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t
,
Elementos de uma teoria
do subdesenvolvimento'

o M OO H O C LÁS'i ICO
DO O F. <;t.N VO J.VIM ENT O IND USTRIAL

renna do de e n vo lvimento , na forma como é concebi-


d nos ~rande ce nt ros uru ve r..it ár io s do mundo ocidental,
tem o propó ito limi ta d o de "mostra r a natureza das vari á-
,"CI n o cconômlc q ue determ inam, em últ im a inst ância,
ra x de re c iment o da prod uç ão de uma econom ia ".'
Dad a u ma evtrutu ra ec on óm ica, ca be r ia re con r iru ir os
\Cu\ proce \ 0 ' fu nd amenta i.., de manei ra que fosse possíve!
ldemi ti, r aquel: var i ávei.. exógena que respondem pela
varia ç K\ no ru mo do c re i rnenr o e pela inten idade des-
te. Dentro de w a la nha de pensamento têm sido on tru í
0\ rn úlriplos modelo , de de sen volvi me n to que figu ram na
bibliog rafia co rrente. E"'ie po mo de vis ta, entretanto, apre-

• apítulo 4 de De senuol uim ent n e subdesenvolvime nto. RIO de


janeiru: fun do de Cultu ra, 1~ 61.
I Nichola\ Kaldor, ~A Modd o f Econornic G ro w rh", Tbt Ec

núnuc JÚUT1Itl/, dez . 1 ~ .\7 . form ulaçõ es idê nticas da t r ·


l re\ C1 111 • .
ento eCOnOnl1l0 cncontra rn-se cm Harrod , "An Ess.,H' in
Dynam ic Th " C' . •
co ry , c.conor>lIC[ournal, mar . 1 ~ 3'J ; c Tou r âs ol
D yntlm ic I::ClJflOmICS. Londres: Macm illan, '949 . E ta m bé m c-m
Domar ~C . . I E · .
E , apita x pa nsion, Rale of G row th ;lI\J Ernployrnenr",
conomelricu b
Amellcan . • a r. 1946; c ~E. x pa n s ·tu n and Ernploj. ment " •
fc . R . .
· . (m omlC e VlelV, mar. '947. Gra nde pane d1 exren-
sa IlIer atura s b d _ . . .
" o re a teor ia o cresc rrnenro econonuco, poblicada
l\{J~ ultlmos d . _ '-. _ .
b á.: C-Z anos, co nsu n n slmpln rehnament o do modelo
~IC{J
cstruturado por Harrod c Domar.
ESSENCIAL CELsO
FlJlll"ll()
----
114
lh fundamental de ignorar que o desenvol .
sentaa fa a , id di - h' VlIllen
' possui uma mn a imensao lstórica A .
• mlC
to econo O I' , " te<>.
. d d nvolvimento que se imite a reconstItuir e
na o ese . 'A •,m UIn
modeoa 1 bstrato - derIvado de uma expenencIa .
hist' .
onca
· itad as articulações de determinada . estrutura llao•
1Imita a -,
retender elevado grau de generalidade, Demai
pode P , ' I I' d d s, o
não secinge ao rnve re anvo e esenvolvim
problema " A • ento
alcançado pelos distintos SIstemas econormcos que coex' .
tememdado momento histórico. É necessário ter em con~
que o desenvolvimento econômico dos últimos dois sécu.
los,a Revolução Industrial- como correntemente lhecha.
mamos -, constitui per se um fenômeno histórico autôno-
mo. Comefeito: o advento de uma economia industrialna
Europa, nos últimos decênios do século XVlII, ao provocar
uma ruptura na economia mundial da época, representou
uma mudança de natureza qualitativa, ao mesmo título da
descoberta do fogo, da roda ou a do método experimental.
No mundo anterior à Revolução Industrial, o desen-
volvimento econômico era, basicamente, um processode
aglutinação de pequenas unidades econômicas e de divi-
são geográfica do trabalho. Na classe comercial estava
o agente dinâmico do desenvolvimento. Promovendo a
aglutinação de unidades econômicas em mercados mais
amplos, ela criava formas mais complexas de divisão
do trabalho e possibilitava a especialização geográfica,
Os frutos do aumento resultante de produtividade eram
absorv~dos em grande parte pelos grupos dirigentes das
com~Ol.d~des promotoras do comércio, o que tornav~
pOSSIVels ImpOrtantes concentrações de capital financei-
ro. Contudo, como a articulação ' entre os grupOS diri-
gentes da fase ' 1 ' veis
comerCia e os grupos sociais respons a
pe Ias fases prod ' mU-
I - uttvas era reduzida ou nula, a acu
açao dos lucros _ OU
nenhum f' , nas maos dos comerciantes pouco
e eito tinh b " d -o Do
ponto de vi a so re as tecrucas de pro uça . _
e Vista d o ' ' ersao
mais lucrat' comerciante dessa época a mv b
Iva conSlstla
' . em abrir novas frentes de tra a'
--- ..

OS DE UMA TEORIA DO SUBDESENVOLVIMENTO II5


ELEMEI'H

financiar a destruição de concorrentes. Os mêto-


lho, ou , ... h
dos de produção so em casos murto especiais cegavam
reocupá-lo.
a pVimos, em capítulos anterio:es, as causas que leva-
dvento na Europa do seculo XVIII, de urna eco-
ram a O a '
'a de tipo industrial. Urna vez configurado esse pri-
noml . ' ,
iro núcleo industnal, os fatores que condicionavam o
me portamento da economia mundial sofreram rápida e
com A • f
dical transformação. Em sua essencia, essas trans or-
raações se concentram em dois pontos. O primeiro diz
:speito aos fatores causais-genéticos do crescimento, os
quais passam a ser endógenos ao sistema econômico. O
segundo é um aspecto particular do primeiro e se refere
ao imperativo do avanço tecnológico, que se traduziu em
íntima articulação do processo de formação de capital
com o avanço da ciência experimental.
Nas economias pré-industriais, o lucro - quando
resultante de operações efetuadas dentro do próprio sis-
tema econômico e não do intercâmbio externo - consis-
tia, em grande parte, numa apropriação direta de bens
e serviços à disposição da coletividade. Assim, o lucro
do proprietário agrícola era aquela parcela do produto
da terra que permanecia em suas mãos para sustentar a
família e outros dependentes; o do comerciante provi-
nha dos bens e serviços consumidos diretamente, ass im
como do ouro que ele conseguia amoedar e que lhe per-
mitiria aumentar o giro do negócio. Se os estoques no
fim do ano estavam em nível mais alto que o desejado,
planejava-se uma redução nas compras e tudo voltava à
normalidade. Esse tipo fácil de ajustamento não poderia,
entretanto, Ocorrer em uma economia industrial. O lu-
~ro i?~ustrial, sendo pagamento a um fator de produção
a atlvldade do organizador ou empresário), incorpora-
-se ne '
) cessa na mente, ao preço de venda do artigo, no
In Omento em que este passa das mãos do produtor às
docom '
erClante . Em conjunto com outros pagamentos a
ESSENCIAL CELsO
FUI\
116 l~DQ

titui a contrapartida financeira de UI1l


fatores, cons , h a o~,
_ d produção. Destarte, so c ega a ter exist' .
raçao e d ido é did
o o bem pro UZI o e ven I o ao consum'd
enC1a
rea I quand I I Or
Até esse momento, qua quer pagamento a fato
fina. I . , I - d res
ão constitui simp_es operaçao e crédito. Para
de produç
que a tota lidade da produçao encontre comprador,e. ne.
cessário, pois, que a soma global d~s p~gamentos aos
fatores realizados durante a produçao seja despendida.
Caso o produtor não encontre comprador e os estoques,
em mãos do produtor, tendam a aumentar, o el1lpresá.
rio industrial não se encontrará - ao contrário do qU(
ocorria com o comerciante - em condições de poder
transferira pressão para um sem-número de artesãos ou
produtores domésticos. Se quiser liquidar os estoquei
acumulados involuntariamente e permanecer no merca-
do, terá de oferecer a mercadoria por mais baixo preço,
Eis por que os custos de produção passam a ocupar o
centro de suas preocupações.
Do ponto de vista do empresário industrial que partici-
pa de ummercado de concorrência, a elasticidade-preço da
procura da mercadoria que ele oferece é infinita. Suaprin-
cipal arma de ataque, na luta para expandir o campo de
~ã/'J, consiste em oferecer a mercadoria por um preço infe-
nor. 3C,J .que prevalece no mercado, em dado momento. Esse
prlllClplO era particularmente verdadeiro nas primeiras eu-
pu.de) ebtnvolvimento industrial, visto que os produtores
detinham. entao, . " -se
- em suas mãos, a liderança. Ao IOIClar
~meca~lzação da indústria têxtil, na Inglaterra, a ofert~
d x tdecldo. de lã, em primeiro lugar e depois, a dos teCI'
os e algodã , , a
o, tomou extraordinário impulso, sem que
prOCura glob I bsor'
v .. .J • a cre'tCCS5e na forma requerida para a
er fiXlO o Incr d - ulll
prolongado t~ento a produção. Teve início, entaO, ,
e"a mui•. ptrlrxio de baixa nos preços dos tecidos, baixa
I.., aetntuad ' ,toda a
produC'ào a, que permitiu desorgaOlzar
..., artesanal d m suas
colónias.. . I entro da própria Inglaterra, e
", maIs entamente, cm um grande numero
' de ou'
ELEIdENTOS DE UMA TEORIA DO SUBDESENVOLVIMENTO II]

