Você está na página 1de 21

UNIDADE

I
Fundamentos
da Prática de
Enfermagem
A enfermagem é uma arte e uma ciência. É uma profissão que utiliza conhecimentos
especializados e habilidades para promover bem-estar e cuidado às pessoas, na saúde e na doença
e em vários locais de prática. A Unidade I apresenta conceitos que oferecem a fundamentação
da prática de enfermagem, definindo-a como um todo. Os capítulos desta unidade apresentam
a profissão de enfermeiro, as necessidades básicas dos indivíduos, de suas famílias e da
comunidade, a cultura e a etnia, a promoção do bem-estar na saúde e na doença, a base teórica, as
evidências baseadas na prática de enfermagem e as implicações éticas e legais para a prática dessa
profissão.
Perspectivas históricas, formação educacional, organizações profissionais e diretrizes
para a prática profissional da enfermagem funcionam como base para a compreensão do que
é a enfermagem e de como está organizada. A sociedade diversificada na qual os enfermeiros
trabalham os habilita a proporcionar um cuidado competente no âmbito cultural. O entendimento
das necessidades básicas humanas e as definições individualizadas de bem-estar e de doença
preparam o enfermeiro para integrar as dimensões humanas – aspectos físicos, intelectuais,
emocionais, socioculturais, espirituais e ambientais de cada indivíduo – aos cuidados oferecidos,
a fim de promover o bem-estar, prevenir doenças, restaurar a saúde e facilitar o enfrentamento
diante de função alterada ou da morte. O conhecimento dos vários métodos de promoção de
cuidados é necessário no complexo sistema de saúde atual.
As teorias e as pesquisas na área de enfermagem constituem um suporte para a prática
baseada em evidências, definindo as justificativas para as ações dessa prática e oferecendo
um foco para os cuidados de enfermagem. Uma compreensão da influência dos valores no
comportamento humano e das dimensões éticas desta prática é fundamental para o cuidado
responsável e comprometido do paciente. Para concluir, ter sensibilidade às implicações legais da
prática da enfermagem profissional é um dos imperativos da cultura atual.
A Unidade I investiga os fundamentos da prática da enfermagem a partir da perspectiva
do enfermeiro e da compreensão holística do paciente. Os estudantes são apresentados a uma
profissão desafiadora e recompensadora, e recebem uma base de conhecimentos que fundamenta
o desenvolvimento das habilidades de oferecimento de cuidados e das relações e comportamentos
profissionais.

Taylor-Enfermagem_01.indd 32 05/12/13 11:21


Taylor-Enfermagem_01.indd 33 05/12/13 11:21
1 Introdução à Enfermagem

ROBERTO PECORINI
Roberto tem 38 anos e apresenta
diagnóstico de câncer de colo com
metástase. Tendo feito radioterapia
e quimioterapia, está extremamente
fraco e desnutrido e recebe vários líquidos intraven
osos através de um cateter
central. Tem duas úlceras de pressão no sacro, com
cerca de 3,70 cm de
diâmetro, que exigem cuidado. Ele também apresent
a uma colostomia da qual
não consegue cuidar de forma independente.

MICHELLE FINE
primeira vez aos
Michelle, mãe pela
ta com sua filha
19 anos, recebeu al
va cerca de 3,5 kg,
saudável, que pesa all
lefona para o pessoa no peito e não se alliimennttaa há
h
há dois dias. Ela te está m am an do
bebê não
do berçário: “Meu
24 horas”.

ALBERT ROWLINGS
Albert, 62 anos, com risco de doença
cardíaca, aprende sobre modificações
no estilo de vida, como dieta, exercícios e
redução do estresse. Ele afirma: “Poupee
a melhor morrer a ter a
seu fôlego. Por que me incomodar com tudo isso? Seri
vida que vivo agora!”.

Taylor-Enfermagem_01.indd 34 05/12/13 11:21


Fundamentos de Enfermagem 35

Esses exemplos mostram como é difícil descrever, de for-


OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM ma simples, a enfermagem. Se todos em sua classe fossem so-
Após concluir o capítulo, você deverá ser capaz de: licitados a completar a frase “Enfermagem é...”, haveria muitas
1. Descrever a fundamentação histórica da enfermagem, respostas diferentes, porque cada pessoa responderia com base
suas definições e a condição como profissão e disciplina. em sua própria experiência e conhecimento de enfermagem na
ocasião. À medida que você avança nos estudos e pratica a enfer-
2. Explicar as metas da enfermagem, em sua magem após a graduação, sua própria definição refletirá as mu-
inter-relação, a fim de facilitar a maximização da saúde danças que ocorrem, quando se aprende e vive a enfermagem.
e da qualidade de vida para os pacientes. Enfermagem é uma profissão com foco na assistência a pes-
3. Descrever os vários níveis de preparo educacional em soas, famílias e comunidades para a obtenção, a recuperação e a
enfermagem. manutenção da saúde, do nascimento à velhice. O atendimento
do enfermeiro envolve toda espécie de atividades, da realização
4. Discutir os efeitos na prática da enfermagem
de procedimentos técnicos complicados até algo aparentemente
das organizações e dos padrões de prática da
tão simples como segurar a mão de alguém. Enfermagem é um
enfermagem, dos atos para a prática da enfermagem
misto de arte e ciência. A ciência da enfermagem é a base de
e do processo de enfermagem.
conhecimentos para a assistência prestada; a arte da enfermagem
5. Identificar tendências atuais em enfermagem. é a aplicação hábil desse conhecimento para auxiliar os outros a
obter o máximo em saúde e qualidade de vida.
Este capítulo apresenta-o à enfermagem; inclui uma breve
história do seu início até a atualidade e traz as definições e as
PALAVRAS-CHAVE metas da enfermagem. O exame da enfermagem como profissão,
do preparo educacional, das organizações profissionais e das di-
ato de prática da processo de enfermagem retrizes para a prática profissional é feito para melhor ajudá-lo a
enfermagem profissão entender o que é a enfermagem e sua organização. (Um exem-
concessão de licença reciprocidade plo que demonstra a importância da concessão de licença para
enfermagem saúde a prática e as responsabilidades da enfermagem encontra-se no
padrões quadro denominado Prática Reflexiva.) Tendo em vista que a en-
fermagem pertence a uma sociedade que muda constantemente,
são abordadas também as tendências atuais no campo de atuação
do enfermeiro.
O que é enfermagem? Analise os exemplos a seguir de quem
são os enfermeiros e o que fazem: PERSPECTIVAS HISTÓRICAS DA ENFERMAGEM
● Delton Nix, RN, formou-se em um programa de grau asso- Cuidadores de doentes e feridos sempre foram parte da história.
ciado* de enfermagem há três anos. Atualmente, trabalha Os papéis, os cenários e as responsabilidades, todavia, mudaram
em tempo integral como enfermeiro de equipe em uma com o tempo, o que relatamos no texto que segue.
unidade médica hospitalar, enquanto ainda estuda para ob-
ter o grau de bacharel em enfermagem; sua meta é tornar- Desenvolvimento da enfermagem nas
-se enfermeiro-anestesista. civilizações anteriores ao século XVI
● Jeiping Wu, RN, MSN, FNP, especializa-se como enfer- A maioria das civilizações antigas acreditava que a doença tinha
meira de família. Ela trabalha por conta própria em uma causas sobrenaturais. A teoria do animismo tentou explicar a ori-
clínica de saúde primária na zona rural. gem das misteriosas modificações nas funções orgânicas. Essa
● Samuel Cohen, LPN, decidiu realizar o sonho de sua vida, teoria baseava-se na crença de que tudo na natureza era vivo,
tornando-se enfermeiro, depois de trabalhar 20 anos nos com forças invisíveis e poder. Os bons espíritos traziam a saúde;
correios. Após o exame de todas as suas opções e metas, os maus, a doença e a morte. Para o oferecimento de tratamento,
concluiu um programa de enfermagem prática e agora é os papéis do médico e do enfermeiro eram separados e diferen-
membro de uma equipe de ambulância para atendimento tes. O médico era o curandeiro, que tratava a doença por meio
de emergências em uma grande cidade. de cânticos, inspirando medo, ou abrindo o crânio para liberar
● Amy Orlando, RN, BSN, formou-se há dois anos e co- os maus espíritos (Dolan, Fitzpatrick e Herrmann, 1983). O en-
meçou recentemente um novo trabalho em um serviço de fermeiro costumava ser a mãe, que cuidava da família durante a
saúde de uma comunidade urbana. enfermidade, providenciando os cuidados físicos e os remédios
● Roxanne McDaniel, RN, PhD, tem doutorado em enferma- feitos com plantas. Esse papel de cuidar e sustentar do enfermei-
gem, ensina e faz pesquisa em uma grande universidade. ro permanece até a atualidade.
Com o crescimento das civilizações, os templos tornaram-
* N. de R. T.: A equipe de enfermagem no Brasil é formada pelo enfermeiro -se os centros de atendimento médico devido à crença de que a
(nível superior), pelo técnico de enfermagem (nível médio) e pelo auxiliar doença seria causada pelo pecado e pelo desagrado dos deuses.
de enfermagem (nível fundamental). Não há correspondência ao enfermeiro Os sacerdotes tinham elevada consideração como médicos; a so-
prático licenciado (LPN) ou de graduação associado (bacharel em ciência de
ciedade, porém, não valorizava a vida humana e as mulheres.
enfermagem – BSN).
RN = enfermeiros com registro Em algumas sociedades, o enfermeiro era considerado um escra-
MSN = Master of Science in Nursing vo, desempenhando as tarefas menores, com base nas ordens dos
FNP = enfermeiro da família sacerdotes-médicos. Durante o mesmo período, os antigos he-

Taylor-Enfermagem_01.indd 35 05/12/13 11:21


36 Taylor, Lillis, LeMone & Lynn

PRÁTICA REFLEXIVA
Desafio às habilidades éticas e legais
Durante o curso de enfermagem, trabalhei como auxiliar de enfermagem em uma unidade de oncologia bastante movimentada.
Lá, conheci Roberto Pecorini, 38 anos, com diagnóstico de câncer de colo com metástase. Ele havia feito radioterapia e quimio-
terapia e estava muito fraco e desnutrido. Estava recebendo vários líquidos intravenosos através de cateter venoso central. Além
disso, desenvolveu duas úlceras de pressão no sacro, cada uma com cerca de 3,80 cm de diâmetro, exigindo cuidado. Apresentava
também uma colostomia, difícil de ser cuidada apenas por ele.
Embora os funcionários fossem bastante prestativos, a orientação que recebera na unidade fora breve porque havia escassez de
pessoal. Em certa ocasião, logo após ter recebido orientação sobre o andar, eu fazia um plantão noturno e era a única enfermeira
auxiliar na unidade. Os enfermeiros com quem eu trabalhava pediram-me que cuidasse do sr. Pecorini, o que incluía a realização
de várias tarefas e habilidades com as quais eu não tinha familiaridade. Além de minha falta de familiaridade com habilidades
como troca de curativos de catéteres centrais e realização de coletas de sangue e cuidado de lesões, eu não tinha certificação para
realizar essas tarefas. Senti-me pouco à vontade fazendo isso sozinha. No entanto, os demais enfermeiros estavam muito ocupados
e eu queria ajudá-los o máximo possível. Se eu executasse as tarefas por minha conta, poderia colocar o paciente em risco. Além
disso, estaria ameaçando a concessão de licença dos enfermeiros.

