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....

·Subdesenvolvimento e dependê .
- f un d amentais'nela'.
as conexoes

Uma _observa~ã? ~esmo superfic~al da história modero


na poe em evidência que formaçoes sociais assinalad
por grande heterogeneidade tecnológica, marcadas d~~
gualdades na produtividade do trabalho entre áreas ruo
rais e urbanas, uma proporção relativamente estável da
população vivendo no nível de subsistência, e crescente
subemprego urbano, isto é, as chamadas economias subo
desenvolvidas estão intimamente ligadas à forma como
o capitalismo industrial cresceu e se difundiu desde seus
começos. A Revolução Industrial - a aceleração no pro-
cesso de acumulação de capital e o aumento na produti-
vidade do trabalho ocorridos entre os anos 70 do século
XVIII e os anos 70 do século XIX - teve lugar no seio de
uma economia comercial em rápida expansão, na qual a
atividade de mais alta rentabilidade muito provavelmente
era o comércio exterior. O efeito combinado do incremen'
to de produtiv idade nos transportes - redução dos fretes
a longa distância - e da inserção no comércio de umRu-
xo de novos produtos originários da indústria deu origem
a um complexo sistema de div isão internacional do traba-

• Apresentado no seminário do Queens' College, na Universi'


dade de Cambridge, em 22 de novembro de 1973, e publicado
em O mito do desenvolvimento econ ômico. São Paulo: Pat e
Terra, 1974,
LVIM~NTO I! DI!PENDtNCIA 177
EIIVO
sU' Il ES
I acarretaria importantes modificações na utili-
Iho~ o d recursoS em escala mundial. Para compreender
ua
zaçao ~s mamo s hoje em dia de subdesenvolvimento faz-
o que c a ário identificar os tipos particulares de estrutu-
e5S
-se nec . conômicas surgidas • naqueI as 'areas on de o novo
~sSOCl~e divisão internacional do trabalho permitiu que
sistema e o produto líquido mediante simples rearranjos
cres cess b lh d' • I
no usoda força de tra a 0 .ISpODlV~ . de ori
Anossa hipótese centra 1e a seguinte: o ponto e on-
do subdesenvolvimento são os aumentos de produ-
g~~dade
lIVI
do trabalho engendrados pela simples realoca-

- de recursos visando obter vantagens comparativas
çao , ' , ' I O • '
táticas no comercio mternacrona . progresso tecmco
~ tanto sob a forma de adoção de métodos produtivos
mais eficientes como sob a forma de introdução de novos
produtos destinados ao consumo - . e a corr~spond~nt.e
aceleração no processo de acumulação (ocorridos pnncI-
palmente na Inglaterra durante o século antes referido)
permitiram que em outras áreas crescesse significativa-
mente a produtividade do trabalho como fruto da espe-
cialização geográfica. Este último tipo de incremento de
produtividade pode ter lugar sem modificações maiores
nas técnicas de produção, como ocorreu nas regiões es-
pecializadas em agricultura tropical, ou mediante im -
portantes avanços técnicos no quadro de "enclaves",
como foi o caso daquelas reg iões que se especializaram
na exportação de matérias-primas minerais. A inserção
de uma agricultura num sistema mais amplo de divisão
social do trabalho, ou seja, a transformação de uma
agricultura de subsistência em agricultura comercial,
não significa necessariamente abandonar os métodos
tradicionais de produção. Mas se essa transformação
se faz através do comércio exterior, os incrementos de
produtividade econômica podem ser consideráveis. Cer-
to, o excedente adicional assim criado pode permanecer
no exterior em sua quase totalidade, o que constituía a
178 ESSENCIAL CELS
O FUI\"t~1l0
S
situação típica das economias coloniais. Nos
. . I casos e
que esse exc:de~te f01 p.arcla m~nt~ apropriado do .Ill
terior, seu principal destino consisnu em finan . rn.
. . - d h âbi d
rápida diversificação os a itos e consumo d Clar ulIIa
ses dirigentes, me diiante a 'importação - de novos as elas' -
. I d d di , artlgllS
Este uso partl~u ,ar o elxce en,tde a ~cfilondal deu origern~
formações socrais ~dtua mente I enn ca as como econo.
mias subdesenvolvi as.
Desta forma, o capitalismo industrial levou
. , certos
países (os que lideram o processo de tndustrialiZaçã )
ivida des em que métodos o a
especializar-se na que Ias anvi
dutivos mais e cientes penetravam rapi'darnenre, e lev
, ' fi ' ~~
u
outros a especializar-se em atividades em que essa for:
de progresso técnico era insignificante, ou a buscar a vi:
da alienação das reservas de recursos naturais não repro.
dutíveis. A "lei das vantagens comparativas", tão bem
ilustrada por Ricardo com o caso do comércio anglo-
-lusitano, proporcionava uma justificação sólida da espe-
cialização internacional, mas deixava na sombra tanto a
extrema disparidade na difusão do progresso nas têcni-
cas de produção, como o fato de que o novo excedente
criado na periferia não se conectava com o processo de
formação de capital. Esse excedente era principalmente
destinado a financiar a difusão, na periferia, dos novos
padrões de consumo que estavam surgindo no centrodo
sistema econômico mundial em formação, Portanto, as
relações entre países cêntricos e periféricos, no quadrodo
sistema global surgido da divisão internacional do traba-
lho, foram desde o começo bem mais complexas do que se
depreende da análise econômica convencional. ,
Aspecto fundamental que se pretendeu ignorar, e
o fato de que os países periféricos foram rapidamente
onsu'
transformados em importadores de novos bens d e c ,
mo, fruto do processo de acumulação e do progress~le~'
nico que tinha lugar no centro do sistema. A adoçao e
ul
novos padrões de consumo seria extremamente irreg ar,
VIMENTO E DEP END tNCIA 179
ESENVOL
SUDO