a íses 1 Dessa"forma, o dinamismo da Revolução In-


trosp· ial em sua pnmetra etapa, atuava pe o d
l l a o d a o ferta,
dustrl , , , fa
entrando-se a atenção do ernpresano na grande tare
cone
de, por todos os meios, re d uzir. os custo~. Da' I
. I resu ta que
écnicas de produção passam a consntuir o ponto cru-
ast E
. I de todo o sistema economico. ntre os processos eco-
A '

cia . I
• icos e a ciência expenmenta surge uma arncu açao
' 1-
no01 . . , f d I
íntima que constituirá a caractensnca mais un amenta
da civilização contemporânea.
Viveu-se a primeira etapa do desenvolvimento indus-
triai, basicamente, nessa revolução operada na oferta, que
se traduz numa firme baixa dos preços de certo número
de mercadorias de consumo geral. Foi através do efeito-
-preço que atuaram os mecanismos tendentes a destruir
um número cada vez maior de segmentos da velha es-
trutura económica de base artesanal. O crescimento da
renda monetária era, necessariamente, menor que o do
produto real; ' mas graças ao forte aumento da produti-
vidade, no setor mecanizado - reflexo das econom ias
internas criadas por aumentos na escala de produção e
por inovações tecnológicas - a taxa de lucrarividade
mantinha-se em nível atrativo. Por outro lado, como não
havia pressão dos assalariados, em razão da crescente
oferta de mão de obra provocada pela própria desorga-
nização do artesanato, os frutos dos aumentos de pro-
dutividade não transferidos à população consumidora

1 Para OS dados relativos à produção e aos preços dos tecidos


d~ algodão na Inglaterra, desde o começo da Revolução Indus-
tnal, ver W. W, Rostow, The Process of Economic Grounh,
Londres: Oxford Universíty Press, 1953 ,
3 Entenda-se: o do produto real no seror monetário. Mas
co~~ a destruição do artesanato significava também a substi-
IUlçao de atividades de subsistência por atividades integradas
no mercado, a renda monetana- . crescia,
. por ISSO
. mesmo, mais .
que o produto real.
ESSENCIAL CELSO
118 FlJ1tr"1l0
. retidos em sua totalidade, pelo ernp _
Podiam ser rimeira ,
etapa do desenvolvimento d
resari
o.
d
Supera a a P lh ' Urant
ram erodidas as ve as estruturas econ' . e
a quaI fo . . . d . 01l11Cas
fatores dinâmicos da economia m ustnal Come '
os d I d d c çaralll
rar simultaneamente, o a o a Olerta e do d
aope, d " a pro.
a Com efeito, ao elevar-se a pro utlvldade físl'c
curo , . a nas
l'ndústrias de bens de consumo, os empresanos desse s
. . I etOr
se viambenefiCiados por maiores ucros que se traduzialll
emaumento de procura no setor ~~s bens de capitaI.4 En.
quanto não aumentava a produtividade física neste últi-
l
mo setor,sua rentabilidade se mantinha mais alta que n
. . I d
conjunto da economia, esnmu an o um aumento relativo
o
dos investimentos nele. Esse aumento relativo da procura
de bens de capital acarretava aceleração do crescimento.
Enquanto não surgisse um aumento equivalente da pro.
dutividade, no setor de bens de capital, a expansão do
conjunto de empresas que o compunham processava-se
através de absorção de mão de obra, diante da qual não
se levantavam entraves, pois o aumento prévio de produ-
tividade física no setor de bens de consumo provocava
uma liberação de força de trabalho. Ora, uma expansão
da mão de obra empregada na indústria de bens de capi-
tal significa, necessariamente, acréscimo da procura de
bens de consumo. Essa nova modificação no volume e na
est~ra ~ procura vinha afetar, mais uma vez, a orien-
tação das Inversões, em benefício agora das indústrias
de ben5 de consumo. O que interessa" reter de tudo isso, é
quea açãodinâmica tanto opera do lado da oferta como
do da prOCUra dos bens finais de consumo.

.. Em OUtras pai d . - de
. - avras:
Custos nas and .
to a vez que ocorre uma reduçao
men'. UStnas de bens de consumo e consequente-
"', um aumeOt dI ' . ' ta
de equipamen o e ucratlvldade nesse seror, a p.rocu
se()rigina toa, para expansãode capacidade produtiva que
neste seto d . - da
procura no &eto d r, ttermlna Um aumento da preSiao
r e bens de capital.
S DE UMA TEORIA DO SUBDESENVOLVIMENTO II9
ELEMENTO