Pensando além: possíveis rumos de ação


● Realizar as tarefas solicitadas apesar da pouca experiência ● Solicitar aos enfermeiros que estejam presentes quando eu
em sua realização. realizar essas tarefas, para que possam observar minhas ha-
● Informar os enfermeiros do fato de não me sentir à vontade bilidades e interferir, se necessário.
realizando essas tarefas sozinha e solicitar-lhes a designa- ● Evitar realizar essas tarefas e alertar o enfermeiro-chefe no
ção de outras tarefas para as quais estaria apta. dia seguinte sobre o fato de eu ter recebido tarefas que
não são parte de minhas atividades.

Avaliação de um bom resultado: como defino sucesso?


● O paciente recebeu cuidado seguro e completo sem ter sido ● A licença dos enfermeiros não foi colocada em risco.
colocado em risco. ● Senti-me à vontade e competente para realizar meu traba-
● Realizei tarefas e usei habilidades dentro do que sei fazer. lho.
● Os enfermeiros compreenderam minhas tarefas e, de forma
adequada, delegaram aquelas consideradas necessárias.

Aprendizagem pessoal: rumo ao futuro!


Uma vez que não me senti confortável para desempenhar não me sentisse apta a realizá-las. Pela manhã, conversamos
as tarefas que me foram designadas pelos enfermeiros, en- com o enfermeiro-chefe, que se deu conta da necessidade de
frentei-os e contei-lhes que fazia pouco tempo que recebera esclarecer as tarefas aos auxiliares de enfermagem e de de-
orientações sobre o local de trabalho, não tendo experiên- legar tarefas com adequação. Percebo ter tomado a decisão
cia com essas habilidades. Ainda que um tanto surpresos por certa, procurando os enfermeiros, uma vez que a segurança
minha falta de experiência, compreenderam a situação, não dos pacientes poderia ter ficado comprometida com minha
desejando que eu fizesse os procedimentos quanto aos quais inexperiência. As licenças dos enfermeiros também poderiam
não me sentisse segura. Estavam habituados a ter enfermei- ter corrido risco. Em consequência da conversa com o enfer-
ros práticos licenciados como auxiliares, no turno da noite, meiro-chefe, as orientações para os novos auxiliares de enfer-
sendo que esses profissionais LPN ultrapassavam em muito a magem foram reorganizadas, o que foi uma enorme ajuda
minha prática. Durante a noite, observei os enfermeiros rea- para a definição do alcance dos seus deveres.
lizando as tarefas e usando as habilidades, oportunidades em Colleen Kilcullen, Gerogetown University
que fui orientada em relação ao que poderia fazer, embora

Reflexão
Como você reagiria em situação semelhante? Por quê? O que isso lhe diz sobre você e a adequação de suas habilidades à prática profissional?
Você tem outras sugestões de reação? Foi ética a ação da estudante de enfermagem? Foi legal? Explique. Que outras habilidades (cognitivas,
interpessoais, técnicas, éticas/legais) seriam necessárias para se reagir bem a essa situação? Você concorda com os critérios de avaliação de um
resultado positivo? Com base na aprendizagem pessoal de uma aluna de enfermagem, os critérios teriam sido atendidos? Explique por quê.

breus criaram regras de relações humanas éticas, saúde mental e No início da era cristã, a enfermagem começou a ter um
controle de doenças, por meio dos 10 Mandamentos e do Código papel mais formal e claramente definido. Levadas pela crença
de Saúde de Moisés. Os enfermeiros cuidavam dos doentes em de que o amor e a preocupação com os outros eram importantes,
casa e na comunidade e exerciam a função de parteiros (Dolan mulheres conhecidas como diaconisas fizeram as primeiras visi-
e col., 1983). tas organizadas a pessoas doentes; membros de ordens religio-

Taylor-Enfermagem_01.indd 36 05/12/13 11:21


Fundamentos de Enfermagem 37

sas masculinas deram assistência de enfermagem e enterraram portantes para o desenvolvimento da enfermagem estão listadas
os mortos. Tanto as ordens de enfermagem femininas quanto as na Tabela 1.1. O Quadro 1.1 discute documentos que compuse-
masculinas foram fundadas durante as Cruzadas (do século XI ram a base da enfermagem.
ao XIII). Os hospitais foram construídos para o imenso número
de peregrinos que necessitavam de atendimento de saúde, e a Desenvolvimento da enfermagem do
enfermagem tornou-se uma vocação respeitada. Embora o início século XIX ao XXI
da Idade Média tenha sido caótico, a enfermagem tinha desen-
volvido finalidade, direção e liderança. O trabalho de Florence Nightingale e o atendimento propor-
No início do século XVI, muitas sociedades ocidentais pas- cionado nas baixas das batalhas durante a Guerra Civil norte-
saram de uma orientação religiosa para uma ênfase na guerra, na -americana trouxeram o foco para a necessidade de enfermeiras
exploração e na expansão do conhecimento. Inúmeros monas- preparadas nos Estados Unidos. Escolas de enfermagem, funda-
térios e conventos fecharam, levando a uma grande escassez de das em conexão com os hospitais, foram criadas com base nas
pessoal para o atendimento dos doentes. Para suprir essa neces- crenças de Nightingale, embora o treinamento oferecido fosse
sidade, mulheres que tinham cometido crimes foram recrutadas mais baseado em treinamento operacional que em princípios
para a enfermagem em lugar de cumprirem a pena na prisão. educacionais. Os hospitais perceberam a vantagem econômica
Além da má reputação, recebiam baixos salários e trabalhavam de ter escolas próprias, e a maioria delas foi organizada para for-
durante longas horas e em condições desfavoráveis. necer uma equipe mais facilmente controlável e menos dispen-
diosa para o hospital. Isso resultou em falta de diretrizes claras,
separando o atendimento do ensino de enfermagem. As alunas e
Florence Nightingale e o surgimento da formandas ficavam sob o controle de administradores e médicos
enfermagem moderna do sexo masculino. A falta de padrões educacionais, o domínio
Da metade do século XVIII até o século XIX, as reformas so- masculino no atendimento de saúde e a crença vitoriana preva-
ciais modificaram os papéis das enfermeiras e das mulheres em lente de que as mulheres dependiam dos homens combinaram-se
geral. Foi nesse período que a enfermagem, como a conhece- para contribuir durante várias décadas para o progresso lento do
mos, teve seu início com base nas várias crenças de Florence profissionalismo na enfermagem (Kalisch e Kalisch, 2004).
Nightingale. Nascida em 1820 em uma família rica, cresceu na A Segunda Guerra Mundial teve um efeito enorme sobre a
Inglaterra, foi bem-educada e viajou bastante. Apesar de forte enfermagem. Pela primeira vez, um grande número de mulheres
oposição da família, iniciou um treinamento de enfermagem aos saiu de casa para trabalhar. Elas se tornaram mais independentes
31 anos. O início da Guerra da Crimeia e uma solicitação para e confiantes. Tais mudanças, nas mulheres e na sociedade, leva-
que os britânicos organizassem a assistência de enfermagem ram a uma maior ênfase na educação. A guerra por si só criou a
para um hospital militar na Turquia deram-lhe a oportunidade necessidade de mais enfermeiras e resultou numa explosão de
de realização pessoal (Kalish e Kalish, 2004). Com a superação conhecimentos na medicina e na tecnologia, ampliando o papel
exitosa de imensas dificuldades, Florence Nightingale desafiou da enfermagem. Após a guerra, os esforços foram direcionados
os preconceitos contra as mulheres e elevou a condição de todas para o aperfeiçoamento do ensino de enfermagem. As escolas
as enfermeiras. Após a guerra, voltou à Inglaterra, onde iniciou basearam-se em objetivos educacionais e tornaram-se universi-
uma escola de treinamento para enfermeiras e escreveu livros dades, levando homens e mulheres, além de representantes das
sobre o atendimento de saúde e o ensino de enfermagem. Suas minorias, à graduação em enfermagem.
contribuições incluem: A profissão expandiu-se em todas as áreas, incluindo a prá-
tica em uma grande variedade de ambientes de atendimento de
● A identificação das necessidades pessoais do paciente e do saúde, o desenvolvimento de um corpo de conhecimentos espe-
papel da enfermeira no atendimento dessas necessidades cíficos, a realização e a publicação de pesquisas de enfermagem
● O estabelecimento de padrões para a administração hospitalar e o reconhecimento do papel da enfermagem na promoção da
● O estabelecimento de uma profissão respeitada para as saúde. Maior ênfase no conhecimento de enfermagem como
mulheres base para a prática levou a seu crescimento como disciplina pro-
● O estabelecimento do ensino de enfermagem fissional.
● O reconhecimento dos dois componentes da enfermagem –
saúde e doença
● A crença de que a enfermagem é separada e diferente da DEFINIÇÕES DA ENFERMAGEM
medicina A palavra enfermeiro (em inglês, nurse) originou-se da pala-
● O reconhecimento de que a nutrição é importante para a vra latina nutrix, significando nutrir. A maioria das definições
saúde de enfermagem descreve o enfermeiro como pessoa que nutre,
● A criação da terapia ocupacional e recreacional para pes- encoraja e protege, preparada para cuidar de doentes, feridos e
soas doentes idosos. Com a expansão dos papéis e das funções do enfermeiro
● O destaque da necessidade de educação continuada para na sociedade atual, no entanto, qualquer definição é demasiado
enfermeiras limitada.
● A manutenção de registros exatos, reconhecidos como os O International Council of Nurses (2002) captou bastante
primórdios da pesquisa de enfermagem do significado da enfermagem em sua definição:
Florence Nightingale elevou o status da enfermagem ao de A enfermagem abrange o cuidado autônomo e colaborativo de
profissão respeitada, melhorou a qualidade do atendimento e pessoas de todas as idades, das famílias, dos grupos e das co-
criou a base para o ensino moderno de enfermagem. Ela e outras munidades, saudáveis ou doentes, e em todos os locais. Inclui
enfermeiras com importância histórica, bem como imagens do a promoção da saúde, a prevenção de doenças e o cuidado de
início da enfermagem são mostradas na Figura 1.1. Pessoas im- doentes, incapacitados e pessoas que estão para morrer. Defesa,

Taylor-Enfermagem_01.indd 37 05/12/13 11:22


38 Taylor, Lillis, LeMone & Lynn

Florence Nightingale iniciou


as principais reformas nos
cuidados de saúde e no
treinamento de enfermeiras
na Inglaterra
Clara Barton, fundadora da Cruz
Vermelha Americana, em 1882

Sala de aula
em local de Isabel Hampton Robb,
treinamento líder destacada na
em Vassar, enfermagem e na
1918 educação em enfermagem

Cartaz de uma
escola de
enfermagem
após a
Segunda Guerra
Mary Mahoney, primeira
Mundial
enfermeira afro-americana
da América do Norte a se
graduar em uma faculdade
de enfermagem

Enfermeira no Hospital Geral da


Filadélfia no final dos anos 1800

FIGURA 1.1 Imagens de enfermeiras ao longo de mais de 100 anos de serviço. (Cortesia do Center for the Study of the History of Nursing,
University of Pennsylvania.)

