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Elementos de uma teoria
do subdesenvolvimento'
o M OO H O C LÁS'i ICO
DO O F. <;t.N VO J.VIM ENT O IND USTRIAL
cia . I
• icos e a ciência expenmenta surge uma arncu açao
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no01 . . , f d I
íntima que constituirá a caractensnca mais un amenta
da civilização contemporânea.
Viveu-se a primeira etapa do desenvolvimento indus-
triai, basicamente, nessa revolução operada na oferta, que
se traduz numa firme baixa dos preços de certo número
de mercadorias de consumo geral. Foi através do efeito-
-preço que atuaram os mecanismos tendentes a destruir
um número cada vez maior de segmentos da velha es-
trutura económica de base artesanal. O crescimento da
renda monetária era, necessariamente, menor que o do
produto real; ' mas graças ao forte aumento da produti-
vidade, no setor mecanizado - reflexo das econom ias
internas criadas por aumentos na escala de produção e
por inovações tecnológicas - a taxa de lucrarividade
mantinha-se em nível atrativo. Por outro lado, como não
havia pressão dos assalariados, em razão da crescente
oferta de mão de obra provocada pela própria desorga-
nização do artesanato, os frutos dos aumentos de pro-
dutividade não transferidos à população consumidora
.. Em OUtras pai d . - de
. - avras:
Custos nas and .
to a vez que ocorre uma reduçao
men'. UStnas de bens de consumo e consequente-
"', um aumeOt dI ' . ' ta
de equipamen o e ucratlvldade nesse seror, a p.rocu
se()rigina toa, para expansãode capacidade produtiva que
neste seto d . - da
procura no &eto d r, ttermlna Um aumento da preSiao
r e bens de capital.
S DE UMA TEORIA DO SUBDESENVOLVIMENTO II9
ELEMENTO
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'iT O S DE U M .... TEORIA DO S IIDE S E N VOl VIMENT O 11.1
E lE~E .
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E.SSE.NCIAL CE.LsO F
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DE UMA TEORIA DO SUBDESENVOLVIMENTO 127
ELEMENTOS
as ecO di ,
uma formulação desse problema em termos isnntos.
AS ESTRUTURAS SUBDESENVOLVIDAS
ecO A
dosubdesenvolvimento contemporaneo.
O subdesenvolvimento é, portanto, um processo his-
tórico autônomo, e não uma etapa pela qual tenham,
necessariamente; passado as economias que já alcan-
çaram grau superior de desenvolvimento. Para captar a
essência do problema das atuais economias subdesenvol-
vidas necessário se torna levar em conta essa peculiari-
dade. Consideremos o caso típico de uma economia que
recebe uma cunha capitalista, na forma de atividades
produtivas destinadas à exportação. Seja o caso de uma
exploração mineira, sob controle de empresa capitalista
que organize não somente a produção, mas, também, a
comercialização do produto. A intensidade do impacto
desse núcleo na velha estrutura dependerá, fundamen-
tal.mente, da importância relativa da renda a que ele dê
origem e que fique à disposição dentro da coletivida-
de, Depende, portanto, do volume de mão de obra que
~bs?rva, do nível do salário real médio e da totalidade
. e Impostos que pague. Este último item teve reduzida
Importância
, nas e t apas mlclals
" , . d e expansao - ' I'lsta
caplta
~OIS Pdara atrair o capital forâneo criavam-se estímulo~
e to o tipo' I '
O ' , me usrve o da total isenção de impostos.
nível do sal' , I
ções d '
e Vida
ano rea era e é determinado pelas condi-
1
novas preva ecentes na região onde se instalam as
dade dempresas, sem conexão precisa com a produtivi-
qUe o ~ lt~a,balho na nova atividade econômica. Bastava
a, médi' a ano na empresa capita ' 1'ista fosse
osse alzo suoeri
a go supenor
mão d: r~glonal, para que se deparasse uma oferta de
decisivo o ra totalmente elástica. Assim sendo, o fator
era o volume de mão de obra absorvida pelo
ESSENCIAL CELSO FURTADO
13°
, I' t Ora a experiência demonstra qu
, I o caplta IS a" , " e
nUC e I d mão de obra não atingia, via de regra
se voume e "
es rções. No caso das economias especiali_
grandes propo ração de mmenos , " difi 'I I
I CI mente a cançava
zadas na expIoçâo em idade de tra b a lh ar. AI'em do mais
% da popuIa I
5 mpresas entravam em contato com as auto-
as novas e h bili '1 -
id d 1 cais e tratavam de a I ita-
ri a es o , as a execução de
medidas de profilaxia e outras, cujo re~ultado se fazia
sentir numa redução da taxa de mortalidade, com Cor-
respondente aumento da taxa de Incremento v~getativo
da população. Ao cabo de algum t~mpo, o numero de
habitantes havia aumentado o suficiente para restabele-
cer a relação entre população e recursos, que prevalecia
na etapa anterior à penetração da empresa capitalista.