bservações anteriores referem-se ao modelo típi-


As o
esenvolvimento econormco na f ase d a Revo Iuçao
A' -
coo d d _., fi d
Industrial, cuja expressa? mais pura esta ~odn gdurad a na
íência inglesa. Apos um longo peno o e esen-
expene d
· nro comereial intenso que engen rou uma gran-
~~~I .
nsão colonialista, ao mesmo tempo que Intensa
de expa I' h d , .
belicosidade (ao alcançarem as m as e comercio u~a
saturação), o problema dos custos de produçao
~~ A • I
l' aprofundando no campo econormco como um e e-
101 se A • J' ..
de crescente importância. a na pnmelra meta e
d
mento .,. . di
do século XVIII, os procedimentos tecOlco~ mais a I~n-
tados eram disputados e por toda parte objeto de esplO-
nagem.s Procurava-se ~~rai.r p~sso.as, de qu~lquer modo,
que possuíssem expene?cla tecrnca superior' .~ss.lm, a
forma extensiva de crescimento da era rnercantilística -
que visava à abertura de novas frentes de comércio, nem
que fosse pela violência - foi dando lugar a um novo
estilo de crescimento em profundidade, cuja força dinâ-
mica resultava das próprias transformações internas do
sistema econômico. Essas transformações não se proces-
savam, entretanto, de forma errática. O avanço da ciên-
cia recebeu enorme impulso, em todas as frentes, assim
como a aplicação dos princípios científicos às técnicas
de produção. Criou-se, em consequência, um acervo de
inovações técnicas em permanente aumento, sendo que a
viabilidade econômica dessas novas formas de produção
ficava na dependência do juízo dos homens de empresa.
À medida que as condições o justificavam, as novas téc-
nicas iam sendo incorporadas aos processos produtivos.
Mas, embora o avanço da ciência e da técnica adquiris-

s Sobre as missões de espionagem enviadas pelos ingleses


ao continente, particularmente à Itália, para copiar os equi-
pamentos têxteis mais avançados, ver Paul Mantoux, The
Industrial Revolution in the Eighteenth Century. Londres:
Jonathan Cape, 192.8.
ESSENCI A t, Ctt e
•" ~ O f I).
1_ " l ~r....

nomia crescente - ampliando-se o esp


se auto I' ' . . ectro A
'b'Il'dades tecno ogicas porencrars - as c di \ót
pos51 I . ' O n IÇr
ômicas é que determmavam, em cada caso f lt\
econ 'I' d
. de teCnologia a ser un iza o.
e a\(,I)
npoNa primeira fase do desenvolvi
esenvo vlmento, caracter'
...Ia absorção do si
o SIstema "
pre-capita "ista o salá llado)
'
.,... . izad basi ' fio dr)
operário não ,~pe~lahza o era, as~camente, um salí.
rio de 6ObrcvlvenCla. Com a desartIculação do arlt\a.
nato e o aumento conseque.nte, da oferta de mão de obra
nas zonas urbanas, a tendência favoreceu mais a baixo
que a alta dos salários." Pode-se admitir, pOrtanto ck
maneira geral, que o desenvolvimento se processava' em
Clmdiç~s de oferta de mão de obra totalmente elástica
em um nível de salário real constante, em termos de ali:
mentol. Como os preços dos produtos manufaturadol
medidos exatamente em termos de alimentos, estavam
cm decl ínio? - se não houvesse e ssa haixa de preçcs
tlio scria po,sível eliminar, pela concorrência, a produ,
çào Intsanal- depreende-se que o sa lá r io , medido cm
termosde produtos manufaturados deveria acusar certa
tendência a subir, o que evidentemente contribuía para
expandir a procura de manufaturas na s zonas urbanas,
F.~n tais condiçlles, não há como nega r que as inova'
ÇOC\ tt cnClI"gicu M: afiKurariam tanto mai s cconómieat
qUam.n.maior fosse a redução do custo unitário que e1al
permltlSlttm , m-d'
.. lante o aumento da produçao- por uni·
dade de capital I' d ' Nessa
f ' ap ica o no processo produtivo.
ase a tndúnria d b d atc'
ria' d e ens e capital - excluídos os m
" c construçào _ constituía um seror de importa n'

~
'iT O S DE U M .... TEORIA DO S IIDE S E N VOl VIMENT O 11.1
E lE~E .

, relativamente pequena. O volu me das inversõe s no


'Ia r industria l est ava mu ito ma is limitado pela o ferta
selO .
1de equipamentos que por outros tatores de natureza
reatritamente economIC:.l.
. . Aod-d .
pr uçao e equipamentos
~etua.,a-se em base serniarresanal. permanecendo em
segundo plano a preocupaç~~ de redu.zir -.lhe ,os custo~ .
Seria primeiramente necessario q~c a IOdu st ~I ~\ de equI-
pamentos alcançasse c.er~a maturidad e e a o ter ra se tor-
nasse relati.,amente el ástica, neste set or, para que o pr o -
blema da escolha da técnica co me çasse a fo rmu la r-se cm
term os rigoro arnente ec onómico .
Com uma oferta el ást ica de m ão de o bra , o pr incipal
Iaror determ in ante do ritmo do crescimento econ óm ico é
a capacidade produtiva da indústr ia de bens de a pitai (ig-
norado o intercâ mbio externo, para simplicidade de expo-
siç âo), Por outro lad o, a part icipaç ão d a indúst ria de ben s
de cap ital, na produção glo ba l, reflete a forma de d istr i-
buição da rend a: endo ma ior essa participaç ão , ma ior
terá que ser, também, a partic ipa ão dos lucros, cm par-
ticular do s lucros indust riais, na renda rotal. " Com d eito :
se se admite que o co ns u mo da '> cla sses de altas rendas é
regulado por fato re insti t ucion ais e pouco af eta do por
modificaçõe s de cu rt o prazo, no nível da renda globa l, e
que o consumo dos assa la ria dos é determ in ado pelo n ível
de sua renda co rrent e, a pre enr ando -se prat icam ente nul a
sua capacidade de poupança, cabe concluir que o máximo
consumo real da classe assalariada tem a determ iná-lo,
por um lado, a oferta total de bens e servi o s de co n-
sumo e, por Outro lado, o nível do consumo das clas ses
nio assalariadas. Ora, a oferta total de bens e serviço de
~umo é determinada pelo seu próprio nível de produ-
çao se, para simplificar, raciocinamo em termos de uma
economia fechada. Como a produção de bens de consu-

• Pa~ UlnA anál~ deite ponto ver N. K.lldar, "A.kcmari~ Tbe -


OfIC\ o( Distriburion·. Relllew o{ Ecorwmic StNJies. mar. 19S6.

~ ..
E.SSE.NCIAL CE.LsO F
Ull.'fAtlO

e bens de capital são complementares tOr


mo e a d , , ' na-se
óbvio que o aumento relatlv~ de uma implica a redução
relativa da outra. Ao transfenrem-se trabalhadores do se.
tor de bensde consumo para o de bens de capital, a oferta
de bensde consumo reduz-se, ao passo que o nível de SUa
. procura-se mantém inalterado - supondo que seja poso
sível tal transferência sem aumento do salário médio. S
esteaumenta,para induzir os operários a trocarem de se~
tOI, haverá expansão da procura de bens de consumo, ao
mesmo tempo que se reduz a sua oferta no mercado. Na
prática, semelhante situação acarretaria elevação do nível
de preços dos bens de consumo, redução no salário real
médio e, consequentemente, um aumento da participação
dos lucros no produto.'Com efeito: se levamos em conta
que a produção de bens de capital tem que ser comprada
,pelos empresários, com parte de seus lucros, e que o con-
. . sumo da classe não assalariada é estável a curto prazo,
cabe concluirque umaredução da produção de bens de
consumo fará o salário médio real reduzir-se -também; e
q~e um aumento da produção de bens de capital resulta-
ra num aumento dos lucros. Qualquer desses fenômenos
acarreta modificações na distribuição da renda, provo-
cando reações dos grupos sociais interessados. A atitude
dd~te,s é que,emúltima instância determinará a forma de
lstIlbu' - da '
A. ~çao, a renda e a estrutura da produção.
~IlmelIa fase do desenvolvimento industrial se ca-
racteIlzou po " -o
da m ' d' , r um aUmento substancial da partiClpaça
Ustna d b . dús-
tri d . e ens de capital - sobretudo da ln
a e equipa ' I
E ' mentos - no total da produção industria:
ssa modlficaç , foi
muito ao na estrutura do aparelho produtiVO ,
provavelment - diS-
tribuição d e acompanhada de alteraçoes na
os
com mais' a renda " crescendo a massa total d OS Iuer ,
' .
fâcil Intensidade
precisar
f " N- o sera
que a olha de salários- a do
desenvolvim qua?do se concluiu essa primeira etapa I
a