o excedente era apropriado por uma minoria


dado, q~~a cujo tamanho relativo dependia da estrutu-
restnn~I, 'da abundância relativa de terras e de mão de
ra agrana, I . d . , ,
da importância re atrva e nacionais e estrangeiros
obra, le do comércio e das finanças, do grau de auto-
no contra. da burocracia estata I e d e fatos smu . 'Iares. Em to d o
rnta
no frutos dos aumentos de produtividade revertiam
caSo, os , . - I I
efíeio de uma pequena mmona, razao pe a qua
em en
b
da disponível para consumo do zruoo ori
o grupo pnvi' Iegia
iad o
aren e forma ' I Convem
substancIa. ' acrescentar que
cresce U d _ .
to o processo de realocaçao de recursos produtivos
ranmo a formação de capita . I que a este se I'igava (a bertu-
coa de novas terras, construçao - d e estra d as secun d arias,
â'
r . .
edificação rural etc.), eram pouco exigentes em msumos
importados: o coeficiente de importações dos invest imen-
tOS ligados às exportações em expansão era baixo, Exce-
ção importante constituiu a construção da infraestrutura
ferroviária, a qual foi financiada do exterior e assumiu
parcialmente a forma de "enclave" produtor de exceden-
te que não se integrava na economia local. De tudo isso
resultou que a margem da capacidade para importar, dis-
ponível para cobrir compras de bens de consumo no ex-
terior, foi considerável. As elites locais estiveram, ass im,
habilitadas para seguir de perto os padrões de consumo
do centro, a ponto de perderem contato com as fontes
culturais dos respectivos países.
A existência de uma classe dirigente com padrões de
consumo similares aos de países onde o nível de acumu-
lação de capital era muito mais alto e impregnada de
uma Cultura cujo elemento motor é o progresso técnico
tra,nsformou_se, assim, em fator básico na evolução dos
palses periféricos.
O fato que vimos de referir - e não seria difícil
comprová_lo com evidência histórica - põe a claro que,
no estudo do subdesenvolvimento, não tem fundamento
antepor a ana'I"ise no OIVel da produção, deixan d o em se-
180
ESSENCIAL
CELSO ~U
gundo plano os problemas da circ I _ ~l~lio
. di - u açao
srstente tra Iça o do pensamento . ' Conforrn
marXISta p e Per
natureza d o subdesenvolvimento . ' ara cap -
hi , . , . di a partIr de tara
rsroncas e 10 Ispensável focaliz . SUas Orio
a r slmult ~ens
processo d a produção (realocaça- d anearnent
. o e recu eo
orrgern a um excedente adicional e f rsos dand
desse excedente) e o processo da orrna de o
' I apropria,,;
Clrcu aç ( . ...0
do excedente ligada à adoção de ao UtIliza,,;
. ~~~~ ~
sumo copiados de países em que o n í I d e s de COn_
. . Ive e aCUm I
murro mais alto), os quais, conjUntam U ação é
d epen dêncí I
encia cu tural que está na base d
ente, engend
ram a
d - d o processo d
pro uçao as estruturas sociais corresp d e re-
. on entes C
o con h ecirnento da matriz institucional d . e~to,
- . que etermIn
as re Iaçoes internas de produção é a eh a
ave para Com
preen d er a f orma de apropriação do excedente di -
d I " . a IClonal
o comercio exterror, contudo a forrn d
rgera -o pe
d
izaçao esse excedente, a qual condiciona a reprod •
'
o

a e ut1-
da f - ' 1 fi uçao
a ror~aça~ socia ,re ete em grande medida o processo
de dominação cultural que se manifesta no nível das re-
lações externas de circulação.
Chamaremos de modernização a esse processo de
adoção de padrões de consumo sofisticados (privados e
públicos) sem o correspondente processo de acumulação
de capital e progresso nos métodos produtivos. Quanto
mais amplo o campo do processo de modernização (e
isso inclui não somente as formas de consumo civis, mas
também as militares) mais intensa tende a ser a pres-
são no sentido de ampliar o excedente, o que pode ser
alcançado mediante expansão das exportações, ou por
meio de aumento da "taxa de exploração", vale dizer, da
proporção do excedente no produto líquido. Visco o pro-
blema de outro ângulo: posto que a pressão para adota~
novos padrões de consumo se mantém alta - ela e~ta
condicionada pelo avanço da técnica e da acumulaça::
e pela correspondente diversificação do consumoI ' ~es
se estao - operand o nos paises , .'
cêntrrcos - , as re aço
• • .• ~_ - , . - - • • • • -o"
-_._.- _ . - ~

~ .....

181
TO E DEPEND~NCIA
VOLVI~EN
S~ B DES E '"
U ão tendem a assumir a forma que per-
o .",aS de prod ç d te Daí que apareçam cresceu-
Inr~" . ' r o exce en . do o paí
mire rna":n'I: balança de pagamentos quan ~ o pars
tes Pressoes de ren diIme nto decrescente na .agncultura
_
atinge o ponto tação e/ou enfrenta detenoraçao nos
adicional de expor .
rr d'ntercâmblo.
termOS o I . . do processo de modernização na mo -
· portanCla . subdesenvolVIdas
Arrn .,'I
so vem a uz p e-
I
- das economIas .
delaçao f is avançada quando os respectIvos
t em ase mal , . , - .
nam en e b no processo de industnahzaçao; mais
, es em arcam d .
pais. quando se empenham em pro UZIC para
Precisamente, . h '
'nterno aquilo que VIn am irnportan o.
d As
o merca do I , bd
. . . dústrias que se instalam nos patses su esen-
primeiraS 10 - I d
volvidos concorrem com a produçao artesana e se es-
tinam a produzir bens simples volta~os para a m~ssa da
população. Essas indústrias quase nao possuem vínculos
entre elas mesmas, razão pela qu al não chegam a cons-
truir o núcleo de um sistema industrial. É em fase mais
avançada, quando se objetiva produzir uma constelaç ão
de bens consumidos pelos grupos sociai s modernizados,
que o problema se coloca. Com efeito: a tecnologi a in-
corporada aos equipamentos importados não se relaciona
com o nível de acumulação de capita l alcançado pelo país
e sim com o perfil da demanda (o grau de diversificação
do consumo) do setor modernizado da sociedade. Des sa
orientação do progresso técnico e da consequente falta de
conexão entre este e o grau de acumulação previamente
alcançado, resulta a especificidade do subdesenvolvimen-
tona.fase de plena industrialização. Ao impor a ad o çâo
de ~etodos produtivos com alta densidade de ca pita l, a
refenda orienraçao
o
- ena. as con diiçoes
- para que os sal ários
, o

