica . T ra duçã o d e V e r gí nia K . P up i. Sã o
Pa ul o: M a rt i ns F o nt e s, 199 8. p. 2 03 .
43
KEL SEN , op . c i t. , 19 96 , p. 2 55 - 25 6.
44
Id e m, i b id e m , p. 2 56 .
40
brasileiro, ao Supremo Tribunal Federal, não se está a afirmar que a Corte pode
(como tem sido a sua tendência mais recente) exercer o papel de legislador
positivo, papel que a Constituição Federal decididamente não lhe atribuiu
(ressalvadas as situações especificamente admitidas para o uso do mandado de
injunção), ao argumento de que o congresso demitiu-se do múnus de regulamentá-
la. Para simplificar o raciocínio, de A não decorre B. Ainda que se possa iden tificar
elevado grau de abulia no Congresso Nacional em relação ao exercício dos
misteres que lhe são próprios, daí não resulta que o STF como órgão de cúpula do
Poder Judiciário (Poder instituído) possa avançar no vácuo do poder e instalar -se
como novel legislador.
45
COEL H O, L ui z F e r na n d o. L ó g ica j ur í d i ca e i nte rpreta çã o das l e is . 2. e d. R io d e Ja n ei ro :
F or e ns e , 19 81 . p . 3.
41
de bem e mal, sistema ou tópica, num reducionismo que desconhece outras opções
na construção da norma individual, por exemplo, a lógica do razoável.
O que se pode admitir como certo, isso sim, é que o raciocínio silogístico, tal
como concebido, não influi na formação da norma jurídica individual justamente
porque o decisor é quem faz a escolha e a modulação das premissas maior e
menor, para alcançar a conclusão a que quer chegar. O silogismo funciona, no
máximo, como uma técnica de demonstração, como um operador demonstrativo,
que tem como função (i) tornar claros os caminhos percorridos pelo construtor da
decisão; (ii) iluminar a parte dispositiva da decisão quanto à sua dimensão e
alcance; (iii) para além do caso concreto, atuar como instrumento de legitimação
46
N o m es mo s e n ti do , Cha ïm Pe r el ma n, Ló g i ca j u rí d i ca , ci ta da , p . 22 3.
42
Deve ser admitido, também, que, para além da obtenção da decisão, a
preocupação do Direito, especialmente do construtor da norma jurídica ind ividual
deve ultrapassar a simples verificação, por processos lógicos, psicológicos,
valorativos, de quem tem razão, de qual justiça deve ser aplicada ao caso concreto.
47
In t ro duç ã o à o b ra d e Canaris, P e nsa me nt o s ist emá t ic o e c o nc ei to de s ist e ma n a c iê n c ia
d o d ir e it o , c i ta da . C X, C XI .
43
ela pode produzir.
48
KAUF M AN N , A rth u r. I n: KAU F MAN N , A rth u r; HA SSE MER , Wi nf r i e d. I ntr o d uçã o à
Fi los o f ia d o D i re it o e à T e or ia d o D i re it o C o nt em por â neas . T ra d uçã o d e Ma rc os K e el e
Ma n u el S ec a d e Ol iv e i r a . L is boa : F u nda çã o Ca l ous t e Gul b e nk ia n, 20 02 . p. 1 53 .
49
M A C COR M IC K, N eil . A rg u me nt açã o J u r í d ica e te or ia do d ire it o . T ra d uçã o Wa l d é a
Ba rc el l os. Sã o Pa ul o : M a rt i ns F o n t es, 2 00 6, p . 165- 19 5.
50
M A C COR M IC K, o p . c it . , 200 6 , p. 1 65 , 19 1, 1 93 .
51
PER EL M AN , Cha ïm ; O L BR ECH T S - TY TE CA , L u ci e. T rata d o da ar g u me nt açã o : a n ova
r et ó rica . T ra du ç ã o d e M a r ia E r ma nt ina d e A l m ei da Pra d o Ga l vã o . 2. e d. Sã o Pa ul o:
44
admitindo a irupção da tópica dentro do pensamento sistemático –, o que
Perelman chama de argumento pragmático é imediatamente associável à sinépica,
dada a definição de que se vale o autor belga:
Ma r ti ns F o n t es, 2 0 05. p. 3 02 e s eg ui nt e s.
52
PER EL M AN , op . c i t., 20 05, p. 3 03 .
45
interpretação jurídica”.
Vale o registro final, quanto ao ponto em exame, de que, para nós, os termos
sinépica e reserva do possível não são sinônimos, mas, com certeza , a reserva do
possível pode configurar uma das técnicas da sinépica para a edição da norma
jurídica individual. Deveras, a reserva do possível, que encontra precedente
paradigmático em decisão do Tribunal Constitucional Alemão (caso numerus
53
Sobre reserva do possível, conferir Fernando Facury Scaff, Sentenças Aditivas, Direitos Sociais e Reserva
do Possível, publicado em Revista dialética de Direito Processual, São Paulo, n. 51, jun. 2007
46
fenômeno da coisa julgada.
Coisa julgada material somente ocorre quando não cabe mais recurso da
sentença que apreciou a relação de direito material deduzida em juízo. É dizer, a
pretensão deduzida foi objeto de deliberação judicial. É sobre ela que incidirá a
coisa julgada material que, assim, é uma espécie de qualidade que vai se derramar
sobre o mérito. A doutrina diz que essa “qualidade” torna imutável a deliberação
do juiz, outra parte da doutrina fala que a “qualidade” é a própria imutabilidade.
47
de revisibilidade da sentença é ampla e atinge todos os efeitos que a sentença
possa produzir.
Assim também nos parece. Não se mostra razoável esse entendimento que,
no limite da função, terá aptidão para eternizar todos os litígios. É que, se puder
ser rescindida determinada coisa julgada, a qualquer tempo, também a decisão que
desconstituir a primeira, assim que transitar em julgado poderá ser relativizada, e
assim, sucessivamente.
48
Referências
BUENO, Cassio Scanella. Curso Sistematizado de Direito Processual Civil. São Paulo:
Saraiva. 2007.
Coelho, Luiz Fernando. Lógica jurídica e interpretação das leis. 2. ed. Rio de
Janeiro: Forense, 1981.
FIGUEIRA JUNIOR, Joel Dias. Comentários ao Código de Processo Civil. São Paulo:
Revista dos Tribunais, 2001. IV v., tomo II.
KELSEN, Hans. Teoria Pura do Direito. Tradução de João Batista Machado. 3. ed.
São Paulo: Martins Fontes, 1991.
49
Montenegro Filho, Misael. Curso de Direito Processual Civil. 4. ed. São Paulo: Atlas,
2008.
Pinto, Teresa Arruda Alvim. Nulidades da Sentença. 3. ed. São Paulo: Revista dos
Tribunais, 1993.
SILVA, Ovídio Araújo Baptista da. Curso de Processo Civil. 2. ed. Porto Alegre:
Fabris, 1991. 1 v.
50