absorção d ento lUdustr .ía1, mas tudo indica .que a tot
a econom' , ente
la pre-capitalista e a consequ
ELEMENTOS DE UMA TEORIA DO SUBDESENVOLVIMENTO 123

absorção do excedente estrutural de mão de obra devem


coincidido com o encerramento dessa fase. A par-
t~r de então, a oferta de mão de obra tornou-se pouco
tJ~stica, melhorando a posição de barganha da classe
~rabalhadora, o que criou sérias dificuldades à absorção
da grande massa de bens de capital em permanente pro-
dução. Foi uma situação que se configurou com absoluta
clareza, na Inglaterra, já no começo do último quartel
do século XIX: para absorver o grande e crescente volu-
me de bens de capital era necessário transferir mão de
obra desse setor para o de bens de consumo, o que teria
ocasionado uma redução relativa da produção de bens
de capital, com redistribuição da renda a favor dos gru-
pos assalariados. Tal tendência levaria a uma redução no
ritmo de crescimento e a uma baixa da taxa de lucros.
A economia inglesa logrou evitar a eutanásia precoce
lançando-se numa grande ofensiva internacional. Foi
quanto bastou para que tivesse início a fase de total libe-
ralização do comércio inglês, das maciças exportações
de capital, que mantinham a indústria de equipamentos
funcionando a plena capacidade, e da ofensiva comercial
sob a forma do audacioso imperialismo vitoriano.
A segunda fase do desenvolvimento das economias
industriais - quando a oferta de mão de obra se torna
pouco elástica - está assinalada por um desequilíbrio
fun?amental entre a capacidade de produção de bens de
capital e a possibilidade de absorção dos mesmos. Visto
de,outro lado, este fenômeno apresenta-se da forma se-
gUinte: a oferta de poupança tende a crescer mais rapi-
damente que a do fator trabalho, o que cria forte pressão
~ sentido da redistribuição da renda a favor dos traba-
b ~dores. A redistribuição acarretaria, entretanto, uma
~I~a na taxa de lucros, desencadeando por seu lado uma
seIle
_ de reaçoes, - ten dentes a reduzir o voIume dee imver-
Soes
c '. a cri' d ' , a reduzi
ar esemprego temporano, .
uzir o ritmo do
resClmento econômico etc. O ponto crucial do problema
'1>4
",tdariva ínelasticidade da ofttta de
CIf"'*'potUntO' te aumentava a elasticidade da of
ão de obra. Ou _A . ' • CftI
tlJ lho havrrU que raaUZlr a Imponancía feia"
dr traN ou . I ', rva
• dr benJdt captta e permmr que, nessa COn-
da ~d· ~ renda se redistribuísse a favor dos grunn.
fomll a~, a , , YVJ
' - ~ O. Ao fato de terem as economias capltalis".
aua IanilU " ...
d solucionar esse problema, ao mesmo tempo qut
Iograo . , âo dos l
. h m o nível de partlClpaçao
mannn a os ucros no produ .
to,deve-se a manutenção da elevada taxa de crescimento
que também caracteriwu a segunda etapa do desenvolvi.
mento industrial moderno. A fase de grandes exportações
de bens de capital, em fins do século passado e começos
doatual, constitui um simples período de transição - as.
sumindo grandes proporções apena s no caso do primeiro
país a industrializar-se, a Inglaterra - que teve a virtude
de permitir o refinamento de soluções mais definitivas,
Encontraram-nas na própria tecnologia, progressivamen-
teorientada no sentido de corrigir o desequilíbrio funda-
mental, que se formara na etapa anterior.
Um excesso estrutural da oferta, no setor de bens de
capital, tende a refletir-se em redução dos custos da inver-
são, nosetor de bens de consumo, em que são utilizados
cm sua grande maioria os equipamentos. Na medida em
que os equipamentos mais baratos vão penetrando nas
in~ústrias de bens de consumo - seja para reposição,
sela para ampliação - a rentabilidade desse setor tende
a :1U ~entar, com respeito ao conjunto da economia. Ora,
a malar renta bilid d ' '
I I a e no setor de bens de consumo slgUl"
fica, em última instância, que uma fraç ão maior dos bens
de consumo produziidos não é consumida pelos operJrlO . .s
dessa mesma ' dú , ser
, 10 ustna, e portanto fica livre para ~
consumIda n " r
. . o setor de bens de capital. Como esse setO
nao esta em cr ' - nO
stnrid d bai esclmento, manifesra-se uma pressao
o a alxa do d que,
em últi'" . . , s preços os bens de consumo, , .
•..a InStancl ' ,. d larl O
rea] em t a, slgDlfica uma elevação o S3
, crmos d . flla'
e mercadonas produzidas pelo seCO!
tUM" TIOIlIA 00 SU.Of.Sf"VOlVUUI'lTO ns
u.t.. r"~O' l)

. O li tm&ncia ~ elevação do saUrio real incidi·


""f"cu lT lr . - d úsrri de bens de ' I
ri flUis f~ sobre as lnL.~~tnas . bilid ~_ c:r~a~
. , estejam opuando com l ... l~a renta alX. ~

~ ,a_ decortt ~ as técnicas mais avançadas - que


pW~ , . . d
implicam maior d~sl~ack de ~3p~.al por ~ssoa ocupa ,a
ntrarn condlçoes eCOnOml\.:3S relativamente mais
-{ .en~eis nas indústrias produtoras de ben s de capita l. E
a~ora I' , dú j
_ nço mais rápido da recno agia nas 10 usrrra s prouu-
o ava . . . J '
toras de bens de cap ital tem con seq ue ~c las tundamenrai s
para todo deseO\'oh'ime~t? da economia. C resc~nd(~ a s.ua
produrividade física mais intensamente que nas indu strias
de bens de consumo. os preços dos equipamento s rendem
a declinar em term os de produtos manufarurad os de con-
sumo, o que induz a substitui r. nas indú strias de bens de
consumo, mão de o bra por equipamento s. Da í resulta
uma tendência a aumenta r o gra u de me cani zaç âo, em
todo o sistema, i to é. a aumenta r a den sidade de capital
fixo por pessoa ocupada , Co mo o preço dos equ ipamen-
tos, em termos de: rnanufaruras de: consumo (e, portanto,
em termos de salários rea is], vem d im inu indo. a ma ior
mecanização não implica. ne ce ssariarnenre, redu ção da
taxa de rentabilidade dos novos capitais invertidos.'
O forte avanço relat ivo da tecnologi a nas ind ústrias
de bens de capital perm itiu co ncilia r a forma de d istri-
buição da renda , que crista liza ra no per íodo de absorção
~a ~co~omia pré-capitalisra, e uma fone part icipação das
IDdustnas de: bens de capital no produto total, com uma
oferta de mão de obra relativamente pouco el ást ica .
d Equipa~.entos que provocavam substancia is a umentos
a produtiVidade física nas ind úst r ias de ben s de co nsu-
m°be(como os teares automáticos) eram obt idos da indústria
de os de ca ' I '
pita, prancarnenre sem aumento de preç os

9 Para uma a ili .


Itlec ' na ise aguda da s inter-relaç ôes ent re: o gr au de
aDlzação e a Ih d .
.-\ CCll I ' esco a c tecnologia , ver Joan Rob inson, The
. l , L ondres: Ma cm illan , 195 .
mu atlOn of Capita
6
116 ESSENCIAL CELS
O i'lJ R:r ...
OO

(emtermos de bens de consumo). A resultante elev ~


, b di - d açaod
salários reais criaria oas con içoes e rentabilid d OS
,
processos tecno1oglcamente indaa mais
am mai avançados.a Oh e para
vado o mesmo fenômeno de outro ponto de vista
ser
d -
, l ' ientad
dizer que a tecnoIogia 101 onenta a no sentido de
,poe-se
.
bi - d f permi_
tir com maçoes e atores em que entravam quant'd d
crescentes de capital (definido no sentido conven I, a es
, ClonalI
por homem ocupado. Aque1as mvenções que possih'l'
, d f - d llta-
vam ec~n~~lla o ator ~ao e obra ~dado um nível de
pr~~uçao Ja alcançado) tl~h~m preferencias às que per-
mmamaumento da produtividade física do trabalho -m
nãopermitiam reduzir a procura do fator mão de obra, E:
particular no setor agrícola - grande viveiro de mão de
obra- realizou-se esforço substancial para reduzir a pro-
cura do fator trabalho. A mecanização agrícola iniciada
emfins do século XIX, trouxe enorme desafogo ao merca-
do de,trabalho, contribuindo substancialmente para quese
mantivesse elevado o nível das inversões nas economias de
mais adiantadograu de mecanização.
,As .
. observações anteriores evidenciam , com clareza,
a Intima Interdependência existente entre a evolução da
tecnologia
, , nos paí ind ustna
aises ln 'I'izados e as condilçoes
- h'IS-
t~ncas do seu desenvolvimento econômico. Essa tecnolo-
