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Abstract Introdução
1Centro de Ciências da This article presents some key contributions to Este artigo tem por objetivo apresentar contri-
Saúde, Universidade
Federal de Santa Catarina,
health promotion by complementary and alter- buições do campo das práticas complementares
Florianópolis, Brasil. native medicine (CAM). After contextualizing em saúde-doença, mais comumente conhecido
CAM, the article proposes a scheme for viewing como medicinas alternativas e complementares
Correspondência
C. D. Tesser the challenges and tensions in health promotion, (MAC) ou práticas integrativas e complementa-
Departamento de Saúde organized along four thematic lines: (1) actions res (PIC) à promoção da saúde no ambiente do
Pública, Centro de Ciências
impacting the collective (social, collective “em- Sistema Único de Saúde (SUS). Trata-se de um
da Saúde, Universidade
Federal de Santa Catarina. powerment”) versus the individual; (2) inter- ensaio que sistematiza as contribuições desse
Campus Universitário – sector versus sectorial actions; (3) positive and campo para a promoção da saúde, dado que am-
Centro de Ciências da Saúde,
expanded conception of health versus health as bos têm crescido e se fortalecido mais ou menos
Florianópolis, SC
88040-900, Brasil. absence of disease; (4) directive versus dialogical em paralelo nas últimas décadas e apresentam
charlestesser@ccs.ufsc.br pedagogy. The paper argues that the contribu- várias intersecções e pontos em comum, embora
tions of CAM to health promotion are oriented pouco explorados.
towards individuals and groups and to the sec- A hipótese central, baseada tanto na litera-
torial pole of promotion; they are centered on tura quanto em experimentações individuais,
positive conceptions of health, especially vitalist coletivas e institucionais dispersas no SUS, é
medical paradigms, including health-strength- que várias práticas complementares e seus prati-
ening practices; and with “empowering” peda- cantes portam saberes/técnicas especificamente
gogical potential. The article highlights the rel- voltados à promoção da saúde, que podem ser
evance of these contributions, largely overlooked instrumentos/aliados nas missões a que se pro-
in the past, and the difficulties and guidelines põe esta última. Todavia, a exploração acadêmica
for enabling them in Brazil, related to their non- do campo das MAC tem repercutido pouco sobre
scientific and poorly institutionalized configura- a saúde coletiva e o SUS, a ponto de apenas em
tions and their steady commodification. 2006 ter havido uma política nacional a respeito 1.
Isso torna relevante a reflexão sobre as conver-
Complemetary Therapies; Health Promotion; gências e imbricações, teóricas e práticas, entre o
Professional Practice campo das MAC ou PIC e a promoção da saúde.
Contribuir para o reconhecimento, compreensão
e exploração dessas imbricações é o fio condutor
deste ensaio.
segundo pólo deste eixo leva a ação para o campo Neste eixo também encontramos outra ambi-
institucional e profissional da saúde. Claro está güidade ou polaridade, presente nos significados
que ambos os pólos devem se complementar, re- do termo e das propostas de empowerment. Há
alizando coisas que cada um isoladamente não um significado comportamentalista e individua-
consegue, embora o setor saúde tenha dificul- lista, chamado por Carvalho 32 de empowerment
dade em trabalhar articulado intersetorialmen- psicológico, focado no indivíduo e na sensação
te, pois tradicionalmente opera autocentrado, individual de segurança e controle sobre sua vi-
voltado para doenças e sua prevenção e mais na da pessoal, enfatizando o pertencimento a um
dimensão individual. grupo, a sensação de autoconfiança e a harmonia
O terceiro eixo refere-se a questões epistemo- com o meio social. Ações de promoção de saúde
lógicas relativas aos problemas da conceituação com este enfoque tendem a valorizar estratégias
da “saúde”. Ele apresenta em um de seus pólos para resgate e aumento de auto-estima, capaci-
uma conceituação ampliada e positiva de saú- dade de adaptação ao meio e auto-ajuda, mas
de, multidisciplinar e centrada na determinação podem desconectar artificialmente a pessoa do
social do processo saúde-doença. Tal pólo tende contexto sócio-político em que está inserida, re-
a desviar-se do terreno setorial da saúde, asso- forçando um conservadorismo social e cultural,
ciando-se ao pólo intersetorial do segundo eixo por vezes em situações sociais injustas em que
e ao pólo social do primeiro. No outro pólo deste as vítimas são responsabilizadas, para não dizer
eixo, encontramos a saúde como trabalhada no culpabilizadas. Esse enfoque pode esconder uma
setor saúde, capitaneado pela biomedicina e os perspectiva educativa em saúde controlista e ins-
saberes biomédicos, em que saúde é vista como a trumentalizar políticas sociais neoliberais restri-
ausência de doença 31, a qual, esta sim, é definida tivas, acirradoras da iniqüidade social.