re~ls se mantenham próximos do nível d e subsistência, ou


~eJ~, ~ara que a taxa de exploração aumente com a pro-
utIvldade do trabalho.
O comportamento dos grupos que se apropriam do
excedente di do
, COIl rciona o que é pela situação de depen-
182. ESSENCIAL CE
LSO FlJll.'l'
~IlO
dência cultural em que se encontram, tend
desigualdades sociais, em função do avanç~ a agravar as
ção. Assim, a reprodução das formas socia' na acul1lula.
. IS, que id '
ficamos com o su bd esenvoIvlmento, está ligada a ent[.
de comportamento condicionadas pela de en f?r~as
Abordemos o problema de Outro ângulo' na P denCia.
id f bá , . s econol1li
su bd esenvo IVI as, o ator aSlCO que governa di ,as
- d a ren d a e, portanto, os preços relativos a lstnbu'I·
çao
, ' I e a taxa de
sa Iano rea no setor em que se realiza a acu I '
, . d mu açao e
penetra a tecrnca mo erna, parece ser apre -
' ssao gera·
da pe Io processo de modermzação isto é pelo f
, ' , es orço
que rea Iizam os grupos que se apropriam do ex d
' ce ente
para reproduzir as formas de consumo em perm
anente
~u~açao~ do~ pals~s centncos. Essa pressão dá origem à
- ' A ' '

rápida diversificação do consumo e determina a orienta.


ção da tecnologia adotada. Ela, mais do que a existência
de uma oferta elástica de mão de obra, determina o di-
ferencial entre o salário industrial e o salário no setorde
subsistência. Certo, o grau de organização dos distintos
setores da classe trabalhadora constitui fator importante
e responde pelas disparidades setoriais desse diferencial.
Em síntese: dado o nível de organização dos distintos
setores da classe trabalhadora , a dimensão relativa do
excedente apropriado pelos grupos privilegiados reflete
a pressão gerada pelo processo de modernização.
A industrialização de um país periférico tende a to-
mar a forma de manufatura local daqueles bens de con-
su~o que eram previamente importados, como é bem
sabido de todos os estudiosos do chamado processO de
substituição de importações. Ora a composição de uma
cesta de bens de consumo determina dentro de limites
:st~eito~, os métodos produtivos a s~r adotados, e, em
última InstaA , " , ' I e do
ncia, a Intensidade relativa do caplta ,
trabalho utili d
1 iza os no sistema de produção. ASSIm,
' se e
a produção de bens d e uso popular que aumenta, recur- _
sos relativamente mais abundantes (terra, trabalho nao
ENTO E DEPEND~NCIA
ENVOLVIM
slJ llDES
. do) t ndem a ser mais utilizados e recursos re-
especialIza o eassos (trabalho especializado, divisas es-
, ente esc ,. d '
latI vam 'tal) menos utilizados o que sena o caso
'ras capl .
trangel , d ção de bens altamente sofisticados, con-
t e a pro u di
se r~Ss elos grupos ricos, a que aumentasse. Expan Ir
s
SUI1lldo Pds ricos - e isto também é verdade para
umo oícos _ de maneira gera I sigru ' 'fica mtro
o COns A
' d u-
íses centn
os pa dutos na cesta de bens de consumo, o que
, noVOS pro , " .
Zlr d dí r relativamente mais recursos a pesqUIsa
uer e rca
req I' ento" ao passo que aumentar o consumo
desen vo VIm , ,, h
e sI'gnifica difundir o uso de produtos Ja con e-
dasmassas . ' f
id ' produção muito provavelmente esta na ase
CIOS, CUJa , ' I
de rendi1mentos crescentes . EXIste uma estreita corre a-
- enrre o grau de diversificação
çao , de _uma cesta de' bens
d consumo de um lado, e o nível da dotaçao de capital
er pessoa empregada e a complexidade da tecnologia,
po , d
de outro. Mais alto o nível da renda per capita e um
país, mais diversificada a cesta de bens de consumo a que
tem acesso o cidadão médio desse país, e mais elevada a
quantidade de capital por trabalhador no mesmo. A hi-
pótese implícita no que dissemos anteriormente significa
que as mesmas correlações existem com respeito a setores
de uma sociedade com diferentes níveis de renda.
O processo de transplantação de padrões de consu-
mo, a que deu origem o sistema de divisão internacional
do trabalho imposto pelos países que lideram a Revolu-
ção Industrial, modelou subsistemas econômicos em que
o progresso técnico foi inicialmente assimilado ao nível
dademanda de bens de consumo, isto é, mediante a ab-
sorçao - de um fluxo de novos produtos que eram impor-
t~dos antes de ser localmente produzidos. A dependên-
~Ia, que é a situação particular dos países cujos padrões
e consumo foram modelados do exterior, pode existir
Illesmo
t na ausencla d e Investimentos
A , ' ,
estrangeiros diire-
os,
o ' Com efeíro ' I ' , de i .
: este u timo npo e mvestimento 01 raro f '
u InexistiU d urante toda a primeira exnansâ
imeira fase dee expansao
184 ESSENCIAL Ctt .
50 FUJn
ADO
do sistema capitalista. O que importa não'
do sistema de produção local por grupos esn o CO~trole
sim a utilização dada àquela parte do exced rangelros, e
cula p elo comercio" ' .
Internacional. Na fase deente qUe Clr-
í
'
.lização, o controIe d a produção por firmas est e Indu5t '
.na·
conforme veremos, facilita e aprofunda a de rand~e1fas,
. - . . d pen encia
m~s nao c~ns.ntuI. a causa eterminante desta. A '
priedade pública dos bens de produção tampou pr~_
.
su ficiente para -erradicar .o fe nomeno da dependA
rcaro A co seria
.
, - , encla
se o pais em questao se mantem em posição de s 'I"
.Id ' A . d . ate Ite
cuItura os palfses centncos o sistema capitalista, e se
encontra numa ase de acumulação de capital muito i .
ferior à alcançada por estes últimos. n
Pode-se ir ainda mais longe e formular a hipótesede
que um tipo semelhante de colonização cultural vem
desempenhando importante papel na transformação da
natureza das relações de classe nos países capitalistas
cêntricos. A ideia, formulada por Marx, segundo a qual
um processo crescentemente agudo de luta de classes,
no quadro da economia capitalista, operaria como fator
decisivo na criação de uma nova sociedade, para ser vá-
lida requer, como condição sine qua non, que as classes
pertinentes estejam em condições de gerar visões inde-
pendentes do mundo. Em outras palavras: a existênc~a
de. uma ideologia dominante (que, segundo Marx, sena
a Ideologia da classe dominante em ascensão) não deve-
ria significar a perda total de autonomia cultural pelas
Outras classes, ou seja, a colonização ideológica des~as.
Marx, no seu O I8 Brumário, quando atribui papell~­
por~ante aos paysans parcellaires _ nos quais se tena
a~olado Luís Bonaparte _ afirma claramente que eles
nao haviam tomad "A . d '
o conSClenCla e SI me
smo S colJlO
d
cIasse- Contud ' tido e
' . o, constituíam uma classe, no sen
que podiam ' d I poder,
servir e fator decisivo nas lutas pe o
porque "opu h ' esses e
n arn seu gênero de vida seus IOtee
SUa cultura aos d ' a s CoU-
as OUtras classes sociais". Entre
VIMENTO E DEPENDtNCIA 18s
ESEWVOL
SIlBO