gia, ,na forma em que se apresenta hoje " da aos
mcorpora
equlpame ntos m indUstnals resulta portanto de um Ien-
o o '

to processo de d -' , .', de


m f oecantaçao. Nesse processo mflutram,
anelra unda I I s
naçõe b menta, condições específicas de a guma
paísesSq' 80 dretu?~ da Inglaterra e dos Estados Unidos:
, ue, e vanos P
Sistema ec ~,
do "
ontos e VIsta, conStItUlram
um 50
I
XIX,l0 D '
onomlcO , durante a primeira metad e d o 5 écu o
envar um modi '
e o abstrato do mecalllSmo des'

ro Para u
maanálise d ' I . eOtO
econ.ômicod I I a Interdependência do desenvo Vim
d
ver,..Oautóra.png aterra e dos Estados Unidos no secU
' lo ){.X,
.
d J neitO:
o

FUnd ,armaçãoo o ~ ,
OdeCultut economicado Brasil. Rio e a
o ••

a, 1959, em particular o capítulo ""Ul.

f~~P';· " .
• o 0 . 0 • o o • • ••
DE UMA TEORIA DO SUBDESENVOLVIMENTO 127
ELEMENTOS

mias em seu estágio atual, e atribuir-lhe validez


sas eConO , - d h
universal valeria por um,a reedn,carnaçao 0 , o~o oecono-
o em cuja psicologia ru imentar os c1assicos preten-
m/cus, assentar as leis, A'
econorrucas f un damentais.
' A dua-
deram , d di ,
id d óbvia que existe e se agrava, ca a la mais, entre
h a enomias desenvolvi das e as su bd esenvo1Viidas, exige
o

as ecO di ,
uma formulação desse problema em termos isnntos.

AS ESTRUTURAS SUBDESENVOLVIDAS

o advento de um núcleo industrial, na Europ~ do sé-


culo XVIII, provocou uma ruptura na economia mun-
dial da época e passou a condicionar o desenvolvimento
econômico subsequente em quase todas as regiões da
terra. A ação desse poderoso núcleo dinâmico passou a
exercer-se em três direções distintas. A primeira marca
a linha de desenvolvimento, dentro da própria Europa
ocidental, no quadro das divisões políticas que haviam
se cristalizado na etapa mercantilista anterior. Esse de-
senvolvimento, conforme vimos, caracterizou-se pela
desorganização da economia artesanal pré-capitalista e
pela progressiva absorção dos fatores liberados, a um ní-
vel mais alto de produtividade. Identificam-se duas fases
nesse processo; na primeira, a liberação de mão de obra
era mais rápida que a absorção, o que tornava a oferta
desse fator totalmente elástica' na segunda a oferta da
~ d "
m~o e obra, resultante da desarticulação da economia
pre-capna
o
' I'tsta, tende a esgotar-se, o que exige uma re-
°l,rdlentação da tecnologia. Cabe a esta manter a flexibi-
1 ade d .
o SIstema, para que os fatores se combinem, em
pr~porções compatíveis com a sua oferta. Desta forma,
o e~envolvimento da tecnologia _ isto é, as transfor-
~~çoes das indústrias de bens de capital - passa a ser
d: :a Vez mais condicionado pela disponibilidade relativa
tores nos centros industriais. o
ESSBNCIAL CELSO PU"
...'I'Atll)

, .' 'A segunda linha de, desenvolvimento


, da econom'la'In-
dustrial europeia.conslstlu num deslocamento para além
de suas fronteiras, onde q?e~ que.ho,uvess e, terras ainda
desocupadas e de caractenstlcas similares as da própria
Europa. Fatoresvários respondem por e~sa expansão. No
casoda Austrália e do.Oeste norte-amencano, o Ourode-
sempenhou um papel básico. A revo~ução dos transpOrtes
marítimos, permitindo trazer cereais de grandes distân-
cias, para competir no mercado europeu, foi decisiva em
,outros casos. Mas importa ter em conta, entretanto, que
esse deslocamento de fronteira não se diferenciava basica-
mente do processo de desenvolvimento da própria Europa
do qual fazia parte, por assim dizer: as economias austra-
liana, canadense ou estadunidense nessa fase eram sim-
ples prolongamentos da economia industrial europeia. As
populações que emigravam para esses novos territórios
levavam as técnicase os hábitos de consumo da Europa e,
ao encontrarem maior abundância de recursos naturais,
alcançavam, rapidamente, níveis de produtividade e renda
bastante altos. Se considerarmos que essas "colônias" só
se estabeleciam onde prevaleciam condições econômicas
e~cepci~nalmente favoráveis, explica-se que suas popula-
çoes hajam alcançado desde o início elevados níveis de
vid " ,
a, comparativamente aos dos países europeus.
A t~rcei~a linha de expansão da economia industrial
europeia fOI em direção às regiões já ocupadas, algumas
delas densamente povoadas,com seus sistemas económicos
seculares
_ ' " de vana iados npos,
' mas todos de natureza P,ré-
capitalIsta. O contato das vigorosas
' economias" capltalls'
tas com essas '- d c de
, , regloes e antiga colonização não se tez
, be umforme. Em aIguns casos o interesse I'ImitO
maneIra ' u·se
a a rtura de linh d , ,' des'
de o' , , as e comercIO. Em outros houve,
ImcIO, o dese' d ' 'aS-
-primas ' JO e fomentar a produção de materl O
, CUJa proc ' '
efeito d ' ura crescia nos centros industriaiS.
o Impacto d tru'
turas arcaica ' a expansão capitalista sobre as es d
s vanou de reglao ' - para regiao,
,_ ao sabor e
S DE UMA TBORIA DO SUBDESENVOLVIMENTO I:;Z·9
ELEMENTO "

, ta~nciaslocais, do tipo de penetração capitalista e da


clrcuns
,
1 ' '
'dade desta. Contudo, a resu tanteroí quase sempre
.
I
mtenS , ão de estruturas híb I nidas, uma parte das as ouai
quais ten-
a cnaç " I'
' comportar-se como um sistema capita ista, a outra,
dta a
nter-se dentro da estrutura preexistente.
. ' de
Esse tipo
a ma nomia dualista consntui, " 'f
especi i'
camente, o renomeno
A

ecO A

dosubdesenvolvimento contemporaneo.
O subdesenvolvimento é, portanto, um processo his-
tórico autônomo, e não uma etapa pela qual tenham,
necessariamente; passado as economias que já alcan-
çaram grau superior de desenvolvimento. Para captar a
essência do problema das atuais economias subdesenvol-
vidas necessário se torna levar em conta essa peculiari-
dade. Consideremos o caso típico de uma economia que
recebe uma cunha capitalista, na forma de atividades
produtivas destinadas à exportação. Seja o caso de uma
exploração mineira, sob controle de empresa capitalista
que organize não somente a produção, mas, também, a
comercialização do produto. A intensidade do impacto
desse núcleo na velha estrutura dependerá, fundamen-
tal.mente, da importância relativa da renda a que ele dê
origem e que fique à disposição dentro da coletivida-
de, Depende, portanto, do volume de mão de obra que
~bs?rva, do nível do salário real médio e da totalidade
. e Impostos que pague. Este último item teve reduzida
Importância
, nas e t apas mlclals
" , . d e expansao - ' I'lsta
caplta
~OIS Pdara atrair o capital forâneo criavam-se estímulo~
e to o tipo' I '
O ' , me usrve o da total isenção de impostos.
nível do sal' , I
ções d '
e Vida
ano rea era e é determinado pelas condi-
1
novas preva ecentes na região onde se instalam as
dade dempresas, sem conexão precisa com a produtivi-
qUe o ~ lt~a,balho na nova atividade econômica. Bastava
a, médi' a ano na empresa capita ' 1'ista fosse
osse alzo suoeri
a go supenor
mão d: r~glonal, para que se deparasse uma oferta de
decisivo o ra totalmente elástica. Assim sendo, o fator
era o volume de mão de obra absorvida pelo
ESSENCIAL CELSO FURTADO
13°
, I' t Ora a experiência demonstra qu
, I o caplta IS a" , " e
nUC e I d mão de obra não atingia, via de regra
se voume e "
es rções. No caso das economias especiali_
grandes propo ração de mmenos , " difi 'I I
I CI mente a cançava
zadas na expIoçâo em idade de tra b a lh ar. AI'em do mais
% da popuIa I
5 mpresas entravam em contato com as auto-
as novas e h bili '1 -
id d 1 cais e tratavam de a I ita-
ri a es o , as a execução de
medidas de profilaxia e outras, cujo re~ultado se fazia
sentir numa redução da taxa de mortalidade, com Cor-
respondente aumento da taxa de Incremento v~getativo
da população. Ao cabo de algum t~mpo, o numero de
habitantes havia aumentado o suficiente para restabele-
cer a relação entre população e recursos, que prevalecia
na etapa anterior à penetração da empresa capitalista.
A estrutura econômica da região onde penetrou a em-