e operacionalizada na prática clínica e sanitária. Outro significado, mais amplo, o chamado
São mobilizados, então, conceitos e tecnologias empowerment comunitário, toma por base uma
da clínica e da saúde públicas, que objetivam di- noção de poder como recurso, material e ima-
minuir riscos e prevenir e tratar precocemente terial, distribuído desigualmente na sociedade,
doenças específicas. Esse pólo tende a aproximar em grupos diversos, no qual convivem dimen-
a promoção da prevenção de doenças, do traba- sões produtivas, potencialmente criativas e insti-
lho setorial e da dimensão individual. Se ele per- tuintes, com elementos de conservação do status
mite operacionalizar prevenções, tratamentos e quo. Neste enfoque supõe-se alto teor de empo-
promoções em algum grau, deve-se reconhecer werment psicológico, mas, além disso, fatores as-
que ele é restrito na promoção, padecendo de sociados a distintas esferas da vida microssocial
certo reducionismo biologicista já muito critica- (apoio social, compartilhamento de projetos e
do. Sua ação é altamente desejável, mas parece interesses pessoais e comunitários, aprendizado
ser um pólo fraco na promoção da saúde, ainda social, político e de consciência crítica com essas
que mais atuante na dimensão individual rela- experiências) e macrossocial (ação coletiva, polí-
cionada a doenças específicas e recentemente tica e cultural, crítica social etc.) se fazem presen-
riscos, dominando a formação dos profissionais tes, e enriquecem a perspectiva político-filosófica
e sua prática no SUS. de forma coerente com valores de solidariedade,
O quarto e último eixo da promoção da saú- justiça, liberdade, fraternidade, redistribuição
de refere-se, em um pólo, à perspectiva comu- de poderes excessivamente concentrados etc. 32.
nicativa e educativa da promoção da saúde, e Este significado ampliado é convergente com
às suas ambições de empowerment, para que uma perspectiva emancipatória e solidária, que
indivíduos e coletividades possam participar assumimos aqui como envolvido e necessário no
ativamente na construção de uma vida e uma pólo dialogal desse eixo de dimensão pedagógica
sociedade mais saudável. Tais ambições exigem das práticas em saúde, que necessita ser desen-
uma prática educativa centrada no diálogo, na volvido, ampliado e fortalecido.
solidariedade, na construção de parcerias, fo- Os quatro eixos podem ser visualizados na
mentando a co-responsabilidade e a politização Figura 1, que apresenta um mapa esquemático
individual e coletiva. Aqui aparece um grande facilitador da visualização das práticas, saberes,
desafio e tensão, uma vez que no pólo oposto propostas e tensões presentes no campo da pro-
deste eixo encontra-se uma tradição pedagógica moção da saúde.
hegemônica na saúde pública e na biomedici-
na diretiva, autoritária, controladora e vincula-
da a uma perspectiva de enquadramento dos
indivíduos e comunidades em ordens sociais e
comportamentos ditados tecnocraticamente ou
politicamente alhures.
