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06/11/2018 Parte 3: Ciência e Tecnologia na Coreia do Norte

Parte 3: Ciência e Tecnologia na Coreia do Norte


Enriquecer o solo – produzir para além da subsistência
Continuação das partes anteriores: Introdução , 1 e 2

por Kim Soobok

Junto ao Rio
Chongchon, em
Namhung, Província
de Pyongan Sul,
está o grandioso
Complexo Quimico
da Juventude.
Estabelecido em
1979, é uma das
maiores instalações
produtoras de
fertilizantes da
Coreia do Norte.
Antes do período da
Marcha Árdua ,
1990-2000, a base
material para a produção de fertilizantes era a nafta, um subproduto residual da refinação
de petróleo. O Complexo de Namhung, bem situado próximo da Fábrica Química
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Bonghwa em Sinuiju, uma das duas refinarias de petróleo da Coreia do Norte, tinha assim
acesso a uma fonte de nafta abundante. Também está próximo de Kaechon, o centro da
produção de carvão da Coreia do Norte e fornecedor de combustível para o complexo,
bem como do Rio Chongchon, fonte de água industrial. O complexo costumava produzir
360 mil toneladas de ureia fertilizante, 25 mil toneladas de polietileno e 10 mil toneladas
de acrílico por ano.

Contudo, na década de 1990, o colapso da União Soviética e o sufocamento económico


imposto pelas sanções levaram a um declínio drástico da capacidade da Coreia do Norte
para importar petróleo bruto. Com o fim do acesso à nafta, a produção de fertilizantes
estagnou. Foi então que o líder norte-coreano Kim Jong-il propôs a produção de um novo
tipo de fertilizante a partir da antracite, abundantemente disponível naquele país
montanhoso.

Entretanto, uma série de inundações catastróficas em 1995 e 1997 paralisou indústrias


extractivas da Coreia do Norte e a tarefa de transformar carvão em fertilizante foi adiada
indefinidamente. O país levou muitos anos para se recuperar plenamente dos danos das
inundações e restaurar suas minas encharcadas em água. Só em 2009, a RDPC foi capaz
de restaurar suas indústrias básicas, tais como o vinalon e a produção de aço. Animada
pelos avanços tecnológicos que permitiram uma produção acelerada, a Coreia do Norte
estabeleceu como objectivo tornar-se uma "nação forte e próspera". Aumentar a produção
de fertilizantes a fim de promover a produção de cereais era um ponto crítico para o
cumprimento deste objectivo.

Cientistas e engenheiros norte-coreano, incluindo peritos da Universidade de Tecnologia


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Kimchaek, finalmente tiveram êxito em gaseificar a antracite e, em 2009, o país pôde


começar a produção em massa de fertilizantes a base de carvão. Trata-se de um
processo complicado que envolve pelo menos nove passos, incluindo a gaseificação, a
purificação do gás, a sua compressão e a síntese do amoníaco. Eles também construíram
um separador de oxigénio de grande porte, componente essencial no processo de
gaseificação, e fornalhas alimentadas a carvão pulverizado para aumentar a eficiência da
produção.

De acordo com as notas que tomei na minha visita de Setembro de 2012, o Complexo
Namhung produziu 350 mil toneladas de ureia fertilizante em 2011-2012. E de acordo com
registos da Academia Nacional de Ciências da RDPC, em Maio de 2015, todo o país
produziu 700 mil toneladas de ureia, 300 mil de fertilizante com fósforo e 300 mil de
fertilizante com potássio, num total de 1,3 milhão de toneladas de fertilizante naquele ano.
Cientistas e engenheiros no Complexo Namhung continuam a investigar meios para
aumentar a produtividade e a eficiência enquanto reduzem o custo de produção. E mais
de quatro centenas de subprodutos químicos do processo de produção de fertilizantes são
reciclados pela indústria química do país como base para um vasto conjunto de produtos,
incluindo tintas, fibra de polipropileno e matérias-primas farmacêuticas.

Biotecnologia e fertilizantes orgânicos

A super-utilização de fertilizantes químicos pode devastar o ambiente microbiótico natural


do solo e torná-lo dependente para sempre da fertilização artificial. Portanto, a Coreia do
Norte está agora a voltar o seu foco para a biotecnologia a fim de produzir fertilizantes
orgânicos que ajudem os agricultores a revitalizar micro-organismos e reconstruir o
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conteúdo orgânico do solo.

