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PARÁBOLAS E OS PARADIGMAS CIENTÍFICOS

Os Evangelhos sinóticos identificam a Jesus como alguém que tinha por predileção
ensinar através de parábolas. Ele gostava de educar por meio da contação de histórias:1
cerca de um terço dos seus ensinamentos foram entregues dessa forma.2 A matéria
prima dessas histórias vinha da realidade sócio-cultural dos primeiros ouvintes.3
Imagens do dia a dia na Palestina podiam ser usadas como pontes que levavam para a
compreensão de verdades espirituais extraordinárias.4 Esse método didático-pedagógico
se tornou uma característica peculiar da pregação de Jesus. Ele era “simples e
5
interessante, e permitia que o público acompanhasse a história facilmente.” Daí a
popularidade desse método.6

Definição de Parábola
A definição mais conhecida de parábola é “uma história terrena com um significado
celestial”. Mas como Vernon D. Doerksen observou essa definição carece de maiores
informações.7 Em hebraico “mashal” é o termo mais próximo da palavra grega
“parábola”. Mashal significa “provérbio” em 1 Sm 10.12; 24.14; mas em Nm 23.7 o
sentido é "discurso figurativo profético"; em Ez 17.2 o significado é “ um enigma”; e
em SL 49.4 o sentido é um “poema”.8
No Novo Testamento, a palavra é uma tradução de dois termos gregos parabolē e
paroimia.9 O primeiro é usado no sentido de "símbolo" ou "tipo" (Cf. Hb 9: 9; 11.19).
Nos sinóticos o termo é usado para denotar "uma forma característica do ensinamento

1
KRUSCHWITZ, ROBERT (General Editor). Parables: Christian Reflection - a series in Faith and Ethics. The
Center for Christian Etthics at Baylor University, 2006. p.8.
2
Ibid., p.9.
3
ECK, Ernest van. Realism and Method: the Parables of Jesus. Neotestamentica 51.2 (2017).p.164.
4
Cf. ANDRÉ, Georges. L' enseignement pratique des Paraboles. Disponível
em:<http://www.centrebiblique.org/fileadmin/user_upload/ressources/livres/l_enseignement_pratiqu
e_des_paraboles/L_enseignement_pratique_des_paraboles_-_Georges_Andre_-_A5.pdf>
Acessado em 07/11/2-18. Ver também: JEREMIAS, Joachim. Las Parabolas de Jesus.Editorial Verbo
Divino, 1974. E,: ANDRÉ, Georges. L' enseignement pratique des Paraboles. Disponível
em:<http://www.centrebiblique.org/fileadmin/user_upload/ressources/livres/l_enseignement_pratiqu
e_des_paraboles/L_enseignement_pratique_des_paraboles_-_Georges_Andre_-_A5.pdf>
Acessado em 07/11/2-18.
5
KAISER, Jr, Walter C., SILVA Moisés. Introdução à hermenêutica Bíblica. Editora Cultura Cristã (2ª
edição). 2009.p.106. Ver também: WILLIS, Abigail. The Parables of Jesus. Penguin Studio (Penguin
Putnam Inc.), 1998.p.1.
6
DOERKSEN,Vernon D. The interpretation of Parables. Grace Theological Journal 11.2(1970).p.3.
7
DOERKSEN,Vernon D. The interpretation of Parables. Grace Theological Journal 11.2(1970).p.4.
8
DOERKSEN,Vernon D. The interpretation of Parables. Grace Theological Journal 11.2(1970).p.4.
9
DOERKSEN,Vernon D. The interpretation of Parables. Grace Theological Journal 11.2(1970).p.4.
de Jesus". Já a segunda palavra é usada por João (João 10: 6) como "ditado escuro" ou
"figura de linguagem"; e, em Pedro (2 Pedro 2:22) ocorre com o sentido de
"provérbio".10 Mas é bom que se diga que não é fácil determinar a extensão precisa do
material parabólico. Por essa razão alguns autores acabam confundindo entre parábola,
alegoria, símile e metáfora.11No entanto, quando se distingue corretamente cada desses
termos, fica fácil ver as “parábolas” como “histórias mais longas contadas por Jesus”.12

Por que Jesus ensinou por parábolas?