' tivas para a existência de uma classe, por-


diçóeS obcaria
Je I
sua autonomia cultura . Ora, nos países
tan~~;as cênuicos, essa autonomia cultural, no que se
cap • lasse uabalhadora, foi consideravelmente ero-
aC
r , O cesso da massa traba Ihad ora a rormas
efere c d e con-
dlda. a . d i ' d
sulI1 0 antes privativas aels c assehs q~e se adPropnam ~
criou para aqu a um onzonte e expectan-
elCcedente
vas quecondicionaria o seu c~mportamento para ve~, na
conro f ntação de classes, mais do _ que , . um antagonismo .
.Irre dut'lvel, uma série de operaçoes tancas
. em. que os 10-
esses comuns não devem ser perdidos de vista.
ter Nos países periféricos, o processo d e coiomzaçao
' - cu I-
rural radica originalmente na ação convergente das clas-
ses dirigentes locais, interessadas em manter uma ele-
vada taxa de exploração, e dos grupos que, a partir do
centro do sistema, controlam a economia internacional e
cujo principal interesse é criar e ampliar mercados para
o fluxo de novos produtos engendrados pela Revolução
Industrial. Uma vez estabelecida esta conexão, estava
aberto o caminho para a introdução de todas as formas
de "intercâmbio desigual", que historicamente caracte-
rizam as relações entre o centro e a periferia do sistema
capitalista. Mas isolar essas formas de intercâmbio ou
tratá-Ias como uma consequência do processo de acu-
mulação, sem ter em conta a forma como o excedente é
utilizado na periferia sob o impacto da colonização cul-
tural, é deixar de lado aspectos essenciais do problema.
• É interessante observar que o processo de coloniza-
ç~o.cultural teve lugar mesmo em regiões em que con-
dlç~es particulares permitiram que os salários locais
s~blssem consideravelmente, ou se fixassem em níveis
~Imilares aos dos países cêntricos. Foi esta a situação
Os grandes espaços vazios das zonas temperadas, que
~ Pov~aram principalmente com im igração de origem
r~ropela em fins do século XIX. A produção agropecuá-
a para a exportação desenvolveu-se, nessas regiões, em
I!SSUfCIÁL CtL
50 '\1
. ll4l1rJ
concorrência com produção similar de pa'
- d Ises cê .
entao empenha os no processo de indust ' I' ntneO\,
abundância e a qualidade dos recursos n fia I~ação, A
" aturaiS p .
nrarn que se criasse um substancial exced erlll l ·
ente p
soa empregada, mesmo que a taxa de sala" , or Pes·
, ~b~
ser suficientemente elevada para atrair irni e que
,~ , d Igrantes d
regioes menos prosperas a Europa. A for d as
, -' d
pnaçao interna esse excedente e o número I '
ma e apro
.
, , "1 ' da
mmona pnvi egra a variaram conforme a vari re atlVo
di • da
, "I
h istoncas s con IÇoes
preva ecentes em cada área. Contud
did o, na me-
I a em que esse excedente foi utilizado para fi .
d - d f nanelar
a a oçao e ormas de consumo engendradas I '
dustna ' I' ~ pe a ln-
izaçao no exterior, ocorreu um processo d .
' ~ , 'I
derDlzaça~ SU~l1 ar ao que antes descrevemos. A situação e mo
de dependência existe, nestes casos, na ausência das for-
mas so~iais que estamos habituados a ligar ao subde-
senvolvirnenm, Ela radica fundamentalmente na persis-
tente disparidade entre o nível do consumo (inclusive,
eventualmente, em parte do consumo da classe trabalha-
dora) e a acumulação de capital no aparelho produtivo,
porquanto a elevação de produtividade, que dá origem
ao excedente, resulta da utilização extensiva de recursos
n~tur~IS no quadro de vantagens comparativas interna-
CionaiS. A abundância de recursos minerais e de fontes
de ene~gia, entre outros fatores, permitiu que economias
desse tipo tivessem uma precoce industrialização, ainda
que essencla ' Imente sob o controle de firmas estrangel''
raso É este o caso do Canadá cuja economia integra o
centro do sí , , '
d bi o Sistema capltahsta, não obstante a extrema
e Iltda~e dos centros internos de decisão. Na Argenli-
na, condições h' " sso
d ' Istoncas distintas fizeram que o pro ce
e Industrializa • l de
"s b ' , _ çao se atrasasse e assumisse alarma
u Stltu iç ão" ' d ' ar-
tador E : Isto e, e resposta à crise do seror exp
pela ~r'l mdraz ao do declínio da produtividade, causa~o
se o seta ' J' -ao
requerid I ' r exportador, o esforço de capira IZ~Ç J
o pe a IOdu st na ' I'izaç ão teve que ser consiidetave.
,..EI'ITO E OEPUIOhlCJA 187
tflllVOLVI
.11. pf .
. A •t m demonstrado que as economias que se