A estrutura econômica da região onde penetrou a em-
presa capitalista - no exemplo do parágrafo anterior-
não se modifica, necessariamente, como consequência
dessa penetração. Apenas uma reduzida fração da mão de
obradisponível é absorvida pela empresa forânea; os salá-
rios pagos a essa mão de obra não são determinados pelo
nível de produtividade da empresa, e sim pelas condições
devida prevalecentes na região. Salientamos, também, que
era de esperar que a população aumentasse sua taxa de
crescimento. Como a empresa capitalista está ligada à re-
gião ondese localizou quase que exclusivamente como um
agente criador de massa de salários seria necessário que
, e
o montante dos pagamentos ao fator trabalho alcança~
grande importância relativa para provocar modificaçoes
na estrutura econômica. O fenômeno é até certo pontO,
idê , " ntO
I entico ao observado na primeira fase do desenvolvIme
da, economí ' I'ista quando o sistema artesana I pree-
mia caplta
xlstente ia sendo destr~ído e absorvido. Fase anterior ao
momento
. em que o setor capitalista
, , - abso_r'
em expansao,
vdena a totalidade ou quase totalidade dos recursos de ~ao
e obra, permium , d d
o que os salários reais antes eter
Iluu a-
dosem função d di ~ " d passem
as coo içoes preexistentes de VI a,
. ', " ,
E UMA TEORIA DO SUBDESENVOLVIMENTO 13 1
t:Lt:loIENTOS O
preç ,tram seus ef eitos. na propna, . ren daa img Iesa, na qua I
concen , .
estão integrados os lucros da empresa. Mutatis mutandis,
a recuperação dos preços ,e a etapa de b.onança passam
uase despercebidas no pais onde se localiza a empresa, a
menos que fatores de outra ordem aconselhem a utilizar
os maiores lucros para expandir o negócio na própria re-
giãoonde são auferidos. A decisão relativa a uma possível
ampliação dos negócios é tomada de Londres, em função
dos interesses da economia inglesa, no seu conjunto. Eis
por que, não obstante os chamados núcleos capitalistas
serem relativamente fortes, em economias como a do Cei-
lãoou das repúblicas centro-americanas, estas continuam
a comportar-se como estruturas pré-capitalistas.
Não seria justo, entretanto, supor que as economias hí-
bridas, a que vimos fazendo referência, se comportem em
todas as circunstâncias como estruturas pré-capitalistas.
Em muitos casos - e o Brasil é um bom exemplo - a
massa de salários no setor ligado ao mercado interna-
cional foi suficiente para dar caráter monetário a uma
importante faixa do sistema económico. O crescimento
dessa faixa monetária implicou importantes modificações
nos. hábitos de consumo, com a penetração de inúmeros
a~tlgo,s manufaturados de .procedência estrangeira. A
dIVerSificação nos hábitos de consumo teve importantes
conse • ,
, quenclas para o desenvolvimento posterior da eco-
nomia
d "J'a Vimos
" que o nível de emprego, numa economia ,
alo- tipO, tende a ser relativamente estável embora o
Va or das exportaçoes - flutue ao sabor das oscilações
' nos
~reços internacionais das matérias-primas. A estabilidade
a renda m -',
lid d onetarIa interna, em confronto com a instabi-
soba e da capacidade para importar, cria fortes pressões
re o, baIanço d e pagamentos, nas fases de baixa '
Preços Intern ' ' d' -
dos
pad - acionaís, e ificulta a adoçao das regras do
rao-Ouro. Na medida em que foi crescendo a impor-
~
ESSENCIAL CELSO Pu
RTAllO
134
. ' I tiva da renda monetária, dentro da econo '
tanCla re a d - nUa
'I '
brasi eira - como resultado a expansao do setor ll'g d
ao
ao mercado I'nternacional - , tendeu a aumentar a pres-
- sobre o balanço de pagamentos,
sao . ' nas fases
, de baiIJea
dos preços internaciona~s: Surglr,am, assim, condições
favoráveis à criação de atividades ligadas ao próprio mer-
cado interno. Nas fases de forte declínio dos preços de
exportação, a rentabilidade dos negócios ligados ao mer-
cado interno tende a crescer, em termos relativos, pois au-
mentam os preçosdas mercadorias importadas ao mesmo
tempo que se mantém o nível da renda monetária.