Alguns autores apontam duas razões para Jesus ter falado por parábolas, a primeira,
ela favorecia o ensino; a segunda, ela facilitava a compreensão por conter histórias da
vida cotidiana dos ouvintes.13
A interpretação das parábolas
A interpretação de parábolas não é uma tarefa fácil. Isso pode ser confirmado pela
multiplicidade de interpretações. Alguns autores acertadamente afirmam que é preciso
“tantas habilidades hermenêuticas para entender parábolas quanto precisamos para
compreender outras partes das Escrituras”.14

Os paradigmas na interpretação das parábolas


Reinstorf e Aarde em um artigo intitulado: Jesus’ Kingdom parables as
metaphorical stories: a challenge to a conventional worldview destacaram as mudanças
ocorridas na forma como se estuda a parábola.15 Eles atribuem essa mudança a dois
fatores. Primeiro, os trabalhos realizados pelos teóricos literários que trouxeram um
novo entendimento das narrativas nos Evangelhos em geral e das parábolas em
particular. Segundo, a descoberta do significado e do valor das metáforas como um
meio apropriado para se falar de Deus e transmitir visões alternativas sobre a
realidade16.

10
DOERKSEN,Vernon D. The interpretation of Parables. Grace Theological Journal 11.2(1970).p.4.
11
DOERKSEN,Vernon D. The interpretation of Parables. Grace Theological Journal 11.2(1970).p.4.
12
DOERKSEN,Vernon D. The interpretation of Parables. Grace Theological Journal 11.2(1970).p.4.
13
DOERKSEN,Vernon D. The interpretation of Parables. Grace Theological Journal 11.2(1970).p.5-7.
14
KAISER, Jr, Walter C., SILVA Moisés. Introdução à hermenêutica Bíblica. Editora Cultura Cristã (2ª
edição). 2009.p.106.
15
REINSTORF, Dieter, AARDE, Andries Van. Jesus' kingdom parables as metaphorical stories: a
challenge to a conventional worldview. Disponível em:
http://ead.mackenzie.br/cpaj/pluginfile.php/12495/mod_resource/content/0/Jesus%20Kingdom%20Parabl
es.pdf.
16
REINSTORF, Dieter, AARDE, Andries Van. Jesus' kingdom parables as metaphorical stories: a
challenge to a conventional worldview. Disponível em:
Reinstorf e Aarde destacaram que o estudo da história da interpretação da
parábola revela que há sempre uma clara relação entre os paradigmas científicos
dominantes e os esquemas hermenêuticos usados para interpretar parábolas. Eles
reconheceram três paradigmas científicos que influenciaram na interpretação das
parábolas; o vitalista, o mecanicista e o holístico.
O paradigma vitalista teria sido dominante do período do Novo Testamento até o
fim do século XVI. Esse era o paradigma orgânico, da vida, e do crescimento. Esse
período era caracterizado por uma harmonia entre os seres humanos e o mundo ao seu
redor, e com Deus que é parte integrante deste mundo. A interpretação bíblica nessa
época via cada coisa criada se referindo simbolicamente à sua realidade celestial: a
interpretação da parábola nesse período era acentuadamente alegórica. Com Galileu,
Descartes e Newton teria tido início o paradigma mecânico, que se entendeu do século
XVII até a segunda metade do século XX. A ênfase nesse período se encontrava na
máquina e suas partes. E a interpretação bíblica dessa época era predominantemente
analítica. A interpretação da parábola era realizada por meio da metodologia de um
único ponto. Por exemplo, o único ponto na parábola dos talentos (Mt 25.14-30) diz
respeito à fidelidade e à confiança. Na parábola do administrador injusto (Lc 16.1-8) o
único ponto seria: o uso sábio da oportunidade presente como a melhor preparação para
um futuro feliz, e assim por diante17.
O terceiro paradigma científico que tinha correlação com esquemas hermenêuticos para
interpretar parábolas era o holístico, caracterizado pela plenitude. A ênfase da
interpretação bíblica desse período girava em torno de toda a história de um texto e de
todo o seu processo de comunicação: O texto está vivo, evoca emoções e sentimentos,
além de se comunicar com o leitor de forma diferente. A área da pesquisa hoje é,
portanto, literária, com ênfase na narratividade. Nesse paradigma as parábolas não são
registros à sua situação histórica única no passado, mas têm a capacidade de gerar nova
relevância na situação de hoje. O foco da pesquisa da parábola de acordo com o
paradigma holístico se ampliou para incluir muitas dimensões novas e emocionantes.18

http://ead.mackenzie.br/cpaj/pluginfile.php/12495/mod_resource/content/0/Jesus%20Kingdom%20Parabl
es.pdf.
17
REINSTORF, Dieter, AARDE, Andries Van. Jesus' kingdom parables as metaphorical stories: a
challenge to a conventional worldview. Disponível em:
http://ead.mackenzie.br/cpaj/pluginfile.php/12495/mod_resource/content/0/Jesus%20Kingdom%20Parabl
es.pdf.
18
REINSTORF, Dieter, AARDE, Andries Van. Jesus' kingdom parables as metaphorical stories: a
challenge to a conventional worldview. Disponível em:
http://ead.mackenzie.br/cpaj/pluginfile.php/12495/mod_resource/content/0/Jesus%20Kingdom%20Parabl
es.pdf.

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