Figura 1
PRIMEIRO EIXO
SEGUNDO EIXO
TERCEIRO EIXO
QUARTO EIXO
mentares, vivem em si mesmos experiências que correlato no saber científico. Elas esperam por
os possibilitam desenvolver um razoável grau de pesquisa e exploração no campo do desenvol-
sabedoria prática, ética e solidariedade, que dei- vimento de habilidades e capacidades pessoais,
xam seu proceder suficientemente “empodera- um dos cinco campos da promoção da saúde, de
dor”, dialogal e promotor de saúde. É claro que modo a contribuírem para seu enriquecimento.
posturas autoritárias são também comuns, de Além disso, em algumas dessas práticas e
modo que as racionalidades médicas vitalistas racionalidades médicas há uma valorização do
e as práticas complementares não estão imunes autoconhecimento e uma comunicação mais
a essa tendência. O que ressaltamos é que elas fácil com valores espirituais das várias cultu-
portam, sobretudo em seus extratos especiali- ras, religiões e tradições dos usuários. Algumas
zados tradicionais, associados não por acaso à já portam valores dessa natureza e possibilitam
“sabedoria” e à “maestria”, aspectos pedagógicos a incorporação e mobilização de aspectos ditos
“empoderadores”, sobre o qual podemos tomar “espirituais”, recentemente revalorizados no am-
como respaldo, por exemplo, as discussões de biente da saúde e desde sempre valorizados no
Jullien 38,39 e de Golemam 40, ou relatos como de seio das populações 43.
Kaiguo & Shunchao 41, sobre culturas orientais Experiências clínicas e grupais no SUS, de pro-
tradicionais e suas práticas. fissionais, serviços isolados ou municípios, pou-
Obviamente, não se deve esperar desses pra- co sistematizadas, têm revelado aos poucos essas
ticantes tradicionais discursos e práticas de em- potencialidades, como por exemplo, em Cam-
powerment comunitário explicitamente seme- pinas (São Paulo) 33, São Paulo, Rio de Janeiro,
lhantes aos modernos, identificados como politi- Brasília 34, Belo Horizonte (Minas Gerais) e vários
zados, reformadores ou transformadores sociais outros; alguns deles expostos no 1o Seminário
ou culturais (salvo exceções, como em Sarkar) 42. Internacional de Práticas Integrativas e Comple-
Mas seus valores, discursos e práticas pedagógi- mentares realizado pelo Ministério da Saúde em
cas certamente não se restringem ao empower- Brasília em julho de 2008 (disponíveis na página
ment psicológico, já que ensinam mediante ex- eletrônica: http://dtr2004.saude.gov.br/dab/se
periência vivida e valores que transcendem em mi_praticas_integrativas.php). Estes e outros ser-
muito as formações sociais diversas em que nas- viços abriram-se para práticas tão diversas co-
ceram, inclusive com grande similaridade e con- mo yoga, tai chi chuan, liang gong, reiki, toque
gruência. A solidariedade, a compaixão, a justiça, terapêutico, grupos de relaxamento e meditação,
a humildade, a flexibilidade, o discernimento e a homeopatia, acupuntura, biodança, automassa-
sobriedade, o desapego, o benefício aos outros gens, entre outras. Tais experiências vêm mos-
seres, o amor – em termos cristãos, a busca da trando aceitação da oferta de práticas comple-
percepção de realidades profundas além das apa- mentares tanto no plano da promoção como no
rências, a valorização do senso crítico, a busca do do tratamento pelos usuários do SUS, o que é
crescimento e da transformação humana culmi- coerente com a comum unanimidade local, mu-
nando na sua realização, vários desses valores fo- nicipal e nacional na manifestação política dos
ram e continuam sendo importantes nas práticas usuários nos Conselhos de Saúde brasileiros e
e pedagogias dessas racionalidades, que as levam nas Conferências de Saúde nos vários níveis de
muito além do conservadorismo social, comu- gestão, quanto ao desejo do oferecimento destas
mente apontando em sentido contrário, embora práticas e terapias pelo SUS.
sem elaborar propostas de mudança de estrutura Quanto aos profissionais de saúde, eles têm
social. Tais características as aproximam mais do mantido relações relativamente harmoniosas
empowerment comunitário (que do psicológico, com as práticas complementares, particular-
se utilizarmos estas categorias), mesmo que este mente com as de promoção da saúde, que sus-
linguajar carregue uma cosmovisão nitidamente citam menos disputas corporativas. Além dis-
moderna, alheia a várias culturas tradicionais e so, há crescente interesse dos profissionais por
suas racionalidades médicas. tais práticas e racionalidades 3,5,6,7,43,44,45. Via
Outro aspecto a ser ressaltado, envolvido no de regra, nos serviços que tomam iniciativas de
empowerment, que transcende em parte a dis- oferecer alguma prática complementar, ocorre
cussão acima ou independe dela, é o fato de que colaboração dos profissionais, com uma aprecia-
em racionalidades médicas vitalistas existem ção positiva quanto à diversificação de espaços
arcabouços de saberes e práticas individuais de promotores que acabam sendo sempre também
promoção da saúde num sentido estrito e literal “terapêuticos”, sob vários pontos de vista.
