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Uma Proposta
de Vida
CVV - Uma Proposta de Vida
Flávio Focássio
Jacques A. Conchon
Valentim Lorenzetti
2ª Edição – 2007
Nota Explicativa
Os autores
ÍNDICE
Flávio Focássio
A Entrevista na Relação de Ajuda 93
Voluntariado 104
Estrutura Organizacional do CVV 105
Regimento Interno do CVV 110
Jacques Conchon
A Comunicação entre Postos 26
A Filosofia do CVV 32
Vida Plena 37
Ciclo da Vida 45
Valentim Lorenzetti
Origens e Evolução do CVV 8
Como Fundar um Posto do CVV 50
Divulgação 52
Convém Saber 72
Role-Playing 75
Vivências de Plantão 77
A Reunião Geral de Plantonistas 87
A Reunião do Grupo 89
O Posto do CVV e a Entidade Jurídica 91
ORIGENS E EVOLUÇÃO DO CVV
8
Assim são os Samaritanos: pessoas disponíveis, dispostas a ouvir; pessoas
que não têm conselhos para dar, mas que têm a si mesmos para dar-se.
Pessoas que não estão preocupadas com um problema de seu próximo,
mas estão preocupadas com o próximo integralmente, como pessoa e não
como número a mais entre os numerosos problemas da humanidade. Assim,
na década Chad Varah, ajudado por alguns amigos, deu início ao plantão
central de “Os Samaritanos” de Londres, instalado no porão da Igreja de
Santo Estevão, que o próprio Varah e seus companheiros reconstruíram
parcialmente a partir dos escombros em que se havia transformado devido
aos bombardeios da II Guerra. Assim que o recinto estava preparado para
começar o trabalho, Varah achou que “Os Samaritanos” deveriam ter um
número telefônico de fácil memorização; a canto de uma pequena e escura
saleta estava um empoeirado telefone. Varah o apanha, disca para a central
telefônica, explica à telefonista os propósitos da nova entidade e lhe solicita
a concessão de um número mnemônico. A telefonista lhe informa que precisa
consultar os setores técnicos e, para tanto, pede-lhe algum tempo. “Dê-me
o número de seu telefone, para que eu me possa comunicar” – diz ela. Chad
olha para o disco do aparelho, coberto pela poeira; com a manga da camisa
limpa- o do pó e, estupefato, retoma o fio do diálogo com a telefonista. “Não
precisa, telefonista; o meu número é 9000”.
Vinte e cinco anos depois de oficialmente fundado, “Os Samaritanos”
estava com mais de 120 postos de prevenção de suicídio em toda a Inglaterra
e alguns outros países, reunindo cerca de 20 mil voluntários.
ORIGENS
Sobre as origens do CVV achamos oportuno transcrever a série de
artigos publicados em nosso Boletim de Julho de 1986 a Fevereiro de 1987,
sob o título “Há 25 anos”, escrito por Jacques Conchon.
9
Julho de 1961
10
quando, felizes e agradecidos, comentávamos o valor e a satisfação de uma
conversa fraterna.
Ao fim de dez meses, por desinteresse, muitos foram abandonando
essas atividades. Em março de 1962 estava o trabalho reduzido a três
pessoas, e, com a transferência do Eddy para Santos, nas últimas visitas
fomos acompanhados do Luiz Gerbasi. Mas era hora de perseverarmos, pois
o CVV nascente requisitava de nós todos, todos os esforços.
P.S. – O Gerbasi, que todos conhecem, por incompatibilidade de horário, não participou
do início do CVV. Veio a integrar-se, no entanto, em 1965, permanecendo até 1970, quando retornou
a Jaboticabal, para após dez anos fundar o Posto do CVV nessa cidade.
Agosto de 1961
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Militar, desempenhando o comando de uma Unidade da Corporação quando
se reformou.
–“O Comandante mandou isso para você. Estude e depois converse
com ele”. Foram essas as palavras do nosso Milton Jardim, naquele sábado,
28 de julho de 1961.
Até então não havíamos desfrutado de uma conversa com o Armond,
o conhecíamos das aulas que nos havia ministrado com a segurança e o
equilíbrio de um mestre. Ficamos aturdidos com a proposição, e, olhando
para o envelope, lemos o manuscrito com a sua inconfundível caligrafia:
“Para quem deseja servir aqui, está uma boa oportunidade”.
Na semana seguinte, já no mês de agosto, aproveitando intervalo
entre aulas, (cursávamos, então, o segundo ano da Escola de Engenharia),
demos dois passos muito importantes:
O primeiro foi uma visita ao Departamento de Estatística do Estado
de São Paulo, para nos inteirarmos das ocorrências de suicídios na Capital
e noutras cidades. O segundo foi manter um diálogo proveitoso com o Dr.
Ary Lex, médico nosso conhecido e professor (até hoje) da Faculdade de
Medicina da USP.
Das informações estatísticas decorreu o esquema de plantões
semanais, onde voluntários se revezavam numa faixa das 16 às 22 horas, na
qual ocorria a maior incidência de suicídios e tentativas.
Da conversa com o Dr. Ary Lex surgiu um alerta com recomendações
de cautela. Sugeriu-nos que travássemos contatos com pessoas experientes
no assunto, que agendamos para o mês seguinte.
No fim de agosto de 1961 apresentamos o esboço da Campanha de
Prevenção ao Suicídio, ao nosso Armond, que o aprovando, incentivou-nos
a tomar medidas para a formação do corpo de voluntários.
À medida que nos aprofundávamos no assunto, mais nos sentíamos
envolvidos pela idéia enlevante de servir, uma vez oferecida a boa
oportunidade!
12
Setembro de 1961
13
Era cedo ainda: faltavam alguns minutos para as sete horas, e, assim
pudemos conversar num clima de fascinação crescente que nos envolvia.
Com inexcedível paciência explicou-nos, o Dr. Martins, o drama dos que
atentavam contra a própria vida. Falou-nos do desespero, das angústias que
os levavam à sinistra atitude. Empolgou-nos com o seu entusiasmo diante da
embrionária CVV. Recebemos naqueles minutos valiosa injeção de ânimo
que, de imediato, transformou-se na determinação de irmos adiante com o
projeto, malgrado as opiniões contrárias.
–“Enquanto me preparo para o atendimento – disse Dr. Pedro –
você pode conversar com os pacientes que estão na sala de espera. Todos
passaram pela dolorosa experiência da tentativa do suicídio e hoje, aqui,
comparecem duas vezes por semana para curativos e passagens de sondas
– um verdadeiro calvário” comentou.
Foi essa a primeira vez que nos defrontamos com os personagens
da tragédia. Pouco conversamos, pois não sabia como começar e, tampouco,
o que dizer, mas foi o suficiente para experimentarmos um estranho
sentimento jamais anteriormente experimentado, o que mais tarde viemos
saber denominar-se compaixão.
Ficamos atônitos quando fomos convidados a adentrar o gabinete no
qual se fazem os curativos e onde as sondas são aplicadas. Acompanhamos os
movimentos hábeis do Dr. Pedro. Surpreendeu-nos o carinho que dispensava
os clientes. Conversava com eles e a todos chamava pelo nome, e ainda
encontrava tempo para explicar-nos o que estava ocorrendo em cada fase do
tratamento.
Quando o último paciente deixou a mesa de aplicações, os relógios
marcavam meio-dia.
–“Venha comigo, vou mostrar-lhe outra experiência dolorosa:
pessoas que tentaram suicídio com o fogo, com as quais você poderá
conversar”.
Subimos para o décimo andar e por quase duas horas caminhamos
entre os leitos que exibiam formas humanas, cujas carnes, em extensões
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variadas, haviam sido consumidas pelo fogo. Embora em estado de choque, ou
quase isso, foi mais fácil conversar, pois o Dr. Martins ao meu lado facilitava,
iniciando com um cumprimento afável, permitia-nos a participação.
Por várias vezes não pudemos conter as lágrimas, e pensávamos:
Dante, o poeta florentino, autor da Divina Comédia, ao descrever o inferno,
vislumbrara tão-somente os portais! Nada se comparava ao sofrimento
daquela gente!
Ao deixarmos o Hospital das Clínicas recusamo-nos a tomar uma
condução. Precisávamos meditar, repassar mentalmente e com muita atenção
tudo o que presenciáramos. Descemos a Rua da Consolação e quando
consultamos o relógio, uma surpresa: já eram quatro horas da tarde e, sem
sentir o tempo passar, perdêramos todas as aulas na escola, inclusive duas
de laboratório que nos custaram alguns pontos abaixo da média do semestre,
mas “deixa pra lá”, as lições recebidas naquele dia nos valeriam por toda a
vida.
Em 1965, quando a Campanha de Valorização da Vida adquiriu
personalidade jurídica, transformando-se no Centro de Valorização da Vida,
sentimos a necessidade de entregar a presidência a uma pessoa mais adequada.
Assim, o Dr. Martins foi convidado (intimado seria o termo mais acertado),
e de intimação em intimação ficou durante vinte anos, até 1985 (ver Boletim
do CVV do mês de março de 1985), nos emprestando irrestritamente o seu
nome, o seu aval e o seu apoio.
Na verdade, para todos nós que convivemos com o Dr. Pedro, ele
continua a ser aquela figura a quem dedicamos a nossa admiração e o nosso
carinho. Em vinte anos de convivência, experimentamos milhares de eventos,
que, relatados, preencheriam as páginas de muitos e muitos Boletins.
Outubro de 1961
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O primeiro encontro seria naquele mês, e, sem um programa definido,
havíamos convidado diversas pessoas que tinham alguma experiência em
psicologia clínica para proferirem palestras.
Em meio a uma série de pensamentos que corriam velozmente em
nossas cabeças, caminhávamos pela Rua Xavier de Toledo, driblando os
transeuntes e dando “olé” nos automóveis, difícil lembrar o que estávamos
fazendo ali, mas íamos com pressa.
O importante era manter o pensamento positivo e não permitir
esmorecimentos, diante das colocações pessimistas que insistiam em
classificar a iniciativa como descabida.