promoção de um ambiente seguro, pesquisa, participação nos tos científicos ao processo de enfermagem e oferece uma relação
modelos de políticas de saúde e na administração de pacientes de envolvimento que facilita a saúde e a cura.
e sistemas de saúde, bem como educação, constituem papéis O foco principal em todas as definições de enfermagem
fundamentais da enfermagem. é o paciente (a pessoa que recebe o cuidado) e inclui a di-
mensão física, emocional, social e espiritual. A enfermagem
A American Nurses Association (ANA) descreve os valores
não é mais entendida como, primordialmente, preocupada
e a responsabilidade social da enfermagem, traz a definição e o
com o atendimento na doença. Os conceitos e as definições
âmbito da prática de enfermagem e discute sua base de conheci-
mentos, além de descrever os métodos pelos quais a enfermagem expandiram-se para incluir a prevenção da doença e a pro-
é regulamentada, no Nursing’s Social Policy Statement (2003). moção e a manutenção da saúde para indivíduos, famílias e
Na definição, os enfermeiros concentram-se nas experiências e comunidades.
reações das pessoas ao nascimento, à saúde, à doença e à morte,
no contexto individual, familiar, grupal e comunitário. A base de OBJETIVOS DA ENFERMAGEM
conhecimentos para a prática profissional inclui o diagnóstico, as
Quatro amplos objetivos de prática podem ser identificados nas
intervenções e a avaliação dos resultados, a partir de um plano
definições de enfermagem:
de cuidados estabelecido. Além disso, o enfermeiro integra dados
objetivos aos conhecimentos obtidos com a compreensão da ex- 1. Promover a saúde
periência subjetiva do paciente ou do grupo, aplica conhecimen- 2. Prevenir a doença

Taylor-Enfermagem_01.indd 38 05/12/13 11:22


Fundamentos de Enfermagem 39

TABELA • 1.1 Pessoas importantes no desenvolvimento da enfermagem na América do Norte


Pessoa Contribuição
Século XIX
Florence Nightingale Definiu a enfermagem como arte e ciência, diferenciou-a da medicina, criou o ensino de enfermagem independente,
publicou livros sobre enfermagem e atendimento de saúde; é considerada a fundadora da enfermagem moderna (ver o
texto para mais informações)
Clara Barton Voluntariou-se para cuidar dos feridos e alimentar os soldados durante a Guerra Civil norte-americana; atuou como super-
visora de enfermagem para a Army of the James, organizando hospitais e enfermeiros; estabeleceu a Cruz Vermelha nos
Estados Unidos, em 1882
Dorothea Dix Superintendente das Female Nurses of the Army durante a Guerra Civil norte-americana; assumiu o comando e o recruta-
mento de profissionais, além do equipamento de um pelotão de enfermeiras do exército; foi pioneira na luta pela refor-
ma do tratamento dos doentes mentais
Mary Ann Bickerdyke Organizou cozinhas dietéticas, lavanderias e serviço de ambulâncias, além de supervisionar a equipe de enfermagem du-
rante a Guerra Civil norte-americana
Louise Schuyler Enfermeira durante a Guerra Civil norte-americana, retornou a Nova York e organizou a New York Charities Aid Associa-
tion; essa organização trabalhou para melhorar a assistência aos doentes no Bellevue Hospital. Recomendou padrões
para o ensino de enfermagem
Linda Richards Primeira enfermeira treinada nos Estados Unidos; formanda no New England Hospital for Women and Children, em Bos-
ton, Massachusetts, em 1873; tornou-se superintendente noturna do Bellevue Hospital, em 1874, e começou a praticar
a manutenção de registros e a redação de ordens
Jane Addams Ofereceu assistência social em um bairro; foi líder dos direitos femininos, além de ter sido agraciada com o prêmio Nobel
da Paz em 1931
Lillian Wald Estabeleceu um serviço de enfermagem de bairro para os doentes pobres do baixo East Side, em Nova York; fundou a en-
fermagem de saúde pública
Mary Elizabeth Graduada pelo New England Hospital for Women and Children, em 1879, como a primeira enfermeira afro-descendente
Mahoney dos Estados Unidos
Harriet Tubman Enfermeira e abolicionista, foi ativa no movimento clandestino de ferrovias antes de juntar-se ao exército da União durante
a Guerra Civil norte-americana
Nora Gertrude Estabeleceu um programa de treinamento para enfermeiras no Montreal General Hospital (primeiro programa de três anos
Livingston na América do Norte).
Mary Agnes Snively Diretora da escola de enfermagem no Toronto General Hospital e uma das fundadoras da Canadian Nurses Association
Sojourner Truth Não apenas prestou assistência aos soldados durante a Guerra Civil, como também atuou no movimento feminista
Isabel Hampton Líder na enfermagem e na formação da área, organizou a escola de enfermagem no Johns Hopkins Hospital, onde iniciou
Robb políticas que incluíam a limitação de horas trabalhadas por dia e escreveu um livro para auxiliar o aprendizado dos alu-
nos; foi a primeira presidente da Nurses Associated Alumnae of the United States and Canada (que, mais tarde, tornou-
-se a American Nurses Association)

Século XX
Mary Adelaide Como membro do corpo docente do Teacher’s College, Columbia University, tornou-se a primeira professora de enferma-
Nutting gem no mundo e, com Lavinia Dock, publicou quatro volumes da História da Enfermagem
Elizabeth Smellie Membro da primeira Victorian Order of Nurses for Canada (grupo que oferecia enfermagem de saúde pública); organizou
a Canadian’s Women’s Army Corps durante a Segunda Guerra Mundial
Lavinia Dock Enfermeira líder e ativista dos direitos femininos; foi essencial na emenda constitucional que deu o direito de voto às mulheres
Mary Breckenridge Estabeleceu o Frontier Nursing Service e uma das primeiras escolas para parteiras nos Estados Unidos
Margaret Sanger Fundadora da Planned Parenthood

3. Restaurar a saúde Enfermeiros com habilidades cognitivas pensam suficien-


4. Facilitar o enfrentamento da incapacitação e da doença temente sobre a natureza das coisas para “dar sentido” a seu
mundo e compreender, através de conceitos, o necessário para o
Para atingir esses objetivos, o enfermeiro vale-se de conhe-
alcance das metas que valorizam. Enfermeiros com habilidades
cimentos, habilidades e pensamento crítico para prestar atendi-
cognitivas conseguem:
mento em uma variedade de papéis de enfermagem tradicionais
e ampliados. O Quadro 1.2 traz exemplos. Os enfermeiros uti- ● Oferecer uma justificativa científica ao plano de assistência
lizam quatro competências essenciais: cognitivas, técnicas, in- ao paciente (as ciências incluem ciência da enfermagem
terpessoais e éticas/legais para o oferecimento de atendimento e da medicina, além de ciências básicas, como química,
seguro e habilitado. microbiologia, anatomia, fisiologia, psicologia, sociologia
e antropologia)

Taylor-Enfermagem_01.indd 39 05/12/13 11:22


40 Taylor, Lillis, LeMone & Lynn

Quadro 1.1 LINHA DE TEMPO DO DESENVOLVIMENTO DOS DOCUMENTOS QUE FUNDAMENTAM


A ENFERMAGEM
1859 Florence Nightingale publica Notes on Nursing: What It Is and What It Is Not
1896 Fundação da Nurses Associated Alumnae of the United States and Canada. Mais tarde viria a ser a American Nurses Associa-
tion (ANA), tendo como primeira finalidade estabelecer e manter um código de ética.
1940 É publicado um Tentative Code (Código Experimental) no American Journal of Nursing, embora jamais tenham sido adotado
formalmente.
1950 É aceito com unanimidade pela House of Delegates da ANA o Code for Professional Nurses, na forma de 17 disposições, que
são uma revisão importante do Tentative Code.
1952 É publicado o primeiro número do Nursing Research.
1956 São feitas emendas no Code for Professional Nurses.
1960 É revisado o Code for Professional Nurses.
1968 É feita uma revisão substancial no Code for Professional Nurses, com a condensação dos 17 enunciados do código em dez.
1973 A ANA publica o primeiro Standards of Nursing Practice.
1976 É publicado o Code for Nurses With Interpretive Statements, uma modificação dos enunciados interpretativos e disposições,
com 11 disposições.
1980 A ANA publica Nursing: A Social Policy Statement.
1985 O National Institutes of Health organiza o Center for Nursing Research (Centro de Pesquisas em Enfermagem).
A ANA publica Titling for Licensure.
O Code for Nurses with Interpretive Statements mantém as cláusulas da versão de 1976 e inclui enunciados interpretativos
revisados.
A House of Delegates da ANA compõe uma força-tarefa para, formalmente, documentar o alcance da prática da enfermagem.
1987 A ANA publicaThe Scope of Nursing Practice.
1990 A House of Delegates da ANA compõe uma força-tarefa para revisar Standards of Nursing Practice, de 1973.
1991 A ANA publica Standards of Clinical Nursing Practice.
1995 A ANA publica Nursing’s Social Policy Statement.
O Congress of Nursing Practice orienta o committee on Nursing Practice Standards and Guidelines (Comitê de Padrões e DIretri-
zes de Prática da Enfermagem) para estabelecer um processo de análise crítica e revisão periódica dos padrões de enfermagem.
1996 A ANA publica Scope and Standards of Advanced Practice Registered Nursing.
1998 A ANA publica Standards of Clinical Nursing Practice, segunda edição (conhecido também como Clinical Standards).
2001 É aceito pela House of Delegates da ANA o Code of Ethics With Interpretive Statements. A ANA publica Bill of Rights for
Registered Nurses
2002 A ANA publica Nursing’s Agenda for the Future: A Call to the Nation.
2003 A ANA publica Nursing’s Social Policy Statement, segunda edição.
A ANA publica Nursing: Scope and Standards of Practice.

Fonte: American Nurses Association (ANA). (2003). Nursing: Scope and standards of practice. Washington DC: Nursebooks.org.© 2001 By American Nurses
Association, Reimpresso com permissão. Todos os direitos reservados.

● Selecionar as intervenções de enfermagem que, mais pro- Enfermeiros com habilidades interpessoais estabelecem e
vavelmente, levem aos resultados desejados mantêm relações de cuidado que facilitam o alcance de metas
● Usar o pensamento crítico para resolver problemas com valorizadas, ao mesmo tempo em que confirmam o valor dos
criatividade envolvidos na relação. Quem possui essas habilidades consegue:
Enfermeiros com habilidades técnicas manipulam os equi- ● Usar interações com pacientes, com pessoas significativas
pamentos para produzir uma consequência ou um resultado de- e com colegas, confirmando seu valor
sejado. Competência técnica envolve tudo, da destreza manual ● Provocar os pontos fortes e as capacidades pessoais de pa-
e da boa coordenação olhos-mãos até a capacidade de detectar cientes e de pessoas significativas para o alcance das metas
problemas diante de mau funcionamento do equipamento, com de saúde valorizadas
base na compreensão dos detalhes técnicos desse equipamento. ● Proporcionar o cuidado com a equipe assistencial com
Enfermeiros com habilidades técnicas conseguem: conhecimento sobre os valores, as metas e as expectativas
dos pacientes
● Usar equipamento técnico com competência e facilidade ● Trabalhar, de forma cooperativa, com outros membros da
suficientes para o alcance de metas com sofrimento míni-
equipe de saúde, como um colega respeitável e confiável,
mo aos participantes envolvidos
para que sejam alcançadas as metas valorizadas
● Adaptar, com criatividade, equipamentos e procedimentos
técnicos às necessidades de cada paciente, em diversas Enfermeiros com habilidades éticas e legais conduzem seus
circunstâncias atos evidenciando coerência com seu código moral pessoal e

Taylor-Enfermagem_01.indd 40 05/12/13 11:22


Fundamentos de Enfermagem 41

Quadro 1.2 COMO VOCÊ CONSEGUE SER ENFERMEIRO?

