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A conceção das armas russas foi feita para funcionar, pois disso depende a sobrevivência
de um país, que teve de lutar constantemente contra inimigos externos. (181)
As munições guiadas de alta precisão (PGM) foram desenvolvidas pela União Soviética. O
seu nível atual ficou patente na Chechénia e na Síria, mas tal escapou aos "especialistas".
(167)
Atualmente a Rússia dispõe de misseis de cruzeiro com alcance superior a 5 500 km. A
marinha russa pode disparar misseis 3M14 com alcance superior a mais de 2 500 km de
qualquer parte do Mediterrâneo oriental ou do mar Cáspio. O segredo está no grau de
precisão com que foram disparados de fora das fronteiras Sírias. E neste campo os EUA
não têm a liderança. (174)
A Rússia dispõe de uma Força Aérea moderna e complexa, mas também sistemas
avançados de defesa aérea tornando a FA do adversário muito menos eficaz. Mísseis X-
32 podem ser disparados dos bombardeiros TU-22 M3 com um alcance de 1 000 km e
velocidade Mach 4.2. (175)
Esta situação impõe sérias limitações ao poder naval tornando determinados espaços
fechados a qualquer adversário. O aparecimento do 3M22 Zirkon (ASM Mach 8, alcance 1
000 km) mudou completamente o equilíbrio do poder naval. São tecnologias para as quais
a marinha dos EUA não está preparada e o seu SM-6 não pode ser considerado um bom
sistema antimissil. (187)
3 - Experiência em guerras
As capacidades eletrónicas utilizadas pela Rússia para apoiar as forças do Donbass foram
descritas pelo gen. Ben Hodges como "de fazer chorar": "o nosso maior problema é que
nunca lutámos num ambiente de comunicações degradado e não sabemos como o fazer".
Ou seja lutar num ambiente de completa cegueira eletrónica e redes de computador
suprimidas. (168, 170).
Em 2015, pequenos navios lança misseis no mar Cáspio lançaram sobre posições do
ISIS, misseis PGM 3M14 e bombardeiros estratégicos lançaram misseis X101, tornando
evidente um mundo multipolar e a dura realidade da perda de supremacia militar dos EUA,
(169)
Os EUA não podem comemorar marchas de vitória depois de terem destruído o Iraque, o
Afeganistão ou a Líbia. Os EUA não têm nada mais para comemorar senão morte e
destruição e veteranos que regressam a casa com traumas psicológicos e
envenenamento por radiações, que são ignoradas pelo seu governo. (142)
A maioria dos conflitos em que os EUA se envolveram desde a Guerra da Correia levaram
a sangrentos resultados ou foram perdidos. (170) Afinal, uma nação tão orgulhosa dos
seus sucesso militares nunca ganhou nenhuma guerra nos últimos 70 anos se
excetuarmos o "tiro aos perus" da 1ª Guerra do Golfo. (203) Podemos acrescentar, a
"gloriosa" (vergonhosa) invasão da pequena Granada para derrubar um governo
progressista.
A marinha dos EUA não tem sistema de defesa contra o ataque de uma salva de misseis
hipersónicos. Isto deve-se a que os EUA continuam aplicar rígidas e ultrapassadas
doutrinas agressivas. (148)
Os EUA não têm meios contra o SU-35C russo, ou o novo SU-57, planeado para 2019. O
radar do SU-35C pode detetar aviões ditos invisíveis ao radar a 100 km, dispondo de uma
inultrapassável capacidade de manobra. A nova tecnologia radiofotónica torna os aviões
"invisíveis" (onde os EUA gastaram milhares de milhões de dólares) obsoletos. (179)
Um ataque vindo do Polo Sul é uma contingência que os EUA têm agora que encarar
(220) Além dos Mach 8 já revolucionários, dos Mach 10 + altamente manobráveis com
alcance de 2 000 km transportados por MiG 31, estão em produção os Avangard
"deslizantes" capazes de Mach 20 (transportados até próximo dos alvos por RS-28
Sarmat heavy ICBM ). A NATO não tem atualmente nenhum sistema de defesa ou em
perspetiva para intercetar um único míssil com estas características. Uma salva de cinco
ou seis pode destruir qualquer grupo de batalha naval – tudo sem usar munições
nucleares. (220,222)
Os porta-aviões, principal força de ataque naval dos EUA, além de proibitivamente caros,
são alvos vulneráveis levantando sérias dúvidas acerca do conceito estratégico naval
centrado nestes meios. (145,146) A destruição de um porta-aviões teria um impacto
psicológico correspondente aos milhares de efetivos e custo astronómico do navio e da
aviação transportada. (142)
Um simples submarino da classe Virgínia custa 2,5 mil milhões de dólares, um custo
astronómico quando comparado com os SSK russos, mais indetetáveis particularmente no
litoral do que qualquer submarino dos EUA. (188)
A defesa do país simplesmente não faz parte da História dos EUA, dado nunca terem tido
uma credível ameaça continental que os invadisse e procedesse à aniquilação da
população civil (ao contrário da Rússia). Cerca de 70% do orçamento militar dos EUA é
para combater no estrangeiro.