“Vocês estão mexendo em abelheira” fora o que ouvíramos há
pouco de uma autoridade policial, que completara: – “deixa isso para os
psiquiatras!”
O que, entretanto, mais nos abatera foi o parecer de um publicitário
(comunicólogo, diríamos hoje) que nos alertou sobre a propaganda que, se
mal engendrada, poderia estimular as pessoas ao suicídio.
“Vá em frente”, dizia-nos Armond, com a sua serenidade. “Não
fazem nos outros países? Então poderemos fazer aqui!” e nos convidava
a recebermos os comentários negativos não como desestímulos, mas como
mensagens de prudência.
Quando estávamos na esquina da Sete de Abril, apesar da necessidade
de esgueirar-nos dos pedestres, não pudemos evitar um encontrão com um
estouvado morenão, tipo baiano, que quase nos levou ao chão, e, vejam só,
era o Hélio, velho amigo que não escondeu a satisfação de nos encontrar.
– “Você por aqui?! Justamente eu estava à sua procura. Sabe, é
sobre aquele plantão de prevenção do suicídio, tá de pé a idéia?”
– “A idéia está, porém com um esbarrão destes quem não vai ficar
de pé sou eu.”
Então ele começou a falar com muita empolgação sobre um amigo
seu, colega de trabalho, com quem havia trocado idéias.
– “Ele disse que topa! Ficou muito interessado em trabalhar no tal
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plantão.
E, ato contínuo, passou-nos um cartão, que, neste momento que
redigimos estas linhas o temos em mãos. No cartão que o Hélio nos deu,
anotamos o nome e o ramal: Flávio Focássio, ramal 31, e, no verso: telefonar
2.ª Feira.
Seria longo demais tentar descrever o que representavam os vinte
e cinco anos de amizade que mantemos com o Flávio. Faltariam palavras e
espaço para definir o que aconteceu a partir daquela Segunda-Feira, quando,
de nossa residência, ligamos para ele, convidando-o a comparecer na
Quarta-Feira seguinte, à Rua das Carmelitas n.º 86, onde se daria a primeira
reunião.
Havia cerca de trinta pessoas no salão, e, às oito horas em ponto,
demos início a reunião, convidando os presentes a uma conversa aberta
“enquanto o congressista não chega” (a intenção era ganhar tempo).
As primeiras perguntas surgiram aos borbotões, traduzindo incerteza
e inquietação do grupo. E como respondê-las? Essa era a questão. Torcíamos
desesperadamente pela chegada do conferencista, mas os minutos passavam,
e nada...!
Eram quase oito e quarenta quando vimos no fundo da sala o
Shimizu, e por que cargas d’água ele estava ali é o que nos perguntamos
até hoje, mas foi a luz que se acendeu! Idéia! (Eureka, como diriam os
eruditos).
– “O Shimizu, vem cá um instantinho.”
E assim, tendo o Shimizu como auxiliar, como cobaia seria o mais
certo, iniciamos uma aula de Socorros Urgentes, e o que aconteceu depois,
deixamos ao Flávio o trabalho de relatar.
Na quarta-feira seguinte o conferencista apareceu! Antes tivesse
mancado, pois pretextando prudência (talvez em excesso) mostrou os perigos
de um trabalho como o em projeto. Usando terminologia técnica, descreveu
os tipos que nos procurariam e a complexidade das providências que teriam
de ser tomadas em nível de psiquiatria, psicologia e de serviço social. No fim
17
do discurso tomou-nos as fichas dos inscritos e a um-a-um indagava sobre
as experiências no terreno do trato com pessoas emocionalmente abaladas,
e a profissão que exercia.Ao terminar devolveu-nos as fichas, dizendo
enfaticamente: “Você está com um material humano fraquíssimo...”
Uma coisa boa restou dessa primeira conferência: a recomendação
para lermos o livro de Menninger, “O Homem Contra Si Próprio”, cujas
páginas até hoje nos são motivos de leituras.
Na Quarta-Feira seguinte o salão da Rua das Carmelitas estava vazio,
somente catorze pessoas voltaram após a ducha fria da semana anterior.
Não nos lembramos quem teria sido o convidado a proferir a
palestra, pois, essa não houve: – o conferencista não apareceu...
Novembro de 1961
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acima transcrita é até hoje bem lembrada por todos nós.
A palestra da semana seguinte esteve aos cuidados do Dr. Wilson
Ferreira de Mello, renomado psiquiatra.
O Dr. Wilson foi um verdadeiro sucesso! Falou-nos sobre os biótipos
de Ernesto Kretschmer, incentivou-nos eloqüentemente a prosseguirmos,
finalizando, na sua reconhecida modéstia e humildade, com a seguinte
afirmativa:
– “Dentro de dez anos vocês estarão entendendo de desespero e
ansiedade mais do que eu.”
Conforme podemos deduzir, o mês de novembro de 1961, mesmo
com a ausência de dois expositores, foi muito importante na história do
CVV. Preenchemos as duas lacunas comentando as palavras da Nancy e
do Dr. Wilson. As primeiras apostilas estavam no prelo, com desenhos do
Nelson de Oliveira e já se cogitava trocar a designação do trabalho, pois,
segundo argumentavam alguns, Campanha de Prevenção de Suicídio não
era um nome muito adequado.
Dezembro de 1961
19
eram as aulas que ministrávamos no conhecido, na época, Curso Torres.
Ora, duas tardes por semana não fariam mal a ninguém.
Em fins de novembro recebêramos a encomenda de um serviço tipo
de “mãe para filho”, que viria reforçar substancialmente o nosso orçamento
– redesenhar as plantas do Instituto Caetano de Campos, o monumento da
Praça da República, onde hoje funciona a Secretaria da Educação, serviço
fácil que poderia ser realizado madrugada adentro ao som do tradicional
“Varig, dona da noite”.
Entretanto, como diria depois o nosso grande amigo e professor
José Justino Castilho, “nem sempre as coisas acontecem como nós
gostaríamos!” e assim foi, uma guinada de 180 graus nos obrigou uma série
de improvisações, e nos distanciou do grupo por todo o período, do início de
dezembro ao fim de fevereiro.
Em meados de novembro chegou aos nossos ouvidos que naquele
ano o recrutamento militar iria dispensar cinqüenta por cento do contingente.
Exultamos! Certamente ficaríamos livres de tão pesado encargo – ledo
engano.
Na primeira semana de dezembro dirigimo-nos à Rua Alfredo Pujol,
no Bairro de Santana, onde se situa o Solar das Andradas, sede até hoje do
CPOR-SP, tranqüilos, na certeza de que seríamos dispensados... Os ventos
sopravam tão favoravelmente... e um soprãozinho a mais...
Estávamos no grande pátio e conversávamos descontraidamente
quando um Oficial, o Tenente Brasil Alves, subindo num podium, falou pelo
megafone: – “Quem nasceu em mês par, comigo! Rápido!”
E não deu outra! Seguimo-lo na esperança de recebermos a dispensa,
mas ao chegarmos no almoxarifado, ganhamos um par de coturnos e dois
jogos do sétimo uniforme, (sétimo uniforme era o uniforme de serviço). Ato
contínuo à barbearia para o corte “cadete”. Em poucos minutos estávamos
transformados (e transtornados) em aluno da CPOR-SP.
O expediente na caserna ia das 6 às 18 horas, fora os serviços e
acampamentos. Foi-nos difícil aceitar essa realidade. Hoje, entretanto,
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diríamos que valeu: foi uma boa experiência, onde cultivamos extraordinárias
amizades.
E quanto ao CVV? Os contatos passaram a se limitar ao período da
noite (o serviço de desenho, já assumido, não poderia ser abandonado), e
aos sábados a tarde e domingo, quando não estávamos na escala de serviço
e nem havia acampamentos programados.
Pouco antes do Natal, havíamos convidado uma pessoa amiga para
nos falar sobre doação: – “Como dar de si?” e “O que é doação afetiva?”.
Os temas a todos empolgaram, atraindo voluntários. Fizemos de tudo para
sair mais cedo do Quartel, e às 20 horas lá estávamos na Rua das Carmelitas,
fardados, passando a palavra ao orador.
Havia nos olhares intensa expectação, mas à medida que o
expositor ia falando, sentimo-nos afundar na poltrona – afundar mesmo até
o pescoço, pois, alegando, o orador, tratar-se o CVV uma iniciativa de muita
responsabilidade, e até certo ponto perigosa, ele após alguma reflexão,
deduzira não estar à altura de ministrar a aula ao grupo.
Em pânico pensamos no que fazer! Uma outra aula de Socorros
Urgentes?... Cadê o Shimizu?
Foi quando alguém propôs que entrássemos em férias. Oh Deus!
Mas nem tínhamos começado!
É... entramos em férias! Assumimos o compromisso de nos
encontrarmos em fevereiro de 1962 para os últimos preparativos, pois
estava decidido que iniciaríamos de qualquer forma do dia 1º de março de
1962!
Janeiro de 1962
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metralhadoras, morteiros, minas ap (não nos pergunte o que vem a ser ap,
pois isso também ficou no passado).
De início, a caserna nos chocou e vivemos momentos angustiantes de
inadaptação perante o sistema e, o que era mais grave, perante os colegas.
Sentíamo-nos como um visitante, ou melhor, como um intruso.
A não aceitação dos colegas, da nossa parte, resultou em um perigoso
auto-isolamento.
Confessamos, caros amigos, que chegamos a experimentar revolta,
sentimento desgastante que nada constrói. Com tanto por fazer, não nos
conformávamos com o “enclausuramento”.
Aos sábados, quando éramos liberados no início da tarde, corríamos
para o velho prédio da Federação Espírita, local onde os futuros voluntários
se reuniam, para trocar idéias com aqueles que ainda lá se encontravam.
Foi no primeiro sábado de 1962 que, ao chegarmos a Federação,
um pouco antes das duas da tarde, cruzamos com o nosso Armond, a quem
pedimos uns minutos de atenção e justificamos a morosidade dos trabalhos
de implantação da Campanha, manifestamos nosso inconformismo,
desabafamos despejando sobre o bom velhinho as amarguras represadas.