Como você consegue ser enfermeiro? Como pode suportar o so- Como você consegue ser enfermeiro? Tantos pacientes são tão
frimento de crianças? idosos, tão doentes em nossos dias. Como você pode viver com a
Ao embalar e acalmar uma criança que sofre, fazendo com que ideia de, no fim das contas, seus cuidados não fazerem qualquer
ela consiga dormir em paz, você sentirá o alívio dessa criança diferença?
como uma bênção. Depois, essa pergunta não fará mais sentido. Espere até você usar suas mãos, seus olhos e sua voz para afastar
o terror, para mostrar a uma pessoa desamparada que sua vida é
respeitada, que ela tem dignidade. Seu cuidado ajuda essa pes-
soa a preocupar-se consigo mesma...

Foto © Barbara Proud


Foto de Joe Mitchell
Como você consegue ser enfermeiro? Como suporta cuidar de Como você consegue ser enfermeiro? Como suporta o som do
pacientes que levam à frustração, por estarem tão confusos devi- choro dos bebês?
do à doença de Alzheimer? Espere até sua combinação de vigilância, defesa ferrenha e
Espere até encontrar uma combinação de estratégias que propi- manuseio gentil oferecer aos pulmões de um bebezinho o mo-
ciem exercício e permitam uma deambulação segura, e verá um mento necessário para seu desenvolvimento, e você escutará seu
reviver, quase um brotar, no modo arrastado de andar de um pa- primeiro choro vigoroso. Você rirá muito alto!
ciente. Você sentirá a leveza de um Baryshnikov em seu próprio
andar naquele dia.

Foto de Joe Mitchell

Continue querendo ser enfermeiro. Você terá dias de frustração, noites de deses-
pero, momentos de muita raiva. Seus altos e baixos são picos e abismos, nada de
montanhas e vales. As derrotas aparecem com frequência suficiente para mantê-
-lo humilde; os problemas sem saída, as vidas interrompidas tão depressa, os senti-
dos que atrapalham sua compreensão. Mas não desista de se ocupar de tudo isso,
de aprender com tudo isso, sabendo que o pico seguinte está logo em frente.

Mary Mallison
Editorial, Abril de 1987
Foto de Joe Mitchell American Journal of Nursing

Taylor-Enfermagem_01.indd 41 05/12/13 11:22


42 Taylor, Lillis, LeMone & Lynn

com suas responsabilidades resultantes do papel profissional.


Quadro 1.3 EXEMPLOS DE AMBIENTES PARA
Enfermeiros com essas habilidades conseguem:
O CUIDADO DE ENFERMAGEM
● Despertar a confiança em seus atos de modo a levar adiante
os interesses dos pacientes Hospitais
● Responder pela prática a eles mesmos, aos pacientes assis- Centros de cirurgia ambulatorial
tidos, à equipe de assistência e à sociedade Serviços emergenciais de helicóptero
● Agir com efetivo apoio aos pacientes Clínicas
● Mediar conflitos éticos entre paciente, pessoas significati- Domicílio
Programas educacionais
vas, equipe de assistência e outros envolvidos
Unidades básicas de saúde pública
● Praticar com confiança a enfermagem em relação aos prin- Consultórios médicos
cípios dos códigos de ética profissional e com os padrões Indústria
de prática apropriados Instituições de assistência prolongada
● Usar salvaguardas legais que reduzem o risco de processos Unidades móveis de assistência à saúde
legais Escolas
Consultórios
O principal papel do enfermeiro como prestador de cui- Atendimento ao paciente terminal
dados adquire forma e substância através dos papéis inter- Instituições de saúde mental
-relacionados de comunicador, professor, conselheiro, líder, Programas de saúde de instituições governamentais
pesquisador, defensor e colaborador. Esses estão descritos na Instituições de assistência habilitadas
Tabela 1.2, sendo amplamente discutidos na Unidade V. Esses Igrejas
papéis são desempenhados pelo enfermeiro em ambientes di- Prisões
ferentes, com cuidados oferecidos cada vez mais no domicílio
e nas comunidades. Exemplos de ambientes de atendimento
estão listados no Quadro 1.3, com descrição detalhada nos Ca- Promoção da saúde
pítulos 8 e 10.
A saúde é o estado ideal de funcionamento ou de bem-estar.
➤ Lembrar Roberto Pecorini, o paciente de 38 anos com cân- Conforme definida pela Organização Mundial da Saúde, a saúde
de cada um de nós inclui componentes físicos, sociais e mentais,
cer metastático. Ao atender o sr. Pecorini, o enfermeiro assume não sendo meramente a ausência de doença ou de enfermidade.
o papel de cuidador, mantendo a segurança do paciente o tem- Saúde é, muitas vezes, um estado subjetivo: a pessoa pode ser
diagnosticada clinicamente com uma enfermidade e ainda assim
po todo e explicando-lhe todas as intervenções a serem feitas, considerar-se saudável. Bem-estar, termo em geral associado a
educando-o. ■ saúde, é uma condição de estar saudável, tendo um estilo de vida
que promove uma boa saúde física, mental e emocional. Mode-
los de saúde e de bem-estar são descritos no Capítulo 3.

TABELA • 1.2 Papéis da enfermagem em todos os ambientes


Papel Função
Cuidador Prestação de cuidado que combina tanto a arte quanto a ciência da enfermagem na assistência das necessidades
físicas, emocionais, intelectuais, socioculturais e espirituais. Atuação como cuidador, professor, conselheiro, líder,
pesquisador, defensor e colaborador para promover o bem-estar por meio de atividades que previnem a doença,
restauram a saúde e facilitam o enfrentamento da deficiência ou da morte. Este é o principal papel do enfermeiro

Comunicador Uso de habilidades interpessoais e de comunicação terapêutica eficazes para estabelecer e manter relacionamentos
de cooperação com pacientes de todas as idades, em uma grande variedade de ambientes de assistência à saúde

Professor/Educador Uso de habilidades de comunicação para investigar, implementar e avaliar os planos de ensino individualizados para
a assistência às necessidades de aprendizado de pacientes e de suas famílias

Conselheiro Uso de habilidades de comunicação terapêutica para proporcionar informações, fazer encaminhamentos apropria-
dos e facilitar as habilidades de resolução de problemas e de tomada de decisão do paciente

Líder Prática de enfermagem assertiva e autoconfiante quando presta cuidado, realizando mudanças e atuando em
grupos

Pesquisador Participação ou condução de pesquisa para aumentar o conhecimento em enfermagem e melhorar o cuidado ao
paciente

Defensor Proteção dos direitos humanos ou legais e garantia de assistência para todos, com base na crença de que os pacien-
tes têm o direito de tomar decisões informados sobre sua própria saúde e sua vida

Colaborador Uso eficaz de habilidades de organização, comunicação e defesa de modo a facilitar as funções de todos os mem-
bros da equipe de saúde ao atender o paciente

Taylor-Enfermagem_01.indd 42 05/12/13 11:22


Fundamentos de Enfermagem 43

Saúde é elemento essencial de cada uma das demais metas Promover a saúde é o referencial das atividades dos enfer-
da enfermagem. Os enfermeiros promovem a saúde, identifican- meiros. Esses profissionais levam em conta a autopercepção do
do, analisando e maximizando os pontos fortes de cada paciente, paciente, a conscientização da saúde e o uso de recursos enquan-
como componentes de prevenção de doenças, restauração da saú- to prestam assistência. Utilizando conhecimentos e habilidades,
de e facilitação do enfrentamento das deficiências ou da morte. o enfermeiro faz:
● Facilita decisões relativas ao estilo de vida que intensifi-
➤ Ao ensinar um paciente como o sr. Rowlings, descrito no
cam a qualidade de vida e estimulam a aceitação da res-
começo do capítulo, com fatores de risco para doença cardíaca, ponsabilidade pela própria saúde
o enfermeiro deve focalizar o plano de ensino, de modo a contar ● Aumenta a percepção da saúde, ajudando o paciente a
entender que saúde é mais que não estar doente, ensinando
com os recursos do paciente. Embora o que o paciente afirme que alguns comportamentos e fatores diminuem a saúde ou
reflita uma relutância em aprender e mudar, a ênfase nos re- podem contribuir para diminuí-la
● Ensina atividades de autocuidado para maximizar o alcan-
cursos que possui pode ajudá-lo a sentir que controla a própria ce de metas realistas e possíveis de serem atingidas; atua
vida, na expectativa de, assim, incentivá-lo a fazer as mudan- como modelo
● Encoraja a promoção da saúde, dando informações e reali-
ças necessárias. ■ zando encaminhamentos
A promoção da saúde é motivada pelo desejo de aumentar o
bem-estar e o potencial de saúde das pessoas (Pender, Murdaugh Prevenção de doenças
e Parsons, 2006). O nível de saúde é afetado por muitos fatores Os objetivos das atividades de prevenção de doenças são reduzir
inter-relacionados, que tanto promovem a saúde quanto aumen- o risco de doença, promover bons hábitos de saúde e manter o
tam o risco de doença. Esses fatores incluem herança genética, funcionamento ideal. A motivação para tanto está em evitar ou
capacidades cognitivas, nível educacional, raça, etnia, cultura, conseguir detectar, precocemente, a doença, ou manter o fun-
idade, gênero, nível de desenvolvimento, estilo de vida, ambien- cionamento dentro das restrições provocadas pela enfermidade
te e situação socioeconômica. O nível de saúde ou de bem-estar (Pender e col., 2006). Os enfermeiros previnem a doença, ba-
recebe também forte influência do que é denominado “conheci- sicamente, ensinando e atuando como exemplo pessoal. Essas
mentos de saúde”. Ter um mínimo de conhecimentos de saúde, atividades incluem:
conforme o U.S. Department of Health and Human Services,
no documento Healthy People 2010, é a capacidade do paciente ● Programas educacionais em áreas como cuidado pré-natal
para conseguir, processar e compreender as informações básicas para gestantes, programas para a interrupção do tabagismo
necessárias para a tomada de decisões apropriadas sobre a saúde. e seminários para a redução do estresse
Exemplos de como o enfermeiro pode desenvolver conhecimen- ● Programas e recursos comunitários que encorajam estilos
tos básicos de saúde estão em todo o livro. de vida saudáveis, como aulas de exercícios aeróbicos, hi-
O Healthy People 2010 ainda estabelece diretrizes de promo- droginástica e programas de condicionamento físico
ção da saúde para todo o país. Essas diretrizes concentram-se no ● Literatura e televisão, rádio ou Internet como fontes de
atendimento de duas metas mais importantes: (1) aumentar a quali- informação sobre dieta saudável, exercício regular e im-
dade e os anos de uma vida saudável e (2) eliminar disparidades de portância de bons hábitos
saúde. As diretrizes têm dez Principais Indicadores de Saúde, uti- ● Investigação de saúde em instituições, clínicas e ambientes
lizados para mensurar a saúde do país durante dez anos. Eles estão comunitários que identificam as áreas positivas e os riscos
no Quadro 1.4 e refletem as principais preocupações de saúde nos de enfermidades
Estados Unidos, no começo do século XXI. Sua seleção baseou-se
na capacidade de motivarem ação, na disponibilidade de mensura- ➤ Lembre-se de Albert Rowlings, o paciente de 62 anos, com
rem o progresso e na importância como assuntos de saúde pública. risco de doença cardíaca, descrito no começo do capítulo. O en-
fermeiro participa da prevenção da doença, promovendo um
comportamento mais saudável ao enfrentar a resistência do
Quadro 1.4 HEALTHY PEOPLE 2010:
PRINCIPAIS INDICADORES DE SAÚDE
paciente à mudança e ao ensinar as mudanças no modo de
vida, necessárias para reduzir o risco de desenvolver uma
● Atividade física
● Excesso de peso e obesidade doença cardíaca. ■
● Tabagismo
● Abuso de substâncias Restauração da saúde
● Comportamento sexual responsável As atividades que restauram a saúde englobam as áreas tradicio-
● Saúde mental nalmente consideradas de responsabilidade do enfermeiro. Elas
● Lesão e violência
enfocam o indivíduo com uma enfermidade e variam da detec-
● Qualidade ambiental
● Imunizações ção precoce de uma doença até a reabilitação e o ensino durante
● Acesso a atendimento de saúde a recuperação. Essas atividades incluem:

U.S. Department of Health and Human Services. Office of Disease Prevention


● Realização de investigações que detectam uma doença (p.
and Health Promotion. (2000). Healthy people 2010. Washington, DC: U.S. ex., verificação da pressão arterial, mensuração do açúcar
Department of Health and Human Services. no sangue)

Taylor-Enfermagem_01.indd 43 05/12/13 11:22


44 Taylor, Lillis, LeMone & Lynn

● Encaminhamento de perguntas e de achados anormais a em evidências, o que significa uma prática que se apoia mais na
outros profissionais da saúde, conforme apropriado pesquisa do que na intuição.
● Assistência direta ao enfermo por meio de medidas, como A enfermagem evoluiu historicamente de um serviço técni-
atendimento físico, administração de medicamentos e rea- co a um processo centrado na pessoa, que maximiza o potencial
lização de procedimentos e tratamentos em todas as dimensões humanas. Trata-se de um processo ativo
● Colaboração com outros prestadores de serviços de saúde de desenvolvimento, que utiliza lições do passado para a obten-
● Planejamento, ensino e realização da reabilitação para ção de conhecimentos.
doenças, como ataque cardíaco, artrite e AVC
● Trabalho em programas de saúde mental e de dependência
química PREPARAÇÃO EDUCACIONAL PARA A
PRÁTICA DE ENFERMAGEM*
Facilitação do enfrentamento da A preparação educacional para a prática de enfermagem envolve
incapacitação e da morte vários tipos de programas que levam à obtenção de uma licen-
ça, ou a autoridade legal de exercer a prática como enfermeiro
Embora as principais metas da assistência à saúde sejam a profissional. Os estudantes podem optar por um programa de
promoção, a manutenção e a restauração da saúde, elas nem enfermagem prática, tornando-se enfermeiros de prática me-
sempre podem ser atingidas. Os enfermeiros também facilitam diante licença (LPN), ou por outro que confere um diploma, um
o enfrentamento, pelo paciente e pela família, de funções al- grau associado, ou um programa de bacharelado, para exercer
teradas, crises de vida e morte. Uma função alterada diminui a profissão como enfermeiros com registro profissional (RN).
a capacidade do indivíduo para realizar as atividades da vida As leis estaduais, nos Estados Unidos, reconhecem tanto os
diária e os papéis esperados. Os enfermeiros facilitam um nível enfermeiros com licença para praticar (LPN), quanto os enfer-
ideal de funcionamento pela maximização dos recursos e do meiros com registro (RN), como credenciados para praticar a
potencial da pessoa por meio do ensino e do encaminhamento enfermagem. Cada vez mais, vários níveis de formação de en-
aos sistemas de apoio comunitários. Esses profissionais cuidam fermagem oferecem programas para o avanço educacional. Por
de pacientes e de famílias, durante a assistência no fim da vida, exemplo, o enfermeiro com licença para praticar pode obter um
seja em hospitais, em instituições de assistência prolongada e grau associado, tornando-se um enfermeiro registrado; este, com
no domicílio. Eles são ativos em programas de assistência ao um diploma ou um grau associado, pode se tornar bacharel em
paciente terminal, auxiliando-o e a família na preparação para a ciências da enfermagem (BSN). Existem também programas de
morte e procurando tornar a vida tão confortável quanto possí- mestrado a enfermeiros registrados, bem como programas que
vel até que o óbito ocorra. possibilitam ao enfermeiro com bacharelado a obtenção do grau
de doutor (PhD). Os programas de graduação em enfermagem
ENFERMAGEM COMO DISCIPLINA oferecem graus de mestrado e doutorado.
PROFISSIONAL A preparação educacional passou a ser uma questão im-
portante para o profissional; os múltiplos métodos de formação
Com a ampliação das definições de enfermagem para descrever confundem os empregadores, os consumidores de atendimento
com maior clareza os papéis e as ações dos enfermeiros, maior de saúde e os próprios enfermeiros. As organizações de enferma-
atenção vem sendo dispensada à enfermagem como discipli- gem trabalham muito para responder a perguntas como: “O que
na profissional. Ela faz uso de conhecimentos prévios e novos é enfermagem técnica?” e “O que é enfermagem profissional?”,
para solucionar problemas de forma criativa e para satisfazer às assim como “Os formados oriundos de programas diferentes
necessidades humanas dentro de limites que estão sempre mu- devem fazer o mesmo exame para licenciamento para a prática
dando. Cada vez mais, a enfermagem é reconhecida como uma e obter a mesma titulação?”. Esses questionamentos, provavel-
profissão, com base nos critérios a seguir: mente, serão resolvidos durante a carreira de cada profissional
● Corpo bem definido de conhecimentos específicos e únicos da enfermagem. As seções seguintes discutem a atual formação
● Forte orientação para assistir de LPNs e de RNs, e ainda a graduação de enfermagem, a educa-
● Autoridade reconhecida por um grupo profissional ção continuada e a educação em serviço.
● Código de ética
● Organização profissional que estabelece padrões Educação de enfermagem prática e
● Pesquisa contínua profissionalizante
● Autonomia
Os programas práticos de enfermagem (também chamados de
A enfermagem envolve habilidades especializadas e apli- profissionalizantes) foram estabelecidos para ensinar os for-
cação de conhecimentos com base em uma formação que tem mandos a prestar assistência junto ao leito dos pacientes. Nos
componentes teóricos e de prática clínica. Os enfermeiros são Estados Unidos, as escolas com programas de enfermagem
orientados por padrões estabelecidos por organizações profis- prática localizam-se em vários ambientes de atuação, como
sionais e por um código de ética formalizado. A enfermagem escolas de ensino médio, escolas técnicas ou profissionali-
concentra-se nas reações humanas a problemas de saúde reais zantes, faculdades comunitárias e agências independentes. A
ou potenciais, focalizando mais o bem-estar, uma área de cui- maioria dos programas tem duração de um ano, dividido em
dados que abarca o conhecimento e as habilidades peculiares um terço de aulas teóricas e dois terços de horas em laborató-
da enfermagem. Esta é cada vez mais reconhecida como uma rios clínicos. Ao completarem o programa, os formandos de-
ciência, com qualificações acadêmicas, pesquisa e publicações
específicas, com aceitação e respeito amplos. Além disso, as * N. de R. T.: Esta seção diz respeito à formação profissional do enfermeiro
intervenções de enfermagem focalizam a prática fundamentada nos Estados Unidos.

Taylor-Enfermagem_01.indd 44 05/12/13 11:22


Fundamentos de Enfermagem 45

vem ser submetidos ao exame do National Council Licensure registro profissional (RNs). Uma abordagem mais aprofundada
Examination-Practical Nurse (NCLEX-PN) para a obtenção da da obtenção da licença para praticar está neste capítulo, na seção
licença de prática como LPN. Esses enfermeiros trabalham sob de Atos e Licença para a Prática da Enfermagem.
a supervisão de um médico ou de um enfermeiro com registro
profissional (RN) na assistência direta aos pacientes, enfocan- Diploma em enfermagem
do as necessidades de atendimento de saúde em hospitais, casas Muitos enfermeiros em exercício nos Estados Unidos, atual-
geriátricas e agências de atendimento domiciliar. mente, fizeram a educação básica em enfermagem, durante três
anos, em uma escola vinculada a um hospital, que fornece diplo-
Educação de enfermagem para obtenção de ma (Ellis e Hartley, 2007). As primeiras escolas de enfermagem
registro profissional estabelecidas para formar enfermeiros foram os programas com
Nos Estados Unidos, três tipos de programas educacionais levam diplomas, que, até a década de 1960, foram a principal fonte de
à obtenção da licença para atuar como RN: (1) programa para a profissionais graduados. Nos últimos anos, diminuiu considera-
obtenção de diploma, (2) programa de graduação associada e (3) velmente o número de programas com diplomas.
programa de bacharelado. Os formandos dos três programas rea- Os formandos dos programas com diploma têm uma base
lizam o exame NCLEX-RN. Embora seja um exame nacional, é sólida de ciências biológicas e sociais, com forte ênfase na ex-
administrado em cada Estado norte-americano, sendo a licença periência clínica no cuidado direto do paciente. Trabalham em
de prática dada pelo Estado em que o exame foi feito com êxi- estabelecimentos de assistência a pacientes graves, pacientes
to. É ilegal praticar a enfermagem sem possuir uma licença que que requerem cuidados prolongados ou ambulatoriais (Ellis e
comprove a conclusão de um programa credenciado pelo Estado Hartley, 2007).
e ter sido aprovado no exame que confere a licença para praticar.
Os enfermeiros obtêm direitos legais para exercer suas ativida- Graduação associada em enfermagem
des em outro Estado, submetendo-se ao conselho de enferma- Grande parte da graduação associada em enfermagem (AND)
gem do Estado em questão e recebendo a licença recíproca. A ocorre em faculdades comunitárias ou de duração menor (junior
Tabela 1.3 resume os tipos de formação para enfermeiros com colleges). Esses programas de formação em dois anos atraem

TABELA • 1.3 Resumo dos tipos de programas educacionais para enfermeiros com registro profissional (RNs)
nos Estados Unidos
Diploma Grau associado Bacharelado
Localização Hospital Faculdade comunitária Faculdade ou universidade

Duração 24 a 36 meses Dois anos acadêmicos ou do Quatro anos acadêmicos


calendário

Conteúdo do curso Ciências biológicas Ciências básicas Ciências básicas


Ciências físicas Ciências sociais Educação geral
Teoria da enfermagem Educação geral Ciências sociais
Prática da enfermagem Teoria da enfermagem Teoria da enfermagem
Prática da enfermagem Prática da enfermagem
Pesquisa da enfermagem
Saúde comunitária
Administração

Componente clínico Hospital e ambientes comuni- Hospital e ambientes comuni- Uma série de ambientes nos quais são pres-
tários tários tados cuidados de saúde e assistência por
enfermeiro