presa capitalista - no exemplo do parágrafo anterior-
não se modifica, necessariamente, como consequência
dessa penetração. Apenas uma reduzida fração da mão de
obradisponível é absorvida pela empresa forânea; os salá-
rios pagos a essa mão de obra não são determinados pelo
nível de produtividade da empresa, e sim pelas condições
devida prevalecentes na região. Salientamos, também, que
era de esperar que a população aumentasse sua taxa de
crescimento. Como a empresa capitalista está ligada à re-
gião ondese localizou quase que exclusivamente como um
agente criador de massa de salários seria necessário que
, e
o montante dos pagamentos ao fator trabalho alcança~
grande importância relativa para provocar modificaçoes
na estrutura econômica. O fenômeno é até certo pontO,
idê , " ntO
I entico ao observado na primeira fase do desenvolvIme
da, economí ' I'ista quando o sistema artesana I pree-
mia caplta
xlstente ia sendo destr~ído e absorvido. Fase anterior ao
momento
. em que o setor capitalista
, , - abso_r'
em expansao,
vdena a totalidade ou quase totalidade dos recursos de ~ao
e obra, permium , d d
o que os salários reais antes eter
Iluu a-
dosem função d di ~ " d passem
as coo içoes preexistentes de VI a,

. ', " ,
E UMA TEORIA DO SUBDESENVOLVIMENTO 13 1
t:Lt:loIENTOS O

dicionados pelo nível de produtividade. Ainda as-


a sercon , ' r
sim a similitude é aparente, pOllhs a emI pr~sa ~aplta ista que
m uma região de ve a co onizaçao e estrutura
penetra e , I d' .
• ica arcaica não se VInCU a, marmcarnente, a esta
economl
'I .
u uma,
pelo simples fato de que a massa de lucros por ela
,
dos não se integra na economia local.
geraO dinamismo da economia . capita' I 'ista resu Ita, em u' Iti-
'
ma instância, do papel que nela desempenha a cl~sse em-
presarial à qual cabe utilizar de forma reprodutiva uma
parte substancial da renda em permanente processo de
formação. Já nos referimos ao fato de que o consumo da
classe capitalista é determinado por fatores institucionais
e, praticamente, independe de flutuações, a curto prazo,
no nível da renda global. É este, por certo, o elemento
mais estável no dispêndio da coletividade. Por outro lado,
o consumo dos assalariados tem a determiná-lo o nível
global de emprego, cabendo-lhe um papel ancilar no pro-
cesso de desenvolvimento. Assim sendo, o que garante
o dinamismo à economia capitalista é a forma como se
utiliza a massa de renda que reverte aos empresários e
que estes poupam. Ora, trata-se de uma parcela que não
se vincula à região onde está localizada a empresa: sua
u~i1ização depende, quase exclusivamente, das condi-
çoes ~revalecentes na economia a que pertence o capital.
ConSidere-se o caso dos capitais ingleses invertidos em
empresas produtoras de chá, borracha ou metais no Su-
' A ren d a gera d a por essas empresas ~integra-
deste da Ásia.
~se lem parte na economia local, em parte na economia
lngesa
. . É provave
' I que a parcela correspondente à econo-
mia local seja maior que a outra Mas é a cota-parte que
perma I' ' ,
r nece Igada à economia inglesa que detém as ca-
nacterísticasd'lOamlcas
" d o sistema
. "
capitalista, Com e feito:
'
Uma subst . I
tod ancia proporção a massa de poupança, que
em os os ~nos a economia inglesa necessita transformar
deecapacldade produtiva, deriva de rendas provenientes
mpresas localizadas em todas as partes do mundo.
ESSENCIAL CELSO FUR
TADO
131·
ções do parágrafo anterior explicam
As observa . . ' POr
-o do comérclO internacional no século X
que a expansa I ' . IX
_ expansao - decorrente do desenvo virnento_ mdustrial da
- não determinou uma propagaçao, na mesma
Europa . I' d d - O desloca.
I do sistema capita isra e pro uçao.
esca a, ia trad '
mente da fronteira economlca europ~la tr~ ~ZlU-se, qua.
A '

se sempre , na formação de economias , ,hlbndas em que


um núcleo capitalista passava a coexisnr, pacificamente,
com uma estrutura arcaica. Na verdade, era raro vermos
o chamado núcleo capitalista modificar as condições es-
truturais preexistentes, pois estava ligado à economia
local apenas como elemento formador de uma massa de
salários. Somente quando o tipo de empresa requeria a
absorção de grande número de assalariados - como foi
o caso das plantações de chá, no Ceilão, e de borracha,
na Birmânia - é que o efeito da organização capitalista
sobre a economia local assumia maior importância. Se
a oferta de mão de obra local era relativamente escassa,
como ocorreu nesses dois países, apresentava-se, desde
cedo, a possibilidade de elevação do salário real, ainda
que tal tendência pudesse ser parcialmente anulada - e
assim ocorreu nos dois casos citados _ mediante a imo
portação de mão de obra proveniente de países de baix~
nível de vida. Contudo, apesar dessa melhora de condi'
ções de vida, não se registrava uma modificação estru'
tural no sistema econômico, isto é, não se dava o pa~s~
fundamental exigido para criação de uma economia tlPl'
cament
' . e capua ' I'ista, E desde o momento em que as co n'
dlçoes externas deixaram de permitir que continuassea
exhPandir-se, naqueles países a produção de chá ou borra'
cac O , , I per'
, nou-se uma situação de equilíbrio em um níve , I
manente des b " cebn'e
u emprego de fatores que sena mcon " 5
numa econom' ' . ' alaCIO
esta-o determila tipicamente
d
capitalista. Como os s , .."
. ela
na os pelas condições de subsls ten fi a
A
e
, portanto é 1 eS a c
em cond'" a ta a margem de lucro - a empr .ão
IÇoes de abSorver fortes quedas de preços, ra~
ELEMENTOS DE UMA TEORIA DO SUBDESENVOLVIMENTO 133

peIa osq ual o nível de emprego pouco flutua. As quedas de


ao afetarem, e pre erencia, a margem de Iucro,
d fA •

preç ,tram seus ef eitos. na propna, . ren daa img Iesa, na qua I
concen , .
estão integrados os lucros da empresa. Mutatis mutandis,
a recuperação dos preços ,e a etapa de b.onança passam
uase despercebidas no pais onde se localiza a empresa, a
menos que fatores de outra ordem aconselhem a utilizar
os maiores lucros para expandir o negócio na própria re-
giãoonde são auferidos. A decisão relativa a uma possível
ampliação dos negócios é tomada de Londres, em função
dos interesses da economia inglesa, no seu conjunto. Eis
por que, não obstante os chamados núcleos capitalistas
serem relativamente fortes, em economias como a do Cei-
lãoou das repúblicas centro-americanas, estas continuam
a comportar-se como estruturas pré-capitalistas.
Não seria justo, entretanto, supor que as economias hí-
bridas, a que vimos fazendo referência, se comportem em
todas as circunstâncias como estruturas pré-capitalistas.
Em muitos casos - e o Brasil é um bom exemplo - a
massa de salários no setor ligado ao mercado interna-
cional foi suficiente para dar caráter monetário a uma
importante faixa do sistema económico. O crescimento
dessa faixa monetária implicou importantes modificações
nos. hábitos de consumo, com a penetração de inúmeros
a~tlgo,s manufaturados de .procedência estrangeira. A
dIVerSificação nos hábitos de consumo teve importantes
conse • ,
, quenclas para o desenvolvimento posterior da eco-
nomia
d "J'a Vimos
" que o nível de emprego, numa economia ,
alo- tipO, tende a ser relativamente estável embora o
Va or das exportaçoes - flutue ao sabor das oscilações
' nos
~reços internacionais das matérias-primas. A estabilidade
a renda m -',
lid d onetarIa interna, em confronto com a instabi-
soba e da capacidade para importar, cria fortes pressões
re o, baIanço d e pagamentos, nas fases de baixa '
Preços Intern ' ' d' -
dos
pad - acionaís, e ificulta a adoçao das regras do
rao-Ouro. Na medida em que foi crescendo a impor-
~

ESSENCIAL CELSO Pu
RTAllO
134
. ' I tiva da renda monetária, dentro da econo '
tanCla re a d - nUa
'I '
brasi eira - como resultado a expansao do setor ll'g d
ao
ao mercado I'nternacional - , tendeu a aumentar a pres-