Armond, após nos ter ouvido pacientemente, considerou as
vantagens da experiência militar, que procurássemos em todas as lições tirar
a parte boa e que, assim iríamos aos poucos descobrindo valores nos colegas,
nos superiores e no próprio sistema.
Certa feita, na Estação da Luz, quando armado de mosquetão,
pistola, e oito granadas de mão, caminhávamos na plataforma para tomar
o vagão militar que nos levaria aos exercícios em Jundiaí, cruzamos com o
Professor Justino Castilho (já citado) e desabafamos:
“Veja professor, o trabalho de prevenção do suicídio nos esperando,
e nós aqui aprendendo a matar!”
Ao que ele respondeu serenamente:
“Não pense assim, meu caro... imagine outra situação: você está
indo para Jundiaí para caçar patos! Veja como tudo fica mais fácil!”
22
E não é que ficou mesmo!
E assim a fórmula mágica funcionou com fascinantes
transmutações:
– Exercício de tiro no Barro Branco = esporte de gente rica;
– Desmontar e montar armas = quebra-cabeça;
– Montar uma portada para a travessia do Tietê pelas tropas de
Infantaria, em Barueri = lições valiosas de uma engenharia, para nós, até
então desconhecida;
– Acampamento = camping.
Aos poucos fomos nos “enturmando”, conquistando amizades
profundas.
Lembramo-nos com surpreendente nitidez de uma tarde enfadonha,
quando o pensamento e o coração se encontravam fora do quartel em
decorrência de assuntos pendentes do futuro CVV que reclamavam solução,
tinha chegado a nossa vez de sermos examinados na disciplina com um
número de seis dígitos.
“Muito bem 4142 (esse era o nosso número), disse-nos o Capitão
Ribeiro, pode começar!”
Fez-se um clic e o cronômetro disparou. Após o exame escrito e
os testes de tiro com a metralhadora INA-45, tínhamos que desmontá-la e
montá-la em sessenta segundos. E foi um zás-trás! Quando acabamos de
montá-la, o ponteiro do cronômetro passava sobre o zero do sessenta. Ufa!
O Cap. Ribeiro fazia algumas anotações, voltou-se para nós:
“Como é 4142, acabou?”
“Acabei!”, e aí quase desmoronamos... sobre a mesa, ao lado da
INA, jazia (deve ser este o termo certo) uma enorme mola. A recuperadora,
desgranida!
Com a pressa de montar no exíguo tempo, nos esquecemos de inserir
a mola recuperadora, (que, para informação, tinha cinqüenta centímetros).
Pânico... O Cap. Ribeiro levantara-se e ainda consultando as suas anotações
vinha à nossa mesa. Aí, de forma quase impensada, agarramos a tal mola, e,
23
vupt pela janela!
Quase não dormimos naquela noite, pois o dia seguinte estavam
programados exercícios de tiro, o que nos obrigou a chegar ao quartel às
cinco da manhã, acordar o William, o cabo armeiro, passar-lhe uma conversa
fiada, pegar a INA, procurar a mola no jardim, juntar todas as peças, e
devolvê-la ao William.
E assim transcorreu o mês de janeiro, aos trancos e barrancos,
como diz a canção popular, que se não nos enganamos, intitula-se “Cabelos
Brancos”...
Fevereiro de 1962
24
informaram que a CVV para funcionar dispensaria qualquer autorização
de órgãos públicos, foi confirmado o início das atividades para o dia 1.º
de março de 1962.
Nos últimos dias do mês voltamos a nos reunir visando um repasse
final. O recurso que deveria ser usado, sempre que alguém manifestasse a
idéia suicida, era propor um adiamento. Um rol expressivo de pensamentos
positivos foi distribuído (tipo: “amanhã será outro dia”, “após a tempestade
vem a bonança”, etc.) e, finalmente, foram apresentadas as fichas de registro,
o livro de ponto, e uma pequena relação de profissionais que se dispunham
a dar apoio aos voluntários.
O primeiro plantão, por ser uma quarta-feira, caberia a Misayo.
Ficamos de ligar para ela no dia 1.º pela manhã para lembrá-la do
compromisso.
25
A COMUNICAÇÃO ENTRE POSTOS
Unidade e uniformidade
26
do CVV.
Com a expansão ocorrida após 1979, (segunda visita do Chad
ao Brasil) o Boletim desempenhou um papel muito importante que aliás,
continua a desempenhar até o presente como valioso órgão de integração.
Movidos pelo exemplo do Boletim, outros Postos começaram a
publicar periódicos, circulando-os entre os demais Postos, fortalecendo o
papel inicialmente desempenhado pelo Boletim.
Introdução ao CVV
Fonopostal-Pioneirismo
27
em atitude avançada para a época, as comunicações hoje tão usuais em fita
cassete.
Havia uma dinâmica excelente nas comunicações com uma fita por
semana.
Em 1977, inaugurávamos o “correio sonoro”, quando mensagens
aos Postos, relatos de eventos importantes, apresentação e comentários
de programa, etc., eram gravados em fita cassete que, em seguida era
reproduzida por processo de alta velocidade e encaminhada para os Postos.
A este processo, aderiram os demais Postos, que iniciavam a trocar
fono-postais com mensagens de apoio e confraternização. Houve época em
que o fono-postal foi muito utilizado, o que hoje não se observa, certamente,
em decorrência dos custos envolvidos e do equipamento requerido, entretanto,
vale a pena refletir sobre o assunto e se possível voltar à prática.
O Conselho Nacional
28
dispersivo.
Contudo, classificamos a consolidação do CN somente em 1984
(5.º CN), quando se decidiu pela presença obrigatória dos Coordenadores
de todos os Postos, o evento caminhava para a autenticidade, uma vez que
entendia-se o conselho nacional pelos coordenadores dos Postos.
Foi nos CNs, nas chamadas Assembléias de Coordenadores que
observamos um crescimento equilibrado do trabalho e onde assuntos de
importância vital foram discutidos e postos em prática, tais como: Vida
Plena, As Máscaras, O Homem do Futuro, Ciclo da Vida, Tópicos do CA3,
etc.
Com o 9.º CN, em 1988, podemos afirmar que o Conselho Nacional,
entre as medidas que foram tomadas no sentido da preservação da unidade e
fidelidade aos princípios, ocupa o primeiro plano.
Encontros Regionais
29
Visita entre Postos
As “andanças”
30
começo de cada ano oferecia as passagens a titulo de cortesia.
Em 1988 fez-se uma adaptação do esquema que, infelizmente, não
funcionou: os “andadeiros” (se assim podemos chamar), cujas visitas até
então eram programadas ao final de cada ano, mediante sorteio, colocavam-
se agora disponíveis e aguardavam convites para visitar os Postos. Por
motivos que não conseguimos distinguir, o esquema não funcionou.
Conclusões
31
A FILOSOFIA DO CVV
Evolução do CVV
32
Muitos insistem em afirmar que o CVV ao longo dos seus 25 anos
de trabalho formou uma escola, o que ao nosso ver é uma proposição um
pouco pretensiosa, uma vez que amar o próximo é uma lei natural, tão
natural quanto o ato de respirar.
Compreensão, fraternidade, cooperação e crescimento interior que
constituem os alicerces básicos do CVV se encontram em toda a natureza.
33
ameaças, não encontra recursos para se superar, transpor os obstáculos,
e crescer. O contrário ocorre quando ele se vê imerso em um ambiente
acolhedor, no qual é aceito como ele é, sendo-lhe facultado falar a vontade,
sobre o que quiser, sabedor que não será alvo de censuras.
Conseqüências
34
de cada um, tendo assim um sentido definido de dentro para fora, não se
tratando de um processo de indução (lavagem cerebral) onde a motivação e
os parâmetros vão de fora para dentro.
Um exemplo
35
de Postos. Na verdade, aqueles que saem são pessoas em processo de
crescimento que aonde estiverem continuarão a semear a mensagem do
CVV, no cotidiano.
36
VIDA PLENA
Origens
As Grandes Revelações
37
da vida.
Tomemos o exemplo de um caminheiro que ao encetar a sua marcha
define um ponto de chegada. Até onde sua vista alcança, analisa a paisagem,
e, ao divisar ao longe uma elevação define o cume da montanha como ponto
a ser alcançado, munido de bom ânimo e determinação caminha disposto a
vencer todos os obstáculos.
Aos poucos, evoluindo em sua marcha, começa a entender, ao
se aproximar do alvo, que o estado ideal não é estático, pois, uma vez
alcançado transforma-se em real, ou seja, ao chegar ao cume da montanha
conquistou uma posição real e, maravilhado pela paisagem que se descortina
em sua frente, define um novo ponto de chegada que muito em breve, ao ser
alcançado, será igualmente transformado em novo ponto de partida.
Em certos momentos, no intervalo reservado ao descanso, passa a
refletir que seu ideal jamais poderá ser alcaçado, onde encontrará ele, a vida
em toda a sua grandeza e plenitude?
A resposta vem dele mesmo: Vida Plena é caminhar, e, não alcançar.
Em outras palavras poderemos entender que vida plena é um processo e não
um estado.
E assim, embora seja necessário tenhamos um ideal e que não
o percamos de vista, vamos aprendendo que a grandeza da vida não se
encontra num ponto definido, mas sim, no fato de estarmos caminhando em
sua direção.
Vida Plena
38
Com isso, somos convidados a uma importante renovação de
conceitos:
Bom, contrariamente ao que pensávamos, não é aquele que alcançou
um elevado estado na rota ascensional, mas, aquele que está caminhando.
Logo, todos podem ser bons, independentemente do ponto em que nos
encontramos no percurso. Mais vale o habitante das trevas que se esforça
por crescer do que o arcanjo que, satisfeito com a sua posição elevada,
estaciona.
Agora confessamos aos prezados leitores que passamos a entender
com mais riqueza, o ensinamento que recebemos de um velho professor:
“quando você pára de melhorar você deixa de ser bom”.
Os Extremos da Rota
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os privilégios que a natureza lhe outorgou. E, assim, ainda somos muito
defensivos.