Oportunidades educa- Se vinculado a uma faculdade, Os créditos costumam ser apli- Base para a educação avançada nos níveis de
cionais posteriores alguns créditos podem ser cados à obtenção de um grau mestrado e doutorado
transferidos para a obtenção de bacharel em ciências da
do grau de bacharel em ciên- enfermagem (BSN)
cias da enfermagem (BSN)

Competências na for- Planeja e presta cuidado direto Planeja e presta cuidado direto Planeja e presta cuidado direto a pacientes
matura a pacientes em ambientes a pacientes em ambientes es- individuais, grupos e comunidades
estruturados truturados Dirige outros membros da equipe de saúde no
Trabalha com outros membros Trabalha com outros membros planejamento e na prestação de cuidados a
da equipe de assistência de da equipe de assistência de pacientes enfermos e pacientes saudáveis,
saúde para planejar e propor- saúde para planejar e propor- em uma variedade de ambientes; assume
cionar cuidados aos pacientes cionar cuidados aos pacientes papéis de liderança; proporciona assistência
enfermos enfermos de saúde completa, inclusive promoção da
saúde, prevenção da doença, reabilitação,
aconselhamento educacional e de saúde

Taylor-Enfermagem_01.indd 45 05/12/13 11:22


46 Taylor, Lillis, LeMone & Lynn

mais homens, mais representantes de minorias e estudantes não na enfermagem de nível superior. Os estudantes adquirem co-
tradicionais do que os outros tipos de programas. A educação nhecimentos de teoria e de prática relacionadas à enfermagem e
para obtenção de grau associado prepara enfermeiros para cui- a outras disciplinas, oferecem cuidado de enfermagem a indiví-
dar de pacientes em vários ambientes, de hospitais, instituições duos e grupos, trabalham com membros da equipe de assistência
para assistência prolongada, até em domicílios. Os graduados de saúde, usam a pesquisa para melhorar a prática e possuem os
desses programas estão tecnicamente habilitados e bem prepa- fundamentos para uma graduação, em busca de um mestrado e/
rados para o desempenho de papéis e funções de enfermagem. ou doutorado. Os que se formam em um programa de diploma
As competências de um profissional com grau associado de ou graduação associada e desejam atender às exigências para o
enfermagem (ADN) que inicia a prática, conforme definidas bacharelado podem optar por inscrever-se em um programa de-
pela National League for Nursing (NLN), englobam os papéis senvolvido num campus universitário, pela Internet (online) ou
de prestador de assistência, gerente de assistência e membro da um programa externo, que confere do registro profissional (RN)
disciplina de enfermagem. ao grau de bacharel. Há ainda programas acelerados de bachare-
lado para pessoas que já possuem uma graduação em outra área.
Bacharelado em enfermagem
Os primeiros programas de bacharelado em enfermagem foram Educação de enfermagem em
estabelecidos nos Estados Unidos no início do século XX. O nível de graduação
número de programas e de estudantes inscritos, no entanto, só Os dois níveis de educação para graduação em enfermagem
aumentou de forma significativa a partir da década de 1960. A conferem os graus de mestre e de doutor. O mestre prepara os
maioria dos formandos recebe um grau de bacharel em ciência enfermeiros da prática avançada para atuarem em ambientes
de enfermagem (BSN). educacionais, exercerem papéis gerenciais, desenvolverem es-
As recomendações de organizações nacionais de enferma- pecialidades clínicas e desempenharem suas funções em várias
gem para que a porta de entrada para a prática profissional seja o áreas de prática avançada, como enfermeiros obstetras e enfer-
nível de bacharelado resultaram em um aumento na quantidade meiros práticos (Tab. 1.4). Muitos enfermeiros com mestrado
desses programas. Embora os enfermeiros com bacharelado tra- obtêm certificação nacional em sua área de especialidade, por
balhem em uma grande variedade de ambientes, a graduação fei- exemplo, como a enfermagem de família (FNPs). Enfermeiros
ta em quatro anos é exigida para muitos cargos administrativos, com grau de doutor atendem às exigências para progresso acadê-
gerenciais e de saúde comunitária. mico e atuação em cargos administrativos. Estão também prepa-
Nos programas de bacharelado, a concentração em enfer- rados para a realização de pesquisas necessárias para a evolução
magem é elaborada sobre uma base de educação geral, com foco da teoria e da prática de enfermagem.

TABELA • 1.4 Papéis educacionais e de carreira expandidos dos enfermeiros


Título Descrição
Enfermeiro clínico especializado (p. ex., tera- Com graduação avançada, educação ou experiência, é considerado um especialista em deter-
peuta em enterostomia, geriatria, controle de minada área da enfermagem; oferece cuidado direto ao paciente; realiza consulta; ensina
infecção, médico-cirúrgico, materno-infantil, pacientes, famílias e equipe, além de fazer pesquisa
oncologia, garantia de qualidade, processo de
enfermagem)

Enfermeiro prático Com graduação avançada, credenciado para o cuidado de uma área especial ou faixa etária de
pacientes; trabalha em vários ambientes de assistência à saúde ou de forma independente,
fazendo investigações de saúde e prestando cuidado primário

Enfermeiro anestesista Concluiu o curso em uma escola de anestesia; realiza visitas e investigações pré-operatórias,
administra e monitora a anestesia durante a cirurgia e avalia o estado pós-operatório do
paciente

Enfermeiro obstetra Completou um programa para parteiros; presta cuidado pré e pós-natal e realiza o parto de
mulheres em gestações não complicadas

Enfermeiro educador Em geral, com graduação avançada, ensina em ambientes educacionais ou clínicos; ensina o
conhecimento teórico e as habilidades clínicas; realiza pesquisas

Enfermeiro administrador Age nos vários níveis de administração dos ambientes de assistência à saúde; é responsável
pelo gerenciamento e pela administração dos recursos e do corpo funcional envolvidos nos
cuidados ao paciente

Enfermeiro pesquisador Com graduação avançada, faz pesquisas relevantes para a definição e a melhoria da prática e
do ensino da enfermagem

Enfermeiro empreendedor Em geral, com graduação avançada, pode administrar uma clínica ou estabelecimento relacio-
nado à saúde, realizar pesquisa, proporcionar educação ou atuar como conselheiro ou con-
sultor para instituições, agências políticas ou negócios

Taylor-Enfermagem_01.indd 46 05/12/13 11:22


Fundamentos de Enfermagem 47

Educação continuada NLN


A ANA define educação continuada como as experiências de A NLN é uma organização aberta a todas as pessoas interessa-
desenvolvimento profissional destinadas a enriquecer a contri- das em enfermagem, incluindo enfermeiros, não enfermeiros e
buição do enfermeiro à saúde. Faculdades, hospitais, agências agências. Estabelecida em 1952, seu objetivo é fortalecer e aper-
voluntárias e grupos privados oferecem educação formal con- feiçoar todos os serviços de enfermagem. Esse órgão realiza um
tinuada por meio de cursos, seminários e oficinas. Em alguns dos maiores serviços de teste profissional no país, incluindo o
Estados norte-americanos, a educação continuada é exigida teste preliminar para potenciais estudantes e o teste de aprovei-
para que o enfermeiro com registro mantenha sua licença para tamento para medir o progresso deles. Age também como fonte
praticar. primária de dados de pesquisa sobre o ensino de enfermagem,
realizando levantamentos anuais das escolas e de novos enfer-
Educação em serviço meiros registrados. Essa organização proporciona ainda creden-
ciamento voluntário de programas educacionais de enfermagem.
Muitos hospitais e agências de assistência à saúde proporcionam
educação e treinamento para os empregados da instituição ou
AACN
da organização, a que se denomina formação no serviço. Essa
prática destina-se a aumentar e atualizar os conhecimentos e as A AACN é a voz a ser ouvida no país quando se trata de progra-
habilidades da equipe. Os programas podem envolver o aprendi- mas de educação em enfermagem para o bacharelado e títulos
zado de uma habilidade de enfermagem específica ou a forma de mais avançados. Suas metas concentram-se no estabelecimento
usar um equipamento novo. de padrões educacionais qualificados, na influência sobre a pro-
fissão de enfermeiro para o aperfeiçoamento dos cuidados de
saúde e na promoção de apoio público para a formação em nível
ORGANIZAÇÕES PROFISSIONAIS DE de bacharelado e graduação, para a pesquisa e para a prática da
ENFERMAGEM enfermagem. O credenciamento nacional de programas de en-
Um dos critérios de uma profissão é a existência de uma orga- fermagem em faculdades é fornecido (com base em atendimento
nização profissional que estabeleça os padrões para sua prática a padrões) através da AACN, pela Commission on Collegiate
e para seu ensino. As organizações profissionais preocupam-se Nursing Education (CCNE).
com assuntos atuais da enfermagem e da assistência à saúde e
influenciam as políticas e as leis concernentes. As vantagens de NSNA
pertencer a uma organização profissional incluem vinculação A NSNA é a organização nacional para estudantes matriculados
com os colegas, existência de voz em relação à legislação que em programas de educação em enfermagem e foi estabelecida
afeta a enfermagem e a atualização relativa às tendências e aos em 1952, com o auxílio da ANA e da NLN. Por meio de partici-
temas de enfermagem. pação voluntária, os estudantes praticam o autocontrole, defen-
dem direitos do estudante e do paciente e fazem ações coletivas,
Organização internacional de enfermagem comprometidas com questões sociais e políticas.
O International Council of Nurses (ICN), fundado em 1899, foi
a primeira organização internacional de mulheres profissionais. Organizações especializadas em
Compartilhando o compromisso de manter os altos padrões de prática da enfermagem e em interesses
serviço e do ensino de enfermagem e promovendo a ética, ele especiais de enfermagem
propicia uma forma de trabalho conjunto das organizações de Uma grande variedade de organizações de prática especializada
enfermagem nacionais. e de interesses especiais de enfermagem está disponível para
os enfermeiros. Essas organizações oferecem informações em
Organizações nacionais de enfermagem áreas específicas de enfermagem, possuem publicações na área
As organizações profissionais de enfermagem nos Estados Uni- de especialidade e podem estar envolvidas em atividades de
dos incluem a American Nurses Association (ANA), a National certificação. Exemplos dessas organizações encontram-se no
League for Nursing (NLN) e a American Association of Colle- Quadro 1.5.
ges in Nursing (AACN). A National Student Nurses’ Association
(NSNA) prepara os estudantes para participar de organizações
DIRETRIZES PARA A PRÁTICA DE
de enfermagem profissional.
ENFERMAGEM
ANA A enfermagem controla e garante sua prática por meio de pa-
A ANA é a organização profissional dos enfermeiros registrados drões, atos e licenciamento da prática do enfermeiro e do uso do
nos Estados Unidos. Fundada no final do século XIX, seus mem- processo de enfermagem. Todos servirão como orientação em
bros são oriundos de associações estaduais de enfermeiros. A seu ensino, como estudantes, e em sua prática de enfermagem,
missão principal inclui o envolvimento na educação pública, nos depois de formados.
padrões para a enfermagem clínica e na realização de pressão
sobre legisladores estaduais e federais para o progresso da en- Padrões da prática de enfermagem
fermagem profissional. Essa entidade trata da ética, das políti- A publicação de 2003 da ANA, Nursing: Scope and Standards
cas públicas e do bem-estar econômico e geral dos enfermeiros. of Practice, define as atividades que são específicas e exclusi-
As publicações da ANA incluem American Nurse Today, The vas da enfermagem. Os padrões permitem que os enfermeiros
American Nurse, Foundations of Nursing e Capitol Update. desempenhem os papéis profissionais, agindo como proteção