As armas dos EUA são itens comerciais, a sua idiossincrasia militar usa o termo
"sofisticado" em vez de "eficaz". O F-35 é muito "sofisticado" mas é "eficaz"? Na realidade
a tecnologia militar dos EUA está atrasada não apenas em relação à Rússia mas também
em relação a alguns meios aéreos do Reino Unido e França. (179)
Os perigos da insanidade
A expansão da NATO para as fronteiras da Rússia, apesar das garantias dadas em 1990,
tornou evidente que o objetivo do Ocidente era ver a Rússia removida de qualquer papel
geopolítico significativo. (154) Dado que para os EUA a existência de um nação com
paridade militar é algo inaceitável. (192) Neste sentido Hillary Clinton comparou Putin a
Hitler. (96)
A sua visão do mundo é baseada no poder militar. Mas esta visão está completamente
desligada do entendimento das consequências da guerra e dos recursos necessários.
(157) Contudo, não podemos pôr de parte a hipótese de um cenário suicida dos EUA,
tentando comprometer a China e a Rússia numa guerra que se convenceriam ser um
cenário convencional. (172) O perigo reside na iliteracia militar dos neoconservadores e a
sua total alienação da realidade estratégica. (175)
A sua postura militar acabou por contribuir para a bancarrota moral e económica da
nação. Através de uma série de mal concebidas e largamente falseadas aventuras
militares, os EUA expressaram dramaticamente os limites da sua capacidade. Excetuando
uma guerra nuclear os EUA não podem derrotar a Rússia ou a China nas suas
vizinhanças geográficas. Além de que devido à evolução da tecnologia militar, deixou de
ser impossível levar os cenários de guerra para os próprio território dos EUA. (207)
Uma escalada militar descontrolada pode levar a um muito perigoso ponto de partida
nuclear para os EUA salvarem a sua própria reputação, cada vez mais reduzida. Isto
poderia acontecer em caso de guerra com o Irão, se um porta-aviões dos EUA fosse
atingido ou os EUA tivessem de enfrentar outra humilhação como na Síria, ou mesmo em
relação à Ucrânia ou à Coreia do Norte. (211)
A mais importante tarefa atual é portanto evitar por todos os meios qualquer possibilidade
desta autoproclamada ilusão de "nação excecional", levar o mundo à destruição global
pela frustração com que a sua própria fraqueza fosse subitamente exposta. (213)
Ver também:
1ª parte deste artigo
A supremacia militar perdida dos EUA
O gato e o cozinheiro
The Pentagon Realised What It Has Done – the Chinese Put the US Army on Its
Knees
[1] Losing American Supremacy. The Myopia of American Strategic Planning , Ed. Clarity Press, 2018, 308 p.,
ISBN 0998694754. Entre parêntesis os números das páginas a que se referem transcrições e comentários ao
texto de AM.
[2] Sobre este tema ver "Do fim da URSS à atual russofobia – Notas de Dimitri Rogozin, um embaixador russo
junto da NATO", resistir.info/v_carvalho/rogozin_resenha_1.html e
resistir.info/v_carvalho/rogozin_resenha_2.html