Rotineiramente saímos às ruas protegidas por um escudo invisível
tão espesso, tão reforçado, que chega, assim como acontecia aos cavaleiros
medievais, a dificultar a locomoção e a obliterar a visão.
Tão “protegidos” estamos que mal conseguimos ver a beleza que há
no sol, nas flores, nos pássaros e também nas pessoas.
Aceitamos os fatos com reservas, segundo um critério seletivo,
admitindo somente aqueles que se identificam com os nossos padrões e os
demais são rechaçadas, consciente ou inconscientemente.
E por assim fazermos perdemos a oportunidade de viver a vida em
toda a sua riqueza e plenitude.
E então, saímos por aí falando em dia bonito e em dia feio, como se
realmente existissem dias feios.
A pior situação é a daquele indivíduo que em profunda defesa não
aceita a realidade como ela é, chegando a pretender alterá-la. É o caso de um
indivíduo que ao observar um pôr do sol acha que o fundo deveria ser mais
azulado e não tão vermelho como está aparentando.
Tão defensivos somos que diante da dúvida ou do desconhecido,
via de regra, optamos pela rejeição. Vejamos o exemplo seguinte:.
Quando, nos albores da década de 50, foram descobertas na
Cordilheira do Himalaia, as enormes pegadas de um ser desconhecido, não
hesitaram em denominá-lo “O abominável homem das neves”. .
Anos passados foi organizada uma expedição patrocinada por uma
fundação norte-americana, visando pesquisar “O Abominável” .
A equipe, antes de partir para o oriente, posou para as máquinas
fotográficas da imprensa, revelando, para o nosso espanto, caixas e caixas
de munição, metralhadoras, granadas e até um pequeno canhão.
Foi no ano de 1962, na extinta revista “O Cruzeiro”, que um colunista
fez a feliz indagação: não seria, talvez, “O Abominável” boa gente?
40
A Abertura
41
Assim fazendo, deixando a vida fluir, aceitando os fatos sempre
como experiências enriquecedoras, passaremos a viver a vida em toda a sua
plenitude.
Desarmados de defesas, identificaremos a beleza que existe nas
pessoas, as quais passaremos a olhar livremente de rótulos ou generalizações
mas como seres diferenciados.
Limitações e Liberdades
Comentaram certa feita: ver a vida como ela é, sem ilusões, seria
uma experiência muito difícil. Não nos esqueçamos, entretanto, que em
contrapartida o contato direto com a realidade nos proporcionará uma visão
de todas as belezas até então ocultas aos nossos olhos.
Contestaram-nos, outra feita, que deixar-se levar pela correnteza
significaria anulação da nossa vontade, com o que em parte concordamos
uma vez que devemos ter “coragem para mudar o que pode ser mudado”.
Em contrapartida, permitir que a vida possa fluir desenvolve no
ser em grau superlativo, a criatividade. Tal como o canoeiro do exemplo
citado que se vê obrigado a improvisar uma série de remadas para evitar um
obstáculo ou um capotamento.
Ocorreu com um amigo nosso, que convidado a tocar música erudita
em violão, diante de um grupo seleto, no primeiro minuto teve o bordão do
instrumento rompido, fato que certamente lhe daria o direito de maldizer
a Deus e a todo mundo, e sair batendo os pés revoltado com a situação,
entretanto, usando da sua criatividade, durante quinze minutos dedilhou o
instrumento, expandindo ao máximo a sua capacidade criativa, inventando
novas posições, de modo a concluir o concerto e arrancar aplausos delirantes
da platéia, que percebera desde o início que o bordão havia estourado.
Há quem diga que ao aceitarmos a realidade, esta é tão definida que
em qualquer situação da vida teremos poucas opções. É realmente o que se
passa, temos poucas opções, mas apesar de poucas todas serão factíveis.
42
Contrariamente, a pessoa defensiva, que não consegue ter uma visão nítida
da realidade, tem muitas opções, mas nem todas exeqüíveis.
Vejamos o exemplo:
Em certa ocasião visitamos uma grande confecção situada no sul do
país, na qual estávamos realizando um serviço profissional, e, presenciamos
numa sala de passadeiras uma discussão acalorada, pois os funcionários
estavam pleiteando junto à gerência a instalação de uma nova prensa de
passar, então dizia um:
– Se ele não me der a máquina que estou pedindo, vou pegá-lo e
jogá-la dentro daquela lavadeira.
Um outro, não menos exaltado:
– E eu?... Eu jogo essa fábrica dentro do rio (realmente a fábrica
situava-se à margem de um rio).
E um terceiro aduzia de forma igualmente enfática:
– Eu solto uma bomba em cima dessa fábrica.
Aí vemos no exemplo que para o problema em questão, de imediato
apresentaram três opções, entretanto, convenhamos, nenhuma delas
exeqüível.
Foi aí que se manifestou um senhor bastante sereno. Com palavras
calmas dirigiu-se aos demais:
– Para pedirmos a nossa prensa, temos que justificá-la, com o
aumento da produção e a venda de duas prensas antigas.
Conquanto a sua visão identificasse somente uma opção era a única
viável.
43
que se sentiam estimulados davam a sua participação.
Em 1985, no 6.° CN, havíamos alcançado uma condição excelente
nos grupos de vida plena: o crescimento embora nos minutos iniciais fosse
lento quase sem ação, bastava o “pontapé inicial” para que a evolução se
processasse muito rapidamente, assemelhando-se em certos casos a uma
explosão de reformulações e conquistas.
44
CICLO DA VIDA
A Experiência do Sentimento
45
em se aceitando, remove as máscaras para ser o que realmente ele é.
É nesse momento que coloca a energia, desviada até então, para
uma finalidade nobre: a liberação de idéias criativas.
Os Ciclos da Vida
46
em outras palavras, a viver livremente a experiência do sentimento.
Como é que você está se sentindo?
É esse o comportamento do voluntário ao se dirigir à outra pessoa
numa descontraída conversa de coração para coração, deixando-a bem
à vontade para expressar livremente através do pranto, da revolta, ou do
desapontamento o que ela está sentindo.
Nem sempre, convenhamos, o voluntário é compreendido,
pois “barreiras muito sólidas aparecem, não permitindo que a pessoa
“se sinta”. É comum, em resposta à indagação do voluntário, ouvir-se a
dissertaç/detalhada do problema em si, requerendo do voluntário uma nova
indagação:
– “Mas como é que você está se sentindo?”
Observamos que vivendo a experiência do sentimento, advém,
como conseqüência natural, por exemplo, após o pranto, uma fase benéfica
de criatividade na qual o problema é dissecado com maior clareza, reduzido
a dimensões suportáveis, para, em seguida, alcançar a esfera da ação,
quando a pessoa nos informa sobre o que ela vai fazer, significando que se
não encontrou ainda uma solução para o problema, achou a fórrmula para
com ele conviver: uma atitude de aceitação da realidade.
Conclusão
Um diálogo interessante
47
uma quarta-feira, logo após ele ter-se instalado na poltrona diante de mim.
– “Hoje me arruinei..., até ontem, embora não me considerasse um
homem rico, eu tinha tudo: dinheiro, propriedades, rendas, títulos e hoje
perdi tudo que tinha... tudo!”
Fez-se silêncio. Ele manifestava uma tensão crescente e contagiante,
permaneceu assim durante alguns minutos, esfregando nervosamente as
mãos, com respiração ofegante e prosseguiu:
– “Não sei o que você pode fazer por mim e também não sei o que
é que eu estou fazendo aqui, mas a verdade é uma só, hoje não tenho mais
nada, pelo contrário tenho algumas dívidas pesadas...”
O tempo passou e ele se acomodou melhor na poltrona, procurando
infrutiferamente descontrair-se.
– “Não sei se devo importuná-lo com o meu problema, e também
não gostaria muito de tocar nesse assunto porque me revolve o estômago.
Como eu lhe disse, nem sei o que estou fazendo aqui!”
– “Como é que você está se sentindo?”
– “Eu sinto que preciso de um advogado, pois o que aprontaram
para mim é passível, segundo acho, de uma abordagem jurídica”.
O nosso interlocutor se situava com nitidez no campo da ação.
Diante da pergunta: “como é que você está se sentindo?”, respondeu sem
pestanejar sobre as ações que iria tomar no dia seguinte, fazendo-nos voltar
com a indagação:
– “Diante de tudo isso, como é que você está se sentindo?”
Não foi fácil para ele remover as barreiras. Após algum tempo
declarou que se sentia vencido, trazendo sobre os ombros o peso de uma
derrota.
– “...sinto-me derrotado, falido, como alguém que não teve
suficiência para enfrentar uma batalha, um fraco!”
Foi nesse momento que o seu desespero, aos poucos, dava lugar ao
pranto.
– “Veja você a que ponto cheguei: Na frente de um homem,
48
chorando como criança!”
Sentindo-se aceito, mesmo na condição de um derrotado, discorreu,
já com certa naturalidade, sobre o que ele sentira pela manhã o desejo de
inclusive pôr fim a tudo, a vontade de acertar as contas, e a vergonha que iria
sentir ao se encon¬trar com amigos. Parou e voltou a nos perguntar:
– “O que você acha que eu devo fazer?”
– “Você já pensou sobre o assunto?”
– “Não, ainda não, foi como um furacão, não tive sequer tempo
para pensar!”
Mais alguns minutos de silêncio.
– “Agora eu consigo entender bem, mas veja, encarando os fatos
com clareza, financeiramente eu estou destruído, e volto a lhe perguntar “o
que eu devo fazer?”.
– “O que você gostaria de fazer?”
– “Agora eu vou descansar e amanhã começar tudo de novo, aliás
não é a primeira vez que recomeço a minha vida”.
Aí vemos um quadro que de início espelha o nosso comportamento
diário, diante de um grave problema: a busca para a solução sem sequer
termos parado para pensar. Identificamos a facilidade com que a outra pessoa
aceitou, embora, no início, com certa relutância, viver o seu sentimento,
reconhecer as suas limitações, sentir-se mais ele mesmo para depois pensar,
e, em seguida agir.