O nitrogénio, o fósforo e o potássio – macronutrientes essenciais para as plantas – podem


estar presentes no solo mas em formas que as plantas não os podem absorver facilmente.
Os fertilizantes orgânicos introduzem micro-organismos que transformam os nutrientes em
formas acessíveis às plantas. A Fábrica Patriota de Fertilizante Microbiano Composto é
um instituto de investigação que utiliza nova tecnologia bioquímica para a produção em
massa de fertilizantes microbianos compostos que fazem exactamente isso. O instituto
tem instalações manufactureiras em todos os municípios do país para produzir fertilizantes
com micro-organismos nativos nos solos locais. Agricultores locais também são
estimulados a produzir localmente o seu próprio fertilizante orgânico utilizando métodos de
baixa energia. Eles fazem compostagem de resíduos de plantas e esterco animal, a seguir
por vezes aumentam o material composto com alguma forma de fertilizante químico.

A Fábrica Patriota de Fertilizante Microbiano Composto também é louvada pelo seu


desenvolvimento de um acelerador inteiramente natural do crescimento de plantas , o
Bonghwasan 1, fabricado através da extracção de componentes bioactivos de uma vasta
variedade de plantas nativas da Coreia do Nortes. Em tempos de seca, as raízes das
plantas precisam aprofundar-se no solo em busca de humidade e nutrientes. O
Bonghwasan 1 promove o crescimento das raízes e promove a fotosíntese. O tratamento
de sementes com Bonghwasan 1 antes da semeadura permite às plantas aguentarem
secas através do aumento do comprimento das raízes em mais de 16 polegadas [41 cm] o
que lhes permite absorver humidade e nutrientes no subsolo profundo. Raízes mais fortes
e mais profundas também permitem às plantas suportarem chuvas e ventos fortes durante
a época das monções.
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A Cooperativa Agrícola Ryongjin, no município de Kaechon, que reforçou a fertilidade do


solo com a adição de algas azuis ao composto químico, informou que depois de
acrescentar Bonghwasan 1 ao tratamento das sementes as suas colheitas mal foram
afectadas pela seca. Ela agora depende menos de fertilizantes químicos e é capaz de
aumentar ainda mais o rendimento das colheitas. A Cooperativa Agrícola Gwanbong, no
município Chunghwa, que sofria de crónica escassez de água devido à distância a que se
encontrava do reservatório mais próximo, também relatou colheitas com êxito após a
utilização do Bonghwasan 1. O seu milho não é afectado pela seca, informaram os
agricultores, permanece saudável e intacto. A cooperativa antecipa um aumento no
rendimento de 50 a 100 por cento.

A nova inovação da Fábrica Patriota de Fertilizante Microbiano Composto também está a


revolucionar a produção de fertilizante orgânico. O processo de decomposição
habitualmente envolve a perda de 80 a 90 por cento do resíduo orgânico na forma de
dióxido de carbono e água. Portanto, produzir uma tonelada de composto normalmente
exige dez toneladas de resíduo orgânico. Mas o instituto criou um novo tipo de catalisador
bio-orgânico com resíduos de farelo de arroz e leguminosas como substrato que impede a
perda de resíduos orgânicos no processo de decomposição e aumenta significativamente
o rendimento do composto. Segundo Kim Seon-ok, o engenheiro-chefe da Cooperativa
Agrícola Boseong, no Distrito Rangrang de Pyongyang, com a utilização deste novo
catalisador "o que costumava exigir vinte toneladas de inputs agora exige apenas cinco".

Rumo à auto-suficiência alimentar

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Graças a avanços na produção de fertilizantes, a cada ano a Coreia do Norte progride


mais no rumo do seu objectivo da auto-suficiência alimentar. Segundo estimativa da
Organização para a Alimentação e Agricultura (FAO) das Nações Unidas, a produção de
cereais da Coreia do Norte, a qual afundara-se para menos de 3 milhões de toneladas em
meados da década de 1990, tem estado a aumentar constantemente. Em 2013 e 2014, o
país produziu anualmente cerca de 5,3 milhões de toneladas de cereais – o suficiente
para alimentar toda a população norte-coreana em níveis básicos de subsistência. (Tabela
1)

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Outros indicadores também assinalam melhorias na qualidade de vida da Coreia do Norte.


Segundo o Banco Mundial, a taxa de mortalidade infantil da Coreia da Norte, a qual
ascenderá a quase 60 mortes por milhar de nascidos vivos no período da Marcha Árdua,
caiu gradualmente e agora aproxima-se das 20 por mil, muito mais baixo do que a média
mundial e apenas ligeiramente mais alta do que a dos seus vizinhos no Extremo Oriente e

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no Pacífico. (Tabela 2)

A esperança de vida na Coreia do Norte, a qual caira para menos de 65 anos no período
da Marcha Árdua, também aumentou firmemente. Segundo o Banco Mundial, agora está a

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par da média mundial de 70 anos. (Tabela 3)

Diversificar a dieta da nação

Tendo cumprido seu objectivo de aumentar a produção cerealífera, a Coreia do Norte


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agora é capaz de voltar sua


atenção para a melhoria da
dieta nacional através da
diversificação das suas
fontes de proteína,
lacticínios e vegetais. A
Colina Sepo, na região
norte da província
Gangwon, por exemplo,
está a ser transformada
num complexo agro-
pecuário para o
fornecimento de lacticínios
a todo o país. Ela abrange
122 mil acres [49,3 mil
hectares] em três
municípios – Saepo, Ichon e Pyonggang – mas antes era um deserto, terras incultas
inférteis com solos ácidos provocados pelas cinzas de uma erupção vulcânica.