Taylor-Enfermagem_01.indd 47 05/12/13 11:22


48 Taylor, Lillis, LeMone & Lynn

mas todos têm determinados elementos em comum, como os


Quadro 1.5 EXEMPLOS DE ORGANIZAÇÕES
seguintes:
ESPECIALIZADAS DE PRÁTICA DE
● Protegem o público, definindo o âmbito legal da prática
ENFERMAGEM E DE INTERESSES ESPECIAIS EM de enfermagem, excluindo as pessoas não treinadas e não
ENFERMAGEM habilitadas para tanto
● Criam um conselho estadual de enfermagem ou um cor-
● American Academy of Nurse Practitioners po regulador, com autoridade para elaborar e controlar o
● American Assembly for Men in Nursing
cumprimento de regras e de regulamentos concernentes à
● American Association for the History of Nursing
● American Association of Nurse Attorneys
profissão
● American Holistic Nurses Association
● Definem termos importantes e atividades na enfermagem,
● Association of Nurses in AIDS Care incluindo as exigências legais e a titulação para os enfer-
● Dermatology Nurses Association meiros habilitados e os de prática licenciada
● Hospice Nurses Association ● Estabelecem critérios para o ensino e a obtenção da licença
● Oncology Nurses Society profissional dos enfermeiros
● Sigma Theta Tau International
● Transcultural Nursing Society O conselho de enfermagem de cada Estado tem autoridade
legal para permitir que os formandos das escolas de enfermagem
aprovadas façam o exame para obter licença para a prática da
para o profissional, para o paciente e para a instituição em que enfermagem. Os que atendem às exigências com successo re-
a assistência de saúde está sendo prestada. Cada enfermeiro cebem uma licença para praticar a enfermagem naquele Estado.
é responsável pela qualidade de sua prática e pelo uso desses A licença, que deve ser renovada a intervalos específicos, é vá-
padrões, visando assegurar a assistência de enfermagem infor- lida durante a vida de seu portador e é registrada no Estado. Há
mada, segura e completa. Os padrões ANA 2003, descritos no Estados que exigem uma quantidade específica de unidades de
Quadro 1.6, têm aplicação à prática da enfermagem profissio- educação continuada (CEUs) para a renovação e a manutenção
nal de todos os enfermeiros registrados, em qualquer local de da licença. Há duas formas pelas quais o profissional pode pra-
prática. ticar em Estados onde não conseguiu a licença. A reciprocida-
de é uma delas, permitindo que um enfermeiro se candidate a
enfermeiro registrado e receba a confirmação como enfermeiro
Atos e obtenção de licença para a prática da registrado por outro Estado. Há ainda 23 Estados que são mem-
enfermagem bros do Nurse Licensure Compact, o que possibilita a um en-
Os atos da prática de enfermagem são leis estabelecidas em fermeiro com licença, morador permanente de um dos Estados-
cada Estado norte-americano para regular a prática de enferma- -membros, o exercício da prática em outro Estado-membro, sem
gem. São redigidos de forma ampla e variam entre os Estados, que seja obtida outra licença (National Council of State Boards

Quadro 1.6 PADRÕES DE PRÁTICA DE ENFERMAGEM DA ANA

Padrões de prática Padrões de desempenho profissional


● Investigação: o enfermeiro coleta dados completos sobre a ● Qualidade da prática: o enfermeiro reforça sistematicamente
saúde ou a situação do paciente. a qualidade e a eficácia da prática de enfermagem.
● Diagnóstico: o enfermeiro analisa os dados de investigação ● Avaliação da prática: o enfermeiro avalia a própria prática
para a determinação dos diagnósticos ou dos problemas. em relação a padrões e diretrizes da prática profissional e a
● Identificação de resultados: o enfermeiro identifica os resul- estatutos, regras e regulamentos relevantes.
tados esperados para um plano individualizado do paciente ● Educação: o enfermeiro adquire conhecimentos e competên-
ou da situação. cias que refletem a atual prática de enfermagem.
● Planejamento: o enfermeiro elabora um plano que prescreve ● Coleguismo: o enfermeiro interage e contribui com o desen-
estratégias e alternativas para a obtenção dos resultados volvimento profissional de colegas, sejam eles enfermeiros ou
esperados. outros profissionais da saúde.
● Implementação: o enfermeiro implementa o plano iden- ● Colaboração: o enfermeiro colabora com o paciente, com a
tificado, coordena o oferecimento dos cuidados, emprega família e com os outros na realização da prática da enfer-
estratégias para promover a saúde e um ambiente seguro (o magem.
APRN* também oferece consultas e utiliza autoridade para ● Ética: o enfermeiro integra as provisões éticas a todas as
prescrever e tratar). áreas da prática.
● Avaliação: o enfermeiro avalia o progresso até a obtenção ● Pesquisa: o enfermeiro integra os achados de pesquisa à
dos resultados. prática.
● Utilização de recursos: o enfermeiro considera os fatores
relacionados à segurança, à eficácia e ao custo, além do
impacto sobre a prática, ao planejar e oferecer serviços de
enfermagem.
● Liderança: o enfermeiro oferece liderança na profissão e nos
locais de prática profissional.

*APRN  Advanced practice registered nurse (enfermeiro de prática avançada com registro) American Nurses Association. (2003). Nursing: Scope and standards
of practice. Washington, DC: Autora. Reproduzido com permissão da American Nurses Association.

Taylor-Enfermagem_01.indd 48 05/12/13 11:22


Fundamentos de Enfermagem 49

3.000.000

2.500.000
Demanda
Enfermeiros

2.000.000
Suprimento

1.500.000

1.000.000 FIGURA 1.2 Projeção do supri-


mento nacional e da demanda de
00

02

04

06

08

10

12

14

16

18

20
enfermeiros registrados FTE: 2000 a
20

20

20

20

20

20

20

20

20

20

20
Ano 2020. (Fonte: Bureau of Health Pro-
fessions [2002]. Projeção de supri-
Fonte: Bureau of Health Professions, RN Supply and Demand Projections (2002).
mento, demanda e carências de en-
fermeiros registrados: 2000-2020).

of Nursing, 2008). A licença e o direito de praticar a enferma- Falta de profissionais de enfermagem


gem podem ser negados, revogados ou suspensos por má condu- Enfermeiros com registro profissional constituem o maior grupo
ta profissional (p. ex., incompetência, negligência, dependência de provedores de cuidados de saúde nos Estados Unidos, che-
química ou ações criminais). gando a quase 2,9 milhões, com 2,4 milhões de profissionais
À medida que os papéis de enfermagem continuam a se ex- empregados em enfermagem (American Nurses Association,
pandir e as questões de enfermagem se resolvem, os novos atos 2006). No entanto, várias forças estão em ação para diminuir
revisados de prática de enfermagem refletirão essas mudanças. essa quantidade. Os profissionais estão envelhecendo, da mesma
Todos os enfermeiros devem conhecer o ato específico da prática forma que os professores necessários à sua formação. Ainda que
de enfermagem ao Estado em que exercem sua prática. mais homens e representantes das minorias ingressem na pro-
fissão, a quantidade não é suficiente para compensar os que se
Processo de enfermagem aposentam. Por volta de 2020, uma carência de enfermeiros co-
O processo de enfermagem é outro conjunto de diretrizes para locará em situação crítica a força de trabalho, conforme mostra
a prática de enfermagem. Os enfermeiros implementam seus a Figura 1.2. Essa redução continua a ocorrer, ao mesmo tempo
papéis por meio do processo de enfermagem, que integra tanto em que a população envelhece e desenvolve doenças crônicas e
a arte quanto a ciência de enfermagem – isto é, o processo de deficiências que exigem cuidados especializados.
enfermagem é a enfermagem que se vê.
Esse processo é usado pelo enfermeiro para identificar as Prática com base em evidências
necessidades de assistência à saúde do paciente e os recursos Embora os enfermeiros venham realizando e publicando pesqui-
do paciente, para estabelecer e realizar um plano de cuidados sas desde a década de 1950, apenas recentemente teve reconhe-
que atinja os resultados estabelecidos. O plano de cuidados cimento a importância do uso de evidências científicas para a
possibilita ao profissional o uso do pensamento crítico no ofe- elaboração de diretrizes dos cuidados de enfermagem. Por meio
recimento de cuidados individualizados e holísticos, bem como da identificação e da análise das melhores evidências científicas
na definição das áreas de assistência que estejam no campo da disponíveis, os enfermeiros desenvolvem incessantemente ou-
enfermagem. Pensamento crítico e processo de enfermagem são tras diretrizes de prática clínica úteis no país e em todo o mundo.
descritos em detalhe na Unidade III. Mais informações sobre a prática baseada em evidências podem
ser encontradas no Capítulo 5.
TENDÊNCIAS ATUAIS DA ENFERMAGEM
Enfermagem com base na comunidade
A enfermagem muda constantemente em resposta às necessida-
des e aos recursos da sociedade como um todo. O enfermeiro O atendimento de saúde é prestado cada vez mais em ambientes si-
também se modifica em resposta a fatores como as definições e tuados na comunidade, como as clínicas, os serviços ambulatoriais
os alvos da enfermagem, a preparação educacional e os papéis e as casas dos pacientes. Esse é um assunto da Unidade II. O que
práticos expandidos. As tendências discutidas a seguir estão, no impulsionou essa mudança foi, em grande parte, a implementação
momento, influenciando a formação dos enfermeiros e a sua de um sistema de cuidados gerenciados para controle e monito-
prática. Essas tendências e muitas outras constituem o pano de ração dos serviços de saúde, visando à minimização dos custos.
fundo para a enfermagem do novo século. Com os enfermeiros
continuando a definir a própria prática, o papel especial e exclu- Redução da permanência hospitalar
sivo da enfermagem no cuidado de outras pessoas será cada vez Apesar de os pacientes que exigem o atendimento hospitalar
mais reconhecido pela sociedade. como internos estarem mais gravemente enfermos ou lesionados

Taylor-Enfermagem_01.indd 49 05/12/13 11:22


50 Taylor, Lillis, LeMone & Lynn

do que no passado, sua permanência no hospital tem diminuído.


Essa tendência afeta a enfermagem de várias maneiras. Os en-
fermeiros empregados em hospitais devem ter conhecimento e
habilidades para prestar cuidado muitas vezes complexo para
pacientes muito enfermos. Em casa, esses profissionais podem
chegar a prestar quase o mesmo tipo de cuidado, bem como o
ensino do paciente e de sua família sobre formas de oferecimen-
to do autocuidado.