49
COMO FUNDAR UM POSTO DO CVV
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Valorização da Vida, de São Paulo, bem como dos Postos mais próximos.
Para tanto, o comitê, deverá contactar a Secretaria do CVV -São Paulo ou um
dos Postos da região. Quando o comitê tiver conseguido a entidade jurídica,
as instalações do Posto e estiver em andamento o curso para seleção do
primeiro grupo de voluntários, deve solicitar credenciamento à Diretoria
do Centro de Valorização da Vida, diretamente, ou através do Posto que
mais lhe tem dado apoio. O novo Posto só pode começar a funcionar, para
o público, após seu pedido de credenciamento haver sido aprovado pelo
Conselho Geral do CVV, que pode se reunir em qualquer tempo, em prazo
rápido.
Iniciado o novo posto, o coordenador obriga-se a: 1) enviar
mensalmente relatório de atividades à secretaria em São Paulo; 2) participar
- juntamente com outros plantonistas de seu posto - das reuniões regionais
programadas, com vistas a reciclagem e permuta de experiências; 3)
participar do CN (Conselho Nacional), que se reúne uma vez por ano com a
presença de coordenadores de todo o Brasil. O coordenador que não puder
participar do CN, automaticamente estará transferindo seu cargo para o vice
ou o plantonista que dele tiver participado.
51
DIVULGAÇÃO
52
do telefone e o horário de funcionamento do plantão.
4. Volantes - São pequenos papéis com rápido esclarecimento do
trabalho do CVV e o telefone e horário do plantão. Para ser distribuído ou
deixado em: bancas de jornal; salões de barbeiro, cabeleireira, manicures;
pronto-socorros; escolas; templos; etc.
5. Palestras - Deve cada posto do CVV fazer. um levantamento
de entidades e escolas da comunidade onde possam ser proferidas palestras
sobre o nosso trabalho. Cada Posto deve ter um ou mais plantonistas
treinados para essas palestras. Ao final de cada palestra pode-se deixar o
volante à disposição dos presentes.
A comunicação pessoal - via palestras ou debates - é muito
importante para credibilidade do trabalho. Mas, cuidado: quem for fazer a
palestra não deve esquecer os nossos fundamentos: respeito e aceitação à
pessoa, e não enveredar por caminhos profissionais ou técnicos. Explicar
com simplicidade a singeleza de nosso trabalho: ser amigo e nada mais.
6. Notícias - Periodicamente, o Posto do CVV pode distribuir notícias
sobre suas atividades para os órgãos de divulgação de sua comunidade.
Por exemplo: a) texto informando acerca do número de atendimentos
realizados durante o ano (ou o semestre), com alguma relação estatística
demonstrando aumento ou diminuição; b) texto informando sobre um novo
curso (programa) para seleção de voluntários; c) nota sobre a visita, ao
Posto local, de plantonistas de outros Postos, etc.
Coerência da Comunicação
53
de TV, palestras etc. E esse conceito pode ser utilizado por muitos anos,
com ligeiras modificações em uma ou outra palavra.
Enfim, a comunicação deve, em pouquíssimas palavras, transmitir
a idéia daquilo que se faz no CVV. A comunicação é dirigida para “o outro”;
deve ser coerente, clara e verdadeira.
Boletim do CVV
54
Sugestões para Divulgação
(Oferecimento de serviços)
É mais
fácil viver
quando
se tem
um amigo.
56
Em vez de fechar
os olhos
para a vida,
abra
o coração
para um
amigo.
57
Há quanto
tempo
você
não desabafa?
58
Se você não
aguenta
mais essa vida
solitária,
disque 34.2121.
Do outro lado
da linha está
o amigo que você
procura.
59
Quando você
achar que
ninguém mais
no mundo te
entende,
disque 34.2121.
Do outro lado da
linha tem alguém
que quer muito
ouvir você.
60
Mesmo que você
não dê muito
valor à sua vida,
nós damos.
61
Disque
34.2121.
Do outro lado da
linha tem alguém
que quer ouvir
você falar sobre
os seus medos,
a sua solidão e
sua angústia.
62
Disque
34-2121.
O amigo que
você procura
está do outro
lado da linha.
63
34-2121.
Quem tem
telefone
não pode
dizer
que está
sozinho.
64
Sugestões para Divulgação
(Arregimentação de Voluntários)
Você não imagina o que tem de gente triste, solitária e angustiada
nesta cidade. Para que o CVV possa ajudar essas pessoas ele
precisa de voluntários. Gente que saiba ouvir um desabafo.
Você não precisa ter nenhuma experiência. Nem precisa ter
muito tempo disponível: quatro horas e meia por semana são
mais que suficientes. A única coisa que o CVV espera de você é
compreensão, carinho e vontade de ajudar. Venha ser voluntário
do CVV. Os tristes, solitários e angustiados antecipadamente
agradecem.
CVV – LIMEIRA – Fone: 41-0147
67
Você que é bancário, venha atender
alguém que está com saldo negativo de carinho.
68
Você que é artista,
venha ajudar alguém que não sabe mais
representar o seu papel na vida.
69
Você que é dentista,
venha acudir alguém que tem dores
muito piores que dor de dente.
70
Você que é executivo,
venha dar a mão para alguém que há muito tempo
deixou de fazer planos.
71
CONVÉM SABER
72
20 horas, Carlos procura saber se Marcelo já chegou ao plantão; em caso
negativo avisa o plantonista do horário anterior que ele, Carlos, está-se
dirigindo para o plantão. O mesmo deve acontecer com Marcelo com o
plantão de quarta-feira.
Estabelece-se, entre Carlos e Marcelo, uma “conta-corrente” de
créditos e débitos de horas de plantão. Essa conta-corrente pode ser quitada,
por exemplo, nas férias, desde que haja acordo entre os dois, é claro.
3. Eleição do coordenador - Os plantonistas, divididos em grupos,
periodicamente elegem os respectivos líderes. Os líderes, constituindo o
Grupo Executivo e expressando a opinião dos liderados, elegem anualmente
o Coordenador Geral do Posto. O Coordenador Geral eleito, após haver sido
referendado pela entidade jurídica, escolhe os demais coordenadores: vice-
coordenador geral, coordenador de divulgação, coordenador de estudos,
coordenadores de departamentos etc.
O ideal é ocorrer a eleição para Coordenador Geral às vésperas da
reunião do CN - Conselho Nacional.
Caso a entidade jurídica não referendar a eleição do coordenador
geral, deve explicar suas razões. Nesta hipótese, o Grupo Executivo tenta
uma solução de consenso. Havendo dificuldade para encontro desta solução
deve entrar em contato com o Centro de Valorização da Vida, em São Paulo.
Referido contato deve ser feito via coordenador regional.
4. O Triângulo das Bermudas - Com o intuito de esclarecer que a
nossa atenção deve ser concentrada na pessoa, utilizamo-nos da figura que
foi “batizada” como “O Triângulo das Bermudas’, uma vez que navegando
no mesmo, desaparecem as ansiedades, as tensões e os “grilos”.
O atendido tem liberdade de navegar livremente entre o problema,
o indivíduo e a pessoa (o que representamos pelas setas tracejadas). O
plantonista, porém, só pode navegar no sentido das retas cheias, isto é,
centralizando sempre o assunto na pessoa.
73
74
ROLE PLAYING
75
expressar compreensão ou fazer colocações visando à clarificação da
vivência emocional. O líder do grupo pode intervir, para estimular esse ou
aquele colega a uma participação maior. Pode-se fazer várias “rodadas” se
tipo de atendimento.
Auto-playing, quando o plantonista teve um atendimento real ou
viveu um caso doloroso em sua vida particular, tendo assimilado emoções
que lhe são agora pesadas, procura conversar com os demais amigos do
grupo. Essa conversa, um verdadeiro atendimento, permite o desabafo das
emoções e oferece o suporte de que ele está carente no momento.
Postal-playing, quando cópias de uma mesma carta contendo
emoções de alguém devem ser lidas por todo o grupo. Concede-se 15 a 20
minutos para cada qual formular a sua resposta; ao final cada um lê a sua
resposta, abrindo-se para comentários dos presentes.
Em qualquer caso sempre resguardando absoluto sigilo quanto a
nomes ou a quaisquer dados ou circunstâncias indicadoras.
76
VIVÊNCIAS DE PLANTÃO
77
sempre atitude de aceitação, compreendendo tratar-se de um desabafo.
As chamadas eróticas, por sua vez, merecem a seguinte
classificação:
– exibicionistas - quando o atendido relata com detalhes experiências
sexuais;
– sedutoras - quando procura envolver o plantonista, exigindo de
forma velada ou declarada a sua participação;
– masturbação telefônica.
Nas chamadas obscenas, sempre que dirigimos o assunto para a
pessoa, desencadeia-se uma conversação de profundo conteúdo emocional
que se distanciará da obscenidade. A atitude de aceitação é dirigida à
pessoa, isto é, “aceitamos o ser obsceno, a pessoa obscena, sem, entretanto,
aceitarmos a obscenidade”. Resumindo: ao ser convidado a participar de
qualquer diálogo obsceno, seja pornográfico ou erótico, e frustradas as
tentativas de retomar à pessoa como centro, o plantonista poderá declinar,
esclarecendo que tal atitude se encontra fora da sua alçada.
Homossexualismo - Em decorrência da enorme pressão social
existente sobre o homossexual (a sociedade não o aceita), ele passa
igualmente a se rejeitar. Uma vez aceito em nossa relação de ajuda, ele se
sentirá valorizado e caminhará por uma auto-aceitação.
Chamadas Mudas - As chamadas mudas foram classificadas em:
Curiosidade
MUDAS Confirmação
Inibição
Eróticas
78
ou por pretenderem no futuro utilizá-lo, buscam uma confirmação através
de uma chamada muda, procurando verificar se do outro lado da linha há
realmente alguém.
– Inibição - pessoas que telefonam e não conseguem articular
palavra em decorrência do profundo estado de ansiedade.