nen cl3 e I ' . ,
,\ e"PC: a situação tendem a a rernar senas cn-
, am nesS "
encontr de pagamento com periodos de relativa
d balança
ses e _ C mo a pressão para acompanhar a renova-
naçao. o .
estag d - de consumo no centro se m antem, su r-
- dos pa roes d 1
çao dê cia à concentração da ren a com ref exos
ma ten en I
ge u sociais as quais tendem a as serne har-se
estruturas , ,
nas ' es tipica mente subdesenvolvidos. Este ponto
. dos pals A d
~ "d Ancia que o fenomeno que chamamos epen-
M~~e . d
p . ' is geral do que o subdesenvolvimento. To a
dêncla e mal . d
. subdesenvolvida é necessanamente depen en-
economIa " - da si -
te,pois o subdesenvolvimento e uma cdnaçao , a ~Itua~ao
de dependência. Mas nem semp~e ~ ~~~n d enci a C~IOU
as formações sociais sem as quais e dlÍ1cII caracrenzar
um país como subdesenvolvido. Mais ain~a: a tra~si~ão
do subdesenvolvimento para o desenvolvimento e d ifi-
cilmente concebível no quadro da dependência. Mas o
mesmo não se pode dizer do processo inverso, se a ne-
cessidade de acompanhar os padrões de consumo dos
países cêntricos se alia a uma crescente al ienação de par-
te do excedente em mãos de grupos externos controlado-
res do aparelho produtivo.
O fenômeno da dependência se manifesta inicialmen-
te na forma de imposição externa de padrões de consu-
mo que somente podem ser mantidos mediante a geração
d~ um excedente criado no comércio exterior. É a rápida
dIVersificação desse setor do consumo que transforma a
depe~d~ncia em algo dificilmente revers ível. Quando a in-
dustnahzação pretende substituir esses bens importados,
o aparelho produtivo tende a dividir-se em dois: um seg-
Illento ligado a atiIVIida d es tra diicronars
, d esnna ' d as as. ex-
POrtações ou d ' '
cc " ao merca o mterno (rural e urbano) e outro
talOStituldo por 10 ' dustrras
ú , d e eIevada densiida d e d e capi- '
IllistI produzindo para a mmorrainoria mo erruza d a. O s econo-
moderni
as que obs . "
forl1la d ' ervaram as economias subdesenvolvidas na
e Sistemas fechados viram nessa descontinuidade
188
ESSENCIAL
CElSO FUl\l
do aparelho produtivo a manifestaçã d ~l)o
bno
. no mve
, 1dos fatores"
atores , provOcad o eI Um "d eseqU'I"
fi , fi opeacx" 1(.
coe CIentes xos nas funções deprod - IStencia d
, uçao o ' e
fato de que a tecnologia que estava Se d ' U sela, Pelo
. ".
.ma dequada. " Pretende-se, assim ignon o absa rVIid a era
- , r a r o fat d
os bens que estao sendo consumidos nâ . a e qUe
d UZIido -
os senao com essa tecnologia e qu ' ao podern ser pro.
. 'I ·
gentes que assum aram as formas decons , e as classe s d"111·
.' - urna dos p •
centncos nao se apresenta o problema de alses
- d b
conste 1açao e ens e outra qualquer Na
Optar entre
díd essa
- . melaem
os padrões de consumo das classes que se . que
d d aprapnam do
exce ente evam acompanhar a rápida evol _
'd ' uçao nasfor.
mas ..de VI a, que esta ocorrendo no centro d '
'. o Sistema
.qua 1quer tentativa visando "adaptar" a tecnologi • d'
• :.c
escassa slgnUlcaçao. - asera e
. , .Em s,íntese: .miniaturizar, em um país periférico, o
sistema .industrial dos países cêntricos contemporâneos
onde a acumulação de capital alcançou níveis muito mais
altos, significa introduzir no aparelho produtivo uma
profunda descontinuidade causada pela coexistência de
dois níveis tecnológicos. Este problema não estava pre-
s~nte na fase anterior à "substituição de importações",
sIm~lesmente porque a diversificação do consumo da mi-
nona modernizada podia ser financiada com o excedente
g~rado pelas vantagens comparativas do comércio exte-
n~r. ~a fase de industrialização substitutiva, a extrema
dlspandade entre os níveis (e o grau de diversificação) do
consumo da minoria modernizada e da massa da popula-
çãod"
. evera IDcorporar-se à estrutura do aparelho produ-
tIVO. Desta forma, o chamado "desequilíbrio no nível dos
fatores" deve ser consiiderado como inerente
" a economia
subdesenvolvida que se industrializa. Ademais, se se telJ1
em Conta que . - ., ' d per-
a Sltuaçao de dependência esta sen o
manentemente c d' - d novos
. relOrça a, mediante a introduçao e
produtos (cuJa d - , d vez
, ,pro uçao requer o uso de técnicas ca a
mais sofistlcad d na-
as e otações crescentes de capital), ror
IMENTO E DEPEND~NCIA
J;SJ;NVOLV
SUBD