de ampliação e reforço da saúde (por exemplo: Um exemplo recente pode ilustrar algumas
técnicas de harmonização, fortalecimento, des- potencialidades das MAC, estudado por De Si-
bloqueio e treino da energia vital, na medicina moni 33. A oferta disseminada de grupos de lian
tradicional chinesa), que simplesmente não têm gong (técnica com séries de exercícios físicos
derivada da medicina tradicional chinesa) por vidual e grupal. Sua contribuição não parece ser
toda a rede de Centros de Saúde de Campinas desprezível, ao contrário. Ela potencialmente
gerou entusiasmada participação de usuários ajuda a suprir uma falha estratégica na promo-
do SUS, com avaliação positiva generalizada ção da saúde no SUS, uma vez que a tradição do-
sobre sua eficácia clínica – empírica – e sobre o minante na ação educativa nos serviços de saúde
enriquecimento psicossocial dos participantes: é centrada na prevenção de doenças e controle
a mobilização, a aceitação massiva, a melhora de fatores de risco, sendo comuns o amedronta-
psicossocial e o “empoderamento” individual e mento da população e a pouca efetividade.
microcoletivo de usuários com as mais diversas Existem, é claro, dificuldades implicadas
situações existenciais e problemas de saúde pôde nessas contribuições, envolvendo concepções
ser observado, inclusive pelo autor destas linhas, diferentes, complementares ou alternativas, no
então profissional de saúde naquele município. tocante aos significados e orientações para as
Esquematizando as contribuições apresen- práticas. Essas dificuldades, porém, afligem mais
tadas das MAC à promoção da saúde, pode-se os profissionais de saúde, cientistas e intelectuais
visualizá-las no mesmo quadro geral dos eixos da do que os usuários e doentes, os quais, em geral,
promoção da saúde, na Figura 2. transitam sincreticamente pelos saberes, práti-
Assim, as práticas complementares podem cas, concepções e valores das várias medicinas e
ser recursos úteis na promoção da saúde indi- técnicas sem problemas relevantes, percorrendo
Figura 2
2- Intersetorialidade
Campo da saúde
diferentes itinerários terapêuticos e, porque não ria uma segunda ruptura epistemológica, agora
dizer, promotores de saúde, quando a eles têm com a própria ciência, para que esta reencontre
acesso. o senso comum e as outras tradições num movi-
No entanto, as racionalidades médicas e prá- mento de mútuo enriquecimento.
ticas complementares não são uma panacéia da Feyerabend 47 afirmou que as tradições dife-
promoção da saúde individual. Elas estão em rentes da tradição teórica hegemônica nas ciên-
processo de cientificização, transformando-se cias foram e continuam sendo menosprezadas
em procedimentos especializados mais ou me- por questões econômicas, militares e políticas.
nos desligados de seu contexto cultural tradicio- O autor defende o direito de todas poderem de-
nal e de suas racionalidades originais, bem como senvolver-se livremente na sociedade, enquanto
dos valores solidários e “empoderadores” caros nelas houver interessados, inclusive com incen-
à promoção da saúde. Juntamente com um pro- tivo e subsídio do Estado, que não deveria ser di-
cesso de mercantilização, elas vêm sendo frag- rigido apenas às ciências. Este autor propõe que
mentadas em técnicas isoladas e procedimentos é tempo de separar o Estado da ciência, assim
no mercado alternativo/complementar e estão como isso já ocorreu em relação à Igreja Católica
em transformação com a globalização. Isso re- no ocidente, de modo a democratizar decisões e
mete ao último tópico. o aprendizado de questões, inclusive na área da
saúde, na qual há praticamente um monopólio
de julgamento da ciência e seus especialistas so-
Dificuldades para legitimação bre o que pode ou não ser considerado válido co-
das práticas complementares mo forma de cuidado a ser oferecido às pessoas.
