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Há muitos questionamentos sobre o suicídio, mas uma coisa é certa: o suicida não quer
acabar com a própria vida, o que ele quer é acabar com o sofrimento.
Este sofrimento que é tão forte, tão cruel, tão profundo, que nada parece fazer sentido.
A família, os amigos, a profissão, o dinheiro, a esperança, nada mais existe. Ele fica tão
atordoado com esta dor que não consegue enxergar as oportunidades de mudança que batem
à sua porta.
Querendo fugir da dor, o suicida se impõe aflições mil vezes piores. Como descreve
Camilo Castelo Branco no livro Memórias de um suicida, onde diz: Quando me surpreendi vivo
após a morte do meu corpo físico, eu sentia a dor que não consola, a desgraça que nenhum
favor ameniza, a tragédia que nenhuma ideia tranquiliza. Não há céu, não há luz, não há Sol, não
há perfume, não há descanso! O que há é o choro convulsivo e inconsolável dos condenados! O
assombroso “ranger de dentes” da advertência prudente e sábia do Mestre de Nazaré!
Por estas coisas que acho que a educação é falha. Aprendemos sobre crase, teorema de
Pitágoras, mas não sabemos lidar com as emoções. Conseguimos construir máquinas que vão
até outros planetas, mas temos dificuldades de superar as frustrações. Aprendemos tantas
coisas no colégio, muitas delas nunca utilizaremos e esquecem de ensinar como enfrentar as
dificuldades da vida. Talvez, por causa disto, há tantos indivíduos que se entregam ao vício, ao
desespero, à falta de fé. Parece que a função da escola não é mais educar pessoas; mas, formar
uma massa de trabalhadores para suprir as demandas de uma economia que só se interessa
pelos ganhos.
Divaldo Franco conta que certa vez leu num jornal sobre um homem, pai de 10 filhos,
que ao ser despedido, se jogou na frente de um trem. Esta notícia o impressionou de tal maneira,
que ao longo de 15 anos ele rezou todos os dias por este suicida.
Um dia, sentindo-se muito triste e solitário começou a chorar. Neste momento, surge
um Espírito que lhe pergunta:
- Ah, meu irmão, sofro um problema grave e não tenho a quem me queixar.
O Espírito retrucou:
- Porque eu gosto muito de você. - Você me inspira muita ternura, é amor por gratidão.
Há muitos anos eu me joguei embaixo das rodas de um trem. E não há como definir a sensação
desta tragédia. Eu ouvia o trem apitar, via-o crescer ao meu encontro e sentia as rodas me
esmagando, sem terminar nunca e sem nunca morrer. Quando acabava de passar, quando eu ia
respirar, escutava o apito e começava tudo outra vez, eternamente. Até que um dia escutei
alguém me chamar com tanto amor, que aquilo me aliviou por um segundo, pois o sofrimento
logo voltou. Nos momentos em que alguém me chamava, eu conseguia respirar, para aguentar
aquele morrer que nunca morria e não sei lhe dizer o tempo que passou. Transcorreu muito
tempo mesmo até me dar conta que a morte não me matara e que alguém pedia a Deus por
mim. Lembrei-me de Deus e da minha mãe, que já havia morrido. Comecei a refletir que eu não
tinha o direito de ter feito aquilo. Daí, passei a ouvir alguém dizendo: "Ele não fez por mal. Ele
não quis se matar."
- Perguntei: quem é? Quem está pedindo a Deus por mim, com tanto carinho, com tanta
misericórdia? Então, minha mãe surgiu e respondeu:
Vejam que o suicídio nunca é a saída para nenhum tipo de problema. Não resolve
nenhuma situação, não afasta nenhum mal. Pelo contrário: só piora as coisas.
O suicida ao se dar conta de que a morte não existe, se vê preso ao corpo físico e ao
trágico momento da sua morte, que fica se repetindo, repetindo, repetindo, durante anos.
Assim, ao invés de acabar com o sofrimento que o atormentava, ele se depara com uma dor
muito mais cruel e que se prolonga ao ser enviado para as regiões purgatórias do Umbral.
E ninguém pense que estes sofrimentos são castigos divinos. Imaginemos, por exemplo,
um filho que, apesar das recomendações do pai em não brincar com faca, acaba desobedecendo
e se machuca. Ora, as dores que sentir deste ato, serão apenas o resultado da sua imprudência.
É o mesmo que acontece com o suicida, suas aflições são as consequências de seu desatino.
Alguém poderá dizer: eu não acredito em nada disto, é tudo uma invenção de vocês.
Então, peço que me acompanhe no seguinte raciocínio.
Se tudo acabasse com a morte, os únicos que se beneficiariam com isto seriam os maus,
pois poderiam fazer o que quisessem e nada lhes aconteceria, já que tudo terminaria com a
morte. A vida, então, seria uma grande injustiça.
Desta forma, podemos deduzir com isto que a vida se prolonga após a morte física e
como a natureza não dá saltos, ninguém se transforma automaticamente de um criminoso para
um santo, de um preguiçoso para um trabalhador. A morte por si só não melhora ninguém, é só
uma mudança de vibração, onde continuamos nossa caminhada rumo à perfeição.
A resposta dos Mentores Espirituais: — Ele mesmo escolhe o gênero de provas que
deseja sofrer; nisto consiste o seu livre-arbítrio.
Esta afirmação pode num primeiro momento parecer absurda, pois quem é louco de
escolher uma vida de sofrimento? Mas, temos de pensar que o objetivo da vida é o
aperfeiçoamento moral. Assim, o Espírito aceita sofrer, passar por dificuldades, pois sabe que
se conseguir superar estas provas, ele dará mais alguns passos rumos à felicidade eterna.
É como o estudante que sacrifica seus fins-de-semana, deixa de lado as festas, a TV para
estudar durante horas, dias, meses. Ele aceita tudo isto, pois tem a esperança de passar de ano
ou de ser aprovado num concurso e consequentemente vencer mais uma etapa na sua vida.
Certa senhora procurou Chico Xavier com uma criança nos braços e lhe disse:
– Chico, meu filho nasceu cego, surdo, mudo e sem os dois braços. Agora está com uma
doença nas pernas e os médicos querem amputar as duas para salvar a vida dele. Há uma
resposta para mim no Espiritismo?
– Minha filha, este nosso irmão em seus braços suicidou-se nas dez últimas encarnações
e pediu, antes de nascer, que lhe fossem retiradas todas as possibilidades de se matar
novamente. Mas, agora que está aproximadamente com cinco anos, procura um rio ou um
precipício para se atirar.
Eu sei que é muito triste, mas os médicos amigos estão com a razão. As duas pernas
dele devem ser amputadas, em seu próprio benefício, para que ele fique mais algum tempo na
Terra, a fim de que diminua a ideia do suicídio.
Vejam, somos nós mesmos que escolhemos as nossas provas e cabe a nós vencê-las.
E na construção desta vida, oremos por todos que sofrem, mas principalmente pelos
suicidas, pedindo a Deus alívio para suas dores, paciência para suportarem os momentos difíceis
e forças para recomeçarem.