, ue o avanço do processo de industrializa-


-se evidente d de aumento d a taxa d e exp Ioraçao,
q - 'Isto e, • de
ça•o depencenete concentração d a ren da.Ema. m tai
tais con diiçoes,
-
um a cres . to econômico ten d e a d epend er mais . e mais .
cresclmen . d d
o bTd de das classes que se apropriam o exce ente
da ha€ 11 a a maioria da população a aceitar crescentes
ara lorçar . .
P , u·aldades SOCiaiS.
des1g ' dustrialização, nas condiiçoes - d e d epen dênci encia,
A ln €' • • bsorcã
nomia periférica, requer intensa a sorçao
~umaeco d
resso técnico na forma de novos produtos e as
de. prog
' s requeridas para pro d UZ1- . Ios. E na .me did I a em
.~ , .
vança essa industrialização, o progresso tecmco
que a d ,. .
deixa de ser o problema de a qumr no estrang:Iro este
aquele equipamento e passa a ser uma questao de ter
ou , b d
ou não acesso ao fluxo de inovação que esta rotan o
nas economias do centro. Quanto mais se avança nesse
processo, maiores são as facilidades que encontram as
grandes empresas dos países cêntricos para substituir, na
periferia, mediante a criação de subsidiárias, as empre-
sas locais que hajam iniciado o processo de industriali-
zação. Caberia mesmo indagar se a demanda altamente
diversificada dos grupos modernizados seria jamais sa-
tisfeita, com produção local, caso o fluxo de inovações
técnicas devesse ser pago a preços de mercado. Esse flu-
xo é criado ou controlado por empresas que consideram
ser muito mais vantajoso expandir-se em escala interna-
cional do que alienar esse extraordinário instrumento de
poder. Tratar-se-ia não somente de entregar o controle
das inovações de uso imediato, mas também de assegu-
rar uma opção sobre as futuras . Ademais, o preço da
tecnologia teria que ser elevado para a empresa local que
se limitasse a adquiri-Ia no mercado, ao passo que para
a grande empresa que a controla e vem utilizando no
centro
A ' essa t i ogra
ecno ' esta" praticamente amortiza , d a.
f ~~te fato se deve que a grande empresa possa, mais
ací rnente, COntornar os obstáculos de pequenez de mer-
ESSF.NCIAI C
- EL\O I II
.1~rJ r)
cada, de falta de economias externas e
- " , OUtros q
renzam as economias penfericas. Assi uc car~ c.
das gran des empresas de aruação interrn, a' cooperaçãr)
, , d ' nacIonal
a ser solicita a pelos parscs periféricos passou
, t : 'I d como a ~
mais IaCI e contornar os obstáculos que Orrn~
, d ' I' ~ se aprese
a uma ln ustrta rzaçao retardada que prer dotam
-se cm rnve, I recmco
" " 1ar ao que prevalecen e coloear,
srrm
, •
nos parses cenrncos, , e atualmeme

O dito no parágrafo anterior evidencia qu ' ,


de i
que avança o processo e mdustnalização na. e, a medIda
'{,
. , d penlena
mars estreito ten e a ser o controle do aparelho d.'
'I I' d
vo, aloca rza o, por grupos estrangeiros. Em con Utl· pro .
, d d êncí , , - sequen·
era, a epen encI~, antes rmrraçao de padrões externos
de consumo
, mediante a importação de bens , agora se
enraiza no sistema produtivo e assume a forma de pro-
gramação pelas subsidiárias das grandes empresas dos
padrões de consumo a serem adotados. Contudo, esse
controle direto, por grupos estrangeiros, do sistema pro-
dutivo dos países periféricos, não constitui um resultado
necessário na evolução da dependência. É perfeitamente
possível que uma burguesia local de relativa importância
elou uma burocracia estatal forte participem do contro-
le do aparelho produtivo e até mesmo mantenham uma
posição dominante nesse controle. Em alguns casos essa
predominância de grupos locais pode ser essencial a fim
de assegurar o rígido controle social requerido para fazer
f~ce a tensões originadas pela crescente desigualdade s.o-
,,.al., COntudo, o conrrole local no nível da produção n;lO
slgntfica necessariamenre menos dependência, se o sisre-
ma pretend . d onsu'
e COntinuar a reproduzir os padrões e c
mo que esrã d . entro,
O ra, a exper" o sen o permanentemente criados no c ,
. 10";1 IS
( , lenCla tem demonstrado que os grupOS _
Privados ou 'bl ' ri;lÇ;lo
do pu ICOS) que participam da aprop
eXcedente n d " 'I ente:' se:'
afastam d ~ _o qua ro de dependência, dJficI rn li-
métieo d a Vlsao ~
do d I vimenro
esenvo ' como pn)(;-essa 11
e padroes cuIr "
uraiS unporrados.
IMUlTO E DEPENDtNCIA 191
11I8 Df 5 El'I VO LV

essas históricos são, evidentemente, mui-


Os. pro~pJexos do que podem sugerir os esquemas
maiS co
tO ,
, ida. as prrrneiras
5 m lugar a d úvi ' " dú ,
ln ustrias a
[C
órlcos.I er-se nos parses
. su bd escnvo IVIidos foram as
vo
desc:n VI:zern artigos de amp Io consumo (a "irnentos,
qUeidprodconfecções.
u 'd)
objetos e couro, tanto em ra zao
_
teCI os, . id d . ' I '
de sua relativa sirnplici a e , tecruca como IPe a pree~dls-
. ' d um mercado relativamente amp o a basteci o
[eIICla e
- Imente pelo artesanato. Ocorre, entretanto. que se
parCla de salário permanece proxrrna" d as con diiçoes
- de
a'dtaxarevalecentes na agricu Itura d e su bsist ê ,
sistencia, a irn-
VI a P , dú , - h dif
plantação des~e ti~o da m ustrra dnao c ega a mo, I cabr
de forma significativa a estrutura e uma economia su -
desenvolvida. Porque competem com o artesanato e pa -
gam salários não muito superiores à renda dos artesãos,
essas indústrias pouco contribuem para ampliar o mer-
cado interno; e porque têm poucos vínculos com outras
arividades industriais, quase não criam economias exter-
nas, Essa situação particular se traduz na curva típica de
crescimento desse tipo de indústria: rápido crescimento
inicial e tendência ao nivelamento.
É durante a fase de "substituição de importações", a
qual se liga às tensões da balança de pagamentos, que
tem início a formação de um sistema industrial. Mas
pelo fato de que o consumo da minoria modernizada é

a,ltamente diversificado, as indústrias que formam esse


SIstema tendem a enfrentar problemas de de seconorn ia s
de es~ala, que se no nível da empresa podem encontrar
s~luçao parcial na proreção e nos subsídios, no nível so -
c~aJ se traduzem cm elevados custos. Já fizemos refer ên-
era ao fato de que essa situação favorece a penetração das
grandes emp d " ,
resas com se e nos países centrrcos, o que,
dPOr seu' lado ,COntClib UI' para elevar os custos dee operaçao
ooeracâ
Eo SiStema
. . d ' I
ln ustrm em termos de divisas estrangeiras.
.
apsse quadro, que em alguns países latino-americanos se
rest'ntou' na Iorma d e redução nas taxas dee crescrmcn-
cresci
ESSENCIAL
CElSO fUIlT
-
~hO
to, de fortes crises de balança de pa
ioid o endiIVIid amento externo tem sidgamentos
U de
I
rapi d elO
, I o esc'
cularmente em publicações das Nações U o rito, Pal'ti.
resu Ita d o daa "exaustao - "do processo de" nldas b " c01110 o
.unportaçoes - " .•M ' desses sinto su Stltui
as por tras _ Çao - de
'
perce ber uma causa mais profunda' a in
mas nae é dOf'
I íeil
. comp °bT
entre o projeto de desenvolvimento dos ati I Idade
. . o grupos do o
tes, visando reproduzir dmamicamente ~ngen_
' os padroes d
consumo d os paises centncos e o grau d
A •