na promoção da saúde Outra grande dificuldade é que, no Brasil,
talvez não haja atores ou instituições bem esta-
A potencialidade das práticas complementares belecidos e vinculados a outras racionalidades
pode ser realizada na promoção da saúde com médicas ou tradições de cura em número signi-
base na suposição de que suas racionalidades, ficativo e ao mesmo tempo convergentes com
saberes e técnicas portam verdades dignas de o ideário do SUS e da promoção da saúde, para
crédito. Aqui aparece uma primeira dificuldade serem, de pronto, parceiros a serem reconheci-
simultaneamente epistemológica e política. A dos e valorizados como referências para práticas
diferenciação entre ciência e senso comum, no complementares e outras racionalidades médi-
desenvolvimento da modernidade, induz a ig- cas, formadores de praticantes para sua oferta
norar, desprezar e desqualificar outras verdades no SUS.
que não as das ciências 10. Essa restrição e a sub- Acrescenta-se a essa escassez, por último, o
valorização, espalhadas pelo planeta com a glo- já mencionado processo de mercantilização dos
balização, associam-se à supremacia científica e saberes, técnicas e práticas complementares, que
ao monopólio institucional da verdade adquirido transforma este universo, sobrevaloriza certos
pela ciência na saúde e estão ligadas a grupos so- procedimentos e técnicas heterônomas, descon-
ciais, corporações e relações de poder aguerridas. textualiza e alija ou mesmo exclui outros saberes
Isso significa uma dificuldade de maior ordem: e práticas, não raro justamente os mais conver-
a biociência, suas profissões e corporações cor- gentes com os valores da promoção da saúde.
relatas (lideradas pela biomedicina) dominam a Tais dificuldades sugerem algumas diretrizes
área da saúde institucional nos aspectos episte- e estratégias para legitimação sócio-institucional
mológicos e culturais, com grande força política dessas práticas, especialmente as inseridas em
– que se associa, comumente, ao poderoso e vas- racionalidades médicas, na promoção da saúde
to “complexo médico industrial”. Além do mais, no SUS. Há que diversificar o processo de vali-
no seu processo de estudo e interesse pelas MAC, dação e legitimação das práticas para além da
a biomedicina reduz algumas de suas técnicas a ciência e da biomedicina: democratizar o tema e
procedimentos e terapias isoladas, absorvendo- politizá-lo. A ciência pode ser um ponto de apoio
as aos pedaços e transformando-as. para legitimação, não o único nem tampouco ne-
Os estudos do grupo de Luz 3,35,46 sobre as ra- cessário sempre. Outros valores além dos cientí-
cionalidades médicas, as críticas de Feyerabend 47, ficos são desejáveis na promoção da saúde, bem
as crises das ciências 10,48, as crises ecológicas do como outros saberes de novas e antigas tradições
mundo e muitos outros fatores parecem susten- não científicas ou ocidentais. A sociedade e os
tar que esta lógica de guerra e de desqualificação usuários podem decidir, via gestão democrática
pode e deve ser substituída por uma atitude mais do SUS (Conselhos de Saúde), sobre a oferta e a
democrática, dialogal e sincrética, no espírito legitimação de iniciativas de oferta das MAC aos
da complementaridade entre distintos saberes e usuários. Isso significa, em certa medida, “dese-
ações em saúde. No dizer de Santos 48, é necessá- pistemologizar” a discussão, ou tirá-la do marco
positivista restrito e ingênuo em que comumente saúde destas práticas, praticantes, tradições, ra-
se a coloca. cionalidades. Tais herdeiros e práticas (raros que
Outra estratégia é fomentar ativamente, no possam ser e por isso mesmo) merecem preser-
SUS e na saúde coletiva, pesquisas, estudo, ca- vação e fomento, pois podem contribuir na pro-
pacitação e oferta de saberes/técnicas presentes moção da saúde no âmbito individual e grupal.
nas práticas complementares e racionalidades A exploração dessas contribuições certamente
médicas convergentes com os valores da promo- significará, mesmo que de forma limitada, um
ção da saúde. Isso significa garimpar os remanes- incremento na promoção da saúde nos serviços
centes e herdeiros destes lados promotores da do SUS.
Resumo Referências
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