Em 2012, o recém empossado líder norte-coreano Kim Jong Un começou a executar a


visão do seu pai e avô de transformar a área numa "exploração de classe mundial" e
instruiu responsáveis do partido a elaborarem um plano. Depois de efectuar análises dos
solos das terras ácidas, o país começou a transformá-las em pastos. Membros do Comité
Central do Partido dos Trabalhadores, do Exército Popular e do Gabinete lideraram o
esforço e pessoas com todos os estilos de vida, incluindo responsáveis do partido,
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funcionários do governo, barbeiros, recepcionistas e donas de casa, de todos os cantos


do país, responderam ao apelo de apoiar Sepo Mound. Soldados puseram de lado suas
armas e empunharam pás ao juntarem-se ao projecto.

Milhares de voluntários araram e cultivaram 122 mil acres. A terra fora abandonada
durante tanto tempo que eles ainda encontraram fragmentos de bombas, granadas e
minas da guerra de 65 anos atrás. Depois de limpar a terra de entulho e arrancar ervas
daninhas, acrescentaram 60 mil toneladas de calcáreo e fertilizante Hukbosan para
melhorar o solo. Eles descobriram turfa na base de reservatórios congelados e fizeram
dezenas de milhares de correcções do solo, às quais aplicaram o precioso tónico para
solos danificados. A seguir plantaram sementes de trevo e capins ricos em outros
nutrientes que produzem boa forragem para animais de pasto. Quando novos brotos
emergiram no ano seguinte, provocaram lágrimas de alegria.

As equipes também construíram todas as instalações necessárias para o pleno


funcionamento do complexo: milhares de residências, cercados para animais
domésticos, um centro de investigação científica, um centro de processamento de
animais, uma instalação de quarentena para animais doentes, centenas de instalações de
produção de gás metano, instalações para forragens e manufactura de aditivos para
forragens, bem como um quarteirão residencial para 50 peritos em pecuária do Instituto de
Investigação Agrícola da Coreia do Norte. Graças a estes esforços, Sepo Mound é agora
um vasto pasto fértil onde agricultores começaram a criar animais de pastoreio para
produzir queijo e leite para distribuição por todo o país.

A Coreia do Norte também dispõe de pomares em grande escala, como o Pomar do Rio
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Daedong e o Pomar
Gosan. O de
Daedong tem uma
instalação
manufactureira
automatizada para a
produção de sumo
de maçã e uma loja
de retalho que
vende uma grande
variedade de
produtos das
macieiras, tais como
sumo, champô e
sabonetes.

Instalações de grande escala para o processamento de cereais e fábricas regionais


produzem o essencial da cozinha coreana, tal como molho de soja, pasta de soja, pasta
de pimenta vermelha, xarope maltado de arroz e fécula, bem como uma grande variedade
de confeitarias. Empresas tais como as da Cerveja Rio Daedong, Cerveja Ryongsong e
Cerveja Rason produzem a bebida com sabores que são característicos das suas
respectivas regiões. Tornou-se habitual ver trabalhadores desfrutarem um copo de cerveja
a caminho do trabalho – uma cena que não seria possível sem suficiente produção de
cereais.

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O mais impressionante é que agora quase todas as unidades da sociedade norte-coreana


– cooperativas, unidades agrícolas, fábricas, negócios, etc – já são auto-suficientes na
produção da carne e verduras para seu consumo. Com base no princípio da auto-
suficiência, elas produzem gado em pequena escala e possuem cooperativas com jardins
e estufas para a produção de legume destinados ao consumo próprio. Isto será analisado
na próxima parte, a última, desta série.

20/Abril/2018

A seguir, Parte 4: Utilização de métodos agrícolas sustentáveis para a auto-


suficiência alimentar ao nível local

Partes já publicadas:
Intro – Ciência e tecnologia como o caminho para o progresso económico
1 – Ciência e tecnologia como o caminho para o progresso económico
2 – Irrigar os campos – uma luta de duas décadas

O original encontra-se em www.zoominkorea.org/...

Este artigo encontra-se em http://resistir.info/ .


24/Abr/18

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