e
' ' e acumula ao •
d e capital alcançado pelo país. COntornar bs 5
Io tem SIido a grande preocupação, no correr esse o taeu
d 'I o -
decêni
ceemo, dos paises • su bdesenvolvidos em mais o U tuno d
. . d do . li
o avança o
~gIo e ln stna zação. Posto que a pequenez rela-
nv~ d~, mercados locais surgia como o fator negativo
ma~ VISIVel, conceberam-se esquemas de integração sub-
-regional . na forma de zonas de livre-comércio, uniões
d
a uaneiras etc. Tais esquemas permitiram; em alguns
~s, dar maior alcance ao processo de "substituição
. de lUlportações", mas em nada modificaram os dados
fundamentais do problema, que têm as suas raízes na
situação de dependência anteriormente descrita.'

I O problema de como industrializar beneficiando-se da rec-


o ,

DICa moderna, um país em que a acumulação de capital seen-


COntra em nível relativamente baixo pode ter várias soluções.
todas elas ligadas a um certo sistema de valores . Três soluções
principais (puras) têm sido tentadas no correr dos últimos
~nos. A primeira consiste cm aumentar a taxa de exploraçãO
(~m~ir que a massa salarial cresça paralelamente ao produtO
lIqUido) de forma corijugada com uma 'intensificação do coo'
sumo que "fi , " " 'ob'I'dade
. ~. nanaa COm parte do excedente; a pOSSI I I •
de. maiores
" e ias
conomlas e escala particularmente nas I°odus'
d
tnas, "prodUtoras de bens duráveis
, . ' de consumo engenduma ra
maiortaxa d i ' da de
e ucro, o que por seu lado estimula a entra
reCUrsos externo A o tar o
o o s, segunda solução consiste em orteo
Sistema IndUstr' a I d o de
novo sistema d: , ~a~a ?S mercados externos, no qua ~ ide
dlvlsao Internacional do trabalho sob a eg
->:
SIl80 ESE J/VO L
VIMEI'lTO E DEPEI'lDf.I'lCIA 193

te controle externo dos sistemas de produ-


O crescen b 'I
• dos países periféricos a re padra estes u tlmods.n~va
o

çao I ' a Assim o aumento os custos em rvisas


'ase cvo •uuv da. produção
1,
, o d ,.
liga a ao propno merca o m-
d '
clras
.....'ang t nsões adiCionais. ' nas ba Ianças de pagamentos
<>~ o

ern o cna e . I I
t respectivos países, as quais ~v~m, ~m a gun.scasos, a~
dos ' d processo de industnalizaçao, ou cnam condi-
bloqueiO o I - I .
_ favorecem a busca de so uçoes a rernanvas atra-
çõeS que , . À di 'o fi
vés de "correções" compensatondas. ex~ra~r man~ e-I
xibilidade das grandes empresas e atuaçao mternac10n:
. que tais problemas venham encontrando solução
deve se o •

com um mínimo de modificações , nas


_ estruturas SOCiaIS
.
diciooais. Com efeito: graças as transaçoes mternas que
:lizam as grandes empresas no plano internacional, os
países periféricos vão se capacitando para pagar com mão
de obra barata os seus crescentes custos de produção em
moeda estrangeira. As novas formas de economia subde-
senvolvida, que crescem à base de exportações de trabalho
barato incorporado a produtos industriais manufaturados
por empresas estrangeiras e destinados a mercados exter-
nos, apenascomeçam a definir o seu perfil. Mas, se se tem
em contaque a proporção do excedente apropriado do ex-
terior é considerável, nada indica que a taxa de explora-
ção tenda a declinar. Em outras palavras: se as condições
gerais ligadas à situação de dependência persistem, nada
sugere que a industrialização orientada para o exterior
contribua para reduzir a taxa de exploração, tanto mais
que a própria razão de ser desse tipo de industrialização
na periferia é a existência de trabalho barato.

-
das grandes empresas transnacionais. A terceira consiste em
lecondicio . _
~ nar progressivamente os padroes de consumo de
d~~ada torná-los compatíveis com o esforço de acumulação
"'''Ia o. A p d
lo b ' nmelra fórmula corresponde ao chamado mo e-
o , { ,

raslleiro
tere' , a segunda ao chamado modelo Hong Kong e a
eira ao ehamado modelo chinês,
' A
ESSENCIAL C
E1S0 FUl~