- sobre o balanço de pagamentos,
sao . ' nas fases
, de baiIJea
dos preços internaciona~s: Surglr,am, assim, condições
favoráveis à criação de atividades ligadas ao próprio mer-
cado interno. Nas fases de forte declínio dos preços de
exportação, a rentabilidade dos negócios ligados ao mer-
cado interno tende a crescer, em termos relativos, pois au-
mentam os preçosdas mercadorias importadas ao mesmo
tempo que se mantém o nível da renda monetária.
Quando a atividade exportadora era controlada, so-
bretudo por capitais nacionais - como foi o caso, no
Brasil, durante a expansão cafeeira - o problema apre-
sentava outros aspectos de importância. A simples exis-
tência de vultosa massa de lucros formados na atividade
ligada ao mercado externo abria novas possibilidades ou
criava novos problemas. É necessário ter em conta que
esses lucros não desempenhavam, na economia cafeeira,
o mesmo papel que cabia aos lucros de uma economia
industrial. O elemento dinâmico da economia cafeeira
era a procura externa, e não o volume das inversões nela
rea,lizadas. Se essas inversões se revelassem excessivas, o
efeito ,últiImo p00'Ia ser uma perda de renda real, atraves ,
d: baixa de preços. Nas repúblicas centro-americanas
pfo~e-se o~servar, lado a lado, os dois fenômenos: o do
e elto da IOCr ust açao - d e empresas estrangeiras. - nO
caso das _ n açoes de banana _ e o do efeito e uma
pia t - d
expansao conr I d asO
das PIantaçõe ro d
a a por capitais nacionais - no c
~, . d' tin°
to se b s e cale. O resultado não foi muitO IS
, em que o ~, d d I cros,
alémd d " cale eu origem a um fluxo eU,
o e salános L 'd pro'
pria atl'v'd d . ucros que foram inverti os na ,
bilidade Id a e cafei eicuItora, na medida em que a diISPO nl'
e terras e - d M urna
vezesgotada mao e obra o permitiu. as, ~.
feeiro a s as
, poSSIibilid
I I ades de expansão do seror c"lS
,
, .eXperlênci d ita
a emonstrou que os noVOS cap
~-

OS DE UMA TEORIA DO SUBDESENVOLVIMENTO 135


ELEMENT

formados tendiam antes a expatriar-se que a buscar


I
nee campos de apI'icaçao- dentro doo SIstema.
si
outro S . _ .
A experiênCIa brasileira surge como um caso espe-
, loque se deve à sua própria magnitude. De fato:
ela , ~ , d I
dada a grande abundancIa e terras_ap tas para p an~ar
fé e a elasticidade da oferta de mao de obra,'! as in-
versões na cafeicultura não encontraram I'imitação
ca , pe Io
lado da oferta de fatores. Explica-se, assim, que se haja
formado , desde fins do século XIX, uma situação crônica
de excesso de oferta e ao mesmo tempo que fosse possí-
vel controlar, por meios artificiais, essa oferta. Os lucros
do setor cafeicultor, nas fases de prosperidade, tendiam
a concentrar-se nesse mesmo setor, sem desempenhar
qualquer papel fundamental, no sentido da modificação
da estrutura do sistema. A única diferença, com respeito
à experiência centro-americana, estava em que, havendo
oferta elástica de fatores, os lucros eram invertidos na
própria base que os gerava. E essas volumosas inversões
efetuadas no setor cafeicultor - mesmo quando a sua
rentabilidade real era relativamente baixa - provoca-
vam a absorção da economia de subsistência preexis-
ten~e e financiavam a imigração europeia, promovendo,
assim, a expansão do setor monetário dentro da econo-
mia. Como as necessidades de manufaturas desse setor
eram bastante elevadas, surgiu um mercado de produtos
manufaturados, que justificaria, mais tarde, a criação de

II A ' .
,pn melra fase de grande expansão cafeeira no Brasil -
terceiro qu Id '
b arte o s éculo passado - teve como base a mão de
odesd " I'izad a, na regiao
ra que havia permaneCIido sermun ,_ .,
rmnerra,
e
gund que entrara em decadência a economia do ouro; na se-
do ~ etapa de expansão - último quartel do século passa-
irnig r o.problema da mão de obra foi resolvido mediante a
açao euro '
fez-se c b pela; a expansão dos anos 192.0, 1940 e 1950
'ienient~~ as~ na absorção de excedente de mão de obra, pro-
MIDas Gerais e dos estados do Nordeste.
E~nN CIAl C E I. SO f U,-
•TADO

um n úcleo industrial, to rn a ndo possível, . co m o tem",")


t" · , a
rmacâ
trans fo ......,. o estrutural da econorrua
.
o
.
O demento din âmico, na pnrneira etapa do desen•
volvimento indust rial europeu, atuou , conforme vimos
pelo lado da oferta. A aç~o e~presarial - através d~
introdução de novas cornbinaç ôcs de fatores - criou SUa
própria procura, na medida e~ que conseguiu oferecer
um produto mais barato e mais abundante. No caso do
desenvolvimento induzido de fora para dentro - como
foi o brasileiro - formou-se, primeiramente, a procura
de manufatura s, satisfeita com importações. O fator di-
nâmico atuaria do lado da procura a partir do momento
em que esta não pudesse ser satisfeita pela oferta exter-
na. Por um lado, a estabilidade do nível da renda mone-
tária, por outro, a instabilidade da capacidade para imo
portar, agiram, cumulativamente, no sentido de garantir
atrativo às inversões ligadas ao mercado interno. A hábil
política de controle artificial da oferta de café, iniciada
no primeiro decênio do século xx, deu maior estabilida-
de à capacidade para importar e, muito provavelmente,
aíetou de forma negativa o desenvolvimento do núcleo
industrial em formação. Mas note-se que essa política
tornou mais profunda e de efeitos mais duradouros a
crise: cllfeeira, iniciada em 192.9, precipitando. assim. as
transforma ções estruturais que vinham se anunciando.
o O núcleo industrial, criado com base na procura pree-
XiStente de manu tOaturas - antes atendida com IIUPO rta· o

çôes - iniciou-se a partir de indúst rias ligeiras, produto·


ras de art i"os
l'> '
de Consumo geral. como tecidos e a I'irne ntOS
d.'lborados. Pass" , " _. dentJ'll
d. . ..m a coeXIstir. enrao, tres setores-
a e(OI\OmUl' no . , . id dó de
bsi • " prlluelro. predominam as a(l\'1 a
su llISU'I\Cla e d . , gun'
d . e ce uZldo o fluxo moner ário; no se o

o estao
, as ati\'id l ades · diiretamenre ligad as ao Col11érLIO
e)(tt'.flOf' no tere ' , d m a l1
. eiro . finalmente as que se pren e
I~ru do Interno d ' d ' o tl Su '
mo "eral 1"'\.. e produtos manufaturados e c a
~ . ut'para·..... ' d
.... nos, portanto, um npo e es
(rurue;

'~
f U " " TEO R"" DO SU B D E S ENVO LV I M EN T O 1;7
H f )ol E ~ T O S o o '

. ' a subd esenvolvida bem m a is com plexo que o da


tcOflOm le _ . . . ' . _
• 1 coexis tenCla de empresa s estrangeira s com rema-
Slmp_ eses de um sIstema . ' I'ista . N as es trut u ras
pre. -cap ira
ne~en:nvolvidas de grau inferior. a m assa de sa l ários ge-
suoue5 , . " I di
rada no seror exportador con snnn o UOICO e emento ma-
o, 'e.xpansão do seto r exportador engend ra um tlu . o
ml\.O • •"'l , b •
o r de renda monetária, que torna po ssível a a so r çao
IlUJO
de fatores a ntes ocupados no setor de su bsisrê s l s tenc l ;~ . Se se
antém estacion ~irio o sero r exportador. o cresc rrnenro
da população forçará à reduçã o do sa lár io re al m éd io e
ao declínio da renda por habitante,
Nas estruturas su bd esen vo lvid a s m a is complex as -
onde já ex iste um n úcle o industri al ligado ao m ercado
interno - podem su rgi r rcnç ões cumulati va s. tendentes
a provocar tr an sforrnaç ôes estruturais no sis tema . O fa-
ror dinâm ico básico cont inu a a se r a procura extern a;
a diferença está cm q ue a a ção dest a é multipl icada in-
ternamente. Ao crescer a renda monetária. por ind uçã o
externa, cre scem, também, o s lucros do núcleo indus -
trialligado ao mercado interno e aumentam as inversõ es
nesse núcleo, o que também a fera , favoravelmente, o n í-
~'el da renda monetária - com cons eq ue nt e redução da
ImpOrtância relativa da fai xa de su bsistê nc ia. Co ntu d o ,
como a expansão do seto r externo é acompanhada de
~e1hora na capacidade de im portação, o poder co m pe ti -
tl\'O d '
as ImpOrtações aumenta ne ssa s fases, via de regra