– Eróticas - certas chamadas eróticas, principalmente tipo
masturbação, muito freqüentemente se apresentam na forma de chamadas
mudas. .
As diretrizes para chamadas mudas: aguardar por alguns segundos,
avaliar atentamente se está havendo progresso e, em caso positivo, aguardar
o tempo necessário até que a pessoa se manifeste. Caso contrário, informar
que “gostaríamos muito de conversar, que compreendemos o silêncio e
convidamos a pessoa a nos ligar assim que se sinta mais descontraída”.
Chamadas Agressivas - Classificadas de acordo com a chave
abaixo:
Em Atendimentos Pessoais sob ação
de drogas
AGRESSIVAS
AMEAÇAS Diretas
Indiretas
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nossa experiência tem constatado que, quando tais casos ocorrem, a grande
maioria se deve ao fato de estarem sob ação de drogas.
Esgotados todos os recursos para acalmar o individuo, deve-se
solicitar o concurso de órgãos policiais, pedindo que haja discrição e ajuda
ao atendido.
Chamadas Drásticas - As Chamadas Drásticas foram subdivididas
de acordo com a chave seguinte:
Simulação
Socorro
DRÁSTICAS Solidão
Em Atendimento Pessoal
80
fim da entrevista, solicitou socorro e foi atendido a tempo, também pela
polícia. O outro veio a falecer ou, pelo menos, essa foi a impressão obtida
pelo plantonista quando ouviu o baque surdo do corpo no chão. Lembramos
que no dia seguinte esse plantonista foi alvo das melhores manifestações de
apoio de todos os voluntários do Posto.
– Em Atendimento Pessoal - Só temos a registrar casos de indivíduos
que foram contidos pela polícia, ao tentarem atirar-se de um viaduto ou nos
trilhos do Metrô, e levados para o CVV. Tratam-se de casos delicados, nos
quais temos que deixar o indivíduo bem à vontade, fazê-lo compreender a
natureza do nosso trabalho, e deixar ao seu arbítrio: manter ou não conversa
para oferecermos amizade.
Psicopatas - Ao falarmos sobre os psicopatas, recomendamos a todos
lerem o trabalho elaborado pelo nosso companheiro Alan, de Ribeirão Preto,
intitulado “Como pode o plantonista se defender da manipulação psicopática”
(publicado no Boletim do CVV dos meses de julho, agosto e setembro de
1983). Sobre este assunto há outro trabalho, também do companheiro Alan,
do CVV-Ribeirão Preto: “DISTÚRBIOS DE PERSONALIDADE E OS
PLANTONISTAS”, publicado no nosso Boletim do CVV, n.º 168, do mês
de maio de 1988, que também merece ser lido. Recordamos a todos que os
psicopatas são refratários ao “befriending”, assim como as pessoas sob ação
de drogas. Os psicopatas são casos difíceis, pela sutileza e, sobretudo por
apresentarem total normalidade. Sobre o assunto há o seguinte esquema,
apresentado por Chad Varah numa palestra feita em Mar del Plata em 1977:
81
Dentre as características apresentadas, lembramos: indiferentes às
relações interpessoais; egocêntricos; inidôneos; falsos e insinceros; ausência
total de remorso, culpa ou vergonha (amoralidade); comportamento anti-
social; desconhecem o que vem a ser ansiedade; raramente são suicidas; são
extremamente racionais e usam da chantagem.
Como medidas para não sofrermos a manipulação dos psicopatas,
apresentamos os seguintes recursos: recorrer aos mais experientes; buscar
orientação sempre que preciso; respeito absoluto pelas normas cevevianas; e
discutir a questão com os líderes de grupo antes de agir.
Trotes - Esclarecemos que para nós os trotes não existem e para
“eliminá-los” basta melhorarmos a qualidade de nossas respostas.
Abalos Situacionais - Como, dentre os abalos situacionais, ocupam
lugar de destaque as perdas, focalizamos toda a nossa atenção sobre esse
assunto. Apresentamos a seguinte chave:
CÔNJUGE
FILHO
OBJETO PERDIDO GENITOR
IRMÃO
AMIGO
ANIMAL DE ESTIMAÇÃO (para crianças)
MORTE
CASAMENTO
TRABALHO
SERVIÇO MILITAR
MOTIVO DE PERDA ESTUDO
FORMATURA
DESAVENÇAS
DOENÇA (física ou mental)
SUICÍDIO
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Estudo - o jovem que é obrigado a morar em outra cidade para
estudar.
Formatura - perda dos colegas e do ambiente da turma.
PROVENTOS
STATUS
LAR
CASA
PERDAS DE TRABALHO (demissão / aposentadoria)
RECURSOS JUVENTUDE
DE APOIO ILUSÕES
ROTINA ESTÁVEL (promoção/ casamento/ formatura)
SAÚDE
AMPUTAÇÕES
BELEZA
ENFERMIDADE
PESSOAS IDOSAS SOLIDÃO
PERDA DE RECURSOS DE APOIO
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adaptação psicológica)
SERVIÇO SOCIAL - Resolver os Problemas (adaptação social)
CVV - Adaptação Psicológica
CVV e Religião - A religião do CVV está no bem que podemos
fazer ao próximo e, portanto, quanto à religião dos outros temos que manter
a atitude de respeito e aceitação, indispensável para o sucesso de uma relação
de ajuda.
RELIGIÃO ACEITAÇÃO
RESPEITO
Diálogo forçado
Dirigidas à pessoa do plantonista
Superficiais
Solicitando informações
Apresentando o caso de um amigo
Reticenciosas
Diretas ao assunto
Silêncio (já comentado anteriormente)
“Trote” (já comentado anteriormente)
Pregar uma peça em alguém
“Enganos”
Solicitação de orações e mensagens
-Diálogo Forçado - quando alguém nos liga e insiste que um terceiro fale
conosco.
-Superficiais - são aquelas chamadas desprovidas de conteúdo emocional e,
se o plantonista estiver sendo solicitado naquele instante por outras ligações
telefônicas, ou pela presença de casos pessoais, deverá torná-las bastante
breves.
84
-Informações - o indivíduo inicia o diálogo telefônico tal como se estivesse
pedindo informações sobre o CVV.
-Apresentação do Caso de um Amigo - ele começa a conversa expondo
suas emoções e seus problemas tal como se estivesse relatando o caso de
um amigo. Se o plantonista agir corretamente, no transcurso da entrevista,
o atendido muda naturalmente a pessoa do verbo e passa a se referir a si
mesmo.
-Reticenciosas - quando, intercalado por longos espaços de silêncios, o
atendido se mostra profundamente tenso e com dificuldades para se expor.
-Diretas ao Assunto - como o próprio nome está indicando, o atendido vai
diretamente ao assunto, sem rodeios.
-Silêncio - chamadas silenciosas já foram objeto de análise.
- “Trotes” - os trotes, igualmente, já foram abordados.
-Pregar uma Peça em um Amigo - ocorre na seguinte circunstância: numa
roda de amigos, resolvem pregar uma peça em alguém. Sem que ele saiba,
ligam para o CVV. Quando o plantonista atende eles solicitam “um minuto
por favor”, e dizem para o amigo: “telefone para você!” Quando ele vem ao
telefone, notamos um certo desconcerto ao saber que é do CVV e ao fundo
ouvimos gargalhadas dos demais.
- “Enganos” - quando o atendido simula um engano. Devemos, nesses
casos, apresentar de imediato a nossa total disponibilidade.
Para todos esses tipos de abordagem, a atitude do plantonista
é sempre de se referir à pessoa e atentar para o conteúdo emocional da
comunicação. Muitos desses tipos de abordagem são apenas pretexto para
um primeiro contato com o CVV.
Sigilo - Jamais poderemos expor o indivíduo ou, em outras palavras,
revelar que um indivíduo esteve no CVV ou estabelecer ligações entre
problema e o indivíduo.
Lembramos: o simples fato de revelar que o indivíduo esteve no
CVV consiste em grave quebra do sigilo.
Dentro do programa CVV o sigilo é absoluto.
85
Na prática do “role playing” vivemos a pessoa e os problemas sem,
entretanto, revelarmos quem é o indivíduo.
Neste ponto, o regimento interno do CVV é mais restritivo do que
o do “The Samaritans”.
Em certos casos o próprio atendido não respeita as normas de sigilo,
visitando vários plantões e dizendo (inclusive aos amigos) que foi atendido
no CVV por esse ou aquele plantonista. Nesse caso a violação de sigilo
partiu do atendido e não do plantonista.
Atendimento a Pessoas Drogadas - Pessoas drogadas ou
alcoolizadas não têm condições de assimilar o “Befriending”; portanto, o
plantonista não deverá realizar o atendimento. A pessoa deverá ser convidada
a retornar em estado de sobriedade.
Casos “Crônicos” - Os princípios samaritanos estabelecem que
os casos em crise têm prioridade sobre os crônicos; entretanto, nunca nos
poderemos esquecer de que casos crônicos poderão entrar em crise.
Atentar para o perigo de rotulação e o perigo de avaliações precipitadas. Os
chamados crônicos deverão ser estudados em nível de grupo.
86
A REUNIÃO GERAL DE PLANTONISTAS
87
REUNIÃO GERAL DE PLANTONISTAS
21/04/84
Das 09h00 às 09h30 - Tempo Livre
Das 09h30 às 09h35 - Abertura
Das 09h35 às 09h40 - Avisos gerais e administrativos
Das 09h45 às 10h00 - Apresentação artística
Das 10h00 às 11h00 - Palestra proferida por Jacques A. Conchon e Flávio
Focássio – versando sobre o tema: “RGP’s”
Das 11h00 às 11h15 - Tempo reservado às perguntas
às 11h - Encerramento
Nome ...................................................
N.º.........................................RGP:..............................DATA: ......................
Unidade - Abolição
(Devolver no fim da Reunião)
(*) No verso da ficha costuma-se imprimir a música para ser cantada no Tempo Livre.
88
A REUNIÃO DE GRUPO
89
serenamente procurando assimilar a parcela válida para o seu
aprimoramento.