Podemos agora tentar destacar o ' ·"Do


. bd I . qUe da p
os ao su esenvoJvunento, ou seja co eClnanêll.
'L:' J
permite . Iidennnca- o reproduziu-se' nomo t a estrutura Cl1Ic
internacional do trabalho, imposta peJosem~o. A di\'isãa
raram a RevoJu.çao - In dustri
ustríal, deu orige paJSts que /'Ide.
- " J
te, O quaI permmu as c asses dirigentes d
maumeXC.l_ eucn-
' 1:' " e OUtros p •
( penrencos ao sistema] - nos quais não h " alSCs
. J' - . aVia Indn...:
izaçao - ter acesso a padrões diversilicad d -u.a·
engen dra d os p eloo imrenso progresso técnícos e conslUn I a
1 - d 'J
mu açao e caplta concentrados no centro d '
oepeaaeu .
~ '. o Sistema
Em consequencia, os parses periféricos puderam el '
de ..-v901 - evar a
tax:a. -'l"O~O sem que houvesse redução na taxa de
salano real e mdependentemente da assimilaça-o de
, . duti novas
t~mcas pro utrvas, Desta forma, surgiu nos países perí-
féricos ~ !,erfil de demanda caracterizado por marcada
descontinuidade, A partir do momento em que o seror
exportador entrou na fase de rendimentos decrescentes
a industrialização orientou-se para a "substituição de ím-
portaçâo", Devendo miniaturizar sistemas industriais em
um processo muito mais avançado de acumulação e de-
vendo acompanhar a rápida diversificação da panóplia de
bens de consumo dos países de mais alto nível de renda,
os países periféricos foram levados a ter que aumentar a
taxa de exploração, ou seja, a concentrar cada vez mais
a renda. Por outro lado o custo crescente da tecnologia,
c?~juntamente com a aceleração do progresso técnico, [a-
cdl~ou a penetração das grandes empresas de ação inter-
nacIOnal, o que intensificou ainda mais a difusão dos no-
vos padroes - de consumo surgidos no centro do slstem ' ae
levou a maior estreitamento dos vínculos de dependência,
O.s ~Ontos essenciais do processo são os seguintes: a
matnz Institu' cronaI preexIstente
' .
orientada para a con'
ceorração d ' , h' , icaS
· d ' a nqueza e da renda' as condições IstOr I
IIga as a em ~ , , , na
d b ergencla do sistema de divisão internac!O _
o tra alho a ' , f nçao
do . ' s quais estimularam o comércio em U •
s Interesses d , I çao
as economias que lideravam a Revo U
1~S
TO E DEPENDtNCIA
E~VOLVIMa'"
~ U . Pl' •
. da taxa de exploração nos países
- I', o aumento d .' ) I grupos
In , - e o uso o excedente adICIOna pe os
âostrl2
1 I
nl!riferlcos . d ue resultou a ruptura cu tura que
Y- locaiS, o q d . -
dirigenteS • do processo de mo errnzaçao; a
"t
se lIlliOI es ta atraves funcã
sso de industrialização em unçao
- do proce . di
orientaçao d . oria modernizada, que cnou con 1-
. es a mm
dos IIlteeess de salário real permanecesse presa
que a taxa I .
çõeS para u bsls . rêncía: o custo crescente da tecno ogra
' I de s
20 nlve
,
mpanhar - Ioca,
mediante produção I os
'da para acO ,
requen d nsumo dos países cêntricos, o que por seu
deões eCO d -
pa 'I' a penetraça-o das grandes empresas e açao
I do faCI irou
,a . I, a necessidade de fazer face aos custos cres-
IRrernaClona , - d . d
em moeda estrangeira da produçao estma a ao
centes , , - d -
mercado interno, abrindo cammho a exportaçao e mao
deobra barata sob o disfarce de produtos , manufaturados.
_
O subdesenvolvimento tem suas raizes numa conexao
precisa, surgida em certas condições históricas, entre o
processo interno de exploração e o processo externo de
dependência. Quanto mais intenso o influxo de novos
padrões de consumo, mais concentrada terá que ser a
renda. Portanto, se aumenta a dependência externa,
também terá que aumentar a taxa interna de exploração.
Mais ainda: a elevação da taxa de crescimento tende a
acarretar agravação tanto da dependência externa como
da exploração interna. Assim, taxas mais altas de cresci-
mento, longe de reduzir o subdesenvolvimento, tendem a
agravá-lo, no sentido de que tendem a aumentar as desi-
gualdades sociais.
Em conclusão: o subdesenvolvimento deve ser enten-
di~o como um processo, vale d izer, como um conjun-
to e forças em interação e capazes de reproduzir-se no
tempo Por seu i êdi . I' .
do diifu' di eu mterrne io, o capita ismo tem consegui-
n Ir-se em amplas áreas do mundo sem compro-
:eter as estruturas sociais preexistentes nessas áreas. O
'" U Pd~pel na construção do presente sistema capitalista
"'Un íal t id f
em SI o undamental e seu dinamismo con-
ESSENCl~l
• CEl
trnua considerável: nova J: So "tllll'
id s rormas d ~DO
senvo1VI as plenamente' d . e econ .
ln Ustn ,. OJllla
para a exportação de m f a Izadas elo ~ subdf.
. d É anu atUr U Orl
gm o. mesmo possível q 1 a~ estão ap enradas
. Ií
capira rsta; isto é que na-
ue e e se'
ja Inerente
enas
.eltler.
1 - ' o pOssa h ao SlSt
as re açoes assimétricas em b .aVer capitalis eJna
J: d ce su Slste mo Se
as rocmas e exp10caça-o . 1 mas eCon ~ . llJ
desenvo1vimento Mas n SOCIa-
que - On1lco
estao na base d Se
.
demonstrar esta última ao temos a o sub-
híp , pretensão de "".I
otese. YV\ler
o desenvolvimento do ponto
de vista interdisciplinar'

A VISÃO OTIMISTA DA HISTÓRIA

Aideia de desenvolvimento, referida a um conjunto de


processos sociais articulados ao qual se empresta um
sentido positivo, contribuiu como nenhuma outra, no
terceiro quartel do século xx , para reaproximar as dis-
tintas ciências sociais, compartimentadas por um século
de influência positivista. À fecundidade dessa ideia cer-
tamente não é estranha sua óbvia ambiguidade. Nascida
na economia, em que desenvolvimento, ao ser submetido
ao teste da medição, transforma-se em crescimento, ela
desborda necessariamente para o campo de outras ciên-
cias sociais na medida em que esse crescimento não pode
ser concebido como um processo homor érico, requerendo
modificações "estruturais", do contrário não é compreen-
sível independentemente de um sistema de valores que o
economista não saberia integrar no quadro conceituai
com que trabalha. Dessa ambiguidade brotou toda uma
problemática, que levaria os próprios economistas a di-
ferenciar desenvolvimento de crescimento, atribuindo
ao primeiro desses conceitos, mesmo quando seguido do
qualificativo econõmico, uma amplitude que o transfor-
mava necessariamente em tema interdisciplinar. 1

•Publicado em Ensaios de Opinião, Rio deJaneiro, .v. 10, 1979·


I.Uma ampla bibliografia sobre as teorias do cresCImento eco-
norn;co pode serencontrada em F. H. Hahn e C. O. Macchews,

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