➤ Lembre-se de Michelle Fine, a jovem mãe com um bebê re-


cém-nascido que telefona ao berçário pedindo ajuda na ama-
mentação. O encaminhamento para acompanhamento domi-
ciliar antes que Michelle recebesse alta teria sido adequado no
sentido de oferecer apoio, orientação e ensino adicional. ■
FIGURA 1.3 Cresce o número de centros voltados para a saúde
População que envelhece da mulher, que contam com enfermeiros obstetras e especialistas
A população idosa está crescendo com mais rapidez que qual- em clínica geral, que promovem cuidados de saúde acessíveis.
quer outro grupo, com o maior aumento ocorrendo entre aque-
les com mais de 75 anos de idade. Essa tendência populacional
significa que os pacientes, em todos os locais de atendimento de um médico. Há mais de 200 mil enfermeiros de prática avançada
saúde, são cada vez mais idosos e exigem ensino e intervenções que oferecem cuidados primários de saúde e estabelecem a ne-
de enfermagem para suprir necessidades diferentes das de pa- cessidade de um uso futuro cada vez maior desses profissionais
cientes mais jovens. Consumidores mais idosos de atendimento (American Nurses Association, 2007).
de saúde também exigem mais intervenções para a prevenção
das doenças, novos projetos de edificação para o atendimento ● Desenvolvimento de habilidades de
de suas necessidades de moradia e enfoque em comunidades de
atendimento. A enfermagem necessitará continuamente de pes-
raciocínio crítico
quisas de aspectos de saúde relacionados aos muito idosos, às 1. Pense nos papéis e nas funções da enfermagem profissional
populações de outras etnias, à qualidade de vida e aos sistemas (ver Tab. 1.2). Entreviste vários enfermeiros em diferentes
inovadores de atendimento. ambientes de trabalho para verificar o valor que eles atri-
buem a esses papéis e por quanto tempo são capazes de se
Aumento das condições crônicas de saúde dedicar a eles.
Condições crônicas de saúde, como doença cardíaca, câncer, 2. Descreva como o enfermeiro alcançaria os objetivos da en-
doenças respiratórias e síndrome da imunodeficiência adquirida fermagem, tal como descritos neste capítulo (promoção da
(AIDS), são importantes problemas de saúde em nossa socie- saúde, prevenção da doença, restauração da saúde e facilita-
dade. Com o envelhecimento populacional, projeta-se que, por ção do enfrentamento), ao cuidar dos seguintes pacientes.
volta do ano 2030, cerca de 171 milhões de pessoas terão uma ● Uma mãe solteira que deu à luz seu primeiro filho e deve

condição crônica de saúde. O atendimento das necessidades de receber alta 12 horas após o parto
saúde de tantos indivíduos será mais difícil para a sociedade, ● Uma mulher de 82 anos que deseja começar um progra-

principalmente para os que vivem na pobreza, não possuem casa, ma de exercícios


têm alguma doença mental ou pertencem a diferentes culturas. ● Um homem de 32 anos que está morrendo de AIDS em

casa
Cuidados culturalmente competentes e Ao analisar essas situações, tente identificar os fatores que
terapias complementares promovem ou inibem o alcance desses objetivos.
A importância do atendimento culturalmente competente e do
uso de terapias alternativas ou complementares para tratar doen- ● Prática para o exame de proficiência
ças é reconhecida como crucial para o oferecimento de cuidados
holísticos e individualizados. Os enfermeiros devem tornar-se 1. Qual o termo que melhor descreve a ciência da enfermagem?
mais conscientes, culturalmente, à proporção que nossa socieda- a. A aplicação habilitada de conhecimentos
de se torna mais globalizada. b. A base de conhecimentos dos cuidados
c. Cuidados na prática, como dar banho em alguém
Prática independente de enfermagem d. Respeito pelos pacientes
Enfermeiros de prática avançada, como o enfermeiro obstetra 2. Qual a enfermeira que, na história, teria estabelecido a for-
e o especialista em clínica geral, estão estabelecendo, cada vez mação dos enfermeiros?
mais, serviços independentes, nos quais diagnosticam e tratam a. Clara Barton
doenças, promovem a saúde, dão atendimento a mulheres sau- b. Lillian Wald
dáveis e realizam partos (Fig. 1.3). Dependendo da exigência de c. Lavinia Dock
certificação estadual, eles podem trabalhar em colaboração com d. Florence Nightingale

Taylor-Enfermagem_01.indd 50 05/12/13 11:22


Fundamentos de Enfermagem 51

3. Que evento histórico no século XX levou a uma ênfase 2. A resposta correta é a letra d. Florence Nightingale estabe-
maior da enfermagem e ampliou o papel dos enfermeiros? leceu a formação dos enfermeiros.
a. Reforma religiosa 3. A resposta correta é a letra c. Durante a Segunda Guerra
b. Guerra da Crimeia Mundial, um grande número de mulheres trabalhou fora de
c. Segunda Guerra Mundial casa. Houve maior ênfase na educação e uma explosão de
d. Guerra do Vietnã conhecimentos na medicina e na tecnologia, ampliando os
4. Qual das expressões abaixo descreve um dos propósitos do papéis dos enfermeiros.
Nursing Social Policy Statement da ANA? 4. A resposta correta é letra d. O Nursing’s Social Policy Sta-
a. Descrever o enfermeiro como cuidador independente tement descreve os valores e a responsabilidade social da
b. Oferecer os padrões aos programas educativos de enfer- enfermagem.
magem
5. A resposta correta é a letra b. Programas educacionais po-
c. Regular a pesquisa em enfermagem
dem diminuir o risco de doenças por meio do ensino de
d. Descrever os valores e a responsabilidade social da en-
bons hábitos de saúde.
fermagem
6. A resposta correta é a letra d. Um título de mestre prepara
5. Você é professor de uma turma de alunos no final do curso
enfermeiros de prática avançada.
fundamental e está trabalhando com os efeitos do cigarro. Esse
programa educacional atingirá que objetivos da enfermagem? 7. A resposta correta é a letra a. A ICN, fundada em 1899, foi a
a. Promover a saúde primeira organização internacional de mulheres profissionais.
b. Evitar doenças 8. A resposta correta é a letra b. O Scope and Standards of
c. Restaurar a saúde Practice da ANA define as atividades que são específicas e
d. Facilitar o enfrentamento de deficiências ou da morte exclusivas da enfermagem.
6. Qual desses títulos de enfermagem prepara o enfermeiro 9. A resposta correta é a letra c. Os atos de prática da enferma-
para a prática avançada como especialista clínico ou, sim- gem são estabelecidos em cada Estado para regular a práti-
plesmente, como enfermeiro? ca da enfermagem.
a. LPN 10. A resposta correta é a letra a. Os enfermeiros registrados
b. ADN constituem o maior grupo de provedores de cuidados de
c. BSN saúde nos Estados Unidos.
d. Grau de mestre
7. Que entidade de enfermagem foi a primeira organização in- REFERÊNCIAS
ternacional de mulheres profissionais? American Nurses Association (ANA). (2003). Nursing: Scope and
a. ICN standards of practice: Professional development. Washington, DC:
b. ANA Author.
c. NLN American Nurses Association (ANA). (2005). Core issues. Washington,
d. NSNA DC: Author.
American Nurses Association (ANA). (2009). Considering nursing?
8. Qual a finalidade do Scope and Standards of Practice da ANA?
Available http://www.nursingworld.org/EspeciallyForYou/
a. Descrever a responsabilidade ética dos enfermeiros StudentNurses.aspx
b. Definir as atividades especiais e exclusivas da enferma- Blais, K., Hayes, J., & Kozier, B. (2005). Professional nursing practice:
gem Concepts and perspectives (5th ed.). Upper Saddle River, NJ: Pear-
c. Estabelecer a enfermagem como uma profissão inde- son Prentice Hall.
pendente e livre Buerhaus, P. (2007). Dealing with reality: Confronting the global
d. Regular a prática da enfermagem nursing shortage. Reflections on Nursing Leadership, Fourth
Quarter, 6 p.
9. Que tipo de autoridade regula a prática da enfermagem?
D’Antonio, P. (2004). Women, nursing, and baccalaureate education
a. Padrões e códigos internacionais in 20th century America. Journal of Nursing Scholarship, 36(4),
b. Diretrizes e regulamentos federais 379–384.
c. Atos estaduais de prática da enfermagem D’Antonio, P. (2006). History for a practice profession. Nursing Inqui-
d. Políticas institucionais ry, 13(4), 242–248.
10. Qual o maior grupo de provedores de atendimento de saúde Dolan, J. A., Fitzpatrick, M. L., & Herrmann, E. K. (1983). Nursing in
nos Estados Unidos? society: A historical perspective. Philadelphia: W. B. Saunders.
Donley, R., Sr. (2005). Challenges for nursing in the 21st century. Nurs-
a. Enfermeiros registrados
ing Economics, 23(6), 312–318.
b. Médicos Ellis, J., & Hartley, C. (2007). Nursing in today’s world: Challenges,
c. Fisioterapeutas issues, trends (9th ed.). Philadelphia: Lippincott Williams & Wilkins.
d. Assistentes sociais Fairman, J. (2008). Context and contingency in the history of post
World War II nursing scholarship in the United States. Journal of
Nursing Scholarship, 40(1), 4–11.
● Respostas com justificativa International Council of Nurses. (2002). The ICN definition of nursing.
Geneva: Imprimeries Populaires.
1. A resposta correta é a letra b. A ciência da enfermagem é a Kalisch, P. A., & Kalisch, B. J. (2004). American nursing: A history.
base de conhecimentos para o atendimento oferecido. Por Philadelphia: Lippincott Williams & Wilkins.
outro lado, a aplicação habilitada de conhecimentos é a arte Lauridsen, B. (2005). Stepping stones on which today’s nursing was
da enfermagem. built. Nursing BC, 37(2), 5.

Taylor-Enfermagem_01.indd 51 05/12/13 11:22


52 Taylor, Lillis, LeMone & Lynn

National Council of State Boards of Nursing. (2008). Nurse licensure Smeltzer, C. H., Vlasses, F. R., & Robinson, C. R. (2005). A look back
compact administration, Participating states in the NLC. Available at . . . “If we only had a nurse” . . . historical view of a nurse shortage.
https://www.ncsbn.org/158.htm Journal of Nursing Care Quality, 20(2), 190–192.
Nightingale, F. (1992). Notes on nursing: What it is and what it is not. Stanley, D. (2007). Lights in the shadows: Florence Nightingale and
(Commemorative ed.). Philadelphia: J. B. Lippincott. others who made their mark. Contemporary Nurse, 24(1), 45–51.
Pender, N. J., Murdaugh, C., & Parsons, M. A. (2006). Health pro- U.S. Department of Health and Human Services, Office of Disease
motion in nursing practice (5th ed.). Upper Saddle River, NJ: Prevention and Health Promotion. (2000). Healthy people 2010.
Prentice Hall. Washington, DC: U.S. Department of Health and Human Services.
Price-Spratlen, L., & Mahoney, M. (2006). February, Black His- U.S. Department of Labor. Bureau of Labor Statistics. (2008). Occupa-
tory Month: A time to review nursing’s past, present, and future. tional Outlook Handbook, 2008–2009 Edition. Registered Nurses.
Washington Nurse, 36(1), 12–13. Available at http://www.bls.gov/oco/ocos083.htm
Robert Wood Johnson Foundation. (2009). The chronic care mo- Wall, B. M. (2008). Celebrating nursing history. American Journal of
del. Available at http://www.improvingchroniccare.org/ index. Nursing, 108(6), 26–29.
php?pThe_Chronic_Care_Model&s2. West, R. A., Griffith, G. P., & Iphofen, R. (2007). A historical perspecti-
ve on the nursing shortage. MEDSURG Nursing, 16(2), 124–130.

Taylor-Enfermagem_01.indd 52 05/12/13 11:22

Você também pode gostar