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Georges Didi-Huberman
Assim como um artista, o historiador da arte não pode aceitar até o fim a separação
entre forma e matéria. Quando Derrida critica o teor da metafísica da forma, em seu
famoso artigo sobre “A forma e o querer-dizer”, ele fala de um uso da palavra forma que
certamente não teriam aceitado Konrad Fiedler e Heinrich Wöllfflin, ou, mais tarde,
Victor Chklovski e S. M. Eisenstein. Uma forma, para um pintor, para um escultor ou
para um cineasta, trata-se de encarnar, colocar em movimento e produzir materialmente,
jogando tinta em uma tela, atacando um bloco de granito com um martelo ou alterando a
estrutura química em um filme sensível. Em nenhum momento, a forma – que se move,
que é transformada – se separa da matéria, que com a qual se move e se transforma. A
cada momento, a forma se forma, como um organismo, ou ganha forma, como um sangue
que coagula. As noções de personificação (?), de vestígio (?) e de inacabado (?), que você
destacou, tentavam, a cada vez mais, pensar este emaranhado e forçar as oposições
seculares, onde a palavra forma está imobilizada: não somente oposta à matéria, mas
também à presença (?), ao conteúdo... até a ela mesma.
O que a obra de arte tenta fazer – como os desenhos de Victor Hugo que você vê
aqui (fig. 1-2) – é precisamente o que se produz não esteja mais em oposição lógica a
qualquer coisa que distinga nela uma matéria e uma forma, um conteúdo e um estilo etc.
Quando se tenta contrastar uma história da arte do “conteúdo” (Walburg e as iconografias)
e uma história da arte da “forma” (Wöllflin e o estudo dos estilos, renova-se uma antiga
oposição filosófica que a história da arte, em sua própria prática, deve se permitir superar.