J) Diálogo aberto
Este segmento foi assim denominado por proporcionar uma total
abertura, onde os presentes procuram relatar as tensões (conflitos,
ansiedades e aflições) vividas em atendimentos ou experimentadas
na vida diária. Trata-se de um feliz ensejo para drenar as ansiedades
acumuladas e para revisões interiores.
Sempre será facultado ao voluntário optar para tratar de assuntos
reservados diretamente com o líder, após a reunião ou em outro
qualquer horário.
L) Vida plena
Outra atividade importante da reunião: a oportunidade que cada
voluntário tem de auto-analisar-se com apoio do grupo. Tendo como
pano de fundo o conceito de “vida plena”, cada qual poderá expor o
que considera barreiras em si mesmo, que dificultam seu crescimento.
O somatório de experiências individuais vai ajudando a cada um rever-
se interiormente com menos ansiedade.
O ideal é o plantonista manter uma caderneta de anotações das
descobertas de si mesmo e das iniciativas que vem tomando para
crescer e superar-se. As anotações dessa caderneta podem ou não ser
lidas nas reuniões de grupo.
M) Consultas e Informações Administrativas
Esta é a fase final da reunião de grupo onde assuntos administrativos
são tratados tais como: consulta aos voluntários, passar informações, e
veicular campanhas financeiras.
N) Encerramento
Os minutos finais da reunião de grupo podem ser aproveitados para
confraternização através de uma conversa descontraída em tomo de
um chá ou café.
O) Generalidades
As reuniões de grupo em média têm a duração de 90 minutos.
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O POSTO DO CVV E A ENTIDADE JURÍDICA
Normalização
1. Situação Ideal
Entende-se por situação ideal aquela retro indicada como Condição “A”,
na qual os voluntários de um Posto, em implantação, fundam a entidade,
prevendo em seus estatutos que todos os cargos da Diretoria e do Conselho
(se houver) serão necessariamente preenchidos por plantonistas do CVV.
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2. Condição Aceitável
As normas a serem observadas para a citada Condição “B” são as
seguintes:
- A entidade é uma pessoa jurídica que tem por finalidade:
a) dar cobertura jurídica ao Posto;
b) dentro das suas possibilidades oferecer suporte material/financeiro ao
Posto.
- O Coordenador Geral (cuja eleição foi necessariamente referendada
pela entidade) é o elemento de ligação entre esta e o Posto do CVV.
- A entidade jamais poderá intervir no Posto, a não ser que este venha a
ferir os Princípios e Normas do CVV e/ou o Regimento Interno do CVV.
Neste caso, a intervenção se dará através do Centro de Valorização da
Vida, de São Paulo.
- A entidade jurídica poderá descontinuar a sua posição como tal, sempre
que lhe for de conveniência, dando comunicação imediata ao Centro de
Valorização da Vida, de São Paulo.
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A ENTREVISTA NA RELAÇÃO DE AJUDA
AULA DE REFORÇO
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Se atendermos um indivíduo e notarmos que ele nos procura
freqüentemente para saber se deve fazer isto ou aquilo, é sinal de que estamos
fazendo um mal atendimento, pois estamos mantendo a responsabilidade, no
mínimo, dividida.
O que aconteceria se déssemos um conselho? Nós assumiríamos
a responsabilidade e criaríamos dependência. Chad Varah já nos diz que
é difícil resistir à tentação de dar um conselho, posto que ao assumirmos
tal atitude estamos dando vazão ao nosso orgulho; sentindo-nos dotados de
uma certa superioridade, passamos a olhar o indivíduo de cima para baixo,
aumentando enormemente a distância entre nós e ele. Um dos mais graves
erros que podemos cometer é dar um conselho.
Vamos analisar o conselho sob este ponto de vista: um indivíduo
coloca sua vida à nossa frente, seus problemas, suas dúvidas e nos diz: “Na
situação em que me encontro posso escolher a alternativa “A” ou a alternativa
“B”; qual das duas você acha que seria melhor?” Podemos cair na cilada e
responder: “Acho que a alternativa “B” é a melhor”. Em seguida, o indivíduo
nos pergunta: “Mas você não acha que a alternativa “A” é mais razoável?”
Se tivéssemos dito que a “A” era a melhor, ele sairia correndo para colocá-
la em prática, porque, na realidade, ao nos fazer a pergunta inicial, ele já
havia escolhido a alternativa, porém, desejava dividir a responsabilidade.
Recebendo um “de acordo” temos duas possibilidades: “dar certo” ou “não
dar certo”. Se der certo, estabelecemos dependência, e diante do menor
problema o indivíduo voltará a nos procurar para tomar decisões. Se não der
certo, ele virá nos cobrar, e será fácil prever as conseqüências.
Para algumas escolas, o conselho pode ser aplicado por profissionais
especializados. As escolas clássicas admitem-no e nós consideramos válido
aconselhar, se isso for aplicado por profissionais. As escolas que optam
pelos métodos diretivos usam o conselho, diagnosticam, procuram resolver
o problema: a responsabilidade é do entrevistador, existindo, portanto,
dependência. É fácil compreender que esse método está fora de nosso
alcance: não podemos diagnosticar, e a solução dos problemas assume um
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plano secundário, porque não podemos alcançá-la.
O estabelecimento de dependência pode assumir características
muito sérias quando se trata de um relacionamento entre pessoas de sexos
opostos, ocorrendo o perigo da evolução do amor fraterno, que procuramos
doar, para o amor romântico, ou mesmo para o amor sexual. Como quem nos
procura vem em busca do amor fraterno, se oferecermos outra modalidade,
isso gerará frustrações dolorosas, conforme temos podido observar.
Quando começamos uma entrevista é possível que, nos primeiros
dez ou quinze minutos, haja uma tendência, por parte do entrevistado, em
gerar uma relação dependente, pedindo-nos conselhos insistentemente. Se
agirmos de maneira correta, trabalhando exclusivamente com o conteúdo
emocional, ele passará a nos sentir como um igual, desviando a imagem
do superprotetor, até definir-se a imagem de um companheiro, um amigo.
Chad Varah nos diz que aconselhar é a forma mais eficiente de mostrar a um
indivíduo que ele é incapaz.
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a escola “behaviorista”. “Contudo – replica Rogers – cada qual sente o
estímulo de uma forma distinta” – e completa – “a resposta é sempre uma
função da maneira pela qual o estímulo foi sentido”.
Assim, cai por terra o julgamento e, conseqüentemente, o diagnóstico
e a condenação; fica abolido o conceito de anormalidade.
Para julgar, explica-nos a teoria de Rogers, seria necessário ver o
mundo com os olhos do entrevistado, o que é impossível. O único julgamento
provido de fundamento justo é o autojulgamento; o resto é leviandade.
Ao nos ensinar que todo ser possui uma direção positiva, no sentido
do crescimento, da maturidade e da socialização, propõe-nos uma visão
mais equilibrada do Universo, onde todos os seres são dotados de forças
latentes para atingirem a harmonia perante si mesmo e perante os demais.
Esclarece-nos o Prof. Rogers que, para a exteriorização das
potencialidades do ser, é indispensável que se lhe ofereça condições, que
são definidas como ameaça zero (ou aceitação total).
Com aceitação total as máscaras caem e o indivíduo passa a ser o
que é “se torna pessoa”, e encontra o sentido positivo em sua marcha.
Para maior compreensão deste capítulo, é indispensável a leitura do
Capítulo 1 do livro de Rogers “Tornar-se Pessoa”.
ATITUDES DO ENTREVISTADOR
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No CVV não há limites. O entrevistado pode repetir a sua história
quantas vezes quiser; estaremos sempre prontos a ouvi-lo com a mesma
atenção da primeira vez. Ninguém pode fazer isso a não ser num serviço
voluntário. Chad Varah nos conta uma história bastante característica e
que nos mostra a definição da Doação de Amizade (“befriending”). Foi
um dos primeiros casos que surgiram na sede dos Samaritanos. Apareceu
uma senhora, visivelmente nervosa, sentou-se. Chad Varah, ainda como
profissional, fazia aconselhamento, e os voluntários ficavam em outra sala,
recebendo os indivíduos para aguardarem o momento da entrevista. Aquela
senhora contou uma história para o Chad.
Ele não entendeu; era tão confusa, e ele vendo a quantidade de pessoas
que estava à sua espera, pediu que ela aguardasse na sala ao lado, tomasse
um café, depois de uns 30 minutos voltasse. E mandou entrar o seguinte.
Algumas horas depois, lembrou-se daquela senhora. Foi até a sala de espera
e perguntou sobre ela, sendo informado de que ela havia ido embora. Ficou
preocupado, pois era um caso muito grave, parecia tão difícil! “Ela foi embora
- disse a secretária - e quando saiu estava muito satisfeita, conversou com
aquele senhor que é motorista de ônibus.” Chad foi até a pessoa e perguntou
como fora a conversa. Foi informado de que nada dissera a não ser “hum?”,
“é mesmo?”, “ah!” e contou: “Realmente, da primeira vez ela me fez o relato
de sua vida e de seus problemas, eu não entendi absolutamente nada. De
segunda vez, interessante, se na primeira era uma massa ininteligível, na
segunda já apareciam alguns pontos objetivos como nomes próprios, nomes
de locais e datas; quando ela me contou a história pela terceira vez, pude notar
que os nomes próprios, os locais e as datas estavam ordenados logicamente.
Contou-me mais uma vez, a quarta, e o que distinguiu esta da terceira foi
que, nas entrelinhas, foram surgindo as soluções para seus problemas”.
Ouvir com Respeito - Um dos pontos fundamentais para que
possamos atingir bons resultados com o método que aplicamos é o respeito
pelo nosso semelhante. Rogers afirma que esse respeito deve ser sincero e
genuíno; em outras palavras, não podemos usar uma máscara, pois que esta,
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mais cedo ou mais tarde, cairá, com efeitos desastrosos.
Respeitar significa respeitar a todos indistintamente, sem levarmos em
consideração saldos bancários ou títulos. Aprendemos que todos merecem
respeito pelo simples fato de serem (existirem).