~duzindo-se a magn itude real do multipl icador inte rno
r~nda. A diferença ma ior oco rre , entretanto, na etapa
~d u.lnce de conrração da capac id ade de im portação, ao
~~rem o s preços dos produtos e xportados. Ca mo
a renda monetarta se mantém em ru ve I re Ianvarnentc
' o • o

aIto o d I' .
f ' ec 1010 da capac idade de im po rtação aca rre ta
Orre des I ' .
e Va Ortzação ca m b ia l. O núcleo entra , as sim,
rn etapa d e bonança, ex atarnente na tase d e d o

e i 11110
' ,
da rentabTd d· I-
I)
nlVel d I I a e no seto r exportador
o
. , Em bora dec me
a renda monetária, aumenta a procu ra de m a -

~--_.
ESSENCIAL CELSO FU
138 RTAIlO

e produção interna, devido à desvaloriza •


nufatur as d bilid d Çao
bi I melhorando a renta I I a e no setor Iigad
cam la, ibilid o ao
mercado interno. Contudo, as pOSSI I ~ ades efetivas de
escimento são frustradas pela redução da capacidad
cr bilid d d '
de importação. ~ alta re~ta I I a e as Indústrias liga_
e
das ao mercado Interno e, em parte, aparente, pois o
preços de reposição dos equipamentos importados cres~
cem com a desvalorização cambial. ~ existência de uma
importante massa de lucros, provenientes de atividades
ligadas ao mercado interno, numa etapa de aumento re-
lativo dos preços de equipamentos industriais, faz surgir
uma tendência a inverter capitais nas atividades menos
dependentes das importações, tais como as construções
residenciais. Como essas inversões não provocam modi-
ficações permanentes na estrutura de emprego da coleti-
vidade, o seu aumento relativo tende, em última instân-
cia, a frear o próprio processo de crescimento.
A etapa superior do subdesenvolvimento é alcançada
quando se diversifica o núcleo industrial e este fica ca-
pacitado a produzir parte dos equipamentos requeridos
pela expansão de sua capacidade produtiva. O fato de se
alcançar essa etapa não implica que o elemento dinâmico
prmcipal passe, automaticamente a ser o núcleo indus-
triai ligado " ao mercado " Interno.'O processo norma I de
~es:n~olvlmento do núcleo industrial é ainda o da subs-
tltulçao
" - destarte, o elemento ditnam
de imp ortaçoes; • lC
"o
reSIde
, I ainda na procura preexisrenre - forma a, pctn.
. d '
~Ipa me~te, por indução externa _ e não nas inovações
introduzidas s
, , nos processos produtivos como ocorre na
economIas indu " 'N n
StClals totalmente desenvolvidas. o e .
tanto, como o si t ' d b ns
d ' I s ema e capaz de produzir parte os e
e caplta de qu ' "da-
de duti e necessIta para expandir sua capacl
pro utiva o ' ar
Por muuo ' ' , processo de crescimento pode conttnU
mais te da
capacidad d ' mpo, mesmo que haja estancamentO
e e Importa - O d opera,
em tais cond" _ çao. esenvolvimento se ,
IÇoes , entretanto, com forte pressao- ln
" flaclo'

.~
S DE UMA TEORIA DO SUBDESENVOLVIMENTO 139
ELE/olENTO

, " por uma série de razões que observaremos, mais


nacta, 'I'
'damente, em caprtu os seguintes.
deU
S'ntetizando a ana'I rse
" anterior:
' o su bd esenvoIvimento
"
- ~onstitui uma etapa necessária do processo de forma-
nao
ção das economias caprta " I"rstas mo dernas. É
_ ' em SI,' um
processo particular, resultante da penetraçao .de empre-
sas capitalistas modeena~ em estruturas arcaicas. O fe-
nômeno do subdesenvolvimento apresenta-se sob formas
várias e em diferentes estádios. O caso mais simples é o
da coexistência de empresas estrangeiras, produtoras de
uma mercadoria de exportação, com uma larga faixa de
economia de subsistência, coexistência esta que pode per-
durar, em equilíbrio estático, por longos períodos. O caso
mais complexo - exemplo do qual nos oferece o estádio
atual da economia brasileira - é aquele em que a eco-
nomia apresenta três setores: um, principalmente de sub-
sistência; outro, voltado sobretudo para a exportação; e
o terceiro, como um núcleo industrial ligado ao mercado
interno, suficientemente diversificado para produzir parte
dos bens de capital de que necessita para seu próprio cres -
cimento. O núcleo industrial ligado ao mercado interno
se desenvolve através de um processo de substituição de
manufaturas antes importadas, vale dizer em condições de
permanente concorrência com produtores forâneos. Daí
resulta que a maior preocupação do industrial local é a de
apresentar um artigo similar ao importado e adotar mé-
todos de produção que o habilitem a competir com o ex-
POrtador est rangelco.
. Par outras palavras, a estrutura de
Preços, no setor industrial ligado ao mercado interno, ren-
de a assemelh
ar-se a' que preva Iece nos parses
' de elevado
grau
A " de ind Ustna " I'izaçao,
- exportadores de manufaturas.
...55,lm sendo, as inovações tecnológicas que se afiguram
,..ais vanta ' -
d Josas sao aquelas que permitem aproximar-se
a estrutur d '
de a e custos e preços dos paises exportadores
tnanufatu - ,
ção . . ~as, e nao as que permitam uma transforma-
maIS raplda da estrutura econômica, pela absorção do

~--
ESSENCIAL CELsO F
URl.... 00
14°
'stência, O resultado prático disso - 111
setor de subSI ' I I' d esmo
etor industrIa iga o ao mercado inte
que cresça o S , . d rno e
articlpaçao no pro uto, mesmo que cre
aumente
bê suarenda
P íra do coni
per capita o conjunto d a populaça~ sça,
ram em, a , 0_
e que a estrutura ocupacional do -paisfse modifica CO'"
o
u, Ien·
idã O contingente da populaçao a etada pelo desenv l-
u, ao. to mantém-se reduziido, decI'mando mui devagao
Vlmen , "o Imurro
ra
, ortância relativa do setor cuja prmcipa atividade é
imp , ~ , E I' d a
produção para Subslstencla. xP. Ic~-se, e,ste modo, qUe
uma economia em que a produçao industrial já alcançou
elevado grau de diversificação, e tem uma participação no
produto que pouco se distingue da observada em países
desenvolvidos, apresente uma estrutura ocupacional tipi-
camente pré-capitalista e que grande parte de sua popula-
ção esteja alheia aos benefícios do desenvolvimento.
Como fenômeno específico que é, o subdesenvolvi-
mento requer um esforço de teorização autônomo. A falta
desse esforço tem levado muitos economistas a explicar,
poranalogia com a experiência das economias desenvol-
vidas, problemas que só podem ser bem equacionados a
partir de uma adequada compreensão do fenômeno do
subdesenvolvimento. A tendência ao desequilíbrio no ba-
lanço depagamentos é daquelas que, à falta de um marco
teórico adequado, mais têm sido incorretamente formula·
das: mal interpretadas nos países de economia subdesen-
volvida, como no caso do Brasil.
Interação entre decisões
e estruturas'

TIPOLOGIA DAS DECISÕES MOTORAS

Aanálise das estruturas que esboçamos anteriormente preo-


cupa-se, essencialmente, com os mecanismos de propaga-
ção de certas decisões econômicas às quais se atribui um
determinado grau de autonomia. Esse tipo de análise ten-
de a apresentar os processos econômicos como decorrentes
de decisões totalmente autônomas e de decisões totalmente
induzidas, o que, é evidente, constitui uma primeira apro-
ximação da realidade. Podemos distinguir pelo menos três
grupos de decisões econômicas, suscetíveis de manifestar
certo grau de autonomia e, portanto, de assumir um papel
motor no processo de desenvolvimento. São elas as decisões:
a) relacionadas com o plano de utilização da renda
destinada ao consumo imediato e que pode ser parcial-
mente poupada - essas decisões constituem a substância
da teoria do comportamento do consumidor;
b) relacionadas com a transformação de um conjunto
de r~cursos econômicos em outro conjunto de recursos
considerado mais raro - com elas se preocupa a teoria da
produção; e
, c) relacionadas com a alocação em função de um ho-
fllOnte tempora,I d o produto nao
- 'destinado
, ao consumo

• Capltulo 8 de Teo .
"TIa e po loittca
' do d i'
o

co S· P esenvo uimento economt- A ,

. ao aulo: Paz e Terra, 2000. {Primeira edição: 19 67.}

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