Quando a atividade exportadora era controlada, so-
bretudo por capitais nacionais - como foi o caso, no
Brasil, durante a expansão cafeeira - o problema apre-
sentava outros aspectos de importância. A simples exis-
tência de vultosa massa de lucros formados na atividade
ligada ao mercado externo abria novas possibilidades ou
criava novos problemas. É necessário ter em conta que
esses lucros não desempenhavam, na economia cafeeira,
o mesmo papel que cabia aos lucros de uma economia
industrial. O elemento dinâmico da economia cafeeira
era a procura externa, e não o volume das inversões nela
rea,lizadas. Se essas inversões se revelassem excessivas, o
efeito ,últiImo p00'Ia ser uma perda de renda real, atraves ,
d: baixa de preços. Nas repúblicas centro-americanas
pfo~e-se o~servar, lado a lado, os dois fenômenos: o do
e elto da IOCr ust açao - d e empresas estrangeiras. - nO
caso das _ n açoes de banana _ e o do efeito e uma
pia t - d
expansao conr I d asO
das PIantaçõe ro d
a a por capitais nacionais - no c
~, . d' tin°
to se b s e cale. O resultado não foi muitO IS
, em que o ~, d d I cros,
alémd d " cale eu origem a um fluxo eU,
o e salános L 'd pro'
pria atl'v'd d . ucros que foram inverti os na ,
bilidade Id a e cafei eicuItora, na medida em que a diISPO nl'
e terras e - d M urna
vezesgotada mao e obra o permitiu. as, ~.
feeiro a s as
, poSSIibilid
I I ades de expansão do seror c"lS
,
, .eXperlênci d ita
a emonstrou que os noVOS cap
~-
II A ' .
,pn melra fase de grande expansão cafeeira no Brasil -
terceiro qu Id '
b arte o s éculo passado - teve como base a mão de
odesd " I'izad a, na regiao
ra que havia permaneCIido sermun ,_ .,
rmnerra,
e
gund que entrara em decadência a economia do ouro; na se-
do ~ etapa de expansão - último quartel do século passa-
irnig r o.problema da mão de obra foi resolvido mediante a
açao euro '
fez-se c b pela; a expansão dos anos 192.0, 1940 e 1950
'ienient~~ as~ na absorção de excedente de mão de obra, pro-
MIDas Gerais e dos estados do Nordeste.
E~nN CIAl C E I. SO f U,-
•TADO
o estao
, as ati\'id l ades · diiretamenre ligad as ao Col11érLIO
e)(tt'.flOf' no tere ' , d m a l1
. eiro . finalmente as que se pren e
I~ru do Interno d ' d ' o tl Su '
mo "eral 1"'\.. e produtos manufaturados e c a
~ . ut'para·..... ' d
.... nos, portanto, um npo e es
(rurue;
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f U " " TEO R"" DO SU B D E S ENVO LV I M EN T O 1;7
H f )ol E ~ T O S o o '
aIto o d I' .
f ' ec 1010 da capac idade de im po rtação aca rre ta
Orre des I ' .
e Va Ortzação ca m b ia l. O núcleo entra , as sim,
rn etapa d e bonança, ex atarnente na tase d e d o
e i 11110
' ,
da rentabTd d· I-
I)
nlVel d I I a e no seto r exportador
o
. , Em bora dec me
a renda monetária, aumenta a procu ra de m a -
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ESSENCIAL CELSO FU
138 RTAIlO
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S DE UMA TEORIA DO SUBDESENVOLVIMENTO 139
ELE/olENTO
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ESSENCIAL CELsO F
URl.... 00
14°
'stência, O resultado prático disso - 111
setor de subSI ' I I' d esmo
etor industrIa iga o ao mercado inte
que cresça o S , . d rno e
articlpaçao no pro uto, mesmo que cre
aumente
bê suarenda
P íra do coni
per capita o conjunto d a populaça~ sça,
ram em, a , 0_
e que a estrutura ocupacional do -paisfse modifica CO'"
o
u, Ien·
idã O contingente da populaçao a etada pelo desenv l-
u, ao. to mantém-se reduziido, decI'mando mui devagao
Vlmen , "o Imurro
ra
, ortância relativa do setor cuja prmcipa atividade é
imp , ~ , E I' d a
produção para Subslstencla. xP. Ic~-se, e,ste modo, qUe
uma economia em que a produçao industrial já alcançou
elevado grau de diversificação, e tem uma participação no
produto que pouco se distingue da observada em países
desenvolvidos, apresente uma estrutura ocupacional tipi-
camente pré-capitalista e que grande parte de sua popula-
ção esteja alheia aos benefícios do desenvolvimento.
Como fenômeno específico que é, o subdesenvolvi-
mento requer um esforço de teorização autônomo. A falta
desse esforço tem levado muitos economistas a explicar,
poranalogia com a experiência das economias desenvol-
vidas, problemas que só podem ser bem equacionados a
partir de uma adequada compreensão do fenômeno do
subdesenvolvimento. A tendência ao desequilíbrio no ba-
lanço depagamentos é daquelas que, à falta de um marco
teórico adequado, mais têm sido incorretamente formula·
das: mal interpretadas nos países de economia subdesen-
volvida, como no caso do Brasil.
Interação entre decisões
e estruturas'
• Capltulo 8 de Teo .
"TIa e po loittca
' do d i'
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