Aceitação - Aceitar o indivíduo como ele é não como nós
gostaríamos que fosse, é outra norma muito importante em nosso trabalho.
Aceitar a pessoa como ela é, representa uma forma eficaz de valorizá-
la.
Aqui torna-se necessário abrirmos um parênteses para comentarmos
algo muito importante: os preconceitos, dada a nossa invigilância, podem
ser projetados na pessoa que estamos entrevistando.
Torna-se indispensável, portanto, façamos constantes revisões
interiores para que se torne possível a aceitação irrestrita.
Compreensão - Como se define a compreensão: se consultarmos
os especialistas modernos, nós vamos identificar definições bastante amplas
e complexas envolvendo empatia, compaixão, aceitação, etc. Chad Varah,
quando esteve no Brasil em 77, esclareceu-nos o problema: estávamos
procurando compreender alguém, quando na verdade devemos procurar
compreender com alguém.
Segundo o Parecer de Quinn (ver capítulo 2 - “Tornar-se Pessoa”)
no que se refere à compreensão, o mais importante é comunicar o desejo de
compreender.
Confiança - Sendo uma característica exigida do voluntário do
CVV, perguntamos: Confiança em quem? Em nós? No entrevistado? A
resposta é muito simples: confiança na natureza humana.
Todo ser humano, compartilhando dos processos naturais que
observamos às centenas todos os dias, reúne condições de superar qualquer
dificuldade, desde que lhe ofereçam condições.
O indivíduo desesperado que comparece aos nossos plantões é
sempre uma vítima das ameaças que a sociedade (meio ambiente) lhe oferece;
desde que, com a aceitação, estaremos oferecendo um clima de ameaça zero,
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ele vai caminhar para o crescimento (autocompreensão, liberação de forças
criativas e solução dos problemas que o afligem).
Comunicação - Outra particularidade que deverá ser identificada
em nossos voluntários é a comunicação. Temos que ter a capacidade de
comunicar ao indivíduo o nosso respeito, a compreensão, a aceitação e a
confiança.
Considerações Finais - A base de nosso processo consiste em
concentrarmos a atenção no conteúdo emocional da conversa que estamos
tendo com o entrevistado, distanciando-nos dos problemas que o afligem.
Os problemas comparecem à guisa de uma ferida em fase de
cicatrização muito dolorosa, exigindo cautelas especiais, e só aquele que
está ferido pode tocá-la, pois sabe bem onde é que está doendo. Isso significa
que o entrevistado pode falar de seus problemas quando quiser; entretanto,
daremos valor não à linguagem objetiva com os problemas, mas à linguagem
subjetiva com os sentimentos e emoções.
O trabalho consiste na revelação do conteúdo emocional: somos
simples tradutores, traduzimos a linguagem objetiva para uma linguagem de
sentimento e emoção. Exemplo:
Entrevistado: “Encontro-me desesperado porque perdi meu
emprego”;
Entrevistador: “Onde você trabalhava e por que razão o
demitiram?”
Vemos acima um comportamento nitidamente diretivo, no qual os
problemas ocupam lugar de destaque.
Entrevistado: “Encontro-me desesperado porque perdi meu
emprego”;
Entrevistador: “Compreendo o seu desespero e sinto a sua
insegurança”.
Neste caso o entrevistador fugiu ao problema e traduziu a
linguagem verbal em emocional, auxiliando o entrevistado no processo de
autocompreensão.
Quando aplicamos o método de forma adequada, muitas vezes o
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entrevistado diz: “Parece que você diz o que eu digo em outras palavras”;
“Você fala o que eu estou pensando”; “Ao conversar com você parece que
estou conversando comigo mesmo”.
Para que possamos conseguir da nossa parte um comportamento
não-diretivo é indispensável façamos exercícios diários no que se refere à
revisão dos nossos preconceitos, procurando transformá-los em conceitos,
e não desprezarmos a prática do “role-playing”, o único processo que nos
pode conduzir ao aperfeiçoamento.
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nossos casos em cobaias, é preferível usarmos um companheiro a usarmos
alguém que vem de fora.
Um diálogo:
– “Você é um estúpido, um cretino; pensa que estou presa a você,
mas não estou; pensa que os outros gostam de você, mas ninguém gosta;
você é um estúpido, mesmo!”
– “Então você sente por mim um ódio muito grande!”
– “Sim, não posso ver nem a sua cara, acho que nem apareço mais
aqui.”
– “Certo; você quer mostrar a sua independência.”
Percebam o tipo de resposta e como é importante aceitarmos a agressão.
De Reflexão do Conteúdo - É traduzir o que a pessoa falou, em
outras palavras; ela falou, nós não entendemos as emoções envolvidas,
buscamos repetir o que nos foi dito em outras palavras, procurando nos
aprofundarmos mais. Por exemplo: Alguém nos conta uma história, nos
diz que compartilha um apartamento com um amigo e não sabe o que
aconteceu... Nós trocamos: “Você e o amigo moram no mesmo apartamento
e está havendo algum problema”. O mesmo que a pessoa disse, estamos
dizendo em outras palavras, com o intuito de aprofundar mais e chegar a
uma clarificação.
De Aceitação - A resposta de aceitação pode ser verbal ou não.
Como pode uma resposta não ser verbal? Como podemos expressar aceitação
sem verbalizar? É simples: existem indivíduos que não conseguem falar, e
nós respeitamos seu silêncio. Há aqueles que começam a chorar; então nós
o aceitamos em silêncio deixamos que ele chore.
De Apoio - Resposta de apoio é aquela pela qual mostramos que
estamos sentindo o mesmo que a pessoa; que estamos acompanhando o seu
sofrimento. Usando outro exemplo: “Você acha que pode ser reprovado.
Isso lhe traz insegurança e uma visão obscura do futuro”. Esse tipo de
resposta não deve ser forjada; quando nós falarmos que entendemos ou que
sentimos, deve ser sentido mesmo, porque se falarmos da “boca para fora”,
o entrevistado percebe que é uma farsa, uma dramatização, e não se sente
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valorizado.
Inquisitivas - Essas respostas são muito boas para quando o
atendido nos coloca contra a parede. Ele nos diz: “Depois disso, o que eu
devo fazer?” E nós partimos para uma inquisitiva: “O que você acha?”
Informativas - Quando a pessoa nos pergunta sobre qualquer
assunto em que ela tenha interesse; se não soubermos a resposta, nós damos;
se não soubermos, dizemos que não sabemos, não podemos responder, isto
é, respeitamos o interesse do entrevistado, não ficamos em silêncio, mas
confessamos a nossa posição de desconhecedores do assunto.
CONSIDERAÇÕES IMPORTANTES
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seus problemas. Como responder?
Resposta: Quando um indivíduo nos faz uma pergunta exigindo-
nos um conselho ou uma orientação, temos de dar uma resposta não-diretiva
e temos de tomar muito cuidado para usar uma especial entonação na voz, de
tal forma que as nossas colocações não apresentem um aspecto declarativo.
Por exemplo: se pretendemos clarificar um estado de revolta, dizer. Você está
revoltado, e dizer Pelo que vejo, você está bastante revoltado, são duas
formas distintas para fazer a colocação, sendo que a primeira (declarativa)
dá pouco margem de argumentação por parte do entrevistado, e a segunda
daria chance, inclusive, de ele rejeitar a colocação, informando: “Não, não é
bem revolta o que sinto”.
Suponhamos que uma pessoa me diga: “O que devo fazer?” Nós
poderíamos responder: “O que você acha? Outra, “Sinto que você se encontra
confuso”. Outra: “Me fale um pouco mais sobre você”. Outra: “Vamos
pensar juntos?”. Outra: “Você necessita realmente de uma opinião?”
Precisamos entender que o processo centrado na pessoa do
entrevistado é altamente gratificante, e, todas as vezes que nos solicitar uma
manifestação diretiva e nós voltarmos a centrar nele todos os elementos da
entrevista, ele se sentirá bem e aceitará que prossigamos não-diretivamente.
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VOLUNTARIADO
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ESTRUTURA ORGANIZACIONAL DO CVV
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caminhos estarão abertos para, no futuro, a longo prazo, ser o Conselho
Nacional constituído somente de coordenadores estaduais.
A constituição de uma regional é muito simples e depende de um
acordo entre os Postos vizinhos que, uma vez constituída a regional, deverão
eleger um Coordenador da mesma.
O poder soberano é atribuído ao Conselho Nacional, ao qual se
encontram afetas as atividades de reformulação de princípios e do regimento
interno.
Como o Conselho Nacional se reúne somente uma vez por ano,
foi criado em 1983, para agilizar as atividades deliberativas, o Conselho
Geral que atualmente é composto pelos membros da Diretoria Executiva do
Centro de Valorização da Vida, e representantes de 16 Postos: 8 da Grande
São Paulo e 8 do Interior do Estado de São Paulo.
O Conselho Geral se reúne sempre que necessário, cabendo ao
mesmo o credenciamento e descredenciamento de Postos, estudar alterações
do regimento interno para serem referendadas ou não pelo CN, e efetivar os
Postos experimentais.
1 - Regional de Marília:
Marilia
Assis
Londrina
P. Prudente
Bauru
P. Venceslau
2 - Regional Limeira:
Limeira
Piracicaba
Americana
Jundiaí
Rio Claro
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3 - Regional Rio Preto:
S. J. Rio Preto
Araçatuba
Birigui
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7 - Regional-ABC - Santos:
Santo André
São Bernardo
São Caetano
Mauá
Santos
São Vicente
8 - Regional Belo Horizonte:
Nova Suíça - BH
Padre Eustáquio - BH
Vitória
Cachoeiro do Itapemirim
9 - Regional Rio de Janeiro:
Tijuca
Lapa
Copacabana
Centro
Petrópolis
10 - Regional Centro-Oeste:
Goiânia
Brasília
Belém
Taguatinga
11 - Regional Nordeste:
Natal
Recife
Fortaleza
Teresina
Campina Grande
Salvador
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12 - Regional Sul:
Blumenau
Porto Alegre
Curitiba
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REGIMENTO INTERNO DO CVV
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